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Fabiano Larentins COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR 2010 IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados. © 2010 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: IESDE Brasil S.A. L321 Larentis, Fabiano. / Comportamento do consumidor. / Fabiano Larentis. — Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2010. 236 p. ISBN: 978-85-387-1115-5 1.Comportamento do consumidor. 2.Pesquisa motivacional (Marketing). I.Título. CDD 658.8342 Fabiano Larentis Doutorando em Administração pela Univer- sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Administração com ênfase em Mar- keting pela UFRGS. Especialista em Gestão Estratégica em Marketing pela Universida- de de Caxias do Sul (UCS). Graduado em Ad- ministração, com habilitação em Comér- cio Exterior pela UCS. Tem experiência na área de Administração com ênfase em Mar- keting, atuando principalmente nos seguintes temas: marketing de relacionamento, interna- cionalização, pesquisa de marketing, satisfação de clientes e marketing internacional. Professor de graduação e pós-graduação. su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor 9 9 | Introdução 9 | O consumidor e o consumo 12 | Definições de comportamento do consumidor 14 | Características do comportamento do consumidor 18 | Classificações de clientes 21 | Comportamento do consumidor e o marketing Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias 31 31 | Introdução 32 | Reconhecimento do problema 34 | Busca de informações 37 | Avaliação das alternativas e decisão de compra Processo de decisão do consumidor – etapas finais 47 47 | Introdução 47 | Ato de compra 49 | Avaliação pós-compra e consumo 58 | Descarte de produtos Características individuais do consumidor 67 67 | Introdução 68 | Recursos do consumidor 69 | Conhecimento do consumidor 70 | Personalidade, valores, estilos de vida e autoconceito 72 | Percepções 73 | Atitudes 75 | Motivações e necessidades 78 | Envolvimento 79 | Emoções e sentimentos 80 | Aprendizagem Influências culturais no comportamento do consumidor 91 91 | Introdução 91 | Influências culturais Influências sociais no comportamento do consumidor 107 107 | Introdução 107 | Classes sociais 113 | Grupos de referência 115 | Famílias e domicílio Influências situacionais no comportamento do consumidor 125 125 | Introdução 126 | Situações de comunicação 127 | Situações de compra 133 | Situações de uso Marketing de relacionamento: conceitos, tipos e características 141 141 | Introdução 141 | Definições de marketing de relacionamento 144 | Satisfação, valor e lealdade 148 | Relacionamento interno, com consumidores finais e com empresas 150 | Níveis de relacionamento 151 | Relacionamentos e tecnologia su m ár io su m ár io su m ár io su m ár io Planejamento do relacionamento: aplicações estratégicas e táticas 155 155 | Introdução 155 | Estratégias de marketing de relacionamento 160 | Programas de satisfação 162 | Programas de fidelidade Tipos de tomada de decisão 169 169 | Introdução 169 | Decisões rotineiras 173 | Decisões limitadas 174 | Decisões extensivas 175 | Relação dos tipos de decisão com as ações de marketing Estratégias de marketing e o comportamento do consumidor 185 185 | Introdução 186 | Marketing e o processo de decisão 188 | Marketing e as características individuais do consumidor 191 | Marketing e as influências ambientais 192 | O consumidor e a difusão de inovações O consumidor e a sociedade 201 201 | Introdução 201 | Consumerismo e direitos do consumidor 206 | Consumo consciente e sustentabilidade Gabarito 217 Referências 229 Anotações 235 Introdução C om portam ento do C onsum idor Marketing é um processo e uma área orga- nizacional relacionada à identificação e satis- fação de necessidades e desejos dos clientes. Implica, portanto, entender e atender os mer- cados-alvo de determinada empresa, melhor que os concorrentes, através de produtos e serviços. Assim, para atender esses mercados, dos quais fazem parte clientes organizacio- nais e consumidores finais, deve-se compre- ender como estes se comportam. Deve-se entender, então, como acontece a escolha de marcas, produtos e serviços e como se desenvolve a compra e o consumo. Ao final, deve-se identificar como ocorreu a avaliação pós-compra, principalmente se houve satisfação ou insatisfação. Desta maneira, essa disciplina tem como objetivo básico possibilitar ao aluno a articu- lação, mobilização e aplicação, em contextos específicos, de definições e processos relacio- nados ao comportamento do consumidor. Para tanto, são abordadas as principais defi- nições, processos e categorizações a respeito do tema. Ademais, são descritos e analisados alguns contextos de aplicação desses elemen- tos na atividade de marketing. Este livro apresenta os conceitos introdu- tórios do tema “comportamento do consu- midor”; as etapas iniciais e finais do processo de decisão do consumidor; as características individuais do consumidor; as influências am- bientais no comportamento do consumidor: influências culturais, influências sociais e in- fluências situacionais, respectivamente; apre- senta os tipos de tomada de decisão e as re- lações entre comportamento do consumidor e a atividade de marketing. Por fim, trata do consumidor e de seus direitos e responsabili- dades na sociedade. Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor Introdução Na atualidade, é inquestionável a importância dada ao consumidor e aos clientes. Empresas buscam de diversas formas oferecer o que os consumido- res precisam, para torná-los leais. Os níveis de concorrência são elevados, a entrada (e saída) de produtos no mercado é elevada, os consumidores pos- suem ao seu dispor uma diversidade cada vez maior de produtos e serviços, assim como um volume considerável de informações relacionadas a isso. No entanto, para lidar com esse ambiente, as empresas precisam en- tender não apenas quem são seus mercados-alvo, em outras palavras, seus clientes e consumidores-alvo. Precisam conhecer, fundamentalmente, como esse consumidor se comporta, como ele reage em relação aos estímulos do ambiente – tanto das empresas quanto da sociedade – como ele pode reagir a favor ou contra determinados produtos e determinadas empresas. O objetivo desta aula é, desta forma, permitir ao aluno uma visão inicial a respeito do comportamento do consumidor. Serão abordados, inicialmente, o consumidor e o consumo e definições de comportamento do consumidor. Em seguida, características do consumidor e as classificações de clientes. Por fim, as relações entre comportamento do consumidor e o marketing. O consumidor e o consumo O consumo faz parte do dia a dia de todos. O consumo é retaguarda do sistema econômico, considerando que vivemos em um sistema capita- lista. Quantas empresas e empreendedores surgem no intuito de atender às necessidades das pessoas? Quantas empresas desaparecem porque não conseguiram dar conta das exigências dos clientes e de suas reclamações? Quantos empregos são gerados a partir da satisfação de necessidades, trans- formada em produtos e serviços? Quantos impostos são gerados a partir do que as empresas produzem e do que os consumidores compram e con- 10 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor somem? Mesmo que se admita que algumas empresas não são honestas quanto às propagandas que divulgam e aos produtos que oferecem (e isso pode acontecer em outras atividades da vida humana), é importante ressal- tar que empregos e impostos são gerados a partir de empresas que ofere- cem produtos e prestam serviços.Paralelo a isso, através de uma perspectiva social, o consumo, por fazer parte das nossas vidas e do nosso cotidiano, ajuda a moldar a sociedade. Quantas marcas e produtos podem ser considerados símbolos de determi- nados países? Existe atualmente uma cultura do consumo, ou seja, diversos valores, costumes e atitudes calcados nas ações de compra e consumo. Isso não é algo recente: muitos produtos já serviam, no passado, para atender desde necessidades fisiológicas e de segurança (comprar roupas no início da Revolução Industrial) até necessidades ligadas ao ego e ao status (os gastos feitos pelas cortes europeias no século XVIII, como a francesa, por exemplo, para demonstrar riqueza e opulência; os luxuosos palácios construídos para demonstrar poder). No entanto, na atualidade esse movimento se intensifi- cou, até porque se intensificaram, e se globalizaram, as formas de comunica- ção, os transportes, o número de empresas e de inovações: aumentaram os números de habitantes no mundo com poder de compra. Hoje temos, por exemplo, o consumidor global e o consumidor virtual. Além disso, como indica Solomon (2002), existem diversas situações liga- das ao chamado lado negro do consumo, como o consumo vicioso (uma de- pendência fisiológica e/ou psicológica de produtos ou serviços), o consumo compulsivo (o comprar repetitivo, muitas vezes excessivo, como um antído- to para a tensão, ansiedade, depressão ou tédio – não confundir com compra por impulso) e o consumidor consumido (em que os próprios consumidores se tornam mercadorias, como a venda de cabelos para fabricar perucas ou apliques). Temos neste caso a Índia, que é reconhecida por ser uma grande exportadora de madeixas, principalmente pelo corte do cabelo por inteiro ter relação com questões culturais. Há também as atividades ilegais, como o roubo de produtos pelo consumidor, assim como o anticonsumo, ou seja, produtos descaracterizados ou mutilados, tanto em sua forma quanto em relação à sua imagem. Isso não deixa de ser um retrato, um reflexo da sociedade em que vive- mos. Não significa que as empresas envolvidas nessas atividades sejam ino- centes (e há questões éticas e legais que podem ser levantadas em relação a isso), mas que toda a sociedade está envolvida no