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SUMÁRIO 1. Definição ....................................................................... 3 2. Epidemiologia ............................................................. 6 3. Quadro clínico ............................................................ 6 4. Diagnóstico ................................................................23 5. Tratamento .................................................................27 Referências Bibliográficas ........................................31 3NEUROPATIAS PERIFÉRICAS 1. DEFINIÇÃO De modo geral, os estudiosos de- signam o termo neuropatia para um conjunto de patologias que acometem o sistema nervoso periférico (SNP). Neuropatia afeta os nervos periféri- cos, que são os responsáveis por en- caminhar informações do cérebro e da medula espinhal para o restante do corpo. Algumas complicações mais graves da neuropatia periférica pode causar danos permanentes aos ner- vos, sendo algumas vezes um proble- ma incapacitante e até mesmo fatal. O aparecimento das neuropatias pe- riféricas (NP) é de certo modo variável e as causas são inúmeras, pois nem sempre é fácil pontuar a causa, tendo em vista que há diversos fatores que podem estar por trás deste proble- ma, uma análise clínica sequencial e lógica é a melhor conduta médica para o diagnóstico e o tratamento, se possível precoce. Isso se dá através da combinação do quadro clínico, do exame de eletroneuromiografia (ENMG) e dos exames laboratoriais. Em grande parte, é possível a defini- ção da etiologia da neuropatia, permi- tindo assim saber o prognóstico e o tratamento da doença. HORA DA REVISÃO! O sistema nervoso é composto por fibras (nervos), gânglios nervosos e órgãos terminais. Além disso, a função do SNP é realizar a conexão do sistema nervoso central com as outras partes do corpo humano. O SNP é um termo muito uti- lizado em neuroanatomia para designar a parte do sistema nervoso no qual os neurônios ou seus processos estão rela- cionados a uma espécie de célula saté- lite periférica, conhecida como célula de Schwann. Além disso, compreende os nervos cranianos, com exceção do nervo óptico, as raízes espinais, o gânglio dor- sal, os troncos dos nervos periféricos, as ramificações terminais e o sistema ner- voso autônomo. As fibras nervosas são prolonga- mentos finos dos neurônios, em es- pecial dos axônios e seus invólucros gliais, camada de mielina. As fibras nervosas são muito importantes, pois realizam a condução dos impulsos nervosos para o sistema nervoso central e também no sentido contrá- rio. Ademais, elas se organizam em feixes e cada feixe forma um nervo. Cada fibra nervosa é envolta por uma camada conjuntiva denominada en- doneuro, cada feixe é envolto por uma bainha conjuntiva denomina- da perineuro e o conjunto de feixes agrupados paralelamente formam um nervo. O nervo também é envolto por uma bainha de tecido conjuntivo chamada epineuro. No corpo huma- no existe um número muito grande 4NEUROPATIAS PERIFÉRICAS de nervos. Seu conjunto forma a rede nervosa. O endoneuro circunda cada fibra nervosa e é composto por tecido conjuntivo frouxo produzido pelas cé- lulas de Schwann, composto por co- lágeno reticular, tipo III, e alguns pou- cos fibroblastos. Além disso, possui capilares em seu interior, os quais são revestidos por endotélio - não fenes- trado, unido por junções de oclusão. Existem três tipos de fibras nervosas: fibras motoras, sensitivas e autonô- micas. As fibras motoras controlam os movimentos, nesse sentido se houver algum dano nas fibras moto- ras, poderá acarretar fraqueza, atro- fia, fasciculações, lembrando que fasciculações são contrações visíveis, finas e rápidas, algumas vezes ver- miculares, espontâneas e intermiten- tes das fibras musculares. Além dis- so, danos nas fibras motoras podem causar alterações dos reflexos os- teotendíneos. As fibras sensitivas, que transmitem as sensações, dor, tato, ao serem acometidas apresen- tam alterações na sensibilidade. As fibras nervosas sensitivas, irão se subdividir em fibras grossas e finas. O acometimento de fibras grossas irá causar problemas na sensibilida- de vibratória, no tato de pressão e até mesmo na propriocepção – tam- bém conhecida como cinestesia, é o termo utilizado para caracterizar a capacidade em reconhecer a locali- zação espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão. Já o acometimento de fibras finas irá comprometer, princi- palmente, a dor e a temperatura. As fibras autonômicas inervam os ór- gãos e glândulas e, se forem acometi- das, podem acarretar em hipotensão postural, disfunção erétil, gastro- paresia, além de alterações na moti- lidade intestinal, como por exemplo, constipação ou diarreia. 5NEUROPATIAS PERIFÉRICAS X Acometimento das fibras nervosas NERVOS PERIFÉRICOS Encaminha informações do cérebro e da médula espinhal para o corpo Neuropatias periféricas Componentes do SNP Nervos cranianos Troncos dos nervos periféricos Raízes espinhais Sistema nervoso autônomo Gânglio dorsal Fibras nervosas Fibras motoras Fibras sensitivas Fibras autonômicas Controlam os movimentos Alterações do ROT Responsáveis pelas sensações SUBDVISÃO Órgãos e glândulas Fibras grossas Fibras finas Sensibilidade vibratória Propriocepção Temperatura Dor Tato e pressão 6NEUROPATIAS PERIFÉRICAS 2. EPIDEMIOLOGIA A prevalência das NP no mundo é em torno de 2 a 4%. Nota-se que em pes- soas com idade superior a 55 anos, a prevalência aumenta para 8%. Nos países desenvolvidos, a causa mais comum das NP é o diabetes melli- tus, pois há uma maior incidência de pessoas diabéticas nos países de- senvolvidos, como por exemplo, nos Estados Unidos. Em termos globais, a hanseníase continua sendo a maior causa de neuropatia. No Brasil, a dor crônica é condição clínica bastan- te frequente, acometendo entre 28 e 41% da população brasileira. Os da- dos sobre a prevalência de dor com característica neuropática na popula- ção em geral não são fidedignos, de- vido a grande heterogeneidade dos estudos realizados no território bra- sileiro, as diferentes definições e aos métodos de avaliação utilizados. 