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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS – CCJ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO CAMILE GUIMARÃES OLIVEIRA SOARES ASSÉDIO MORAL NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO BRASIL: Prevenção e judicialização SANTA RITA-PB 2016 CAMILE GUIMARÃES OLIVEIRA SOARES ASSÉDIO MORAL NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO BRASIL: Prevenção e judicialização Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal da Paraíba, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Jurídicas. Orientador: Prof. Dr. Guthemberg Cardoso Agra de Castro. SANTA RITA 2016 Soares, Camile Guimarães Oliveira. S676a Assédio moral nas instituições financeiras do Brasil: prevenção e judicialização / Camile Guimarães Oliveira Soares – Santa Rita, 2016. 63 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Federal da Paraíba. Centro de Ciências Jurídicas, Departamento de Ciências Jurídicas, 2016. Orientador (a): Prof. Dr. Guthemberg Cardoso Agra de Castro. 1. Assédio Moral. 2. Bancos. 3. Conduta abusiva e sistemática. CAMILE GUIMARÃES OLIVEIRA SOARES ASSÉDIO MORAL NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO BRASIL: Prevenção e judicialização Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Federal da Paraíba, como exigência parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Jurídicas. Orientador: Prof. Dr. Guthemberg Cardoso Agra de Castro. Banca Examinadora Aprovada em_______________. Prof. Dr. Guthemberg Cardoso A. de Castro (Orientador) Professor Me. Bruno Bastos de Oliveira (Examinador) Professor Me. Demetrius Almeida Leão (Examinador) “O sucesso nasce do querer, da determinação e persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no mínimo fará coisas admiráveis”. (José de Alencar) AGRADECIMENTOS Cursar Direito sempre foi meu sonho, e devo a Deus toda a coragem e perseverança que necessitei ter para que a minha aspiração fosse alcançada e concluída. Foram anos difíceis, mas que, com toda certeza, foram gratificantes. Agradeço aos meus pais, Jerônimo e Júlia, que dedicaram tempo e paciência e investiram para que eu conseguisse chegar até o fim. Vocês me inspiram todos os dias, a querer ser excelente, como vocês são! A vocês, todo meu amor, minha admiração e a minha gratidão. Agradeço, também, as minhas irmãs, por todo apoio e amor que vocês sempre me deram. Ao meu noivo, Dennis, que além de ter acompanhado toda a minha trajetória acadêmica desde o primeiro dia, me ajudou a perseverar nos piores momentos; que nunca hesitou em me dar apoio sempre que precisei; e que aguentou toda minha ansiedade e irritação durante todos esses anos. Meu amor, você foi uma peça essencial para esta conquista. Obrigada! Ao meu querido orientador, Guthemberg, que me auxiliou e esteve presente sempre que necessitei, contribuindo com o desenvolvimento do trabalho e me ajudando a alcançar todos os objetivos traçados. Obrigada, professor! Assim como, agradeço a todos os professores que, de alguma forma, contribuíram para a minha formação jurídica. Por fim, quero agradecer a todos os meus amigos, que estão sempre presentes na minha vida. Mas, especialmente, quero agradecer às minhas queridas amigas: Elaine, Isaura, Layz, Lívia, Paula e Rayza, que foram minhas companheiras de estudo todos os dias e madrugadas, que alegravam as minhas noites e sempre me ampararam. E agradeço a Deus por sair da universidade não só com um diploma, mas com uma grande amizade. SOARES, Camile Guimarães Oliveira. A prática do assédio moral nas instituições financeiras do Brasil: judicialização e prevenção. 2016. 63f. Monografia (Graduação em Ciências Jurídicas). Faculdade de Direito – Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), Universidade Federal da Paraíba, Santa Rita, 2016 RESUMO O presente trabalho aborda o crescimento da prática do assédio moral, sendo voltada para a incidência em instituições financeiras brasileiras diante do relevante interesse público nesta temática, com a finalidade de proteger os direitos fundamentais à saúde e a segurança do trabalhador. Imprescindível, assim, evidenciar o contexto histórico do nascimento do assédio moral, bem como o seu conceito, as modalidades e os sujeitos, na atual conjuntura. Importante, também, a alusão aos princípios norteadores e o fundamento legal inserido no ordenamento jurídico. Além disso, buscou-se mostrar a atuação do Ministério Público do Trabalho, do Ministério do Trabalho e Emprego, bem como, o papel o sindicato dos bancários frente a esta problemática. Consequentemente, realizou-se uma análise em relação ao aumento do índice de ajuizamento de ações trabalhistas, e buscamos apontar os fatores que ajudam a propiciar a prática do assédio moral em instituições bancárias no Estado brasileiro, e indicar as consequências trazidas aos bancários assediados e para a instituição. Este trabalho tem como objetivo principal analisar as principais maneiras de implementação de uma política de prevenção obrigatória aos bancos, assim como de repressão, além da urgente necessidade de leis reguladoras. Sendo assim, fora realizada uma pesquisa bibliográfica, a partir de livros de diversos doutrinadores, artigos científicos publicados, normativos legislativos, jurisprudências e notícias. Portanto, a obra visou a ampla divulgação do tema tanto para a sociedade, quanto para a categoria bancária, a fim de prevenir e reprimir esta prática imensamente violenta e garantir aos bancários um ambiente de trabalho seguro e saudável, haja vista a constatação de uma ineficaz política de prevenção em face da grande incidência de assédio moral dentro das empresas bancárias. Palavras-chave: Assédio Moral. Bancos. Conduta abusiva e sistemática. Política de prevenção SOARES, Camile Guimarães Oliveira Soares. The moral haressment practice in Brazilian financial institutions: judicialization and prevention. 2016. 63f. Undergraduate monograph (Graduation of Judicial Science). Law University – Centre of Judicial Science (CJS), Federal University of Paraíba, Santa Rita, 2016. ABSTRACT This study discusses about the growth of the moral haressment practice, being directly focused to the occurrence in Brazilian financial institutions forth the relevant public interest in this subject , with the objective to protect the fundamental rights to health and worker safety. Indispensable, thus, to emphasize the historical context of the emergence of the moral haressment, as well as its concept, the modalities and the subjects in the current situation. Important, also, the refence to the guiding principles and the legal basis inserted in the juridical system. Besides that, this project searched to demonstrate the acting of the Public Ministry of Labour, Minsitry of Labor and Employment, as well as, the role of the bank worker’s union front of this issue. Consequently, an analysis was carried out about the increase of the judgement of the labor claims, as also, was appointed the factors that help to facilitate the practice of moral haresment in banking institutions in the brazilian state, and the consequences that this brings to the bankworkers who suffers from this moral attack, as well as, to the results to the instituition. This study has the overall objective to analyse the main ways of imimplementing a mandatory prevetion and repression policy to the banks, beyond to the urgent need of regulatory laws. Then, a bibliografic research was made, from books of various authors, published scientific articles, law-making normatives and news. Therefore, this project aimed the wide dissemination of this theme, both for society and for the banking category, in order to prevent and to reppress this immensely violent practice and ensure to the bank workers a safe and healthy banking work environment. Keywords: Moral Haressment. Banks. Systematic and Abusive Conduct. Prevention Policy. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8 2 ASSÉDIO MORAL ................................................................................................. 11 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS .................................................................................. 11 2.2 ASPECTOS CONCEITUAIS, SUJEITOS E MODALIDADES .............................. 13 2.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRABALHISTAS .......................................... 19 2.4 FUNDAMENTO LEGAL .......................................... Erro! Indicador não definido. 3 A ATUAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE DEFESA DOS TRABALHADORES E A JUDICIALIZAÇÃO DO ASSÉDIO MORAL ............................................................... 25 3.1 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO ................................ 25 3.2 DA TUTELA DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO ........................... 28 3.3 O PAPEL DO SINDICATO NA DEFESA DOS DIREITOS DOS BANCÁRIOS .... 29 3.4 O CRESCENTE INDÍCE DE AJUIZAMENTO DE RECLAMAÇÕES TRABALHISTAS EM FACE DAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS EM DECORRÊNCIA DA PRÁTICA DE ASSÉDIO MORAL ........................................................................ 35 4 DA CRESCENTE INCIDÊNCIA DA PRÁTICA DO ASSÉDIO MORAL NAS INTITUIÇÕES FINANCEIRAS DO BRASIL.............................................................. 