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PÊGAS, Paulo Henrique. Manual da Contabilidade Tributária. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2017. 20 TRIBUTAÇÃO SOBRE O LUCRO NO BRASIL OBJETIVO DO CAPÍTULO Apresentar os aspectos introdutórios da tributação sobre o lucro no Brasil. Ao final do capítulo, será possível: a.Compreender o motivo da existência de dois tributos sobre o lucro no Brasil. b.Entender os elementos fundamentais que envolvem o imposto de renda: fato gerador, base de cálculo e alíquotas. c.Conhecer as formas de tributação das pessoas jurídicas no Brasil. 20.1DOIS TRIBUTOS DIFERENTES SOBRE O LUCRO A tributação sobre o lucro no Brasil possui uma conotação diferente em relação ao padrão mundial: a existência de dois tributos sobre o lucro, quando o mais comum seria a tributação ocorrer apenas via imposto de renda. A Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) foi autorizada pela Constituição Federal de 1988 e regulamentada no ano seguinte, tendo fato gerador, base de cálculo e contribuintes semelhantes ao imposto de renda, com pequenas diferenças. A existência de dois tributos sobre o lucro no Brasil se justifica pela destinação dos valores arrecadados. De cada R$ 100,00 arrecadados como CSLL, os estados e municípios nada recebem diretamente, ficando todo o dinheiro à disposição da União, para (teoricamente) financiar a seguridade social. Já, de cada R$ 100,00 arrecadados com imposto de renda, aproximadamente R$ 50,00 são transferidos de forma obrigatória para estados e municípios. Este fato justifica não haver a integração de imposto de renda e contribuição social, para simplificar o regime tributário, e tem sua explicação consolidada na tabela a seguir, que apresenta a evolução da arrecadação dos dois tributos, considerando a participação no total arrecadado pela Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) (desconsiderando contribuições previdenciárias). ARRECADAÇÃO DE IR E CSLL: PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL PARTICIPAÇÃO % NA ARRECADAÇÃO DA RFB (EXCETO RECEITA COM INSS) 1985 1989 2000 2009 2015 IMPOSTO DE RENDA 50% 41% 32% 41% 39% CONTRIBUIÇÃO SOCIAL S/ O LUCRO LÍQUIDO – 2% 5% 9% 7% Dados obtidos no site www.receita.fazenda.gov.br e organizados pelo autor. Não há distorção durante os intervalos dos anos, ou seja, a tabela é um importante retrato que sintetiza a forma de atuação do governo federal, a partir da Constituição de 1988, que foi transferir arrecadação de impostos antigos, como o IR, para contribuições sociais, cujos recursos, embora direcionados pela Constituição Federal para fins específicos (seguridade social, no caso), podem ser utilizados pela União em detrimento dos demais entes estatais. Antes da Constituição, no início da chamada “Nova República”, o bom e velho Imposto de Renda respondia por mais da metade da arrecadação da Receita Federal, na época sem a previdência. Nos dias atuais, ainda que a arrecadação do IR tenha verificado uma recuperação percentual em relação à arrecadação na passagem do milênio, ela representa em torno de 3/4 do que se arrecadava em 1985. A CSLL, por outro lado, tributo ainda novo, com pouco menos de 30 anos de existência, já responde por 7% da arrecadação global da atual RFB. http://www.receita.fazenda.gov.br/ 20.2PRINCÍPIOS BÁSICOS DO IMPOSTO DE RENDA Atendidos os princípios constitucionais tributários (estudados no Capítulo 2), o imposto de renda deve atender três critérios básicos, definidos na Constituição Federal: os critérios da generalidade, da universalidade e da progressividade. O critério da GENERALIDADE diz que toda e qualquer forma de renda ou provento