Buscar

Fundamentos históricos, teóricos e metodológicos do serviço social I SERVIÇO SOCIAL E A PERSPECTIVA CRÍTICO DIALÉTICA

Prévia do material em texto

- -1
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS 
E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL I
SERVIÇO SOCIAL E A PERSPECTIVA 
CRÍTICO DIALÉTICA
- -2
Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:
1. Analisar o materialismo histórico e dialético proposto por Karl Marx;
2. constitutivos da teoria social de Marx;
3. analisar as contribuições da teoria marxista para o Serviço Social.
O ideal marxista tem sua origem na Europa ocidental, na primeira metade do século XIX. Nesta década, consolida-
se a sociedade burguesa, em um contexto de profundas alterações na maneira de explorar a natureza e produzir
bens – revolução industrial- com uma radical transformação no controle dos sistemas de poder- a revolução
burguesa, sob múltiplas formas.
A economia e a sociedade são organizadas de modo particular, submetidas ambas a uma lógica específica - a da
valorização do capital, configurando-se, assim, um novo padrão de vida social, centralizado na civilização urbano-
industrial.
Em 1848, ocorrem as revoltas operárias, que são reprimidas pela burguesia. O movimento dos trabalhadores
urbanos, que se iniciou no final do século XVIII, avança por várias etapas, do protesto negativo e, face da
exploração do capital para um projeto político de classes – a revolução como sujeito histórico-político autônomo
(NETTO, 1994, p.12).
- -3
1 Teoria Social de Marx
Neste momento, a evolução do pensamento sobre a sociedade burguesa apresenta um divisor de águas:
configurando-se em dois campos opostos, o que se vincula à revolução e o que se encontra com ela, delimitando,
assim, o terreno das grandes matrizes da razão moderna.
• A teoria social de Marx.
• O pensamento conservador, produto da conjunção dos veios restauradores e românticos.
Marx passou para o lado do operário e sua construção teórica passa a ser componente significativo para a
estruturação do movimento operário.
Netto (1994) afirma que se trata de um decisivo encontro do universo da cultura com o universo do trabalho, a
cultura como conhecimento e projetação da sociedade e os representantes do trabalho como agentes
revolucionários. É nas condições dadas neste fenômeno que Marx ergue sua obra.
Com base na análise do movimento real da sociedade e partindo de pressupostos empiricamente comprovados
nas condições de existência material dos homens é que Marx estrutura os eixos da teoria social. Um projeto
socialista e revolucionário constitui-se como um dos traços pertinentes da teoria social de Marx. Sua obra resulta
de um contexto sociopolítico determinado com uma reposta aos problemas colocados pela sociedade burguesa e
pensada a partir da perspectiva de revolução como prática política que possa permitir a ultrapassagem desta
sociedade.
•
•
- -4
Tal perspectiva confere sustentação social ao caráter radicalmente crítico da teoria marxista.
Netto (1994) afirma que o pensamento de Marx se desenrola em um percurso que obedece a uma lógica com o
objetivo de compreender a sociedade burguesa, seus passos vão se alternando de acordo com um
amadurecimento como teórico e dirigente revolucionário.
A sociedade burguesa se funda na exploração e na opressão da maioria pela minoria, tendo mecanismos que
ocultam estes atributos, sendo a alimentação e a reificação conectadas ao “fetichismo da mercadoria”. A
sociedade burguesa não pode existir sem eles, que acabam por criar uma aparência coisificada da realidade
social. Esta aparência mistifica os fenômenos sociais: ela esconde que os fenômenos são processos, mostra-os em
forma de coisas, alheias aos homens e às suas relações (por exemplo: o capital, que é uma relação social, aparece
como dinheiro, equipamentos etc.)
A contradição é real: a sociedade burguesa, ao mesmo tempo que abre a possibilidade para tomar o ser social tal
como ele é, bloqueia esta apreensão.
Assim, uma teoria social que desvende a estrutura real da sociedade burguesa, revelando seus instrumentos de
exploração, opressão e reprodução, logicamente só interessa àqueles que têm o objetivo de superação da ordem
vigente, significando, portanto, que uma teoria social também é função de um ponto de vista de classe, com o
objetivo de romper com as limitações do sistema ou da conservação da ordem social (NETTO, 1994, p.17).