3. QUADRO CLÍNICO O quadro clínico das neuropatias periféricas possui algumas manifes- tações clínicas das NP que variam muito. Algumas manifestações clíni- cas podem ter diversas combinações quanto à presença e à intensidade dos sintomas e sinais sensitivos, auto- nômicos e motores, seguindo a fibra que é acometida. Alguns parâmetros devem ser considerados na avaliação e na classificação das NP, dentre eles, destacam-se: a velocidade de insta- lação que pode ser classificada como aguda, subaguda e crônica; o tipo de fibra nervosa envolvida: moto- ra, sensitiva, autonômica ou mista. Isso vai revelar quais são as possíveis complicações: caso um indivíduo te- nha a fibra nervosa motora prejudi- cada, o paciente poderá apresentar dores musculares, alterações dos reflexos osteotendíneos, dentre ou- tros, além disso, o paciente pode ter mais de uma fibra acometida, no caso das fibras mistas. 7NEUROPATIAS PERIFÉRICAS Crônica Subaguda Aguda Velocidade Padrão Degeneração Tamanho da fibraTipo de fibra Mista Sensitiva Motora Mista Grossa Fina Axonal Desmielinização Segmentar Mista Mononeuropatia Polineuropatia Mononeuropatia múltipla QUADRO CLÍNICO 8NEUROPATIAS PERIFÉRICAS O tamanho da fibra nervosa envolvi- da: grossa, fina ou mista. Os sinais e sintomas poderão revelar qual tipo de fibra foi acometido: as fibras grossas irão causar problemas na sensibili- dade vibratória, no tato de pressão (protopático) e até mesmo na pro- priocepção. Já as fibras finas, terão comprometimento, principalmente, da dor e da temperatura. Ademais, outro parâmetro a ser considerado é a distribuição, sendo proximal, distal e difusa – tal fato irá determinar o lo- cal onde a fibraserá comprometida. Outro parâmetro é o padrão de aco- metimento nervoso, podendo ser mononeuropatia, mononeuropatia múltipla, polineuropatia. O último fator é a patologia, que pode ser clas- sificada quanto a degeneração axo- nal, desmielinização segmentar ou mista. Na degeneração axonal não há modificações que indiquem dege- neração dos axônios, tais como restos de mielina em células de Schwann ou macrófagos. Na desmielinização segmentar há acometimento inter- no isolado ou múltiplo da bainha de mielina. Ao se avaliar o panorama clínico, nos pacientes em que a história e o exa- me neurológico sugerem o diagnós- tico de NP, a confirmação pode ser realizada pelo exame de ENMG. Po- de-se, então, classificar a distribuição do acometimento periférico, podendo ser mononeuropatia, mononeuropatia múltipla ou polineuropatia, tal como o tipo de acometimento fisiopatológico, seja ele axonal ou desmielinizante. Já o estudo anatomopatológico mostra diversos processos distintos que po- dem estar presentes em várias com- binações em um mesmo paciente. São eles: degeneração walleriana, desmielinização segmentar e de- generação axonal. Na fibra nervosa, o elemento que é considerado mais suscetível é a mielina, acometida de forma primária ou secundária. Como dito anteriormente, a degeneração focal da bainha de mielina com pre- servação do axônio é chamada de desmielinização segmentar. A de- generação walleriana pode ocorrer se houver uma interrupção focal do axônio. A degeneração axonal centrí- peta resulta em uma lesão metabóli- ca do neurônio. Em ambas, ocorre a degeneração secundária da mieli- na. As neuropatias periféricas podem ser classificadas em mononeuropa- tia, mononeuropatia múltipla e po- lineuropatia e tal classificação é de extrema importância para o diagnós- tico diferencial. 9NEUROPATIAS PERIFÉRICAS Figura 1. Padrão de acometimento da mononeuropa- tia. Fonte: Sanarflix A mononeuropatia ou mononeurite, é um tipo de neuropatia que só acar- reta um único nervo periférico ou craniano. É importante que haja a di- ferenciação da neuropatia periférica da neuropatia autonômica. Essa di- ferenciação é feita por meio da limi- tação da extensão, haja vista que a mononeuropatia é um trauma loca- lizado. Geralmente a neuropatia do nervo ulnar é uma das mais comuns, devido a compressão na região do cotovelo. A mais comum é a síndro- me do túnel do carpo, provocada pela compressão do nervo media- no no túnel carpiano. Figura 2. Síndrome do túnel do carpo. Fonte: Sanarflix Um diagnóstico diferencial conta com a ENMG para que ocorra a locali- zação do sítio em que ocorreu a lesão e, de certo modo, poder determinar o grau em que a fibra foi compro- metida. Além do mais, é pertinente 10NEUROPATIAS PERIFÉRICAS salientar que a pressão sobre um nervo por um longo período é a cau- sa mais comum de mononeuropatia, como por exemplo, os ciclistas que fi- cam horas com os cotovelos apoiados na bicicleta, podendo acarretar algum dano para o nervo ulnar que passa nessa região. Como resultado, a área afetada pode formigar ou ficar dor- mente e o músculo lesado pode per- der a sua força de modo significativo. Ademais, a pressão também pode lesionar nervos quando as pesso- as não conseguem se locomover por longos períodos, como quando estão anestesiadas para uma cirurgia, aca- madas, paralisadas ou perderam a consciência. O diagnóstico geralmen- te é realizado com base na clínica e no exame físico. É aconselhável que sejam realizados eletromiografia e estudos de condução nervosa para descartar outras possíveis causas. É pertinente, ainda, assinalar a lesão do nervo radial, que se localiza ao longo da face inferior do osso do braço. A pressão prolongada neste nervo pode ocasionar uma paralisia do nervo radial. Este quadro denomina-se, por vezes, paralisia do sábado à noite, pois se apresenta com frequência em pessoas que bebem em excesso, ge- ralmente durante o fim de semana, e depois adormecem profundamen- te com o braço repousando sobre um balcão, pendurado nas costas da cadeira ou por baixo da cabeça do/a companheiro/a. Desse modo, ocor- re o enfraquecimento do pulso e dos dedos, por esse motivo, o pulso pode ficar numa posição fletida com os de- dos também fletidos, conhecido como mão em pêndulo. Figura 3. Síndrome da mão caída. Fonte: Associação de Medicina Catarinense A mononeuropatia múltipla se di- ferencia da mononeuropatia por nor- malmente afetar alguns nervos, em geral, em diferentes áreas do corpo. Lembrando que essas lesões ocor- rem ao acaso e em diferentes graus de comprometimento. Além disso, pode ocorrer uma somação de vários nervos comprometidos, resultando em uma espécie de déficit simétrico e confluente, que pode se asseme- lhar a uma polineuropatia simétri- ca distal. Assim, o médico deve ficar alerta aos sinais para poder diferen- ciar o quadro e chegar a um diagnós- tico correto. 