deverá ser tributada nos limites e condições da Lei. O critério da UNIVERSALIDADE destaca que o tributo deverá ser cobrado de todos que auferirem renda, nos termos fixados na Lei, sem distinção de sexo, cor, nacionalidade, profissão etc. Já o critério da PROGRESSIVIDADE diz que o imposto de renda deve ser graduado por faixas, de modo que alíquotas mais elevadas recaiam sobre as faixas maiores de renda. O objetivo da progressividade de alíquotas é aplicar a justiça tributária, que diz: cobra-se mais de quem tem mais e menos de quem tem menos. O critério da progressividade é adotado de forma efetiva na tributação do imposto de renda das pessoas físicas. Talvez seja possível questionar o tamanho dessa progressividade, mas não sua aplicação, que é garantida pela aplicação de tabela progressiva. Para as pessoas jurídicas, o que garante a aplicação deste critério é o adicional de 10%, que incide apenas sobre o lucro a partir de R$ 20 mil mensais. Assim, o desconto mensal é maior para empresas com lucro menor. Uma empresa com lucro de R$ 80 mil tem desconto de 25% na sua base. Outra, com lucro de R$ 500 mil, apresenta desconto de 4%. Já uma (grande) empresa com lucro tributável mensal de R$ 10 milhões terá desconto de apenas 0,2%. 20.3FATO GERADOR O fato gerador do IRPJ é a aquisição da disponibilidade econômica (regime de caixa) ou jurídica (regime de competência): a.de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da combinação de ambos; e b.de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os acréscimos patrimoniais não compreendidos no conceito de renda. O fato gerador do IRPJ não ocorre periodicamente, apesar da exigência de pagamentos mensais ou trimestrais e de exigência de retenções na fonte em alguns casos. O ano fiscal brasileiro se inicia em 1o/JAN e termina em 31/DEZ. Regra geral, as empresas são obrigadas ao cálculo de IR e da CSLL trimestralmente, utilizando os trimestres civis como período de encerramento. Assim, devem encerrar os períodos de apuração em março, junho, setembro e dezembro, seja no lucro real, presumido ou arbitrado. No lucro real, contudo, há possibilidade de apuração anual, com recolhimentos mensais em bases estimadas, num cálculo similar ao do lucro presumido. 20.4DECLARAÇÃO ANUAL A legislação vigente sempre exigiu a entrega somente de uma declaração anual, denominada Declaração Anual de Informações Econômico-Fiscais das Pessoas Jurídicas (DIPJ), com todas as informações da empresa, embora em todos os regimes de tributação ocorra a obrigatoriedade de recolhimentos mensais ou trimestrais. Foram obrigadas a entregar a DIPJ até o ano-calendário 2013 todas as empresas tributadas pelos lucros real, presumido ou arbitrado e as entidades imunes e isentas. O prazo de entrega normalmente era o último dia útil do mês de junho do ano seguinte. A Instrução Normativa no 1.422/13 (alterada pelas Instruções Normativas no 1.489/14, no 1.524/14, no 1.574/15, no 1.595/15, no 1.633/16 e no 1.659/16) tornou obrigatória, a partir do ano-calendário 2014, a https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788597011883/epub/OEBPS/Text/chapter02.html apresentação da Escrituração Contábil Fiscal (ECF), dizendo que as empresas estavam desobrigadas de entregar a DIPJ e o LALUR referente ao ano de 2014. A ECF referente ao ano-calendário 2015 teve como prazo 31/JUL/16, sendo este, a princípio, o novo prazo de entrega. São obrigadas ao preenchimento da ECF todas as pessoas jurídicas, inclusive imunes e isentas, sejam elas tributadas pelo lucro real, lucro arbitrado ou lucro presumido, exceto: 1.as pessoas jurídicas optantes pelo SIMPLES Nacional; 2.os órgãos públicos, as autarquias e