- -5
1.1 Materialismo Histórico e Dialético
• A filosofia de Marx parte do estudo dialético do homem como ser histórico no mundo.
• Na teoria marxista, o materialismo histórico propõe-se a explicar a história das sociedades humanas, em 
todas as épocas, por meio de fatos concretos, materiais, essencialmente humanos e técnicos.
• Rejeita a ideia de um “homem abstrato, ideal, que emana de uma ideologia essencialista da natureza 
humana, concepção adotada pelas diferentes formas de humanismo.
• Pretende enfocar um homem concreto, vivendo no mundo.
• Sustenta-se na perspectiva da relação homem-natureza, ou seja, no primado econômico de ser social.
• O homem passa a ser visto como um conjunto de suas relações sociais.
• Homem: ser social – forma real de organizações humanas existentes ao longo da história.
1.2 Dialética Marxista
• A dialética é o movimento provocado por forças opostas, contraditórias, mas complementares.
• O mundo material é dialético - tudo está sempre em constante movimento.
• Historicamente as mudanças ocorrem em função das contradições das classes.
• Processualidade - Dinâmica contraditória, histórica e que caracteriza uma determinada totalidade social.
1.3 Leis da Dialética
Lei da quantidade à qualidade – mudanças mínimas de quantidade vão se acrescentando e provocam, em 
determinado momento, uma mudança qualitativa, o ser passa a ser outro.
Podemos ilustrar esta lei com o exemplo da água que, quando alcança 100ºC, entra em ebulição.
Na história das sociedades humanas, as ações dos indivíduos vão se somando até o ponto de ruptura em que a
velha ordem é substituída por uma outra ordem.
Lei da interpentração dos contrários – contradição, atrito, luta entre os contrários - dois polos contrários são
também inseparáveis, isto é, existe uma unidade nos contrários. Não existiria a classe proletária se não houvesse
a classe burguesa, elas se opõem, mas só existem em função da outra.
Lei da negação – a ideia de que as coisas mudam, mas trazem elementos do que lhes deu origem, só que estes
elementos estão modificados.
Da contradição entre o senhor e o servo do feudalismo derivou a síntese do capitalismo, o que por sua vez gerou
a contradição entre capitalista e operário.
1.4 Categoria de Totalidade
Representa o concreto, síntese e determinações. É um complexo constituído de outros complexos subordinados,
ou seja, toda parte é também um todo, um complexo de forças com relações diversas que agem em conjunto.
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
- -6
Na dialética entre o universal e o singular encontra-se a chave para desvendar o conhecimento do modo de ser
social.
No mundo da imediaticidade, as demandas que se apresentam à ação profissional são aparências que precisam
ser dissolvidas. É bom lembrar que nesse plano o dado empírico singular já contém na sua complexidade
relações com a universalidade e a particularidade.
A visão de conjunto proporciona uma totalidade e esta totalidade é mais que a soma das partes que a constituem.
Na maneira de se articularem e de se constituírem uma totalidade, os elementos individuais assumem
características que não teriam caso permanecessem fora do conjunto. 
“Qualquer objeto que o homem possa perceber ou criar é parte de um todo. É necessário ter uma visão de
conjunto, e tal visão é sempre provisória e nunca se pode pretender esgotar a realidade a que ele se refere. A
realidade é sempre mais rica que o conhecimento de que se tem dela (KONDER, 1998, p. 36)”.
“A dialética parte do reconhecimento do fato de que o processo de autocriação do homem introduziu na
realidade uma dimensão nova, cujos problemas exigem um enfoque também novo. O terreno em que a dialética
pode demonstrar decisivamente aquilo de que é capaz não é o terreno da análisedos fenômenos quantificáveis
da natureza, e sim o da história humana, o de transformação da sociedade (KONDER, 1998, p. 61)”.
1.5 A Centralidade da Categoria Trabalho
• Processo composto pela prévia ideação e pela objetivação.
• Resulta sempre na transformação da realidade e, ao mesmo tempo, do indivíduo e da sociedade.
• O trabalho assume o papel condicionador da existência humana.
Segundo Iamamoto (2001), o fundamento da prática social é, pois, o trabalho social: atividade criadora,
produtiva, condição da existência do homem e das formas da sociedade, mediatizando o intercâmbio entre
homem e natureza e os outros homens, por meio do qual realiza seus próprios fins. O trabalho muda não só o
objeto, mas também o sujeito (homem) que, sob um ângulo objetivo, é processo de criação e de acumulação de
novas capacidades e qualidade humanas.