11NEUROPATIAS PERIFÉRICAS Figura 4. Padrão de acometimento da mononeuropatia múltipla. Fonte: Sanarflix Vários distúrbios podem acarretar uma mononeuropatia múltipla e cada um causa sintomas característi- cos. As causa mais comum são: vas- culites, diabetes mellitus, sarcoido- se, hanseníase e doença de Lyme. Figura 5. Vasculite sistêmica. Fonte: http://www. medicinanet.com.br/conteudos/acp-medicine/5548/ sindromes_de_vasculite_sistemica_%E2%80%93_ale- xandra_villa_forte_brian_f_mandell.htm As vasculites geralmente são causa- das pela associação de certos tipos de infecções, por medicamentos, ou pode ocorrer por razões desconheci- das. As vasculites podem ser sistêmi- cas ou restritas ao sistema nervoso periférico. A vasculite é sistêmica geralmente está associada a doenças como poliarterite nodosa, doença de Churg-Strauss ou doença do te- cido conjuntivo (artrite reumatóide, síndrome de Sjögren). Pode afetar, total ou parcialmente, artérias gran- des, médias ou pequenas, capilares, veias ou uma combinação dessas. Existem dois tipos de diagnóstico, o particular e o definitivo. O primeiro, ocorre quando a vasculite é específi- ca e depende do quadro sistêmico. Já o diagnóstico definitivo depende da biópsia do nervo mostrando infiltrado 12NEUROPATIAS PERIFÉRICAS inflamatório perivascular ou intramu- ral, focos de necrose fibrinoide na parede do vaso, fibrose ou oclusão da luz vascular. O tratamento é rea- lizado por meio da administração de prednisona em alta dosagem, po- dendo associar-se com outra droga, a ciclofosfamida, que também é um imunossupressor. Se a causa base for evidente, deve ser primariamente tra- tada. Outras abordagens irão depen- der do tipo, da gravidade da vasculite e até mesmo dos órgãos afetados. A diabete mellitus pode ocorrer quando há neuropatias focais e mul- tifocais, embora seja mais comum em polineuropatias. As neuropatias de nervos cranianos, em geral, ocorrem em pacientes idosos e a alteração mais recorrente é a lesão isolada do nervo oculomotor e o nervos menos afetado e o abducente; cabe ressaltar que o nervo troclear raramente é aco- metido sozinho. O acometimento cos- tuma ser rápido, indolor, e pode ser associado à cefaleia. Já as mononeu- ropatias do tronco e dos membros podem acometer os nervos periféricos de modo isolado ou em associação. Os nervos mais comumente afeta- dos são: ulnar, mediano, radial, fe- moral, cutâneo lateral da coxa e fi- bular. Seu início é rápido, contudo se diferencia das neuropatias de nervos cranianos por ser precedido pela dor. A lesão costuma se localizar no mes- mo local das paralisias por compres- são. Também são descritos casos com dor no tronco devido à radiculopatia – este quadro é conhecido mononeu- ropatia do tronco ou neuropatia tora- coabdominal. A neuropatia motora proximal, conhecida como amiotrofia diabética, revela-se com quadro de dor e fraqueza na extremidade proxi- mal do membro inferior, comprome- tendo os músculos iliopsoas, quadrí- ceps femoral e adutor da coxa, com preservação dosextensores da coxa e flexores da perna. Além disso, pode comprometer apenas um lado, com regressão do quadro e migração para o lado contralateral. HORA DA REVISÃO! Os nervos cranianos se subdividem em 12. O I é o nervo olfatório e, para poder testá-lo, o médico costuma pedir ao pa- ciente para identificar odores, por exem- plo, sabonete, café, cravo, colocados jun- to às narinas enquanto a outra narina é ocluída (com os olhos fechados). O II é o nervo óptico, que corresponde a acuida- de visual, testada utilizando um quadro de Snellen para visão à distância ou um quadro manual para visão de perto; cada olho é avaliado individualmente, com o outro olho coberto. A percepção de cores é avaliada utilizando placas pseudoisocro- máticas de Ishihara ou Hardy-Rand-Ritter que tem números ou figuras dentro de um campo de pontos especificamente colori- dos. O III, IV e VI, costumam ser testados juntos, e correspondem, respectivamente, aos nervos oculomotor, troclear e abdu- cente. Os movimentos extraoculares con- trolados por esses nervos são testados pedindo-se ao paciente para acompanhar um alvo em movimento, como por exem- plo o dedo do examinador que se movi- menta nos 4 quadrantes e em direção à ponta do nariz. Esse teste pode detectar 13NEUROPATIAS PERIFÉRICAS nistagmo e paralisia de músculos ocula- res extrínsecos. O V é o nervo trigêmeo. Para realizar a avaliação das 3 divisões sensoriais (oftálmica, maxilar e mandibu- lar), o examinador usa um clipe para testar a sensibilidade facial e passa uma mecha de algodão na parte inferior ou lateral da córnea para avaliar o reflexo corneano. Quando há perda de sensibilidade facial, deve-se examinar o ângulo da mandíbula; a preservação dessa área (inervada pela raiz espinal C2) sugere um déficit trige- minal. O VII é o nervo facial, avaliado ao verificar-se a fraqueza hemifacial. Com frequência, a assimetria de movimentos faciais é mais evidente durante a conver- sação espontânea, em especial quando o paciente sorri ou se estiver mentalmente confuso, fizer caretas perante um estímulo nocivo – no lado debilitado, o sulco naso- labial aprofunda-se e a rima das pálpebras amplia-se. O VIII é o nervo vestibuloco- clear, avaliado por meio de exames de au- dição e testes da função vestibular, ava- liada testando a presença de nistagmo. O IX e o X são testados juntos e correspon- dem, respectivamente, ao nervo glosso- faríngeo e o nervo vago. Observa-se se há elevação simétrica do palato quando o paciente diz «ah». Se um lado é parético, a úvula é levantada e separada do lado paralisado. A parte posterior de cada lado da faringe pode ser tocada com um abai- xador de língua para checar o reflexo fa- ríngeo (de ânsia), e a assimetria do reflexo faríngeo é observada; a ausência bilateral do reflexo faríngeo é comum em pesso- as saudáveis e pode não ser importante. O XI é o nervo acessório e o seu teste é realizado avaliando os músculos que o inerva, como por exemplo, esternocleido- mastoideo: pede-se ao paciente para gi- rar a cabeça contra a resistência imposta pela mão do examinador, enquanto este palpa o músculo ativo (oposto ao lado da rotação). Para a parte superior do trapézio, pede-se ao paciente para levantar os ombros contra a resistência imposta pelo examinador. O XII é o nervo hipoglosso, avaliado ao verificar a presença de atrofia, fasciculações e fraqueza na língua. Figura 6. Sarcoidose – acometimento pulmonar. Fonte: https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/ dist%C3%BArbios-pulmonares/sarcoidose/sarcoidose A sarcoidose é uma doença infla- matória, multissistêmica, não con- tagiosa, de causa desconhecida e pode ser caracterizada pelo cresci- mento de nódulos inflamatórios em regiões diversas do organismo, den- tre elas o pulmão. É uma patologia autoimune, que é caracterizado pelo aparecimento de nódulos inflamató- rios ou até mesmo pelo acúmulo de células do sistema imunológico, em específico os