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DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO (DRGE) FISIOPATOLOGIA →O esfíncter esofágico inferior (EEI) tem o papel primário de impedir o refluxo do conteúdo gástrico para o esôfago. →Ele é claramente identificado como uma zona de alta pressão durante a avaliação manométrica quando o dispositivo sensor passa do estômago para o esôfago. →Vários fatores contribuem para a geração dessa zona de alta pressão. →O primeiro é a musculatura intrínseca do esôfago distal. Essas fibras musculares diferem daquelas em outras áreas do esôfago pelo estado de contração tônica em que se encontram. Elas normalmente relaxam com o início de uma deglutição e logo após retornam ao estado de contração tônica. →O segundo fator que contribui para a pressão do EEI são as fibras musculares oblíquas (em gravata) da cárdia. Essas fibras estão na mesma profundidade anatômica das fibras musculares circulares do esôfago, embora orientadas numa direção diferente. →Elas têm um curso diagonal entre a junção cardiotuberositária e a pequena curvatura. Essas fibras são responsáveis por um percentual significativo da zona de alta pressão no esôfago inferior. →O terceiro fator contribuinte para a manutenção da zona de alta pressão no esôfago distal é o diafragma. Ao passar do tórax para o abdome, o esôfago é circundado pelos pilares do diafragma. →Durante a inspiração, o diâmetro anteroposterior da abertura crural é estreitado, comprimindo o esôfago e aumentando a medida da pressão no EEI. →Esse conceito é particularmente importante durante a interpretação dos traçados manométricos do esôfago. →Por convenção, a pressão do EEI deve ser aferida no meio ou no final da expiração, fornecendo uma medida de pressão confiável e reprodutível. →O último componente da pressão gerada na zona de alta pressão do esôfago distal é a pressão transmitida pela cavidade abdominal. O compartimento abdominal tem uma pressão relativamente superior à cavidade torácica. →O refluxo gastroesofágico pode ocorrer quando a pressão da zona de alta pressão no esôfago distal é muito baixa para prevenir que os conteúdos gástricos entrem no esôfago ou quando um esfíncter com pressão normal apresenta relaxamento espontâneo, não associado a uma onda peristáltica do corpo do esôfago. →Outras alterações da zona de alta pressão, como encurtamento, que ocorre como parte do deslocamento cefálico ou como distensão gástrica de alimentos ou ar, podem também eliminar a barreira e resultar em refluxo. →Em virtude de mesmo pequenas alterações na zona de alta pressão comprometerem a sua eficácia, episódios de refluxo ocorrem em pessoas normais. →A distinção entre a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e refluxo gastroesofágico é sutil e importante e requer conhecimento dos sintomas associados, lesão da mucosa do esôfago, quantidade total de exposição ao ácido e outros fatores. →A DRGE está associada, com frequência, a uma hérnia de hiato. →Embora qualquer tipo de hérnia hiatal possa dar origem a uma incompetência da cárdia, o mais comum é a hérnia tipo I, também chamada de uma hérnia hiatal por deslizamento. →Uma hérnia tipo I ocorre quando a junção gastroesofágica não é mantida na cavidade abdominal pela membrana frenoesofágica. Assim, a cárdia migra para trás entre o mediastino posterior e a cavidade peritoneal. →A membrana frenoesofágica é uma continuação da fáscia endoabdominal que se ancora ao esôfago na região hiatal. Ela se situa imediatamente acima da reflexão peritoneal no hiato e continua pelo mediastino. →A presença de uma pequena hérnia hiatal por deslizamento não implica necessariamente uma incompetência da cárdia, mas, quanto maior seu tamanho, maior o risco de refluxo gastroesofágico anormal. →Segundo sua anatomia, as hérnias de hiato são classificadas em três tipos (I a III). →As hérnias de hiato tipos II e III são frequentemente denominadas hérnias paraesofágicas, embora possam estar associadas à DRGE. →Além disso, são as