as fundações públicas; e 3.as pessoas jurídicas inativas, assim consideradas aquelas que não tenham efetuado qualquer atividade operacional, não operacional, patrimonial ou financeira, inclusive aplicação no mercado financeiro ou de capitais, durante todo o ano-calendário, as quais deverão cumprir as obrigações acessórias previstas na legislação específica. Há que se ressaltar que, caso a pessoa jurídica tenha Sociedades em Conta de Participação (SCP), cada SCP deverá preencher e transmitir sua própria ECF, utilizando o CNPJ da pessoa jurídica que é sócia ostensiva e o CNPJ/Código de cada SCP. As microempresas e empresas de pequeno porte que estiverem enquadradasno regime de tributação simplificado, conhecido como SIMPLES Nacional, também têm declaração anual, num modelo simplificado, denominado Declaração de Informações Socioeconômicas e Fiscais (DEFIS), cujo vencimento ocorre no último dia útil de março do ano seguinte. 20.5DECLARAÇÃO MENSAL Mensalmente, as empresas tributadas pelo lucro real, presumido, arbitrado e as entidades imunes e isentas devem enviar a Declaração de Débitos e Créditos Federais (DCTF), onde informam os valores devidos de tributos federais (IPI, IR, CSLL, PIS, COFINS, CIDE e outros), com os respectivos pagamentos e compensações. A DCTF mensal tem como prazo máximo de entrega o décimo quinto dia útil do mês seguinte após o fechamento do mês-base. Assim, a DCTF de JAN/17 deveria ser entregue no dia 21 de fevereiro (terça-feira). O art. 3o da IN RFB no 1.599/15 (com alterações) diz que estão dispensadas da apresentação da DCTF, dentre outras, as seguintes empresas: 1.as Microempresas (ME) e as Empresas de Pequeno Porte (EPP) enquadradas no Regime Especial Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições devidos pelas Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (SIMPLES Nacional), instituído pela Lei Complementar no 123/06, relativamente aos períodos abrangidos por esse regime, observado o disposto no inciso I do § 2o deste artigo; 2.os órgãos públicos da administração direta da União; 3.os condomínios edilícios; 4.os consórcios, desde que não realizem negócios jurídicos em nome próprio, inclusive na contratação de pessoas jurídicas ou físicas, com ou sem vínculo empregatício; e 5.os clubes de investimento registrados em Bolsa de Valores, segundo as normas fixadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou pelo Banco Central do Brasil (BACEN). Para mais detalhes e informações sobre a DCTF, recomendamos a leitura da IN RFB no 1.599/15. 20.6BASE DE CÁLCULO A base de cálculo do imposto de renda é o LUCRO. O Código Tributário Nacional (CTN) define que o cálculo do imposto será feito com base no lucro real, arbitrado ou presumido da renda ou dos proventos. A tributação pelo SIMPLES Nacional (modelo para microempresas e empresas de pequeno porte), embora englobe também o IR e a CSLL, não é considerada legalmente base de cálculo destes tributos. 20.7ALÍQUOTAS Quando a RFB diz que a reforma tributária em relação ao imposto de renda já vem sendo feita, desde o primeiro governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos argumentos utilizados é sua alíquota, que permanece a mesma desde JAN/96. A alíquota de CSLL também parou de variar nos últimos anos, apesar de ter sido bastante modificada entre 1998 e 2000. Desde 2001 ela é constante para as empresas em geral (9%), exceto seguradoras, instituições financeiras e equiparadas, que pagam 20% (até 2018). Importante destacar que as alíquotas são aplicadas nas três formas de tributação: lucro real, presumido ou arbitrado. Portanto, inicialmente a empresa encontra suas bases de cálculos (real, presumida ou