macrófagos, cujo apa- recimento é em decorrência de al- guma agressão sofrida. Ela pode se manifestar de dois modos, a forma aguda ou crônica e, a depender do grau de evolução, pode afetar prati- camente todos os órgãos do corpo. Sarcoidose é uma doença granulo- matosa inflamatória. Os granulo- mas são uma resposta do sistema imune para defender o organismo 14NEUROPATIAS PERIFÉRICAS de um agente prejudicial, que não consegue eliminar de outra maneira. O diagnóstico é baseado no exame físico minucioso, resultado de exa- mes laboratoriais, além de uma histó- ria clínica do paciente bem detalhada e de exames complementares: exa- mes laboratoriais e de imagem, que incluem hemograma, radiografia de tórax, tomografia computadorizada, ressonância magnética, cintilografia, exames oftalmológicos e para avaliar a função pulmonar, hepática e renal. A sarcoidose continua sendo uma doença incurável, no entanto, a cons- tatação de que pode regredir espon- taneamente provocou mudanças na conduta terapêutica. Figura 7. Classificação da hanseníase. Fonte: https://www.catalao.ufg. br/n/121926-hanseniase-e-tema-de-participacao-de-docente-da-rc-em-programa-de-radio-local A hanseníase é uma patologia crô- nica, transmissível, de notificação compulsória e investigação obriga- tória em todo território nacional. É uma doença que acomete o nervo periférico causada pelo Mycobacte- rium leprae. Inicialmente, aparece um tipo de lesão, a pápula, caracterizada pela diminuição progressiva da sensibilidade decorrente da ação do bacilo sobre os nervos cutâneos. A manifestação clínica é caracterizada pela resposta imune do hospedei- ro. Dentre as formas de hanseníase, é pertinente assinalar a tuberculói- de, que provoca resposta celular com 15NEUROPATIAS PERIFÉRICAS o aparecimento de grânulos e lesão no tecido; já a forma lepromatosa provoca uma resposta imunológica, o que acaba ativando a proliferação e consequentemente a disseminação do agente. O sintoma principal é de- corrente do acometimento dos ner- vos cutâneos e mistos, causando a perda sensitiva, especialmente, a dor e a temperatura. Seu diagnós- tico é essencialmente clínico e epi- demiológico, realizado por meio do exame físico geral e dermato-neuró- logico para identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilida- de e/ou comprometimento de nervos periféricos, com alterações sensitivas e/ou motoras e/ou autonômicas. O tratamento é realizado com sulfo- nas, sendo dapsona a mais utilizada. Nas formas reacionais tipo I e II, os corticosteróides são empregados no tratamento da neurite. SE LIGA! A hanseníase pode ser clas- sificada em 4 tipos: hanseníase inde- terminada (paucibacilar), tuberculoide (paucibacilar), dimorfa (multibacilar) e virchowiana (multibacilar). A hanseníase indeterminada, mais comum em crian- ças, geralmente apresenta-se com ape- nas uma lesão de cor mais clara que a pele normal, com distúrbio da sensibili- dade, ou áreas circunscritas de pele com aspecto normal, podendo ser acom- panhadas de alopécia e/ou anidrose. A tuberculoide ocorre com o comprome- timento simétrico de troncos nervosos, podendo causar dor, fraqueza e atrofia muscular. Próximo às lesões em placa podem ser encontrados filetes nervosos espessados. Na hanseníase virchowia- na, as lesões cutâneas apresentam-se por placas infiltradas e nódulos (hanse- nomas) de coloração eritemato-acas- tanhada ou ferruginosa, que podem se instalar também na mucosa oral. Já na hanseníase diforma ou borderline, o nú- mero de lesões cutâneas é maior e apre- sentam-se como placas, nódulos erite- mato-acastanhadas em grande número, com tendência à simetria. Figura 8. Doença de Lyme. Fonte: https:// destaque-regional.com/doenca-de-lyme- -como-identificar-nos-caes/ ; https://ssl. adam.com/content.aspx?productid=125&pi- d=70&gid=17249&site=bestdoctors.adam. com&login=BEST4545 16NEUROPATIAS PERIFÉRICAS A doença de Lyme é uma infecção transmitida por carrapatos causa- da pela espécie Borrelia. A patologia pode seapresentar em três estágios: erupção cutânea ao redor da picada, disseminação precoce: 2 a 10 sema- nas após a erupção, e tardia: mais de um ano após a erupção. A neuropatia periférica pode ocorrer nos estágios precoce e tardio. O envolvimento neurológico precoce acarreta em me- ningismo e no sistema nervoso peri- férico são mais acometidos os ner- vos cranianos e as raízes espinais, com dor de distribuição radicular e fraqueza muscular geralmente assi- métrica. O meningismo é caracteri- zado pela tríade de rigidez na nuca, fotofobia e cefaleia. O tratamento é realizado com antibióticos, que con- siste no uso de penicilina ou ceftria- xone. Não há tratamento específico para os estágios mais avançados e o paciente apresenta polineuropatia distal e dor radicular. Geralmente a polineuropatia é con- sequência de uma alteração na fun- ção dos nervos periféricos de modo simétrico, distal e bilateral. Quando há o acometimento de alguma raiz espinhal ou raízes dos troncos dos nervos periféricos, denominamos polirradiculopatia ou polirradicu- loneuropatia. Alguns sintomas e si- nais motores, sensitivos, reflexos e autonômicos são característicos das polineuropatias e auxiliam no mo- mento do diagnóstico. A alteração da função motora é precedida de fraqueza muscular, lembrando que pode ser decorrente de desmielini- zação segmentar, interrupção axo- nal ou destruição do neurônio motor, sendo o grau da fraqueza proporcio- nal ao número de motoneurônios al- fa-afetados. É pertinente que haja a investigação de outras doenças que possam estar associadas à polineu- ropatia, como por exemplo, sintomas de patologias sistêmicas, infecções virais ou outras doenças infecciosas, vacinação recente, administração de novos medicamentos, exposição a toxinas como álcool, metais pesa- dos e solventes orgânicos é impor- tante. A presença de polineuropatia em outros membros da família pode sugerir uma polineuropatia genetica- mente determinada. Além do mais, é importante analisar outros fatores, como a duração e o curso clínico da neuropatia. As neuropatias agudas desenvolvem- se em poucos dias ou semanas e possuem causas diferen- tes das neuropatias crônicas, que se desenvolvem em meses ou anos. Algumas das polineuropatias se ins- talam de modo gradual, começando com sintomas sensitivos e moto- res menos perceptíveis até ocorrer a progressão de modo simétrico e centrípeto. Um exemplo de neuropa- tia que não mostra esse padrão típico e possui evolução rápida é a Síndro- me de Guillain-Barré ou a exposição a toxinas. A neuropatia diabética se 