hérnias maiores e mais difíceis de serem tratadas, podendo estar associadas a sintomas obstrutivos agudos ou crônicos. →Uma hérnia tipo II, também conhecida como hérnia por rolamento ou paraesofágica, ocorre quando a junção gastroesofágica encontra-se ancorada no abdome, mas o defeito hiatal, geralmente grande, fornece espaço para as vísceras migrarem para dentro do mediastino. →A pressão relativamente negativa dentro do tórax facilita a migração visceral. Geralmente, é o fundo do estômago que migra para o mediastino; entretanto, o cólon e o baço podem ser ocasionalmente identificados. →A hérnia tipo III é uma combinação das duas hérnias, em que junção gastroesofágica e a tuberositária (ou outra víscera) estão livres para movimentar-se para o interior do mediastino. →A presença de uma hérnia de hiato não é necessária nem suficiente para fechar o diagnóstico de DRGE, e o achado de uma hérnia não constitui uma indicação para correção cirúrgica. →As implicações teóricas da presença de uma hérnia de hiato tipos I e III são que a cárdia e o esôfago distal têm o potencial de serem expostos à pressão negativa da cavidade torácica. →Isso poderia reduzir a pressão do EEI, permitindo que o refluxo ocorra mais facilmente. →Muitos pacientes com hérnia de hiato não têm sintomas e não requerem tratamento. QUADRO CLÍNICO →A apresentação clínica mais comum dos pacientes com DRGE inclui uma história longa de dor do tipo queimação retroesternal (pirose) e uma história mais recente de regurgitação. →Azia, quando típica, é um sintoma confiável. A azia é restrita às áreas epigástricas e retroesternal. Ela é identificada como uma sensação de ardência ou cáustica. Ela não se irradia para as costas e não é caracteristicamente descrita como uma sensação de pressão. →É recomendável solicitar ao paciente para descrever em detalhes o tipo de sensação que ele vem apresentando. →Às vezes, os sintomas descritos poderão ser mais característicos de doença ulcerosa péptica, colelitíase ou doença arterial coronariana. →A presença de regurgitação indica progressão da doença. Alguns pacientes serão incapazes de se inclinar sem experimentar um episódio desconfortável. →Deve-se fazer uma distinção entre a regurgitação de alimentos digeridos e de não digeridos. →Alimentos não digeridos no conteúdo regurgitado são indicativos de um outro processo patológico, como um divertículo esofágico ou acalasia. →Além de azia e regurgitação, alguns pacientes sofrem de disfagia. Com maior frequência, a disfagia representa uma obstrução mecânica, sendo mais pronunciada na ingestão de sólidos do que na de líquidos. →Se a disfagia para sólidos e líquidos ocorre em um mesmo momento e com a mesma intensidade, deve-se suspeitar de um distúrbio neuromuscular. →Quando um paciente apresenta disfagia, a estenose péptica do esôfago distal é provavelmente a causa. No entanto, tumor, divertículos e distúrbios motores precisam ser excluídos porque essa determinação afetará a abordagem cirúrgica. →Outros sintomas poderão estar presentes em pacientes com refluxo gastroesofágico. →A maioria é proveniente do trato gastrointestinal; entretanto, muitos pacientes terão sintomas relacionados ao trato respiratório, também chamado de sintomas extraesofágicos. EXAME FÍSICO →O exame físico dos pacientes com DRGE raramente contribui para confirmar o diagnóstico. →Em pacientes com doença avançada, várias observações podem ajudar na identificação da origem de seu desconforto. →Um paciente que constantemente bebe água durante a entrevista está facilitando o esvaziamento esofágico, o que pode ser indicativo de refluxo contínuo ou obstrução distal. →Outros pacientes com doença avançada ficarão sentados inclinando-se para a frente e permanecerão durante a entrevista com seus pulmões inflados próximo à capacidade vital. Essa é uma tentativa de manter o diafragma retificado,o diâmetro anteroposterior do hiato esofágico, estreitado, e, dessa forma, a pressão do EEI, elevada. →Pacientes com refluxo proximal importante e com