arbitrada) e, depois, aplica as alíquotas vigentes de IR e CSLL. 20.7.1IMPOSTO DE RENDA A alíquota do imposto de renda das pessoas jurídicas segue o critério da progressividade, ou seja, paga mais quem pode mais, pagando menos quem pode menos. Na prática, a alíquota oscila entre 15% e 25%, dependendo do lucro apurado pela empresa. As alíquotas em vigor são as seguintes: a.alíquota básica de 15% sobre o lucro (real, presumido ou arbitrado); b.adicional de 10% sobre a parcela que exceder a R$ 240.000 por ano, sendo aplicada proporcionalmente em períodos menores (R$ 20.000 por mês). Portanto, uma empresa com lucro de R$ 240.000, por exemplo, pagará apenas 15% de IR, enquanto outra empresa que apresente lucro de R$ 1.000.000, pagará 22,6% de IR, devido à incidência de adicional de 10% sobre R$ 760.000 (diferença entre o lucro apurado de R$ 1.000.000 e R$ 240.000, que é a parcela isenta de adicional). Na tabela a seguir, o conceito de progressividade na tributação do imposto de renda fica mais claro, com a simulação do resultado de 12 empresas diferentes, com o respectivo imposto devido. Verifica-se que, à medida que aumenta o lucro, o imposto de renda devido também aumenta, não apenas em valor mas também em percentual, o que garante a progressividade. TRIBUTAÇÃO DE IR DAS EMPRESAS DO GRUPO COR EM 2016 EMPRESA LUCRO NO ANO IMPOSTO DE RENDA DEVIDO % DE TRIBUTAÇÃO ALIQ.BÁSICA ADICIONAL TOTAL AZUL 200.000 30.000 – 30.000 15,00% VERDE 340.000 51.000 10.000 61.000 17,94% AMARELA 620.000 93.000 38.000 131.000 21,13% ROSA 940.000 141.000 70.000 211.000 22,45% CINZA 2.000.000 300.000 176.000 476.000 23,80% MARRON 5.000.000 750.000 476.000 1.226.000 24,52% VERMELHA 10.000.000 1.500.000 976.000 2.476.000 24,76% PRETA 15.000.000 2.250.000 1.476.000 3.726.000 24,84% LILÁS 20.000.000 3.000.000 1.976.000 4.976.000 24,88% BRANCA 50.000.000 7.500.000 4.976.000 12.476.000 25,95% VIOLETA 100.000.000 15.000.000 9.976.000 24.976.000 24,98% ROXA 200.000.000 30.000.000 19.976.000 49.976.000 24,99% Tabela elaborada pelo autor. É interessante observar que, conforme o lucro atinge patamar de empresa grande, a alíquota chega muito próximo dos 25%. O objetivo da RFB foi tributar as médias e grandes empresas em 25%, deixando aquelas com lucro menor pagando entre 15% e 25%. 20.7.2DOIS CAMINHOS PARA ENCONTRAR O IR DEVIDO Quando a base de cálculo do IR indicar que existe adicional de 10%, ou seja, que o lucro ultrapassou R$ 20 mil num mês, R$ 60 mil no trimestre ou R$ 240 mil no ano, existem dois caminhos para calcular o IR devido. 1ª FORMA: CALCULAR 15% E DEPOIS O ADICIONAL. Alíquota de 15%: a sugestão é encontrar 10% e depois 5% (metade dos 10%). Em seguida, somar os dois valores, encontrando a alíquota básica. Adicional de 10%: reduz a parcela sem tributação da base, aplicando 10% sobre este resultado. POR EXEMPLO: LUCRO ANUAL DE R$ 664.000 15%: R$ 66.400 (10%) + R$ 33.200 (5%), o que monta a R$ 99.600 Adicional de 10%: 664.000 – 240.000 → 424.000 × 10%, o que dá R$ 42.400 SOMANDO R$ 99.600 com R$ 42.400, encontram-se R$ 142.000, que é a resposta correta. 2ª FORMA: CALCULAR 25% E DEPOIS RETIRAR O ADICIONAL Como 25% pode ser obtido numa divisão da base de cálculo por 4, este pode ser um caminho mais curto e eficaz para resolver a conta. Veja: 25%: divide-se a base de cálculo por 4. Depois, retiram-se 10% sobre o excesso do adicional do período de apuração. POR EXEMPLO: LUCRO ANUAL DE R$ 664.000 25%: 664.000/4, o que dá R$ 166.000. Diminui-se R$ 240.000 × 10%, o que monta a R$ 24.000 PORTANTO, R$ 166.000 menos R$ 24.000, encontramos R$ 142.000, que é a resposta correta. 