41 4.1 FATORES QUE CONTRIBUEM PARA O CRESCIMENTO DA PRÁTICA DO ASSÉDIO MORAL NAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS ......................................... 41 4.2 AS CONSEQUÊNCIAS DESTA PRÁTICA PARA OS EMPREGADOS ASSEDIADOS E PARA AS EMPRESAS BANCÁRIAS ............................................. 45 4.3 QUAIS SÃO AS MEDIDAS PREVENTIVAS E REPRESSORAS PARA O COMBATE DA PRÁTICA DO ASSÉDIO MORAL? ................................................... 48 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 53 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 55 8 1 INTRODUÇÃO O fenômeno da globalização não só afeta os grandes sistemas, como a ordem financeira mundial, como, também, os indivíduos, influenciando aspectos íntimos e pessoas destes (GIDDENS, 2007, p. 15). Sendo uma das consequências da globalização, a predominância do capital financeiro em detrimento de direitos sociais e trabalhistas que foram alcançados e conquistados, de forma árdua, por anos de luta, devendo o Direito adequar-se à presente realidade evitando a desregulamentação dos direitos fundamentais. Além disso, é de grande necessidade que o assédio moral seja devidamente caracterizado, para que outras condutas não sejam confundidas com esta prática, sendo necessário a presença de requisitos indispensáveis à sua caracterização, como a intenção de humilhar, além dos pressupostos do dano: dolo ou culpa, ação ou omissão. Bem como, o nexo de causalidade entre o resultado e a conduta do agente supostamente assediador (BARRETO, 2009, p 17). Ainda conforme Barreto (2009, p. 19), essa imensa competitividade resulta na busca das empresas a se ajustarem com a modernização, fazendo com que estas reduzam custos, como o quadro de pessoal, concessão de benefícios e demais encargos sociais, com a finalidade de maximizar os resultados. Pondera-se, então, acerca do desaparecimento da relação de emprego e a prevalência da relação de trabalho. É imprescindível entender toda e qualquer conduta manifestada de forma abusiva, por comportamentos, palavras atos, gestos e escritos que acarretem danos à personalidade, à dignidade, a integridade física ou psíquica de um indivíduo, chegando ao ponto de lhe acarretar prejuízos que refletem em seu ambiente de trabalho (HIRIGOYEN, 2001, p. 65). Diante da reestruturação dos sistemas bancários, haja vista a intensificação da concorrência na atual conjuntura financeira, incitando a concentração de capital no setor em decorrência das liquidações, privatizações, fusões e incorporações, o que implicou na redefinição do perfil operacional dos bancos. Sendo assim, tendo em vista esse mercado extremamente criterioso e competitivo, é comum que haja mudanças nos ambientes de trabalho, pois, onde há uma maior cobrança por resultados, consequentemente, há uma maior sobrecarga de trabalho e estresse (JINKINGS, 2006, p. 189). 9 É notadamente sabido que os bancários hoje possuem metas vultosas, até mesmo inatingíveis, e além da exigência de cumprimento de metas e maior produtividade, que acarretam o aumento da carga de trabalho e diminuem o tempo pessoal para as necessidades básicas do empregado, gera-se uma carga de estresse, de ameaça e agressão (CERQUEIRA, 2015, pp. 29, 40). Além disso, a nova estrutura financeira, instiga a competição externa e interna. Pois, as organizações se utilizam da disputa capitalista e da concorrência acirrada, para individualizar as cobranças de metas descabidas, muitas vezes prejudicando os empregados que não as atingem, bem como, elevam o ritmo de trabalho, depreciando o ambiente laboral e gerando o local perfeito para que comece a prática da violência e que esta, assim, permaneça (FREITAS; HELOANI; BARRETO, 2009, p. 35). Assim sendo, é evidente a importância da elaboração do presente estudo, que possui a finalidade de demonstrar e esclarecer as questões importantes sobre a caracterização e delimitação do que é considerado o assédio moral e o que não pode ser confundido com tal prática, haja vista a necessidade de informação aos trabalhadores. Bem como, a analisar a contribuição das empresas para a ocorrência do assédio moral e as consequências que esta prática acarreta; a previsão legal do assédio moral e o seu cabimento de ingresso no judiciário e a atuação do poder público; a atuação do sindicato como representante da categoria bancária; além de buscar a implementação, principalmente, de efetivas ações preventivas, e não só repressivas, em favor de uma maior qualidade de vida, tanto no ambiente de trabalho quanto na vida pessoal, dos bancários. Diante disso, a pesquisa mostra-se de extrema relevância científica não somente para comunidade jurídica, mas também para a sociedade como um todo, uma vez que se defende a implementação de fortes medidas contra o assédio moral a fim de garantir a plena efetividade de direitos humanos fundamentais e trabalhistas dentro das instituições financeiras do Brasil. Haja vista que ainda existem empresas enxergam o trabalhador apenas como uma ferramenta e, acabam por se omitir em priorizar os princípios que norteiam e asseguram sua integridade psíquica e física dentro do ambiente de trabalho. Portanto, tendo em vista que o estudo e a pesquisa sobre o assédio moral é considerado, ainda, como sendo muito recente, principalmente, na seara jurídica, onde nem mesmo possuímos leis específicas de aplicação nacional, visa-se a ampla 10 divulgação deste tema de relevante interesse social e jurídico. Diante disso, volta-se o foco para o setor bancário brasileiro que, por muitos anos,tem criado o ambiente perfeito para a proliferação dessa prática, haja vista a presença de inúmeros fatores contributivos, com a finalidade de agir, especialmente, de forma preventiva, bem como, em um segundo momento, aplicar medidas repressivas, ambas com o objetivo de buscar a melhoria da qualidade de vida dentro das instituições financeiras e em busca da tutela da saúde do trabalhador bancário brasileiro, além da análise sobre a judicialização acerca da matéria. 11 2 ASSÉDIO MORAL Este capítulo aborda aspectos sobre o assédio moral, trazendo os seus aspectos históricos, desde o seu surgimento; o seu conceito, as modalidades e os sujeitos, bem como, os princípios que norteiam o direito do trabalhador e, por fim, os fundamentos legais existentes no Estado brasileiro no que concerne sobre o assédio moral. 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS Apesar de o estudo sobre o assédio moral ser relativamente novo, a prática já existe desde os primórdios, onde se deram as primeiras relações de trabalho. Contudo, não havia uma preocupação em relação às consequências que esta conduta resultaria aos empregados, tanto de forma física como psíquica. Sendo, somente, a partir da década de 1990, que o assédio moral fora identificado como um fenômeno destruidor do ambiente de trabalho, que resulta na diminuição da produtividade e indução o absenteísmo, além de ser prejudicial aos empregados, devido aos desgastes psicológicos (TROMBETTA; ZANELLI, 2011, p. 19). O assédio era uma prática indiscriminada e continuou a ser por vários anos, nascendo, com a Revolução Francesa as primeiras reinvindicações populares em relação à qualidade de vida no ambiente de trabalho, ocasião em que o trabalho passou a ser considerado como uma atividade prestada por pessoas livres (DORNELES, 2002, p. 20). Segundo Guimarães & Rimoli (2006, p. 184), na década de 60, os estudiosos Niko Tinbergen e Konrad Lorenz realizaram uma pesquisa com gaivotas e gansos caracterizando o comportamento de mobbing, quando há um ataque coletivo a um alvo considerado perigoso. Além dos dois autores, diversos outros estudiosos realizaram estudos etológicos em outros animais. Mas, foi o médico sueco, Peter Paul Heinemann, em 1972, que empregou o termo mobbing, na sua pesquisa feita sobre o comportamento infantil, quando as crianças não estavam na aula, apresentando um comportamento “altamente destrutivo” de grupos feitos pelas próprias crianças, geralmente, se voltando contra uma só criança. Contudo, Heinz Leymann, psicólogo de origem alemã, que era radicado na Suécia, que foi o responsável, na década de 80, por difundir o conceito de mobbing 12 em relação a conduta humana nas organizações laborais. O autor até mesmo foi considerado como o “pai do mobbing” (DUQUE, MUNDUATE & BAREA, 2003, p. 56), onde retomou o estudo feito nas gaivotas e gansos por Lorenz, direcionando a pesquisa para os seres humanos inseridos dentro do âmbito das relações laborais (GUIMARÃES & RIMOLI, 2006, p. 185). Diante da globalização mundial e a crescente força do capitalismo, foram realizados diversos estudos em alguns países europeus, sobre a violência e o assédio psicológico que afeta a força de Trabalho, sendo um problema generalizado em todo o contexto mundial (DI MARTINO, 2002; LEATHER, 2001; PAOLI & MERLIÉ, 2001 apud Guimarães e Rimoli, 2006, p. 183). Contudo, os estudos que se voltavam ao fenômeno, bem como as iniciativas adotadas, eram provenientes, quase que exclusivamente, dos países mais desenvolvidos – como os países europeus, EUA, Japão, Canadá, Austrália e Nova Zelândia –, que possuíam maiores recursos para investimentos em pesquisas desta natureza (SUÁREZ, 2002 apud GUIMARÃES & RIMOLI, 2006, p. 183). Com o advento da Constituição Federal de 1988, que trouxe a personalidade como um dos direitos fundamentais do homem, tornando, assim, jurídico o dano moral, nasceu, para o assédio