regurgitação de conteúdo gástrico para a cavidade oral podem ter erosão da sua dentição (revelando dentes amarelados pela perda da dentina), mucosa orofaríngea inflamada ou sinais de sinusite crônica. →O exame físico pode ser útil na determinação de outras doenças. →A presença de linfonodos supraclaviculares anormais em um paciente com queimação e disfagia pode sugerir câncer esofágico ou gástrico. →Se a dor retroesternal do paciente puder ser induzida com palpação, é provável, então, uma causa somática. →Excluídas essas apresentações extremas, o exame físico geralmente pouco contribui para a confirmação ou exclusão do refluxo gastroesofágico como causa dos sintomas. AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA →A rotina pré-operatória de um paciente candidato ao tratamento cirúrgico ajudará a confirmar o diagnóstico, a excluir outras entidades mórbidas e a direcionar a intervenção operatória. ENDOSCOPIA →A endoscopia é um passo essencial para os pacientes com DRGE que estão sendo considerados para intervenção cirúrgica. →Esse estudo tem valor na sua habilidade para excluir outras doenças, especialmente tumores, e em documentar a presença de lesão péptica no esôfago. →O grau de lesão pode ser medido usando-se um escore como o de Savary-Miller (o grau 1 indica eritema; 2, ulceração linear; 3, ulcerações convergentes, e 4, estenose). →O extremo de lesão da mucosa é o esôfago de Barrett. →Amostras de biópsias têm sido usadas para confirmar o desenvolvimento de metástases e excluir disfagia. →O endoscópio tem sido empregado para graduar a chamada válvula em aba. →Isso é interpretado numa visão retrofletida da junção gastroesofágica. →A válvula é graduada de 1 a 4, sendo o grau 4 uma junção completamente patulosa (“patente”), com o lúmen esofágico totalmente visível a partir do corpo do estômago. BIÓPSIA NA ENDOSCOPIA →Deve ser realizada em todos os pacientes com úlcera e /ou estenose. →Está indicada em caso de reepitelização com mucosa avermelhada, circunferencial ou não, com extensão de pelo menos 2 cm, acima do limite das pregas gástricas. Nesse caso, o diagnóstico endoscópico deve ser anunciado como “sugestivo de esôfago de Barrett”. →Está indicada nos casos de reepitelização com mucosa avermelhada, menor que 2 cm de extensão. O diagnóstico endoscópico deve ser enunciado como “sugestivo de epitelização colunar do esôfago distal”. →Não deve ser realizada na fase aguda da esofagite erosiva, sem úlcera, estenose ou suspeita de metaplasia colunar. MANOMETRIA →Um número importante de informações sobre a função do corpo esofágico e do EEI pode ser obtido através da manometria esofágica estática. →Este teste permitirá ao cirurgião excluir distúrbios primários de motilidade como acalasia, que podem simular os sintomas de refluxo, e em pacientes com DRGE, possibilitará que o cirurgião planeje o melhor procedimento cirúrgico, fornecendo dados sobre a capacidade do esôfago para limpar-se do alimento ingerido. →O cateter de manometria é um tubo flexível com dispositivos sensíveis à pressão (preenchidos por água ou em estado sólido) organizados em intervalos de 5 cm. →O esfíncter esofágico superior (EES) é notoriamente difícil de ser analisado, pois ele migra de posição durante a fase cervical da deglutição. →Felizmente, as características do EES são raramente relevantes para a prática clínica. →As informações pertinentes a serem obtidas com os traçados manométricos se referem à função do EEI e do corpo esofágico. →O EEI é analisado para a pressão média de repouso. →Outras informações a serem obtidas do EEI são o comprimento total, o comprimento intra- abdominal e a distância do esfíncter em relação às narinas. →Quanto mais longa a zona de alta pressão e quanto maior o componente intra-abdominal, maior é a barreira ao refluxo dos conteúdos gástricos. →O corpo esofágico é aferido para determinar a efetividade da peristalse. →Com os quatro canais posicionados em 3, 8, 13 e 18 cm acima do EEI, é fornecida uma série de alíquotas de 5 mL de