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33 CAPITULO 2 DIVERSIDADE NAS ORGANIZAÇÕES Penso que Deus , ao criar o homem, superestimou sua capacidade. Oscar Wilde OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1 Identificar as duas principais formas de diversidade no ambiente de trabalho. 2 Identificar as principais características biográficas e descrever como são relevantes para o comportamento organizacional. 3 Definir habilidade intelectual e demonstrar sua importância para o comportamento organizacional. 4 Contrastar habilidade intelectual com habilidade física. 5 Descrever como as organizações podem administrar com eficácia a diversidade. 6 Mostrar como a cultura afeta o nosso entendimento das habilidades intelectuais e das características biográficas da forca de trabalho. O gênero sexual é apenas uma das características que as pessoas trazem consigo quando passam a fazer parte de uma organização. Neste capitulo, analisaremos como as organizações buscam maximizar o potencial de uma forca de trabalho diversificada. Também mostraremos como diferenças invidividuais em habilidades (como a inteligência) e características biográficas (como a idade e o gênero) afetam o desempenho e a satisfação dos funcionários. DIVERSIDADE Não somos todos iguais. Isso é bastante óbvio, mas os gestores às vezes se esquecem de que precisam reconhecer essas diferenças e tirar proveito delas para conseguir o melhor de seus funcionários. A gestão eficaz da diversidade aumenta o acesso que uma organização tem à maior variedade possível de habilidades, competências e ideias. Os gestores também precisam reconhecer que as diferenças entre as pessoas podem levar a mal-entendidos, falhas de comunicação e conflitos. Neste capítulo, aprenderemos como as características individuais, tais como idade, gênero, raça, etnia c habilidades, podem influenciar o desempenho de um funcionário. Também veremos como os gestores podem desenvolver uma consciência dessas características e gerenciar uma força de trabalho diversa de maneira eficaz. Características demográficas da força de trabalho b rasileira A mudança mais significativa na força de trabalho brasileira durante a segunda metade do século XX foi o rápido aumento no número de mulheres empregadas. Nos anos 1970, as mulheres representavam, aproximadamente, 30 por cento da população brasileira economicamente ativa. Hoje, esse número ronda os 45 por cento. Isso leva a um equilíbrio entre os contingentes de ambos os sexos. Acrescentando, o número de mulheres que ingressam nas faculdades é 30,8 por cento maior do que o número de homens. Assim, podemos esperar que funções profissionais técnicas e gerenciais sejam cada vez mais ocupadas por elas. Da mesma forma que as mulheres mudaram o mercado de trabalho no final do século XX. a primeira metade do século XXI será marcada pela mudança etária da mão de obra, uma vez que se verifica um envelhecimento da população. O grupo de pessoas com idade igual ou superior a 65 anos, que no ano 2000 correspondia a cinco por cento da população brasileira, deverá crescer para 18 por cento até 2050. O envelhecimento da força de trabalho tem se mostrado consistentemente como a maior preocupação dos gerentes de RH. A perda de habilidades em função da aposentadoria 34 de muitos funcionários, os crescentes custos médicos decorrentes de uma força de trabalho envelhecida e a necessidade, por parte de muitos funcionários, de cuidar de seus familiares idosos são assuntos no topo das preocupações desses profissionais. A maior diversidade da força de trabalho traz implicações importantes para as práticas administrativas. Os administradores precisam modificar sua filosofia de tratar todo mundo de modo igual, reconhecendo as diferenças e respondendo a elas de maneira a assegurar a retenção dos funcionários e uma maior produtividade, sem que se cometa qualquer discriminação. Essa mudança inclui, por exemplo, a oferta de treinamento diferenciado e a revisão dos programas de benefícios, para que atendam a diferentes necessidades. Ao mesmo tempo, porém, as diferenças de remuneração entre os gêneros e entre os grupos raciais e étnicos persistem, e a proporção de homens brancos entre os gestores das empresas presentes nas 500 maiores empresas brasileiras continua sendo muito maior do que sua presença na força de trabalho em geral. Níveis de diversidade Apesar de muito já ter sido dito sobre a diversidade em elementos como idade, raça, gênero, etnia, religião e deficiência, os especialistas atualmente reconhecem que tais características demográficas são apenas a ponta do iceberg. Estas, em sua maioria, refletem a diversidade em nível superficial, não os pensamentos e sentimentos, e podem levar os funcionários a se enxergarem uns aos outros através de estereótipos. No entanto, as evidências mostraram que, à medida que as pessoas vão se conhecendo, ficam menos preocupadas com as diferenças demográficas se percebem que possuem características mais importantes em comum, como personalidade e valores, as quais constituem a diversidade em nível profundo. Para compreender essa diferença entre diversidade em nível superficial e em nível profundo, considere os seguintes exemplos. Alberto e Betânia são colegas que aparentam ter pouco em comum cm um primeiro momento. Alberto é jovem, foi contratado recentemente, fez pós-graduação em negócios e cresceu em um bairro nobre de São Paulo. Betânia é mais velha, negra, cresceu em uma área rural do estado da Bahia e começou sua carreira na empresa ao ser contratada logo depois de sair do ensino médio. Em um primeiro contato, esses dois colegas podem enfrentar algumas dificuldades de comunicação em virtude de suas diferenças em nível superficial no tocante a educação, etnia, origem regional e gênero. Entretanto, na medida em que vão se conhecendo, podem vir a descobrir que ambos são profundamente comprometidos com a família, que compartilham da mesma maneira de pensar sobre problemas profissionais, gostam de trabalhar colaborativamente e têm interesse em realizar trabalhos internacionais no futuro. Essas semelhanças no nível profundo ofuscarão as diferenças mais superficiais entre eles, e as pesquisas sugerem que trabalharão bem juntos. Por sua vez, Eduardo e Ricardo são dois colegas brancos e solteiros que se formaram no Rio de Janeiro e começaram a trabalhar juntos recentemente. Superficialmente eles parecem ter muito em comum, mas Eduardo é bastante introvertido, avesso a riscos, pergunta a opinião dos outros antes de tomar decisões e gosta do ambiente de trabalho silencioso. Já Ricardo é extrovertido, amante do risco, assertivo e prefere um ambiente de trabalho movimentado, ativo e cheio de energia. Suas semelhanças no nível superficial não os levarão necessariamente a interagir de maneira positiva, pois