20.7.3CONTRIBUIÇÃO SOCIAL A alíquota da CSLL era de 9% para todas as empresas, até maio de 2008, quando a Lei no 11.727/08 aumentou para 15% a CSLL devida das instituições financeiras e empresas equiparadas, como seguradoras, empresas de capitalização e entidades de previdência privada. A Lei no 13.169/15 elevou para 20% a alíquota da CSLL devida pelas instituições financeiras e empresas equiparadas, como seguradoras, empresas de capitalização e entidades de previdência privada, entre SET/15 e DEZ/18. A partir de JAN/19 a alíquota retorna para 15%. No mesmo período (SET/15 a DEZ/18) as cooperativas de crédito terão alíquota provisória de 17%. Antes, a Lei no 10.637/02 criou, em seu art. 38, o Bônus de Adimplência Fiscal. Este Bônus será concedido apenas às empresas que nos últimos cinco anos-calendário tenham conseguido a proeza de não ter se enquadrado em nenhuma das seguintes hipóteses em relação aos tributos administrados pela Secretaria da Receita Federal do Brasil: 1.lançamentos de ofício; 2.débitos com exigibilidade suspensa; 3.inscrição em dívida ativa; 4.recolhimentos ou pagamentos em atraso, exceto os espontâneos; e 5.falta ou atraso no cumprimento de obrigação acessória. Quando a empresa tiver obtido decisão definitiva favorável,na esfera administrativa ou judicial, as restrições 1o e 2o serão desconsideradas desde a origem. O Bônus corresponde a 1% da base de cálculo da CSLL no regime de apuração com base no lucro presumido, mesmo que a empresa esteja no lucro real. Esta decisão, apesar de complexa para entender, pode ser benéfica no caso de empresas com resultado baixo e faturamento elevado. Em caso de empresa nova, o Bônus somente será aplicado quando ela completar cinco anos dentro das regras exigidas pela RFB. O Bônus se aplica apenas em relação ao ano-calendário completo e somente poderá ser utilizado no final do período de apuração. Na hipótese de período de apuração trimestral, o bônus será calculado em relação aos quatro trimestres do ano-calendário e poderá ser deduzido da CSLL devida correspondente ao último trimestre. 20.7.3.1EXEMPLO NUMÉRICO DE UTILIZAÇÃO DO BÔNUS Suponha que a Cia. Tropical tenha optado pelo lucro real e atendido todos os requisitos exigidos pela Lei no 10.637/02. A empresa encerrou sua apuração no ano de 2015, com as seguintes contas de resultado: »Receita de Vendas 10.000 »Receitas Financeiras 300 »Despesas Diversas (Dedutíveis) 10.100 O cálculo do Bônus de Adimplência Fiscal da CSLL será o seguinte: Receita Bruta 10.000 % aplicado — 12% 1.200 (+) Demais Receitas 300 Base de Cálculo do Lucro Presumido 1.500 Valor do Bônus de Adimplência Fiscal – 1% 15 Portanto, o Bônus para a Cia. Tropical será de R$ 15. Veja como fica o cálculo da CSLL devida pela empresa, lembrando que sua opção de tributação foi o lucro real, não o presumido. Lucro Tributável R$ 200 Contribuição Social s/ Lucro – 9% R$ 18 (–) Bônus de Adimplência Fiscal R$ 15 CSLL Devida R$ 3 Para as empresas com resultado baixo, o bônus pode se tornar interessante. De qualquer forma, poucas empresas que estão no lucro real serão beneficiadas, devido ao não atendimento cumulativo das cinco exigências citadas anteriormente. As empresas que estiverem no lucro presumido e atenderem as exigências da Lei pagarão uma alíquota de 8%, em vez de 9%, exatamente por causa do Bônus. O legislador determinou ainda que o Bônus seja tratado contabilmente como ajuste, sendo registrado diretamente no patrimônio líquido, não transitando pelo resultado do exercício. Assim, no caso da Cia. Tropical, a despesa com CSLL em 2015 seria R$ 18. O Bônus seria registrado no ativo circulante (CSLL a recuperar) em contrapartida com lucros acumulados, no valor de R$ 15. No momento do pagamento, a conta contábil CSLL a Recuperar seria usada para pagar o passivo, saindo do caixa apenas R$ 3. Não há lógica nesse registro. O correto seria a despesa ser registrada pelo valor pago, já deduzido o bônus. 