água para ser deglutida (no mínimo 10). →A atividade peristáltica é reportada como a porcentagem de deglutições iniciadas que são transmitidas a cada canal com sucesso. Normalmente, um paciente deve ter acima de 80% de peristalse. →A segunda característica de importância clínica é a amplitude da onda peristáltica. A amplitude é simplesmente a média das pressões geradas no esôfago distal durante as ondas peristálticas transmitidas de forma efetiva. →A motilidade esofágica ineficaz é definida como menos de 70% de peristalse ou amplitudes menores que 30 mmHg e é frequentemente associada com DRGE importante. MONITORIZAÇÃO DO PH →O padrão-ouro para diagnóstico e quantificação do refluxo ácido é a pHmetria de 24 horas. →Esse estudo é realizado colocando-se um cateter fino contendo um ou mais eletrodos sólidos no esôfago. Os eletrodos são espaçados entre si em 5 a 10 cm e são capazes de captar flutuações no pH entre 2 e 7. →Os eletrodos são conectados a um gravador de dados que o paciente veste durante o período de observação. →Há um relógio digital inserido no gravador. →Quando o paciente tem um evento (p. ex., queimação, dor torácica, eructação), ele deve marcar o evento em um diário, anotando o horário no gravador. →Uma grande quantidade de informações pode ser adquirida a partir do estudo – total número de episódios de refluxo (pH < 4), o episódio de refluxo, número de episódios que duram mais de 5 minutos, grau de refluxo na posição ereta e grau de refluxo na posição supina. →Um escore geral é obtido usando-se uma fórmula que assinala um peso para cada item, de acordo com sua capacidade de causar lesão esofágica. →Esse valor, conhecido como escore de DeMeester, deve ser inferior a 14,7. →Uma maneira mais simples para determinar se está ocorrendo um refluxo anormal é estimar o percentual total de tempo em que o pH está abaixo de 4 nos canais proximais e distais. →Isso é calculado dividindo-se quanto o pH era inferior a 4 pela duração total do estudo e multiplicando por 100. →No esôfago proximal (15 cm acima do EEI), a exposição ácida normalmente ocorre menos de 1% do tempo; no esôfago distal (5 cm acima do EEI), normalmente ocorre menos de 4% do tempo. →O diário de sintomas do paciente deve ser correlacionado com os episódios de refluxo. →A correlação entre a queimação retroesternal ou dor torácica com uma queda do pH tem valor clínico significativo porque ajuda a confirmar uma relação de causa e efeito. INDICAÇÕES DE PHMETRIA →Pacientes com sintomas típicos de DRGE que não apresentam resposta satisfatória ao tratamento com inibidor da bomba protônica e nos quais o exame endoscópico não revelou dano à mucosa esofágica. Nesses casos, o exame deve ser realizado na vigência da medicação. →Pacientes com manifestações atípicas extra-esofágicas sem presença de esofagite. Nesses casos, recomenda-se a realização do exame pHmétrico com dois ou mais canais sensores de pH para caracterização simultânea do refluxo gastroesofágico e do refluxo supraesofágico (laringofaríngeo). →Pré-operatório nos casos bem caracterizados, em que o exame endoscópico não revelou esofagite. TRATAMENTO E RESULTADO TRATAMENTO CLÍNICO →Quando um paciente é visto pela primeira vez, não é necessária uma investigação extensa se a história e o exame físico são consistentes com DRGE. →Seria prudente investigar anemia crônica nesse paciente e prescrever terapia medicamentosa com supressão de ácido por 6 semanas. →A maioria dos autores concorda que uma dose dupla de um IBP é a abordagem inicial no tratamento clínico. →Desta maneira, o uso de terapia clínica torna-se uma ferramenta diagnóstica.Se os sintomas persistirem após uma tentativa de terapia, uma avaliação mais extensa, como descrito anteriormente, estaria indicada. →Os medicamentos disponíveis para tratar o refluxo ácido incluem antiácidos, agentes pró-cinéticos, bloqueadores de histamina 2 e IBP. →O tratamento farmacológico da DRGE tem sido revolucionado pelo advento dos IBP. →Essas substâncias agem ligando irreversivelmente