consumo. Se nossos dias Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor 11 fossem retratados daqui a 30 anos, se houvesse a criação de um museu re- tratando nossos hábitos e costumes, seguramente um dos pontos a enfatizar seria o consumo. Não se pode esquecer, além disso, que o consumidor está cada vez mais sofisticado, ou seja, com mais informações disponíveis (é só lembrar das fer- ramentas de busca na internet, como o Google, e a rapidez do acesso a infor- mações), com mais conhecimento a respeito de produtos, serviços e práticas de marketing das organizações, com mais exigência, portanto, em relação a produtos e serviços, apresentando maiores níveis de insatisfação e menores níveis de lealdade. O incremento da concorrência e do número de opções disponíveis para comprar, as facilidades de crédito e a ampliação e melhoria dos sistemas de comunicação (principalmente a internet) fez com que o con- sumidor ganhasse poder e se tornasse mais exigente. O consumidor também está mais amparado, e preparado, para exigir seus direitos. Há algumas décadas surgiram movimentos de defesa de direitos li- gados ao consumo, tal como o consumerismo (que não é a mesma coisa que consumismo), iniciado nos Estados Unidos na década de 1960 (ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2000), assim como leis relacionadas a isso (o Código de Defesa do Consumidor brasileiro é de 1990). Muitas escolas, atualmente, oferecem educação ligada ao consumo para seus estudantes. Isso tudo faz com que se reduzam práticas ilegais relacionadas ao consumo por parte de determinadas organizações. O consumo, portanto, faz parte do nosso cotidiano, desde o momento em que, com dificuldade, tentamos escolher uma dentre diversas opções de produtos em uma prateleira de supermercado (ainda mais quando co- nhecemos pouco sobre o produto que procuramos) até o momento em que pagamos pela mercadoria no caixa. O consumo nos leva a investir tempo em determinadas situações, desde uma fila em um restaurante, o tempo que se gasta para fazer uma pesquisa sobre a melhor relação custo – benefício de determinado produto ou serviço (o chamado valor para o cliente) até uma ida a um supermercado que fica do outro lado da cidade, demandando gasto de tempo e esforço de deslocamento, em função de uma liquidação “imperdível”. O consumo também nos gera determinados sentimentos, como o de dúvida por não saber o que comprar, de ansiedade por ainda não ter usufru- ído de determinado produto (por exemplo, um computador que precisamos 12 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor que funcione com urgência ou um livro que não sabemos qual é o final) e de satisfação ou frustração pelo produto ou serviço ter desempenhado, ou não, o que esperávamos. Afinal, como reforça Solomon (2002): “você é o que você consome”. Definições de comportamento do consumidor Como visto no tópico anterior, o consumo faz parte de nossas vidas. Somos todos consumidores. Segundo Sheth, Mittal e Newman (2001), em- presas que apresentam bons desempenhos (crescimento de vendas, au- mento de participação de mercado e aumento da lucratividade) junto a seus mercados, ou seja, junto a seus clientes e consumidores, conseguem isso porque compreendem e tornam realidade (aplicam) a razão de ser do negócio (satisfazer o cliente), praticam o conceito de marketing (identificar e oferecer o que os mercados precisam, e melhor do que a concorrência) e alcançam o foco no cliente, o que leva a servir melhor as necessidades da so- ciedade. O servir melhor as necessidades da sociedade é garantia, portanto, de melhores resultados. Importante destacar que marketing não está relacionado apenas em ações de comunicação (como propaganda, publicidade ou venda pessoal), mas toda e qualquer atividade relacionada à compreensão e ao atendimento das necessidades e desejos dos mercados (ou seja, clientes e consumidores). Como apresentava Richers (2000), marketing é, de forma resumida, entender e atender mercados. Além disso, é importante frisar que necessidades, con- forme Solomon (2002), são motivos biológicos, carências básicas de natureza fisiológica e psicológica (como ter sede ou mostrar-se melhor que os outros, necessidade de ego) e desejos que representam os modos que a sociedade nos ensinou, pelos quais a necessidade pode ser satisfeita (tomar um suco de laranja ou comprar um carro importado). O desejo é, de certa forma, a neces- sidade vestida com uma roupa feita de tecidos culturais e sociais. Em relação a isso, a necessidade está presente, mesmo que escondida, e os profissionais de marketing procuram maneiras de satisfazê-la. O objetivo do marketing é despertar, assim, a consciência de que necessidades existem (não criar a necessidade propriamente dita). Dessa forma, em uma sociedade na qual o consumo permeia a vida de todos, percebe-se a necessidade, por parte dos gestores, especificamente Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor 13 os de marketing, de se compreender o comportamento do consumidor. En- tender, como indagam Sheth, Mittal e Newman (2001), por que os consumi- dores compram, o que compram, por que eles respondem aos estímulos de mercado da maneira que o fazem e como o comportamento do consumidor explica a maneira pela qual os vendedores se comportam. Todavia, o que é o comportamento do consumidor? Seguem duas definições. A primeira definição, de Engel, Blackwell e Miniard (2000), destaca com- portamento do consumidor como aquele que compreende as atividades di- retamente envolvidas na obtenção, consumo e descarte de produtos e ser- viços, incluindo o processo de decisão que precede e segue estas ações. Há uma relação, então, com um processo que envolvedesde a compra de um produto ou serviço até o seu descarte (o consumidor se desfazer do produ- to), passando pelo consumo. Essa decisão não ocorre apenas no momento de decidir pela escolha de determinado produto ou serviço, mas no momento de definir como, quando e onde consumir e descartar. Por exemplo, o interesse em trocar de apare- lho celular, já que o antigo está muito velho e apresentando um mau as- pecto, pode levar a buscar informações sobre novos modelos, avaliar preços e propostas (o que inclui “ganhar” o celular da operadora), escolher aquele mais adequado às necessidades do consumidor, aprender a utilizá-lo e, além disso, saber onde e como descartar o aparelho antigo, uma vez que não é recomendado colocá-lo em lixo convencional, em função de sua bateria. Se apresentam, portanto, a compra, o consumo e o descarte, influenciados por ações de marketing, por questões situacionais e culturais, e pela causa ecológica. A segunda definição, baseada em Sheth, Mittal e Newman (2001), indica o comportamento do consumidor como as atividades mentais, físicas e so- ciais realizadas pelos consumidores, que resultam em decisões e ações de pagar, comprar e usar produtos/serviços, assim como descartá-los, conforme a situação. Em relação a isso, as atividades mentais são todas aquelas relacionadas ao processamento de informações e de tomada de decisão do produto, ou seja, um caráter predominantemente psicológico. Entre elas, avaliar uma marca, inferir qualidade a partir de um anúncio, escolher um produto dentre diver- sas alternativas, avaliar experiências de consumo e decidir a melhor forma de descarte. 14 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor As atividades físicas, por sua vez, são aquelas envolvidas nos desloca- mentos, esforços físicos e gastos de energia do consumidor relacionados à compra, consumo e descarte (caráter predominantemente biológico do con- sumidor). Como, por exemplo, deslocar-se até o ponto de venda, visitar a loja, pagar, armazenar o produto, utilizá-lo ou consumi-lo e colocar uma embala- gem no lixo. Já as sociais são as relacionadas às interações entre as pessoas nos processos de compra, consumo e descarte (caráter predominantemente sociológico e antropológico do consumo). Podemos citar como atividades sociais, também, visitar lojas e pagar, assim como reclamar do atendimento e solicitar informações ao vendedor. É importante destacar que uma atividade de compra, consumo e des- carte pode ter características mentais, físicas e sociais. Enquanto a pessoa decide por um produto (atividade mental), pode estar se deslocando dentro de determinada loja em busca de outros produtos (atividade física) e inte- ragindo com vendedores (atividade social). Quando faz a escolha e efetua o pagamento, provavelmente estará interagindo com o caixa. Características do comportamento do consumidor O comportamento de consumo apresenta diversas características. Consi- derando Solomon (2002), Sheth, Mittal e Newman (2001) e Engel, Blackwell e Miniard (2000), percebe-se que o comportamento do consumidor é mo- tivado, é um processo, inclui várias atividades, envolve diferentes papéis, é influenciado por fatores externos, difere entre as pessoas e é complexo. Primeiramente, o comportamento do consumidor é motivado. Isso porque ele busca satisfazer necessidades e desejos. A partir disso, há um problema a ser resolvido (como comprar um produto ou usufruir de um serviço) e o con- sumidor se move para isso. A motivação é de ordem interna do consumidor, ou seja, ninguém motiva ninguém, é a própria pessoa que se motiva. Em segundo lugar, o comportamento do consumidor é um processo, ou seja, algo que apresenta etapas em sequência, encadeadas de forma dinâmi- ca e contínua. Por ser contínuo, pode receber influências de diversos tipos, como, por exemplo, as de ordem pessoal (como as emoções) e de ordem externa (como a cultura). Como processo, envolve desde a compra de um produto ou serviço até o seu descarte (o consumidor se desfazer do produ- to), passando pelo consumo. Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor 15 Assim, primeiramente o consumidor reconhece que possui um problema (a necessidade ou falta de um produto ou serviço), em seguida busca infor- mações em relação a isso, depois avalia as alternativas, decide e compra. Por fim, consome, efetua uma avaliação pós-compra (se está satisfeito ou insatis- feito) e descarta produtos ou suas partes (como embalagens). Dependendo da importância que o consumidor dá à compra e consumo de determinado produto ou serviço, das suas experiências anteriores, do tempo que ele tem disponível para decidir e dos recursos disponíveis, ele pode levar mais tempo na decisão, na forma de consumir e na forma de descartar. Em terceiro lugar, o comportamento do consumidor inclui várias ativida- des. Como visto nas definições apresentadas anteriormente, há atividades como escolha, compra, consumo e descarte, envolvendo características físi- cas, mentais e sociais. Em quarto lugar, o comportamento do consumidor envolve diferentes papéis. Nesse caso, nós temos o usuário do produto ou serviço, o pagador por determinado produto ou serviço e o comprador. Uma mesma pessoa pode exercer todos esses papéis ou ele pode ser exercido por diversas pes- soas. Também existem os papéis em compras familiares, como o iniciador, o influenciador, o decisor, o comprador e o usuário. Essa característica será apresentada com mais detalhes em seguida. Em quinto lugar, o comportamento é influenciado por fatores externos. Temos como fatores externos as ações de marketing, como as relacionadas ao produto (características, qualidade, embalagem, marca, serviço, ciclo de vida do produto), preço (relação custo x benefício, percepção de preço justo, comparação com a concorrência), comunicação (propaganda, publicidade, relações públicas, promoção de vendas, venda pessoal, merchandising, even- tos, marketing direto) e distribuição (ponto de venda, ambiente do ponto, localização do ponto, empresas envolvidas para disponibilizar o produto no tempo e no local certo, distribuição física/logística). Temos também, em relação a isso, as influências situacionais, como a tarefa de comprar e o esforço dispendido, o tempo disponível, o ambiente físico de compra e as condições do momento (clima, o humor, o que aconte- ceu no dia anterior, os compromissos assumidos, o stress, a ansiedade). Outro fator externo importante são as influências sociais, como a cultura (valores, crenças, costumes e hábitos de compra e consumo), a classe social (recursos envolvidos, produtos que representem ostentação e status, classe social que se almeja ser um dia) e os grupos de referência (grupos que influenciam a 16 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor tomada de decisão, uma vez que são tomados como referência para certos comportamentos, como os adolescentes, por exemplo). Em sexto lugar, o comportamento do consumidor difere entre as pessoas. Isso porque não existem consumidores iguais. Se fossem iguais, não seria necessário oferecer diversos tipos de produtos e serviços a diversos públicos. É importante alertar que, quando se comenta que o comportamento difere entre as pessoas, temos que cuidar, como gestores, para não apresentarmos uma atitude na qual consideramos que a forma como nos comportamos é igual à forma como os outros se comportam nas compras e consumo de pro- dutos e serviços, não identificando diferenças. Por fim, o comportamento do consumidor é complexo. Importante indi- car que complexus, em latim, significa “tecido em conjunto”. Ou seja, nada é independente, o que há é interdependência. Nesse caso, são incluídos diver- sos elementos e variáveis inseridos em diferentes contextos. Dessa forma, a mudança em um elemento, como, por exemplo, o humor do consumidor ou uma falta de tempo para comprar, dependendo do contexto envolvido, como a falta de mercadoria em determinadaloja ou um atendente desaten- to, pode gerar alterações em outro elemento, nesse caso o nível de satisfação e a efetivação da compra. Em relação a isso, como exemplo, um consumidor que escolheu uma roupa em um magazine, mas um possível mau humor dele naquele dia, as- sociado a um possível mau humor da atendente que trabalha no caixa para cobrar por esse produto pode levar a uma desistência da compra. Ou seja, o consumidor foi afetado por uma questão circunstancial naquele dia (o nosso mau humor), que se combinou com o mau humor de um dos funcionários do varejo, o que não permitiu a efetivação da compra. Um simples detalhe (se pode ser considerado detalhe) determinou o fim de uma compra, que não foi efetivada porque não há independência entre as etapas de compra ocorridas. Papéis do consumidor e decisão de compra familiar De acordo com Sheth, Mittal e Newman (2001), o consumidor pode de- sempenhar diferentes papéis, como usuário, pagador e comprador, indivi- dualmente ou em família. Como usuário, ele consome ou usa o produto ou Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor 17 recebe os benefícios do serviço. Como pagador, ele financia a compra, dis- ponibiliza recursos para pagar por determinado produto ou serviço. Como comprador, ele participa da compra, ele decide pela compra. Deve-se ressal- tar que determinado consumidor pode desempenhar mais de um papel. Nas compras familiares1, ou considerando outros grupos de indivíduos, existem outros papéis além do usuário, pagador e comprador. De acordo com Engel, Blackwell e Miniard (2000), são cinco papéis: iniciador � – pensa sobre a compra de um produto ou serviço e busca informações para auxiliar a tomar a decisão. Como, por exemplo, o fi- lho mais novo, que percebe a necessidade de comprar um novo com- putador e busca informações sobre ele; influenciador � – aquele cujas opiniões são relevantes para os critérios de avaliação utilizados no processo de decisão – o filho mais velho, que entende de computadores e das marcas disponíveis; decisor � – pessoa com autoridade e/ou poder financeiro que decide como alocar o dinheiro da família – o pai e a mãe, que nessa família decidem em conjunto como alocar os recursos financeiros; comprador � – quem realiza a compra, visitando a loja, ligando para os fornecedores, pagando e trazendo os produtos para dentro de casa – o pai e o filho mais novo, que efetuaram a compra no ponto de venda; usuário � – a pessoa que usa o produto ou o serviço – todos os quatro integrantes da família. É importante destacar que cada papel pode ser desempenhado por dife- rentes integrantes da família, assim como um integrante da família pode de- sempenhar mais de um papel. Isso dependerá das circunstâncias envolvidas e da forma como as famílias estão estruturadas (número de integrantes, nível de recursos, escolaridade, conhecimentos a respeito de produtos, cultura e valores). Esses papéis também podem ser evidenciados em grupos de pessoas, como um grupo de seis amigos que decide fazer uma festa. Nesse caso, os diferentes papéis apresentados para uma família também podem ser de- sempenhados entre integrantes de um grupo: o iniciador, José, é o indivíduo que resolve convidar seus antigos cinco amigos de escola; o influenciador, Ricardo, seu amigo mais próximo e o estudante mais “popular” na época de 1 É necessário diferen- ciar, como apresentam Engel, Blackwell e Min- iard (2000), a diferença entre família e domicílio: família é um grupo de duas ou mais pessoas relacionadas por sangue, casamento ou adoção, que residem num mesmo local; domicílio descreve todas as pessoas, mesmo não sendo parentes, que ocupam uma unidade residencial. 18 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor escola, que resolve convencer os outros três (Vítor, Elias e Manuela) que não estavam interessados em participar da festa; os decisores, José e Ricardo, que juntam o dinheiro para comprar os alimentos e bebidas e decidem o que comprar; os compradores, José e Manuela, que vão ao supermercado; os usuários, os seis amigos que participam da festa. Além disso, deve-se considerar o conceito de ciclo de vida da família. A família, de maneira geral, inicialmente é composta por marido e mulher. Em seguida, nascem os filhos. Posteriormente, esses filhos crescem e estudam. Mais alguns anos, saem de casa e constituem suas próprias famílias. Por fim, a família em questão retorna a ser apenas o casal, mas com mais idade. No entanto, há também famílias com casais que resolveram não ter filhos ou famílias em que os filhos saem de casa já adultos, com mais de 25 anos. Classificações de clientes Conforme Sheth, Mittal e Newman (2001), existem clientes domésticos e clientes organizacionais, que adquirem tanto produtos como serviços. Aqui é importante distinguir, então, clientes domésticos de clientes organizacio- nais e produtos de serviços. Clientes domésticos, também chamados de clientes domiciliares, são os consumidores finais, são os indivíduos que adquirem produtos ou serviços para uso ou consumo. É o caso do cliente que compra seus mantimentos no supermercado ou da cliente que adquire um sapato novo em uma loja de vestuário. Ou seja, é o último elo na cadeia de comercialização. Clientes organizacionais, por outro lado, são organizações que adquirem produtos de outras organizações, tanto para consumir quanto para revender. Por exemplo: uma empresa de móveis que adquire madeira é cliente da empresa madeireira e consumirá a matéria-prima para a produção de suas mercadorias. Por outro lado, uma loja de materiais de produção que adquire cimento poderá revender depois tanto para outra empresa (uma constru- tora, que o consumirá em suas obras) quanto para os consumidores finais (os clientes domiciliares). De acordo com Sheth, Mittal e Newman (2001), na compra organizacional primeiramente ocorre o reconhecimento do problema (a falta de determi- nada mercadoria ou necessidade de comprar um material novo). Essa etapa Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor 19 também ocorre para o consumidor final, apesar de algumas características