moral, sua relevância jurídica no Estado Democrático Brasileiro (FONSECA, 2003, p. 675). Segundo Aguiar (2005, pp. 20-21) o "assédio moral" surge de fato no Brasil, após a pesquisa da francesa Marie-France Hirigoyen publicada com o título "Le harcèlment moral: la violence perverse au quotidien", no ano de 1998. Além disso, no direito administrativo municipal, em 1999, foi através do Projeto de Lei sobre Assédio Moral realizado pela Câmara Municipal de São Paulo, que foi feito no sentido de haver a aplicação de penalidades à realização desta prática entre o funcionalismo da administração pública municipal direta. Assim, com a tradução da obra da autora francesa Marie-France Hirigoyen, a autora brasileira, Margarida Barreto, disseminou a sua pesquisa sobre a jornada de humilhação dos empregados adoecidos no trabalho em 2000, sendo responsável pela repercussão do tema no Brasil. Sendo, amplamente estudado e pesquisado por diversos estudiosos desde então. Portanto, após esta breve explanação acerca do contexto histórico do assédio moral, é necessário, nesta etapa, conceituar o que de fato é considerado como a verdadeira prática desta violência, e o que não pode ser qualificado como assédio 13 moral; a ocorrência dessa prática nas instituições financeiras brasileiras e quais as consequências trazidas tanto para o empregador, quanto para os empregados; quais as medidas que podem ser adotadas para prevenir e/ou erradicar estas ocorrências nos bancos; bem como, a atuação dos órgãos do Poder Público e do judiciário, e o papel do sindicato da categoria, diante da crescente incidência do assédio moral nas instituições bancárias brasileiras. 2.2 ASPECTOS CONCEITUAIS, SUJEITOS E MODALIDADES De acordo com os ensinamentos de Barreto (2009, p. 52), o assédio moral não se trata de um fenômeno novo, existindo desde que o próprio homem existe, não sendo diferente na ocasião em que se originaram as primeiras relações de trabalho. O surgimento dos primeiros indícios da conceituação do assédio moral, nasceu da pesquisa de Heinz Leymann, em seu estudo sobre a conduta humana nas relações laborais, conceituou o mobbing1. Vejamos: Como o fenômeno no qual uma pessoa ou grupo de pessoas exerce violência psicológica extrema, de foram sistemática e recorrente e durante um tempo prolongado – por mais de seis meses e que os ataques se repitam numa freqüência média de duas vezes na semana – sobre outra pessoa no local de trabalho, com a finalidade de destruir as redes de comunicação da vítima ou vítimas, destruir sua reputação, perturbar a execução de seu trabalho e conseguir finalmente que essa pessoa ou pessoas acabe abandonando o local de trabalho (LEYMANN, 1990, p. 121). Então, de acordo com o entendimento exposto pelo autor, o mobbing está presente quando uma pessoa, ou um grupo, exerce condutas antiéticas e violentas contra um indivíduo alvo, afim de prejudicar o seu desenvolvimento no local de trabalho, de forma sistemática. O psicólogo se dedicou a este trabalho a fim de expor as consequências decorrentes da prática do assédio a qual provocava danos neuropsíquicos nos indivíduos que eram expostos a situações constrangedoras e humilhantes, por superiores ou colegas de trabalho, durante um período de tempo determinado no local de trabalho (GUEDES, 2003, p. 33). Ou seja, o agressor usa indevidamente o seu poder para agredir, de forma perversa o indivíduo alvo, sendo este ataque realizado 1 O termo mobbing é proveniente da língua inglesa (que indica uma nova causa de mal-estar e adoecimento no trabalho) e haja vista sua larga difusão na literatura especializada e leiga em vários idiomas, inclusive no português, deve ser mantida (RIMOLI E GUIMARÃES, 2006). 14 de forma ordenada que se repete por um considerável período. Posteriormente, a psiquiatra francesa Marie-France Hirigoyen, trouxe a primeira citação cientifica sobre o assédio moral. Conforme os ensinamentosda autora, que conceitua o assédio moral dentro do ambiente laboral, como qualquer conduta que seja praticada de forma abusiva, por meio de gestos, palavras, comportamentos e atitudes, que são realizados de forma sistematizada em face de uma pessoa, atingindo a sua dignidade ou integridade psíquica ou física, resultando em um clima desagradável dentro do local de trabalho, ameaçando o emprego da vítima (HIRIGOYEN, 2001, p.83). A autora Marie-France Hirigoyen, conceitua o mobbing, citando Heinz Leymann, afirmando que consiste em manobras sistemáticas que ocorrem no local de trabalho, visando, de forma repetida, a mesma pessoa, com a finalidade de resultar um conflito que degenera, sendo uma forma particularmente grave de estresse psicossocial (HIRIGOYEN, 2002 apud MOLON, 2005, p. 04). É importante delimitar o que seria a prática de assédio moral. Sendo assim, para Margarida Barreto (2003, p. 01): A exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias, onde dominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigidas a um subordinado, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização. No mesmo sentido, entende Trombetta e Zanelli (2011, p.19): As relações humanas no ambiente de trabalho podem se tornar cada vez mais perversas. Pequenos atos perversos são tão corriqueiros que parecem normais. Podem ser iniciados por palavras agressivas, comportamentos ou gestos violentos. Quando estes comportamentos se repetem de modo frequente e por longo período de tempo (mais de três meses) caracteriza-se o assédio moral. Segundo Barreto (2009, p. 52) a humilhação causa ao assediado uma imensa dor e um sentimento de tormenta, sendo o objetivo do agressor de menosprezar, subjugar e constranger o seu alvo, na intenção de rebaixar e desvalorizar o indivíduo, atacando a sua autoestima. Esses ataques ocorrem, em regra, no ambiente laboral, decorrendo de uma relação de trabalho, sendo, geralmente, derivada do poder hierárquico, não sendo descartada as relações simétricas de competitividade. O que 15 se predomina nesta prática é as repetitivas e prolongadas condutas negativas e aéticas de humilhação e constrangimento. De acordo com Hirigoyen (2002), é comum a ocorrência da prática do assédio moral, em locais permissíveis, em decorrência dos padrões morais da cultura e dos valores sociais. É um exemplo a relação do subordinado com o seu superior, onde há limites, ocorrendo o assédio quando estes são ultrapassados (TROMBETTA; ZANELI, 2011, p.32). A terminologia do assédio moral, segundo Hirigoyen (2000, 219), muda de acordo com as diferenças culturais e organizacionais nos países e dependendo da definição que fora adotada, em relação ao número de pessoas vitimadas (assediadas), variam e podem perder todo o significado, pois em alguns países, no local de trabalho, algumas agressões são comuns, não configurando o assédio moral (Apud, TROMBETTA; ZANELLI, 2011, p. 31). É comum que haja uma confusão quanto ao que realmente caracteriza o assédio moral. Sendo normal que outros processos (estresse, injúria, agressões pontuais, más condições de trabalho, imposições, violências físicas, sexuais e etc.) sejam confundidos com o assédio moral. Sendo necessária a conscientização dos trabalhadores, sindicatos e profissionais da saúde que pertencem a organização. Pois, discussões, impulsos, agressões verbais, seguidas por pedido de desculpa, não são suficientes para caracterizar o assédio moral. A prática da violência deve ser sistemática, desestabilizando o empregado de forma psicológica (TROMBETTA; ZANELLI, 2011, p. 32). Diante do que fora exposto, conclui-se que, pode acontecer, dentro do ambiente de trabalho, situações que sejam desconfortáveis a certos indivíduos, mas que não são suficientes para ensejar o assédio moral. Como, por exemplo, um chefe que se dirige de maneira pouco cordial com um funcionário, seja por falta de aptidão em tratar as pessoas, ou mesmo por falta de educação. Sendo assim, o chefe poderá até irritar o seu subordinado, contudo, não haverá a intenção de lhe humilhar ou lhe diminuir, além de ocorrer de forma não habitual. Portanto, é necessária a análise da prática do assédio moral não pode ser feita de forma superficial, devendo ser verificada a presença dos elementos caracterizadores do assédio moral, ou seja, se houve a intenção de humilhar, se o agente agiu com dolo ou culpa, por ação ou omissão. Bem como, se há um nexo de causalidade entre o resultado e a conduta do 16 agente (BARRETO, 2009, p. 61). Imprescindível, então, para a caracterização do assédio moral, que o ato praticado pelo empregador ou seus empregados deve ser realizado de forma abusiva. Caso contrário, se o ato for praticado no exercício regular de um direito, não haverá caracterização do assédio moral (MARTINS, 2013, p. 34). Diante de todos os conceitos já expostos, constata-se que a pessoa do assediador é todo aquele que possui a intenção, de forma dolosa de humilhar, diminuir e ofender diretamente a dignidade do indivíduo, dentro de uma relação de trabalho, seja por inveja, satisfação de perseguir, prazer em humilhar, ou inúmeros outros motivos. Conforme os ensinamentos de Barreto (2009, p. 52), o assediador não possui um perfil fixo, pois o agente pode ser qualquer pessoa, mas, geralmente são pessoas vaidosas, ferinas, hipócritas, levianas, narcisistas, que usam o poder para esconderem as suas fraquezas e medos. Podem ser pessoas simpáticas e solícitas que possuem fácil relacionamento de forma superficial, que