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08.10.2020 FISIOPATOLOGIA II Aula 24 – Profa.Renata Nunes 1 Doenças do Corpo do Útero O útero possui dois componentes principais: o miométrio e o endométrio. O miométrio é composto por feixes entrelaçados de músculo liso que formam a parede do útero. A cavidade interna do útero é revestida pelo endométrio, composto por glândulas embutidas em um estroma celular. O útero está sujeito a uma variedade de distúrbios, sendo que os mais comuns resultam de desequilíbrios endócrinos, complicações da gravidez e proliferação neoplásica. Juntamente com as lesões que afetam o colo uterino (causando resultados anormais no esfregaço de Papanicolaou), as lesões do corpo do útero e do endométrio (causando sangramento vaginal anormal) justificam a maior parte das visitas de pacientes às clínicas ginecológica. Hiperplasias Endometriais Definida como proliferação aumentada de glândulas endometriais relação ao estroma. Associada a exposição e estimulação prolongada ao estrógeno, que pode ser decorrente de anovulação, aumento da produção de estrógeno a partir de fontes endógenas ou estrógenos exógeno. Fatores de risco: obesidade, ciclos anovulatórios, menopausa, administração exógena, de estrógeno, síndrome do ovário policístico. Importante causa de sangramento uterino (metrorragia/ intervalos irregulares e menorragia/ períodos menstruais). Lesões precursora de adenocarcinoma endometrial (tipo I – adenocarcinoma endometrioide) Patogenia Diretamente relacionada com os eventos iniciais do adenocarcinoma endometriais, entendo inativação do PTEN. PTEN – regulação negativa da via de crescimento PI3K/AKT, trabalha com receptores de estrógeno. Quando PTEN está inativada, fosforilação de AKT está aumentada, estimulando a síntese proteica e a proliferação celular e inibindo a apoptose. Faz também com que haja crescimento de tecido de genes alvos que serão os genes estrógeno dependentes que favorece o crescimento celular no endométrio e na mama. Inativação do PTEN o A sinalização PI3K/AKT aumenta a capacidade do receptor de estrogênio ativar a expressão de seus genes- alvo. o A expressão de genes estrógeno-dependentes, favorecendo a proliferação de tecidos como endométrio e mama. Presente em cerca de 20% das hiperplasias e em 30-80% dos adenocarcinoma (face inicial da progressão para o desenvolvimento do adenocarcinoma – ao longo desses desenvolvimentos haverá outros eventos oncogene onde outros genes serão mudados dando as características dessa neoplasia). Aspectos Macroscópicos - Hiperplasias Endom etriais; - Adenocarcinoma do Endométrio; - Carcinoma Endom etrioide (Tipo I); - Carcinoma Seroso (Tipo II); - Leiomioma. 08.10.2020 FISIOPATOLOGIA II Aula 24 – Profa.Renata Nunes 2 Endométrio hiperplásico: Aglomerado de folhas – seta branca – representando a proliferação do endométrio para dentro do útero, levando a uma escassez do estroma. Aspectos Microscópicos hiperplasia endometrial não atípica – aglomeração glandular e dilatação das glândulas; áreas de glândulas justapostas com pouco estroma. Risco de 2-4x de progressão para adenocarcinoma. Observa-se a quantidade elevada de estroma e estruturas ovaladas irregulares (glândulas), a quantidade de estroma entre elas é escasso. Quando há fase proliferativa encontra- se estroma denso com proliferação de glândulas. – Efeito back to back: glândulas dilatadas e justapostas e escassez de estroma. A – Hiperplasia simples sem atipia com anormalidades arquiteturais incluindo leve aglomeração e dilatação glandular cística. B – A hiperplasia complexa sem atipia demonstra maior aglomeração glandular com áreas de glândulas agrupadas intimamente com propriedades citológicas semelhantes ao