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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI Engenharia Química Laboratório de Engenharia Química I Determinação granulométrica de partículas de biscoito via peneiramento Danyelle Barbosa Berutto¹, Josianne Karla Silva², Kassia Regina Felix Faria³, Raphael Patrick Rodrigues Araújo Santos4. Resumo A análise granulométrica de partículas sólidas compreende a determinação do tamanho de suas partículas e a frequência com que ocorrem em uma determinada classe ou faixa de tamanho. A escolha do método de análise baseia-se nas faixas de tamanho das partículas presentes. Ao analisar o diâmetro dessas partículas é possível definir qual o modelo de distribuição granulométrica melhor se ajusta a uma determinada amostra. O método utilizado foi o peneiramento. Assim realizou-se a moagem de um biscoito doce tipo Cream Cracker em um moinho de bolas durante 15 minutos, depois colocou material moído em peneiras em ordem decrescente de abertura de malha. Estas foram agitadas em uma mesa vibratória durante 10 minutos. Posteriormente pesou-se as peneiras e obteve-se a quantidade de material retido em cada uma. Calculou-se o diâmetro médio de Sauter que foi de 3,24 mm e os coeficientes de correlação para cada modelo de distribuição granulométrica, concluindo que o modelo mais adequado foi o GGS, pois seu valor de R² foi o maior (0,9652). O tempo de moagem bem como o número de bolas utilizados no moinho estão diretamente relacionados à eficiência da moagem, pois como utilizou-se uma quantidade pequena de bolas o biscoito não foi bem moído. Palavras-chave: Peneiras, Granulométrica, Moinho de bolas. Introdução As partículas sedimentares em geral possuem uma grande heterogeneidade de diâmetros. Ao analisar esses diâmetros é possível deduzir características importantes sobre o material, bem como sua proveniência, seu transporte e sua deposição. De acordo com a ABNT, granulometria, graduação ou composição granulométrica de um agregado é a distribuição percentual dos seus diversos tamanhos de grãos, levando em consideração a quantidade de material, em massa, retido nas peneiras da série normal. A análise granulométrica consiste na determinação das dimensões das partículas que constituem as amostras e no tratamento estatístico dessa informação. Com essa análise é possível obter uma curva de composição granulométrica, o módulo de finura e a dimensão máxima do agregado para então chegar ao modelo de distribuição do tamanho de partículas que mais se ajusta à amostra avaliada. O método mais conhecido de análise granulométrica é o de peneiramento. Esse processo consiste em uma série de peneiras padrão formando uma pilha, colocando a de abertura de malha menor no fundo e a de abertura de malha maior na parte superior. Sob a bandeja do fundo é inserida uma bandeja “cega”. A análise tem início colocando a amostra na peneira superior, adaptando-se uma tampa à pilha e acionando-se a agitação mecânica durante um tempo definido. Após a agitação, se retiram as partículas retidas em cada peneira e prossegue-se fazendo a pesagem de cada peneira, convertendo as massas em frações ou porcentagem da massa total da amostra. As partículas que passam pela peneira mais fina são recolhidas no coletor existente no fundo da pilha de peneiras. Experimental O experimento foi conduzido no Laboratório de Engenharia Química da Universidade Federal de São João Del-Rei, Campus Alto Paraopeba. Processo de Moagem O material utilizado na moagem foi biscoito salgado do tipo Cream Cracker. Uma determinada quantidade de biscoito foi colocada em um moinho de bolas juntamente com 140 bolas, foi programado um tempo de 15 minutos e colocado o moinho no suporte dando início ao processo de moagem. A Figura 1 mostra o esquema de montagem do equipamento. Laboratório de Engenharia Química I –2º semestre/2016 2 Figura 1. Moinho de Bolas Ao terminar a moagem, foram retiradas todas as bolas, estas foram escovadas para desprender os grãos que ficaram aderidos em sua superfície para assim evitar grande perda de material. Determinação granulométrica Para determinação granulométrica do material foram utilizadas peneiras de