eles possuem diferenças fundamentais em nível profundo. Será um desafio para eles colaborar um com o outro regularmente no trabalho, e eles terão de ceder um pouco para conseguir fazê-lo juntos. Ao longo deste livro, encontraremos diferenças entre a diversidade em nível profundo e em nível superficial em vários contextos. As diferenças individuais de 35 personalidade e cultura moldam as preferências por recompensas, estilos de comunicação, reações aos líderes, estilos de negociação e muitos outros aspectos do comportamento nas organizações. Discriminação Apesar de a diversidade apresentar muitas oportunidades para as organizações, sua gestão eficaz também engloba trabalhar para eliminar formas injustas de discriminação. Discriminar é reconhecer uma diferença entre as coisas, o que não é necessariamente mau em si mesmo. Notar que um funcionário é mais qualificado é necessário para se tomar uma decisão de contratação. Notar que outro funcionário está exercendo um papel de liderança excepcionalmente bem é algo necessário para se decidir uma promoção. Normalmente,quando falamos em discriminação, contudo, significa deixar que nosso comportamento seja influenciado por estereótipos sobre grupos de pessoas. Em vez de olhar para características individuais, a discriminação injusta presume que todos em dado grupo social sejam iguais. Essa discriminação é frequentemente muito danosa às organizações e funcionários. Embora muitas dessas atitudes sejam proibidas por lei e, portanto, não façam parte das políticas oficiais de praticamente nenhuma organização, milhares de casos de discriminação de funcionários são documentados todos os anos, e outros tantos mais acontecem sem ser denunciados. Como a discriminação passou a ser objeto tanto do escrutínio da lei quanto de desaprovação social, suas formas mais manifestas enfraqueceram, o que pode ter gerado um crescimento de formas mais encobertas de incivilidade e exclusão. Como se pode notar, a discriminação pode ocorrer de várias maneiras e seus efeitos podem ser muito diversos. A forma tomada por ela tende a depender do contexto organizacional e dos preconceitos de seus membros. É especialmente difícil identificar a origem de algumas delas, como a exclusão e a incivilidade, pois é impossível observá-las, e elas podem ocorrer simplesmente porque seus autores não têm consciência de suas ações. Seja intencional ou não, a discriminação pode gerar sérias consequências negativas para os empregadores, as quais incluem a redução da produtividade e do comportamento de cidadania, conflitos disfuncionais e aumento de rotatividade. A discriminação injusta também se traduz em não contratar candidatos qualificados a um posto ou deixar de promovê-los. Mesmo que um processo judicial por discriminação nunca seja instaurado, pode-se advogar solidamente pela eliminação da discriminação injusta. Diversidade é um termo amplo, e a expressão diversidade no ambiente de trabalho pode se referir a quaisquer características que tornam as pessoas diferentes umas das outras. A próxima seção descreve algumas características cm nível superficial que diferenciam os membros da força de trabalho. CARACTERÍSTICAS BIOGRÁFICAS As características biográficas, como idade, gênero, raça, deficiência e tempo de serviço. são algumas das maneiras mais óbvias pelas quais os funcionários se distinguem. Como mencionamos no capítulo anterior, este livro está essencialmente voltado à descoberta e à análise das variáveis que afetam a produtividade, absenteísmo, rotatividade, desvios de conduta, comportamentos de cidadania e satisfação dos funcionários. Muitos conceitos organizacionais — como motivação, poder e política, cultura organizacional — são difíceis de avaliar. Seria melhor, então, começarmos pelos fatores que podem ser definidos com mais facilidade e que costumam estar disponíveis rapidamente. São dados que, em sua maioria, podem ser obtidos simplesmente com base nas informações contidas na ficha pessoal do funcionário. Variações nessas características de nível superficial podem ser razão para 36 práticas de discriminação contra algumas classes de trabalhadores, por isso é importante entender como essas características influenciam os principais resultados no trabalho. Muitas não são tão importantes como as pessoas pensam, e existem mais variações dentro de grupos que compartilham as mesmas características biográficas do que entre grupos com características diferentes. Idade A relação entre a idade e o desempenho do funcionário será, provavelmente, um aspecto de crescente importância na próxima década por três razões. A primeira é que há um consenso de que o desempenho profissional decai com o passar do tempo. Independentemente de ser ou não verdade, o fato é que muita gente acredita nisso e age de acordo com essa crença. A segunda razão é que a mão de obra está envelhecendo. Espera-se que o número de trabalhadores brasileiros com mais de 60 anos cresça à taxa de 3,6 por cento ao ano nas próximas duas décadas, ao passo que a força de trabalho se mantenha constante ao longo do mesmo período. A terceira razão refere-se ao aumento da porcentagem de aposentados que continua trabalhando. Em 1992, os aposentados que trabalhavam representavam 4,3 por cento do total da População Economicamente Ativa (PEA), mas prevê-se que, em 2010, esse valor ascenda a 8,2 por cento. Relacionando as duas últimas razões, o pesquisador Mareio Pochmann afirmou o seguinte: A renda previdenciária é insuficiente para retirar do mercado quem se aposentou. (...) Com isso, a aposentadoria passa a ser um complemento, não a fonte principal de renda. Como o Brasil está envelhecendo, a situação tende a piorar”. Qual é a percepção sobre os trabalhadores mais velhos? Os empregadores apresentam sentimentos contraditórios. Eles percebem uma série de qualidades positivas nos trabalhadores mais velhos: especificamente a experiência, o bom-senso, um forte sentido de ética e o compromisso com a qualidade. No entanto, eles também são considerados pouco flexíveis e avessos a novas tecnologias. Em uma época em que as organizações buscam indivíduos adaptáveis e abertos às mudanças, essa percepção negativa associada à idade é, evidentemente, um obstáculo à contratação desses trabalhadores, aumentando a probabilidade de que eles sejam os primeiros demitidos em um processo de corte de pessoal. Mas qual é o efeito que a idade realmente tem sobre fatores como produtividade, absenteísmo, rotatividade e satisfação? Quanto mais velho você fica, menor é a probabilidade de que deixe seu emprego. Essa conclusão tem como base estudos sobre a relação entre idade e rotatividade. Por exemplo, em um estudo que analisou a duração no emprego nos estados do Nordeste, concluiu-se que. de fato, quanto maior a idade, maior o tempo de duração