a bomba de prótons nas células parietais do estômago, assim efetivamente interrompendo a produção de ácido gástrico. →O efeito máximo ocorre após aproximadamente 4 dias de tratamento, e os efeitos persistirão durante o restante da vida da célula parietal. →Assim, a supressão ácida irá persistir por 4 a 5 dias após a terapia terminar, de modo que o paciente precisa interromper a terapia por 1 semana antes de ser avaliado com monitoração do pH. →Em comparação com bloqueadores de H2, os IBP são mais efetivos na cicatrização de ulcerações esofágicas secundárias à exposição ácida. →Esses medicamentos são relativamente caros, mas são bem tolerados. →Efeitos colaterais podem incluir cefaleia, dor abdominal, flatulência, constipação e diarreia. →Vários estudos têm revelado uma associação entre o uso de IBP a longo prazo e aumento do risco de deficiências nutricionais e complicações infecciosas. →Outros estudos ligaram o uso prolongado de IBP à formação de pólipos gástricos, ocorrendo geralmente com mais de 1 ano de tratamento. A maioria destes pólipos é hiperplásica e não parece ser maligna. →Os pacientes que não apresentam resposta totalmente satisfatória ao tratamento com IBP por 12 semanas devem ter a dose de IBP dobrada por mais 12 semanas, antes de se determinar um insucesso terapêutico. TRATAMENTO CIRÚRGICO →As indicações para tratamento cirúrgico mudaram desde o advento de IBP. →Pacientes com evidência de lesão esofágica grave (p. ex., úlcera, estenose, mucosa de Barrett) e resolução incompleta dos sintomas ou recaídas durante o tratamento médico são candidatos à cirurgia. Válvula de 360 Graus (Abordagem pelo Pilar Esquerdo) →Fundoplicatura à Nissen, que deve ser o procedimento de escolha para a maioria dos doentes. →Essa abordagem tem a vantagem de fornecer acesso direto e precoce aos vasos gástricos curtos e ao baço. →Uma vez vencido esse obstáculo, há pouca chance de lesão esplênica durante o restante do procedimento. →O paciente é colocado em posição de litotomia (coloca-se um suporte para deixar o paciente com o quadril e joelhos fletidos) →O cirurgião posiciona-se entre as pernas do paciente, enquanto o assistente fica do lado esquerdo. →Quatro trocartes e o afastador de fígado são colocados para que sejam criados dois triângulos equiláteros compartilhando um ângulo medial comum. →O cirurgião opera através dos dois portais mais cefálicos. →O assistente opera através dos dois portais caudais mais próximos. →O afastador de fígado é colocado imediatamente à esquerda da linha média, na região subxifoide. →Com o assistente afastando primeiro a grande curvatura e depois o omento, o pilar esquerdo e a grande curvatura são dissecados pelo cirurgião. →Os vasos gástricos curtos são abordados precocemente para mobilizar o fundo. →Com o fundo mobilizado, a membrana frenoesofágica sobre o pilar esquerdo deve ser dissecada até que as fibras crurais sejam identificadas. →A extensão completa do pilar esquerdo é mobilizada nessa hora. →A dissecção do pilar direito é, então, realizada abrindo-se o pequeno omento e mobilizando- o até a membrana frenoesofágica à direita. →A dissecção anterior e posterior do pilar direito revelará o pilar esquerdo já dissecado. →Deve-se ter cuidado em preservar os vagos anterior e posterior durante essa mobilização. Ambos serão contidos na válvula. →Um dreno de Penrose é colocado ao redor do esôfago para facilitar a dissecção mais proximal e ajudar na confecção da válvula. →Uma vez que o esôfago esteja mobilizado, os pilares são reaproximados posteriormente com firmes pontos de fio inabsorvível, possibilitando a passagem de uma vela de 52 French com facilidade. →A face posterior do fundo gástrico é, então, passada por trás do esôfago, da esquerda para a direita. →A válvula é criada numa extensão de 2,5 a 3 cm com três ou quatro pontos ininterruptos de fio permanente. →Esse reparo deve também permitir a passagem de uma vela de 52 French com facilidade. →Com a vela removida, a válvula é ancorada ao esôfago e