diferentes. Em seguida, é feita a descrição da necessidade geral de compra (o que se precisa), a especificação do produto necessário e a procura de for- necedores. Aqui pode-se perceber uma semelhança, principalmente com a etapa de busca de informações e em menor grau com a etapa de avaliação de alternativas. Após isso, o comprador efetua a solicitação de propostas. Referimo-nos claramente à avaliação de alternativas. Com isso, efetua-se a seleção do for- necedor, ou seja, decide-se quem irá fornecer. Por fim, há o uso do produ- to ou do serviço e a revisão de desempenho do fornecedor, relacionado ao comportamento pós-compra. Para futuros fornecimentos, se especifica um pedido de rotina, caso a empresa fornecedora atenda aos requisitos solicitados. Na compra organizacional, segundo Hutt e Speh (2002), é importante que os profissionais de venda envolvidos efetuem a identificação do fator ambiental, ou seja, como as condições empresariais (crescimento econômi- co, inflação) ou as tendências políticas e legais (regulamentações) afetam o segmento no qual a empresa compradora opera. É necessário também, segundo os autores, que se identifique o fator or- ganizacional. Nesse caso, o profissional de vendas deve compreender se a compra na organização-alvo é centralizada ou descentralizada, quais são as prioridades estratégicas da empresa e que papel os produtos ou serviços do fornecedor podem assumir na criação de vantagem competitiva para a empresa. Deve-se também identificar, conforme Hutt e Speh (2002) e Kotler e Keller (2006), o centro de compras, ou seja, quem dentro da empresa interfere na compra da empresa. No centro de compras fazem parte: os iniciadores (quem percebe a necessidade de um produto ou serviço); � as barreiras internas (quem dificulta o acesso do vendedorao com- � prador organizacional e a outras pessoas-chave para que se feche o negócio); os influenciadores (quem influencia a decisão de compra, ajuda a � definir especificações e fornecem informações sobre outras alternati- vas disponíveis); 20 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor os decisores (quem decide exigências que devem ser atendidas por � determinado produto ou serviço); os aprovadores (quem autoriza ações de decisores ou compradores); � os compradores (indivíduos com autoridade formal para selecionar o � fornecedor e estabelecer termos de compra); os usuários (quem utilizará dentro da empresa os produtos e serviços � – em muitos casos os usuários iniciam a proposta de compra e ajudam a definir as exigências que devem ser atendidas pelo produto). Dependendo do porte da empresa, um indivíduo pode desempenhar di- versas dessas funções. Compete destacar que ao lado do fornecedor há o centro de vendas, ou seja, os membros envolvidos com o início e a continui- dade do relacionamento com os clientes organizacionais. Há também diferenças em considerar um cliente (tanto consumidor quanto organização) que adquire e utiliza produtos e um consumidor que adquire e consome serviços. Pode-se ter clientes organizacionais que ad- quirem produtos (que podem ser matérias-primas ou material de escritório) ou que adquirem serviços (um serviço de consultoria ou o serviço de inter- net). Isso também ocorre para clientes domiciliares (os consumidores finais), que podem comprar produtos (utensílios ou alimentos) ou contratar serviços (uma viagem aérea ou o serviço de um pedreiro). Em relação ao serviço, de acordo com Nickels e Wood (1999), é impor- tante destacar que ele é consumido ao mesmo tempo em que é produzido (característica da simultaneidade de produção e consumo), não pode ser armazenado ou estocado, não pode ser examinado fisicamente (intangi- bilidade) e sua variabilidade é muito maior que a variabilidade de produtos (geralmente, por depender de pessoas para ser prestado, a padronização em serviços é menor que a padronização em produtos). Com o produto, o consumo não deve acontecer necessariamente no mesmo momento da compra. O serviço, além disso, não pode ser possuído ou ser pro- priedade de alguém. Tanto uma empresa pode armazenar chapas de aço, como um consumidor pacotes de farinha. Tanto uma empresa pode ter propriedade de máquinas e equipamentos quanto um consumidor de um imóvel. No en- tanto, uma empresa não consegue armazenar o serviço de assistência técnica que prestam a ela para manutenção de suas máquinas, assim como um consu- midor não consegue armazenar o serviço de pintura ou de oficina mecânica. Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor 21 O serviço de cabeleireiro é produzido ao mesmo tempo em que o con- sumidor está tendo seu cabelo cortado (consumindo o serviço). O serviço de consultoria é produzido e a empresa ao mesmo tempo consome as ideias e conselhos gerados. Mesmo que o consumidor tenha acesso a as- pectos tangíveis quando retira dinheiro de um caixa eletrônico (pode tocar a máquina ou passar pela porta giratória), o serviço propriamente dito (serviço bancário) é intangível. Todas essas características diferenciam o comportamento de alguém que adquire um produto e um serviço. Primeiramente, segundo Nickels e Wood (1999), o serviço em si não pode ser examinado fisicamente e varia mais de qualidade porque geralmente é prestado por pessoas. Além disso, segundo os autores, o serviço é consumido ao mesmo tempo em que é produzido, e não pode ser propriedade de alguém. Quando há máquinas envolvidas, é o consumidor que participa da produção do serviço. Por fim, para avaliar e escolher um determinado tipo de serviço, consumidores poderão depender mais de experiências passadas, quando se tratar de restaurantes ou centros estéticos, por exemplo, ou mais da confiança e das credenciais em relação a um prestador de serviço, quando se tratar de um médico, advogado ou empresa de consultoria. Comportamento do consumidor e o marketing Os profissionais de marketing, responsáveis nas organizações por entend- er e atender os mercados (clientes), devem compreender as características do comportamento do consumidor (o entender o cliente) para poder atendê- -los e influenciá-los quanto a suas decisões de compra (o atender). Devem, além disso, considerar que o consumidor não é só influenciado pelas ações de marketing (relacionadas ao produto, preço, distribuição/ponto de venda e co- municação/promoção), mas também por influências sociais (as questões cul- turais, as classes sociais, a renda, os grupos, as pessoas de referência) e influên- cias situacionais (o ambiente físico, o tempo, as condições presentes naquele momento e a tarefa envolvida). Ou seja, precisam entender e identificar quem realiza quais processos, quem desempenha determinado papel, por que de- terminados processos ocorrem da maneira que ocorrem, quais características dos próprios clientes determinam seu comportamento, que fatores ambien- tais influenciam seu comportamento (CHURCHILL; PETER, 2000). 22 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor A partir do momento em que os profissionais de marketing compreen- dem como os consumidores se comportam, que papéis eles desempenham, com que tipo de clientes eles estão lidando, com quem esses clientes vivem, que tipos de influências recebem, eles podem propor e implementar, ade- quadamente, estratégias de marketing. Em outras palavras, como atuar nos mercados escolhidos para alcançar os resultados almejados (os objetivos). Por exemplo: atualmente existem diversos adultos vivendo sozinhos e há uma diversidade de alimentos que consideram o consumo de apenas um indivíduo. Compreender o comportamento do consumidor, primeiramente, per- mitirá aos profissionais de marketing definir, dentro das estratégias de mar- keting, variáveis de segmentação de mercado (por idade, gênero, geográ- fica, estrutura familiar, classe social, etnias, cultura, estilos de vida), escolher os mercados-alvo e definir posicionamentos no mercado (relacionados a ocupar uma imagem distintiva na mente dos consumidores). Além disso, auxiliará a definir as características dos produtos, os preços, a forma de co- municação e os pontos de venda/distribuição mais adequados para atender esses mercados-alvo. Conhecer, por exemplo, quais os papéis desempenhados pelo consumidor e os papéis desempenhados nas compras familiares permitirá saber com quem a empresa precisa se comunicar através de propaganda, publicidade ou venda pessoal. Conhecer as preferências do consumidor e os seus hábitos de compra pode auxiliar a desenvolver o produto, definir o seu preço e escolher o melhor ponto de venda para sua distribuição. Por fim, como indica Solomon (2002), é importante considerar que muito do que se conhece sobre o mundo é filtrado pelos profissionais de marke- ting. Anúncios indicam como se deve agir e como avaliar outras pessoas. Além disso, confia-se nesses profissionais para vender produtos seguros e com o desempenho conforme o prometido, para dizer a verdade sobre o que estão vendendo e para garantir preço e distribuição justos para os produtos. Assim, há um componente ético que deve ser considerado nas estratégias de marketing em relação ao consumidor. Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor 23 Texto complementar O ABC do consumo Em entrevista exclusiva, o especialista em comportamento de compra, Roger Blackwell, aborda vários aspectos do consumidor: das forças que modificam seu comportamento até como entrar em sua mente, passando pelo processo de decisão de compra (BLACKWELL, 2003) Seu livro Consumer Behavior já é um clássico dessa disciplina. Que ele- mentos influenciam o comportamento de compra? As chamadas “forças sociais” – quer dizer, as tendências demográficas, geográficas e econômicas–, juntamente com os atributos individuais,são os fatores que influem no comportamento humano. Por isso, o estudo do com- portamento do consumidor analisa, de um lado, as forças sociais e, de outro, os fatores individuais, como o estilo de vida, a personalidade, os temas de interesse, as atividades e as opiniões de cada um. Qual o peso desses dois tipos de forças? As duas devem ser estudadas, mas são os eventos sociais que condicionam mudanças no comportamento de compra. Como atuam essas forças sociais? Ao mudarem, elas criam oportunidades para novos produtos e para o abastecimento correto dos existentes. Os aumentos ou quedas dos índices de natalidade de um país, por exemplo, modificam de maneira notável o tipo de demanda de produtos para crianças. Quando o índice de natalidade aumenta, a demanda se volta para produtos de menor qualidade e baixo preço. Quando diminui, os pais tendem a adquirir produtos de mais qualidade, como roupa da moda e jogos educativos. O mesmo acontece com as mudanças na renda e no valor líquido (o que entra menos o que sai) dos ativos financeiros das famílias [...]. Embora a renda determine o dinheiro disponível nos bolsos dos consumidores, são as mudanças no valor líquido que influem na predisposi- ção de consumir, porque modificam o “estado de espírito” das pessoas. Nas economias desenvolvidas, os estados de espírito positivos impulsionam as pessoas a gastar uma parte maior de sua renda. Assim, a análise e a estimati- 24 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor va das tendências dessas forças sociais são de importância fundamental para identificar certos padrões de consumo e detectar a demanda futura, como também as transformações em cada segmento de mercado. Sobre os fatores individuais, imagino que dependam dos relaciona- mentos entre fornecedor e cliente. Mas, genericamente, de que forma se capta o que está na mente do consumidor, para depois transformar isso em produtos ou serviços vencedores? O segredo é pensar como o consumidor. Para poder fazê-lo, os fabrican- tes e varejistas têm de conseguir um contato íntimo com a mente do con- sumidor. Nesse sentido, há muito que existem várias técnicas úteis: os focus groups, as pesquisas. Eu diria também que as empresas estão estudando mais o que ocorre nos pontos de venda, a fim de detectar qual produto de determinado segmento do mercado prefere ou em qual segmento estão as pessoas que mais o consomem. Esses tipos de análise identificam os 20% do mercado que compram 80% dos produtos e, consequentemente, as empresas podem visar precisamente esse segmento em suas campanhas de marketing e promoções. E o que é o “processo de decisão do consumidor” de que o Sr. fala? Quando todas as forças sociais são levadas em consideração, elas fazem os consumidores comprar segundo determinados padrões, que descrevemos como o processo de decisão de compra. É uma espécie de mapa da mente do consumidor, que permite entender como ele toma as decisões e por que escolhe determinado fornecedor. [...] Do ponto de vista das empresas, quais são as etapas mais importantes desse processo? Todas são importantes, porém as pessoas de marketing cometem os erros mais graves na primeira. Analisar as necessidades do consumidor, segmento por segmento do mercado, é o segredo para entender a demanda de produtos novos. Contudo, 80% dos novos produtos fracassam porque visam necessida- des inexistentes ou problemas que já foram resolvidos por outros produtos existentes no mercado. Uma das regras fundamentais do comportamento do consumidor é a “inércia”: se as pessoas não sentem uma forte necessidade, di- ficilmente adotarão um novo produto, mesmo quando apresente certas van- tagens em relação ao anterior. Diga-se de passagem, é muito difícil identificar Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor 25 novas necessidades. É mais produtivo estudar os consumidores, detectar as necessidades insatisfeitas e, então, analisar a maneira de criar produtos para responder a elas. O Sr. vem atualizando constantemente as ideias expostas em Consu- mer Behavior. Que descobertas o Sr. fez? Nossas últimas pesquisas se concentraram mais na fase de consumo do que na de compra. Sabemos que a satisfação com um produto ou serviço influirá nas decisões futuras, de modo que os estudos mais recentes analisam o modo pelo qual as pessoas usam os produtos. Um fabricante de detergentes, por exemplo, modificou as embalagens porque descobriu que eram altas demais para a medida-padrão das prateleiras das despensas. Desde então, suas vendas cresceram significativamente. Vale a pena ressaltar também outra novidade. No passado, os varejistas se limitavam a influenciar os consumidores na etapa da compra, e os fabricantes eram os responsáveis pelo desenvolvimento de novos produtos, pela publicidade das marcas e pelas atividades de marke- ting fora dos pontos de venda. Agora, ao contrário, não há uma divisão nítida dessas funções: tanto os varejistas prestam atenção nas primeiras etapas do processo de decisão do consumidor como os fabricantes assumiram uma res- ponsabilidade maior pelo que acontece no interior das lojas. [...] No ambiente de varejo, qual é a melhor maneira de planejar e aplicar a estratégia de marca? Em princípio, considerar que uma marca se constrói sobre três “Ps”: pro- messa, personalidade e proteção. Para desenvolver a promessa, o ponto de partida é entender o mercado objetivo e os atributos mais desejados por esse mercado. Depois, é preciso definir a promessa, ajustar-se estritamente a ela e cumpri-la. Por exemplo: um varejista jamais deveria prometer os preços mais baixos de seu segmento se compete com lojas que formam parte de uma cadeia de fornecimento eficiente, capaz de fixar preços muito baixos. A perso- nalidade de uma marca é, conceitualmente, semelhante à personalidade de um indivíduo: algumas pessoas atraem as demais, geram um ambiente agra- dável ao seu redor, e todos querem ficar perto delas. As lojas que possuem um ar alegre, que conhecem seus consumidores, que sabem o que eles querem e que lhes oferecem exatamente isso constroem uma personalidade atraente. Assim, esse atributo se desenvolve com a publicidade e com o ambiente dos pontos de venda. A proteção está vinculada a uma espécie de segurança; uma 26 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor garantia de que o cliente não desperdiçará seu tempo nem seu dinheiro. Um varejista “protege” o cliente se lhe fornece o que busca ao preço que está dis- posto a pagar, com o mínimo possível de inconvenientes do ponto de vista da operação de compra. [...] O que os consumidores esperam dos varejistas no que se refere à oferta de produtos e serviços? Vivemos numa era supercompetitiva, e as exigências dos consumidores aumentam incessantemente. Antes, bastava oferecer-lhes bons produtos a preços razoáveis; atualmente, as expectativas são muito mais altas: os con- sumidores também querem valor e serviço. Para os varejistas que não fize- rem parte de cadeias de suprimento (supply chains) eficientes, será impossível oferecer valor. Por sua parte, o serviço está estreitamente relacionado à ca- pacitação e às políticas de recursos humanos. É preciso também considerar que, em cada interação com uma empresa, as pessoas esperam vivenciar uma experiência excelente. O Sr. pode mencionar casos de varejistas que oferecem esse tipo de experiência? As redes de lojas Carrefour e Wal-Mart são bons exemplos, porém há lojas menores que se diferenciam por isso. Em certo sentido, as lojas independen- tes ou locais estão mais bem posicionadas que uma grande cadeia para ofere- cer uma experiência que encante o cliente. Entretanto, e não me cansarei de repetir, o ponto central é que os gerentes das lojas conheçam em profundi- dade o consumidor. Certa ocasião, Sam Walton, fundador do Wal-Mart, disse a seus funcionários: “Os únicos capazes de demitir a todos nós são os clientes”. Há muita sabedoria nessas palavras. A primeiracoisa que os varejistas devem entender é que é preciso colocar o foco no cliente. Em segundo lugar, mas não menos importante, é aprender a integrar-se a uma cadeia de suprimentos que não só satisfaça o cliente, mas que o encante. E isso inclui, além dos preços dos produtos, a atenção dos funcionários e a personalidade da marca ou da loja. Mudando para outro canal de distribuição, a internet: o que os consu- midores que se encontram na internet estão dispostos a comprar? A internet pode ser um bom meio para comprar produtos de baixo giro, alta margem e preço elevado, que não estejam disponíveis nos pontos de Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor 27 varejo: ninguém se conecta à internet para comprar produtos de preço baixo, alto giro e que sejam encontrados facilmente, como leite. Mais ainda, quem tivesse lido qualquer texto de marketing escrito nos últimos 50 anos não de- veria ter investido um centavo sequer para conseguir vender esses tipos de produto pela internet. Por outro lado, a compra de certos produtos depende de fatores que não podem ser avaliados on-line. Na aquisição de uma calça, por exemplo, é muito importante o caimento. Entretanto, qualquer pessoa que deseje repor um produto padrão, como uma camiseta, até pode utilizar a internet. A venda on-line possui muitas semelhanças com a venda por catálo- go. Contudo, mais do que para a etapa de compra, do processo de decisão do consumidor, a internet se torna útil para a fase em que se procura um produto ou serviço. Que estratégias de marca e de fidelização de clientes são mais eficazes hoje? As estratégias que colocam o foco no valor do cliente de longo prazo. Muitos estudos demonstram que fica mais caro atrair um novo cliente do que atender um cliente existente. Assim, as estratégias de marca devem desenvol- ver uma base competitiva que atraia os clientes dos mercados mais rentáveis – quer porque compram grandes quantidades, quer porque estão dispostos a pagar preços mais altos – e que os motive a repetir suas compras. Prova- velmente o erro mais grave é pensar que o preço é o fator de maior peso na atração de clientes. Contudo, as pesquisas indicam que o que importa não é o preço mais baixo, mas sim que os preços estejam numa faixa aceitável: não precisam ser demasiadamente altos, mas também não necessariamente os mais baixos. Além disso, para conseguir que os clientes voltem, é preciso colo- car o foco em outros atributos da loja. [...] Para finalizar: como uma empresa de qualquer país pode vencer no mercado globalizado? Na primeira metade do século 20, a questão era aumentar a eficiência na fabricação. A segunda metade colocou o foco na eficiência da cadeia de dis- tribuição. Minha impressão é que, de agora em diante, o sucesso brilhará para as empresas que integram cadeias de suprimento eficientes e dependerá real- mente de sua capacidade de entender a mente do consumidor. 