no emprego, independentemente da área. É claro que isso não chega a ser surpreendente. Quando um trabalhador começa a envelhecer, ele tem menos oportunidades de emprego. Seu maior tempo de casa também costuma lhe propiciar salários mais altos, férias remuneradas mais longas e planos de pensão mais atraentes. Além disso, é tentador admitir que a idade esteja inversamente relacionada com o absenteísmo. Afinal, se os trabalhadores mais velhos têm menor probabilidade de deixar o emprego, não seria natural que quisessem demonstrar maior comprometimento, comparecendo ao trabalho com maior regularidade? Não necessariamente! Muitos estudos mostram exatamente o contrário, porém, um exame mais cuidadoso revela que a relação entre idade e absenteísmo está muito ligada ao fato de a ausência ser evitável ou inevitável. Em geral, os trabalhadores mais velhos apresentam índices menores de faltas evitáveis do que os mais jovens. Contudo, quando a falta é inevitável, o absenteísmo dos mais velhos é maior, provavelmente em virtude de problemas de saúde associados ao envelhecimento c pelo fato de eles 37 necessitarem de mais tempo para a convalescença. E como a idade afeta a produtividade? Muitos acreditam que ela diminui com a idade. Normalmente, pressupõe-se que certas habilidades como rapidez, agilidade, força física e coordenação se deterioram com o passar do tempo, e que a monotonia do trabalho e a falta de estímulo intelectual contribuem para a diminuição da produtividade. As evidências empíricas, entretanto, contradizem essas crenças. Por exemplo, um estudo realizado em uma empresa brasileira concluiu que, além de os idosos serem mais produtivos, eles trazem outras vantagens para o meio organizacional, como a troca de experiências com os trabalhadores mais jovens. Em outro estudo, realizado durante um período de três anos, uma cadeia de lojas colocou em uma de suas unidades apenas funcionários com mais de 50 anos e depois comparou o resultado dessa filial com os das outras cinco lojas da rede, que empregavam pessoal mais jovem. A loja com os funcionários mais velhos teve uma produtividade (em relação a faturamento comparado a despesas com pessoal) significativamente maiordo que duas das demais lojas e ficou equiparada com as outras três. Apesar desses dois exemplos, a maioria das pesquisas mostra que a idade e o desempenho no trabalho não estão relacionados. Por último, qual é a relação entre idade e satisfação com o trabalho? Nesse sentido, as evidências são controversas. Muitos estudos indicam uma relação positiva, pelo menos até os 60 anos. Outros estudos encontraram uma relação que resulta em um gráfico em forma de U. Há várias explicações para esses resultados. A mais plausível indica que tais estudos não distinguem funcionários especializados dos que não têm especialização. Quando se separam os dois tipos, a satisfação tende a crescer ao longo do tempo entre os funcionários especializados, ao passo que entre os não especializados ela diminui na meia-idade, mas volta a subir nos anos seguintes. Gênero Poucos temas suscitam mais debates, preconceitos e opiniões sem embasamento do que a questão a respeito de as mulheres terem, ou não, o mesmo desempenho profissional que os homens. O ponto de partida mais razoável para se começar a refletir sobre isso é admitir que há poucas- se é que existem- diferenças importantes entre homens e mulheres capazes de afetar seu desempenho no trabalho. Não existe qualquer diferença consistente entre ambos quanto às habilidades de resolução de problemas, capacidade de análise, espírito competitivo, motivação, sociabilidade ou capacidade de aprendizagem. Estudos psicológicos mostraram que as mulheres tendem a aceitar mais facilmente e de boa vontade a autoridade, ao passo que os homens tendem a ser mais agressivos e a ter maior expectativa de sucesso, mas essas diferenças são mínimas. Dado o aumento significativo da participação feminina no mercado dc trabalho nos últimos 40 anos e a reavaliação dos papéis tradicionalmente atribuídos a cada gênero, podemos partir do pressuposto de que não existem diferenças dignas de nota entre homens e mulheres no que se refere à produtividade no tra- balho.Infelizmente, a diferença de gênero ainda afeta nossa percepção. As mulheres que têm sucesso em áreas tradicionalmente masculinas, por exemplo, são vistas como menos agradáveis, mais hostis e são menos desejáveis como supervisoras."“ Um aspecto que realmente parece ser diferente entre os sexos, especialmente quando o funcionário tem filhos pequenos, e a preferência por horários diferenciados dc trabalho. As mães que trabalham costumam preferir empregos de meio período, horários mais flexíveis e trabalho remoto para poder conciliar suas responsabilidades familiares. Elas também preferem empregos que encorajem o balanceamento entre a vida familiar e profissional, o que limita suas opções para o desenvolvimento da carreira. 38 E o que dizer sobre o absenteísmo e a rotatividade? .As mulheres têm menos estabilidade no trabalho que os homens? As evidências de um estudo feito com aproximadamente 500 mil funcionários apontou diferenças significativas, com uma tendência maior de rotatividade entre as mulheres. Elas também apresentam índices de absenteísmo maiores que os dos homens. " A explicação mais lógica para esse resultado é que historicamente as responsabilidades sobre a família e o lar recaem sobre os ombros das mulheres. Quando um filho está doente ou alguém precisa ficar em casa para receber o encanador, é a mulher quem costuma faltar ao trabalho para cuidar disso. Também no Brasil essa relação se verifica e as explicações devem-se precisamente às mesmas razões. Contudo, essas pesquisas foram realizadas em de- terminado contexto temporal. O papel histórico da mulher mudou radicalmente na geração passada. Os homens estão cada vez mais assumindo a responsabilidade pela criação dos filhos e um número cada vez maior deles relata ter um conflito entre responsabilidade doméstica c vida profissional. Um resultado interessante de uma pesquisa foi que os pais, independentemente do gênero, tiveram uma avaliação inferior no que tange a comprometimento profissional, determinação e confiabilidade em comparação com os indivíduos que não têm filhos, mas as mães tiveram uma avaliação especialmente baixa no quesito competência. Raça e etnia A raça é uma questão que gera controvérsias. A maioria das pessoas nos Estados Unidos se identifica com um grupo racial. Em contraste, em alguns países, como o Brasil, as pessoas têm menor tendência de se verem como parte de um grupo racial distinto. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica os indivíduos de acordo com cinco categorias raciais: brancos, negros, índios, amarelos (asiáticos) e pardos pessoas que se declaram mestiças de negro com uma pessoa de outra raça no fundo, pessoas que se consideram não brancas, mas que também não se consideram negras, amarelas ou indígenas). Definiremos raça neste livro como a herança biológica que as pessoas usam para identificar umas às outras. Já a etnia é um grupo adicional de características culturais que muitas vezes se justapõe à raça. Essa definição permite que cada indivíduo defina a própria raça ou etnia. O golfista Tiger Woods, por exemplo, recusa-se a se classificar como pertencente a uma única categoria racial, enfatizando suas raízes multiétnicas. O comportamento organizacional tem estudado bastante os temas da raça e da etnia no se refere às questões de contratação, avaliação de desempenho, remuneração e discriminação no ambiente de trabalho. A maioria das pesquisas se concentra nas diferenças de resultados e atitudes entre brancos e negros, sendo escasso o estudo de questões relevantes às populações asiáticas e indígenas. Fazer justiça a tudo o que se refere a essa pesquisa não é possível, então vamos resumir alguns pontos. Primeiro, em situações de trabalho, os indivíduos tendem a favorecer colegas da própria raça nas avaliações de desempenho, promoções e aumentos de salário. Os efeitos desse favorecimento são consistentes, porém pequenos. Segundo, existem grandes diferenças nas atitudes em relação a ações afirmativas, sendo que os afrodescendentes aprovam as cotas para acesso às universidades e outros programas em maior grau que os brancos. Terceiro, verifica-se uma enorme disparidade entre negros c brancos na inserção no mercado de trabalho brasileiro. De acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE, esse fenômeno acontece tanto pelo baixo grau de escolaridade como pelo histórico de exclusão da raça negra. Citando o coordenador da pesquisa, (limar Azeredo, “O passaporte para o mercado de trabalho está na educação, na qualificação, na especialização. Se esse passaporte não tem uma chancela boa, 39 essa inserção não se dá”. Além das contratações, também existem diferenças no que diz respeito às remunerações. Segundo dados do mesmo estudo, no Brasil, os profissionais negros e pardos ganham, em média, 51,1 por cento do rendimento dos brancos, ou seja, praticamente menos da metade dos ganhos deste grupo. O maior dilema enfrentado pelos empregadores que utilizam testes de habilidade mental para seleção, promoção, treinamento e decisões similares é a preocupação de que causariam um impacto negativo entre as minorias raciais e étnicas. No entanto, as evidências empíricas sugerem que “apesar das diferenças no desempenho médio obtido nos testes entre tais grupos, há poucas provas convincentes de que o desempenho acadêmico, nos treinamentos e na realização de tarefas dos indivíduos dos segmentos majoritários será superior ao das minorias. A diferença observada em pontuações de testes de quociente de inteligência (QJ) entre grupos étnicos e raciais distintos é menor nas amostras mais recentes. Em virtude dessas constatações, a questão das diferenças raciais em testes de habilidade cognitiva geral, porém, continua a ser debatida ardorosamente. Portadores de deficiências Com a aprovação da Iei na 8.213/1991 de reserva de cotas para pessoas portadoras de deficiência, a representação dos deficientes na força de trabalho doBrasil cresceu rapidamente. Essa lei estabelece a obrigatoriedade de as empresas reservarem uma porcentagem de sua força de trabalho como cota de pessoas com deficiência em relação ao total de empregados. No entanto, apesar da lei estar em vigor desde 1991, dos 9 milhões de brasileiros com deficiência que estão em idade de trabalhar, apenas I milhão exerce uma atividade remunerada, dos quais só 200 mil são empregados com carteira assinada, o que revela as dificuldades desses trabalhadores em encontrar trabalho. Inferir sobre a relação entre deficiência e empregabilidade é difícil, visto que o termo deficiência é amplo demais. Podemos definir como portadora de deficiência uma pessoa que possua qualquer problema físico ou mental que limite substancialmente uma ou mais das principais atividades exercidas pelo ser humano. Dentre os exemplos estão a falta de um membro, convulsões, Síndrome de Down, surdez, esquizofrenia, alcoolismo, diabete e lombalgia crônica. Essas condições praticamente não possuem traços comuns, portanto, não há generalização sobre quanto cada um desses problemas se relaciona com a empregabilidade. Algumas funções, obviamente, não podem se ajustar a alguns tipos de deficiência: a lei e o senso comum reconhecem que um deficiente visual não pode ser motorista de ônibus, um portador de paralisia severa nào pode ser cirurgião e alguém que tenha sérios problemas de mobilidade provavelmente não pode trabalhar na patrulha policial. No entanto, a presença crescente da informática e de outros dispositivos de adaptação estão destruindo muitas barreiras tradicionais ao emprego. Infelizmente, a maioria das pessoas tem fortes preconceitos contra os indivíduos que sofrem de doenças mentais, os quais, por conseguinte, relutam em revelar essa informação a seus empregadores. Muitos dos que o fazem relataram consequências negativas de seu ato. O impacto das deficiências sobre a empregabilidade foi tratado sob várias perspectivas. Por um lado, uma revisão de resultados de várias pesquisas sugere que os portadores de deficiência recebem avaliações de desempenho mais altas. Entretanto, essa mesma revisão revela que, apesar de seu alto desempenho, há uma tendência dc sc esperar menos dos deficientes e existe menor probabilidade de eles serem contratados. Esses pontos negativos são muito mais fortes em se tratando de indivíduos com deficiências mentais, e algumas evidências sugerem que estas últimas podem prejudicar o desempenho mais do que as deficiências físicas: pessoas com 40 problemas de saúde mental comuns, como depressão e ansiedade, apresentam uma propensão significativamente maior a faltar ao trabalho.: Vários estudos examinaram participantes que receberam currículos idênticos, exceto por uma menção a alguma deficiência. Os currículos que mencionavam alguma doença mental ou deficiência física foram associados a uma classificação muito mais baixa de percepção de empregabilidade, em especial para as funções que exigiam contato intenso com o público." As classificações cle empregabilidade para os portadores de doenças mentais foram particularmente baixas. Da mesma forma, quando recebiam documentos acadêmicos manipulados aleatoriamente, alguns estudantes preferiam nào trabalhar com indivíduos que possuíam deficiências de aprendizagem, mesmo que tais deficiências não afetassem as avaliações ou expectativas de desempenho. Em comparação com esses resultados de seleção, estudos que focam as realizações dos portadores de deficiência