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1 QUÍMICA FARMACÊUTICA I e II Prof. Pandini 2 QUÍMICA FARMACÊUTICA NOÇÕES BÁSICAS Química Farmacêutica também chamada: - Química terapêutica - Química medicinal - Farmacoquímica Entende-se por Química Farmacêutica: - O estudo da síntese - Estrutura - Relação entre estrutura e atividade terapêutica - Ação provável - Propriedades e usos dos medicamentos - Estudo dos fármacos de uso corrente, sob o ponto de vista de sua utilização terapêutica ou higiênica. - Estrutura química correlacionada à sua ação biológica - Seus efeitos colaterais - Reações adversas - Posologia - Formas farmacêuticas adequadas às principais especialidades patenteadas IUPAC: - A descoberta - Desenvolvimento - Identificação - Modo de ação dos compostos biologicamente ativos ao nível molecular - Não só os fármacos, mais os produtos biologicamente ativos. 3 A Química Farmacêutica é o campo das ciências farmacêuticas que aplica os princípios da Química e da Biologia do conhecimento que conduz à introdução de novos agentes terapêuticos. A relação da Química Farmacêutica com outras disciplinas está indicada no diagrama abaixo: Química Farmacêutica Química e Bioquímica Biologia e Microbiologia Farmacologia Farmacotécnica e Biofarmacotécnica Toxicologia e Patologia Medicina interna Historicamente como se desenvolveu a Química Farmacêutica: - Hipócrates (IV AC) - Galeno (131 – 200) - Paracelso (1493 – 1541): alertou para o fato de que os remédios tanto podem ser úteis como prejudiciais - Paul Ehrlich (1854 – 1915): pai da quimioterapia moderna - Emil Fischer: introduziu o conceito chave-fechadura Alguns aspectos sobre medicamentos: - DROGA: matéria prima mineral, vegetal ou animal da qual se pode extrair um ou mais princípios ativos (aqui agentes terapêuticos de origem sintética não são drogas). - FÁRMACO: substância química de constituição que pode ter aplicação em farmácia seja como preventivo, seja como curativo ou como agente de diagnóstico 4 (por este conceito, a matéria prima vegetal, animal ou mineral de onde se pode extrair uma ou mais bases medicamentosas não é fármaco, pois sua constituição não é necessariamente conhecida). - MEDICAMENTO: é o mesmo que fármaco, mas especialmente quando se encontra na sua forma farmacêutica. A OMS não faz distinção entre fármaco e medicamento como toda substância contida em um produto farmacêutico empregado para modificar ou explorar sistemas fisiológicos ou estados patológicos. EMPREGO DOS FÁRMACOS a) Fornecimento de elementos carentes ao organismo. Ex: vitaminas, sais minerais, proteínas e hormônios. b) Prevenção de uma doença ou infecção. Ex: soro e vacina. c) Combate a uma infecção. Ex: antibióticos. d) Bloqueio temporário de uma função normal. Ex: anestésicos gerais e locais e anticoncepcionais orais. e) Correção orgânica desregulada: I) Disfunção. Ex: cardiotônicos (tratamento de insuficiência cardíaca congestiva). II) Hipofunção. Ex: hidrocortizona (insuficiência da suprarrenal). III) Hiperfunção. Ex: metildopa (hipertensão arterial). f) Destoxificação do organismo. Ex: antídotos g) Agentes auxiliares de diagnóstico. Ex: radiofármacos. 5 Muitos fármacos são ácidos ou bases orgânicas, razões diversas determinam que sejam utilizados na forma de sais: a) modificação de propriedades físico-químicas: I) solubilidade II) estabilidade III) fotossensibilidade IV) características organolépticas b) melhoramento da biodisponibilidade I) alteração da absorção II) aumento da potência III) prolongamento do efeito c) redução da toxicidade AÇÃO BIOLÓGICA DOS FÁRMACOS O efeito que os fármacos causam, que na verdade é decorrência de um conjunto complexo de processos resumidos por três fases: I) Fase farmacêutica II) Fase farmacocinética III) Fase farmacodinâmica 6 DOSE I. Fase Farmacêutica Desintegração da forma farmacêutica e dissolução da substância ativa fármaco disponível para absorção disponibilidade farmacêutica II. Fase Farmacocinética Absorção, distribuição, metabolismo e excreção fármaco disponível para ação disponibilidade biológica III. Fase Farmacodinâmica Interação fármaco-receptor no tecido alvo EFEITO Na fase farmacêutica, também chamada fase de exposição, ocorre a desintegração da forma em que o fármaco é administrado. A fração dose disponível para a absorção é a disponibilidade farmacêutica. Na fase farmacocinética ocorre a absorção, distribuição, metabolismo e excreção do fármaco, sendo a fração que chega à circulação sistêmica chamada de disponibilidade biológica. Na fase farmacodinâmica ocorre a interação do fármaco com seu receptor, desta interação resulta um estímulo que gera fenômenos químicos e bioquímicos levando ao efeito biológico. EFEITO PLACEBO Em determinados casos, o efeito biológico não decorre da ação do medicamento específico, mas sim de fatores psicológicos ou inespecíficos. Esse conjunto de fatores recebe o nome de efeito placebo, que vem do latim e significa “eu agradei”. WOLF define o efeito placebo como: qualquer efeito atribuível a uma pílula, poção ou procedimento, mas não as propriedades farmacodinâmicas ou específicas. Distinguem- se quatro classes de placebos: a) Substâncias simples farmacologicamente inertes tais como: açúcar, amido, lactose, talco e água destilada. b) Pseudo medicamentos: extrato de ervas, solução salina e vitaminas supérfluas. 7 c) Ação farmacodinâmica do agente terapêutico específico, embora não seja o indicado para o mal que o paciente se queixa ou sofra. d) Fatores psicológicos tais como: a fé do paciente no médico ou no remédio prescrito. Em 1979 nos EUA uma indústria farmacêutica requisitou ao FDA a liberação de um novo analgésico, que será vendido com o rótulo cujos dizeres correspondem a verdade: provado eficaz em um terço de todos os casos e absolutamente seguro, nome do medicamento: placebo. METABOLISMO Fármacos e outros compostos químicos estranhos que penetram num organismo vivo são armazenados no corpo ou removidos deste após certo período de tempo. No organismo podem continuar intactos ou sofrer transformações químicas, dando os seguintes tipos de compostos: a) menos ativos b) mais ativos c) com atividade semelhante A este processo de alteração química de fármacos no interior do organismo dá o nome de metabolismo. FATORES QUE ALTERAM O METABOLISMO 1) fatores ambientais internos: sexo, idade, peso, estado nutricional, atividade, temperatura corporal, fauna e flora intestinal, gestação, estado emocional, outros agentes químicos presentes, hidratação, composição genética e estado de atividade enzimática. 8 2) fatores de administração do fármaco: via de administração, local de administração, velocidade de administração, volume administrado, composição do veículo, número de doses/duração do tratamento, freqüência da medicação e estado físico-químico do fármaco. 3) fatores ambientais externos: temperatura, umidade, pressão barométrica, composição atmosférica, luz, outras radiações, som, estação do ano, hora do dia, habitat, substância química. LOCAL DO METABOLISMO Os fármacos em sua maioria são metabolizados no fígado através da ação de enzimas microssômicas. No intestino, cérebro, rins e pulmões também ocorre metabolismo dos fármacos, porém em menor proporção. FASES DO METABOLISMO Os fármacos estranhos ao organismo são geralmente transformados em metabólitos e polaridade crescente, até que possam ser excretados pelos rins. O esquema abaixo indica como os fármacos são metabolizados: A B B´ ativaçãoinativação C inativação inativação Fase I Fase II oxidação redução hidrólise desmetilação síntese ou conjugação 9 Na fase I: os fármacos apolares são em geral inativados ou em alguns casos ativados pela introdução de grupos polares, ou pela geração de grupos polares. a) OXIDAÇÃO: hidroxilação, oxidação alcoólica e aldeídica, formação de óxidos, desaminação, desalquilação e desalogenação. b) REDUÇÃO: azorredução, nitrorredução, redução aldeídica ou cetônica. c) HIDRÓLISE (pró-fármaco): desaminação e desesterificação d) Retirada de grupos apolares para expor grupos polares. Na fase II: os fármacos são inativados por processos de síntese ou conjungação tais como: metilação, acilação, formação de tiocianato, conjungação com ácido glicurônico, conjugação com aminoácidos e com sulfatos. Função do metabolismo: polarizar o fármaco para que este possa ser mais facilmente excretado. A excreção pode ocorrer das seguintes formas: I) se for polar é eliminado diretamente II) se for apolar é eliminado, porém, antes sofre reações de oxidação, redução, hidrólise, desmetilação, síntese ou conjugação. FASE I – CITOCROMO P450 Principais tipos de reações metabólicas: 1) OXIDAÇÃO a) Desalogenação: gera um composto menos polar, o que é contrário às regras para proteção ao organismo, porém continua sendo polar. R R´CH – CCl3 R R´C = CCl2 10 b) Desalquilação R – O – CH3 R – OH + HCHO 2 comp. mais polares R – NH – CH2 – CH3 R – NH2 + CH3 – CHO c) Desaminação R – CH2 – NH2 R – CHO + NH3 aldeído mais polar d) Dessulfurização R – SH R – OH e) Formação de óxidos: envolve compostos com N ou S R – NH – R´ R – N(OH) – R´ R – S – R´ R – S(O) – R´ f) Hidroxilação: formação de um álcool R – CH2 – CH3 R – CH(OH) – CH3 R – Ar R – Ar (p-OH) g) Oxidação alcoólica R – CH2 – CH2 – OH R – CH2 – COOH 11 h) Oxidação aldeídica: apesar de o aldeído se mais polar o que o ácido, esta reação ocorre para preservar o organismo, pois este é um composto muito eletrofílico. R – CH2 – CHO R – CH2 – COOH 2) REDUÇÃO a) Azorredução R – N = N – R´ R – NH2 + R´- NH2 b) Nitrorredução R – NO2 R – NH2 c) Redução aldeídica ou cetônica: compostos menos polares, porém menos reativos. R – CHO R – CH2 – OH R – CO – R´ R – CH(OH) – R´ 3) HIDRÓLISE a) Desamidação H2O R – CO NH – R´ R – COOH + R´- NH2 enzima 12 b) Desesterificação H2O R – COO – R´ R – COOH + R´- OH FASE II – SÍNTESE OU CONJUGAÇÃO a)Metilação R – XH + S - adenosilmetionina R – X CH3 + S – adenosil-homocisteína b) Acilação R – NH2 + CH3 – COSCoA R – NH – COCH3 + CoA-SH c) Formação de tiocianato HCN + Na2S2O3 HSCN + Na2SO3 d) Formação de ácido mercaptúrico R – X R – S - CH2 – CH – COOH │ NH – COCH3 13 e) Conjugação com ácido glicurônico O H H OH H OH OH H O H COOH UDP O H H OH H OH OH H O-R H COOH OCH2 H OH H OH H H N NH O O OPOPOH OH OH OO R-OH + + UDP UDP= uridinadifosfato f) Conjugação com amino-ácidos R – COOH + R – COSCoA + NH2 – CH – COOH R – CONHCH – COOH │ │ + R´ R´ + CoA-SH CoA-SH g) Conjugação com sulfatos R – OH + 3´-fosfoadenosina-5´-fosfossulfato R – O – S(O)2 – OH + 3´-fosfoadenosina-5´-fosfato 14 METABOLISMO DE ALGUNS FÁRMACOS O NO 2 P S OO O NO 2 P O OO OH OH Cl Cl Cl OH Cl Cl Cl NH 2 NH 2 OH N H N H O O O N H N H O O O OH paration (inativo) paraoxon (ativo) hidrato de cloral (ativo) tricloroetanol (mais ativo) anfetamina (ativa) p-hidroxianfetamina (menos ativa) fenobarbital (ativo) p-hidroxifenobarbital (inativo) ESTÍMULO OU INIBIÇÃO DO METABOLISMO Estimulações do metabolismo abreviam a duração de ação de um fármaco, induzindo as enzimas microssômicas hepáticas do citocromo P-450. Ex: barbitúricos, esteróides anabolizantes, glicocorticóides, etanol e espironolactona. Inibidores diminuem o metabolismo do fármaco, prolongando a duração da ação do mesmo. Ex: morfina, tetracloreto de carbono e inibidores da monoamino oxidase (MAO). 15 INTERAÇÕES Se administrados concomitantemente os fármacos podem interagir, com as seguintes conseqüências: a) efeito aditivo ou sinérgico, quando ambos apresentam a mesma ação farmacodinâmica. b) perda do efeito, se apresentarem ações opostas. c) influência de um fármaco sobre a atividade do outro, alterando sua absorção, distribuição, metabolismo ou excreção. Absorção: pode ser diminuída pela administração simultânea do fármaco formando: complexo pouco solúvel no trato gastrointestinal. Ex: sulfato ferroso diminui a absorção das tetraciclinas, pois formam quelatos. Outro fator que afeta a absorção é a mudança do pH gástrico das drogas passíveis de serem ionizadas, visto que as drogas são mais bem absorvidas quando se encontram no estado não ionizado. Ex: bicarbonato de sódio reduz a absorção das tetraciclinas e do AAS. A redução ou aumento da motilidade gastrointestinal causada por um fármaco pode diminuir ou aumentar a absorção do outro. Ex: fenobarbital estimula a secreção de bile e assim indiretamente o peristaltismo aumentando a motilidade gastrointestinal, portanto diminui os níveis plasmáticos de um segundo fármaco administrado em associação, devido a sua má absorção. OH O OH O OH NH 2 O N CH 3 CH 3 OH CH 3 OH .. .. .. Ca2+ Quelato tetraciclina-cálcio 16 O C O CH 3 C OOH O C C O CH 3 ONa O AAS forma não ionizada + NaHCO3 acetil salicilato de sódio forma ionizada + _ + <H2CO3> H2O + CO2 Distribuição: a distribuição dos fármacos deve-se a sua maior ou menor ligação às proteínas plasmáticas, visto que a porção não ligada é a biologicamente ativa. A administração simultânea de dois fármacos que tenham alta afinidade pelas mesmas proteínas poderá resultar num deslocamento de um deles ligado com a proteína, resultando numa potenciação do fármaco deslocado. Metabolismo: certos fármacos sãointensificados ou inibidos na presença de outros. A biotransformação dos fármacos por enzimas microssômicas hepáticas (citocromo P-450) em compostos polares é um passo preparativo para sua excreção, e gera um processo denominado indução enzimática. Determinados indutores podem acelerar não só o seu próprio metabolismo, mas também o de outros fármacos e, desta forma, diminuir a duração/intensidade da ação dos fármacos. Ex: fenobarbital acelera o metabolismo de muitas drogas como: dipirona, fenitoína e clorpromazina. Por outro lado, fármacos que inibem a atividade das enzimas microssômicas, competindo por estas ou por seus cofatores, prolongam a duração do efeito de um segundo fármaco. Ex: cimetidina potencializa a ação da warfarina (anticoagulante); o paracetamol aumenta a meia-vida do cloranfenicol. Excreção: interações que compreendem a secreção e reabsorção ativas: - a probenecida (uricosúrico) prolonga o efeito antimicrobiano da penicilina por retardar a excreção desta. Ocorre aumento da excreção de sais de ácido úrico pela diminuição de sua reabsorção. - o aumento do pH da urina com bicarbonato de sódio aumenta a velocidade de excreção do fenobarbital na urina (ocorre ionização do fenobarbital). 17 Efeitos adversos: todos os fármacos, uns mais outros menos podem causar efeitos adversos, alguns de extrema gravidade a ponto de provocar mortes. Super dosagem, administração por via inadequada e aplicação para fins não indicados podem transformar um fármaco útil em tóxico e perigoso. A talidomida em 1961 estimulou a OMS assim como governos de alguns países a se interessarem pelo problema, por isso, além da eficácia, segurança e biodisponibilidade, atualmente os órgãos oficiais que tem a competência de liberar novas drogas exigem ensaios de carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade, e só são aprovadas aquelas que se mostrarem isentas de provocar esses efeitos perigosos a curto ou a longo prazo. CLASSIFICAÇÃO DE FÁRMACOS a) estrutura química b) ação farmacológica c) emprego terapêutico d) mecanismo de ação em nível molecular a) segundo esta classificação os fármacos podem ser agrupados nas seguintes categorias: acetais, ácidos, álcoois, amidas, aminas, amidinas, aminoácidos, amino-álcoois, aminocetonas, aminoéteres, azocompostos, cetonas, compostos de amônio, compostos halogenados, compostos nitrogenados, enóis, ésteres, éteres, fenóis, glicosídeos, guanidinas, hidrocarbonetos, lactamas, lactonas, mostardas nitrogenadas, organo minerais, quinonas, semicarbazidas, semicarbazonas, sulfonamidas, sulfonas, tioamidas, tióis, tiouréias, ureias, etc. b) leva em consideração o modo de ação dos medicamentos. Por este critério em 1976 a OMS distribuiu os medicamentos nas seguintes classes: depressores do SNC, estimulantes do SNC, psicofármacos, fármacos que atuam no sistema nervoso periférico, na sinapse e nas junções neuroefetoras, na musculatura lisa, histamina e anti-histamínicos, cardiovasculares, no sistema sanguíneo e hematopoiético, no trato gastrointestinal, no trato 18 respiratório, citostáticos, no metabolismo e nutrição, vitaminas, hormônios, agentes imunológicos, anti-infecciosos e fármacos que atuam localmente como os dermatológicos. Na visão da maioria dos Q.F. atuais, os fármacos podem ser divididos em cinco grupos principais: 1) agentes farmacodinâmicos, aqueles usados em doenças não infecciosas, para corrigir funções anormais. 2) agentes quimioterápicos, são usados para cura e profilaxia de doenças infecciosas. 3) vitaminas 4) hormônios 5) agentes diversos NOMENCLATURA Os fármacos possuem três ou mais nomes: a) sigla, número do código ou designação do código b) nome químico c) nome registrado, nome patenteado e nome comercial d) nome genérico, nome oficial ou nome comum 19 a) é formada geralmente com as iniciais do laboratório, ou do pesquisador ou do grupo de pesquisa que o preparou e ensaiou o fármaco pela primeira vez, seguidas de um número. Não identifica a estrutura química do fármaco. b) é o único que descreve a estrutura química do fármaco. Por ser muito longo, não é muito utilizado no dia a dia. (deve ser escrito com letras minúsculas) c) refere-se ao nome individual selecionado e usado pelo fabricante do fármaco ou medicamento. Ocorre que se o medicamento é fabricado por mais de uma empresa, caso muito comum, cada firma dá o seu nome registrado. As vezes o nome patenteado refere-se a uma formulação e não a uma única substância química. (deve ser escrito com iniciais maiúsculas) d) refere-se ao nome comum pelo qual um fármaco é conhecido como substância isolada, sem levar em conta o fabricante. Deveria ser simples, conciso e significativo, mas frequentemente não é. Este nome é escolhido pelos órgãos oficiais nos EUA: U.S.Adopted Names Council (USAN), patrocinado dentre outras empresas pela FDA. No Brasil, câmara técnica de medicamentos do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde. A nível mundial a OMS é o órgão incumbido de selecionar, aprovar e divulgar os nomes oficiais dos fármacos. No livro de Q.F. foram adotados nomes dados pela OMS e farmacopéia brasileira. REGRAS DE NOMENCLATURA A OMS recomenda que os nomes devam distinguir-se fonética e ortograficamente, não serem excessivamente longos e não dar margem a confusão com nomes já em uso. O nome deverá indicar quando possível, seu parentesco farmacológico com substância do mesmo grupo. Devem ser evitados nomes que induzem o paciente a alguma sugestão de ordem anatômica, fisiológica, patológica ou terapêutica. 