17NEUROPATIAS PERIFÉRICAS refere a várias formas de polineuropa- tia causada pelo diabetes. O diabetes também pode causar mononeuropa- tia e mononeuropatia múltipla, o que resulta em fraqueza. É importante pontuar ainda que as polineuropa- tias podem acometer tanto as fibras finas quanto as grossas. A proprio- cepção, a vibração e o arco aferente dos reflexos miotáticos são condu- zidos por fibras sensitivas grossas, logo, o comprometimento dessas mo- dalidades sensitivas, assim como a perda de reflexos e a ataxia sensitiva, indicam o comprometimento dessas fibras. Nesse sentido, caso o pacien- te apresente problemas na sensibi- lidade térmica e dolorosa, tal como a função autonômica periférica, já é possível detectar que esse paciente teve o acometimento de fibras finas. Geralmente as polineuropatias de fi- bras finas costumam estar relaciona- das com diabetes mellitus, amiloidose e infecção por HIV. SAIBA MAIS! A doença de Charcot-Marie-Tooth (CMT) é um grupo de neuropatias periféricas de trans- missão hereditária. Essa patologia costuma afetar tanto as fibras motoras quanto as sensiti- vas, em especial nos membros inferiores. Como consequência, os sintomas estão relaciona- dos com o tipo de fibra que é acometida: o paciente poderá apresentar perda de sensibilidade, deformidades e perda de massa muscular nas extremidades dos membros inferiores. Os pés são cavos, a panturrilha tende a ser hipertrófica, dando o aspecto de “garrafa de champanhe invertida” quando o caso é muito grave. Não há um tratamento farmacológico efetivo para a doença, desse modo, a terapia com uma equipe multidisciplinar é essencial para a melhora da qualidade de vida dos pacientes. Os segmentos distais dos membros estão mais comprometidos no que concerne a sensibilidade e, frequen- temente, assumem a forma de “bota e luva”, acometendo mais os mem- bros inferiores que os superiores. Na maioria das polineuropatias, todas as modalidades sensitivas, sejam elas tátil, térmica, dolorosa, vibratória e cineticopostural, estão comprome- tidas. À medida que há progressão da doença, ocorre hipoestesia ou anestesia nas partes proximais dos membros e do tronco. A hipoestesia é a perda ou diminuição de sensibilida- de em determinada região do organis- mo. Outro padrão de perda sensitiva é a hipoestesia térmica e dolorosa com preservação da sensibilidade tá- til, vibratória e cinético-postural. Em neuropatias em que ocorre um maior dano nas grandes fibras mielínicas, ocorre a ausência da sensibilidade tátil, enquanto a térmica e a dolorosa são preservadas. 18NEUROPATIAS PERIFÉRICAS SE LIGA! A mononeuropatia diabética pode ser sensitiva ou sensitivo-moto- ra e normalmente tem início lento com dormência, formigamento ou queima- ção, afetando os artelhos e, em seguida, os pés e as pernas; somente mais tarde as mãos serão envolvidas, formando o clássico padrão de luvas e botas. Figura 9. Padrão de acometimento bota-luva. Fonte: Diabesi, Clínica de Endocrinologia SE LIGA! O teste de Romberg é um exame neurológico utilizado para ava- liar as colunas dorsais da medula espi- nhal, essenciais para a propriocepção, localização da posição das articulações e sentido vibratório. Um teste Romberg positivo sugere que a ataxia é de nature- za sensorial, ou seja, depende da perda da propriocepção. Um teste Romberg negativo sugere que a ataxia é de na- tureza cerebelar, ou seja, depende de disfunção localizada do cerebelo. A par- tir disso, surge a dúvida: como fazer? O teste de Romberg é simples, basta pedir ao paciente que fique de pé, com os pés juntos, mãos ao lado do corpo e olhos fe- chados por cerca de um minuto. É muito importante que o examinador esteja ao lado do paciente durante todo o período que durar o exame, pois o paciente pode cair ou se machucar. O teste pode ser considerado positivo quando o paciente balançar, balançar irregularmente ou até mesmo cair. Figura 10. Teste de romberg. Fonte: Lacs me- dicina ocupacional 19NEUROPATIAS PERIFÉRICAS Figura 11. Padrão de acometimento da radiculopatia. Fonte: Sanarflix A radiculopatia pode acometer tan- to as raízes motoras, quanto as raí- zes sensitivas assim como as raízes motoras e sensitivas, que denomi- namos polirradiculopatia. Esse aco- metimento pode levar ao surgimento de sintomas como dor, formiga- mento, sensação de choque e fra- queza dos membros, a exemplo da dor pelo comprometimento do nervo ciático. Comumente, a radiculopatia é ocasionada por uma compressão das raízes nervosas, devido a doen- ças como hérnia de disco ou artrose da coluna, mas também pode surgir devido a outras causas como inflama- ção, isquemia, trauma na coluna ou infiltração por um tumor. É pertinente ressaltar que qualquer local da coluna pode ser acometido, contudo, é mais comum nas regiões lombar e cervi- cal. O comprometimento das raízes sensitivas apresenta sintomas dife- rentes das raízes motoras, como por exemplo, formigamento, dormência ou perda da sensibilidade em uma re- gião delimitada do braço ou da perna. A polirradiculopatia envolve fibras que veiculam os reflexos profundos - são mais debilitantes e envolvem a perda de localização no espaço. Per- dem-se reflexos ao exame neurológi- co. Podem ser causadas por processo inflamatório de caráter ascendente, Guillain-Barré, sugerindo doença tu- moral. Além disso, doença de coláge- no, doença autoimunea distância, que pode envolver até mesmo muscula- tura respiratória. A perda dos reflexos profundos na neuropatia costuma ser comum. Alguns mecanismos podem estar envolvidos, como por exemplo a perda de fibras aferentes dos fusos musculares, desenervação das fibras musculares intrafusais e dispersão temporal da condução nervosa, não- -condução síncrona dos impulsos no nervo periférico. 