buscam estar em evidencia no ambiente de trabalho e fora deste. Apesar se mascararem com a simpatia, são pessoas arrogantes, que acabam por desprezam os colegas de trabalho e a tratar os seus empregados que são inferiores hierarquicamente. Os assediadores procuram ao máximo se promover aos seus superiores hierárquicos e não medem esforços para estarem em evidencia. Chegando a ser perigoso se este funcionário conseguir unir forças com um superior que tenha o mesmo perfil que o seu. Caso contrário, se não conseguirem ganhar a atenção dos seus superiores, o assediador procura meios de se sobressair quanto aos demais colegas que se destaquem pela sua competência e bons resultados, atacando esse “rival” com qualquer meio vil que lhe seja conveniente (BARRETO, 2009, pp. 59-60). O assediador, conhecendo a posição do seu alvo, age com intenção de humilhar ou negar o valor do outro. Já o indivíduo assediado, inicialmente, pode não se ofender o ataque realizado pelo assediador, preferindo pensar que não passou de uma brincadeira, haja vista a tentativa de não querer inimizade dentro do ambiente de trabalho. O assediado, interpretando os ataques intencionais, quando é humilhado e perseguido, fica vulnerável e inseguro quanto ao assediador ou em relação a própria situação, acreditando que há uma injustiça contra si e que não foi compreendido. É a finalidade do assediador que o assediado saiba da sua intenção de agredi-lo, rebaixa- 17 lo, e de atingir a sua estima própria, querendo que o assediado saiba ele que é responsável pelo dano que lhe é causado. Contudo, esse comportamento não é resultado de um problema psicológico do assediador, é somente uma frieza da personalidade própria do mesmo (HIRIGOYEN, 2000; 2002; apud TROMBETA E ZANELI, 2011, pp. 31-33). Neste norte, segundo os ensinamentos de Maria Rita Manzarra Garcia de Aguiar (2011, p. 07): Após escolher sua vítima, o agressor dá início aos ataques, isolando-a no ambiente profissional e utilizando-se de diversas estratégias a fim de imobilizá-la e fragilizá-la. Dentre as inúmeras condutas de que se vale o assediador,uma das mais comuns consiste em impedir a vítima de se expressar, seja porque não é chamada a opinar sobre nenhum assunto da empresa, seja porque ao começar a expor suas idéias é bruscamente interrompida antes de conseguir concluí-las. Esta recusa à comunicação faz com que a vítima passe a apoucar-se e a sentir-se uma peça dispensável no ambiente de trabalho, cujas idéias e opiniões não possuem qualquer expressão, ou relevância. Outra conduta bastante utilizada pelo agressor é a de ridicularizar e culpabilizar a vítima perante seus colegas de trabalho, desqualificando-a publicamente e fazendo comentários maldosos acerca de sua incapacidade, levando-a, pouco a pouco, a desacreditar de si mesma. Existem duas modalidades de assédio moral, o interpessoal e o organizacional. De acordo com Cerqueira (2015, pp. 34-35), essas modalidades se distinguem da seguinte maneira: As diferenças residiriam nos seguintes fatos: o assédio organizacional está inserido nas práticas de gestão e na política da empresa; visa atingir determinados objetivos institucionais (controle dos trabalhadores, aumento da produtividade, cumprimento de metas e resultados e redução dos custos); é praticado pelos dirigentes da organização; o alvo é determinável (grupos ou a totalidade dos trabalhadores); ocorre o estímulo e promoção do assédio pela instituição. De outro lado, o assédio interpessoal visa humilhar e excluir o assediado; pode ser praticado por superiores ou inferiores hierárquicos ou pessoas de mesma hierarquia; o alvo é determinado (normalmente uma pessoa ou um pequeno grupo) e conta com a omissão da empresa. No ambiente laboral, o assédio pode se dar por diferentes maneiras. Primeiramente, a forma mais incidente, ocorre quando um empregado é assediado por um superior, que se utiliza do seu poder de mando na finalidade de intimidar e agredir, extrapolando e abusando os limites da hierarquia, tendo em vista que o empregado terá medo de perder o seu emprego. Este tipo é classificado como vertical descendente (ALKIMIN, 2008, p. 36). Apesar de haver diversos tipos de assédio moral, a forma mais comum ocorre 18 em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, principalmente nas instituições bancárias. Ou seja, de um superior hierárquico em face de um trabalhador subordinado. Ocasião em que são praticadas condutas de forma negativa, relações desumanas e antiéticas, que ocorrem por um período maior de tempo um ou mais superiores (chefes) direcionadas a um ou mais empregados subordinados, de acordo com a Cartilha publicada pela Coordenadoria Nacional de Promoção de Igualdade de Oportunidade e Eliminação da Discriminação no Trabalho - Coordigualdade (Ministério Público do Trabalho). Retomando os ensinamentos de Alkimin (2008, p. 64), o segundo tipo, é o assédio horizontal, que ocorre entre colegas de trabalho. Geralmente, este tipo de assédio, nas organizações, se dá em decorrência de competição por bons resultados, por inveja ou rivalidade, por meio de piadas, fofocas, brincadeiras de mal gosto, etc. E, o último tipo, que não é uma prática comum, ocorre quando a prática do assédio moral vertical descendente se inverte. Ou seja, o empregado, ou um grupo destes, que agride o superior (vertical ascendente), onde tenta(m) atingir o poder de mando do seu superior, agindo com insubordinação, desrespeito, agressão, etc. Ainda há outro tipo de assédio moral, que é classificado como misto. Este tipo ocorre quando há uma pluralidade de agressores, entre pessoas do mesmo nível hierárquico ou de níveis superiores (GUEDES, 2003, p. 37). No mesmo norte, o autor Medeiros (2012, pp. 24-25): O assédio moral se dá em duas modalidades: Assédio moral individual e assédio moral coletivo. O assédio moral individual se divide em três formas: a) Assédio moral vertical aquele que é praticado pelo chefe, diretor, gerente, encarregado, pelo dono da empresa ou seus familiares contra um empregado (subordinado); b) Assédio moral horizontal, simétrico ou paritário, que PE aquele que ocorre entre colegas de trabalho. Neste caso, o assediador pode ser um ou vários empregados e, entre eles, ocorre geralmente disputa por espaço por cargo ou uma promoção, corriqueiramente do mesmo nível hierárquico; c) Assédio moral ascendente – é mais raro, pois é praticado por um ou por um grupo de empregados contra o superior hierárquico; d) A segunda modalidade de assédio denomina-se assédio moral coletivo: aquele cometido pelo assediador contra várias pessoas. Há, ainda, a possibilidade, segundo Karim Khoury (2010, p. 42), da possível recusa de comunicação direta com o empregado resultando no isolamento progressivo deste, onde a comunicação com a vítima passa a ocorrer exclusivamente por escrito, e os assediadores não lhe dirigem mais a palavra diretamente, resultando em uma transferência do trabalhador para um local isolado do restante da equipe. 19 Assim como, ocorre que os superiores hierárquicos (a gerência), que passam a ignorar a presença do empregado e dirigem a palavra e orientações somente ao demais da equipe, de forma intencional, sendo, todas estas formas de assédio, responsáveis por causar consequências diretas a saúde do trabalhador, gerando um clima de medo e de humilhação que tem efeito direto sobre a produtividade e motivação das pessoas. 2.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRABALHISTAS Tendo em vista que o presente estudo é voltado ao ambiente laboral, faz-se necessário trazer a balia os principais princípios norteadores do direito do trabalho2. O princípio da proteção, concede uma tutela ao trabalhador, tendo em vista a sua hipossuficiência na relação empregatícia, com a finalidade de diminuir o desequílibrio entre as partes (DELGADO, 2016, p. 201). O segundo princípio que trazemos, princípio da irrenunciabilidade de direitos, que dispõe que os direitos trabalhistas são irrenunciáveis. Ou seja, o trabalhador, mesmo que seja de sua vontade, não pode renunciar de um direito que lhe seja conferido por lei. Como, por exemplo, férias, horas extras, FGTS, etc. Caso, ocorra este fato, pode o obreiro reclamar na Justiça do Trabalho, pois, esse ato do trabalhador não há qualquer validade jurídica (MARTINS, 2009, p. 62). O princípio da boa-fé, preza pelo estabelecimento de direitos e deveres entre as partes, como forma de contraprestação, necessitando que o empregado se empenhe para cumprir as suas tarefas e deveres, mantendo e fidelidade a sua fonte de renda. Bem como, que o empregador, em contraprestação, remunere o trabalhador de forma correta e tempestiva, prestando assistência a proteção ao mesmo, além de preservar a sua saúde e segurança dentro do ambiente de trabalho (BARRETO, 2009, p. 43). Ainda sob a ótica de Barreto (2009, p. 43), o princípio da primazia da realidade, dispõe que, apesar de haver um contrato de trabalho, é necessário que realmente seja efetivado, não bastando ter somente um contrato formal, mesmo diante da 2 Será adotado a classificação do autor Américo Plá Rodriguez. Segundo Sergio Pinto Martins (2009), o autor uruguaio elenca seis princípios como do Direito do Trabalho: (a) princípio da proteção, (b) princípio da irrenunciabilidade de direitos; (c) princípio da continuidade da relação de emprego; (d) princípio da primazia da realidade; (e) princípio da razoabilidade; (f) princípio da boa-fé. (RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de direito do trabalho. Tradução de Wagner D. Giglio. São Paulo: LTR, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1990). 