20 O CH 3 OH OH Mefenesina NOME OFICIAL: Mefenesina (relaxante muscular de ação central) NOME COMERCIAL: Tol Serol NOME QUÍMICO: 3-(2-metilfenóxi)-1,2-propanodiol ASSOCIAÇÕES MEDICAMENTOSAS Em vários países o número de especialidades farmacêuticas com diversas apresentações atinge cerca de 20.000. Na Suécia elas são apenas 2.600. Três aspectos são considerados em uma especialidade farmacêutica. a) Sustância ativa b) Forma c) Fórmula a) É o P.A., base medicamentosa, fármaco ou droga. A substância ativa é o composto principal que geralmente é o mais caro numa especialidade farmacêutica. Em contraste com o número elevado de especialidades farmacêuticas, o número de fármacos é reduzido. Nos EUA são 4.000 fármacos e cerca de 2.000 aditivos. Na farmacopéia brasileira em 1977 foram registradas 484 entre fármacos e adjuvantes farmacotécnicos. b) Especialidades farmacêuticas podem ser comercializadas sob as mais diferentes formas farmacêuticas, e as mais comuns seriam: pós, comprimidos, drágeas, pílulas, grânulos, pastilhas, cápsulas, emulsões, dispersões coloidais e suspensões, hidróleos, gliceróleos, extratos, extratos fluidos, hidrolatos, alcoolatos, óvulos, pomadas, linimentos, loções, emplastros, supositórios, colírio, injeções, soluções de aplicação nasal e etc. 21 c) A especialidade farmacêutica pode conter um ou mais fármacos, alem de vários aditivos. Na associação de fármacos são procurados os seguintes objetivos: adição de efeitos, inibição de efeitos e potenciação de efeitos. Os aditivos podem ser adjuvantes, aglutinantes, tampões, corantes, diluentes, aromatizantes, desintegrantes, lubrificantes, conservantes, agentes tensoativos, emulsificantes e suspendentes. LANÇAMENTO DE NOVOS FÁRMACOS (CERCA DE 15 POR ANO) As indústrias farmacêuticas, por motivos variados lançam medicamentos em associações medicamentosas. Isto é, incluem na fórmula dois ou mais fármacos. Algumas destas associações são realmente úteis. Ex: estrogênio + progestagênio (anticoncepcional), trimetropina + sulfametoxazol (infecções do trato urinário), ergotamina + cafeína (enxaqueca), tiazínico + reserpina (em hipertensão), isoniazida + piridoxina (tratamento de tuberculose),todas estas associações foram aprovadas pela FDA. CRITÉRIOS PARA ADOTAR UMA ASSOOCIAÇÃO MEDICAMENTOSA ÚTIL a) Drogas que potenciam a ação terapêutica de outra produzindo o mesmo efeito terapêutico com reações adversas menores. Ex: estrogênio + progestogênio nos anticoncepcionais. b) Quando uma ou mais drogas aliviam os sintomas enquanto o fármaco principal cura a infecção. Ex: em infecções respiratórias, utiliza-se um quimioterápico para curar e um analgésico, um anti-histamínico e um descongestionante para aliviar os sintomas. c) Quando uma droga combate os efeitos adversos da outra. d) Quando o microrganismo infectante, como o causador da tuberculose desenvolve resistência rapidamente. Ex: utiliza-se rifampicina + etambutol ou isoniazida. 22 e) Quando uma droga combate uma infecção e a outra impede o crescimento de certos organismos ou sua superinfecção. Ex: tetraciclina + nistatina ou anfotericina B, no combate de certas infecções bacterianas. f) Em caso de não se poder identificar rapidamente o agente infectante e o paciente precisar do tratamento urgente. g) Em doenças parasitárias com drogas que atuam para mecanismos diversos. Ex: trimetropina + sulfametoxazol + primaquina. h) Em infecções múltiplas, causadas, por exemplo, por germes G + e G -. i) Quando a associação medicamentosa é mais barata e mais conveniente do que um fármaco administrado isoladamente. 23 DESENVOLVIMENTO DE FÁRMACOS - Fontes antigas de medicamentos Paracelso (1493-1541) pai da farmacoquímica e fundador da medicina moderna adotou a “doutrina da assinatura”, segundo a qual Deus indicava qual o agente medicinal adequado para o tratamento do órgão afetado ou dos sintomas de uma doença conferindo- lhe um “sinal”, na forma de uma semelhança, ainda que superficial daquele agente com este órgão ou sintomas. De acordo com esta doutrina, por exemplo: Açafrão e celidônia por terem cor amarela seriam eficientes na cura da icterícia. Raízes vermiformes seriam eficientes medicamentos contra vermes intestinais, etc. Mesmo baseado em crenças populares e na superstição, a doutrina de assinaturas contribuiu de certa forma para o progresso das ciências médicas. Com a seleção racional dos remédios para seus males, foi ampliada paulatina, mas constantemente, o número de medicamentos naturais à sua disposição. A descoberta dos alcaloides, entre 1803 e 1920, deu um grande impulso no estudo das drogas, pois os farmacêuticos pioneiros no progresso da Q.F. passaram a se preocupar menos com as plantas e drogas e mais com os seus constituintes químicos. - Fontes modernas de medicamentos A descoberta acidental de que determinados fungos e outros microrganismos produzem substâncias ditas antibióticos, que inibem processos vitais de outros organismos, mesmo em concentrações baixas, levou os pesquisadores, sobretudo após 1940, a uma busca intensa de novos antibióticos, sendo que estes não só são procurados entre os microrganismos, mas também entre os vegetais e animais superiores. A partir dessas investigações foram descobertos isolados e identificados mais de 3100 antibióticos, entretanto menos de 100 são empregados na terapêutica, pois muitos desses são extremamente tóxicos. Outro fator que contribuiu para a obtenção de novos fármacos foi o enorme progresso da Q. orgânica a partir do século passado, sendo que no arsenal terapêutico atual predominam fármacos de origem sintética mostrando que a síntese 24 química vem contribuindo cada vez mais com novos fármacos em decorrência dos conhecimentos dos mecanismos das reações químicas e bioquímicas. E de se dispor de eficientes e rápidos métodos analíticos como cromatografia, espectrofotometria, espectroscopia (RMN, IV, UV). Produtos de origem microbiana (antibióticos e vitaminas), novos alcaloides, fármacos obtidos por síntese química, além destes, o arsenal terapêutico foi também enriquecido por muitos fármacos semissintéticos, introduzidos mediante modificação química de produtos vegetais, animais ou microbianos. CONTRIBUIÇÃO DAS DIVERSAS FORMAS DE FÁRMACOS Calcula-se que atualmente se conhecem aproximadamente 5.000.000 de substâncias químicas perfeitamente identificadas e caracterizadas. Destas, 4.000 são fármacos e 2.000 aditivos de medicamentos. A percentagem de medicamentos de origem natural (vegetal + mineral + animal + microbiana) vem diminuindo, enquanto que os medicamentos sintéticos aumentam constantemente. No gráfico abaixo está representada a situação atual dos medicamentos mais usados na terapêutica. Sintética - 50% Vegetal - 18% Animal - 10% Mineral - 9% Microbiana - 5,5% Semi-sintética - 3,5% Vacinas - 3% Soros - 1% 25 CUSTO E LOCAL DE DESENVOLVIMENTO DE FÁRMACOS Nos últimos anos, o arsenal terapêutico foi muito enriquecido, de 1940 a 1975 no mercado norte-americano foram introduzidos 971 fármacos novos, sendo estes os mais utilizados hoje em dia. Os países que mais contribuíram para isso foram: EUA (622 – 64%), Suíça (68 – 7%), Inglaterra (52 – 5,4%), Alemanha (48 – 4,9%) e França (27 – 2,9%) do total. O Brasil não contribuiu com nenhum fármaco neste período. A introdução de novos fármacos é muito onerosa, e na década passada custou: US$ 6.000.000 a França, 8.000.000 a Inglaterra e 12.000.000 aos EUA, sendo que foi investido nos EUA cerca de US$ 1.000.000.000 em pesquisa e desenvolvimento. É fácil entender o motivo deste alto custo quando se consideram as várias e dispendiosas fases compreendidas na gênese de medicamentos, que leva em média entre 7 e 10 anos para se completar. 26 Programação da Pesquisa PLANEJAMENTO QUÍMICO PLANEJAMENTO BIOLÓGICO PESQUISA BIBLIOGRÁFICA PROGRAMA CONJUNTO DA PESQUISA Desenvolvimento de métodos de síntese Desenvolvimento e avaliação de técnicas de ensaios PATENTESíntese de análogos Triagem preliminar Ensaios pormenorizados Seleção de compostos mais promissores Farmacologia pormenorizada (incluindo toxicologia) Desenvolvimento do processo Pesquisas bioquímicas Farmacologia clínica Produção semi-industrial Estudos físico-químicos Controle analítico e desenvolvimento farmacotécnico Estudos farmacocinéticos Produção industrial Ensaios clínicos gerais Mercadologia e promoção Informação médica 27 BUSCA DE NOVOS FÁRMACOS Atualmente o grande esforço para a introdução de novos fármacos está sendo efetuado no sentido de introduzir: novos agentes anti-infecciosos, agentes antineoplásicos, agentes cardiovasculares, fármacos que atuam no sistema endócrino e fármacos que atuam no SNC, já que o arsenal terapêutico está bem suprido por diversos tipos de medicamentos como: anti-histamínicos, miorrelaxantes, barbitúricos, antiespasmódicos, etc. GÊNESE DE FÁRMACOS Os fármacos são introduzidos na terapêutica pelos seguintes processos: ao acaso, triagem empírica, extração de princípios ativos de fontes naturais, modificação molecular de medicamentos e planejamento racional. AO ACASO Descoberta por mero acidente. Através da observação