ao pilar direito no hiato. →Isso ajuda a prevenir herniação e deslizamento. →Uma sutura similar é confeccionada à esquerda. →A válvula é ancorada anterior e posteriormente aos pilares com duas suturas adicionais. →A válvula é inspecionada. A linha de sutura deve repousar imediatamente à direita da linha média do esôfago. →O aspecto posterior da válvula não deve ter estômago redundante, o que implicaria que a válvula tivesse sido confeccionada muito baixa, possivelmente com o corpo e não com o fundo gástrico. →Deve haver um tênue deslizar da válvula sobre a grande curvatura. Se ela for angulada abruptamente, pode haver muita tensão no fundo gástrico. →Quando todos esses passos estiverem completos, a válvula estará terminada. COMPLICAÇÕES →Em geral, complicações têm sido relatadas em 3% a 10% dos pacientes. →Muitas complicações são menores e estão relacionadas à intervenção cirúrgica em geral (p. ex., retenção urinária, infecção da ferida, trombose venosa, íleo adinâmico). →Outras são relacionadas especificamente ao procedimento ou abordagem (p. ex., lesão esplênica, perfuração de víscera oca, disfagia, pneumotórax). →As complicações podem ser divididas nas identificadas no período operatório e nas observadas no pós-operatório. →Sangramentos e Úlceras CONSIDERAÇÕES ESPECIAIS →Dentro do espectro da DRGE, existem várias condições que devem receber atenção especial. O cirurgião deve estar atento a essas variações e às considerações a elas relacionadas. ESTENOSES →As estenoses impõem um problema sério ao paciente com DRGE, embora com o aperfeiçoamento das terapias clínicas isso seja uma complicação um tanto rara atualmente. →A disfagia, um sintoma mais preocupante, muitas vezes acaba sendo decorrente da formação de uma estenose. →Além disso, as estenoses são oriundas de inflamações agudas e crônicas, que não só diminuem o diâmetro do esôfago como também encurtam o esôfago, dificultando sobremaneira uma intervenção cirúrgica. →A avaliação desses pacientes pode ser mais difícil, já que a presença de uma estenose grave pode impedir o refluxo num estudo de pH de 24 horas. Esse estudo deve ser idealmente realizado após a dilatação. →Outras causas de estenose (tumor, estenose cáustica) devem ser excluídas antes da operação. →Estenoses resultantes da DRGE são indicativas de doença de longa duração e podem estar associadas a um encurtamento do esôfago ou ao esôfago de Barrett. →A terapia mais efetiva para uma estenose péptica do esôfago é a operação antirrefluxo. →Embora haja evidências para apoiar o controle sintomático efetivo com dilatações endoscópicas e terapia de manutenção com IBP, o tratamento cirúrgico resulta em menor número de dilatações por paciente. ESÔFAGO DE BARRETT →Em alguns pacientes, a exposição ácida prolongada e possivelmente a lesão alcalina levam a uma mudança na mucosa esofágica do seu epitélio escamoso usual para uma configuração colunar (esôfago de Barrett). →As células quase sempre se estendem em sentido proximal à junção escamocolunar num padrão contíguo. →Se o esôfago de Barrett é encontrado, múltiplas biópsias são necessárias para excluir displasia, o que pode indicar uma tendência para o desenvolvimento de um adenocarcinoma. →Embora a incidência de adenocarcinoma em pacientes com esôfago de Barrett seja cerca de 40 vezes maior do quena população em geral (estudos de Barrett com incidência aumentada), a incidência de câncer nesses pacientes é ainda muito baixa. →Em virtude de o esôfago de Barrett ser o resultado de lesões repetidas da mucosa por refluxo gastroesofágico (de ácido ou bile), pode-se esperar que um procedimento antirrefluxo diminua a taxa de displasia e câncer, no entanto, a evidência na literatura não é conclusiva. →Independentemente do impacto de um procedimento antirrefluxo na evolução do esôfago de Barrett, pacientes são examinados endoscopicamente para vigilância da metaplasia após a operação. Referência: Sabiston – Tratado de Cirurgia, 19 edição.
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