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Ana Palloma Rocha Fernandes Rodrigo Camloffski Gestão Financeira © Universidade Positivo 2018 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Thinkstock / © Shutterstock.com Presidente da Divisão de Ensino Reitor Pró-Reitor de Graduação Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Coordenação Geral de EAD Coordenação de Metodologia e Tecnologia Autoria Parecer Técnico Supervisão Editorial Projeto Gráfico e Capa Prof. Paulo Arns da Cunha Prof. José Pio Martins Prof. Carlos Longo Prof. Ronaldo Vinicius Casagrande Prof. Everton Renaud Profa. Roberta Galon Silva Profa. Ana Palloma Rocha Fernandes Prof. Rodrigo Camloffski Profa. Katharinny Bione Albuquerque Marinho Aline Scaliante Coelho Baggetti Regiane Rosa Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca da Universidade Positivo – Curitiba – PR DTCOM – DIRECT TO COMPANY S/A Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. 3Gestão Financeira Caro aluno, A metodologia da Universidade Positivo apresenta materiais e tecnologias apropriadas que permitem o desenvolvimento e a interação entre alunos, docentes e recursos didáticos e tem por objetivo a comunização bidirecional entre os atores educacionais. O seu livro, que faz parte dessa metodologia, está inserido em um percurso de aprendi- zagem que busca direcionar a construção de seu conhecimento por meio da leitura, da con- textualização teórica-prática e das atividades individuais e colaborativas; e fundamentado nos seguintes propósitos: COMPREENDA SEU LIVRO valorizar suas experiências; incentivar a construção e a reconstrução do conhecimento; estimular a pesquisa; oportunizar a reflexão teórica e aplicação consciente dos temas abordados. Metodologia Gestão Financeira4 COMPREENDA SEU LIVRO Com base nessa metodologia, o livro apresenta a seguinte estrutura: Percurso Pergunta norteadora Ao final do Contextualizando o cenário, consta uma pergunta que estimulará sua reflexão sobre o cenário apresentado, com foco no desenvolvimento da sua capacidade de análise crítica. Tópicos que serão estudados Descrição dos conteúdos que serão estudados no capítulo. Boxes São caixas em destaque que podem apresentar uma citação, indicações de leitura, de filme, apresentação de um contexto, dicas, curiosidades etc. Recapitulando É o fechamento do capítulo. Visa sinte- tizar o que foi abordado, reto mando os objetivos do capítulo, a pergunta nortea- dora e fornecendo um direcionamento sobre os questionamentos feitos no decorrer do conteúdo. Pausa para refletir São perguntas que o instigam a refletir sobre algum ponto estudado no capítulo. Contextualizando o cenário Contextualização do tema que será estudado no capítulo, como um cenário que o oriente a respeito do assunto, relacionando teoria e prática. Objetivos do capítulo Indicam o que se espera que você aprenda ao final do estudo do capítulo, baseados nas necessida- des de aprendizagem do seu curso. Proposta de atividade Sugestão de atividade para que você desenvolva sua autonomia e siste- matize o que aprendeu no capítulo. Referências bibliográficas São todas as fontes utilizadas no capítulo, incluindo as fontes mencio- nadas nos boxes, adequadas ao Projeto Pedagógico do curso. 5Gestão Financeira BOXES Assista Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações complementares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. Biografia Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. Contexto Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstram a situação histórica, social e cultural do assunto. Curiosidade Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. Dica Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. Exemplo Informação que retrata de forma obje tiva determinado assunto abordando a relação teoria-prática. Afirmação Citações e afirmativas pronunciadas por teóricos de relevância na área de estudo. Esclarecimento Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. 7Gestão Financeira SUMÁRIO Apresentação 13 A Autoria 14 CAPÍTULO 1 Fundamentos da administração financeira e ambiente financeiro brasileiro 17 Contextualizando o cenário 18 1.1. Administração financeira e sua relação com o ambiente de negócios 19 1.1.1. Fundamentos da administração financeira e sua evolução 19 1.1.2. A administração financeira e o objetivo da empresa 22 1.1.3. Sistema Financeiro Nacional (SFN) 24 1.2. Principais práticas da administração financeira 26 1.2.1. Responsabilidade e atribuições do administrador financeiro 26 1.2.2. Análise, planejamento e controle financeiro 27 1.2.3. Decisões de investimento 28 1.2.4. Decisões de financiamento 30 1.3. Visão geral de finanças 31 1.3.1. Planejamento financeiro de curto prazo 32 1.3.2. Planejamento financeiro de longo prazo 34 Proposta de Atividade 34 Recapitulando 35 Referências 36 CAPÍTULO 2 Introdução à administração financeira de curto prazo 39 Contextualizando o cenário 40 2.1. Fluxo de caixa: entradas e saídas de caixa 41 2.1.1. Regime de caixa e regime de competência 42 2.1.2. Incertezas do processo de previsão 43 2.1.3. Exemplos clássicos de entradas de caixa 46 2.1.4. Exemplos clássicos de saídas de caixa 47 2.2. O dilema liquidez e rentabilidade 47 2.2.1. Definição de liquidez 48 2.2.2. Abordagens de gestão da liquidez 51 Proposta de Atividade 52 Recapitulando 53 Referências 54 CAPÍTULO 3 Ciclos de atividade e a gestão financeira 57 Contextualizando o cenário 58 3.1. O ciclo operacional 59 3.1.1. Definição e importância do ciclo operacional na administração financeira 59 3.1.2. Cálculo do ciclo operacional 60 3.2. Fases do ciclo operacional 62 3.2.1. Prazo médio de estocagem 63 3.2.2. Prazo médio de produção 64 3.2.3. Prazo médio de venda 65 3.2.4. Prazo médio de cobrança 67 3.3. Ciclo econômico 68 3.3.1. Definição de ciclo econômico 68 3.3.2. Cálculo do ciclo econômico 69 3.4. Ciclo financeiro 71 3.4.1. Definição de ciclo financeiro 71 3.4.2. Cálculo do ciclo financeiro 71 Proposta de Atividade 75 Recapitulando 75 Referências 76 CAPÍTULO 4 Capital de giro e capital circulante líquido 77 Contextualizando o cenário 78 4.1. Capital de giro 79 4.1.1. Capital Circulante Líquido (CCL) 79 4.1.2. Administração do capital de giro 82 4.1.3. Necessidade de Investimento em Giro (NIG) 83 4.2. Gestão do fluxo de caixa e orçamento de caixa 86 4.2.1. Saldo mínimo de caixa 86 4.2.2. Orçamento de caixa 87 4.3. Gestão de estoques 89 4.3.1. Tipos de custos dos estoques e o dilema custo x geração de receita 90 4.3.2. Riscos inerentes aos estoques 91 4.3.3. Abordagens de gestão de estoques: Lote Econômico de Compras (LEC) e Curva ABC 91 4.4. Administração do contas a receber e gestão do risco de crédito 93 4.4.1. Risco de crédito 93 4.4.2. Política de crédito 95 4.4.3. Política de cobrança 95 4.4.4. Medidas financeiras das políticas de crédito e cobrança 96 Proposta de Atividade 97 Recapitulando 98 Referências 99 CAPÍTULO 5 Fundamentos da análise de investimentos 101 Contextualizando o cenário 102 5.1. Origens dos projetos de investimento 103 5.1.1. Definição de investimento em gestão financeira 103 5.1.2. A importânciados critérios econômicos na análise da viabilidade de investimentos 104 5.1.3. Classificação dos projetos de investimento de acordo com sua origem 106 5.2. Tipos de investimento 107 5.2.1. Investimentos economicamente independentes 107 5.2.2. Investimentos economicamente dependentes 108 5.2.3. Investimentos com restrição orçamentária 109 5.2.4. Investimentos mutuamente excludentes 110 5.3. Fluxo de caixa dos projetos de investimento 110 5.3.1. Incertezas e impacto na estimativa do fluxo de caixa 111 5.3.2. Mensuração do fluxo de caixa de investimentos 114 5.3.3. Valor do dinheiro no tempo 118 5.3.4. Taxa mínima de atratividade (TMA) 119 Proposta de Atividade 121 Recapitulando 121 Referências 122 CAPÍTULO 6 Métodos quantitativos de avaliação de investimentos 123 Contextualizando o cenário 124 6.1. Payback descontado 125 6.1.1. Definição de payback descontado 125 6.1.2. Cálculo do payback descontado 126 6.1.3. Análise da viabilidade segundo o payback descontado 130 6.2. Taxa interna de retorno (TIR) 131 6.2.1. Definição da taxa interna de retorno 131 6.2.2. Cálculo da taxa interna de retorno 131 6.2.3. Análise da viabilidade segundo a taxa interna de retorno 134 6.3. Valor presente líquido (VPL) 135 6.3.1. Definição do valor presente líquido 135 6.3.2. Cálculo do valor presente líquido 136 6.3.3. Análise da viabilidade segundo o valor presente líquido 138 6.4. Índice de Lucratividade (IL) 139 6.4.1. Definição do índice de lucratividade 139 6.4.2. Cálculo do índice de lucratividade 139 6.4.3. Análise da viabilidade segundo o índice de lucratividade 141 Proposta de Atividade 143 Recapitulando 144 Referências 145 CAPÍTULO 7 Decisões de Financiamento e Estrutura de Capital 147 Contextualizando o cenário 148 7.1. Fundamentos das decisões de financiamento 149 7.1.1. Modelo integrado de tomada de decisões de financiamentos e investimentos 149 7.1.2. Fontes de recursos no mercado financeiro e de capitais 150 7.2. Estrutura de capital 151 7.2.1. Definição da estrutura de capital 153 7.2.2. Risco financeiro e estrutura de capital – Teoria de Modigliani e Miller 156 7.2.3. Fontes de financiamento de longo prazo – recursos de terceiros (mercado de crédito e dívidas corporativas) 157 7.2.4. Fontes de financiamento de longo prazo – capital próprio 159 7.3. Custo Médio Ponderado de Capital (WACC) 159 7.3.1. Definição de custo de capital e sua importância na geração de valor para o acionista. 