Na sociedade capitalista, à medida que o homem objetiva-se pelo trabalho, ele não só cria, como se perde, na
relação mercantil, de compra e venda da força de trabalho.
2 A Divisão do Trabalho e o Serviço Social
– a subsunção dos indivíduos por ramo aumenta na medida em que a satisfação dasDivisão do Trabalho 
necessidades sociais se torna mediatizada pelo mercado, isto é, pela produção, troca e consumo de mercadorias.
•
•
•
- -7
A divisão do trabalho na sociedade determina a vinculação de indivíduos em órbitas profissionais específicas. O
trabalho assume, portanto, um caráter social.
Com o desenvolvimento das forças produtivas, o processo de trabalho passa a ser efetuado sob a forma de
cooperação entre trabalhadores livres no interior da fábrica.
– atividade humana dentro de um contexto de alienação, parcelamento do próprioTrabalhador Parcial 
indivíduo no interior no ato da produção. O produto final é a combinação dos trabalhos fragmentados.
O grau de desenvolvimento da divisão do trabalho expressa o grau de desenvolvimento das forças produtivas
sociais do trabalho. Com a divisão dá-se, ao mesmo tempo, a distribuição quantitativa e qualitativa do próprio
trabalho e dos produtos, isto é, da propriedade – do poder de dispor do trabalho dos outros.
A cada estágio das forças produtivas do trabalho social corresponde uma forma de apropriação do trabalho.
 – a mercadoria tem como fonte o trabalho de seu possuidor.Produção Simples
 – o processo de trabalho pessoal é convertido em trabalho social, em valor de trocaProdução Capitalista
convertido em dinheiro. O valor de uma mercadoria não é para quem a produz, mas para outros.
O valor de troca se converte em meio de subsistência para o seu produtor depois de ter revestido em dinheiro –
cada um não é mais que meio para o outro – os agentes sociais envolvidos na troca buscam unicamente seu
próprio fim nessa transação.
Embora a reciprocidade seja necessária, os sujeitos da troca são indiferentes entre si; importam, apenas, como
meio de satisfação de seus fins privados e egoístas. O coletivo - dependência recíproca entre os indivíduos posta
pela divisão do trabalho – não coincide com o interesse individual, sendo em geral uma forma ilusória de
coletividade.
O Estado, interesse coletivo, assume uma forma autônoma para garantir os interesses particulares e gerais.
A divisão manufatureira do trabalho – diferenciação do ofício manual nas suas diversas operações integrantes –
caráter manual, dependendo da destreza, segurança e rapidez do trabalhador no manejo de suas ferramentas.
Divisão do trabalho na grande indústria – indústrias das máquinas – a perícia do trabalhador tornar-se um fator
secundário – o “maquinismo”.
Este quadro da divisão do trabalho, tal como exposto, adquire novas cores e tonalidades no âmbito da expansão
monopolista, atribuindo particularidades às manifestações da questão social.
Capitalismo monopolista e a questão social – queda do padrão de vida dos assalariados, agravamento da
desnutrição, doenças infecciosas, aumento da taxa de mortalidade infantil e dos acidentes de trabalho –
ampliação da miséria absoluta e relativa de grande parcela da população trabalhadora – dilapidação da força de
trabalho coletiva.
- -8
Desarticulação dos organismos político-reivindicatórios da classe trabalhadora, com sua exclusão momentânea
da arena política e com a manutenção de uma política salarial comprimida – requisitos da solidificação da
dominação burguesa e da expansão capitalista. A questão social passa a ser tratada através da articulação entre
repressão e assistência – esvaziamento dos canais de participação dos trabalhadores. São intensificados os
programas de cunho assistencial.
As medidas assistenciais ingressam como um dos componentes das relações autoritárias imprimidas à
sociedade, passando a articular-se às estratégias das relações do Estado com as classes trabalhadoras, como uma
das áreas instrumentais do intervencionismo crescente do Estado na sociedade civil.
O tratamento que o Estado vem dispensando aos segmentos mais pauperizados da força de trabalho deve ser
apreendido no contexto contraditório das mutações econômicas, sociais e políticas que vêm caracterizando o
desenvolvimento capitalista no Brasil.