muitas vezes relatam que estas são avaliadas como mais impressionantes que realizações iguais alcançadas por pessoas que nào possuem def iciências. Por exemplo, participantes em uma pesquisa assistiram a três pessoas fazendo um trabalho de carpintaria, e foi dito que uma delas havia sido hospitalizada recentemente em função de uma enfermidade mental que a debilitava. As avaliações foram consistentemente mais altas para o desempenho daquela pessoa. Nesse caso, pode ser que os portadores de deficiência estivessem sendo considerados pertencentes a um grupo que precisava de uma ajuda especial. Igualmente, quando o status de deficiência é manipulado cle maneira aleatória entre candidatos hipotéticos, as qualidades pessoais dos deficientes, como confiabilidade e potência, são consideradas superiores. Outras características biográficas: estabilidade no emprego, religião e orientação sexual O último conjunto de características biográficas que analisaremos é formado por estabilidade no emprego, religião e orientação sexual. Estabilidade no emprego . Com exceção das diferenças entre os gêneros, nào existe outro tema mais sujeito a preconceitos e especulações do que a influência do tempo de casa de um funcionário sobre seu desempenho. Já foram feitas diversas análises sobre a relação entre tempo de serviço e produtividade. Se definirmos o tempo de serviço como o tempo de permanência em um mesmo emprego, então as evidências mais recentes indicam uma relação positiva entre esse tempo e o desempenho. Portanto, a estabilidade, entendida como experiência no emprego, parece ser uma boa indicadora da produtividade do funcionário. As pesquisas sobre a relação entre a estabilidade no emprego e o absenteísmo são conclusivas. Os estudos mostram, consistentemente, que há uma relação inversa entre a antiguidade e o absenteísmo. Na verdade, tanto com relação à frequência de faltas quanto ao total de dias não trabalhados, a estabilidade no emprego e a única variável explicativa realmente importante. A estabilidade e também uma variável fundamental para explicar a rotatividade. Quanto mais tempo uma pessoa fica em um emprego, menor a probabilidade de ela se demitir. A VVEG, empresa fabricante de motores elétricos, sediada em Jaraguá do Sul, estado de Santa Catarina, exemplifica a relação entre as duas variáveis. Em 2003, a média de permanência na empresa rondava os oito anos, sendo a taxa de rotatividade mensal de 0,4 por cento. Em 2008, essa permanência diminuiu para aproximadamente seis anos, tendo sido acompanhada pela alteração da taxa de rotatividade mensal, que 41 aumentou para 1,2 por cento. Portanto, sendo coerente com a pesquisa que sugere que o comportamento passado é o melhor instrumento para se prever o comportamento futuro, as evidências indicam que a estabilidade de um funcionário em um emprego anterior é uma excelente previsão de sua rotatividade futura. As evidências demonstram ainda que a estabilidade e a satisfação estão positivamente relacionadas. Na verdade, quando idade cronológica e antiguidade no emprego são tratadas separadamente, esta última parece ser um fator de previsão de satisfação com o emprego mais consistente e estável que a idade. Religião Os problemas envolvendo o tema religião não se resumem a discussões entre fiéis e ateus. Pessoas de diferentes crenças também entram em conflito frequentemente. Como demonstrado pela guerra no Iraque e pelos embates ocorridos na Irlanda do Norte, conflitos violentos podem surgir até entre diferentes correntes de uma mesma religião. A Constituição Federal Brasileira, em seu artigo 5“, proíbe a discriminação por motivo de crença e religião. No entanto, isso não significa que o tema não seja uma questão importante a ser considerada pelos gestores. A religião não é uma das principais fontes de problemas interpessoais nas empresas brasileiras, visto que nosso país não apresenta graves conflitos religiosos. Entretanto, existem algumas divergências sérias entre as diferentes crenças professadas pelos brasileiros. As principais religiões do país são o catolicismo, o protestantismo, o espiritismo e as crenças afro- brasileiras, sendo que, algumas vezes, seus seguidores e fiéis agem de maneira intolerante. A religião não é uma das principais fontes de problemas interpessoais nas empresas brasileiras, visto que nosso país não apresenta graves conflitos religiosos. Entretanto, existem algumas divergênciassérias entre as diferentes crenças professadas pelos brasileiros. As principais religiões do país são o catolicismo, o protestantismo, o espiritismo e as crenças afro-brasileiras, sendo que, algumas vezes, seus seguidores e fiéis agem de maneira intolerante. Atualmente, os principais atos de discriminação religiosa que ocorrem no país en- volvem evangélicos, que entram em conflito com fiéis das religiões afro-brasileiras e com católicos. No primeiro caso, os problemas envolvem as práticas e crenças muito diferentes que ambos os grupos, ao passo que no segundo caso o conflito é mais focado no culto às imagens praticado pelos católicos, visto como errado pelos evangélicos. Este último grupo religioso, entretanto, também é vítima de preconceitos, principalmente em função de suas opiniões mais rigorosas com relação a temas do cotidiano. Apesar de não se configurar, hoje, como uma das principais fontes de conflitos nas organizações brasileiras, os gestores precisam ter cuidado com o tema religião. As generalizações e preconceitos costumam conduzir os indivíduos a erros de julgamento, e a intolerância pode criar sérios problemas no ambiente das empresas. Orientação sexual Os empregadores se diferenciam muito na maneira como tratam a orientação sexual. A Constituição Federal Brasileira proíbe qualquer tipo de discriminação na contratação, exercício de funções c política de remuneração por motivo dc orientação sexual. Muitos empregadores, no entanto, ignoram isso praticando uma política do tipo ‘não vi. não sei'. Alguns não empregam homossexuais, mas um número crescente de empregadores está implementando políticas e práticas de proteção aos direitos dos homossexuais no ambiente de trabalho. Veja o exemplo do Banco Real. A instituição financeira ligada ao banco holandês ABN Amro e recentemente adquirida pelo grupo espanhol Santander possui uma Política Global de Diversidade e Inclusão, que reúne as práticas referentes aos funcionários homossexuais. Na empresa, tanto os trabalhadores quanto seus companheiros têm 42 direito a todos os benefícios oferecidos pelo banco, como previdência privada, assistência médica e seguro de vida. A organização possui ainda um canal de co- municação para que os funcionários tirem dúvidas referentes às suas condutas e denunciem eventuais casos de preconceito e discriminação. O Banco Real não está sozinho. Outras empresas