159 7.3.2. Custo do capital de terceiros (Ki) 160 7.3.3. Custo do capital próprio (Ke) usando a metodologia do CAPM 161 7.3.4. Cálculo e análise do WACC 163 Proposta de Atividade 165 Recapitulando 165 Referências 166 CAPÍTULO 8 Fontes de financiamento de curto prazo 167 Contextualizando o cenário 168 8.1. Gestão de disponibilidades e o spread bancário no Brasil 169 8.1.1. Gestão financeira e as captações de curto prazo no mercado de crédito 170 8.1.2. Composição do spread bancário no Brasil 173 8.2. Mercado de crédito 174 8.2.1. Antecipação de recebíveis 175 8.2.2. Conta Garantida, Crédito rotativo e Hotmoney 175 8.2.3. Capital de giro 177 Proposta de Atividade 179 Recapitulando 179 Referências 180 13Gestão Financeira Uma das principais áreas da administração, a gestão financeira é fundamental para o desenvolvimento sustentável de qualquer empreendimento, principalmente quando abor- damos mercados com ampla concorrência, que demandam alto volume de investimentos, mas, nem por isso, convivem com abundância de recursos. Assim, cabe ao gestor financeiro encontrar as melhores oportunidades para capta- ção de recursos, otimizando o custo de capital, implementando estratégias que propiciem uma gestão equilibrada do caixa, bem como avaliando e selecionando, dentre as alternati- vas de investimento, aquelas mais rentáveis, com o objetivo de maximizar o resultado dos proprietários ou dos acionistas. Desta forma, ao realizar a leitura do material, o aluno será inserido neste contexto, adquirindo as habilidades e competências necessárias para compreender e participar ati- vamente do processo de planejamento financeiro de uma organização. O gestor financeiro atua no que diz respeito à aplicação de métodos, técnicas e conceitos para a gestão das finanças de curto e longo prazo, administração do fluxo de caixa e do capital de giro, defini- ção da estrutura de capital, das fontes de financiamento do negócio e análise da viabilidade de projetos de investimento, questões essenciais para o profissional da área. Bons estudos! APRESENTAÇÃO Gestão Financeira14 A professora Ana Palloma Rocha Fernandes é Especialista em Gestão Administrativa e Financeira pela Universidade Cândido Mendes (UCAM) e Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/6556330440249544> A AUTORIA Dedico esta obra àquele que é a Palavra, em reconhecimento de que não existe nada que tenha sido feito sem Ele. Ofereço-a também a meus pais, em gratidão à formação crítica recebida para questionar realidades e propor sempre um novo mundo de possibilidades. 15Gestão Financeira O Professor Rodrigo Camloffski é Mestre em Administração Estratégica pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Especialista em Gestão e Liderança pela Estação Business School, Especialista em Finanças pela Faculdade de Administração e Economia do Paraná (FAE-PR), e Bacharel em Administração, com Habilitação em Comércio Exterior, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Currículo Lattes: <lattes.cnpq.br/2624207312846854> A AUTORIA A todos os profissionais que dedicam seu tempo compartilhando conhecimentos e acreditando que a educação realmente é o caminho para, quem sabe um dia, desfrutarmos de um mundo melhor. 17Gestão Financeira OBJETIVOS DO CAPÍTULO • Identificar as características do ambiente financeiro brasileiro e sua relação com o ambiente de negócios, definir os objetivos e principais práticas da administração financeira, identificar as principais responsabilidades do gestor financeiro. CAPÍTULO 1 Fundamentos da administração financeira e ambiente financeiro brasileiro Rodrigo Camloffski TÓPICOS DE ESTUDO 1 Administração financeira e sua relação com o ambiente de negócios 3 Visão geral de Finanças • Fundamentos da administração financeira e sua evolução. • A administração financeira e o obje- tivo da empresa. • Sistema Financeiro Nacional (SFN). • Planejamento financeiro de curto prazo. • Planejamento financeiro de longo prazo 2 Principais práticas da administração financeira • Responsabilidade e atribuições do administrador financeiro. • Análise, planejamento e controle financeiro. • Decisões de investimento. • Decisões de financiamento Gestão Financeira18 Contextualizando o cenário Definitivamente, a administração financeira de qualquer negócio não é tarefa para ama- dores. O ambiente financeiro tem se tornado mais complexo, com o desenvolvimento de novos mercados e instrumentos mais sofisticados.Ao mesmo tempo, surgem novas opções de financiamento e investimento, tornando o processode tomada de decisão mais dinâmico e fazendo com que o custo da decisão incorreta ou tardia seja ainda mais significativo. À medida que a disponibilidade e a velocidade da informaçãocontribuem para um novo perfil de consumidor, mais consciente, exigente e seguro, emerge também um mercado mais com- petitivo, onde a inovação já não é mais desejável, mas sim necessária. Neste contexto, é fundamental para o gestor financeiro entender como funcionam os merca- dos, avaliando, também, a influência das questões de conjuntura política e econômica. Diante desse cenário, questiona-se:como o gestor financeiro pode atuar de forma a miti- gar o risco do processo decisório e maximizar o resultado da empresa? 19Gestão Financeira 1.1. Administração financeira e sua relação com o ambiente de negócios Fundamental dentro das organizações, a administração financeira édiretamente responsável pela sustentabilidade da empresa. Sem uma gestão financeira eficaz, assume-se um grau de risco muito elevado no processo decisório, situação incompatível com o ambiente de negócios atual. A administração financeira trata das finanças das organizações e nada mais é do que a arte e a ciência da gestão do dinheiro (GITMAN, 2010). Ao avaliar esta definição, o aluno pode se questionar se, de fato, a administração das finanças realmente tem caráter cientí- fico ou é apenas uma mescla de competências e habilidades interpressoais. 1.1.1. Fundamentos da administração financeira e sua evolução Pois bem, o surgimento da administração científica ocorreu no início do século XX, na esteira da Revolução Industrial, com os estudos a respeito da Teoria da Administração, desenvolvidos pelo americano Frederick Winslow Taylor, que, por meio dos Princípios da Administração Científica, propunha a divisão do trabalho. Outro teórico que contribuiu para a Teoria Clássica da Administração foi o francês Henri Fayol, que abordou a estrutura organizacional. As propostas de Taylor foram fundamentais para o desenvolvimento dos processos de controle de qualidade enquanto Fayol foi o responsável por levar o estudo da Adminis- tração para a direção das empresas. Posteriormente, na década de 40, surgiram os trabalhos de Elton George Mayo, com a Teoria das Relações Humanas, opondo-se à Teoria Clássica e enfatizando a necessidade de humanizar a gestão. Em 1950, amparada na Teoria da Burocracia, desenvolvida pelo sociólogo alemão Max Weber, desenvolve-se a Teoria Estruturalista, que aborda as carac- terísticas do homem organizacional, pertencente a vários grupos e organizações. Final- mente, a partir de 1990, influenciada pela globalização, surge a era da informação, cujos estudos deram ênfase à produtividade, à qualidade e ao cliente. Portanto, as contribuições trazidas pelos trabalhos publicados por estes e outros estudiosos na história da administração, cercadas de embasamento teórico e metodoló- gico, propiciaram não só a ruptura de paradigmas, ou seja, modelos de gestão pré-conce- bidos, maso desenvolvimento e a validação de novas ideias, ferramentas e métricaspara acondução das atividades na organização. Gestão Financeira20 Tais teorias, alicerçadas em fatos e hipóteses que podem ser testadas e, inclusive, desconstruídas, constituem o que chamamos de teoria científica. Obviamente, conforme ressalta Chibeni (2006), as teorias mais bem fundamentadas e seguras devem abranger uma ampla área de fatos, pois, assim, maximiza-se a sua resistência a possíveis desconstru- ções das hipóteses levantadas. Para tanto, é fundamental a presença do método científico, por meio do emprego de normas e regras básicas como observações, realização de experiências e deduções que permitem obter resultados confiáveis para as investigações e estudos realizados. O certo é que a ciência está sempre em constante evolução e, desta forma, as teorias existentes podem ser superadas por novas teorias. Em suma, a administração financeira preenche todos os requisitos para se enquadrar como ciência. Entretanto, é importante ressaltar que qualquer área de atuação requer algumas características pessoais, as quais compõem o perfil dos seus profissionais. Para a área finan- ceira não é diferente, pois características como organização, disciplina e autocontrole são desejáveis e se fazem presentes em muitos profissionais de finanças. Via de regra, sem tais características, que moldam uma predisposição a atuar com gestão financeira, somente o conhecimento adquirido não é suficiente para que o profissional construa uma carreira de destaque. Ainda com base na definição dada, pode-se afirmar que o objeto de estudo das finanças é a gestão do dinheiro e, consequentemente, envolve suas transações, ou seja, os recebimentos, gastos, transferências e investimentos. Estas transações são realizadas pelos agentes do mercado financeiro, que podem ser os indivíduos, as empresas ou o governo. Em regra, os indivíduos (pessoas físicas), preocupados com o futuro, buscam for- mar uma reserva financeira e, portanto, aplicam seus recursos excedentes junto às insti- tuições financeiras. As empresas (pessoas jurídicas), por sua vez, demandam mais recursos do sistema financeiro, pois necessitam investir em seus negócios. O governo, entretanto, é o participante mais ativo do mercado, pois emite a moeda, bem como demanda e injeta recursos no mercado por meio da negociação de títulos públicos. Esclarecimento Utilizados para o financiamento da dívida pública, os títulos públicos são instru- mentos de renda fixa pelos quais o governo toma empréstimo e, em troca, paga, na data de vencimento, o valor investido acrescido de juros. 