diferentes diâmetros. Todas as peneiras foram pesadas e colocadas uma sobre a outra, sendo que no fundo foi colocada uma bandeja “cega” e as demais peneiras em ordem crescente de malha de baixo para cima. A amostra foi colocada na peneira superior do conjunto, foi tampada e colocada no vibrador durante 10 minutos. A figura 2 mostra o esquema de um jogo de peneiras em um vibrador semelhante ao utilizado no laboratório. Figura 2. Conjunto de peneira e vibrador Fonte: Bertel Industria Metalúrgica LTDA Terminado o período de agitação, foram retiradas as peneiras uma a uma, e pesadas novamente para posterior comparação de massa e determinação da quantidade de material retido. Os valores obtidos das pesagens e seus dados analíticos estão dispostos na tabela 1. Resultados e Discussão A partir dos resultados obtidos no experimento foi possível verificar que a maior parte do material moído ficou na primeira peneira, isso ocorreu porque as partículas estavam grandes, ou seja, a quantidade de bolas utilizadas (140 bolas) não permitiu uma maior redução do tamanho da amostra. Todos os dados analíticos medidos no experimento estão expressos na Tabela 1, cuja o intervalo de abertura é de 6,30 mm e 0mm (Fundo Cego). Tabela 1. Dados das massas das peneiras obtidos durante a execução do experimento. Número da Peneira Malha da Peneira (mm) Mesh Massa da Peneira( Kg) Massa Total (Kg) 1 +6,3 - 0,474 0,586 2 -6,3 +3,36 6,00 0,394 0,400 3 -3,36 +1,68 12,00 0,410 0,414 4 -1,68 +0,5 32,00 0,346 0,352 5 -0,5 +0.3 48,00 0,404 0,406 6 -0,3 +0,25 60,00 0,346 0,354 Fundo -0,25 +fundo - 0,336 0,336 Através dos dados exibidos na tabela acima, foi possível determinar a massa retida em cada intervalo de malha e consequentemente, a fração de retido e passante, bem como as percentagens destes, construindo assim a Tabela 2. Tabela 2. Massa retida em cada malha, fração e porcentagem de retida e passante. Número da Peneira Massa Retida do Sólido (Kg) Fração da Massa Retida xi (100%) Percentual de massa que atravessa a peneira Xi (100%) 1 0,112 81,15942 18,841 2 0,006 4,347286 14,493 3 0,004 2,898551 11,594 Laboratório de Engenharia Química I –2º semestre/2016 3 Continuação da Tabela 2. Número da Peneira Massa Retida do Sólido (Kg) Fração da Massa Retida xi (100%) Percentual de massa que atravessa a peneira Xi (100%) 4 0,006 4,347826 7,246 5 0,002 1,449275 5,797 6 0,008 5,797101 0,000 Fundo 0,000 0 0,000 Total 0,138 100,000 - Através dos dados exibidos na tabela acima, foi possível construir um histograma da distribuição dos sólidos utilizando a massa retida em kg versus o diâmetro em mm das peneiras. Figura 3. Histograma das frações retidas em cada malha. Analisando o gráfico fica evidente que a maior parte das partículas ficou retida na primeira peneira. As soluções plausíveis para o problema relatado seria um jogo de peneiras com maiores aberturas. Caso isso não seja possível, se recomenda a adequação de alguns parâmetros do processo: o aumento do tempo de moagem e/ou da quantidade das bolas do moinho, ocasionando maior impacto sobre as partículas. Utilizando a fração em porcentagem dos sólidos passante foi possível construir um gráfico de distribuição acumulativa que pode ser visto na figura abaixo: Figura 4. Gráfico da porcentagem de sólidos passante versus o diâmetro da peneira. A composição do material utilizado também influenciou significativamente nos resultados.O biscoito Cream Craker possui 14,6% m/m gorduras totais. Esta alta porcentagem de gordura e a umidade passada da mão do operador para o biscoito além de dificultar o processo de fragmentação, ocasiona uma aglomeração do particulado, criando grãos com maior diâmetro. Para a continuidade da análise granulométrica faz-se necessário definir as dimensões dos grãos. Para isto, se calculou o tamanho médio das partículas e o diâmetro médio de Salter. Para o cálculo do diâmetro médio utilizou-se a equação 1. TM = [ B*(a-c) + C*(b-d) + D*(c-e) + E*(d-f) + F*(e-g) + 100*f ]* 0,005 (1) Sendo; TM = tamanho médio das partículas a,b...,l,m = abertura das malhas A,B..,L,M = percentagens acumuladas As porcentagens acumuladas estão listadas na Tabela 2 bem como as aberturas das malhas. Como demonstrado no Memorial Cálculo encontrou-se TM = 4,089mm. Para o cálculo do diâmetro de Sauter utilizou-se a equação 2. 