brasileiras também oferecem benefícios a casais homossexuais. Entre as organizações que o fazem estão a IBM, a fabricante Zanzini Móveis, o laboratório Apsen, a Serasa Experian e a Chemtech. Isso não significa, porém, que todos os empregadores estão na mesma situação. Muitas empresas não oferecem essas condições aos empregados homossexuais e a seus companheiros. Entre essas empresas estão o Magazine Luiza, a Promon e a Coca- Cola Brasil que, apesar de terem políticas contrárias a qualquer tipo de discriminação, alegam não ter recebido qualquer solicitação de um funcionário assumidamente homossexual e, por essa razão, não oferecem tais benefícios. De acordo com uma pesquisa, apenas 38 por cento dos trabalhadores brasileiros afirmaram que as empresas onde trabalham oferecem benefícios semelhantes para homo e heterossexuais. Dentre os participantes, 36 porcento disseram haver discriminação na concessão dos benefícios e outros 20 por cento disseram não saber da existência dessas políticas, visto que as empresas em que trabalham não divulgam informações a esse respeito. HABILIDADE Até o momento abordamos fatores que, por si sós, não apresentam grande possibilidade de se relacionar diretamente com o desempenho profissional. Agora nos debruçaremos sobre as habilidades cm nível profundo que estão intimamente relacionadas a ele. Ao contrário do que nos disseram na escola, não somos todos iguais. A maioria de nós está à esquerda ou à direita da mediana em alguma curva de distribuição normal de habilidades. Por mais motivado que seja, é pouco provável que você possa atuar tão bem quanto Fernanda Montenegro, jogar futebol como Ronaldinho, escrever tão bem quanto Paulo Coelho ou contar piadas como Chico Anysio. Obviamente, o fato de não sermos todos iguais não significa que alguns sejam inferiores. Todos nós temos pontos fortes e pontos fracos que podem tornar alguém melhor ou pior que os outros na realização de certas tarefas ou atividades. Do ponto de vista da administração, não importa se as pessoas tem habilidades diferentes. Elas realmente são diferentes! A chave c usar esse conhecimento das diferenças para aumentar a chance de um funcionário desempenhar suas funções profissionais de modo satisfatório. O que significa habilidade? Da maneira como utilizaremos o termo, habilidade refere-se à capacidade de um indivíduo para desempenhar as diversas tarefas de uma função. É uma avaliação geral de tudo o que um indivíduo pode fazer, como jogar futebol, tocar piano, dançar, falar em público e fazer cálculos matemáticos. As habilidades totais de uma pessoa normalmente são formadas por dois grupos de fatores: as habilidades intelectuais e as físicas. Habilidades intelectuais As habilidades intelectuais são aquelas necessárias para o desempenho de ativi- dades mentais, como pensar, raciocinar e resolver problemas. Na maioria das sociedades dá-se um valor alio à inteligência, e por uma boa razão. As pessoas inteligentes geralmente ganham mais dinheiro e obtêm níveis de formação mais altos. São também as que têm mais possibilidades de se tornarem líderes de grupos. Os lestes de QI, por exemplo, foram elaborados para medir essa capacidade. Com o mesmo objetivo, foram desenvolvidos os testes de admissão de colégios, tais como as provas para as Escolas Preparatórias dos Oficiais das Forças Armadas (AFA, CN, 43 EEAR, EPCAr e EsPCEx) e testes acadêmicos de admissão em universidades, como o Encm c os vestibulares. As empresas que realizam esses lestes não afirmam que eles avaliam a inteligência, mas os especialistas sabem que elas os fazem. As sete dimensões mais citadas das habilidades intelectuais são a aptidão numérica, a compreensão verbal, a rapidez perceptual, o raciocínio indutivo, o raciocínio dedutivo, a visualização espacial e a memória. As dimensões da inteligência estão relacionadas positivamente, de modo que, se você obtiver pontuação alta cm compreensão verbal, por exemplo, será mais provável que obtenha mais pontos em visualização espacial. As correlações não são perfeitas, o que significa que as pessoas de fato têm habilidades específicas. No entanto, as correlações entre as sete dimensões são grandes o suficiente para que os pesquisadores reconheçam um fator geral de inteligência chamado habilidade mental geral. As diversas funções profissionais demandam diferentes habilidades intelectuais de quem as executa. De maneira geral, quanto mais complexo um serviço em demanda de processamento de informações, maior a necessidade de habilidades verbais e de inteligência em geral para que ele seja realizado com sucesso. Em algumas funções nas quais o comportamento do funcionário c muito rotineiro e existe pouca ou nenhuma oportunidade para que ele se destaque- um QI alto pode não ter relação com o desempenho. No entanto. isso nào significa que um alto QI nào possa causar um impacto em trabalhos que sào tradicionalmente menos complexos. Você pode se surpreender ao saber que o teste de inteligência mais utilizado nas decisões sobre contratação dura somente 12 minutos. É o Wonderlic Personnel Test. Ele é composto de diferentes formulários com 50 questões cada. Aqui vão alguns exemplos de perguntas nele contidos: • Se as cordas são vendidas a RS 0. 10 o metro, quantos metros você poderá comprar por RS 0,60? • Considere que as duas primeiras afirmações são verdadeiras. A última delas é: 1. Verdadeira. 2. Falsa. 3. Não sei. a. O menino joga beisebol. b. Todos os jogadores de beisebol usam chapéu. c. O menino usa chapéu. O Wonderlic avalia tantoa rapidez (quase ninguém tem tempo para responder a todas as questões) quanto o domínio (as questões ficam mais difíceis à medida que você avança. E, por proporcionar informações válidas sobre a inteligência cognitiva dos candidatos a emprego a um custo baixo, cada vez mais empresas o estão utilizando em suas decisões de contratação. Por exemplo, a IBM, a SulAmérica Seguros e Previdência e a AmBev são exemplos de organizações que realizam testes presenciais e on-line com os candidatos a vagas de empregos. A maioria das empresas que utiliza testes de inteligência não o faz em substituição a outras ferramentas, tais como fichas de dados ou entrevistas, mas apenas prefere incluí-los como forma alternativa de informação — nesse caso, pelo fato de esse tipo de leste proporcionar dados importantes sobre o nível de inteligência do candidato. De maneira interessante, enquanto a inteligência é um grande auxiliar ao bom desempenho de um trabalho, isso não faz que as pessoas estejam satisfeitas quanto a suas ocupações. A correlação entre inteligência e satisfação no trabalho é próxima de zero. Por quê? As pesquisas sugerem que, apesar de as pessoas inteligentes terem um desempenho melhor, elas também são mais críticas na avaliação das condições de seu