dos efeitos terapêuticos por médicos e farmacêuticos, como por exemplo: as propriedades antipiréticas da acetanilida foram descobertas por dois médicos em 1886, devido a um erro de aviamento em uma farmácia, que trocou o naftaleno receitado para o tratamento de parasitose intestinal pela acetanilida e esta causou o abaixamento da temperatura elevada do paciente. NH C O CH 3 NH C O CH 3 OH NH C O CH 3 O C H 2 CH 3 acetanilida paracetamol fenacetina O clordiazepóxido, primeiro membro dos agentes ansiolíticos benzodiazepínicos foi obtido por Sternbach e col., os quais estavam empenhados num programa de pesquisa cujo propósito era preparar um compostoquímico diferente, com ação diferente. Eles estavam 28 realmente tentando sintetizar 3,1,4-benzoxadiazepinas (II) com ação anticonvulsivante potencial. Na síntese planejada desta nova classe de substâncias surgiram dois resultados inesperados: (a) a desidratação de orto-acilaminoaldoximas ou cetoximas (I) não forneceu 3,1,4-benzoxadiazepinas (II), conforme eles queriam e esperavam que fornecesse, mas sim quinazolina-N-óxidos (III), confirmado por eles; (b) a aminação por metilamina de 6-cloro- 2-clorometil-4-fenilquinazolina-N-óxido (IV) não ocorreu como os pesquisadores desejavam, mas resultou na expansão do anel, dando origem a benzodiazepina-N-óxido (V), que foi chamado de clordiazepóxido, cujas propriedades sedativas, miorrelaxantes e anticonvulsivantes semelhantes às dos barbitúricos são agora utilizadas para o alívio da tensão , apreensão, ansiedade, angústia e outros sintomas nervosos. Cl NH 2 NOH Cl N N O R Cl N N R O Cl N N O Cl Cl N N O N H Cl N N N H O (I) RCOOH (II) (III) ClCH2COCl (IV) CH3NH2 (V) A clortiazida foi produto inesperado da síntese orgânica planejada por Sprague e Beyer em 1958, para obter novos compostos relacionados com a diclorfenamida (I), usada como diurético. Tentativas de formilar um derivado aminado da diclorfenamida (II), não 29 obtiveram êxito, mas conduziram diretamente à clortiazida (III), primeiro membro das tiazidas e hidrotiazidas, duas novas classes de diuréticos administrados por via oral. Cl Cl H 2 NO 2 S SO 2 NH 2 Cl H 2 NO 2 S SO 2 NH 2 NH 2 Cl H 2 NO 2 S SO 2 NH 2 NH-CHO Cl H 2 NO 2 S S N NH O O (I) (II) HCOOH (III) TRIAGEM EMPÍRICA Neste processo de descobrir novos fármacos todas as substâncias químicas disponíveis são submetidas a uma variedade de ensaios biológicos para observação de alguma atividade biológica útil. Por ser um método empírico o resultado no sentido de obtenção dos novos fármacos não é muito compensador. A introdução de um antineoplásico, segundo Spinks, exige a avaliação de 400.000.000 de compostos. Outro método de triagem empírica racionalmente dirigida é o isolamento e identificação de produtos do metabolismo de medicamentos. Verificou-se que diversos fármacos são em si inativos, mas devem sua ação aos seus metabólitos. Por exemplo, a acetanilida e a fenacetina são metabolizadas no paracetamol, e esse é que exerce a principal ação analgésica. 30 EXTRAÇÃO DE FONTES NATURAIS Pelo uso histórico pela humanidade de extratos de partes vegetais ou órgãos animais para o tratamento de doenças, esta medicina folclórica tem sido extensivamente explorada até os dias de hoje. Diversos medicamentos usados hoje em dia especialmente: alcaloides, antibióticos, vitaminas e hormônios resultaram da purificação desses extratos e do isolamento e identificação de seus princípios ativos. Em 1960, 47% dos fármacos receitados pelos médicos nos Estados Unidos provinham de fontes naturais, sendo, em sua maioria, antibióticos. Em 1973, 25,2% dos produtos medicamentosos que apareceram, quer por nome genérico, quer por nome comercial, nas 1.532.000.000 receitas aviadas nos EUA continham um ou mais princípios ativos extraídos de plantas superiores, isto é, plantas que produzem sementes. MODIFICAÇÃO MOLECULAR Este método de obter novos fármacos, também chamado manipulação molecular, método de variação, método mecanístico ou processo seletivo, é o mais usado e, até agora, o mais recompensador. Basicamente consiste em tornar uma substância química bem determinada e de ação biológica conhecida, como modelo ou protótipo e, a partir daí sintetizar e ensaiar novos compostos que sejam congêneres, homólogos ou análogos estruturais do fármaco matriz. Vantagens desta metodologia: - maior probabilidade dos congêneres, homólogos e análogos apresentarem propriedades farmacológicas semelhantes às do protótipo, do que aqueles compostos selecionados ou sintetizados a esmo; - possibilidade de obter produtos farmacologicamente superiores; - probabilidade de a produção dos novos fármacos ser mais econômica; - síntese semelhante à do protótipo, com economia de tempo e dinheiro; - os dados obtidos poderão elucidar a relação entre a estrutura química e atividade biológica; - emprego dos mesmos métodos de ensaios biológicos utilizados para o protótipo; São dois seus objetivos: 31 a) Descobrir qualquer grupamento farmacofórico essencial, isto é, a característica da molécula que confere a ação farmacológica ao medicamento. b) Obter fármacos que apresentem propriedades mais desejáveis que o protótipo em potência, especificidade, duração da ação, facilidade de aplicação, estabilidade e custo de produção. 1) PROCESSOS GERAIS Dois processos gerais podem ser utilizados no método de modificação molecular. a) Disjunção, dissecção ou simplificação ou dissociação molecular. b) Conjugação ou associação molecular. a) consiste na síntese e ensaio de análogos cada vez mais simples do composto modelo. Estes análogos são réplicas parciais ou virtuais do fármaco protótipo. Este protótipo é geralmente um produto natural de estrutura química muito complexa. Ex: gênese de novos hipnoanalgésicos e antagonistas mediante modificação da morfina; gênese dos anestésicos locais através da simplificação da molécula da cocaína. 32 GÊNESE DOS ANESTÉSICOS LOCAIS ATRAVÉS DA SIMPLIFICAÇÃO DA MOLÉCULA DA COCAÍNA C O O N C O O C O O NH 2 C O O N C O O ON CCH 3 N H O C O O N NH 2 C O O N OH N H C N CO O O N H C N O N H C O O N O O N cocaína (1865) benzocaína (1890) -eucaína (1897) fenacaína (1895) amilocaína (1904) procaína (1906) nirvanina (1900) lidocaína (1943) tetracaína (1931) apotesina (1916) 33 GRUPO ANESTESIOFÓRICO LOCAL O O (CH 2 )n Ar n= 2 ou 3 N R1 R2 PROCAÍNA NH 2 C O O C H 2 C H 2 N C H 2 CH 3 C H 2 CH 3 RECEPTOR PROPOSTO PARA OS ANESTÉSICOS LOCAIS NH 2 C O O C H 2 C H 2 N C H 2 CH 3 C H 2 CH 3 FVWSuperfície Plana Ligação Dipolo Centro AniônicoFVWP.H. b) consiste na síntese e ensaio de análogos cada vez mais complexos do protótipo. Estes análogos incorporam determinadas características do composto modelo ou todas elas. São três tipos principais de associação: 34 1) adição molecular: associação de grupamentos diferentes mediante forças fracas (tais como atração eletrostática e ponte de hidrogênio). N N NH N O O OH+ _ mandelato de metenamina (metenamina + ácido mandélico) 2) replicação molecular: associação de grupamentos idênticos através da formação de ligação covalente; se a associação for de dois grupos, teremos duplicação molecular; se for de três, triplicação molecular, e assim sucessivamente. S OH OH ClCl Si O Si O Si fenticloro n dimeticona (dimetilpolissiloxana, em que n= 200 a 350) 3) hibridação molecular: associação de grupamentos diferentes ou mistos através da formação de ligação covalente. O O O O N H O benorilato (hibridação do paracetamol com ácido acetilsalicílico) 35 2) PROCESSOS ESPECIAIS Além dos dois processos gerais (dissociação e associação molecular) o método da modificação molecular utiliza diversos processos especiais agrupados em duas classes: a) alterações que aumentam ou diminuem as dimensões e a flexibilidade de uma molécula. a1) fechamento ou abertura de anel; a2) introdução de ligações duplas; a3) introdução de centros opticamente ativos; a4) introdução, retirada ou substituição de grupos volumosos (usados para converter agonista em antagonista ou vice-versa). N N ON H O ON O N fisostigmina (1925) neostigmina (1928)+ a1) a2) Pode causar dois efeitos principais: 1) modificando a estereoquímica do fármaco, poderá dar origem a composto de atividade diferente daquela apresentada pelo composto saturado. Isso ocorre no ácido cis-cinâmico; ao contrário do que ocorre com seu diidroderivado, ácido β-fenilpropanoico, exerce atividade reguladora no crescimento de plantas; 2) alterando as propriedades físico-químicas, pode modificar a atividade biológica. Observa-se isso nos hipnóticos: os hidrocarbonetos etilênicos são ligeiramente mais ativos que os saturados. a3) modificando-se a estereoquímica da molécula do fármaco, esta mudança pode alterar, as vezes drasticamente, sua atividade farmacológica. Por exemplo: a D(-)-isoprenalina é 50 a 800 vezes mãos ativa como broncodilatadora que a L(+)-isoprenalina; o (-)-levarterenol é 36 70 vezes mais ativo como broncodilatador do que o (+)-levarterenol; a (+)-muscarina tem 700 vezes a atividade muscarínica da (-)-muscarina; o ácido L(-)-ascórbico apresenta propriedades antiescorbúticas, ao passo que o ácido D(+)-ascórbico não; os (-)-aminoácidos são insípidos ou amargos, mas os (+)-aminoácidos são doces; a (+)-cortisona é ativa, mas a (-)-cortisona é inativa. a4) pode-se observar na figura abaixo a diferença entre agonistas e antagonistas (estes últimos apresentam grupos volumosos apolares). OH OH N H OH O N H OH OH OH NH 2 OH O O N O isoprenalina -adrenérgicos propranolol -adrenérgicos norepinefrina moxisilita A adição de grupos volumosos promove a formação de antagonista, pois apenas uma parte da molécula irá se ligar perfeitamente ao receptor, enquanto que a outra parte não terá o encaixe perfeito. b) alteração de propriedades físicas e químicas através da introdução de novos grupos ou substituição de determinados grupamentos por grupos diferentes. 