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MANUAL DE ANDROLOGIA E CONGELAÇÃO DE SÊMEN BOVINO PROF. DR. FREDERICO OZANAM PAPA DOUTORANDO JOSÉ ANTONIO DELL’AQUA JR. 2007 PROF. DR. FREDERICO OZANAM PAPA DR. JOSÉ ANTONIO DELL’AQUA JR 2 ÍNDICE 1. ANATOMIA DO SISTEMA GENITAL MASCULINO BOVINO...................... 03 2. ENDOCRINOLOGIA DA REPRODUÇÃO DO MACHO................................... 05 3. PATOLOGIAS DO SISTEMA REPRODUTIVO DO TOURO............................ 07 3.1. PÊNIS E PREPÚCIO........................................................................................... 07 3.2. TESTÍCULOS...................................................................................................... 08 3.3. CORDÃO ESPERMÁTICO E EPIDÍDIMO.................................................... 10 3.4. GÂNDULAS ANEXAS........................................................................................ 10 4. EXAME ANDROLÓGICO...................................................................................... 11 4.1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 11 4.2. MATERIAL NECESSÁRIO.............................................................................. 11 4.3. SEQUÊNCIA DO EXAME................................................................................. 11 4.4. COLHEITA DO SÊMEN.................................................................................... 13 4.5. ANÁLISE DO SÊMEN........................................................................................ 14 4.5.1. EXAMES IMEDIATOS............................................................................. 14 4.5.2. EXAMES MEDIATOS.............................................................................. 15 4.6. MODELO DE LAUDO DE EXAME ANDROLÓGICO................................. 23 4.7. PADRÕES SEMINAIS PARA APROVAÇÃO DE TOUROS A MONTA NATURAL SEGUNDO O CBRA (COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL)................................................................................. 24 4.8. COMO LAVRAR O LAUDO............................................................................. 24 5. CONGELAÇÃO DE SÊMEN................................................................................... 25 5.1. INTRODUÇÃO.................................................................................................... 25 5.2. MATERIAL NECESSÁRIO............................................................................... 25 5.3. SEQUÊNCIA PARA CONGELAÇÃO.............................................................. 25 5.4. LAUDO PARA SÊMEN CONGELADO........................................................... 31 5.5. PROVAS LABORATORIAIS DE INTEGRIDADE DA MEMBRANA PLSMÁTICA...................................................................................................... 31 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................... 32 7. LITERATURA CONSULTADA............................................................................... 32 3 1. ANATOMIA DO SISTEMA GENITAL MASCULINO BOVINO 1) Ureter 2) Testículo (t) 3) Epidídimo 4) Ducto deferente (dd) 5) Bexiga 6) Glândula vesicular (vg) 7) Ampola do ducto deferente (a) 8) Corpo da próstata (pg) 9) Glândula bulbo-uretral (bu) 10) Flexura sigmóide do pênis (sf) 11) Glande do pênis (fe) 12) Isquiocavernoso 13) Músculo retrator do pênis (rp) Reto (r) Pedúnculo do pênis (cp) Cabeça do epidídimo (cap. e) Cauda do epidídimo (caud. e) Escroto (s) 4 1) Bexiga urinária 2) Lig. lateral bexiga 3) Prega urogenital 4) Ducto deferente 5) Ureter 6) Ampola do ducto deferente 7) Glândula vesicular 8) Próstata 9) Parte pélvica da uretra e m. uretral 10) Glândula bulbo-uretral 11) m. bulboesponjoso 1) Funículo espermático 2) Cabeça do epidídimo 3) Corpo do epidídimo 4) Cauda do epidídimo 5) Testículo 6) Ducto deferente 7) Mesórquio proximal 8) Mesórquio distal 9) Ligamento da cauda epidídimo 10) Parte marginal da artéria test. 11) Bordo escrotal 5 2. ENDOCRINOLOGIA DA REPRODUÇÃO DO MACHO Para que os testículos possam produzir espermatozóides de maneira contínua é necessário que o eixo hipotálamo – hipófise – gônadas, esteja em sincronia, de tal forma que os hormônios envolvidos para esta finalidade sejam liberados em quantidades adequadas. O hipotálamo é uma região cerebral localizada no diencéfalo, responsável pela liberação de GnRH. Este hormônio peptídico via sistema porta hiposisário vai até a hipófise, onde é reconhecido pelas células lá presentes desencadeando a secreção das gonadotrofinas (FSH e LH) que através da corrente sangüínea se dirigem até os testículos, resultando na produção de esteróides (estrógeno e testosterona), que participam da formação dos espermatozóides. Os hormônios envolvidos na reprodução são liberados através de retroalimentação positiva ou negativa, conforme a necessidade. Sua produção é estimulada ou inibida, de maneira a se manter concentrações adequadas para a plena produção espermática. Nos testículos