𝑑𝑝𝑠 = 1 Ʃ( 𝑋𝑖 𝑑𝑖 ) (2) Sendo; di = média aritmética da abertura das malhas de duas peneiras consecutivas 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 Só lid o s P as sa n n te s (% ) Diâmetro D (mm) 0,000 0,020 0,040 0,060 0,080 0,100 0,120 Só lid o r e ti d o ( kg ) Diâmetro D (mm) Laboratório de Engenharia Química I –2º semestre/2016 4 Xi = (massa total – Ʃ das massas retidas até a peneira i) /(massa total). Como demonstrado no Memorial Cálculo encontrou-se dps = 3,24mm. Entretanto, o valor do diâmetro de Sauter não é confiável, pois 81,15942 % m/m tem diâmetro médio de 6,3mm. Também é necessário aplicar os modelos de distribuição GGS, RRB e Sigmoide. Modelos de distribuição granulométrica Qualquer que seja a distribuição granulométrica. Torna-se possível descrevê-la por modelos matemáticos na forma X=X(D). Existem, classificamente, três modelos: o de Gates, Gaudin e Schumann (GGS), o de Rosin, Rmmler e Bennet (RRB), e o modelo que estabelece a função X = X(D) no formato log-normal. Posteriormente, podemos determinar o modelo matemático que melhor descreve o comportamento da distribuição granulométrica do biscoito Cream Cracker. Entretanto, para obter essa relação é necessário linearizar as equações que descrevem cada modelo. A metodologia empregada para isso está exposta no Memorial de Cálculo. Através da linerização da equação do modelo GGS, e dos valores disponíveis na Tabela 3 foi possível plotar o gráfico da Figura 3 e assim, obter as constantes m (frequência de passantes e coeficiente angular) e K (diâmetro máximo da amostra e -m log K). Tabela 3. Dados empregados no gráfico do modelo de distribuição granulométrica GGS linearizado. Número da Peneira Di (mm) Log Xi Log Di 1 6,30 -0,72489 0,7993 2 4,83 -0,83884 0,6838 3 2,520 -0,9358 0,4014 4 1,09 -1,1399 0,0374 5 0,4 -1,2368 -0,3979 6 0,275 - -0,5607 Fundo 0 - 0 Figura 5. Representação gráfica do modelo de distribuição granulométrica GGS linearizado. O modelo GGS (Gates-Gaudin-Schumann) é descrito pela equação 3. X = ( 𝐷𝑖 𝐾 ) 𝑚 (3) Este modelo pode ser linearizado, ficando na forma da equação 4. log 𝑥 = 𝑚 ∗ [log 𝐷𝑖 − log 𝐾] (4) Sendo X a fração de passantes, Di o diâmetro médio das partículas e m e K os dados obtidos a partir da linearização do modelo. De acordo com a equação obtida, a frequência de passante (m) e diâmetro máximo da amostra (K) correspondem a 2,2826 e 2,5309, respectivamente como pode ser observado na Memória de Cálculo. O próximo modelo analisado será o RRB, que pode ser descrito pela equação 5. 𝑋 = 1 – exp ∗ [−(D / D’)𝑛] (5) Tabela 4. Dados empregados no gráfico do modelo de distribuição granulométrica RRB linearizado. Número da Peneira Di (mm) Log Xi Log Di 1 6,30 -0,72489 0,7993 2 4,83 -0,83884 0,6838 3 2,520 -0,9358 0,4014 4 1,09 -1,1399 0,0374 y = 2,2826x + 2,5309 R² = 0,9652 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 -1,5 -1 -0,5 0 Log ( Di ) Log ( X ) Laboratório de Engenharia Química I –2º semestre/2016 5 Continuação da Tabela 4 Número da Peneira Di (mm) Log Xi Log Di 5 0,4 -1,2368 -0,3979 6 0,275 - -0,5607 Fundo 0 - 0 Figura 6. Representação gráfica do modelo de distribuição granulométrica RRB linearizado. Este modelo pode ser linearizado, ficando na forma da equação 6. n ∗ [ln D– ln D’] = ln ∗ [ln (1 ⁄ (1 − 𝑋)) ] (6) Sendo X a fração de passantes e n e D’ são dados obtidos a partir da linearização do modelo. Para calcular os valores n e D’ fez-se os seguintes cálculos: Y = 2,0269x + 5,008 Coeficiente angular (n) = 2,0269 Coeficiente linear (c) = - n (ln D’) Então: (–c / n) = ln D’ D’ = e(-c / n) D’ = 3,1415 Por fim, estudou-se o modelo de distribuição granulométrica Sigmóide. Tabela 5. Dados empregados no gráfico do modelo de distribuição granulométrica Sigmóide linearizado. Número da Peneira Di (mm) Log ( X/( 1 - X)) Log Di 1 6,30 -0,6343 0,7993 2 4,83 -0,7708 0,6838 3 2,520 -0,8823 0,4014 4 1,09 -1,1072 0,0374 5 0,4 -1,2109 -0,3979 6 0,275 - -0,5607 Fundo 0 - 0 O modelo Sigmóide é descrito pela equação 7. 