21Gestão Financeira Apesar da importância do mercado financeiro para os indivíduos e para as organiza- ções, o aluno pode ainda não ter se convencido sobre as razões que justificam o interesse pelo estudo das finanças. Desta forma, antes de avançarmos, convém responder a seguinte pergunta: por que estudar finanças? O estudo da gestão finanças propicia uma visão sistêmica do mundo dos negó- cios para quembusca oportunidades de carreira, já que os executivos financeiros continuam sendo extremamente valoriza- dos nas organizações. Este conhecimento também é essencial para avaliar cená- rios, mitigar o risco no processo decisório e empreender ou gerir negócios. As razões profissionais devem ser norteadoras para quem pretende aprofundar seus estudos, pois, de fato, quando se fala em administração financeira, estamos nos referindo à gestão empresarial, ou seja, a administração financeira é um conjunto de ações e proce- dimentos que abrangem a análise e o planejamento das atividades financeiras da empresa (COSTA et al., 2015). Conforme destacam Matias e Freitas (2012), a teoria de finanças voltou-se para os acontecimentos do dia a dia empresarial, para o fluxo de caixa e para os processos adminis- trativos financeiros internos. Também podemos destacar atividades referentes ao planeja- mento financeiro, à captação de fundos,à gestão do créditoe à análise dos demonstrativos contábeis. Aliás, os dados contábeis são os principais insumos para a análise e tomada de decisão por parte do gestor financeiro. Entretanto, nem sempre foi desta forma, pois a administração financeira evoluiu ao longo dos séculos, crises e guerras pelas quais passou a humanidade. A necessidade que as pessoas têm de se organizar para desenvolver suas atividades em prol da sobrevivên- cia vem desde a Idade Antiga, quando as finanças eram vistas de forma mais abrangente, como uma maneira de promover o bem estar social, sendo fortemente influenciadas pela visão da igreja e dos filósofos da época. Na idade moderna, estreitaram-se as relações entre finanças e economia, afinal de contas, a gestão financeira, realmente baseia-se em conceitos econômicos. Além disso, a gestão empresarial sofre a influência de questões conjunturais relacionadas à macroeco- nomia como a renda nacional, o nível de preços, volume de investimentos e desemprego. Posteriormente, com o desenvolvimento do comércio internacional, também começaram a surgir questões como a inflação. © D en ys D ol ni ko v / / D re am st im e. Gestão Financeira22 Esclarecimento A inflação diz respeito à desvalorização do poder aquisitivo ou poder de compra da moeda em função do aumento generalizado dos preços. A inflação oficial do país é men- surada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Hoje em dia, entretanto, com a evolução do mercado, o fortalecimento da governança corporativa e, cada vez mais, com a inovação tecnológica, o estudo das finanças ganha ainda muito mais importância e abrangência, pois o administrador tem a sua disposição uma maior diversidade de opções para captação e aplicação de recursos, sendo fundamen- tal estar atualizadoe atento às mudanças do mercado para não perder tais oportunidades. 1.1.2. A administração financeira e o objetivo da empresa A administração financeira abrange o planejamento, a execução, a análise e o con- trole das atividades financeiras da empresa, as quais envolvem a geração e a gestão dos recursos monetários. Uma gestão financeira eficaz resulta na maximização do valor da empresa e da riqueza do proprietário. Entretanto, para que isto seja possível, é preciso que o gestor financeiro atue de forma sistêmica, interagindo com profissionais de outras áreas. Uma visão tradicional considera como principais áreas funcionais de uma organização as áreas de finanças, marketing, recursos humanos e produção, as quais devem estar alinhadas em prol do planejamento estratégico traçado para a empresa. Consequentemente, o mesmo se pode dizer dos seus profissionais, pois não adianta o responsável pela área financeira, por exemplo, adotar uma postura mais severa com relação à gestão de custos se o profissional responsável pela área mercadológica ou comercial não envidar esforços na mesma direção. Nenhuma área, bem como nenhum profissional, é mais ou menos importante do que o outro, pois todos têm sua par- cela de responsabilidade no sucesso ou no fracasso da estratégia definida. O certo é que a comunicação e a interação entre as áreas são fundamentais para a obtenção do resultado e, nesta linha, a área financeira também pode contribuir com as demais. A área financeira pode, por exemplo, avaliar o impacto econômico-financeiro de even- tuais necessidades de contratação de colaboradores pela área de recursos humanos, da aquisição de novas máquinas pela produção e de otimizações no processo de compra ou © O lly y / / S hu tt er st oc k. 23Gestão Financeira dimensionamento do estoque pela gestão comercial. Entretanto, a estratégia a ser imple- mentada pela organização abrange outros aspectos além do econômico-financeiro. Já comentamos que a maximização do valor da empresa e da riqueza do proprietário é o objetivo perseguido pelo gestor financeiro. Entretanto, conforme Gitman (2010), é natu- ral que os gestores também se preocupem com a própria riqueza e a segurança no emprego e, assim, relutem em assumir riscos mais elevados, caso considerem que isto pode amea- çar seu emprego ou riqueza pessoal. Tais ações resultariam num retorno inferior ao máximo para os proprietários, gerando o que a literatura financeira denomina de dilema da agência. Este problema pode ser minimizado por meio das forças de mercado, ou seja, o receio da tomada de controle da empresa por outros agentes do mercado, e dos custos relacionados ao dilema da agência, que vinculam a remuneração do gestor à maximização do resultado do negócio. Estes fatores motivam a administração a agir de acordo com os objetivos da empresa. Mas qual o objetivo da empresa? Bem, sempre ouvimos que o objetivo da empresa é o lucro, uma resposta bem razoá- vel, pois sem um resultado econômico e, principalmente, financeiro positivo, não há per- petuação do negócio. Entretanto, é importante que tenhamos em mente que o lucro, por si só, há muito tempo, não é mais suficiente para o desenvolvimento ou a continuidade das organizações, pois o lucro pelo lucro não é sustentável. Quando temos consumidores mais bem informados e conscientes, uma sociedade cada vez mais atenta às questões sociais e ambientais euma mudança de comportamento da população, que passa a adotar uma postura mais fiscalizadora e crítica, é imperativo que as organizações respeitem todos os preceitos éticos, legais e morais, de forma que a obtenção do lucro não traga nenhum prejuízo futuro para a coletividade. Ou seja, pas- samos a falar de lucro sustentável, o que é essencial para que a organização cumpra seu papel social perante os agentes de mercado. Corrobora este pensamento o ex-presidente do Banco Bradesco, Marcio Cypriano, quando afirmaque“não émais admissível buscar o lucro a qualquer custo, pois é preciso res- peitar conceitos como sustentabilidade do planeta e ter preocupação com valores univer- sais” (TOMÉ, 2007, p. 34). Da mesma forma, Jeroen Van de Veer, ex-diretor executivo da Shell afirmou que “As empresas não têm de escolher entre lucros e princípios. O sucessoe- conômico de longo prazo depende de melhorias no nosso desempenho financeiro, ambien- tal e social” (TOMÉ, 2007, p. 35). Dessa forma, podemos afirmar que as empresas devem estar voltadas para a obten- ção do lucro sustentável, pois somente desta forma é possível pensar em perpetuidade do negócio, aliando o desenvolvimento econômico e financeiro a questões sociais, ambientais e morais,temas centrais para a nossa evolução como sociedade. Gestão Financeira24 1.1.3. Sistema Financeiro Nacional (SFN) A partir do momento que entendemos que a administração financeira envolve a gera- ção e gestão de recursos financeiros dentro de um ambiente organizacional, é importante explorar a estruturação do Sistema Financeiro Nacional, seus mercados e subsistemas,fun- damentais para que qualquer organização realize suas operações com a devida segurança. O Sistema Financeiro é essencial para o desenvolvimento econômico de umpaís. Ele consiste numconjunto de instituições que, por meio de diversos instrumentos, operacio- nalizam a transferência de recursos entre agentes superavitários e deficitários, ou seja, aqueles que têm recursos disponíveis e, por isto, pretendem remunerá-los, e aqueles que precisam destes recursos para financiar suas atividades. Percebe-se, portanto, que tais ins- tituições devem buscar a otimização da utilização dos recursos financeiros, alocando os recursos excedentes para fomentar investimentos, preferencialmente, embons projetos de investimento. O Sistema Financeiro Nacional é subdividido em quatro grandes mercados: • mercado monetário; • mercado de crédito; • mercado de capitais; • e mercado de câmbio. A regulação e a fiscalização dos mercados monetário, de créditoe de câmbio é atri- buição do Banco Central do Brasil (Bacen), que atua no sentido de regular a quantidade de moeda na economia, supervisionando as instituições financeiras de forma a garantir a esta- bilidade do mercado. Já o mercado de capitais, que abrange as operações de compra e venda de títu- los e valores mobiliários, é atribuição da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), respon- sável por promover o seu desenvolvimento e também pela sua fiscalização, controle e normatização. Dica A negociação dos títulos e valores mobiliários, no Brasil como as ações de com- panhias abertas, é realizada na Bolsa de Valores, aB3, resultado da fusão entre a BMF& BOVESPA e a CETIP, em 2017. A B3 é uma empresa de classe mundial, maior bolsa de valores da América Latina e a principal a operar no Brasil. 