20.8FORMAS DE TRIBUTAÇÃO SOBRE O LUCRO O texto do art. 218 do Regulamento do Imposto de Renda (Decreto no 3.000/99) diz o seguinte: “O imposto de renda das pessoas jurídicas [...] será devido à medida que os rendimentos, ganhos e lucros forem sendo auferidos.” Isto significa que o imposto de renda das empresas poderia ser cobrado a cada operação, cada resultado auferido. Isso não representa, porém, que devemos tributá-lo diariamente, mas este normativo serve para determinar a exigência de antecipações mensais ou trimestrais de imposto de renda, independentemente da forma de tributação escolhida. Toda empresa legalmente constituída no Brasil pode ser enquadrada pela legislação tributária em cinco situações distintas, em relação à tributação sobre seu resultado: SIMPLES Nacional, lucro real, lucro presumido, lucro arbitrado e imune/isenta. O SIMPLES Nacional é exclusivo para empresas enquadradas como Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. As entidades imunes e isentas estão desobrigadas ao pagamento de IR e CSLL. Lucro arbitrado decorre, principalmente, da não validade da escrituração contábil ou da impossibilidade de se calcularem os tributos pelas vias normais. O lucro presumido é calculado considerando apenas as receitas das empresas, devendo ser utilizado principalmente nas empresas bastante lucrativas. Já o lucro real é a forma de tributação que tem como base o lucro contábil, sendo interessante para empresas com resultados mais equilibrados. Além do mais, no lucro presumido, o nível de exigência é menor, não havendo preocupação com tantos controles como ocorre no lucro real. A empresa que optar pelo lucro presumido pode, por exemplo, efetuar a escrituração do livro-caixa em substituição à escrituração contábil (apenas para fins fiscais). Evidentemente existem alguns impedimentos à opção pelo lucro presumido, referentes a casos específicos, que são estudados no capítulo próprio. O objetivo do Fisco foi facilitar ao máximo o cálculo dos tributos para empresas que não representem potencial de arrecadação tão elevado. A RFB entende que esta simplificação torna mais ágil a fiscalização e a cobrança dos tributos, além de não representar perda elevada de recursos financeiros. Entretanto, grande quantidade de empresas não pode calcular IR e CSLL com base no lucro presumido, notadamente por causa de receita bruta anual que ultrapassa o valor permitido (R$ 78 milhões). A forma mais comum de tributação encontrada nas médias e grandes empresas do país é o lucro real anual, com antecipação mensal pelo regime de estimativa. Para o leitor analisar a relevância de cada forma de tributação, importante trazer os números informados pela própria RFB, ainda que esses números sejam do exercício 2004, resumidos a seguir. DISTRIBUIÇÃO DAS FORMAS DE TRIBUTAÇÃO NA DIPJ 2003 FORMAS DE TRIBUTAÇÃO No EMPRESAS QTDE. % ARRECADAÇÃO % LUCRO REAL 178.723 6,0% 80,8% LUCRO PRESUMIDO 683.520 22,8% 9,1% SIMPLES – EMPR. PEQUENO PORTE 334.344 11,2% 3,9% SIMPLES – MICROEMPRESAS 1.646.383 55,0% 2,2% EMPRESAS IMUNES/ISENTAS 151.071 5,0% 4,0% TOTAL 2.994.041 100% 100% Fonte: Dados extraídos da página www.receita.fazenda.gov.br e organizados pelo autor. Veja que 6% das empresas brasileiras, tributadas pelo lucro real responderam por 81% da arrecadação, justificando os limites existentes na época. Talvez fosse importante uma atualização dos dados estatísticos por parte da RFB para análise do aumento nos limites do SIMPLES Nacional e do lucro presumido, atualmente em R$ 3,6 e 78 milhões, respectivamente. 