37 b1) substituição isostérica; b2) mudança na posição ou na orientação de determinados grupos; b3) introdução de grupos alquilantes; b4) modificação visando à inibição ou promoção de estados eletrônicos diversos. b1) Consideram-se isósteros como sendo átomos, íons ou moléculas em que as camadas periféricas de elétrons podem ser consideradas idênticas. Podem ser considerados isósteros também os grupos que possuem configurações estéricas e eletrônicas semelhantes, com relação ao número de elétrons compreendidos. É o caso dos seguintes grupos: carboxilato (- COO-) e sulfamido (-SO2NR-); cetônico (-CO-) e sulfônico (-SO2-); cloro (-Cl) e trifluormetila (-CF3). Por exemplo, a estrutura geral dos anti-histamínicos está representada abaixo: R X C H 2 C H 2 N R2 R1 estrutura geral dos anti-histamínicos X pode ser qualquer dos grupos isósteros: -O-, -NH- ou –CH2-. Outro exemplo é o dos agentes anticolinérgicos, cuja fórmula geral é a mesma dos anti-histamínicos, mas X pode ser um dos seguintes grupos: -COO-, -CONH-, -COS-. b2) a posição de certos grupos é as vezes essencial para uma dada atividade biológica. Por exemplo, dos três isômeros do ácido hidroxibenzoico, somente o isômero orto é ativo, porque pode formar ponte de hidrogênio intramolecular e, deste modo, agir como quelante. Outro exemplo ocorre nos monoclorofenóis. Eles tem propriedades antissépticas diferentes: o p-clorofenol é o mais ativo, em consequência da posição do átomo de cloro que, por estar adequadamente situado, pode exercer seu efeito indutivo negativo (efeito I - ) no sentido de realçar a acidez do fenol. 38 O C O H O H O C O O M C O O O O O Cl H O H Cl ácido o-hidroxibenzoico (ácido salicíico) ação quelante do ácido salicílico Cl _ H+ + ativo atividade intermediária - ativo b3) Quando adequadamente situados estes grupos podem conferir ação prolongada aos fármacos devido à formação de ligação covalente com o grupamento apropriado no local de ação. Ex: DNA ou enzimas. Eles são empregados especialmente em alguns agentes antineoplásicos. Formam um íon carbônio, que pode sofrer ataque nucleofílico por grupos, tióis, aminas, fosfatos e carboxilatos. 39 P F O R2 R1 R S O O F R C O C H 2 Cl R N C H 2 C H 2 C H 2 Cl C H 2 Cl N R2 R1 O R3 O R N C H 2 C H 2 C H 2 Cl C H 2 Cl R N C H 2 C H 2 CH 2 C H 2 Cl C H 2 C H 2 NR R N C H 2 CH 2 R C H 2 O SO 2 CH 3 R CH 2 O SO 2 CH 3 CH 2 C H O R R C H CH 2 O R C H 2 Cl R CH 2 SR` H 2 NR` R CH 2 NHR` R`HPO 3 O R CH 2 OPO 3 HR` R`COO R CH2OOCR` Grupos alquilantes usados em fármacos, principalmente antineoplásicos Mecanismo de ação dos agentes alquilantes + + Cl _ +_ + + _ + _ + R`S tiol _ + X _ amina + HX _ fosfato + X _ _ carboxilato + X _ 40 R1 N C H 2 C H 2 Cl R2 C H 2 C H 2 NR1 R2 R1 N C H 2 CH 2 R2 S N O C H R` H OO P O OR` O H H S N O C R` OO P O OR` O N R2 N R2 R1 R1 N R1 R2 N R1 R2 Mecanismo de ação dos agentes alquilantes agente alquilante + íon aziridínio íon carbônio + . .. . . ... enzima ou metabólitos ativos reações irreversíveis enzima ou metabólitos inativados 41 B4) Determinados grupos químicos produzem dois efeitos eletrônicos importantes: indutivos e conjugativos. Estes efeitos podem alterar profundamente as propriedades físicas e químicas e, como consequência, a atividade biológica. Os efeitos indutivos (ou eletrostáticos) resultam de migrações eletrônicas ao longo de ligações simples, em virtude da atração exercida por determinados grupos, em razão de sua eletronegatividade. Assim, os grupos que atraem elétrons mais fortemente que o hidrogênio exercem efeitos indutivos negativos (I - , aceptores de elétrons), ao passo que aqueles que atraem menos intensamente que o hidrogênio manifestam efeitos indutivos positivos (I + , doadores de elétrons). 3) EXPLORAÇÃO DOS EFEITOS COLATERAIS Uma forma muito comum de descobrir novos fármacos consiste em explorar os efeitos colaterais de fármacos conhecidos através de modificação molecular adequada. Vários exemplos indicam que este método é recompensador. Ex: a exploração da ação antidepressiva da isoniazida, utilizada como agente tuberculostático resultou na descoberta de inibidores da MAO dos tipos hidrazínicos e não hidrazínicos. A modificação molecular da tropina e de seu óxido, escopolamina, conduziu a numerosos novos agentes farmacodinâmicos: midriáticos, antiespasmódicos, antidiarreicos, antiulcerosos, antiparkinsonianos e fármacos que atuam no SNC. A observação de que o anti-histamínico prometazina produz efeitos sedativos centrais sugeriu a modificação molecular deste fármaco, visando realçar aquela propriedade, Isto deu origem à clorpromazina e outros agentes antipsicóticos fenotiazínicos. Em consequência da variação estrutural dos esteroides com o objetivo de explorar os seus efeitos colaterais, foram introduzidos novos fármacos dotados de atividades anti- inflamatórias, anticoncepcionais, anabólicas, estrogênicas e progestagênicas. 42 4) ENSAIO DE PRODUTOS INTERMEDIÁRIOS Devido a sua semelhança estrutural com os produtos finais de uma síntese planejada de novos fármacos potenciais, é aconselhável ensaiar os produtos intermediários. Seguindo-se esta metodologia foram descobertos vários fármacos. Por exemplo, verificou-se que, dos compostos usados ou obtidos na síntese de tiossemicarbazonas potencialmente tuberculostáticos, um intermediário era mais ativo que o produto final. Isto resultou na sua introdução clínica sob o nome de isoniazida, agora extensivamente utilizada como tuberculostático. N O O N O N H NH 2 N N N H S NH 2 isonicotinato de metila H2N-NH2 isonicotinil-hidrazina (isoniazida) isonicotinaldeído (tiossemicarbazona) . 5) ANÁLOGOS, PRÓ-FÁRMACOS E LATENCIAÇÃO DE FÁRMACOS Análogose pró-fármacos são compostos estruturalmente semelhantes a um fármaco protótipo. As propriedades biológicas destes compostos são, porém, diferentes das do fármaco protótipo no que diz respeito a certos aspectos, tais como potência, espectro de ação, índice terapêutico e biodisponibilidade. O fármaco análogo não raro diverge estruturalmente do fármaco protótipo apenas por um átomo ou grupo de átomos geralmente isósteros daqueles presentes no fármaco matriz. Ainda que seja quimicamente aparentado ao fármaco protótipo, o análogo deve a sua atividade farmacológica a características próprias, que lhe são intrínsecas, e não ao fármaco de que deriva. Assim, por exemplo, a ampicilina é análoga da benzilpenicilina; o sulindaco é análogo da indometacina; a triflupromazina é análoga da clorpromazina. O pró-fármaco, por sua vez, é derivado de fármaco conhecido e provado, derivado este que, em razão de suas propriedades físico-químicas melhoradas, aumenta a 43 biodisponibilidade do referido fármaco e que, mediante processo enzimático ou químico, é transformado no fármaco primitivo, antes de atingir o seu local de ação ou no local de ação. Exemplos de pró-fármacos: a) triacetina, obtida por tratamento do ácido acético com glicerol; b) metenamina, sintetizada a partir do formol e da amônia. Ambos estes compostos liberam os fármacos ácido acético e formol, respectivamente, no local de ação, em consequência de ataque enzimático, no primeiro caso, e de processo químico, no segundo. Os pró-fármacos são também chamados de derivados reversíveis ou biorreversíveis de fármacos. Ao processo de obtenção de pró-fármacos, muito utilizado, dá se o nome de latenciação de fármacos. Consiste essencialmente em converter, mediante modificação química, um composto biologicamente ativo em forma de transporte inativo que, após ataque enzimático ou químico, libertará o fármaco ativo. O emprego de pró-fármacos ou latenciação de fármacos visa modificar várias propriedades farmacêuticas e biológicas dos fármacos matrizes. Entre seus objetivos, os principais são: 1- alteração da farmacocinética do fármaco in vivo a fim de melhorar sua absorção, distribuição, metabolismo e excreção; 2- melhoria da biodisponibilidade; 3- aumento da estabilidade do produto final; 4- auxílio à formulação farmacêutica; 5- diminuição da toxicidade e dos efeitos colaterais. A dipiverina, fármaco utilizado no tratamento do glaucoma, é um pró-fármaco da epinefrina. Apresenta as seguintes vantagens em relação à epinefrina: aumenta a duração da ação, maior potência, maior estabilidade, melhor biodisponibilidade e menores efeitos adversos. 