20NEUROPATIAS PERIFÉRICAS A hérnia de disco também é conhe- cida como deslocamento de disco ou ruptura do disco intervertebral. Esta afecção ocorre com maior frequ- ência na parte baixa ou lombar das costas, ou na região da nuca, cervi- cal. Dentre as causas mais comuns, destacam-se: dor lombar e dor na perna e dor ciática (ciatalgia). É per- tinente ressaltar que a coluna verte- bral é formada pelas vértebras, entre as quais existem os discos interver- tebrais, formados por um anel fibro- so e um núcleo gelatinoso conhecido como núcleo pulposo. Os discos são responsáveis pela sustentação do peso do próprio corpo e de todos os movimentos que você faz como incli- nação e rotação da coluna. A hérnia de disco tem sua causa relacionada ao aumento da força exercida no nú- cleo pulposo, fazendo com que ele se desloque, rompendo o anel fibroso. O anel vai em direção ao canal medular ou em direção aos espaços por onde as raízes nervosas passam, gerando compressão destas estruturas. As manifestações clínicas mais co- muns das radiculopatias são dor, parestesia, fraqueza, hipo/arrefle- xia. É lícito salientar que a hiporefle- xia de início precoce é seguida mais tarde por hiperreflexia. As pareste- sias são frequentemente referidas como queimação ou formigamento, costumam ocorrer no nervo periférico e, na polineuropatia simétrica, tem o padrão de “bota ou luva”. A ataxia sensitiva pode resultar de desafe- rentação proprioceptiva, ocorrendo nos casos de perda de fibras gros- sas. As lesões na cauda equina, que afetam múltiplas raízes lombares e sacrais, causam sintomas radiculares em ambas as pernas e podem alterar a função esfincteriana e sexual. Além Figura 12. Herniação de disco. Fonte: Sanarflix 21NEUROPATIAS PERIFÉRICAS disso, os músculos inervados pela raiz motora afetada se tornam fra- cos e atróficos; também podem ficar flácidos e apresentar fasciculações. O envolvimento da raiz sensorial causa alteração sensorial na distribuição de um dermátomo. Figura 12. Radiculopatia – acometimento em L5-S1. Fonte: Sanarflix As raízes lombossacras emergem entre as vértebras e o osso sacro, onde pode ocorrer o processo com- pressivo, na maioria dos casos secun- dário à hérnia de disco e/ou espondi- loartrose, mais comumente nas raízes L5, S1 e L3. A compressão radicular acarreta em dor severa ocupando uma faixa estreita (5-8 cm) do dermá- tomo correspondente, podendo ser associada à perda de sensibilidade e fraqueza muscular. O diagnóstico da raiz envolvida é clínico, podendo ser confirmado na ENMG com desener- vação e na RNM com hérnia de dis- co e/ou espondiloartrose. A ENMG pode evidenciar o segmento radicular envolvido. A importância dos exames complementares é que eles possam nos ajudar a chegar ao diagnóstico final. 22NEUROPATIAS PERIFÉRICAS Traumáticas Acomete 1 nervo MONONEUROPATIAS Lesão do nervo oculomotor Síndrome do túnel do carpo TIPOS MONONEUROPATIAS MÚLTIPLAS XCompressivas Neuropatia do nervo ulnar Neuropatia do nervo radial Síndrome do sábado à noite Acomete + de 1 nervo CAUSAS Simétrica Assíncroma Sistêmicas Restritas ao SNP Multissistêmica Nódulos inflamatórios Hereditária Tuberculóide Virchowiana Diforma Indeterminada Diabetes Vasculites Sarcoidose Doença de Lyme Hanseníane FIBRAS Finas Grossas Mistas Polineuropatias Sintomas disautonômicos Hipoestesia Parestesia Ataxia sensitiva Atrofia Arreflexia Hiporreflexia Fraqueza CAUSAS Charcot-Marie-Tooth Álcool Diabetes RADICULOPATIA CAUSASRaízes Hérnia de discoMotoras Radiculopatia L5-S1Sensitivas Mistas 23NEUROPATIAS PERIFÉRICAS 4. DIAGNÓSTICO Todo bom diagnóstico conta com uma anamnese bem colhida, abordando pontos, como por exemplo: o início e a evolução dos sintomas, padrão ana- tômico, história ocupacional, história patológica e a história familiar. Além de um bom exame neurológico. Para facilitar a compreensão, o diagnóstico de neuropatias periféricas é realizado em 9 passos, cada um deles serão es- pecificados a seguir. O primeiro passo será o tipo de en- volvimento das fibras nervosas. É de extrema importância que o médico tenha ciência de qual a fibra foi aco- metida para determinar qual o trata- mento e até mesmo verificar se os sin- tomas coincidem com a fibra lesada. É lícito lembrar que o nervo periférico é constituído de fibras nervosas mielini- zadas e amielínicas envolvidas por te- cido conjuntivo, dividido em três com- partimentos: endoneuro, perineuro e epineuro. De modo geral, os sintomas relacionados ao acometimento dos nervos podem estar relacionados ao comprometimento de suas fibras mo- toras, sensitivas e autonômicas de maneira combinada, mista ou isolada. A caracterização dos sintomas a par- tir disso poderá determinar qual o tipo de neuropatia e, consequentemente, a sua etiologia. Os sintomas sensitivos são, geralmente, os primeiros observa- dos pelos pacientes e, com a progres- são da doença, passam a queixar-se de sintomas motores. Neuropatias predominantemente motoras permi- tem que haja associação a quadros inflamatórios auto-imunes como as polirradiculoneurites aguda ou crônica, neuropatia motora multifocal (NMM), neuropatia sensitivo motora multifocal desmielinizante adquirida (MADSAM), neuropatia desmielinizante distal si- métrica e adquirida (DADS), neuro- patia motora axonal aguda (AMSAN), entre outras. O segundo passo é determinar o pa- drão anatômico de acometimento. O exame neurológico precisa ser minu- cioso com o intuito de definir o padrão anatômico de comprometimento da neuropatia. O SNP pode ser acome- tido em todas as suas estruturas ou em sítios específicos. Nas neuronopa- tias, por exemplo, ocorre o comprome- timento do corpo celular do neurônio motor. Comumente, predomina o aco- metimento distal, ascendente, distal para proximal, simétrico nas neuro- patias. Há associação com doenças metabólicas, como diabetes mellitus, insuficiência renal crônica, entre ou- tras; tóxicas, por exemplo, alcoólica, carenciais, vitaminas do complexo B, ácido fólico, e a maioria das neuropa- tias hereditárias, por exemplo a neu- ropatia hereditária sensitivo-motora Charcot-Marie-Tooth. Quando ocorre um comprometimento proximal e dis- tal inicial, especialmente motor, pode haver uma suspeita de uma polirra- diculoneuropatia, polirradiculoneu- ropatia desmielinizante inflamatória crônica – PDIC, ou aguda – Síndrome 24NEUROPATIAS PERIFÉRICAS de Guillain-Barré. Já quando há uma lesão assimétrica, podemos associar o quadro a uma vasculite e às neuro- patias infecciosas, como por exemplo, hanseníase. O terceiro e quarto passo corres- pondem, respectivamente, ao início e a forma de evolução. No que con- cerne ao começo dos sintomas, o pa- ciente pode ser acometido de forma aguda, subaguda ou crônica, apre- sentando-se de forma monofásica, recorrente ou progressiva. A grande maioria dos quadros apresenta-se de forma insidiosa, com curso progres- sivo, especialmente quando relacio- nadas às doenças metabólicas e às hereditárias, como é o caso da neu- ropatia Charcot-Marie-Tooth. Nos ca- sos de inicio agudo monofásico, des- taca-se a Síndrome de Guillain-Barré e suas variações, neuropatia motora axonal aguda, neuropatia axonal sen- sitiva e motora aguda, Síndrome de Miller-Fischer, pandisautonomia agu- da e SGB exclusivamente sensitiva, são os principais diagnósticos. O quinto passo corresponde aos as- pectos eletrofisiológicos. Os exames