Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DOS ALIMENTOS DISCIPLINA ITA 01001 - BROMATOLOGIA DETERMINAÇÃO DO CONTEÚDO PROTEICO DE UMA AMOSTRA DE CARNE BOVINA ATRAVÉS DO MÉTODO DE KJELDAHL CAROLINA NUNES SANTO - 00292575 LUÍSA DE OLIVEIRA JUNG - 00245637 PORTO ALEGRE, 22 DE SETEMBRO DE 2020 I. INTRODUÇÃO As proteínas são componentes essenciais a todos os organismos vivos, pois fazem parte de inúmeros processos biológicos, como coagulação sanguínea, estruturação celular, divisão celular, transporte, armazenamento, catálise de reações químicas, entre outros. As proteínas são compostos orgânicos formados por uma cadeia de aminoácidos ligados entre si através de ligações peptídicas. Cada aminoácido é formado por um grupo carboxila (- COOH) e um grupo amina (-NH2) ligados a um átomo de carbono. Além desses grupos, no mesmo carbono, há uma ligação de um hidrogênio e um radical R, que é responsável pela diferenciação de um aminoácido para outro. Na natureza é possível encontrar 20 aminoácidos diferentes e estes, são os responsáveis por formar todas as proteínas existentes. As proteínas fazem parte da porção orgânica dos alimentos e são responsáveis pelo fornecimento de energia e aminoácidos essenciais, sendo essenciais os nove aminoácidos que o organismo não é capaz de sintetizar. As proteínas alimentares são aquelas que apresentam fácil digestão, são atóxicas, adequadas no aspecto nutricional, funcionalmente utilizáveis em produtos alimentícios e disponíveis em abundância. O valor nutritivo das proteínas depende da sua digestibilidade e composição de aminoácidos, e por isso, em alimentos diferentes, a mesma quantidade de proteínas pode oferecer um valor nutricional diferente. Proteínas de alto valor biológico fornecem os aminoácidos essenciais em teores adequados, enquanto que proteínas de baixo valor biológico não fornecem os aminoácidos essenciais em teores adequados. Além desses dois tipos proteicos, também existem proteínas parcialmente completas, que carecem em um ou mais aminoácidos. As proteínas da carne bovina podem ser divididas em: sarcoplasmáticas, miofibrilares e do estroma. As proteínas sarcoplasmáticas são representadas, principalmente, pela mioglobina e enzimas glicolíticas, e são marcadas pela sua solubilidade em água e em soluções salinas diluídas. As proteínas miofibrilares, por sua vez, são representadas principalmente pela actina e miosina, importantes na contração muscular, e são marcadas pela sua solubilidade em soluções salinas concentradas. Por fim, as proteínas do estroma, que são representadas principalmente por colágeno e elastina, proteínas estruturais, e são marcadas pela sua insolubilidade em soluções salinas concentradas. Todas as proteínas citadas desempenham um papel importante na qualidade final da carne que compramos no supermercado, pois após o abate, ocorrem uma série de reações bioquímicas que ditam a cor e a maciez do produto. Para melhor explicar o que ocorre após o abate, precisamos entender o que ocorre no organismo vivo. Em condições normais, o oxigênio é fornecido à todas as células musculares do corpo, e o mesmo permite a degradação da glicose de forma aeróbica e a obtenção energia em forma de ATP. O ATP é extremamente importante para os músculos pois é o responsável pelo relaxamento após a contração. Quando há interrupção do aporte de oxigênio, após a morte do animal, os músculos utilizam suas reservas de glicogênio para a obtenção de energia. A degradação do glicogênio, por sua vez, gera como produto o ácido lático, responsável pela diminuição do pH após o abate. Em consequência, o acúmulo de ácido lático também provoca a inativação das enzimas glicolíticas e cessa a degradação do glicogênio. Todas essas variáveis precisam ser