há a presença de dois tipos de células: as células de Leydig que produzem testosterona pelo estímulo do LH, testosterona esta que é “ligada” por uma proteína ligadora de andrógenos (ABP) a luz das células de Sértoli (estimulada pelo FSH) produtoras da ABP e responsáveis pela espermatogênese. Conforme há um aumento das concentrações de testosterona circulante, ocorre uma retroalimentação negativa ao nível do hipotálamo resultando numa diminuição dos pulsos de liberação de GnRH desencadeando uma menor liberação de gonadotrofina (LH) que diminui a produção de testosterona pelos testículos. Quando existe a necessidade de uma maior produção deste hormônio ocorre uma retroalimentação positiva e os níveis testosterona são novamente restabelecidos. Outro hormônio que participa dos processos de regulação da secreção de GnRH é a inibina produzida pelas células de Sértoli, ela promove uma maior ou menor liberação dos pulsos de GnRH que diminuem ou aumentam a secreção do FSH afetando a produção da ABP e da própria inibina. É de grande importância o conhecimento deste mecanismo para um bom diagnóstico de alterações reprodutivas que possam vir a afetar o macho prejudicando sua qualidade espermática. Segue adiante o esquema do eixo hipotálamo - hipófise – gônadas. 6 7 3. PATOLOGIAS DO SISTEMA REPRODUTIVO DO TOURO 3.1. PÊNIS E PREPÚCIO Fimose Incapacidade de expor o pênis comumente podendo ser congênito ou adquirido, por traumas ou infecções. Tratamento: cirúrgico, aumento do diâmetro do óstio prepucial. Parafimose Dificuldade de retração do pênis, principalmente devido a lesões de medula, raiva, lesões do músculo retrator do pênis, estenose. Tratamento: limpeza de lesões no pênis, compressas de água fria. Acrobustite Prolapso da mucosa prepucial, ocorrência maior em touro de prepúcio longo por traumas (Bos taurus indicus). Tratamento: cirúrgico. Balanopostite Inflamação do pênis (balanite) e prepúcio (postite), freqüentemente ocorrem simultaneamente balanopostite. Agentes causadores: Herpesvírus1 do bovino, Campylobacter fetus, Actimomyces, Mycobacterium bovis, Pseudomonas aeroginosa, IBR/IPV, Tricomonas fetus, Habronemose, lesões parasitárias (miíases) ou também por traumatismos. Tratamento: retirada da causa, tratamento antibacteriano (infecções secundárias) com antibióticos sistêmicos de eliminação pela urina, ivermectinina (infecções parasitárias), Organo-fosforado (habronemose). Hematoma peniano Geralmente devido à ruptura da túnica albugínea, por traumas no momento da cópula, freqüentemente o hematoma ocorre no dorso do pênis, a identificação da patologia é dada pela inspeção e palpação. Tratamento: o tempo de recuperação esta diretamente envolvido com a evolução do quadro, utilização de pomadas iodo-iodetadas, ducha, punção (aderências). 8 Desvios do pênis Em espiral, desvio ventral e pênis duplo, que são patologias congênitas de difícil correção. Fistulas peniana e persistência do frênulo intervenção cirúrgica. Urolitíase Obstrução da uretra por cálculos, local de eleição “s” peniano. Tratamento: cirúrgico (uretrostomia). Fibropapilomas Acomete mais animais jovens (baixa resistência). Tratamento: remoção cirúrgica. Edema prepucial Traumatismos em animais de prepúcio longo, picada de insetos ou ofídios. Tratamento: baseado nos agentes causadores. Laceração prepucial Lesões traumáticas no prepúcio, dependendo da extensão e tempo de evolução sutura com plastia local almejando evitar alterações no óstio prepucial, se o tempo de evolução for maior que 24 hs, ferida já contaminada, tratamento tópico (limpeza, agentes desinfetantes, ducha e repelentes), cicatrização por segunda intenção. 3.2. TESTÍCULOS Degeneração testicular Condição adquirida decorrente de fatores que afetam a homeostase testicular. Muitos deles envolvendo a termorregulação, o processo de degeneração é classificado em graus I, II e III, quanto maior o grau maior a severidade da patologia, quase sempre se a causa for retirada o prognóstico é bom a não ser nos casos onde já houve perda de massa testicular e formação de tecido conjuntivo. Tratamento: retirada da causa quando possível. Hipoplasia e aplasia testicular A aplasia testicular é a ausência de um ou dos dois testículos é de rara incidência. Já a hipoplasia (diminuição do tamanho testicular) uni ou bilateral é mais comumente encontrada. Ambas patologias são de origem genética, causada por um gene recessivo de 9 penetrância incompleta. Tratamento: não há, por se tratar de uma patologia de origem genética deve-se afastar o animal da reprodução. Para se diferenciar um quadro de hipoplasia testicular de uma degeneração necessita-se de uma anamnese bem detalhada. Nos casos de degeneração os testículos tinham tamanhos normais e posteriormente apresentaram alterações de tamanho e consistência, já nas hipoplasias sempre foram pequenos. Orquite Freqüentemente causada por uma infecção ou traumatismo. Agudo: aparecimento súbito, presença de aumento de temperatura local, dor, aumento