trabalho. Assim, pessoas inteligentes trabalham melhor, mas esperam mais. 44 Habilidades físicas Apesar de a natureza mutante do trabalho sugerir que as habilidades intelectuais estão cada vez mais importantes em muitas profissões, às habilidades físicas são e continuarão sendo essenciais para a execução de certas atividades. Pesquisas sobre centenas de funções identificaram nove habilidades básicas envolvidas no desempenho de tarefas físicas. As pessoas as apresentam em extensões diferentes. Não surpreende que exista pouca relação entre elas: uma alta pontuação em uma habilidade não é garantia do mesmo sucesso nas demais. O bom desempenho do funcionário pode ser obtido quando os administradores definem quais dessas nove habilidades, e em que extensão, são necessárias para a realização das tarefas organizacionais e se asseguram de que os funcionários no cargo as tenham na medida certa. O papel das deficiências A importância das habilidades para trabalhar obviamente cria problemas quando se tentam formular políticas no local de trabalho que reconhecem a deficiência como di- versidade. Como notamos, reconhecer que as pessoas possuem habilidades diferentes que podem ser levadas em consideração ao se decidir uma contratação não é problemático. Contudo, 6 discriminatório fazer generalizações acerca das pessoas com base em uma deficiência. Também é possível fazer adaptações para os deficientes. IMPLEMENTANDO ESTRATÉGIAS DE GESTÃO DA DIVERSIDADE Depois de discutir como as pessoas são diferentes em uma série de aspectos, agora veremos como um gestor pode e deve administrar essas diferenças. A gestão da diversidade torna todos mais conscientes e sensíveis às necessidades e diferenças dos outros. Essa definição sublinha o fato de que os programas de diversidade são para todo mundo e devem incluir a todos. Quando vista como um problema de todos, a diversidade pode ser muito mais bem-sucedida do que se acreditássemos que é algo que ajuda apenas alguns grupos de funcionários. Atraindo, selecionando, desenvolvendo e retendo fun cionários diversificados Uma forma de se intensificar a diversidade da força de trabalho é fazer um esforço de recrutamento entre grupos demográficos específicos que estejam mal representados na força de trabalho. Isso significa colocar anúncios em publicações dirigidas a grupos demográficos específicos, recrutar em faculdades, universidades e outras instituições com um número significativo de minorias sub-representadas, além de estabelecer parcerias com associações representativas de minorias. Esses esforços podem ser bem-sucedidos, como constata uma pesquisa mostrando que as mulheres e os membros de minorias apresentam maior interesse em empregadores que se esforçam ativamente por deixar claro seu compromisso com a diversidade por meio de seus programas dc recrutamento. Os anúncios que exibem grupos diversificados de funcionários são considerados mais atraentes por mulheres e minorias raciais e étnicas, o que provavelmente explica por que a maior parte das organizações mostra a diversidade de sua força de trabalho com tanto destaque em seus materiais dc recruta- mento. Pesquisas sugerem que programas e materiais de recrutamento que não mostram mulheres e minorias em posições de liderança organizacional mandam uma mensagem negativa sobre o clima de diversidade da organização. O processo de seleção é um dos locais mais importantes para se concentrar esforços pela diversidade. Os gestores que contratam precisam valorizar a justiça e a objetividade ao selecionar funcionários, além de focar o potencial de produtividade dos novos membros. Felizmente, assegurar-se que a contratação seja imparcial é algo que parece funcionar. Quando os gestores usam um protocolo bem definido para avaliar o 45 talento dos candidatos e a organização faz das políticas não discriminatórias urna prioridade clara, as qualificações tornam-se bem mais importantes que as características demográficas para determinar quem contratar. Esses resultados, porém, surgem em locais de trabalho que têm um clima pró-diversidade; as organizações que não desestimulam o comportamento discriminatório tendem a encontrar problemas. A semelhança de personalidades parece de fato afetar o crescimento na carreira. Aqueles cujos traços de personalidade são semelhantes aos dc seus colegas tendem a ser mais promovidos do que as pessoas que têm uma personalidade diferente. Existe um moderador fundamental nesses resultados: nas culturas coletivistas, a semelhança com os supervisores é mais relevante para prever o avanço na carreira, ao passo que em culturas individualistas o mais importante é a semelhança com os pares. Mais uma vez, os fatores de diversidade em nível profundo parecem ter maior importância para moldar as reações das pessoas umas às outras do que características superficiais. Evidências de um estudo realizado com mais de 6 mil trabalhadores em grandes organizações de comércio varejista indicaram que, em lojas cujo clima é de menor apoio à diversidade, os negros e pardos venderam significativamente menos do que os funcionários brancos, mas onde o clima de diversidade era positivo, os pardos e brancos empataram nas vendas e os afrodescendentes fizeram mais vendas que os brancos. As vendas destes últimos eram iguais não importando se o clima de diversidade era positivo, mas os negros e pardos venderam muito mais quando isso acontecia. Há implicações de fundo que são óbvias nessa pesquisa: as lojas que promoviam um clima de diversidade positivo conseguiram capitalizar sobre sua força de trabalho diversificada e ganhar mais dinheiro. Alguns resultados de pesquisas sugerem que os indivíduos demograficamente diferentes de seus colegas apresentam uma propensão a se sentir pouco comprometidos e se demitir. As mulheres tendem a deixar grupos predominantemente masculinos e os homens, os femininos; nos grupos de funcionários formados em sua maioria por brancos, aqueles que não o são tendem a se desligar das organizações. No entanto, esse comportamento é mais notório entre os recém contratados. Depois que as pessoas conhecem melhor umas às outras, a consistência entre a rotatividade e as diferenças demográficas ficam menores. Um estudo com mais de 5 mil gestores de uma grande empresa norte-americana mostrou uma relação positiva entre um clima de diversidade positivo e comprometimento organizacional e negativa, com a rotatividade. Em outras palavras, todos parecem preferir uma organização que valorize a diversidade. A diversidade nos grupos A maior parte das organizações contemporâneas está organizada em torno de grupos de trabalho. Quando as pessoas trabalham em grupos,os processos de comunicação são mais frequentes e intensos e as pessoas precisam colaborar umas com as outras para realizar as tarefas. No entanto, se elas sentirem que não pertencem ao grupo ou se este tiver uma baixa coesão entre os membros, as vantagens de trabalhar em grupo tendem a ficar comprometidas. Dessa forma, faz sentido perguntar: a diversidade ajuda ou atrapalha o desempenho de um grupo? A resposta é: ajuda e atrapalha. Alguns tipos de diversidade podem prejudicar o desempenho do grupo, já outros potenciam esse desempenho. A diversidade demográfica (de gênero, idade, raça e etnia) não parece ajudar nem atrapalhar o trabalho de equipe de um modo geral. Apesar de alguns pesquisadores defenderem que esse tipo de diversidade provoca conflito de relacionamento entre os membros e que isso prejudica o desempenho, as evidencias empíricas não são conclusivas. Por outro lado, as equipes de indivíduos altamente inteligentes, conscienciosos e interessados em trabalhar em grupo são mais eficazes. 