eletrofisiológicos, principalmente a eletroneuromiografia (ENMG), têm um papel fundamental no diagnóstico damaioria dos casos de neuropatia. A ENMG deve ser interpretada dan- do destaque aos aspectos clínicos e anatômicos de acometimento, como uma extensão do exame neurológico, levando-se em conta suas limitações. Além disso,a ENMG é muito pertinen- te ao aspecto fisiopatológico determi- nando, muitas vezes, a direção na in- vestigação da neuropatia, assim como descarta outros possíveis diagnósticos diferenciais, como por exemplo, doen- ças do neurônio motor, doenças da junção neuromuscular e miopatias. As características dos achados na ENMG permitem definir se o padrão da neu- ropatia é axonal ou desmielinizante. Nas neuropatias axonais as amplitu- des dos potenciais sensitivos ou mo- tores estão diminuídas, com pouca ou nenhuma alteração das latências dis- tais e velocidades de condução. Nas desmielinizantes podemos observar diminuições importantes das veloci- dades de condução, prolongamen- to das latências distais, bloqueios de condução motora, dispersão temporal do potencial motor e prolongamento das latências das ondas F ou sua per- sistência diminuída. Além disso, é per- tinente assinalar que a ENMG não é um método adequado para avalia- ção das fibras nervosas sensitivas finas, pois pode apresentar-se normal quando há um comprometimento ex- clusivo das mesmas. O sexto passo é a coleta da história familiar do paciente. Esse passo é muito importante para determinar do- enças hereditárias. As neuropatias hereditárias têm-se tornado algumas das principais causas de neuropatia em todo o mundo. Acredita-se que muitos dos pacientes com neuropatias com diagnóstico etiológico indefinido, 25NEUROPATIAS PERIFÉRICAS na verdade, possuam causa hereditá- ria. Desse modo, a história familiar é um fator crucial na avaliação dos pacientes com neuropatia, o médico deve questionar sobre familiares aco- metidos, consanguinidade, e na defi- nição do padrão de herança genética: autossômica dominante, recessiva ou ligada ao cromossomo X. O sétimo passo está relacionado aos sintomas e patologias associadas ao uso de medicações e exposição às substâncias tóxicas. Algumas medicações, como por exemplo, ni- trofurantoína, amiodarona, isonia- zida, quimioterápicos, entre outras além da exposição às substâncias tóxicas como arsênico, chumbo, en- tre outras, podem desencadear uma neuropatia. Nesse sentido, a anam- nese precisa ser completa, verificando a utilização de medicações e hábitos de vida, devem ser incansavelmente pesquisadas, a fim de excluir quais- quer diagnósticos diferenciais. O oitavo passo corresponde aos tra- tamentos realizados e as respostas a eles. Em alguns casos, o médico pode atender um paciente que já está tendo um tratamento especifico para o seu caso. Muitas vezes, chegam num estágio de evolução da doença extre- mamente avançado. Cabe ao médico se informar a respeito dos tratamentos e suas respostas, coletar informações a respeito do tempo de administra- ção e as suas dosagens podem ser de extrema ajuda na avaliação destes pacientes. Alguns deles podem ter re- cebido um curso de tratamento com corticosteróide ou imunossupressores, e a sua resposta, mesmo que parcial, pode favorecer um diagnóstico de PDIC, ou de outra neuropatia imune mediada, por exemplo. O nono passo, e o ultimo, trata-se da investigação complementar, a partir da análise dos outros passos o médico pode começar a realizar uma investi- gação mais aprofundada, solicitando exames que antes não foram solicita- dos. Esses exames podem ser dividi- dos em: exames laboratoriais gerais e específicos. Os exames gerais ser- vem para diagnosticar doenças sistê- micas que de algum modo possa levar a um comprometimento neuropático, dentre eles destacam-se: hemogra- ma, VHS, glicemia de jejum e teste de tolerância à glicose (TTG), hormônios tireoidianos (TSH e T4 livre), dosagem de vitamina B12 e ácido fólico, marca- dores de doenças reumatológicas, so- rologias, HIV, hepatites B e C, marca- dores tumorais e exames de imagem para investigação de síndromes para- neoplásicas, funções hepática e renal, marcadores de doenças hematológi- cas. Já os exames específicos estão diretamente associados a enfermi- dades do sistema nervoso, como por exemplo: LCR, biópsias de nervo e de pele, Ressonância Magnética de nervos ou plexo, marcadores imuno- lógicos específicos para neuropatias (anti-GM1 – Neuropatia Motora Mul- tifocal, anti-MAG – polirradiculoneurite 26NEUROPATIAS PERIFÉRICAS inflamatória crônica, anti-Hu – sín- dromes paraneoplásicas, anti-Gd1b – síndrome de Miller-Fisher, etc), análise de DNA para neuropatias hereditárias (CMT 1A, Neuropatia Hereditária Sen- sível à Pressão – HNPP, amiloidose familiar progressiva, etc) e dosagens de atividades enzimáticas (deficiên- cia de alfa-galactosidase A – Doen- ça de Fabry, dosagem de ácido fitâ- nico – Doença de Refsum, dosagem de porfobilinogênio urinário – Porfiria Aguda Intermitente). Quando há o pe- dido da biópsia de nervo, ela está in- dicada para casos muito específicos de neuropatia com etiologia indefinida. No entanto, quando bem utilizada, é uma ferramenta diagnóstica extrema- mente valiosa, mas que deve ser rea- lizada em centros com experiência na análise do material. DIAGNÓSTICO 9 PASSOS SÃO NECESSÁRIOS PARA REALIZAR O DIAGNÓSTICO 1 Motoras Sensitivas Autonômicas Analisar o envolvimento das fibras nervosas 2Distal, AscendenteProximal, Simétrica Determinar o padrão anatômico de acometimento 3 e 4 Aguda Subaguda Crônica Início e a forma de evolução 5O ENMG avalia fibras grossas, nao finas Aspectos eletrofisiológicos 6 Doenças hereditáriasHistória familiar 7Sintomas e patologias associadas ao uso de medicações e exposição às substâncias tóxicas 8 Coleta do tempo e da administração das dosagens Tratamentos realizados e as respostas a eles 9 Exames gerais Exames específicos Biópsias Investigação complementar 27NEUROPATIAS PERIFÉRICAS 5. TRATAMENTO Para que o tratamento seja eficaz, é de extrema importância que o diag- nóstico seja precoce, pois há muitas neuropatias que se tornam irrever- síveis com a progressão da doença. Nos casos de alcoolismo, o aporte nutricional adequado, reposição vita- mínica, especialmente de tiamina, e tratamento da dependência é a con- duta indicada. As neuropatias se- cundárias, como vasculites e neuro- patias inflamatórias, respondem ao tratamento imunossupressor ou imu- nomodulador. As neuropatias causa- das por toxinas e fármacos são poten- cialmente reversíveis se o agente for