25Gestão Financeira Os órgãos e agentes responsáveis pela fiscalização e regulação do mercado com- põem o subsistema normativo do Sistema Financeiro Nacional. Além do Bacen e da CVM, também podemos citar a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), a Superinten- dência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC), o Banco Nacional do Desenvol- vimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Brasil, além do Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão máximo do Sistema Financeiro, responsável pela definição das dire- trizes da política monetária, creditícia e cambial no país. Já o subsistema de intermediação ou operativo é composto pelas instituições que, por meio das regras definidas no subsistema normativo de fato intermediam as operações financeiras. Aqui podemos citar, por exemplo, boa parte dos bancos, as cooperativas de crédito e as corretoras de valores mobiliários. Subsistema normativo Sistema Financeiro Nacional (SFN) Subsistema de intermediação Instituições auxiliares e intermediários �nanceiros Conselho monetário nacional (CMN) Banco central do Brasil (BACEN) Comissão de valores mobiliários (CVM)Banco do Brasil Banco nacional do desenvolvimento econômico e social (BNDES) Superintendência de seguros privados (SUSEP) Superintendência nacional de previdência complementar (PREVIC) © D TC O M Gestão Financeira26 Em resumo,o Sistema Financeiro Nacional para a economia brasileira é de extrema relevância, conforme afirmam Pinheiro e Saddi (2005, p. 264), “não há um país desenvol- vido sem um bom sistema financeiro”. Um sistema financeiro bem estruturado, com seus mercados desenvolvidos, é fundamental para o crescimento econômico, pois propicia maiores alternativas de financiamento às empresas e, consequentemente, maiores condi- ções para a viabilidade de investimentos no mercado produtivo, gerando emprego e renda. 1.2. Principais práticas da administração financeira Conforme já comentamos, a administração financeira tem por finalidade maximizar a riqueza do acionista/proprietário. Conforme Assaf Neto (2002), a empresa deverá propor- cionar aos seus donos o maior retorno possível sobre seus investimentos. Para que a atividade empresarial seja um negócio rentável e sustentável, é imprescin- dível a atuação do gestor financeiro no diaadia, com o controle do caixa e definições com relação à concessão de crédito, nível de financiamento e investimentos, por exemplo. O planejamento financeiro e, não menos importante, seu acompanhamento, são fundamen- tais para uma maior segurança na tomada de decisão. 1.2.1. Responsabilidade e atribuições do administrador financeiro A principal responsabilidade de qualquer administrador ou gestor envolve a tomada de decisão. Para o administrador financeiro não é diferente, pois sua rotina envolve deci- sões de investimento e financiamento para a empresa. Estão entre as suas funções: admi- nistração do capital de giro, definição de critérios de investimento de capital, avaliação financeira de projetos de investimento, controle dos indicadores de endividamento e ren- tabildiade, avaliação da necessidade, conveniência e opções de financiamento, avaliação da exposição do fluxo de caixa e análise de cenários. A administração do capital de giro é essencial para a sustentabilidade do negócio, pois envolve a gestão dos ativos circulantes, aqueles investimentos com maior liquidez, e, principalmente, do caixa da empresa. A empresa deve ter recursos à disposição para finan- ciar o seu ciclo produtivo, que consiste, no caso de uma indústria, por exemplo, no período de temponecessário para a fabricação e comercialização do produto. Estes recursos podem ser obtidos mediante financiamento próprio ou de terceiros, como dívida não onerosa (for- necedores) ou onerosa (bancos ou outros agentes de intermediação do sistema financeiro). 27Gestão Financeira Também é papel do administrador financeiro posicionar-se com relação às questões de investimento, avaliando e selecionando, com base em perspectivas e ferramentas dis- poníveis na literatura financeira, os melhores projetos para a empresa, do ponto de vista da viabilidade econômico-financeira. Se necessário, ele deve buscar recursos de terceiros para viabilizar tais projetos. Também cabe ao gestor financeiro supervisionar o percentual de endividamento empresarial, conforme a teoria da estrutura ótima de capital, avaliando, inclusive, a composição das dívidas de curto e longo prazo. Se a captação de recursos faz parte do cotidiano da empresa e é atividade inerente ao dia a dia do gestor financeiro, cabe a ele primar pela otimização do custo financeiro decor- rente deste endividamento, buscando alternativas que não acarretem despesas demasiadas para a organização. Para tanto, é fundamental conhecer todos os instrumentos disponíveis no mercado financeiro, avaliando seu impacto no fluxo de caixa, bem como simulando todos os cenários possíveis, considerando, para tanto, a conjuntura macroeconômica. 1.2.2. Análise, planejamento e controle financeiro De acordo com Gitman (2010), o planejamento financeiro é um dos aspectos mais importantes da empresa pois,por meio dele, é possível coordenar e controlar suas ações para atingir os objetivos propostos. Ou seja, o planejamento financeiro viabiliza o caminho para que as metas sejam alcançadas e é fundamental para a sustentabilidade da organização. O processo de planejamento financeiro deve estar alinhado com a estratégia definida, e a partir daí, deve ser desdobrado para todas as áreas. Todo processo de planejamento finan- ceiro deve englobar a gestão do caixa e dos orçamentos. Deve iniciar pela receita, ou seja, parte da projeção de vendas, para definir os investimentos necessários e a pre- visão de custeio, desdobrando os orçamen- tos para cada área. Aqui está mais um exemplo da relação entre a área financeira e a área comercial/marketing, pois para o cor- reto dimensionamento da receita, a previsão de vendas deve estar alicerçada na previsão de demanda, que só pode ser estimada levando-se em consideração aspectos mercadológi- cos.Além do planejamento, o processo de gestão também envolve a execução, controle e análise. De nada adianta um planejamento bem elaborado se a execução é falha. Por isto, o © A le xe y R oz ha no vs ky / / S hu tt er st oc k Gestão Financeira28 controle é fundamental, já que possibilita comparar oque foi planejado com os desempe- nhos reais, fornecendo dados para a realização de ajustes, de forma que o sistema se trans- forme e atinja a situação esperada (LUCION, 2005). Esta comparação entre o previsto e o reali- zado contribui para avaliar a situação financeira da empresa e, se for o caso, alterar o planeja- mento em função de imprevistos. Ela envolve a análise de dados do Balanço Patrimonial, que, de certa forma, é uma fotografia da situação finan- ceira e do fluxo de caixa, que evidencia a disponi- bilidade de recursos, permitindo ao gestor tomar decisões de financiamento e investimento. Pausa para refletir O Balanço Patrimonial (BP) e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) são dois dos instrumentos mais importantes para se avaliar a situação econômico-financeira da empresa. Pesquise um pouco mais sobre eles e responda às seguintes questões: Quais são e o que significam cada um dos grupos que compõem o Balanço Patrimonial?- Quais são as principais contas de resultado que integram o DRE e quais as suas diferenças? 