46 Portanto, a diversidade nessas variáveis tende a ser ruim. Não faz sentido tentar formar equipes que misturam membros menos inteligentes, menos conscienciosos e desinteressados por trabalhar em grupo. Em outros casos, as diferenças podem ser um ponto realmente forte. Os grupos de indivíduos com tipos diferentes de especialização e educação são mais eficazes que os homogêneos. Da mesma forma, um grupo formado cm sua totalidade por pessoas assertivas que querem estar no comando, ou cujos membros preferem seguir a liderança de outros, serão menos eficazes do que as equipes que misturam esses dois tipos de personalidade. Independentemente da composição de um grupo, as diferenças podem ser alavancadas para se obter um desempenho superior. A maneira mais importante de fazê-lo é enfatizar as similaridades de nível mais alto entre seus membros. Em outras palavras, os grupos formados por indivíduos diversificados serão muito mais eficazes se seus líderes puderem mostrar como os membros têm um interesse comum no sucesso do grupo. As evidências também mostram que os líderes transformacionais (que enfatizam objetivos e valores de mais alta ordem em seu estilo de liderança) são mais eficazes para gerir equipes diversificadas. Programas de diversidade eficazes As organizações usam uma variedade de esforços para capitalizar sua diversidade, o que inclui as políticas de recrutamento e seleção que já discutimos aqui, além de práticas de treinamento e desenvolvimento. Programas eficazes e abrangentes que incentivam a diversidade na força de trabalho possuem três componentes distintos. Primeiro, eles ensinam aos gestores a estrutura legal para oferecer oportunidades iguais de emprego e encorajam o tratamento justo de todos, não importando as características demográficas dos funcionários. Em segundo lugar, eles ensinam aos gestores como uma força de trabalho diversificada poderá servir melhor a um mercado de clientes com essa mesma característica. Em terceiro lugar, criam práticas de desenvolvimento pessoal que despertam os talentos e habilidades de todos os trabalhadores, conscientizando sobre como as diferentes perspectivas podem ser uma maneira valiosa de melhorar o desempenho de todos. Muito da preocupação com a diversidade tem a ver com tratamento justo. A maior parte das reações negativas à discriminação no emprego baseia-se na ideia de que o tratamento discriminatório é injusto. Não importa sua raça ou gênero, as pessoas em geral apoiam programas de incentivo à diversidade, dentre os quais a ação afirmativa, se acreditam que essas políticas asseguram a todos uma oportunidade justa de demonstrar seus talentos e habilidades. Uma pesquisa sobre as consequências dos programas de diversidade chegou a uma conclusão que pode parecer surpreendente. As organizações que forneciam treinamento em diversidade não eram consistentemente mais propensas a ter mulheres e minorias em cargos de alta gerência do que as que não o forneciam. Com um exame mais cuidadoso, porém, esses resultados não causam surpresa. Há muito que os especialistas sabem que uma única sessão de treinamento, sem estratégias que realmente incentivem a gestão eficaz da diversidade no local de trabalho, tende a não funcionar muito bem. Alguns programas de diversidade são realmente eficazes ao aumentar a representatividade na gestão. Eles englobam estratégias para medir a representatividade de mulheres e minorias em cargos de gerência, e responsabilizam os executivos por estabelecer equipes de gestão mais diversificadas demograficamente. Os líderes organizacionais deveriam examinar sua força de trabalho para determinar se os grupos-alvo foram subutilizados. Se grupos de funcionários não são representados proporcionalmente na alta gerência, os executivos deveriam tentar achar 47 quaisquer barreiras escondidas que impedem esse avanço. Muitas vezes é possível melhorar as práticas de recrutamento, tornar os sistemas de seleção mais transparentes e oferecer treinamento para os funcionários que não foram adequadamente expostos a certos materiais no passado. A organização deveria também comunicar suas políticas claramente aos funcionários, para que eles foquem tanto quanto possível em qualificações e desempenho no trabalho. Já enfatizar que certos grupos poderiam necessitar de mais assistência pode ser um tiro sair pela culatra. Para garantir que as equipes de alta gestão representem a diversidade de sua força de trabalho e base de clientes, uma empresa norte-americana de venda de produtos orgânicos e saudáveis implementou o Programa de Desenvolvimento de Liderança em Vendas, voltado para o desenvolvimento de carreira formal. Ele é aberto a todos os funcionários, sendo, portanto, inclusivo, mas as mulheres e os grupos étnicos e raciais sub-representados são particularmente incentivados a participar dele. Os indivíduos interessados fazem uma série de testes para determinar se têm potencial de gestão. Aqueles que vão bem nesses testes recebem papéis profissionais que os expõem a oportunidades de gerência. A natureza ampla do programa é reforçada por atividades adicionais de apoio: todos os gerentes frequentam workshops que lhes permitem falar acerca de suas preocupações com a diversidade e centrar seus esforços nas reuniões de equipe. Eles também assumem a responsabilidade por participantes promissores do programa, com treinamento adicional e oportunidades de desenvolvimento para garantir que estes possuem as habilidades necessárias para avançar. O programa incorpora o tipo de responsabilidade que é crucial para o sucesso de esforços na área da diversidade. Os bônus por desempenho são dados aos gestores que atingem uma meta concreta em diversidade. Esse programa mostrou-se realmente bem-sucedido: o número de mulheres gerentes de lojas cresceu 31 por cento desde que o programa foi iniciado, e o número de mulheres de outras raças aumentou 92 por cento.
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