44 OH OH N H OH O OH N H O O Oepinefrina dipiverina PLANEJAMENTO RACIONAL Planejamento de fármacos consiste em uma série de programas postos em prática com o propósito de descobrir novas substâncias químicas que possam ser usadas em medicina, quer para cura ou prevenção de doenças, quer para o restabelecimento da saúde física ou mental. O grande sonho dos Químicos Farmacêuticos e dos farmacologistas, tem sido obter fármacos mediante planejamento verdadeiramente racional, isto é, fármacos sob medida , ou seja, fármacos com ação farmacológica específica. O planejamento racional de fármacos consiste em utilizar os seguintes conhecimentos disponíveis: - local e mecanismo de ação dos fármacos a nível molecular; - relações quantitativas e qualitativas entre estrutura química e atividade biológica; - estudo dos receptores dos fármacos e sua topografia; - modo de interação fármaco-receptor; - efeitos farmacológicos de grupos químicos específicos; - parâmetros físico-químicos relacionados com a atividade dos fármacos: hidrofóbicos, estéricos e eletrônicos. OH C OH NH 2 O OH OH C OH NH 2 O CH 3 OH OH NH 2 OH dopa metildopa dopamina Ação da metildopa, planejada racionalmente para ser inibidora da dopadescarboxilase, mediante substituição do átomo de hidrogênio ligado ao carbono alfa da dopa por um grupo mais volumoso (o metílico) 45 ESTRUTURA E ATIVIDADE DOS FÁRMACOS 1) Fármacos estruturalmente inespecíficos São aqueles em que a ação biológica não está subordinada diretamente à estrutura química, mas apenas na medida em que esta afeta as propriedades físico-químicas, sendo essas as responsáveis pelo efeito farmacológico que eles produzem. Entre tais propriedades podem ser citadas a absorção, a solubilidade, o Pka e o poder oxi-redutor, que influem na permeabilidade, despolarização das membranas celulares, coagulação das proteínas e formação de complexos. Admite-se que os fármacos estruturalmente inespecíficos atuam por um processo físico-químico pelas seguintes razões: 1. Sua ação biológica está diretamente relacionada com a atividade termodinâmica que é, em geral, alta, da ordem de 1 a 0,01; isso significa que atuam em doses relativamente elevadas; 2. Embora apresentem estruturas químicas muito variadas, sem nenhuma relação entre si, podem provocar reação biológica semelhante; 3. Pequenas variações na sua estrutura química não resultam em alterações acentuadas na ação biológica 2) Fármacos estruturalmente específicos São aqueles cuja ação biológica decorre essencialmente de sua estrutura química, que deve adaptar-se à estrutura química tridimensional dos receptores existentes no organismo, formando um complexo com eles. É evidente, portanto, que nestes fármacos deverão desempenhar papel decisivo a reatividade química, a forma, o tamanho, a disposição estereoquímica da molécula e a distribuição dos grupos funcionais, bem como a ressonância, os efeitos indutivos, a distribuição eletrônica e as ligações possíveis com o receptor, além de outros fatores. Vários motivos levam a crer que o efeito farmacológico produzido por estas drogas se deve à complexação delas com uma pequeníssima área quimicamente reativa de certas 46 células do organismo, área cuja topografia e grupos funcionais são ou se tornam complementares aos desses fármacos: 1. A sua ação biológica não depende apenas da atividade termodinâmica, que é geralmente baixa, inferior a 0,001; isso significa que os fármacos estruturalmente específicos são eficientes em concentrações menores do que os fármacos estruturalmente inespecíficos; 2. Apresentam certas características estruturais em comum, e a estrutura fundamental presente em todos eles, estrutura em que os grupos funcionais estão orientados numa direção espacial semelhante, é responsável pela reação biológica análoga que produzem; 3. Pequenas variações na sua estrutura química podem resultar em alterações substanciais na atividade farmacológica, obtendo-se assim compostos que tem ação desde antagônica até análoga à do fármaco matriz. EFEITOS FARMACOLÓGICOS DE GRUPAMENTOS ESPECÍFICOS A. Efeitos gerais de grupamentos A atividade biológica de fármacos estruturalmente específicos depende diretamente de seu tamanho, forma e distribuição eletrônica. Embora a presença de um grupo específico não pressuponha necessariamente que a molécula terá determinada atividade biológica, visto que esta é função da molécula como um todo; os grupos químicos presentes ou introduzidos num fármaco exercem dois tipos de efeitos, efeitos estéricos e efeitos eletrônicos, sendo importantes por dois motivos: 47 1. Eles podem ser essenciais para a manifestação de determinada ação biológica, em razão de sua reatividade química ou da disposição espacial; 2. Eles podem modificar a intensidade de determinada ação biológica, em consequência dos efeitos característicos que exercem. Para se ter atividade biológica máxima, porém, importa que a atividade esteja situada dentro de certa amplitude. Por um lado, grupos demasiadamente reativos, que reagem facilmente com vários constituintes celulares, talvez impeçam que o fármaco atinja local em que deveagir. Por outro lado, grupos pouco reativos podem tornar desprezível a atividade biológica do fármaco matriz. Portanto, a atividade biológica requer reatividade química ótima propriedades físico-químicas ótimas. Segundo critérios químico e biológico, na estrutura química dos fármacos Ariëns distingue as partes ou grupos quimiofuncionais (aqueles que contribuem para a fixação do fármaco ao receptor através de várias forças em jogo), e as partes ou grupos biofuncionais (os responsáveis pela atividade biológica). Nos grupos biofuncionais importa fazer distinção entre as partes essenciais e as partes acessórias. As primeiras requerem alta especificidade estrutural, pois são elas que, como partes ativas, interagirão com os aceptores ou receptores acarretando a ação farmacológica. É óbvio, portanto, que essas partes não poderão sofrer grande modificação em suas estruturas químicas. As últimas, porém, vale dizer as partes acessórias, não intervêm na complexação fármaco-receptor, de modo que é permissível grande variabilidade em suas estruturas químicas. 48 B. Grupos ácidos e básicos Devido à sua polaridade, os grupos ácidos e básicos determinam as características físico-químicas dos fármacos em que estão presentes e, de fato, influem decisivamente nas suas atividades biológicas. Assim, grupos ácidos, como: -SO3H e –COOH, por serem solubilizantes, são coadjuvantes no efeito biológico ou podem anular este efeito. Em geral, os ácidos sulfônicos, por serem fortes e altamente ionizados e, consequentemente, não poderem atravessar as membranas celulares (que, via de regra, são permeáveis apenas a moléculas não dissociadas, não sendo a íons), são destituídos de ação biológica; excetuam-se certos tripanomicidas (vermelho tripano, azul tripano, afridol violeta, suramina) e outros quimioterápicos (estibofeno, por exemplo). Os derivados de ácidos carboxílicos como ésteres, amidas e nitrilas podem comportar- se de modo diferente do que os compostos de origem. Por exemplo, os ésteres alquílicos do ácido p-aminobenzoico, que é vitamina para determinados microrganismos, tem atividade anestésica local. Muitas amidas, caracterizadas pela presença do grupo –CONH– , também presente em proteínas e peptídeos, manifestam atividade biológica, embora em geral estruturalmente inespecífica (e, portanto, curta), graças à capacidade de estabelecer ligações de hidrogênio com macromoléculas orgânicas. Assim se explica a ação narcótica de certas amidas, uretanas e substâncias cíclicas como barbitúricos e hidantoínas. Se, contudo, o fármaco contiver número elevado de grupos peptídicos, assim como ocorre nos polipeptídios, a ação poderá ser estruturalmente específica e, portanto, mais prolongada, em virtude da interação múltipla de tais grupos com grupos semelhantes existentes nas proteínas e ácidos nucleicos. É o que se dá com vários antibióticos polipeptídicos (bacitracina, colistina, dactinomicina, polimixina, tirotricina e viomicina, por exemplo, que tem ações quimioterápicas diversas) e a suramina (que tem forte ação tripanomicida). Tal como sucede com os ácidos sulfônicos e pela mesma razão, as bases fortes apresentam reduzida atividade biológica. Entretanto, em aminas quaternárias ionizadas e nas aminas primárias, secundárias e terciárias protonizadas, os grupos básicos, que são positivamente carregados, desempenham a função de ligar-se eletrostaticamente a grupos 49 negativamente carregados de receptores e, por isso, são essenciais à atividade farmacológica. O nitrogênio básico nos alcaloides é também fundamental à afinidade destes por enzimas sobre as quais atuam. Quanto ao grupo hidrazino, ele não só confere basicidade às hidrazinas como tem capacidade de reagir com grupos carbonílicos, atribuindo-se a estes dois fatores sua ação biológica. C. Grupos acilantes A atividade biológica dos grupos acila, presentes em ésteres, amidas e anidridos, deve- se às reações de acilação de que participam. Os inseticidas organofosforados inibem a acetilcolinesterase mediante fosforilação irreversível da hidroxila da serina, constituinte do centro ativo da enzima. A penicilina, graças à tensão estérica (tensão de Bayer) do anel - lactâmico, tem propriedades acilantes. Efetivamente, em razão de sua semelhança com o grupo terminal D-alanil-D-alanina do precursor da mureína, camada interna da parede bacteriana, a penicilina inativa por acilação a transpeptidase, enzima que catalisa a reação de transpeptidação, que é a última etapa (ligação cruzada) na biossíntese da parede celular das bactérias. D. Grupos hidroxila As hidroxilas exercem dois efeitos farmacológicos principais: alteração das propriedades físicas e modificação da reatividade química. Exemplos do primeiro tipo de efeito são encontrados nos antibióticos poliênicos (nistatina, por exemplo), cujos grupos hidroxílicos lhes conferem alta hidrofilicidade e, em determinados álcoois (etanol, etclorvinol, hidrato de amileno, metilparafinol) e fenóis simples (cresol, fenol, resorcinol), que devem sua atividade narcótica e bactericida respectivamente, às propriedades físico-químicas, já que são fármacos estruturalmente inespecíficos. 