1.2.3. Decisões de investimento Conforme já comentado, as empresas demandam muitos recursos financeiros em função da necessidade que têm de investir para manter e consolidar sua posição de mer- cado. Analisando-se o Balanço Patrimonial, a origem dos recursos financeiros, ou seja, o volume de financiamentos, concentra-se do lado direito, no passivo. Se proveniente de capital de terceiros, são contabilizados no passivo circulante (curto prazo) e não circulante (longo prazo). Se provém de capital próprio, por meio de aportes ou reinvestimento dos lucros dos proprietários, contabilizam-se no patrimônio líquido, que registra, justamente, o valor con- tábil pertencente aos proprietários ou acionistas. Os investimentos, por sua vez, são conta- bilizados no lado esquerdo do Balanço Patrimonial, o ativo. © P et er S ob ol ev / / S hu tt er st oc k. 29Gestão Financeira É importante ressaltar que o ativo deve apresentar o mesmo valor que o passivo mais o patrimônio líquido. De acordo com Gitman (2010), o balanço patrimonial é uma demons- tração financeira que iguala os ativos de uma empresa ao seu financiamento proveniente de capital próprio e/ou de terceiros. Composição do Balanço Patrimonial Ativo Passivo e patrimônio líquido Investimento (Aplicação dos recursos) Financiamento (origem dos recursos) Em regra, os investimentos concentram-se em atividades produtivas, realizadas com o objetivo de manutenção e ampliação do próprio negócio, pois presume-se que, no mínimo, devem ter um retorno superior às taxas correntes no mercado financeiro. Desta forma, não é comumempresas com elevadas somas disponíveis em aplicações financeiras, as quais, normalmente, são utilizadas como uma reserva de capital. Uma empresa pode aplicar seus recursos na atividade operacional, como a compra de máquinas, pagamento de fornecedores e compra de estoques; ou para fins financeiros, como as aplicações bancárias ou a distribuição do lucro aos proprietários. Assim, é necessário definir quais projetos rece- berão tais investimentos. Eles podem se concentrar no curto prazo, em estoques e contas a receber, por exemplo, ou no longo prazo, em máquinas, equipa- mentos ou, até mesmo, em outras empresas. E aí está a atuação do gestor financeiro, avaliando e selecio- nando tais projetos em função dos valores investidos, retornos esperados e dos objetivos e metas traçados, ou seja, tomando decisões de inves- timento.A aplicação dos métodos de avaliação de investimentos e mecanismos de análise pode constituir-se numa forma de decidir, identificando, quantificando e mitigando o risco bem como direcionando o gerenciamento do projeto paraquese atinja o desempenho dese- jado (FREZATTI et al., 2012). A ideia é enfatizar o olhar financeiro (financiamentos x investimentos), conforme explicitado acima. © iQ on ce pt / / S hu tt er st oc k Gestão Financeira30 Portanto, a tomada de decisões de investimento envolve questões como o diagnós- tico da situação financeira da empresa, a compreensão sobre o seu mercado de atuação, a definição de cenários, a projeção do caixa, a definição da taxa mínima de retorno aceitável, entre outras. Certamente, uma função que passa longe do trivial, exigindo preparação e conhecimento por parte do gestor. 1.2.4. Decisões de financiamento A tomada de decisão com relação às opções de investimento envolve outras variáveis que não somente as financeiras, pois é necessário avaliar aspectos mercadológicos, sociais, ambientais e legais, por exemplo. As decisões de financiamento, entretanto, estão sob a responsabilidade direta do administrador financeiro, pois dizem respeito à definição das fontes de recursos a serem utilizadas para que a empresa viabilize seus projetos de investi- mento, ou seja, a estrutura de capital a compor o passivo do balanço patrimonial. Esclarecimento Estrutura de capital diz respeito à composição das fontes de financiamento empresariais, ou seja, refere-se à proporção entre capital próprio e capital de terceiros (dívi- das) presentes no passivo do Balanço Patrimonial. O financiamento das atividades empresariais pode ser obtido por meio de capital de terceiros (credores) ou capital próprio (proprietários e/ou acionistas). O percentual de capi- tal de terceiros e de capital próprio utilizado para financiar o negócio define a estrutura de capital presente no balanço patrimonial, a qual é influenciada, dentre outros fatores, pelo ciclo de vida da empresa. Normalmente, empresas em fase de crescimento, com pouco tempo de mercado, recorrem mais frequentemente ao capital próprio, pois não têm acesso tão facilitado ao crédito, já que possuem um patrimônio menor para ofertar comogarantia e ainda não têm uma reciprocidade bancária consolidada.As empresas que já atingiram sua maturidade, ao contrário, utilizam mais recursos de terceiros (financiamento bancário), aumentando seu índice de endividamento. Desta forma, podem distribuir uma parcela maior dos lucros aos seus proprietários e/ou acionistas. A esta parcela do lucro que é distribuída aos proprietá- rios chamamos dividendos. 31Gestão Financeira Esclarecimento É importante diferenciar o conceito de dividendose distribuição de lucros do conceito de pró-labore. O pró-labore refere-se à remuneração paga ao administrador da empresa, muitas vezes seu proprietário, em função da atividade exercida por ele, ou seja, é equivalente ao salário. Na composição do balanço patrimonial, os passivossão ordenados em ordem decres- cente deexigibilidade, ou seja, no passivo circulante estão alocados os recursos que serão ressarcidos aos credores no curto prazo, normalmente em um ano, como o crédito conce- dido pelos fornecedores, por exemplo.Aqui também se enquadram as contas rotineiras da empresa, como salários e impostos a pagar, também chamadas de passivos de funciona- mento. O passivo não circulante envolve as dívidas de longo prazo e o patrimônio líquido, o capital próprio, que, em sua essência de disponibilidade de recursos, trata-se de recurso de longo prazo. Teoricamente, “as contas de curto prazo devem financiar os ativos de curto prazo, e as contas de longo prazo devem financiar os ativos de longo prazo”(CAMLOFFSKI, 2014, p. 7). Desta forma, as decisões de investimento e financiamento estão sendo tomadas de forma adequada e a empresa está em equilíbrio. Por outro lado, caso os recursos de curto prazo sejam utilizados para financiar os investimentos de longo prazo, a empresa terá pro- blemas financeiros, pois não terá retorno dos seus investimentos (ativos) a tempo de hon- rar as dívidas contraídas (passivos circulantes). 1.3. Visão geral de finanças Já vimos que o planejamento financeiro é fundamental para o desenvolvimento e a manutenção de qualquer negócio, entretanto, é preciso diferenciar o planejamento de longo prazo, alinhado com a estratégia empresarial, e o de curto prazo, que envolve ações mais operacionais. Conforme Gitman (2010), as empresas traçam seus planos financeiros de forma a direcionar suas ações e atingir seus objetivos imediatos (curto prazo) e de longo prazo. O planejamento financeiro inicia traçando as estratégias de longo prazo, de acordo com a visão e missão empresarial, para depois desdobrá-las em questões operacionais ou de curto prazo, ou seja, relacionadas ao dia a dia empresarial. Gestão Financeira32 1.3.1. Planejamento financeiro de curto prazo Podemos entender como questões de curto prazo aquelas relacionadas à operação da empresa, que envolvem as contas integrantes do ativo e passivo circulante do balanço patrimonial. O objetivo do gestor financeiro é equilibrar a relação risco x retorno nas suas decisões de financiamento e investimento de curto prazo. Principais contas integrantes do circulante Ativo Passivo Circulante Caixa e equivalentes de caixa Bancos – conta movimento Aplicações financeiras Créditos a curto prazo Clientes (–) Ajustes para perdas em créditos Estoques Adiantamentos concedidos Outros créditos a receber Circulante Obrigações trabalhistas Fornecedores e contas a pagar Obrigações fiscais Empréstimos e financiamentos Demais obrigações As decisões de curto prazo envolvem a administração do caixa, com a previsão de vendas e orçamentos para o custeio da atividade, a gestão do estoque, com a definição do volume e periodicidade dos pedidos de compras, a gestão das contas a receber, com políticas de análise e concessão de créditoe, claro, a administração das fontes de recurso dispostas no passivo circulante.A gestão do caixa, por exemplo, diz respeito às disponibi- lidades, ou seja, à administração dos recursos existentes nas contas bancárias e aplicações financeiras de liquidez imediata.O gestor financeiro utiliza como instrumento a projeção do fluxo de caixa, com o objetivo de identificar, antecipadamente, eventuais necessidades de recursos, bem como para programar aplicações de sobras de caixa futuras. Estas atividades englobam as funções de tesouraria. 33Gestão Financeira Instrumentos do planejamento financeiro de curto prazo Orçamentos Orçamentos de vendas Orçamentos de custos Orçamentos de despesas operacionais Plano geral de operações Orçamentos de caixa Demonstrativo de resultado do exercício projetado Balanço patrimonial projetado Fonte: TEIXEIRA; PEREIRA, 2001, p. 44. Além do orçamento de caixa, também são instrumentos da gestão financeira de curto prazo a projeção do balanço patrimonial e da demonstração do resultado do exer- cício, que apura o resultado das receitas e despesasdoperíodo projetado. De acordo com Teixeira e Pereira (2001, p. 44), “o acompanhamento dos diversos itens de receitas, cus- tos e despesas, ao longo do período projetado, permite um controle sobre a situação da empresa de modo a tomar medidas corretivas em tempo hábil”. A administração e a aná- lise destes dados contábeis, de forma a subsidiar a tomada de decisão do gestor, faz parte da função de controladoria. Pausa para refletir A demonstração do resultado do exercício evidencia a formação do resultado (lucro/prejuízo) em um determinado período, de acordo com o princípio contábil do regime de competência. Pesquise sobre o assunto e responda: qual a diferença entre o regime de caixa e o regime de competência? © D TC O M Gestão Financeira34 1.3.2. Planejamento financeiro de longo prazo Por meio do planejamento financeiro de longo prazo, são definidas as ações e metas para atingir os objetivos estratégicos relacionados aos investimentos em expansão, aumento da participação de mercado, diversificação do modelo de negócio e reavaliação da estrutura de capital, por exemplo. “O planejamento financeiro a longo prazo auxilia a ordenar as alternativas, priorizar objetivos e dar uma direção à empresa” (LUCION, 2005, p. 150). Pode-se entender longo prazo como o período superior a um ano, mas este prazo pode variar de acordo com a empresa e o modelo de negócio, pois, muitas vezes, o próprio ciclo produtivo pode superar este período, caso da produção de aeronaves e navios, por exemplo. O certo é que o planejamento de longo prazo abrange um alto grau de incerteza e, portanto, deve ser subsidiado e constantemente reavaliado à medida que as projeções de curto prazo se realizam. Proposta de Atividade Reforce seu aprendizado com o exercício sugerido a seguir. A atividade não é avaliativa, mas é uma boa oportunidade para testar seus conhecimentos e fixar o conteúdo estudado no capítulo. Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu nesse capítulo. Elabore uma sín- tese destacando as principais ideias abordadas ao longo do capítulo. Ao produzir a síntese, considere as leituras básicas e complementares realizadas. Procure evidenciar os instrumentos que o gestor financeiro utiliza para executar suas fun- ções e de que forma estas atividades podem contribuir para mitigar o risco do processo deci- sório empresarial. 35Gestão Financeira Recapitulando Ao longo do capítulo compreendemos que o ambiente financeiro possibilita a trans- ferência de recursos entre os agentes superavitários e deficitários, contribuindo para o desenvolvimento econômico. Neste ambiente estão inseridas as empresas que, natural- mente, demandam mais recursos do que ofertam, em função da necessidade constante de realizar investimentos para que possam se manter no mercado. É no ambiente organizacional que se insere a administração financeira que,por meio do planejamento, execução, análise e controle das atividades financeiras, busca maximizar o resultado da empresa e, consequentemente, a riqueza do acionista, de forma a atingir o lucro sustentável. Entre as funções do gestor financeiro estão a administração do capital de giro, o controle dos indicadores de endividamento e rentabilidade, a análise da viabili- dade econômico-financeira de projetos de investimento e o desenvolvimento de cenários, atividades que contribuem para mitigar o grau de risco no processo decisório empresarial. Gestão Financeira36 Referências ASSAF NETO, A. Estrutura e Análise de Balanços: um enfoque econômico-financeiro. São Paulo: Atlas, 2002. BMF&BOVESPA. Disponível em: <www.bmfbovespa.com.br/pt_br>. Acesso em 14/01/2018. CAMLOFFSKI, R. Análise de Investimentos e Viabilidade Financeira das Empresas. 1 ed. São Paulo: Atlas, 2014. CHIBENI, S. S. Algumas observações sobre o método científico. Departamento de Filosofia, IFCH, Unicamp, Brasil. Dez. 2006 Disponível em: <www.unicamp.br/~chibeni/ textosdidaticos/metodocientifico.pdf>. Acesso em 10/03/2018. COSTA, R. A. T. et al. Administração Financeira: Importância e Evoluções. 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Conselho Nacional de Defesa Ambiental. S. l.:Imprensa da Fé, 2007. http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto.%20Acesso%20em%2014/01/2018 http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto.%20Acesso%20em%2014/01/2018 39Gestão Financeira OBJETIVOS DO CAPÍTULO • Compreender as técnicas e perspectivas da gestão financeira de curto prazo, obje- tivando maximizar a riqueza dos acionistas. CAPÍTULO 2 Introdução à administração financeira de curto prazo Ana Palloma Rocha Fernandes Rodrigo Camloffski TÓPICOS DE ESTUDO 1 Fluxo de caixa − entradas e saídas de caixa. 2 O dilema liquidez e rentabilidade. • Regime de caixa e regime de competência. • Incertezas do processo de previsão. • Exemplos clássicos de entradas de caixa. • Exemplos clássicos de saídas de caixa. • Definição de liquidez. • Abordagens de gestão da liquidez. Gestão Financeira40 Contextualizando o cenário A gestão do caixa é questão essencial para a administração financeira de curto prazo. Mui- tas organizações, por exemplo, apresentam dificuldades em se manterem competitivas no mercado por não disporem de recursos financeiros suficientes para atendimento de suas necessidades operacionais em casos de inadimplência dos clientes, falta ou insuficiência de estoques ou, ainda, em contextos de aumento atípico da demanda. Por outro lado, saldos disponíveis elevados, embora aumentem a liquidez, representam cus- tos de manutenção de fundos inativos ou aplicações em curto prazo, cujas taxas são bas- tante reduzidas. Logo, em regra, quanto maior a liquidez, menor é a rentabilidade esperada da empresa. Diante desse cenário, questiona-se: é possível uma organização maximizar sua liquidez e rentabilidade ao mesmo tempo? Esta questão será respondida ao final do capítulo. 41Gestão Financeira 2.1. Fluxo de caixa: entradas e saídas de caixa O fluxo de caixa é uma ferramenta de suporteaos gestores que exprime a real situa- ção financeira das empresas, evidenciando as entradas e saídas de recursos em intervalos específicos de tempo. Permite a simplificação do entendimento das diversas movimenta- ções financeiras, possibilitando a otimização do controle financeiro e, consequentemente, dos processos de tomada de decisão financeira. Sua utilização traz uma série de vantagens, como: programação do recebimento das vendas, controle dos gastos, acompanhamento do saldo de caixa, identificação de necessidades de ajustes no preço de venda, entre outras. As contas de movimento e as aplicações financeiras mantidas em instituições financeiras, as quais evidenciam o saldo disponível em caixa das organizações, estão inseridas no ativo circu- lante do Balanço Patrimonial, já que, em regra, constituem recursos que possuem liquidez ime- diata. Tais recursos, em regra, são utilizados para investimento na operação de curto prazo, como em estoques, por exemplo, para o financiamento do capital de giro. Por isso, de acordo com Git- man (2004), em detrimento do lucro o fluxo de caixa deve ser a principal preocupação dos administradores financeiros. O lucro não indica a efetiva capacidade de pagamento e liquidez da empresa, uma vez que se constitui em uma medida econômica de geração de riqueza do negócio em determinado período e não necessariamente o saldo disponível em caixa. Então, cabe aos gestores assegurar que sua empresa tenha recursos suficientes em caixa principalmente para evitar interrupções nos seus processos por questões como falta de estoque, impossibilidade de pagamento de for- necedores e colaboradores, penalidades de autoridades fiscais, entre outras, que podem incorrer em custos financeiros elevados e perda de participação de mercado. E qual é o nível razoável de caixa a ser mantido pelas organizações? Para responder a essa pergunta, os gestores financeiros devem levar em consideração que não há sincronia perfeita entre os pagamentos e recebimentos; que há risco do negócio e, portanto, neces- sidade de provisão de recursos para fazer frente a fatores alheios à gestão; e que há even- tuais oportunidades de negócio, que somente podem ser realizadas com a utilização de recursos financeiros excedentes e disponíveis. Essa visão deve ser prospectiva, pois o obje- tivo é indicar como será o saldo de caixa para o período projetado, de forma que a empresa mantenha sua liquidez, anteveja eventuais necessidades de financiamento e invista possí- veis excedentes com maior segurança e rentabilidade. © V ad im E rm ak / / S hu tt er st oc k. Gestão Financeira42 Assim sendo, na sequência, detalharemos o processo de elaboração do fluxo de caixa, conceituando os regimes de caixa e de competência, apontando as incertezas que permeiam o processo de previsão e exemplificando as entradas e saídas de caixa. Por fim, apresentaremos uma definição de liquidez a partir de uma perspectiva holística. 2.1.1. Regime de caixa e regime de competência Todas as entradas e saídas de recursos devem ser registradas. Como já explicado nos tópicos anteriores, o registro desses fluxos é uma informação relevante que confere maior assertividade aos processos de planejamento financeiro, impactando positivamente o desempenho institucional. Se o registro das receitas e despesas ocorrer no período em que forem geradas, independente do seu recebimento ou pagamento, tem-se um regime de competên- cia, metodologia amparada por um princípio contábil, sendo obrigatória na elaboração de demonstrativos contábeis, como o Balanço Patrimonial, que demonstra o conjunto de bens, direitos e obrigações em determinada data-base e a Demonstração do Resultado do Exercício (DRE), para a apuração do lucro ou prejuízo da entidade em determinado período. De outro modo, se a organização considerar as receitas e despesas no período em que forem recebidas ou desembolsadas, tem-se o regime de caixa, que é uma metodolo- gia de gestão, ou seja, não exigida de acordo com as normas contábeis. Contudo, Gitman (2004), defende que o regime de caixa propicia ao administrador maior agilidade e melho- rias visíveis no processo de tomada de decisões. Suponhamos que uma empresa de roupas comprou R$ 10.000,00 em mercadorias no mês de janeiro, realizando pagamento a prazo em quatro parcelas de R$ 2.500,00. A 1.ª vencerá em 30 dias, a 2.ª, em 60 dias, a 3.ª, em 90 dias e a 4.