endométrio proliferativo. Hiperplasias endometrial atípica/ neoplasia intrapeitelial endometrial Proliferação glandular com atipia nuclear: glândulas justapostas com estroma escasso; células arredondadas; núcleos possuem cromatina vesicular e nucléolos evidentes. Risco de 45x de progressão para adenocarcinoma endometrioide. Intervalo de cerca de 4 anos. Proliferação glandular, alterações progressivas que se observa que não estão presentes no tecido normal, se tornando atípica. Quanto maior o numero de atipias, maior a chance de se tornar maligna. Glândulas justapostas e pouco estroma entre elas (efeito back to back). Seta – células com nucléolos evidentes, mas com cromatina vesicular – como se forma vacúolo no núcleo. 08.10.2020 FISIOPATOLOGIA II Aula 24 – Profa.Renata Nunes 3 C – A hiperplasia complexa com atipia apresenta características arquiteturais semelhantes à hiperplasia complexa sem atipia, porém as propriedades citológicas estão alteradas. D – Grandes amplificação de hiperplasia complexa com atipia exibindo núcleos vesiculares arredondados com nucléolos proeminentes. Caso clinico Mulher, 58 anos com queixa de sangramento vaginal irregular, informa que teve menopausa aos 51 anos, Há 1 mês refere ter apresentado, inicialmente, pequenos sangramentos vaginais (gotas). Há 1 semana apresenta sangramento ininterrupto, semelhante a uma menstruação. Antecedentes pessoais: hipertensa e diabética, com tratamento irregular. Refere que no período da menopausa teve também sangramento abundante e precisou fazer curetagem uterina, mas não lembra o diagnostico, apenas sabe que ainda não câncer e foi informada que como estava entrando na menopausa ela não teria mais problemas, mas não poderia fazer reposição hormonal. Antecedente ginecológico: casada, 3G 2P (cesárea) 1ª, amamentou por 7 meses cada filho. Menarca aos 12 anos. Usou ACO por 10 anos e após a terceira gestação fez laqueadura e não usou mais anticoncepção hormonal. Antecedentes familiares: pai e mãe vivos, hipertensos e tia materna diabética, esta tia está tratando de câncer de mama. Exame físico PA: 140x95 mmHg; FC: 82 bpm; Temp: 36,5°C Exame abdominal: doloroso à palpação profunda de região pélvica hipogástrio Demais órgãos normais Circunferência abdominal: 101cm; IMC: 42 Exames solicitados Hemograma: normal Glicemia 132 mg/dL (até 99 mg/dl, diabetes acima de 125 mg/dL) Triglicérides 300 mg/dL (até 150 mg/dL) LDL 170 mg/dL (até 100 mg/dL); HDL 27 mg/dL (acima de 60 mg/dL); VLDL 50 mg/dL Ácido úrico 4,7 mg/dL (até 5 mg/dL) Função hepática e renal: elevação discreta de transaminases e de fosfatase alcalina e GGT Íons: normais USG de abdome: cálculo biliar, esteatose hepática grau III USG transvaginal: ovários atróficos; útero com espessamento endometrial Adenocarcinoma do Endométrio É um tumor maligno do trato genital feminino muito frequente (7% dos carcinomas invasivos das mulheres). O tumor origina-se provavelmente de focos do ovário (10-15% casos). Pico de incidência: 55-65 anos 1/3 dos casos ocorre em mulheres pós-menopausa sem evidencia e exposição ao estrógeno Sintomatologia; sangramento pós- menopausa e leucorreia (corrimento vaginal anormal). Corrimento é secundário, ele está lá na tentativa de controlar o pH. Não há método de rastreamento O prognostico depende do estagio clinico no momento do diagnostico, do tipo histologia e da graduação do tumor. Adenocarcinoma endometrial sincrônico (no útero e no ovário) está presente em até 20% dos casos, refletindo fatores carcinogênicos comuns, inclusive alterações genéticas semelhantes observadas tanto na endometriose quanto nos tumores endometriodes borderline e carcinomas endometrioides de baixo grau. Carcinoma endometrioide ovariano associa-se