𝑋 = 1 / 1 + (D50 / D) 𝑝 (7) Este modelo pode ser linearizado, ficando na forma da equação 8. log (X / (1 − X)) = P ∗ (log D – log D50) (8) Sendo X a fração de passantes e p e D50 são dados obtidos a partir da linearização do modelo. Figura 7. Representação gráfica do modelo de distribuição granulométrica Sigmóide linearizado. Para calcular os valores P e D50 fez-se os seguintes cálculos: Y = 2,02667x + 2,1716 Coeficiente angular (P) = 2,02667 y = 2,0269x + 5,0008 R² = 0,9597 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 -3 -2 -1 0 Ln ( Di ) ln ( ln ( X/ ( 1 -X)) y = 2,0267x + 2,1716 R² = 0,9598 -0,6 -0,4 -0,2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 -1,5 -1 -0,5 0 Log ( Di ) log (X ( 1 - X )) Laboratório de Engenharia Química I –2º semestre/2016 6 Coeficiente linear (c) = - P*(log D50) Então: (- c / P) = log D50 D50 = 10(-c/P) D50 = 2,71 A partir dos gráficos obtidos para cada um dos modelos de distribuição granulométrica, foi possível fazer a comparação entre eles através do coeficiente de correlação (R²). Por isso, se elaborou a Tabela 6, onde são comparados os coeficiente de correlação, R2, da linearização de cada modelo de distribuição granulométrica. Tabela 6. Comparação dos coeficientes de correlação da linearização de cada modelo de distribuição granulométrica. Modelo de distribuição granulométrica Coeficiente de correlação (R²) GGS 0,9652 RRB 0,9597 Sigmóide 0,9598 Verifica-se que, para o modelo GGS, o coeficiente de correlação para a reta é 0,9652, enquanto que para os modelos RRB e Sigmoide o R² é 0,9597 e 0,9598, nesse ordenamento. Portanto, conclui-se que o valor de R² para o modelo GGS se aproxima mais da unidade do que os demais modelos, portanto este modelo ajustou melhor os dados e melhor descreve a distribuição granulométrica entre os modelos avaliados. Era esperado que o coeficiente de correlação R² dos três experimentos se aproximasse mais da unidade. Isto se deu ao fato de aproximadamente 90% da massa de biscoito ficou retida na mesma peneira (primeira peneira), prejudicando assim a sua posterior distribuição. Talvez se substituísse o conjunto de peneiras aplicado nesse ensaio por outro com tamanhos de abertura maiores, de forma que possibilitassem uma distribuição mássica homogênea entre as malhas, o resultado da análise pudesse ser melhor representado pelos modelos estudados.Conclusões Através do estudo realizado podemos concluir, que os parâmetros brevemente escolhidos (tempo 15 min e 140 bolas no moinho) não foram suficientes para quebrar a maior parte da massa de biscoito o que resultou em um acúmulo de massa na peneira com maior abertura. Outro fator que contribuiu para a distribuição irregular da massa foi a alta porcentagem de gordura e a umidade passada da mão do operador para o biscoito, pois estes além de dificultarem o processo de fragmentação, ocasiona uma aglomeração do particulado, criando grãos com maior diâmetro. Os modelos estudados, GGS, RRB e Sigmoide não apresentaram coeficiente de correção muito próximo da unidade. Isto se deu ao fato de que aproximadamente 90% da massa de biscoito ficou retida na mesma peneira, prejudicando assim a sua posterior distribuição. Entretanto, é possível que ademais modelos presentes na literatura possam relacionar melhor o diâmetro médio das partículas à percentagem de passante. Finalmente, recomenda-se substituir o conjunto de peneiras aplicado nesse ensaio por outro com tamanhos de abertura maiores, de forma que possibilitassem uma distribuição mássica homogênea entre as malhas. Outra alternativa seria o aumento do tempo de moagem e/ou a quantidade de bolas do moinho, ocasionando maior impacto sobre as partículas. Referências Bibliográficas 1. GOMIDE, R. Operações Unitárias: separações mecânicas. Vol. 3. São Paulo: Edição do autor, 1980. 2. CREMASCO, Marco Aurélio. Operações unitárias em sistemas particulados e fluidomecânicos. São Paulo: Blucher, 2012. 3. Peneiramento. Disponivel em:< http://www.ufjf.br/baccan/files/2012/11/Cap-5- Peneiramento.pdf> Acesso em setembro 2016. 4. Granulometria. Disponível em: <https://docente.ifrn.edu.br/marciovarela/disciplinas /materiais-de-construcao/granulometria- 1/granulometria> acesso em outubro 2016.
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