20.9CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO A criação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), feita por meio da Lei no 7.689/88, foi consequência ainda da transferência de recursos determinada pela Constituição Federal, promulgada cerca de dois meses antes da publicação desta lei. http://www.receita.fazenda.gov.br/ Como aproximadamente metade da arrecadação do imposto de renda seria repassada automaticamente para estados e municípios, a criação de uma contribuição social cobrada sobre uma base similar ao imposto de renda poderia representar para a União a recuperação de parte dos recursos perdidos. E todo o processo foi amparado no art. 195 da Constituição, que permitia a criação de contribuições sociais incidentes sobre o lucro, com objetivo de financiar a seguridade social. Ao longo dos anos, muitos normativos alteraram a estrutura básica da CSLL. Para o leitor interessado em pesquisar a evolução histórica da CSLL, são informadas a seguir as principais leis e medidas provisórias sobre esta contribuição. Lei no 7.689/88 Lei no 9.249/95 Lei no 10.426/02 Lei no 11.053/06 Lei no 7.787/89 Lei no 9.316/96 Lei no 10.637/02 Lei no 11.196/05 Lei no 8.003/90 Lei no 9.430/96 Lei no 10.684/03 Lei no 11.307/06 Lei no 8.034/90 Lei no 9.532/97 Lei no 10.833/03 Lei no 11.452/07 Lei no 8.541/92 Lei no 9.718/98 Lei no 10.865/04 Lei no 11.727/08 Lei no 8.981/95 Lei no 9.779/99 Lei no 10.925/04 Lei no 11.774/08 Lei no 9.065/95 Lei no 9.959/00 Lei no 11.051/04 Lei no 12.973/14 MP no 2.158-35/01 MP no 2.159-70/01 20.9.1CONTRIBUINTES E FATO GERADOR A legislação diz que são contribuintes da CSLL todas as pessoas jurídicasdomiciliadas no país e as que lhes são equiparadas pela legislação do IR das pessoas jurídicas. O fato gerador da CSLL, definido no art. 195 da Constituição de 1988, é o lucro. 20.9.2CÁLCULO DA CSLL PELO LUCRO REAL O cálculo da CSLL é bem similar ao cálculo do imposto de renda, com pequenas diferenças. As terminologias legais são diferentes, conforme explicação na tabela a seguir: TERMINOLOGIAS DE IR E CSLL SITUAÇÃO IMPOSTO DE RENDA CONTRIBUIÇÃO SOCIAL LUCRO AJUSTADO POR ADIÇÕES/EXCLUSÕES Lucro Líquido Ajustado Base de Cálculo da CSLL Antes da Compensação de Bases Negativas PREJUÍZO APURADO Prejuízo Fiscal Base Negativa da CSLL LUCRO TRIBUTÁVEL Lucro Real Base de Cálculo da CSLL Portanto, todas as vezes que a lei determinava uma adição apenas para o lucro real, as empresas não a faziam na base da CSLL, por falta de previsão legal. Apesar de algumas decisões desfavoráveis, na maioria das situações, o contribuinte tinha razão. As principais mudanças ocorridas desde 1995 contemplaram também a base da CSLL, com o legislador citando textualmente que determinada despesa não seria dedutível para fins de lucro real e da base de cálculo da CSLL. Mas persistiam as situações em que empresas deduziam as despesas na base da CSLL pelo fato de não haver proibição explícita. Pois bem, a Instrução Normativa SRF no 390/04 resolveu arrumar a base da CSLL, determinando a adição de algumas despesas que as empresas não consideravam. Estas novas adições serão analisadas na sequência. 20.9.2.1TRIBUTOS CUJA EXIGIBILIDADE ESTEJA SUSPENSA A dedução como despesa de tributos está condicionada ao pagamento, mesmo que nos meses seguintes, do valor devido e registrado no resultado. Se o tributo estiver com sua exigibilidade suspensa, mesmo com depósito judicial, a despesa não poderá ser deduzida nas bases do IR e da CSLL. A proibição da dedução na base do IR é antiga, vindo desde a Lei no 8.541/92. Já a dedução na base da CSLL era permitida até a entrada em vigor da IN SRF 390/04 (art. 50), que provavelmente será questionada pelas empresas que se sentirem prejudicadas. 