20 independência da formalidade contratual para o surgimento da relação jurídica. O princípio da continuidade da relação de emprego, preza pela continuidade da relação de emprego de forma indeterminada, exceto quando o contrato for por prazo determinado ou de trabalho temporário (MARTINS, 2009, p. 63). Por fim, o princípio da razoabilidade, segundo os ensinamentosde Godinho Delgado (2015, p. 114), as condutas humanas devem se pautar a partir da ponderação, da sensatez e da prudência. Os princípios supracitados são de extrema importância nas relações de trabalho, contudo, o princípio da dignidade da pessoa humana, tem uma relevância maior dentre todos, haja vista que dá origem a todos os direitos e liberdades fundamentais, bem como baseia a tutela jurídica do assédio moral, protegendo os trabalhadores de condutas abusivas, pressões psicológicas e desumanas e condições de trabalho precárias (SOARES, 2014, p. 34). Então, com o advento da Constituição Federal de 1988, restou explicitado, a dignidade da pessoa humana em seu artigo 1º, inciso III, e, segundo os ensinamentos do doutrinador constitucionalista, Sarlet (2005, p. 121), a dignidade da pessoa humana foi, pela primeira vez, elevada à condição de princípio fundamental, constituindo uma norma constitucional jurídico-positiva, dotada de eficácia. Conforme doutrina o mesmo autor, a dignidade da pessoa humana pode ser conceituada como: A dignidade da pessoa humana corresponde à qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover a sua participação ativa e co- responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos (SARLET, 2002, p. 60). Este princípio é de suma importância. É considerado como o direito mais fundamental de um ordenamento jurídico que se julgue democrático. Parte da doutrina defende que a ausência da proteção jurídico-constitucional da dignidade acarreta a inexistência do Estado democrático de direito (CERQUEIRA, 2015, p. 49). De acordo com os ensinamentos de Bonavides, a partir de uma análise da Constituição de 1988, extrai-se a magnitude da importância do princípio da dignidade da pessoa humana, tanto quanto os princípios da soberania, da cidadania, do 21 pluralismo político, do reconhecimento social e axiológico ao trabalho e à livre iniciativa. No mesmo norte, o princípio da dignidade da pessoa humana possui uma importancia juridica constitucional que deve ser elevado ao mais alto nível da supremacia normativa, sendo o princípio constitucional mais valioso (SARLET, 2002, pp.13 - 16). No mesmo sentido, destaca o doutrinador José Afonso da Silva (2000, p. 147): Concebido como referência constitucional unificadora de todos os direitos fundamentais, observam Gomes Canotilho e Vital Moreira, o conceito de dignidade da pessoa humana obriga a uma densificação valorativa que tenha em conta o seu amplo sentido normativo-constitucional e não qualquer uma idéia apriorística do Homem, não podendo reduzir-se o sentido da dignidade humana à defesa dos direitos pessoais tradicionais, esquecendo-a nos casos de direitos sociais, ou invocá-la para construir ‘teoria do núcleo da personalidade’ individual, ignorando-a quando se trate de direitos econômicos, sociais e culturais Diante disso, não há como chegar a outra conclusão, senão pela fundamentalidade do princípio da dignidade da pessoa humana. Segundo José Carlos Vieira de Andrade (2001, p. 97), este princípio baseia o estatuto jurídico dos individuos dentro do ordenamento jurídico brasileiro, unindo os preceitos decorrentes dos direitos fundamentais, conferindo-lhe um sentido unitário. O referido princípio fundamental (art. 1º, III, CF/88), deve ser entendido como o “valor-guia” tanto dos Direitos Fundamentais, como das normas constitucionais e infraconstitucionais inseridas na ordem jurídica (SARLET, p. 119). Quanto ao direito trabalhista, o princípio da dignidade da pessoa humana, trazido pela Constituição Federal de 1988, como um dos seus fundamentos, age, diante da clara desigualdade entre o empregador e o empregado, com a função de defender os seus direitos, visando o direito ao trabalho digno, diante da reconhecida hipossuficiência do trabalhador. Sendo assim, a prática do fenômeno do assédio moral viola diretamente o princípio e direito constitucional fundamental da dignidade humana (AZEREDO & RENAULT, 2009, p. 208). Portanto, o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, além de tutelar diversos direitos de muitos ramos jurídicos, ilumina, principalmente, o Direito do Trabalho, tendo em vista que o trabalho é um direito fundamental, então o seu alicerce é a dignidade humana (DELGADO, 2016, p. 209). 22 2.4 FUNDAMENTO LEGAL Apesar da grande incidência do assédio moral nas relações de trabalho no Estado Brasileiro, a sua legislação não possui norma específica para reger a proteção dos trabalhadores quanto ao assédio moral, havendo, somente, normas gerais, que são aplicadas aos casos que surgem no ordenamento jurídico (BARRETO, 2009, p. 139). Primeiramente, citamos o artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988, que consagrou a dignidade da pessoa humana, como um dos principais fundamentos da República Federativa do Brasil, na constituição de um Estado Democrático de Direito. Outro dispositivo que pode ser aplicado com a finalidade de proteger o indivíduo é o artigo 5º, incisos V e X, que preza que: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem; [...] X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Além disso, na Constituição Federal o artigo 7º elenca, em trinta e quatro incisos, os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais. Sendo válido destacar, o inciso XXII, que dispõe que é direito do trabalhador: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança. Os artigos constitucionais 193 e 225, prezam pelo equilíbrio do ambiente de trabalho, nos seguintes termos, respectivamente: Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais. Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo- se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para 23 as presentes e futuras gerações. Por sua vez, a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), traz dispositivos que dispõem sobre segurança e medicina do trabalho (art. 155 ao 199). Contudo, também, não há na CLT, regulamentação jurídica expressa no tocante ao assédio moral. Segundo Kodama (2012, p. 41) mesmo sem que haja regulamentação jurídica do assédio moral na CLT, temos que: [...] o assédio moral pode ser caracterizado por condutas previstas no art. 483 da CLT, a saber: Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: a) forem exigidos serviços superiores às suas forças, defesos por lei, contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato; b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; c)correr perigo manifesto de mal considerável; d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato; e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivoda honra e boa fama; f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente, salvo em caso de legítima defesa, própria ou de outrem; g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários. A Lei nº 9.029, de 13 de Abril de 1995, foi promulgada com a finalidade de proibir a exigência de atestados de gravidez e esterilização, e outras práticas discriminatórias, para efeitos admissionais ou de permanência da relação jurídica de trabalho. Bem como, a possibilidade do direito à reparação por dano moral caso o rompimento do da relação trabalhista por ato discriminatório, onde é facultado ao empregado optar entre: a reintegração com ressarcimento integral de todo o período de afastamento, mediante pagamento das remunerações devidas, corrigidas monetariamente e acrescidas de juros legais (inciso I do artigo 4º); a percepção, em dobro, da remuneração do período de afastamento, corrigida monetariamente e acrescida dos juros legais (inciso II do artigo 4º). Segundo o site assediomoral.org3, no âmbito federal, temos as seguintes leis aprovadas: Lei 11.948/09, de 16 de junho de 2009, que veda empréstimos do BNDES a empresas que tenham prática de assédio moral; e o projeto de Lei nº 4.326, de 2004, sobre criação do Dia Nacional de Luta contra o Assédio Moral, de iniciativa da Dep. Fed. Maria José da Conceição Maninha. E um considerável número de projetos de lei 3 Site criado por uma equipe de profissionais voltado a informação sobre o assédio moral, disponibilizando o acesso do público a um acervo bibliográfico (publicações, produção acadêmica, pesquisas e artigos, cartilhas, artigos na imprensa, vídeos, humilhação social, leituras complementares, entrevistas, assuntos correlatos e contatos), bem como, dispõe acerca da legislação brasileira (nas esferas federal, estadual e municipal) e internacional. 24 que, segundo o site, chegam a dez. E, no âmbito Estadual, existem sete leis aprovadas, no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, em Minas Gerais, bem como, três leis em São Paulo. Além de mais seis projetos de lei. E na esfera municipal, é onde se teve mais leis aprovadas, somando cinquenta e cinco leis e onze projetos de lei. Conforme já aludido, o estudo do assédio moral é considerado como recente, e a legislação ainda está em fase de construção. Contudo, há leis estaduais e municipais que garantem a proteção dos trabalhadores contra a prática do assédio moral. Além disso, a doutrina e a jurisprudência são, também, as principais fontes disponíveis. 