ª, em 120 dias. Pela ótica do regime de competência, na contabilidade, o valor de R$ 10.000,00 deve ser integralmente contabilizado no mês de janeiro como estoque, contra um aumento de R$ 10.000,00 no contas a pagar. Já pela perspectiva do regime de caixa, nenhuma despesa deve ser contabilizada no exercício relativo a janeiro, pois o registro contábil é feito somente no momento em que as despesas forem efetivamente pagas, ou seja, serão lança- dos quatro desembolsos mensais de R$ 2.500,00 a partir de fevereiro. Concluindo, pelo regime de caixa o fluxo de caixa é afetado apenas quando do efetivo evento de desembolso. Já de acordo com o regime de competência, o Balanço Patrimonial é afetado pela natureza econômica da transação. 43Gestão Financeira Demonstração do regime de caixa JAN FEV MAR ABR MAI R$ 2,5 mil R$ 2,5 mil R$ 2,5 milR$ 2,5 mil Regime de caixa Pausa para refletir Um comerciante adquiriu em março mercadorias no valor de R$ 65.000,00 e as vendeu, no mesmo mês, por R$ 100.000,00, recebendo metade do valor no ato e a outra metade em 30 dias. Qual o saldo de caixa e qual o lucro registrado no período? Qual a razão das diferenças encontradas? Assim, a principal diferença entre o regime de caixa e de competência é que, no pri- meiro, considera-se a data efetiva da saída ou entrada de caixa, enquanto no segundo, a data da compra ou da venda. 2.1.2. Incertezas do processo de previsão Conforme já comentamos, o fluxo de caixa deve ter uma visão prospectiva, por- tanto, “[...] é um instrumento de gestão financeira que projeta para períodos futuros todas as entradas e as saídas de recursos financeiros da empresa, indicando como será o saldo de caixa para o período projetado” (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS, 2011, p. 1). Nesse sentido, as entradas de caixa dependem da previsão de vendas, definição de preço e participação de mercado, e os desembolsos, do planejamento da produção, das compras de matérias-primas, dos investimentos e dos demais gastos. Essas estimativas são passíveis de imprecisão, pois nem todas as variáveis capazes de afetar as entradas e as saídas de caixa podem ser controladas pelos gestores. Assim, são permeadas por incertezas, por exemplo, os possíveis impactos que a organização pode sofrer em função de variações no comportamento das variáveis macroeconômicas, como taxa de juros, taxa de inflação, taxa de câmbio, Produto Interno Bruto (PIB) e afins. © D TC O M Gestão Financeira44 Curiosidade Semanalmente, o Banco Central do Brasil (BRASIL, [20--]) divulga boletins contendo expectativas de mercado a respeito dos indicadores da economia brasileira, con- templando projeções para diversos índices, como taxa de câmbio, taxa Selic, dívida líquida, PIB e outros. Imaginemos que a taxa básica de juros da economia brasileira foi reduzida logo, espe- ra-se que o custo dos financiamentos diminua e que as empresas tenham mais facilidade em financiar bens e capital. Entretanto, a redução no custo do dinheiro pode induzir um aumento generalizado no consumo de todos os agentes econômicos. Todavia, se a oferta de bens e de serviços permanecer constante, para que haja novamente um equilíbrio entre oferta e demanda no mercado, os preços deverão subir de modo generalizado, gerando um cenário de inflação, ou seja, há desvalorização do poder de compra da moeda. Conforme Álvares (2001), a inflação é uma incerteza definitiva, pois está histori- camente presente nos países desenvolvidosdesde a Segunda Guerra Mundial. Assim, influencia diretamente os cenários defini- dos para a projeção das receitas do negócio. Cavalcante, Pasin e Martelanc (2005), aler- tam que, desconsiderar os efeitos da infla- ção, pode levar a avaliações inconsistentes de empresas, aprovações e rejeições infundadas de projetos de investimento e erros de gestão no dia a dia das organizações. Assista Assista ao documentário Laboratório Brasil (STEFANELLI, 2008), disponível na internet, que aborda os acontecimentos econômicos dos anos 1980, quando o Brasil bateu recordes de inflação, e as medidas que resultaram na adoção do Plano Cruzado, em 1986. Em suma, como as projeções de fluxo de caixa estão suscetíveis à influência de variá- veis alheias ao controle dos gestores financeiros, como o comportamento dos consumido- res, concorrentes e cenário macroeconômico, é fundamental a análise da sensibilidade do © D ou bl et re e St ud io / / S hu tt er st oc k. . 45Gestão Financeira fluxo de caixa da empresa a essas variáveis e o acompanhamento e a investigação dos des- vios entre o projetado e o realizado, procedendo ajustes na projeção sempre que o gestor julgar necessário. É importante lembrar que incerteza se refere ao fato de os investidores/gestores ainda não conhecerem o impacto de suas decisões, pois envolvem variáveis, cuja probabi- lidade de ocorrência não foram ou não podem ser medidas. Risco, por sua vez, é quando não somente se conhecem as variáveis envolvidas e, também, as probabilidades de sua ocorrência. Portanto, em um processo de gestão bem estruturado, a utilização de proje- ções financeiras possibilita aos investidores/gestores abandonarem a incerteza e passarem a correr riscos. Ainda assim, há algumas formas de mitigar o risco na tomada de decisão, mesmo envolvendo análises prospectivas, como é o caso do fluxo de caixa projetado. Álvares (2001, p. 34), por exemplo, aborda a técnica de análise de sensibilidade, reproduzindo os resultados da projeção de caixa com base na variação de alguns parâmetros, como a pró- pria inflação. Segundo o autor,“[...] como a previsão da inflação futura está sempre sujeita à forte incerteza, é conveniente a realização de análises de sensibilidade à variação das taxas inflacionárias”. Isto consiste, sinteticamente, em analisar as variações provocadas no orçamento pela manipulação de variáveis-chave, como inflação, taxa de juros ou nível de crescimento econômico, que podem resultar, por exemplo, em redução da receita ou aumento dos custos projetados. Schmeider, Marques e Eyerkaufer (2014), sugerem outros dois métodos. A análise de cenário se constitui na especulação dos possíveis cenários nos quais a empresa pode atuar em função de prováveis alterações nas variáveis supracitadas. Por fim, o método de Monte Carlo é uma metodologia estatística que permite simu- lar processos sujeitos a fatores aleatórios. Em outras palavras, ele possibilita a realização de diversos testes, os quais são repetidos um número suficientemente grande de vezes, de forma que os seus resultados indiquem a probabilidade de que venham a ocorrer de fato. Dica Para saber mais sobre os métodos para mitigação dos riscos supracitados, leia o artigo “Métodos para reduzir incertezas na elaboração do orçamento de caixa” publicado pela Revista Eletrônica do Alto Vale do Itajaí. Gestão Financeira46 Possibilidades de cenários Realista (%)Cenários Otimista (%) Pessimista (%) Conforme exposto, é possível, com a utilização de metodologia adequada, mitigar os riscos previstos no orçamento, “[...] sendo o fluxo de caixa uma relevante ferramenta de auxílio nos processos de tomada de decisões” (SCHMEIDER; MARQUES; EYERKRAUFER, 2014, p. 4). Assim, cabe aos administradores aprimorar o processo de planejamento financeiro, entendendo que o fluxo de caixa é um instrumento fundamental para a gestão, dimensio- nando a capacidade de pagamento, melhorando o controle sobre as decisões de investi- mento e financiamento e contribuindo para o aumento do lucro do negócio. 2.1.3. Exemplos clássicos de entradas de caixa Os fluxos relativos às entradas de caixa são aqueles que concernem às receitas obtidas por meio da produção e venda dos produtos e de serviços da organização e às receitas finan- ceiras obtidas pela aplicação do excedente de caixa ou por meio atividades não operacionais. As receitas operacionais são oriundas das atividades correntes da empresa, geradas nas vendas à vista ou a prazo, ou seja, relacionadas aos produtos e aos serviços ligados à ativi- dade operacional. As receitas financeiras, por sua vez, são obtidas com juros ou recebimento de dividendos, que dizem respeito ao retorno proporcionado pelo investimento em aplica- ções financeiras dos excedentes de caixa organizacionais, normalmente, no curto prazo. Por fim, as receitas não operacionais são aquelas extraordinárias, não advindas da atividade organizacional principal. Como exemplo, temos a renda proveniente de aluguéis (para empresas cuja atividade principal não seja a administração de imóveis), os recursos obtidos com a alienação ou venda de ativo imobilizado. Por exemplo, quando uma mon- tadora de veículos vende uma máquina considerada obsoleta pelo departamento de enge- nharia da produção está gerando uma receita não operacional, pois sua atividade principal não é a venda de máquinas, mas de carros) © D TC O M 47Gestão Financeira 2.1.4. Exemplos clássicos de saídas de caixa Os principais fluxos de saída de caixa são decorrentes das atividades correntes da empresa, bem como de suas operações de investimento e de financiamento. Os desembolsos correntes exprimem as despesas necessárias para a manutenção da atividade da empresa e da sua operação, como compras de matérias-primas, pagamento de salários, despesas com vendas, etc. Os fluxos de investimento, geral- mente, referem-se à compra de ativos imobilizados, como máquinas, móveis e imóveis, enquanto os desembolsos de financiamento são relativos a contratação de empréstimo com terceiros, recompra de ações ou pagamento de dividendos. O fluxo de caixa operacional, por defi- nição, deve ser suficiente para controlar os investimentos da empresa, de modo que haja recursos excedentes no fluxo financeiro, indi- cando aplicações financeiras ou distribuição dos lucros aos proprietários. Caso contrário, se a operação não produz recursos suficientes para bancar os investimentos, há necessidade de financiamento ou aporte de recursos no fluxo de caixa financeiro. 