50 Exemplo do segundo tipo de efeito ocorre em certos compostos poli-hidroxilados (epinefrina e norepinefrina) em que, através de ligações de hidrogênio, as hidroxilas atuam para fixação do fármaco ao seu receptor; é por isso que a eterificação e a esterificação diminuem a atividade dos fármacos hidroxilados. Determinados compostos hidroxilados devem a sua ação à possibilidade de, in vivo, serem convertidos à forma quinônica: e as quinonas participam na fosforilação oxidativa por serem transportadores de elétrons. Por outro lado, inúmeros são os fármacos que, in vivo, sofrem hidroxilação, podendo dar produtos: (a) menos ativos que o fármaco matriz ou até inativos; (b) mais ativos que o fármaco matriz que, em alguns casos, não tem atividade alguma; (c) diferentes na atividade com relação ao fármaco matriz. NH 2 NH 2 OH N H N H O O O N H N H O O O OH anfetamina (estimulante) 4-hidroxianfetamina (menos tóxica, menos estimulante, mas dotada de maior atividade pressora) fenobarbital (hipnótico, sedativo) 4-hidroxifenobarbital (inativo) 51 E. Grupos tiólico e dissulfeto Diversos fármacos sintéticos e vários antibióticos (bacitracina, cefalosporinas e penicilinas) apresentam grupos tiólico ou dissulfeto, os últimos às vezes na forma cíclica. Sua ação biológica deve-se, em parte, a esta peculiaridade. Entre outras características menos importantes, os grupos tiólicos tem a capacidade de: (a) interconverter-se em dissulfetos mediante reações de oxidação-redução (como no caso do hormônio antidiurético argipressina, que é atraído ao sítio receptor por forças eletrostáticas e ligações de hidrogênio); (b) adicionar-se a ligações duplas, geralmente a compostos cetônicos α,β- insaturados; (c) formar mercaptídeos não dissociados com metais pesados (como ocorre na cisteína, na penicilamina e no dimercaprol); (d) formar complexos de adição com o anel piridínico de certas enzimas. S H NH 2 OH O S Cu NH 2 NH 2 S O OH OH O 2 + Cu++ penicilamina F. Metais e grupos quelantes Determinados metais, geralmente os chamados metais pesados, tem a propriedade de ligar-se a grupos fundamentais dos constituintes celulares e, por este mecanismo, alterar- lhes a função fisiológica, produzindo, assim, a sua ação farmacológica. Por exemplo, o mercúrio presente em certos fármacos atua ligando-se aos grupos tiólicos de certas proteínas: 52 R-Hg+ + HS- R-Hg-S- + H+ -SH + HS- Hg2+ -S-Hg-S- + 2H+ Por outro lado, certos metais, por serem constituintes essenciais de determinadas substâncias ou enzimas, são altamente importantes para a atividadebiológica. É o caso de ferro, cobre, cobalto, molibdênio, cálcio, magnésio, zinco, além de vários outros. O excesso destes metais no organismo pode, todavia, ser prejudicial. Para retirar do organismo metais indesejáveis ou excesso de metais necessários empregando-se compostos que apresentam grupos quelantes. Entre eles, citam-se: ácido edético, deferoxamina, dimercaprol, oxima e penicilamina. ASPECTOS ESTEREOQUÍMICOS DOS FÁRMACOS A. Complementariedade entre fármaco e receptor Sendo o receptor provavelmente uma porção limitada de uma macromolécula, em geral de natureza proteica, apresentará ele estrutura específica, mais ou menos rígida, não podendo sofrer, na maioria dos casos, grandes alterações conformacionais. Só assim se explica a necessidade de os fármacos estruturalmente específicos apresentarem, em muitos casos, conformação complementar à do receptor. B. Estereoquímica dos fármacos A estereoquímica é fator importantíssimo na atividade farmacológica. Justificam-se plenamente, portanto, as tentativas de relacionar a forma molecular dos fármacos com a atividade farmacológica por eles produzida, como a que se fez recentemente para explicar, 53 além de várias outras, a atividade alucinogênica, anestésica local, anticonvulsivante, gustativa, muscarínica e nicotínica, odorífera e simpatomimética. A diferença acentuada na atividade farmacológica de muitos estereoisômeros fornece a melhor prova da existência de receptor. Ela pode ser atribuída a três fatores: 1. Diferenças na distribuição dos isômeros no organismo; 2. Diferenças nas propriedades da interação fármaco-receptor; 3. Diferenças na adsorção dos isômeros a uma superfície receptora complementar. Ao estudar a ação dos fármacos ao nível molecular, é preciso, por isso, considerar não só estereoisomeria dos fármacos, isto é, a disposição dos átomos que caracterizam um isômero ótico ou geométrico determinado, mas também sua conformação, que pode aplicar- se também a fármacos que não apresentam estereoisomeria. 1. Configuração absoluta e conformação preferida Admite-se que na interação fármaco-receptor as moléculas dos fármacos estão na sua conformação preferida. Isso, entretanto, não ocorre em todos os casos, embora seja muito frequente. Daí a razão do grande interesse em determinar não só a configuração absoluta, mas também a conformação preferida dos fármacos e outros compostos biologicamente ativos. São várias as técnicas usadas para isso: difração de raios X, ressonância magnética nuclear (RMN), dispersão rotatória ótica e cálculos de orbitais moleculares. 2. Isomeria Ótica Isômeros óticos, também chamados de antípodas óticos, enantiomorfos e enantiômeros, são os estereoisômeros em que a disposição dos átomos ou grupos é tal que os dois não podem ser superpostos. Constituem imagens especulares um do outro e apresentam diferenças semelhantes àquelas que existem entre luvas de mão direita e esquerda. Embora muitos isômeros óticos contenham centro assimétrico, essa não é característica essencial para isomeria ótica. 54 Não raro, os isômeros óticos apresentam ação farmacológica em graus diversos de intensidade. Esta diferença poderá resultar de diferença de afinidade. A potência do composto racêmico é equivalente à média das potências dos dois enantiomorfos, sendo raro o antagonismo entre eles. Por manifestarem, em geral, diferenças nas atividades biológicas, o isômero ótico tem sido larga e proveitosamente utilizados em pesquisas que visam determinar a natureza da interação fármaco-receptor. Fundamentados nesses estudos, diversos autores tem formulado teorias referentes a essa mesma interação e apresentado hipóteses relacionadas com a topografia da superfície receptora. 3. Isomeria Geométrica Isômeros geométricos são estereoisômeros que tem estrutura igual, mas disposição espacial diferente de átomos ou grupos. Entretanto, não constituem imagens especulares um do outro, como no caso dos isômeros óticos. A isomeria geométrica é determinada pela restrição à rotação dentro da molécula, seja por ligações duplas, seja por sistemas rígidos ou semirrígidos. É frequente os isômeros geométricos apresentarem diferenças na intensidade da ação biológica. Isso acontece porque, em geral, suas propriedades físicas e químicas são diferentes. Diversamente do que ocorre nos isômeros óticos, nos pares de isômeros geométricos os grupos estão separados por distâncias diferentes. Isso facilita ou dificulta, conforme o caso, a interação de um dos dois com a superfície receptora e explica porque não é igual à intensidade da ação farmacológica. A isomeria geométrica pode explicar a alta atividade estrogênica do trans- dietilestilbestrol, ao passo que o isômero cis é inativo. Ambos apresentam sistemas conjugados formando uma nuvem eletrônica π única, que é distribuída por todos os átomos. Isso confere aos compostos estrutura plana e rígida e força os grupos etila a assumirem configuração definida. No isômero trans, esses grupos estão dispostos de maneira a formar estrutura muito semelhante à dos estrogênios naturais. No isômero cis, porém, isso não ocorre. Daí a diversidade da atividade biológica. Inicialmente, importa lembrar que não se deve superestimar a importância da estrutura rígida: o hexestrol, embora tenha estrutura 55 flexível, é tão ativo como o trans-dietilestilbestrol, do qual deriva por redução da ligação dupla na cadeia que une os dois anéis aromáticos. OH OH OH OH OH OH hexestrol trans-dietilestilbestrol cis-dietilestilbestrol C. Distâncias interatômicas Em muitos casos as distâncias entre os grupos funcionais em determinados fármacos são críticas para a atividade biológica ótima. Isso constitui mais um indício de que tais fármacos são estereoespecíficos, isto é, a ação por eles produzida resulta da complexação com receptores orgânicos. Tais receptores são predominantemente proteínas. Estas são constituídas de aminoácidos ligados entre si através de seus grupos α-amino e α-carboxilato. Apresentam, por isso, espaçamento muito regular entre as ligações peptídicas. Duas são de grande interesse para a Química Farmacêutica: (a) aquela que existe entre dois passos consecutivos da hélice α; (b) aquela que separa duas ligações peptídicas quando a proteína está estendida ao máximo. Supunha-se que a primeira medisse 5,5Å, mas os estudos cristalográficos mostraram que ela mede 5,38 Å. A segunda, conhecida como distância de identidade, equivale a 3,61Å. Tais distâncias são importantes para a ação biológica. 