a mutações nos genes da β-catenina (16 a 38% dos casos) e PTEN (14 a 21% dos casos), bem como mutações na via PI3K/AKT. Mutações no gene TP53 são observadas especialmente em tumores menos diferenciados, com pior prognóstico. O adenocarcinoma endometrioide apresenta-se como nódulos sólidos ou comocistos multiloculares, muitas vezes 08.10.2020 FISIOPATOLOGIA II Aula 24 – Profa.Renata Nunes 4 hemorrágicos, revestidos por tecido aveludado ou papilomatoso. O tumor é geralmente volumoso, podendo medir 15 cm de diâmetro. Microscopicamente, a lesão é semelhante ao adenocarcinoma ou adenoacantoma endometrial. Sobrevida de cinco anos varia conforme o estadiamento, variando de 78% no estágio I a 6% no estágio IV. Fatores de risco Relacionados a estados de hiperestrogenismo Fatores de risco: o Senhoras idosas e obesas, com dieta rica em gorduras; o Diabetes; o Hipertensão; o TRH (terapia de reposição hormonal) sem contraposição de progesterona, ACO (anticoncepcional oral) e tumores produtores de estrógeno o Nuliparidade o Menarca precoce o Menopausa tardia o Infertilidade (ciclos anovolatórios) Adenocarcinoma endometrioide: áreas papiliferas e glândulas densamente. A e b – Padrões papiliferos; sendo na B em um maior aumento. C – Formação glandular bem delimitada e percebe-se efeito back to back - glândulas justapostas e escassez de estroma – proliferação glandular de células neoplasias D –Onde esta as setas representa as invasões tumorais no miométrio; Tecido endometrial localizado no miométrio. 08.10.2020 FISIOPATOLOGIA II Aula 24 – Profa.Renata Nunes 5 Feixes de fibras são do miométrio (rosa). Carcinoma Endometrioide(Tipo I) É o câncer invasivo mais comum do trato genital feminino – 80% de todos os casos. Embora ocorra em alta frequência, o câncer endometrial surge principalmente em mulheres na pós- menopausa. Em virtude de causarem sangramento anormal (pós- menopausa), a detecção e a cura precoce são possíveis. Patogenia Molecular É raro em mulheres com menos de 40 anos de idade. A maior incidência ocorre em mulheres de 55-65 anos de idade. Surgem em condições de hiperplasia endometrial. Consistindo também em glândulas endometriais proliferativas bem diferenciadas e miméticas e, por isso, apresentada como carcinoma endometrioide. A hiperplasia endometrial esta associada a: obesidade, diabetes, hipertensão, infertilidade (mulheres que desenvolvem câncer do endométrio tendem a ser nulíparas e apresentar uma historia de irregularidade menstruais funcionais compatíveis com ciclos anovulatórios) e estimulação estrogênica sem oposição. Inativação do PTEN – hiperplasia atípica é considerada lesão pré- neoplasica. Hiperplasia – eventos mutagênicos – adenocarcinoma (melhor prognostico). Este tumor oc orre geralmen te após a menopausa, quando o en dométrio está atrófico. A principal qu eixa é hemorr agia pós- menopausa. É a neoplasia maligna mais comum do TGF em pa íses desenvolv idos. Entre nó s, ainda perde do Ca. do colo uteri no. São com uns antecedente s de obesidad e, hipertensão arterial, diabe tes e situaçõe s em que há aumento dos níveis de estr ógeno. Após a menopausa h á na supra-re nal produção aumentada d e androstene diona, um pre cursor de andrógen os. Esta, no te cido adiposo , se transforma em estrona (uma forma de estrógeno) pe la enzima aro matase (fenô meno favorecido em mulheres obe sas). Neste exemplo, a neoplasia é e xofítica, ou seja, cresce par a a cavidade e ndometrial e infiltra pouco o m iométrio. O tumo r é bem diferenciado, do tipo endometri óide, isto é, lembra o endom étrio não neoplá sico. É constituído em p arte por áreas p apíliferas e em parte por glâ ndulas densame nte agrupadas, qua se sem estroma entre elas, dando o aspect o “back to back ”, próprio do adenocarcinom a. Mitoses são ra ras e áreas de necrose não são notadas ne ste espécime, mas outros caso s podem ser mu ito mais agressivos. 