2.2. O dilema liquidez e rentabilidade Cabe ao gestor financeiro buscar equilibrar a relação entre liquidez e rentabili- dade, mas esta decisão depende do perfil de tolerância ao risco de cada empresa. Se uma empresa optar por elevar sua liquidez, por exemplo, a fim de aumentara segurança asso- ciada ao atendimento de suas necessidades operacionais, precisará manter certo volume de recursos sob a forma de disponibilidades, denominados também de “volume mantido em caixa ou “disponibilidades de caixa) (numerários, contas correntes e aplicações financei- ras mantidas em instituições financeiras). De acordo com Camloffski (2014, p. 4), “o termo liquidez significa dinheiro na mão”. Para uma organização, a manutenção da liquidez está diretamente relacionada ao volume de recursos mantidos em caixa, todavia, a sua preservação afeta a rentabilidade, já que os recursos inativos (mantidos na forma de disponibilidades sem a devida finalidade) ou apli- cados em curto prazo proporcionam taxas de retorno menores em relação aos recursos aplicados no longo prazo. © p at hd oc / / S hu tt er st oc k. . Gestão Financeira48 Por outro lado, Gitman (2004), alerta que as empresas normalmente se tornam ina- dimplentes por não preservarem montantes adequados para suas necessidades de giro, logo, suas operações diárias transcorrem em um ambiente de relativa insegurança.Por- tanto,“o administrador financeiro deve levar em conta a liquidez e a rentabilidade da empresa, o que é difícil dada à convergência entre esses dois aspectos” (FAGUNDES, 2016, p. 24). É de responsabilidade dos gestores financeiros harmonizar essa relação, que é crítica para a continuidade dos negócios e o atendimento dos objetivos organizacionais de acordo com o perfil de tolerância ao risco da empresa. 2.2.1. Definição de liquidez Conforme já comentamos, liquidez significa dinheiro na mão. Nesta linha, Van Horne (2002), define liquidez como o tempo necessário para converter um ativo em dinheiro. Zago e Mello (2015), classificam-na em: liquidez geral, liquidez corrente, liquidez seca e liquidez imediata, que são os quatro índices frequentemente utilizados para medir a saúde financeira das organizações, isto é, sua capacidade de saldar seus compromissos, refle- tindo sua capacidade de pagamento. Tais indicadores origina-se na análise do Balanço Patrimonial, de forma a avaliar se os ativos empresariais são suficientes para fazer frente às obri- gações ou financiamentos, contabilizados no passivo. No balanço patrimonial, os ativos são classificados em ordem decrescente de liquidez e os passivos em ordem decrescente de exigibilidade. Os ativos e pas- sivos circulantes dizem respeito aos direitos e às obri- gações que têm liquidez dentro do período corrente ou exercício social (geralmente dentro de um ano) ao contrário dos não-circulantes, que se referem a recei- tas e a despesas de períodos futuros.© D zi an is _R ak hu ba / / S hu tt er st oc k. . 49Gestão Financeira Exemplos de contas integrantes do Balanço Patrimonial ATIVO PASSIVO Circulante Circulante Caixa e equivalentes de caixa Bancos – conta movimento Aplicações financeiras Créditos realizáveis até 12 meses Clientes (–) Ajustes para perdas em créditos Estoques Adiantamentos concedidos Outros créditos a receber Obrigações trabalhistas Fornecedores e contas a pagar Obrigações fiscais Empréstimos e financiamentos Demais obrigações Não Circulante Não Circulante Realizável a longo prazo Créditos realizáveis acima de 12 meses Investimentos Imobilizado Imóveis e terrenos Máquinas e equipamentos Veículos Móveis e utensílios Intangíveis Obrigações acima de 12 meses Patrimônio Líquido Capital social Reservas de capital Ajuste de avaliação patrimonial Reservas de lucro Prejuízos acumulados Conforme Camloffski (2014), parece claro que, quanto maior o volume do ativo em relação ao passivo, melhor a situação financeira da empresa. O índice de liquidez geral mensura essa relação, ou seja, tem como objetivo verificar se os ativos circulantes e não- -circulantes (excluindo-se as contas investimentos, imobilizado e intangível), são suficien- tes para honrar as obrigações constantes no passivo circulante e não-circulante. Em outras palavras, quanto há de ativo circulante e realizável em longo prazo para cada unidade monetária de obrigações totais. O patrimônio líquido não é incluso, porque diz respeito aos recursos investidos pelos sócios ou proprietários. Gestão Financeira50 Dica No subgrupo investimentos do Ativo Não-Circulante são contabilizados as partici- pações societárias permanentes em outras empresas e os direitos de qualquer natureza que não se classifiquem no ativo circulante e não se destinem à manutenção da atividade empresarial. Liquidez geral = (Ativo circulante + Realizável a longo prazo) (Passivo circulante + Passivo não-circulante) Por sua vez, a liquidez corrente envolve somente os ativos e passivos circulantes, pois é um indicador da capacidade da organização em liquidar seus compromissos no curto prazo com ati- vos de mesma maturidade. Isto é, o quanto a empresa possui de ativo circulante para cada unidade monetária de passivo circulante. Liquidez corrente = Ativo circulante Passivo circulante A liquidez seca, por sua vez, aumenta a margem de segurança para o resultado encontrado, na medida em que não considera os estoques na sua formulação. Os estoques são os ativos de curto prazo (circulantes) com menor liquidez, visto que ainda precisam ser vendidos para, posteriormente, serem convertidos em disponibilida- des de caixa. Assim, a utilização do índice de liquidez seca é indicada para empresas que têm processos produtivos complexos ou produtos que permanecem em estoque por longos períodos. Esse índice também pode ser empregado em momentos de crise econômica ou retração de mercado, nos quais há uma maior dificuldade para realizar as vendas. Liquidez seca = (Ativo circulante – Estoque) Passivo circulante Por fim, o índice de liquidez imediata, objetiva verificar a capacidade de pagamento no curto prazo, considerando apenas as disponibilidades de caixa (CAMLOFFSKI, 2014). É um indicador bastante conservador, pois verifica se a empresa tem condições de honrar suas obrigações de curto prazo apenas com os recursos existentes em numerários, contas correntes e aplicações financeiras. Ao contrário dos demais, em regra, tal indicador tem um resultado inferior a 1,00, indicando que não há disponibilidade de caixa em volume sufi- ciente para quitar todo o endividamento de curto prazo. 51Gestão Financeira Essa conclusão é natural, pois, como comentamos anteriormente, as disponibilida- des apresentam taxas de rendimento baixas frente às alternativas de investimento no pró- prio negócio (investimentos em ativos não-circulantes, como máquinas, equipamentos, pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, entre outros). Assim, do ponto de vista financeiro, uma empresa não deve manter altos valores em disponibilidades no mercado financeiro, pois, desse modo, está aceitando retornos inferiores aos que poderia obter no mercado produtivo. Em outras palavras, a empresa existe justamente porque espera-se que de sua operação seu proprietário obtenha maior rentabilidade do que se aplicasse seus recursos no mercado financeiro) Liquidez imediata = Disponibilidade Passivo circulante Pausa para refletir A análise de índices financeiros compreende indicadores de liquidez, os quais foram aborda- dos aqui. Com base no que foi comentado, responda às seguintes questões:é possível esta- belecer uma relação entre liquidez, endividamento e rentabilidade empresariais? São direta ou inversamente proporcionais? Os índices apresentados prestam informações relevantes sobre os recursos que as empresas dispõem para atendimento de suas necessidades operacionais. Por isso, éimpres- cindível conhecê-los para a avaliação da capacidade organizacional de saldar os compro- missos e se manter estrategicamente no mercado. 2.2.2. Abordagens de gestão da liquidez Anteriormente, propusemos uma reflexão sobre a possibilidade de uma organização maximizar sua liquidez e sua rentabilidade simultaneamente. Trata-se de um grande desa- fio para os gestores, visto que as empresas devem possuir recursos acessíveis em volume suficiente para que tenham condições de honrar os compromissos assumidos e, ao mesmo tempo, buscar investir recursos em alternativas que maximizem o retorno dos proprietários. Diante dessa questão, Pimentel (2008), examinou a relação entre rentabilidade e liquidez em um grupo de empresas comerciais e industriais, classificadas entre as maiores empresas atuantes no Brasil, no período de 2000 a 2005. Os resultados sugerem a presença de correlação e associação positiva entre liquidez e rentabilidade no curto prazo. Ou seja, as empresas que apresentavam alta liquidez tinham também elevada rentabilidade, pois foi Gestão Financeira52 diagnosticado que uma perfeita gestão dos recursos de giro da empresa poderia gerar ren- tabilidade elevada, mesmo mantendo grande nível de solvência, quer dizer, capacidade de pagamento. Ainda segundo o autor, a se julgar por esse resultado, as empresas não teriam um dilema entre liquidez e rentabilidade, mas, sim um objeto de gerenciamento. Entretanto, é preciso
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