20.9.2.2MULTAS EM GERAL As multas fiscais de caráter punitivo não são dedutíveis na base da CSLL desde MAI/04, conforme determina o art. 56 da IN SRF no 390/04. Continuam dedutíveis aquelas multas por recolhimento espontâneo de impostos e contribuições em atraso e também as multas por atraso de obrigações acessórias (envio da DIPJ, por exemplo) que não representem pagamento de tributos com atraso. Além disso, o art. 57 determina a adição na base da CSLL das demais multas oriundas de transgressões a leis de natureza não tributária. São enquadradas as multas de trânsito, as multas ambientais, por uso irregular de calçadas etc. 20.9.2.3AMORTIZAÇÃO DE ÁGIO E DESÁGIO A legislação fiscal somente aceita a dedução da despesa com ágio e tributa a receita com deságio em duas situações: na venda da empresa investida ou sua sucessão por incorporação, fusão ou cisão. A Lei no 9.532/97 ditou as regras em função do fundamento econômico atribuído ao ágio/deságio. Mas determinava adição e exclusão apenas para o lucro real, não citando textualmente a contribuição social. A IN SRF no 390/04, a princípio, manteve as regras anteriores, permitindo a dedução da despesa com ágio na base da CSLL e tributando as receitas com amortização de deságio. A Lei no 12.973/14 estendeu os ajustes (adições e exclusões) provenientes de ágio ou deságio para a base da CSLL a partir de sua entrada em vigor, 2014 ou 2015, a critério de cada empresa. 20.9.2.4COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS FISCAIS (OU BASES NEGATIVAS) A CSLL tem o mesmo tratamento do IR, em relação ao processo de compensação de prejuízos de anos anteriores. Eles poderão ser compensados na base da CSLL, desde que limitados a 30% do lucro ajustado (por adições e exclusões) do período. 20.9.2.5COMPENSAÇÃO DE PREJUÍZOS NÃO OPERACIONAIS As regras definidas na Lei no 9.249/95 e esclarecidas na IN SRF no 11/96 permanecem valendo apenas para fins de imposto de renda, não se aplicando à contribuição social. Portanto, o resultado negativo na atividade não operacional terá o mesmo tratamento do resultado operacional na base da CSLL. A Lei no 12.973/14 fez pequenas modificações no modelo, mas deixou a CSLL de fora, mantendo a exigência apenas para a base do IR. 20.10A NOVA CONTABILIDADE E AS FORMAS DE TRIBUTAÇÃO SOBRE O LUCRO Não há mudança nas formas de tributação sobre o lucro com as alterações implantadas a partir de 2008, que modificaram substancialmente a contabilidade brasileira, aproximando-a da contabilidade internacional. A Lei no 11.941/09 criou o Regime Tributário de Transição, opcional em 2008 e 2009 e definitivo a partir de 2010, que representou uma TRAVA na legislação fiscal vigente em DEZ/07. O RTT deixou de existir, definitivamente, a partir de JAN/15. A Lei no 12.973/14 integrou novamente a legislação tributária com a legislação contábil-societária, mas sem modificar o modelo tradicional de tributação: lucro real, lucro presumido e lucro arbitrado. Se você, leitor, veio direto a este capítulo, recomendo ler a Parte 2 do Livro (Capítulos 4 a 9), que trata do Núcleo Contábil, trazendo os pontos mais relevantes que devem ser avaliados na contabilidade das empresas comerciais, industriais e de serviços e que devem ser integrados com a base dos tributos. Alegria! https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788597011883/epub/OEBPS/Text/chapter04.html https://jigsaw.vitalsource.com/books/9788597011883/epub/OEBPS/Text/chapter09.html
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