08.10.2020 FISIOPATOLOGIA II Aula 24 – Profa.Renata Nunes 6 Epitélio proliferativa – PTEN inativado – receptores de estrogênio passam a estimular positivamente a proliferação celular das células endometriais – hiperplasia atípica – mutações de genes de reparo de DNA – novos eventos mutagênico acontece ao longo de cada divisão celular – mutação no KRAS (ponto chave para a neoplasia atípica) – acaba por determinar as atipias da hiperplasia – proliferações continuam – maior instabilidade genômica – completa transformação maligna – carcinoma endometrioide – quanto menor o grau, menor agressividade ele apresenta e melhor o prognostico do paciente. Carcinoma Seroso (Tipo II) Normalmente ocorre em mulheres uma década mais tarde que o carcinoma endometrioide (tipo I), geralmente surgem no contexto de atrofia endometrial. São pouco diferenciados (grau III) e representam aproximadamente 15% dos casos de carcinoma endometrial. Apresenta mutações do TP53 e atrofia endometrial associada. A maioria das mutações são missense que resultam em um acumulo de proteínas alterada que pode ser detectado por imuno-histoquimica como uma coloração forte e difusa do núcleo das células tumorais. IMAGEM: B – Expressão intensa e difusa de p53, detectada por imuno- histoquímica, no carcinoma intraepitelial endometrial; D – acúmulo de proteína p53 no núcleo. Etiologia incerta e frequentemente não há histórico de hiperestrogenismo. Indica que a via carcinogênica é independente do estrógeno. Incidência em idade mais avançada e afrodescendentes com taxas de mortalidade 2x mais alta do que em mulheres brancas – pior prognostico (no momento do diagnostico apresentam disseminação por fora do útero). 08.10.2020 FISIOPATOLOGIA II Aula 24 – Profa.Renata Nunes 7 Espera-se encontrar um endométrio Tem capacidade de invasão muito grande, gerando um prognostico não favorável. Novas mutações invadem o estroma, tecido adjacente ao local da infecção. Surge a partir de um epitélio atrófico, imuno-histoquimica de P53, histologia diferentes. Morfológicos 1 – adrenocarcinoma endometrioide 2 – Invasão 3- Lesão exoptica, se formando e invadindo a porção interna do útero (cavidade uterina). Microscopia Invasão do endométrio e musculo liso (miométrio). De acordo com o estádio, ele terá diagnósticos diferentes. Caso clinico 2 Mulher, 43 anos, sem história médica anterior significativa procurou o ginecologista queixando-se de menorragia e dismenorreia. Uma USG mostrou uma massa submucosa de 3 cm na parede uterina. Como a paciente não deseja mais engravidar, o procedimento de histerectomia foi realizado. Seguem as imagens do laudo anatomopatológico. Sabendo-se que estamos diante de uma neoplasia, qual o processo fisiopatológico apresentado pelas imagens? Leiomioma São neoplasias benigno do musculo liso que podem ocorrer isoladamente, porém mais frequentemente são múltiplos. 08.10.2020 FISIOPATOLOGIA II Aula 24 – Profa.Renata Nunes 8 Fatores de risco: etnia afrodescentes. Frequentemente se apresentam múltiplos. Assintomáticos ou causar sangramentos. Mutações nos genes HMGIC e HMGIY (regulam a estrutura da cromatina). Transformação maligna é extremamente raro. Leiomiomas submucosos (seta branca)), intramurais -meio do miométrio (seta amarela) e subseroso – maior chance de sangramento (seta rosa) do útero. Referencias http://anatpat.unicamp.br/lamgin13 .html - ELLENSON, Lora Hedrick. O trato genital feminino. In: KUMAR, Vinay. Patologia: bases patológicas das doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda., 2010. Cap. 22. p. 1013- 1071.