identificado e a exposição controlada. Já as neuropatias hereditárias pro- vocam incapacitações motoras pro- gressivas importantes. O aumento da autonomia pode ser proporcionado por órteses e aparelhos ortopédicos, além de trabalho multidisciplinar. Tal medida é de extrema importân- cia, pois o auxilio, por exemplo, de um fisioterapeuta pode amenizar as do- res provocadas por algumas neuro- patias. O aconselhamento genético pode ajudar na tomada de decisões. Mesmo com o tratamento das condi- ções de base, pode haver persistên- cia da sintomatologia neuropática, principalmente da dor, relacionada a lesões moderadas a severas e irre- versíveis. O alívio sintomático pode ser proporcionado pelo uso regular de antidepressivos tricíclicos, como a amitriptilina ou a nortriptilina (25 a 75 mg ao deitar), ou de anticonvulsi- vantes, como a gabapentina e prega- balina, em titulações crescentes até controle da sintomatologia. O uso de derivados opioides pode ser útil, mas é controverso. Tratamentos com car- bamazepina e fenitoína historicamen- te trouxeram alívio da sintomatologia neuropática, mas o perfil de efeitos adversos menor dos antidepressivos e anticonvulsivantes mais modernos suplantou seu uso. Na neuropatia autonômica o tratamento é sinto- mático. A bexiga hipotônica pode ser manejada por meio de autocateteri- zação intermitente. A disfunção erétil pode ser tratada com injeções intra- cavernosas de prostaglandinas e inibidores da fosfodiesterase,por exemplo, sildenafil. Aporte adequa- do de líquidos, suplementação salina, revisão do tratamento medicamento- so regular, mudança lenta e gradual de posição e uso de mineralocorticoi- des são úteis no controle da hipoten- são ortostática. MEDICAMENTO DOSAGEM GABAPENTINA 900 a 3600mg/dia PREGABALINA 150 a 600mg/dia AMITRIPTILINA 25 a 150mg/dia NORTRIPTILINA 25 a 100mg/dia DULOXETINA 30 a 120mg/dia VENLAFAXINA 75 a 225mg/dia CARBAMAZEPINA 600 a 1600mg/dia Tabela 1. Medicamentos utilizados. Fonte: Sanarflix 28NEUROPATIAS PERIFÉRICAS Os medicamentos na tabela acima são utilizados no tratamento de neu- ropatias periféricas. A gabapentina é indicado para o tratamento da dor neuropática em adultos a partir de 18 anos de idade. A dosagem é realizada de 900 a 3600mg/dia, a depender da abordagem do especialista e do qua- dro clínico do paciente. A segurança e eficácia em pacientes com menos de 18 anos não foi estabelecida. ga- bapentina é administrado por via oral, podendo ser ingerido com ou sem ali- mentos. A pregabalina é um fármaco análogo de GABA, anticonvulsivo e antiepilético também utilizado no tra- tamento da dor periférica, ansiedade e fibromialgia. A dosagem é realizada de 150 a 600mg/dia, a depender da abordagem do especialista e do qua- dro clínico do paciente. A amitriptili- na é um fármaco utilizado para tratar várias condições que afetam o SNC. Entre elas estão principalmente a de- pressão e problemas de ansiedade, mas também a enurese. É eficaz na prevenção das enxaquecas, cefaléias de tensão e no controlo da dor neu- ropática. A dosagem é realizada de 25 a 150mg/dia, a depender da abor- dagem do especialista e do quadro cínico do paciente. A nortriptilina é um fármaco antidepressivo da classe dos trícíclicos que inibe a recaptação da noradrenalina e, em menor escala, da serotonina. Apesar de ser consi- derado um antidepressivo é utilizado também em outras condições, como o transtorno do déficit de atenção / hi- peratividade, dores crônicas. A dosa- gem é realizada de 25 a 150mg/dia, a depender da abordagem do especia- lista e do quadro cínico do paciente. Cloridrato de Duloxetina é indicado para estados de dor crônica associa- dos à dor lombar crônica; estados de dor crônica associados à dor devido à osteoartrite de joelho em pacientes com idade superior a 40 anos. A dosa- gem é realizada de 30 a 120mg/dia, a depender da abordagem do especia- lista e do quadro cínico do paciente. A carbamazepina, vendida sob o nome comercial Tegretol, entre outros, é um dos principais medicamentos utiliza- dos no tratamento da epilepsia e dor neuropática. Tem ação semelhante no tratamento de convulsões a fenitoína e valproato. A dosagem é realizada de 600 a 1600mg/dia, a depender da abordagem do especialista e do qua- dro cínico do paciente. 29NEUROPATIAS PERIFÉRICAS TRATAMENTO DIFERENTES MODOS DE TRATAMENTO PARA DIFERENTES TIPOS DE NEUROPATIAS PERIFÉRICAS 1 Diagnóstico precoceAlcoolismo e diabetes mellitus 2Imunossupressor ou imunomodulador Neuropatias secundárias: vasculites e neuropatias inflamatórias 3 Uso de órteses e aparelhos ortopédicos, além de trabalho multidisciplinar Neuropatias hereditárias 4 Se as dores persistirem, uso de antidepressivos tricíclicos e anticonvulsivantes Neuropatias autonômicas Injeções intracavernosas de prostaglandinas e inibidores da fosfodiesterase, além do uso de mineralocorticoides 30NEUROPATIAS PERIFÉRICAS Neuropatias secundárias Quadro clínico Traumáticas Fina Diagnóstico Tratamento Fibras nervosas Padrão anatômico Início e a forma de evolução Aspectos eletrofisiológicos História familiar Tratamentos Investigação complementar Medicações e substâncias tóxicas Imunossupressor Imunomodulador Aparelhos ortopédicos Órteses Prostaglandinas Mineralocorticoides Neuropatias hereditárias Neuropatia autonômicas Grossa Mista Axonal Segmentar Mista Desmielinização Tamanho da fibra Degeneração Padrão Tipo de fibra Motora Sensitiva Mista Compressivas Diabetes Vasculites Sarcoidose Hanseníase Diabetes Álcool Charcot-Marie-Tooth Mononeuropatia Mononeuropatia múltipla Polineuropatia Neuropatia do nervo ulnar Neuropatia do nervo radial Aguda Velocidade Subaguda Crônica 31NEUROPATIAS PERIFÉRICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARTINS, Mílton de Arruda, et al. (Ed.). Clínica médica, volume 6 : Doenças dos olhos, do- enças dos ouvidos, nariz e garganta, neurologia, transtornos mentais. Barueri: Manole, 2009. HARRISON, Tinsley Randolph, 1900-; FAUCI, Anthony S., et al. (Ed.). Harrison medicina in- terna. 17. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericana do Brasil, 2008. v. 1. CECIL, Russel L. (Russel La Fayette) , 1881-1965; GOLDMAN, Lee (Ed.); AUSIELLO, Dennis (Ed.). Cecil Tratado de Medicina interna. 23. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. v. 1 e v. 2 Brasil: Ministério da saúde. Hanseníase: informações técnicas [Internet]. Brasília: MS; 2010 Eisenberg E, McNicol E, Carr DB. Opioids for neuropathic pain. Cochrane Database Syst Rev. 2006 32NEUROPATIAS PERIFÉRICAS
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