28 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor Atividades 1. Por que o autor Solomon coloca que “você é o que você consome”? 2. Como ocorre da parte dos profissionais de marketing o entendimento e o atendimento do comportamento do consumidor? 3. O que significa dizer que o comportamento do consumidor envolve não apenas atividades físicas e mentais, mas também atividades sociais? 30 Conceitos introdutórios a respeito do comportamento do consumidor Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias Introdução A soberania do consumidor representa um grande desafio às empresas, como colocado por Engel, Blackwell e Miniard (2000). Todavia, as habilidades de marketing podem afetar a motivação e o comportamento do consumidor, se o produto ou serviço oferecido é desenhado para satisfazer suas necessi- dades e expectativas e se as ações implementadas no mercado permitem alcançar isso. Esse desafio também se apresenta no processo de decisão do consumi- dor, quando este resolve escolher, considerando seus recursos financeiros e informações, por determinado produto ou serviço, marca, local e momento de compra e de consumo, em detrimento de outros. Conforme apresentado na figura a seguir, no processo de decisão estão envolvidas questões de pré-compra, questões de compra e questões de pós-compra. Esse processo pode ser visto do ponto de vista do consumidor (como acontece a decisão de compra, consumo e descarte) e do ponto de vista do profissional de marketing (o que é necessário compreender para satisfazer o consumidor em seus atos de compra e de consumo e para influ- enciar suas decisões). Na figura 1, em questões de pré-compra, por exemplo, ao passo que um consumidor se pergunta quais são as melhores fontes de informação para saber mais sobre determinado produto, uma empresa pode se perguntar de que forma o consumidor busca informações e que pistas (dicas) utiliza para inferir qualidade. Em questões de compra, o consumidor pode se perguntar se a aquisição de um produto é uma experiência agradável, enquanto que as empresas se perguntam de que forma um fator situacional, como a presença de expositores em uma loja, afeta o processo de escolha. Em questões de pós-compra, por outro lado, enquanto o consumidor se questiona a respeito da satisfação proporcionada pelo produto, a empresa se pergunta como a satisfação ou insatisfação contribuirá ou não para o aumento de vendas futuras. 32 Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias Perspectiva do consumidor Perspectiva da empresa Questões de pré-compra Como um consumidor decide que precisa de um produto? Quais são as melhores fontes de informação para saber mais sobre escolhas al- ternativas? Como as atitudes do consumi- dor são tomadas e/ou modifica- das? Que pistas os consumidores usam para inferir quais produtos são superiores aos outros? Questões de compra A aquisição de um produto é uma experiência estressante ou agra- dável? O que a compra diz sobre o consumidor? De que forma fatores situacio- nais, como a falta de tempo ou os expositores das lojas, afetam a decisão de compra do consu- midor? Questões de pós-compra O produto dá satisfação ou de- sempenha sua função pretendi- da? Como o produto é finalmente utilizado e quais as consequências ambientais desse ato? O que determina se um con- sumidor ficará satisfeito com um produto e se ele voltará a comprá-lo? Essa pessoa fala aos outros sobre suas experiências com o produto e influencia suas decisões de compra? (S O LO M O N , 2 00 2, p . 5 4) Figura 1 – Questões que envolvem o processo de decisão. Dessa forma, tendo como pano de fundo as questões de pré-compra, compra e pós-compra, a seguir serão apresentadas as etapas iniciais e inter- mediárias do processo de decisão do consumidor, considerando o reconhe- cimento do problema, a busca de informações, a avaliação de alternativas e a decisão de compra. Reconhecimento do problema A primeira etapa do processo de decisão do consumidor, o reconheci- mento do problema, segundo Engel, Blackwell e Miniard (2000), é uma per- cepção da diferença entre a situação desejada e a situação real, suficiente para despertar e ativar o processo decisório. Ocorre, conforme Churchill e Peter (2000), toda vez que o consumidor vê uma diferença significativa entre seu estado atual e algum estado desejado ou ideal. Há um problema a ser resolvido. Para Sheth, Mittal e Newman (2001), reconhecer o problema é a percepção de que se precisa comprar algo para voltar ao estado normal de conforto, uma vez que o problema é a indicação de que há um estado de privação, desconforto e falta (física ou psicológica). Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias 33 Por exemplo: terminou o leite condensado que Maria precisava para ter- minar o bolo de aniversário de sua filha, cuja festa ocorrerá dentro de algu- mas horas e várias crianças da vizinhança foram convidadas. Se não fosse a festa de aniversário, Maria nãoteria ficado tão preocupada com a falta de uma lata do produto. Maria só voltará ao estado de conforto quando tiver uma lata de leite condensado, que ela pode comprar ou pedir emprestada para uma vizinha. De acordo com Churchill e Peter (2000), o reconhecimento do problema depende de dois estímulos: um de ordem interna e outro de ordem externa. O estímulo interno está relacionado às diferenças individuais, como os re- cursos que o consumidor tem ao seu dispor, os processos de motivação, as atitudes (o grau em que os consumidores gostam ou não de alguma coisa), o nível de conhecimentos, a personalidade, valores pessoais, estilos de vida e o envolvimento em relação à compra (grau de relevância pessoal). Já os es- tímulos externos estão ligados às influências, ou fatores ambientais, como a cultura, classe social, família e situação (ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2000). Por exemplo: a ida a uma academia de ginástica pode ter surgido por um es- tímulo interno do indivíduo para obter uma melhor forma física ou por uma indicação médica, em função do nível de obesidade e do risco maior de se apresentar o diabetes. Deve-se alertar que geralmente há interação entre os estímulos internos e externos (um pode depender do outro e vice-versa). Além disso, segundo Sheth, Mittal e Newman (2001), um problema pode ter sido reconhecido no passado, mas não se mostrou relevante, prioritário ao consumidor, o qual não efetuou esforços para atender às necessidades envolvidas. Por sua vez, um comercial ou a indicação de um amigo pode reacendê-lo em outro momento. Ou seja, neste caso um estímulo externo reforça um reconhecimento de problema passado. Por outro lado, é possível que nunca se tenha reconhecido uma neces- sidade, mas a exposição a um produto ou serviço, que pode ser via propa- ganda, no ponto de venda ou através de conversas com amigos, tem con- dições de despertar necessidades, sendo que o seu atendimento gera um reconhecimento de problema. Muitas pessoas nunca sentiram necessidade de comprar um celular ou utilizar internet sem fio até que eles fossem dis- ponibilizados para comprar ou usufruir. É importante frisar que esse impulso para atender a uma necessidade chama-se motivação. 34 Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias Considerando esses aspectos, percebe-se que as ações de marketing não criam necessidades, mas despertam-nas, estimulam-nas e influenciam-nas. A compra de um celular com design diferenciado e com diversas funções pode ter ocorrido não apenas por uma necessidade básica de comunicação, mas por uma necessidade de status junto ao grupo de amigos. Busca de informações Conforme Solomon (2002), uma vez que um problema tenha sido reco- nhecido, o que causa um desconforto ou um estado de privação, os consu- midores precisam de informações adequadas para resolvê-lo. Aqui o consu- midor investiga seu ambiente à procura de dados e informações adequados para tomar uma decisão razoável. Como acontece com o reconhecimento do problema, a busca de informações, segundo Engel, Blackwell e Miniard (2000), é influenciada por diferenças individuais e fatores ambientais. Quando o consumidor busca informações para resolver determinado problema (comprar um produto, como um novo notebook, ou usufruir de determinado serviço, como uma sessão de massagem), ele considera, como indicam Solomon (2002) e Sheth, Mittal e Newmann (2001), diversas fontes: internas, de grupo, comerciais, públicas e experimentais. Fontes internas: � as presentes na memória do consumidor, geradas a partir da exposição, atenção, compreensão, aceitação e retenção de informações prévias, como colocam Engel, Blackwell e Miniard (2000). Por exemplo: as informações que o consumidor já possuía sobre note- books ou sobre massagistas. Fontes de grupo � : informações que se busca com amigos, familiares e colegas. Essa fonte de informação geralmente goza de alta credi- bilidade e confiabilidade (por isso que a comunicação boca a boca é bastante valorizada). Por exemplo: a recomendação de um colega de faculdade sobre um notebook com espaço considerável em disco