controladas para que se obtenha uma boa qualidade do produto, e esse controle é dado através da manutenção do estresse crônico pré abate, que diminui as reservas de glicogênio, e da temperatura de congelamento nas primeiras 24 horas, que possui um papel importante no encurtamento dos músculos e reflete diretamente na maciez da carne. Para a determinação da quantidade proteica de uma amostra, existem inúmeras técnicas conhecidas, sendo divididas em grupos: determinação de elementos (carbono ou nitrogênio) e determinação por grupos/ligações. A determinação através do carbono ocorre de forma automatizada, o que encarece o método, e possui menor taxa de erro nos resultados, porém, apresenta maior dificuldade na separação do carbono pertencente à proteínas das que pertencem à outros componentes e não está nas normas oficiais da AOAC. A determinação através do nitrogênio pode ser realizado por diferentes métodos, como o método de Dumas e o método de Kjeldahl. Dentre eles, o mais utilizado é o método de Kjeldahl, pois está nas normas formais da AOAC, é um método barato e contempla bons resultados. Por fim, os métodos de determinação através de grupos/ligações contemplam os métodos por Fenol, de Biureto e turbidimétrico. No presente relatório, utilizaremos o método de Kjeldahl para a determinação da porção proteica de uma amostra de carne bovina. II. OBJETIVOS Determinar o teor de proteínas de uma amostra de carne bovina através do método de Kjeldahl, que determina o nitrogênio orgânico total. III. METODOLOGIA O método de Kjeldahl permite a determinação do nitrogênio total da amostra através de quatro passos: digestão, destilação, titulação e conversão do nitrogênio total em proteína. A digestão consiste no aquecimento da amostra na presença de ácido e catalisador até que o carbono e o hidrogênio sejam oxidados. Nesta etapa o nitrogênio transforma-se em sal amoniacal (sulfato de amônia), como mostra a reação a seguir: Matéria orgânica + H2SO4 ➞ SO2 + CO2 + H2O + (NH4)2SO4 No próximo passo, de neutralização e destilação, há a liberação da amônia do sulfato de amônia através da reação com hidróxido e posteriormente a reação da amônia liberada com ácido bórico, resultando em borato de amônia, como mostra a seguir: (NH4)2SO4 + 2 NaOH ➞ Na2SO4 + 2 H2O + 2 NH3 2 NH3 + 2 H2BO3 ➞ 2 NH4H2BO3 Ainda dentro do destilador, no erlenmeyer, onde ocorre a reação da amônia com ácido bórico, adicionamos 3 gotas do indicador de Tashiro, que irá confirmar a presença da amônia através da troca de cor, onde roxo representa uma solução ácida e verde representa uma solução básica. Posteriormente, acontece a etapa de titulação, onde determinamos a concentração do nitrogênio presente na amostra através da titulaÇão do borato de amônio com HCl ou H2SO4. 2 NH4H2BO3 + 2 HCl ➞ 2 H3BO3 + 2 NH4Cl A seguir, está explicado passo a passo do experimento e no final, o cálculo da conversão do nitrogênio total em proteína. Materiais e equipamentos: ● Tubos Kjeldahl ● Balança analítica ● Bloco/ manta de aquecimento ● Destilador de nitrogênio ● Papel manteiga ● Bureta ● Erlenmeyer Reagentes e soluções: ● Ácido sulfúrico comercial ● Sulfatode sódio ou potássio ● Solução de ácido bórico (H3BO3) a 4%. ● Solução de hidróxido de sódio (NaOH) a 40%. ● Solução de ácido sulfúrico H2SO4 0,1N. ● Indicador Tashiro: Dissolver separadamente 0,1251g de vermelho de metila, 0,0825g de azul de metileno em 30ml de álcool etílico. Verter para um balão volumétrico de 100 ml e completar o volume com álcool etílico. ● Filtrar para um frasco âmbar. Procedimento: DIGESTÃO ● Pesar 0,5 de amostra finamente pulverizada em um papel manteiga. ● Colocar a amostra e o papel manteiga em um tubo Kjeldahl. ● Adicionar 5,0 g da mistura catalítica (sulfato de sódio anidro + sulfato de cobre 10:1). ● Adicionar 20 mL de ácido sulfúrico concentrado. ● Agitar. ● Colocar o tubo no digestor a 400 °C e deixar a amostra até o sistema apresentar aspecto de uma solução líquida e esverdeada. DESTILAÇÃO ● Adicionar 20 mL de água destilada ao tudo de Kjedahl ● Adicionar 3 gotas do indicador de Tashiro no tubo de Kjedahl. ● Encaixar o tudo de Kjedahl no destilador. ● Através do funil introdutor do aparelho, adicione 50-70 mL da solução de NaOH 40% (até coloração escura). ● Mergulhe a extremidade afilada do destilador em um frasco de Erlenmeyer de 250 mL contendo 15-16 mL de solução de ácido bórico 4%, com 5 gotas do indicador Tashiro e 10 mL de água destilada. ● Aquecer à ebulição e destilar até 125 mL com a ponteira mergulhada. TITULAÇÃO ● Titular o destilado com H2SO4 0,1N até viragem de verde para roxo/rosa. Para cálculo: 1 ml de H2SO4 0,1N equivale a 0,0014g de N % de proteína = K x V x Fator P Onde: K = Fc x 0,0014 x 100 Fc = fator de correção da solução de ácido sulfúrico 0,1 N P = massa da amostra em gramas V = volume da solução de ácido sulfúrico gasto na titulação Fator = fator de conversão para carnes de nitrogênio para proteína (varia conforme o alimento): 6,25 IV. RESULTADOS E DISCUSSÃO Peso da amostra: 0,5426g Volume de H2SO4 0,1N gasto na titulação: Erlenmeyer 1 = 12,4 mL Erlenmeyer 2 = 13,1 mL Fator de correção do H2SO4o: 1,0031 Volume obtido na titulação 1 = 12,4 mL K = 1,0031 x 0,0014 x 100 K = 0,140434 %proteína = K x Vgasto x fator/Pamostra %proteína = 0,140434 x 12,4 x 6,25 / 0,5426g %proteína titulaçao 1 = 20,0583% Volume obtido na titulação 2 = 13,1 mL %proteína = 0,140434 x 13,1 x 6,25 / 0,5426g %proteína titulação 2 = 21,1906% %proteína = 20,0583 + 21,1906 = 20,62% 2 Valor de conversão de N para proteína: A legislação Brasileira estabelece um Fc de 5,75 para proteínas vegetais, 6,25 para proteínas da carne e misturas de proteínas e 6,38 para proteínas lácteas. O método, apesar de ter um baixo custo e ser simples, apresenta certas desvantagens, como a determinação do Nitrogênio total, além do elevado tempo de análise (4-6h), uso de reagentes corrosivos, implicando em tratamento de resíduos e alta temperatura (perigo ao analista, alta temperatura com ácidos concentrados). O resultado nos mostrou que ⅕ da carne bovina analisada é constituída por proteínas, o que condiz com a literatura consultada, visto que, dentre todos os cortes existentes na indústria de carne bovina, a porcentagem de proteínas varia entre 19 e 25%, segundo a U.S. Department of Agriculture (USDA). V. CONCLUSÃO O presente experimento nos permitiu concluir que o teor de proteína da amostra de carne bovina utilizada é de 20,62%. A prática de determinação do valor de nitrogênio total nos permitiu conhecer a técnica mais utilizada para a determinação de proteínas nos laboratórios de bromatologia, sendo a técnica oficial da AOAC, e além disso, nos instigou a entender todas as reações químicas, que são do nosso interesse. VI. BIBLIOGRAFIA 1. Claudia Passos Guimarães (2003). Estimativa dos teores de fenilalanina em sopas desidratadas instantâneas: importância do nitrogênio de origem não proteica. Universidade de São Paulo, dissertação de mestrado. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/9/9131/tde-13042009-215811/publico/Dis sertacaoClaudiaGuimaraes.pdf 2. DAMODARAN, S. Química de alimentos de Fennema. Porto Alegre: ArtMed, 2018. ISBN 9788582715468. Disponível em: https://bit.ly/3eL6OvT https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/9/9131/tde-13042009-215811/publico/DissertacaoClaudiaGuimaraes.pdf https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/9/9131/tde-13042009-215811/publico/DissertacaoClaudiaGuimaraes.pdf https://bit.ly/3eL6OvT
Compartilhar