25 3 A ATUAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE DEFESA DOS TRABALHADORES E A JUDICIALIZAÇÃO DO ASSÉDIO MORAL Conforme visto no capítulo anterior, a prática do assédio moral, indubitavelmente, é um fator determinante no aparecimento de doenças físicas e psicológicas em trabalhadores vítimas do assédio moral, podendo ser comprometido, até mesmo, a aptidão como trabalhador (BARRETO, 2009, p. 55). Sendo assim, veremos como se dá a atuação do Ministério Público do Trabalho (MPT) e do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), bem como, qual é o papel do sindicato da categoria bancária neste cenário e, por fim, a atuação do órgão judiciário. 3.1 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO Assegurar aos trabalhadores brasileiros um meio de ambiente de trabalho saudável e seguro, é a prioridade do MPT, que tem atuado de forma proficiente, quando há denúncias, tanto pela via judicial, quanto no trato corretivo em procedimentos de investigação. As denúncias realizadas dão início a sua atuação, ou seja, quando o MPT tem ciência de que está ocorrendo uma violação as normas de saúde e segurança no ambiente laboral (BARRETO, 2009, p. 88). De acordo com a Carta Constitucional, temos que o Ministério Público: Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; [...]. Diante do Texto Constitucional, vemos que o Ministério Público é legitimado a atuar na defesa de interesses difusos e coletivos, não estando legitimado a atuar na defesa de direitos e/ou interesses individuais (BARRETO, 2009, 88). No mesmo norte, segundo os ensinamentos de Alkimin (2006, pp. 26-27), o MPT possui legitimidade para intentar Ação Civil Pública, caso haja violação da saúde e da segurança do trabalho, haja vista que a proteção do meio ambiente do trabalho se tratar de interesse coletivo. 26 O assédio moral diretamente viola a dignidade dos trabalhadores, diante disso, se impõe ao Ministério Público a adoção de procedimentos judiciais ou extrajudiciais (como a celebração de termo de ajustamento de conduta) para que haja a solução do problema na empresa, com a finalidade de banir as condutas atrozes contra os trabalhadores (MANOEL JORGE & SILVA NETO, 2013, p. 32). No próprio site do MPT, é informado que fora criada a Coordenadoria Nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho – CODEMAT, por meio da Portaria nº 410, de 14 de outubro de 2003. A CODEMAT, possui o “objetivo conjugar esforços para harmonizar as ações desenvolvidas pelo Ministério Público do Trabalho na defesa do meio ambiente do trabalho, inclusive no que se refere ao relacionamento com outros órgãos e entidades voltados para o ambiente laboral”. Segundo um artigo escrito por Philippe Gomes Jardim e Ronaldo José de Lira, disponibilizado pelo sítio do MPT, a CODEMAT: [...] exerce papel relevante como espaço de discussão e deliberação entre todos os membros do MPT para a definição das estratégias de atuação no meio ambiente do trabalho, orientadas pela redução e eliminação de qualquer espécie de agravos à saúde e tendo a cultura da prevenção como modelo. É válido destacar como se procede o procedimento da denúncia à ação do MPT. Segundo a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), o recebimento das denúncias é de responsabilidade das Procuradorias Regionais do Ministério Público do Trabalho que, por sua vez, distribuem a um dos membros da Coordenadoria de Defesa dos Interesses Difusos e Coletivos (CODIN), para que a denúncia seja autuada como “Procedimento Preparatório” (PP) ou “Procedimento Investigatório” (PI), ocasião em que é realizada a coleta prévia de provas. Depois desse procedimento, havendo indícios de que a denúncia é verídica, o Procedimento Preparatório (ou Procedimento Investigatório) transforma-se em Inquérito Civil Público (ICP), onde as partes poderão anexar peças de informação, arrolar testemunhas e produzir provas. No ato da comprovação da denúncia, como verdadeira, é função do Procurador responsável pelo ICP, propor, à parte infratora a assinatura de um Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TCAC), onde haverá o comprometimento de regularização a situação violadora, sob pena de multa em caso de descumprimento, ou pagamento do que for devido aos prejudicados, à título de 27 indenização. Assim, caso seja assinado o Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta, o processo é arquivado. Contudo, há, ainda, o acompanhamento do caso pelo Procurador, que pode ingressar com ação de execução, caso a parte infratora retorne a cometer as irregularidades. Ou, caso não haja a assinatura do TCAC, o MPT, então, recorrerá à via Judicial4.No mesmo sentido, quanto à prática do assédio moral, Barreto (2009, p. 90) versa que: Com frequência são noticiados, inclusive, no endereço eletrônico do Ministério Público do Trabalho, os atos de firmações de Termos de Compromisso de Ajustamento de Condutas como empregadores, a fim de que seus representantes, administradores, diretores, gerentes, de um modo geral, pessoas exercentes de poder hierárquico, não pratiquem assédio moral. As empresas assumem que o descumprimento de obrigações ajustadas implicará no pagamento de multa – fixada no Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta – em relação a cada empregado que venha a ser prejudicado. A pedido dos Sindicatos e dos órgãos do Poder Legislativo, os Procuradores do Trabalho, têm proferido palestras com a finalidade de esclarecer o fenômeno do assédio moral, principalmente quando recebem denúncias desta prática, com desdobramentos na abertura de procedimento investigatório (BARRETO, 2009, p. 91). Por fim, o MPT publicou uma importante Cartilha sobre o “Assédio moral em estabelecimentos bancários”, em 2013, delimitando o tema do assédio moral e a sua incidência nos bancos. Contudo, diante do estudo, é importante destacar a orientação realizada pelo MPT quanto ao procedimento da denúncia, a quem se deve encaminhar a denúncia, de forma inicial. Vejamos: Inicialmente nas localidades que possuam espaços de confiança, a exemplo de “urnas de sugestão”, é importante que essas situações sejam relatadas, desde sua origem, evitando que delas decorram maiores consequências e prejuízos ao trabalhador. Ultrapassada esta etapa sem soluções rápidas e efetivas, deve-se entrar em contato com o sindicato dos bancários com atribuição em sua região. Paralelamente, pode-se apresentar denúncia perante o Ministério do Trabalho e Emprego e o Ministério Público do Trabalho, em que os termos de declaração podem ser formulados de forma anônima ou com resguardo da identidade do denunciante. Nada impede, 4 Conforme a Associação Nacional dos Procuradores do trabalho: “Quando se tratar de lesão a interesse difuso ou coletivo, o MPT utiliza a Ação Civil Pública, ajuizada perante uma Vara do Trabalho. Caso o interesse violado seja de natureza individual homogênea, cabe a Ação Civil Coletiva, com pedido de reparação do dano sofrido pelo grupo, cujo julgamento também cabe ao Juízo de Primeira Instância. Quando a denúncia referir-se à cláusula de acordo ou convenção coletiva de trabalho que viole as liberdades individuais ou coletivas ou os direitos individuais indisponíveis dos trabalhadores, o MPT utiliza a ação anulatória, ajuizada perante a Seção Especializada em Dissídios Coletivos dos TRTs ou do TST. 28 ainda, que a lesão gere uma demanda judicial, na qual se pleiteie indenizações por eventuais danos patrimoniais e morais. Portanto, resta notória a fundamental atuação do MPT para a manutenção da saúde e da segurança dentro do ambiente de trabalho, por meio das medidas repressivas e preventivas que vem colocando em prática, principalmente no tocante ao assédio moral. Destacamos, também, a preocupação do Ministério Público do Trabalho quanto a incidência desta prática dentro do ambiente bancário que, a cada ano vem mostrando-se cada vez maior. 3.2 DA TUTELA DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO O Ministério do Trabalho possui a sua estrutura regimental, o seu quadro demonstrativo dos cargos em comissão e das funções gratificadas, entre outras providências, regulamentados pelo Decreto nº 5.063, de 03/05/2004. Além disso, de acordo com a cartilha publicada pelo próprio MTE, em 2013, este órgão é responsável pela fiscalização do cumprimento de todo ordenamento jurídico no tocante às relações de trabalho, tendo em vista o compromisso que fora assumido pelo Governo do Estado brasileiro em cumprir efetivamente às disposições da Convenção nº 1115 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O Ministério Público do Trabalho e Emprego é, também, responsável por coordenar todos os projetos que podem render emprego aos trabalhadores brasileiros, além de possuir a função de fiscalizar as condições de trabalho, a segurança do trabalho e a saúde do trabalho. Quanto ao que concerne prática do assédio moral, o MTE, busca prevenir a ocorrência de discriminação, como as práticas de distinção, exclusão ou preferência, que comprometam a saúde e a segurança no local de trabalho, tanto em empresas públicas, como em empresas privadas, promovendo uma ampla divulgação dessa modalidade, entre outras, a empregados e empregadores, com a finalidade de contribuir para eliminar tais práticas abusivas no ambiente de trabalho. Sendo assim, haja vista a Convenção nº 111 da (OIT), o Ministério do Trabalho e da Educação e o MPT, trabalhando em conjunto, visando a implementação de uma política de 5 Segundo a Cartilha elaborada pela Subcomissão de Gênero com participação da Comissão de Ética do TEM: “A Convenção nº 111 define discriminação como toda distinção, exclusão ou preferência, que tenha por efeito anular ou alterar a igualdade de oportunidades ou de tratamento em matéria de emprego ou profissão. Abrangendo, nessas situações, os casos de assédios, seja moral ou sexual, no ambiente de trabalho” (p. 08). 