56 N C C N C C N C C N H R O H R O H R HH H O H 3,61 7,2 Vários fármacos apresentam entre os seus grupos químicos uma ou outra dessas distâncias (às vezes, apenas próximas) ou múltiplo delas. Por exemplo, na estrutura abaixo, em que X pode ser nitrogênio ou oxigênio a distância entre os átomos X e N é próxima de 5,5 Å. Esta estrutura é comum aos anestésicos locais (procaína), antiadrenérgicos (piperoxano), parassimpatomiméticos (acetilcolina), antiespasmódicos (adifenina) e anti- histamínicos (difenidramina). R X C C NR 2 ´ H H H H A distância de 3,61 Å ou múltiplo desta encontra-se, por sua vez, em diversos outros fármacos. Assim, em certos parassimpatomiméticos e anticolinérgicos o grupo carbonila do éster está separado do nitrogênio por cerca de 7,2 Å (2 X 3,61 Å). Quando os fármacos atuam como antagonistas metabólicos, a configuração e as distâncias interatômicas se tornam de grande importância. O exemplo clássico é o das sulfas, que apresentam notável semelhança estrutural, mesmo em distâncias interatômicas, com o ácido p-aminobenzoico, de que são antagonistas. As distâncias interatômicas foram utilizadas para explicar o mecanismo de ação, ao nível molecular, de diversos tipos de fármacos, tais como: agentes antiinflamatórios, agentes antineoplásicos,agentes edulcorantes, hipnoanalgésicos e sulfas. 57 Em vários tipos de fármacos, todavia, à distância interatômica ótima para a atividade biológica não apresenta correspondência com as distâncias vistas acima, encontradas nas proteínas. Isso talvez se deva à possibilidade de estas poderem adotar muitas conformações diferentes dependendo: (a) do meio em que se encontrem; (b) da capacidade da estrutura normal, muito enrolada, poder desorganizar-se ou modificar-se profundamente. Consequentemente, podem ocorrer alterações nas propriedades físico- químicas, bem como modificações nas distâncias interatômicas. Devido a esta possibilidade, as distâncias interatômicas na superfície receptora passariam a ser complementares àquelas dos fármacos que com esta superfície interagem. Dos muitos trabalhos que já se fizeram no sentido de correlacionar as distâncias entre grupos funcionais com a ação biológica que os fármacos produzem pode-se deduzir que, embora não constituam geralmente o fator principal, essas distâncias exercem, em muitos casos, influência extraordinária na interação ótima entre fármaco e receptor. RECEPTORES DE FÁRMACOS Natureza do receptor: na maioria das vezes são proteínas (enzimas e proteínas não enzimáticas). Podem ser também ácidos nucléicos (DNA e RNA) e lipoproteínas principalmente de membranas celulares. A complexação do fármaco com o receptor resulta numa sequência de alterações químicas ou conformacionais que causam ou inibem reações biológicas. A hipótese da existência foi criada em decorrência de três características notáveis de ação dos fármacos: 1) alta potência, conhece-se fármacos que atuam em concentrações muito baixas; 2) especificidade química, prova desta são as diferenças de efeitos produzidos por isômeros ópticos; 3) especificidade biológica, a epinefrina tem ação acentuada sob o músculo cardíaco, porém possui ação muito fraca sob o músculo estriado. 58 Compara-se o receptor com o centro ativo ou alostérico de uma enzima, ou a interação antígeno–anticorpo. Alguns autores restringem o uso do termo receptor aquelas entidades que interagem com substâncias endógenas, tais como: acetilcolina, epinefrina, histamina, serotonina, dopamina e etc. assim como os antagonistas destas substâncias. As macromoléculas que interagem com sustâncias exógenas, como certos fármacos e venenos que não reagem com os receptores farmacológicos, são denominadas de aceptores. O aceptor difere do receptor em termos de especificidade, isto é, o aceptor geralmente apresenta menor seletividade por não haver sido planejado geneticamente para interagir com substâncias endógenas. Segundo esse conceito, para os anestésicos locais haveria aceptores e não receptores. 59 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SNC Os fármacos que atuam no SNC podem deprimir, modificar ou estimular as suas funções. Estes fármacos são geralmente divididos, geralmente, em três grandes classes: 1. depressores gerais (não seletivos) do SNC: anestésicos gerais, hipnóticos e sedativos; 2. modificadores seletivos da função do SNC: anticonvulsivantes, hipnoanalgésicos, analgésicos antipiréticos e antireumáticos, antitussígenos, psicotrópicos e bloqueadores intraneuronais centrais (miorrelaxantes e antiparkinsonianos); 3. estimulantes gerais (não seletivos) do SNC. ANESTÉSICOS GERAIS Conceito: são fármacos que produzem analgesia, perda de consciência, relaxamento muscular e redução da atividade reflexa deprimindo, não seletiva, mas reversivelmente, o SNC. A palavra anestesia, de origem grega, significa sem percepção ou insensibilidade. Efeitos adversos: os principais efeitos adversos são: a) anestésicos por inalação: parada circulatória (só com doses excessivas), arritmias, depressão ventilatória, problemas hepáticos, por serem teratogênicos em animais, não devem ser administrados durante o primeiro trimestre da gravidez; b) anestésicos intravenosos: depressão ventilatória acentuada e apnéia após injeção rápida ou superdose. 60 Classificação: os anestésicos são divididos em anestésicos por inalação e anestésicos intravenosos. ANESTÉSICOS POR INALAÇÃO Também chamados de anestésicos voláteis, os anestésicos por inalação podem ser gases (ciclopropano, criofluorano, etileno, óxido nitroso) ou líquidos voláteis (cloreto de etila, clorofórmio, éter, éter vinílico, fluroxeno, halotano, metoxiflurano, tricloroetileno). Os líquidos voláteis podem ser divididos em éteres e hidrocarbonetos halogenados: Éteres F F F F Cl O CH 3 CH 3 C H 2 O C H 2 CH 3 CH 2 C H O C H 2 CH 3 F 3 C CHCl O CHF 2 F 2 HC O CF 2 CHFCl Cl 2 HC CF 2 O CH 3 ciclopropano aliflurano éter dietílico éter vinílico enflurano isoflurano metoxiflurano Hidrocarbonetos halogenados CH 3 C H 2 Cl H C Cl Cl Cl F 3 C C Cl H Br CH C CH 2 F F F F Br Cl 2 C C H Cl cloreto de etila clorofórmio halotano halopropano tricloroetileno Uma das principais desvantagens dos derivados halogenados é a hepatoxicidade e efeitos cardiovasculares adversos, sendo então estes substituídos por outros fármacos. 61 SÍNTESE DE ALGUNS ANESTÉSICOS POR INALAÇÃO CH 2 C H 2 CH 2 Br Br CH 3 C H 2 OH CH 3 C H 2 O C H 2 CH 3 C C Cl Cl F F Cl 2 HC CF 2 O CH 3 C C HH C C HH Cl Cl ClCl Cl 2 C C H Cl F 3 C C H 2 Cl F 3 C C H 2 Br F 3 C C Cl H Br Zn + ZnBr2 2 H2SO4 + CH3OH CH3O Na +- + 2 Cl2 Br2 465ºC Cl2 380ºC ciclopropano éter dietílico metoxiflurano tricloroetileno halotano 62 ANESTÉSICOS INTRAVENOSOS São sólidos não explosivos, produzem perda rápida de consciência, mas anestesia e relaxamento muscular insuficiente. Os mais utilizados são os barbitúricos de ação ultrarrápida (tiopental, tiamilal e metoexital) e cetamina. Todos eles são utilizados como anestésicos basais, isto é, para alcançar um grau de inconsciência antes da administração do anestésico. N N O O S-Na+ H N N O O S-Na+ H N N O O O-Na+ H O NH CH 3 Cl TIOPENTAL TIAMILAL METOEXITAL CETAMINA O tiopental sódico é o mais usado dos anestésicos barbitúricos intravenosos. Seu período de latência rápido (cerca de meio minuto) e a duração de sua ação é ultracurta, de apenas 10 a 30 minutos, sendo também utilizado como anticonvulsinvante. MECANISMO DE AÇÃO Diversas teorias foram propostas para explicar o mecanismo de ação dos anestésicos gerais, visto que sua ação não pode explicada por uma só teoria. Na verdade, as teorias apresentadas somente descrevem os efeitos produzidos por estes anestésicos, sem elucidar como esses efeitos são causados. Visto que sua estrutura química, propriedades físico- químicas e efeitos farmacológicos são tão variados, admite-se que eles deprimem, não seletivamente, o SNC por um mecanismo físico-químico, isto é, devem a sua ação às propriedades físico-químicas e não à complexação com um receptor farmacológico. Em outras palavras, os anestésicos gerais são medicamentos estruturalmente inespecíficos. De 63 fato, em 1973, Kendig e colaboradores verificaram que o (+)-halotano e o (-)-halotano não diferem em sua capacidade de deprimir a transmissão sináptica no gânglio simpático cervical isolado de ratos. Isso vem comprovar que a anestesia provocada pelos agentes por inalação é fenômeno físico em que a configuração estereoquímica da molécula do anestésico não desempenha papel importante. 64 HIPNÓTICOS E SEDATIVOS Conceito: são depressores gerais ou não seletivos do SNC; são utilizados para reduzir a inquietação e a tensão emocional e para induzir o sono ou sedação. Empregos: são amplamente utilizados em todo o mundo e cada
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