O serviço social afirmar-se como prática institucionalizada e legitimada na sociedade ao responder às
necessidades sociais derivadas da prática histórica das classes sociais na produção e reprodução dos meios de
vida e de trabalho de forma socialmente determinada.
O processo de institucionalização do Serviço Social, como profissão reconhecida na divisão social do trabalho,
está vinculado à criação das grandes instituições assistenciais, estatais, especialmente na década de 40. O Serviço
Social deixa de ser um mecanismo de distribuição de caridade privada das classes dominantes para se
transformar em uma das engrenagens da execução das políticas sociais do Estado e setores empresariais, que se
tornam seus maiores empregadores.
Baseando-se na perspectiva crítica, autores como Marilda Villela Iamamoto, Raul de Carvalho, Manuel Henrique
de Castro, Vicente de Paula Faleiros, Maria Lucia Martinelli, José Paulo Netto, entre outros, entendem o assistente
social como um profissional que desempenha um papel claramente político, tendo uma função que não se explica
por si mesma, mas pela posição que o profissional ocupa na divisão sociotécnica do trabalho.
3 Relação entre a Tradição Marxista e o Serviço Social
A interlocução do Serviço Social é algo que se efetiva na década de 60, após três décadas de sua implantação.
Esta tardia interlocução pode se dever ao profundo conservadorismo que dominava a categoria profissional, o
que começa a ser questionado com as mudanças sociopolíticas resultantes da crise da ditadura e com o
Movimento de Reconceituação.
• A afirmação desta interlocução se dá na primeira metade da década de 1970, na escola de serviço social 
da Universidade Católica de Minas Gerais.
•
- -9
A descoberta do marxismo pelo Serviço Social contribuiu decisivamente para um processo de ruptura teórica e
prática com a tradição profissional.
A aproximação do Serviço Social com a teoria marxista traz uma nova compreensão do que seja a profissão, ou
melhor, procura-se buscar os aspectos constitutivos de forma contextualizada, na realidade em que se inserem.
Observa-se, entretanto, que inicialmente a apropriação de Marx pelo Serviço Social era discutível.
No momento de sua emersão, o projeto de ruptura aproxima-se da tradição marxista especialmente pelo viés
posto pela militância política – no que recorde-se, conjuga-se o protagonismo oposicionista das camadas médias
urbana e a mobilização estudantil do período de 1964-1968. Todas as indicações disponíveis convergem no
sentido de sugerir que a interação entre os profissionais originalmente envolvidos no projeto de ruptura e a
tradição marxista opera-se pela via política (frequentemente, político–partidária: mormente via os
agrupamentos de esquerda influenciados pela Igreja, situados fora do leito histórico do PCB. Dada as
circunstâncias da época, esta aproximação padece devícios óbvios: instrumentalização para legitimar
estratégias e táticas, pouca possibilidade de reflexão teórica sistemática. (NETTO,1991, p.268).
Nos dois primeiros momentos, a aproximação com a teoria marxista não se deu com as fontes originais. É
somente com a sua consolidação é que se opera uma referência cuidadosa às fontes clássicas.
A apropriação desta teoria crítica contribui para:
Introdução de discussões acerca da natureza do Estado, das classes sociais e dos movimentos sociais.
Análise crítica do lastro conservador do Serviço Social – revisão das práticas tradicionais.
Análise histórico-crítica do Serviço Social (materialismo histórico e dialético).
Percepção da questão social através de suas múltiplas expressões – (categoria da totalidade social).
Organizando o Estudo
• Materialismo histórico e dialético
• Dialética
• Leis da dialética
• Trabalho
• Divisão do trabalho
• Totalidade
Vamos refletir!
O que você pensa da teoria marxista? A partir de quais aspectos a aproximação do Serviço Social com o
marxismo contribui para uma ruptura com a tradição conservadora?
•
•
•
•
•
•
- -10
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você estudará sobre os assuntos seguintes:
• Os conceitos de conhecimento, método e teoria;
• o Serviço Social e a busca de fundamentação teórico-metodológica;
• a relação entre a teoria e prática.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Descreveu o materialismo histórico e dialético proposto por Karl Marx;
• identificou os aspectos constitutivos da teoria social de Marx;
• relacionou as contribuições da teoria marxista para o serviço Social.
•
•
•
•
•
•

Continue navegando