29 promoção à igualdade no mercado de trabalho e combate às práticas discriminatórias no emprego e na profissão (MTE, 2013). Ainda de acordo com a Cartilha (MTE, 2013), é válido acrescentar que existe a Comissão de ética do Mistério do Trabalho e Emprego, que, segundo o sítio eletrônico do órgão, fora instituída por meio da Portaria n. 127 de 14 de junho do ano de 2007, compondo o Sistema de Gestão da ética do Poder Executivo Federal, juntamente com as demais Comissões de ética. Esta Comissão possui um caráter deliberativo. Tendo como finalidade: [...] supervisionar, orientar, acolher denúncias e analisá-las sob o prisma do Decreto n. 1.171/94, Portaria n. 2.973/10 e legislações correlatas, difundido os princípios éticos da conduta aos servidores e colaboradores, melhorando, em consequência, o relacionamento com o cidadão, atuando, ainda, como instância consultiva de dirigentes e servidores. A Comissão de Ética Setorial do Ministério do Trabalho e Emprego, possui ainda o dever regimental de orientar e aconselhar sobre a conduta ética do servidor e dar ampla divulgação ao regulamento ético. Procura, também, subsidiar os atores sociais na consolidação de relações de trabalho mais dignas para a classe trabalhadora brasileira (MTE, 2013). Sendo assim, resta, também, evidenciada a importante atuação do Ministério do Trabalho e Emprego diante da problemática da prática do assédio moral 3.3 O PAPEL DO SINDICATO NA DEFESA DOS DIREITOS DOS BANCÁRIOS Diante de um histórico de opressão aos trabalhadores, estes perceberam que enquanto lutassem sozinhos pelos seus direitos nunca seriam tão fortes quanto os seus empregadores. Haja vista que os empregadores possuem um poder de vontade de grande impacto social e duas decisões afetam indivíduos ou, até mesmo, um grupo de pessoas, seja de forma direta ou indireta. Sendo assim, nasceu a necessidade de associação dos trabalhadores com a finalidade de unir os seus poderes e fazer as reivindicações, com mais forças, junto ao empregador. Surgiu, assim, a noção de sindicato (RESENDE, 2013, p. 972). A Consolidação das Leis Trabalhistas traz em seu texto a possibilidade de criação de sindicato, nos seguintes termos: Art. 511. É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação dos 30 seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos ou profissionais liberais exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas. Além de estar expresso na CLT, éconferido pela Constituição Federal de 1988, a possibilidade de associação em sindicato e a legitimidade dos sindicatos de representação da categoria, conforme expresso em seu artigo 8º, inciso III. In verbis: Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte: III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Na ótica de Garcia (2014, p. 1070), que dispõe sobre a função do sindicato: Devem os sindicatos, portanto, exercer as seguintes funções de natureza social:– manter serviços de assistência judiciária para os associados e membros da categoria;– sempre que possível, e de acordo com as suas possibilidades, manter no seu quadro de pessoal, em convênio com entidades assistenciais ou por conta própria, um assistente social com as atribuições específicas de promover a cooperação operacional na empresa e a integração profissional na classe. Segundo Martins (2009, p. 703), o sindicato constitui como uma associação, tanto de pessoas físicas (empregados) como jurídicas (empregadores), que possuem atividades profissionais ou econômicas, respectivamente. Esta associação possui a finalidade de defender os interesses coletivos e individuais dos membros associados à sua categoria. Bomfim (2014, p. 1272) também traz o conceito e função dos sindicatos. Vejamos: Os sindicatos são pessoas jurídicas de direito privado, com autonomia financeira e estatuto próprio. Tendo em vista que agem em nome do grupo, atuam com liberdade, sem a pressão ou possibilidade de retaliação por parte do empregador, poupando o trabalhador, que certamente sofreria perseguições, se enfrentasse sozinho a negociação. Ainda sob o entendimento da autora (BOMFIM, 2014, p. 1272), com a finalidade de lutar por melhores condições de trabalho para a classe, o nascimento dos sindicatos não ocorreu de forma tão simples, passando por muitos conflitos. Com o surgimento, então, dos sindicatos, estes intermediam a busca dos direitos dos trabalhadores, sendo conquistadas através de negociações coletivas. É função do sindicato, seguindo os preceitos constitucionais (art. 7º, CF/88), 31 buscar os interesses e direitos dos seus representados, mediante negociação coletiva ou dissídio coletivo de interesses ou dissídios econômicos. Podendo atuar na representação tanto da coletividade, como de forma individual, reivindicando os direitos do seu representado, seja em um processo judicial, ou na realização de algum ato, como, por exemplo, atos homologatórios de rescisões contratuais trabalhistas. Além disso, o sindicato possui outra função, que é a negocial, “permitindo compor conflitos de interesses e instituir, consensualmente, normas de trabalho” (NASCIMENTO, 2015, p. 323). A categoria dos bancários possui um sindicato próprio que, de acordo com um artigo publicado pela Confederação Nacional dos Bancários da CUT (2011), nasceu após a primeira deflagração de greve da categoria, no ano de 1933, onde a Associação dos Funcionários de Bancos de São Paulo passou a ser chamado de Sindicato dos Bancários de São Paulo. Foram criados outros sindicatos em todo o país, que buscavam conquistar direitos para os bancários, haja vista a difícil situação política da época e a intransigência do Governo em atender as reivindicações da categoria. Sendo assim, ainda segundo a Confederação Nacional dos Bancários da CUT (2011), vemos que os sindicatos foram fundamentais para novas conquistas para a categoria bancária, tais como: redução da jornada de trabalho, fim do expediente aos sábados, ganho de gratificações, melhores condições de trabalho, etc., contudo, com o passar dos anos, houve uma redução de emprego da categoria que resultou em um aumento de ritmo de trabalho, cobrança de metas, agravamento da saúde dos trabalhadores, o crescimento da prática do assédio moral e, ainda, a prática do assédio sexual. A partir da década de 2000, o assédio moral começa a encabeçar as reivindicações dos bancários. Segundo um artigo publicado por Felippi Filho & Klimkowski (2014), com o desenvolvimento da economia de mercado, houve o crescimento da concorrência entre as empresas, principalmente em relação as Instituições Financeiras, no setor bancário. Haja vista que há uma série de fatores – a globalização, a busca incessante pelo lucro decorrente do capitalismo desmedido, o incentivo ao individualismo, a cobrança exagerada por metas, cobrança por uma maior produtividade, diminuição dos custos – resultaram em uma precarização do ambiente de trabalho, onde o mesmo deixou de ser um local harmonioso, tornando-se um verdadeiro “campo de 32 batalha”. No mesmo norte, de acordo com Jinkings (2006, p. 20): No contexto de precarização social e desregulamentação da economia, o cotidiano laboral de grandes contingentes de bancários é marcado pela insegurança, pela ansiedade e pelo medo. O sofrimento psíquico de multos desses trabalhadores, derivado do controle, da pressão da intensidade do trabalho, do medo de erro e da demissão, das relações tensas e competitivas nos ambientes laborais, desgasta a saúde mental, “contaminando” o tempo livre de trabalho. As lesões por esforços repetitivos (LERs) – essa síndrome do mundo produtivo na era eletrônica – atingem grande número de bancários, degradando suas condições físicas e repercutindo na vida psíquica e social. Para a ampla maioria dos bancários brasileiros e grandes parcelas da classe trabalhadora em todo o mundo, a reestruturação capitalista contemporânea destina formas modernas de exploração – apoiadas na tecnologia microeletrônica e na releinformatica – que convivem com formas mais antigas e limitadas, baseadas no prolongamento da jornada laboral. As estratégias contemporâneas de acumulação de capital elevam os níveis do desemprego estrutural, ampliam a precarização do trabalho e racionalizam violentamente os ambientes produtivos, criando sofisticadas táticas para intensificar e controlar o trabalho. Diante disso, muitos dos sindicatos dos bancários, em todo o país, se mobilizaram para o combate do assédio moral no ambiente bancário, ao publicar cartilha (Sindicatos de Goiás, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, São Paulo, etc.)6, realização de seminários (Sindicato da Paraíba)7, entre outras medidas. Além disso, segundo o site da Confederação Nacional de Trabalhadores do Ramo Financeiro (CONTRAF, 2013), estatísticas revelam que os bancários são os trabalhadores que mais são acometidos de doenças mentais, tendo em vista a enorme exigência por produtividade e cumprimento de metas (abusivas) que acarretam a prática de diversas violências organizacionais, inclusive a do assédio moral. Sendo assim, os sindicatos dos bancários (ligados à CONTRAF-CUT) e o sindicato da CONTRAF, assinaram um acordo coletivo aditivo à Convenção Coletiva 2010/2011, aderindo à clausula 56ª da CCT, sobre prevenção de assédio moral/violências organizacionais. Este acordo possibilitou que fosse feito pelas vítimas a denúncia sobre situações de assédio moral/violências organizacionais, devendo haver a apuração pelos bancos, no prazo de até 60 (sessenta) dias, sendo 6 Disponível em: GO - http://www.bancariosgo.org.br/noticias/outras-publicacoes/cartilha-assedio- moral; PE - http://www.bancariospe.org.br/assedio/cartilha.htm; RJ - http://www.bancariosrio.org.br/ 2013/publicacoes/item/28709-cartilha-contra-o-assedio-moral; RN - http://www.bancariosrn.com.br /cartilha-assedio-moral.pdf; SP - http://www1.spbancarios.com.br/texto.asp?c=544. 