e possibilidade de movimentar a tela ou a sugestão da esposa ao marido da massagista que ela costuma ir semanalmente. Fontes de marketing � : embalagens, vendedores, propaganda, promo- ção de vendas, merchandising, web sites e catálogos. Continuando os exemplos: cartazes e folhetos sobre o notebook sugerido pelo amigo Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias 35 na loja de computadores, o que é comunicação em ponto de venda (merchandising, portanto), e uma propaganda no jornal sobre os servi- ços prestados pela massagista recomendada. Fontes públicas � : independentes dos profissionais de marketing e de outros consumidores, como relatórios, informações de especialistas em produtos ou serviços, boletins e notícias. Como exemplos: uma no- tícia em uma revista especializada em informática sobre os notebooks que apresentam a melhor relação custo-benefício e uma reportagem de um jornal local sobre os serviços de massagem na cidade. Fontes de experimentação � : provenientes das experiências e testes dos indivíduos com produtos e serviços. Por exemplo: um teste feito na loja com o notebook e uma sessão de massagem gratuita. A busca de informações também pode ser deliberada (planejada) ou aci- dental (não planejada, com aprendizagem incidental). No caso da acidental, de acordo com Solomon (2002), embora um produto possa não ser de nosso interesse direto nesse exato momento, a exposição à propaganda, o boca a boca, a embalagem e atividades de promoção de vendas, podem resultar em aprendizagem incidental. Por exemplo: a degustação de um novo sabor de suco em um supermercado que o consumidor comprou, apesar de inicial- mente não ter planejado comprar esse produto. Sob esse aspecto, com uma propaganda constante, em pequenas doses, é possível que sua associação com produtos seja estabelecida e mantida até o ponto em que são necessárias (o ponto em que o indivíduo utiliza a informação da propaganda para decidir comprar determinado produto). A propaganda de um aparelho de DVD na televisão, por exemplo, duas vezes ao dia, e em dias intercalados, em quatro meses, pode permitir informação e lembrança do produto até o momento de compra. Outro ponto necessário de se considerar em relação à busca de informa- ções é quanta pesquisa será feita, ou seja, que quantidade de informações será procurada, e quanto tempo será investido nessa procura. Isso depende- rá, segundo Solomon (2002) e Sheth, Mittal e Newmann (2001), de quanto conhecimento prévio o consumidor já possui (relativo a experiências e aqui- sição de informações prévias), do envolvimento, da pressão de tempo, do risco percebido em relação à compra (o grau de perda, ou de arrependimen- to, no caso de uma escolha errada) e da sobrecarga de informações (saber que informação utilizar, dentro de um número disponível demasiado). 36 Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias Em outras palavras, quanto menos conhecimento prévio o consumidor tiver, se a compra desse produto for pessoalmente relevante (alto envolvi- mento), se o risco percebido para comprá-lo for elevado, isto é, se os ganhos (benefícios) de aquisição da informação forem maiores que os custos de sua aquisição (como financeiros, físicos e mentais), provavelmente se busque mais informações e se gaste mais tempo na pesquisa. Um indivíduo, por exemplo, que, em função do início de uma dieta ali- mentar com uma nutricionista e do interesse em perder peso, vai ao super- mercado para comprar produtos com baixo teor calórico e gasta bastante tempo conhecendo marcas e variedades, principalmente com a leitura de informações nutricionais. Alerta-se, como reforça Sheth, Mittal e Newman (2001), que os consumidores são seletivos em sua aquisição de informação (não consideram todas as informações disponíveis). Convém ressaltar que em relaçãoao risco, como apresenta Solomon e Sheth, Mittal e Newmann, podemos ter: o monetário – risco de fazer uma compra cujos benefícios do produto � ou serviço sejam menores do que os gastos envolvidos, ou de ter ou- tras ofertas com a relação custo-benefício melhor; o funcional, ou de desempenho ou obsolescência – o produto não fun- � cionar conforme esperado, e poder ser substituído depois por produ- tos mais modernos; físico – relacionado ao esforço físico gasto na compra do produto e seu � uso posterior; psicológico – produto não refletir a pessoa, gerar sentimento de cul- � pa; social – os outros não aprovarem a compra. � Por exemplo: a compra de um vestido em uma loja de shopping center lo- calizada a 40 minutos, de carro, da residência da consumidora. Poderá haver um risco funcional (o vestido rasgar com facilidade depois do primeiro uso), um risco físico (o esforço de se deslocar para comprar o vestido), psicológico (a pessoa se sentir culpada por comprar o vestido que não era “bem aquele que ela queria”) e social (os filhos e o marido da consumidora não aprovarem o vestido). Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias 37 Avaliação das alternativas e decisão de compra Após ter reconhecido o problema e buscar informações, o consumidor, influenciado por fatores ambientais e diferenças individuais, avalia as al- ternativas disponíveis de marcas, produtos e serviços e efetua a decisão de compra (ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2000). Para isso, ele se perguntará quais características são mais importantes, o que cada alternativa oferece, qual a alternativa que oferece a melhor relação custo X benefício (o melhor valor para o cliente) e quanto tempo ele tem para tomar a decisão. Além disso, uma vez que a racionalidade de qualquer indivíduo na tomada de decisões é limitada, não é possível considerar todas as alternativas possí- veis para tomada de decisão. Nesse aspecto, os consumidores também de- pendem de seus relacionamentos sociais, das suas emoções e das circuns- tâncias do momento para tomarem suas decisões. Com a avaliação das alternativas, o consumidor parte para a decisão de compra propriamente dita. Essa decisão pode ser em relação a um produ- to, um serviço, uma marca, um determinado fornecedor, uma determinada quantidade e uma determinada forma de pagamento. Como indica Sheth, Mittal e Newman (2001), quando as decisões de compra são tomadas perto do momento de consumo (ou para consumo imediato), o valor da conve- niência adquire importância maior. Além disso, quanto mais se combinam os papéis de usuário, pagante e comprador, mais conflitante se torna o pro- cesso decisório. Isto porque podem ser efetuadas diversas ações por um mesmo consumidor, o que torna o processo de escolha maior. Por exemplo: um consumidor que não costuma ir ao supermercado e em determinado dia precisa comprar determinado produto e definir qual quantidade comprar e a melhor forma de pagamento. Os consumidores, conforme apresenta Sheth, Mittal e Newman (2001), consideram, em relação a marcas, produtos e serviços, diversos conjuntos de alternativas. Inicialmente há o conjunto conhecido, ou seja, marcas que o consumidor conhece. Em seguida, consideram o conjunto evocado, isto é, aquele com as marcas que eles lembram no momento de tomar uma deci- são. Posteriormente, o conjunto considerado, ou seja, das marcas evocadas, aquelas consideradas para a escolha de determinado produto ou serviço. 38 Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias Assim, as marcas conhecidas (conjunto conhecido) levam a marcas lem- bradas (conjunto evocado) e a marcas não lembradas. As marcas lembradas levam, por sua vez, a marcas consideradas (conjunto considerado) e a marcas não consideradas. Por exemplo: Paulo conhece as marcas de calçados X, W, Y e Z; lembra no momento de tomar a decisão X, W e Z (não lembrou da Y); consi- dera para escolha X e W (não considerou a Z, mesmo lembrando dela); no en- tanto, no momento da compra no ponto de venda, pode considerar na decisão outras marcas que não conhecia, mas que são apresentadas pelo vendedor. Nesse aspecto, reforça-se a importância de uma marca de determinado produto estar presente no conjunto considerado do consumidor. É nesse conjunto que dá para se dizer que a marca continua “no páreo” para a esco- lha posterior, mesmo que sejam apresentadas novas marcas no momento da compra. Além disso, como indicam Solomon (2002) e Sheth, Mittal e Newman (2001), os consumidores consideram como critérios de avaliação um con- junto de atributos salientes e importantes, assim como um conjunto de atri- butos qualificadores e determinantes na avaliação de alternativas e no mo- mento da decisão. Os atributos salientes são aqueles que os consumidores conseguem perceber como presentes em um determinado produto, serviço ou marca. Já os atributos importantes, mais do que os salientes, entram de forma significativa no processo de decisão de compra. Por exemplo: um de- talhe decorativo em um violão pode ser considerado um atributo saliente, mas não importante. Já a qualidade das cordas pode ser importante, mas não saliente. Porém, há outras situações em que atributos salientes podem também ser considerados importantes. Os atributos qualificadores são aqueles que servem para definir um pa- tamar, um critério inicial de escolha. Os determinantes, por outro lado, são atributos importantes, que determinam a compra de um produto ou serviço. Como por exemplo: um consumidor, para escolher um apartamento para comprar, poderia considerar como atributos qualificadores, apartamento com um quarto, distante até 10 km do local de trabalho, com uma posição solar leste e em um local que tivesse nas proximidades supermercado e far- mácia. As ofertas de compra que não possuem essas características estariam desqualificadas e, portanto, desconsideradas (não entrando no páreo de continuidade do processo de escolha). Consideraria como atributos deter- minantes, para as ofertas qualificadas, o menor preço e a menor distância do local de trabalho. Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias 39 Outro elemento a considerar nos processos de avaliação de alternativas e decisão são os atalhos mentais, ou seja, um atalho a um processamento mais extenso de informações, uma vez que não se faz cálculos mentais complexos toda vez que se avaliam alternativas e se escolhem produtos (SOLOMON, 2002). Isso não ocorre apenas pela falta de tempo das pessoas, mas também pelo esforço despendido em avaliar um número muito grande de opções. Esse atalho mental também é chamado de heurística, ou seja, procedi- mentos mentais práticos que levam a uma decisão acelerada (SOLOMON, 2002). Como exemplos de heurística temos: “produtos mais caros são melho- res”, “comprar a mesma marca que comprei outra vez”, “comprar a marca de sabão em pó que minha mãe sempre comprava”. Como tipos de atalhos mentais, para Solomon (2002), temos: o sinal de produto (tendência a inferir dimensões ocultas a partir de � atributos observáveis, como sinal de qualidade subjacente. Exemplo: a forma como a embalagem se apresenta indica qualidade superior); as crenças de mercado (suposições sobre empresas, produtos, marcas, � lojas e países. Exemplo: o produto importado é melhor, o produto chi- nês é de baixa qualidade, aquela empresa tem os produtos de melhor qualidade porque cobra mais); a inércia (a compra ser feita em função do hábito ou do menor esforço. � Exemplo: comprar a marca que comprei no mês passado, comprar o primeiro produto disponível na prateleira do supermercado, comprar o mais barato). Podemos também ter a marca como heurística, na qual pessoas formam preferências por uma marca e podem, literalmente, não mudar de ideia por toda a vida. Além disso, existem as regras de decisão compensatórias e as regras não compensatórias. As regras compensatórias, conforme Solomon (2002), dão ao produto uma oportunidade de compensarum atributo em que ele é pior, por outro em que ele é melhor. Nesse caso, os consumidores querem exercer um esforço para considerar o quadro mais abrangente de alternativas dis- poníveis. Para as regras não compensatórias, entretanto, um produto com uma baixa colocação em um atributo não consegue compensar essa posição sendo melhor em outro atributo. Em outras palavras, eliminam-se todas as opções que não atingirem alguns padrões básicos (como o exemplo dado anteriormente para atributos qualificadores). 40 Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias Dentro das regras de decisão não compensatórias, Sheth, Mittal e Newman (2001) indicam como tipos os seguintes modelos: modelo conjuntivo � – o consumidor começa determinando limites mínimos de todos os atributos importantes (ex.: um pão de forma com até 300 gramas e com até 80 calorias por fatia); modelo disjuntivo � – implica compensações entre aspectos das al- ternativas de escolha (ex.: uma casa com quatro quartos, ou com três quartos, mas com dependência para a empregada); modelo lexicográfico � – os atributos das alternativas são ordenados ou classificados em termos de importância – as alternativas são anali- sadas pelo critério mais importante, avaliam aquelas com o maior ní- vel deste critério; se permanece mais de uma alternativa, considera-se o segundo critério mais importante e assim por diante (ex.: para um automóvel, o critério mais importante é a presença de câmbio auto- mático; das opções que tinham câmbio automático, o segundo critério mais importante é ser da marca X; se houve 2 alternativas com essa marca, o terceiro critério é menor preço); modelo de eliminação por aspectos � – além de indicar ordem de im- portância, são definidos valores de eliminação – para o atributo mais importante. Admitem-se para continuar a avaliação apenas aqueles que atingiram o nível mínimo definido (ex.: para um serviço de aca- demia de musculação, o critério mais importante é estar distante no máximo 3 km da residência do consumidor; para as academias que al- cançaram esse critério, escolhem-se aquelas que fecham à meia-noite ou depois; em seguida, se ainda há mais de uma alternativa, escolhe- se aquela com o menor movimento). Por outro lado, Sheth, Mittal e Newman (2001) sugerem a estratégia de decisão por fases, com o uso inicial, por exemplo, de regras compensatórias e depois de regras não compensatórias. Por exemplo: um carro que apresen- ta porta-malas menor que outras opções tem compensação pela potência maior do motor. Em seguida, o menor conforto dos bancos não compensa o espaço interno um pouco maior que o apresentado pela concorrência. Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias 41 Texto complementar Todo o poder do consumidor Entrevista com Richard Vinic, especialista em comportamento do consumidor, sobre hábitos dos clientes e sua observação no ponto de venda (VINIC, 2004) Como pode ser descrito o processo de decisão de compra do consumi- dor brasileiro? O processo de decisão de compra envolve alguns estágios: reconhecimen- to do problema, busca de informações, avaliação das alternativas, escolha e pós-compra. De acordo com o envolvimento do consumidor com o produ- to ou serviço desejado, existirá um esforço maior ou menor da empresa em cada estágio. O brasileiro é apontado como um dos consumidores mais im- pulsivos do mundo. Em 1998, o instituto de pesquisas POPAI Brasil investigou o comportamento de consumidores nos supermercados e hipermercados e concluiu que 85% das decisões de compra dos brasileiros são realizadas no ponto de venda; em média, para cada 12 itens planejados, o brasileiro con- verte em compras 44 itens. Embora esse estudo se limite ao segmento super- mercadista, sabe-se que a decisão de compra no Brasil ocorre no ponto de venda na maior parte do varejo, exatamente pela falta do hábito de planejar as compras, além dos motivos emocionais envolvidos em todo o processo. Outra característica cultural que chama a atenção no Brasil é o fato de que os consumidores de classes socioeconômicas mais baixas, na maioria, optam pelas marcas líderes em muitos momentos, com o objetivo de acertar na es- colha da categoria comprada. Diante do elevado índice de compra por impulso, a ação no ponto de venda é a maior arma de marketing no Brasil? Sempre que possível, deve-se utilizar a comunicação cross-media (mídia cruzada), com cruzamento de diversas mídias, incluindo o ponto de venda. No caso de os recursos serem limitados, situação vivenciada pela maior parte das empresas no Brasil, não recorrer ao merchandising no ponto de venda chega a ser quase uma negligência. Nos últimos anos, tem-se percebido o aumento das verbas de comunicação direcionadas a ações no ponto de venda. Todas as estratégias de comunicação devem estar integradas. 42 Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias Como o Sr. avalia a qualidade das pesquisas sobre consumidor reali- zadas no Brasil? Hoje, a maior parte dos institutos de pesquisa do país já tem consciên- cia de que a estratificação (segmentação) por variáveis demográficas reflete muito pouco sobre o consumidor desejado e investe, na pesquisa quantita- tiva, em compreender quem é esse consumidor, o que ele pensa, como vive, quais são seus valores e, principalmente, quais são seus sonhos. As pesquisas qualitativas, por sua vez, permitem a observação e análise da interação do consumidor com os produtos envolvidos. O problema no Brasil é o acesso às pesquisas, atualmente muito limitado a grandes corporações e a empresas multinacionais. Falta conscientizar pequenas e médias empresas quanto aos benefícios obtidos com as pesquisas. O problema é apenas financeiro? Não, é cultural também. A meu ver, é necessário que as empresas tenham uma postura diferente, uma vontade verdadeira de conhecer, de ouvir e de se relacionar com os clien tes. Isso nem sempre significa gastar mais dinhei- ro. Muitas empresas colocam promotoras para fazer degustação no ponto de venda e não as treinam para observar e documentar a reação dos consumido- res, quando poderiam fazer isso. Como se deve treiná-las? Há a Teoria de Observação no Ponto de Venda, desenvolvida pelo consultor norte-americano Pacco Underhill, que ensina a descobrir como o consumidor testa os produtos, movimenta-se na loja e interage com os vendedores. O Sr. pode dar exemplos de como uma informação obtida no ponto de venda pode trans formar-se numa ação de marketing? Imagine que a observação no ponto de venda mostra que a maior parte dos consu midores é composta de mulheres frequentemente acompanhadas dos filhos e, portanto, apressadas. Nesse caso, a loja deve oferecer uma área de entretenimento para as crianças, evitando que estas abreviem o tempo de permanência das mães. Numa loja de calçados femininos em que se ob- serva uma frequência de mulheres acompanhadas dos maridos, acontece a mesma coisa. Deve-se criar uma área de espera com soluções que distraiam Processo de decisão do consumidor – etapas iniciais e intermediárias 43 os homens (revistas, por exemplo) para evitar que eles abre viem o tempo de permanência de suas mulheres. Nos dois exemplos o Sr. citou o tempo de permanência. Isso é real- mente importante? É clara a influência do tempo de permanência do consumidor na perfor- mance da loja. Normalmente, o consumidor que se converterá em comprador permanece três vezes mais tempo na loja do que aquele que não comprará. Para finalizar, gostaríamos de detalhar o perfil do consumidor brasi- leiro. O que muda no perfil de compra de homens e mulheres? Qual é o papel das crianças? Quanto pesam as diferenças regionais? Entre homens e mulheres, as diferenças são mundiais, não brasileiras. Os homens são predominantemente objetivos, não perguntam e gastam menos tempo no ponto de venda. Se levarem uma roupa para experimentar no pro- vador, é porque têm séria intenção de comprá-la. Já as mulheres são
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