7 Disponível em: http://www.contrafcut.org.br/noticias/sindicato-da-paraiba-realiza-seminario-sobre- assedio-moral-0065. http://www.bancariosgo.org.br/noticias/outras-publicacoes/cartilha-assedio-moral http://www.bancariosgo.org.br/noticias/outras-publicacoes/cartilha-assedio-moralhttp://www.bancariospe.org.br/assedio/cartilha.htm http://www.bancariosrio.org.br/2013/publicacoes/item/28709-cartilha-contra-o-assedio-moral http://www.bancariosrio.org.br/2013/publicacoes/item/28709-cartilha-contra-o-assedio-moral http://www.bancariosrn.com.br/cartilha-assedio-moral.pdf http://www.bancariosrn.com.br/cartilha-assedio-moral.pdf 33 encaminhado pelos sindicatos, havendo a possibilidade de ser preservado o nome do denunciante (PREVITALE, 2016). Acerca da cláusula 56ª da CCT 2010/2011, Cerqueira (2015, p. 229) dispõe: A categoria bancária, que foi a primeira a celebrar uma convenção coletiva nacional e a primeira a celebrar uma convenção coletiva de PLR, tornou-se a primeira a celebrar uma convenção coletiva sobre assédio moral, um marco na história do movimento sindical brasileiro. [...] A CCT, na prática, é um reconhecimento por parte dos bancários que colocam tal problema como central em suas campanhas anuais. Porém, os bancos ainda recusam-se a admitir a existência de uma violência organizacional e mantêm ambos elementos conformadores da existência do assédio organizacional nos bancos. É como se os bancos cedessem os anéis para manter os dedos: pune-se os gestores, mas mantém-se a estrutura da organização do trabalho que propicia as manifestações do assédio. Com o acordo, segundo o Secretário de Saúde do Trabalhador da Contraf - CUT, Walcir Previtale (2016), foi implementado nos sindicatos, um canal de denúncia, possibilitando a toda categoria bancária a facilidade de acesso a este programa, para estimular a efetividade da participação dos bancários, e o consequente combate a prática do assédio moral. Ainda de acordo com a Confederação – CONTRAF, com a assinatura deste acordo, os bancários foram a primeira categoria profissional que conseguiu incluir, em convenção coletiva de trabalho, um instrumento de denúncia, que retira o trabalhador bancário de uma posição passiva, passando-o para a posição ativa no processo de denúncia, apuração e resolução dos casos de assédio moral no ambiente bancário. Sendo assim, o trabalhador que for vítima de assédio moral ou qualquer outra violência organizacional, poderá acessar o site da Contraf-CUT, bem como, poderá procurar o sindicato de sua região ou acessar o canal diretamente no site do sindicato, quando este dispuser. Além destes meios, segundo dispõe o MPT em sua cartilha (2013), poderá a vítima procurar o Ministério Público do Trabalho, a Superintendência Regional do Trabalho, a Justiça do Trabalho, a Comissão de Direitos Humanos e o Conselho Regional de Medicina, que dispõe de resolução do CFM (nº 1.488/1998) – sobre saúde do trabalhador. Sendo necessário, assim, que o trabalhador tenha consciência e certeza de que está sendo, de fato, vítima de assédio moral. Conforme traz a Cartilha publicada pelo Ministério Público do Trabalho (2013), são atitudes que expressam o assédio moral no setor bancário: retirar a autonomia do empregado; contestar, a todo momento, as decisões do empregado; sobrecarregar o funcionário de novas tarefas; 34 retirar o trabalho que normalmente competia àquele empregado ou não atribuir atividades a ele, deixando-o sem quaisquer tarefas a cumprir, provocando a sensação de inutilidade e de incompetência, ou colocando-o em uma situação humilhante frente aos demais colegas de trabalho; ignorar a presença do empregado, dirigindo-se apenas aos demais trabalhadores; falar com o empregado aos gritos; espalhar rumores a respeito do bancário; não levar em conta seus problemas de saúde; criticar a vida particular do empregado; evitar a comunicação direta com o assediado: ocorre quando o assediador se comunica com a vítima apenas por e-mail, bilhetes ou terceiros e outras formas indiretas de comunicação; isolar fisicamente o empregado no ambiente de trabalho, para que ele não se comunique com os demais colegas; desconsiderar, injustificadamente, opiniões da vítima; impor condições e regras de trabalho personalizadas ao empregado, diferentes das que são cobradas dos demais, mais trabalhosas ou mesmo inúteis; delegação de tarefas impossíveis de serem cumpridas ou que normalmente são desprezadas pelos outros; determinação de prazo desnecessariamente curto para finalização de um trabalho; manipular informações, deixando de repassá-las com a devida antecedência necessária para que o empregado realize as atividades; vigiar excessivamente apenas o empregado assediado; limitar o número de vezes e monitorar o tempo em que o empregado permanece no banheiro; fazer comentários indiscretos quando o empregado falta ao serviço para ir a consultas médicas; advertir arbitrariamente; divulgar boatos ofensivos sobre a moral do empregado; pressionar os bancários para realizar tarefas para as quais não se sentem habilitados (p. ex.: se falta um caixa, o empregado deve suprir a ausência, ainda que não se sinta habilitado para este fim); instigar o controle de um empregado por outro, fora do contexto da estrutura hierárquica, espalhando, assim, a desconfiança e buscando evitar a solidariedade entre colegas (MPT, 2013). Segundo o MPT (2013), é uma enorme vantagem a existência de sindicatos fortes espalhados por todo o país. Contudo, mesmo com um sindicato forte, como dos bancários, a prática do assédio moral ainda é existente. Assim, conforme bem explicitou o Secretário de Saúde do Trabalhador da CONTRAF-CUT, Walcir Previtale (2016), há a necessidade de que haja uma ação coletiva, principalmente, pelos trabalhadores que são alvo ou testemunha do assédio moral para que haja um efetivo combate a esta prática, ou seja deve haver uma participação direta dos bancários. Neste ano de 2016, segundo o endereço eletrônico da Confraf-CUT, foi 35 promovido no mês de fevereiro um seminário sobre nova cláusula da CCT de melhoria nas condições de trabalho. A cláusula 57ª da CCT 2015/2016, dispõe acerca do desenvolvimento de programas com a finalidade de melhoria contínua das relações de trabalho nos bancos, sendo um dos reflexos da greve deflagrada em 2015, que garantiu a assinatura de um termo entre o sindicato dos bancários e a Fenaban, constituindo uma importante conquista da categoria bancária no combate das causas de adoecimento e afastamentos. Além da cláusula supracitada, existe, também, a cláusula 64ª da CCT 2015/2016, que deu origem a Comissão Bipartite que possui a atribuição exclusiva de discutir, avaliar e elaborar políticas sobre a saúde do trabalhador, inclusive a questão do assédio moral, haja vista que foram mais de 1.100 ocorrências referentes ao segundo semestre de 2015, segundo a Contraf-CUT. Por fim, destaca-se a importancia da continuidade da atuação do sindicato pela conquista dos direitos da categoria bancária, principalmente para que haja uma melhoria nas relações de trabalho dentro do ambiente bancário em prol da saúde e segurança dos trabalhadores. 3.4 O CRESCENTE INDÍCE DE AJUIZAMENTO DE RECLAMAÇÕES TRABALHISTAS EM FACE DAS INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS EM DECORRÊNCIA DA PRÁTICA DE ASSÉDIO MORAL O crescente número de casos de vítimas de assédio moral, em todo o mundo chamou a atenção da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que, segundo Margarida Barreto (2013)8, publicou uma pesquisa que mostrou um índice considerado alarmante. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS), também, se manifestou no sentido de alertar que um dos maiores fatores que causam a incapacitação do indivíduo a exercer o seu trabalho, nos próximos vinte anos, seria a depressão, dando razão a inúmeros casos de incapacitação e, até mesmo, de morte (TROMBETTA & ZANELLI, 2011, pp. 19-20). De acordo com Barreto (2009, p. 97), diante da séria ocorrência do assédio moral, deve-se haver um tratamento cuidadoso, caso contrário, poderá haver uma banalização da ocorrência deste problema. Inclusive, como esta prática é um fenômeno internacional, que atinge as relações
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