de volume, perda da função, animal se locomove pouco e com as pernas abertas. Causas infecciosas mais comuns nos bovinos são: Brucella abortus, Mycobacterium tubercolosis, Actinomyces pyogenes (anteriormente Corynebacterium pyogenes), Nocardia farcinica, Herpesvírus III dos bovinos (IBR/IPV) e outros microorganismos. Tratamento: ducha, antiinflamatório sistêmico, antibioticoterapia (após cultura e antibiograma). Crônico: aumento de volume, alteração da consistência e perda da característica de dor acentuada. Tratamento: igual ao anterior. Neoplasias testiculares Os tumores testiculares são raros nos bovinos, os que já foram diagnosticados em touros foram os seminomas (de células germinativas) benignos nesta espécie, Tumores das células intersticiais (células de Leydig) e os tumores das células de Sértoli, descritos em bezerros recém-nascidos ou jovens podendo ser resultado de embriogênese prejudicada. Tratamento: quando unilateral retirada do testículo afetado e bilateralmente utilização do animal até que este esteja sendo viável para reprodução. Hérnia inguino-escrotal Presença de conteúdo abdominal na bolsa escrotal pode haver presença alças sem prejuízo com o trânsito intestinal, entretanto o anel pode se estreitar e levar a um encarceramento destas alças. Tratamento: cirúrgico. Rotação testicular Posicionamento ligeiramente diferente do normal, verificado através do eixo maior do testículo, normalmente o testículo se localiza lateralmente nesta enfermidade. Tratamento: Depende do grau de rotação, desde não precisar intervir, reposicionamento do testículo com utilização de sedação ou até procedimento cirúrgico. 10 3.3. CORDÃO ESPERMÁTICO E EPIDÍDIMO Varicocele Formação de varizes (dilatações vasculares), no plexo pampiniforme (artéria e veia testicular + ducto deferente). Tratamento: Unilateral: remoção do lado afetado, bilateral: remoção cirúrgica da varicocele (técnica realizada até hoje apenas em humanos). Granuloma espermático Principalmente em ductos deferentes, desencadeando processos imunes, antigenicidade. Tratamento: manual (tentar desfazer o granuloma) ou cirúrgico (ambos sem muito sucesso). Estases espermáticas Obstruções parciais ou totais do ducto deferente ou do epidídimo, causado geralmente por traumas, inflamações ou hereditário (primeiros anos de vida são férteis depois se tornam estéreis). Tratamento: colheitas sucessivas tentando eliminar o conteúdo parado, usualmente sem sucesso. Epididimites Podem se apresentar de origem traumática ou infecciosa. Agentes comuns envolvidos na inflamação do epidídimo: Brucella abortus, Actinobacillus seminis e Actinomyces pyogenes entre outros. O ejaculado apresenta células inflamatórias. Tratamento: cultura e antibiograma do sêmen para escolha de antibiótico específico, o protocolo de administração deve-se perdurar por 1 a 2 semanas após o desaparecimento de células inflamatórias no ejaculado, caso for unilateral pode-se optar pela castração do lado afetado. 3.4. GLÂNDULAS ANEXAS Vesiculite A inflamação da vesícula seminal é mais rotineiramente encontrada em animais jovens relacionado a monta em outros tourinhos, ocorrendo a contaminação fecal via ascendente. Diversos agentes já foram isolados nos casos de vesiculite tais como: A. pyogenes, B. abotus, M. tuberculosis, micoplasmas, ureaplasmas, entre outros. O ejaculado de animais afetados pode se apresentar amarelado, de aspecto denso e com volume aumentado. Tratamento: antibióticos lipossolúveis com pKa elevado, eritromicina e trimetopim, os aminoglicosídeos são ineficazes, pode-se também optar-se pela remoção cirúrgica da glândula. 11 4. EXAME ANDROLÓGICO 4.1. INTRODUÇÃO O exame andrológico reflete as atuais condições reprodutivas de um macho. O potencial reprodutivo do animal deve ser verificado sempre quando este for para exposições, antes de iniciar uma estação de monta, diagnóstico de sub ou infertilidade, ocorrência da puberdade, destinado a criopreservação de sêmen, etc. A avaliação destina-se a observação das condições semiológicas, bem como as condições de sanidade, alterações genéticas, saúde geral, deficiências na cópula (impotência coeundi), alterações do sistema genital e problemas espermáticos (impotência generandi). O laudo de um exame andrológico, nunca é definitivo (para o resto da vida reprodutiva), sempre se deve levar em consideração que o animal logo após o exame pode vir a sofrer de alguma patologia que o leve a depreciações em sua qualidade espermática, assim sendo nunca emitido com uma validade maior que 60 dias (tempo em que ocorre a espermatogênese mais o trânsito epididimário). 4.2. MATERIAL NECESSÁRIO A) ficha para anotações + caneta B) paquímetro C) fita métrica D) eletro ejaculador (extensão elétrica) ou vaginaartificial E) copo coletor (completo) F) luva de palpação G) microscópio H) mesa aquecedora (37°C) I) banho maria J) lâminas e lamínulas K) câmara de Neubauer L) vidraria (proveta de 100ml, tubo de ensaio, becker) M) pipeta de Sahli ou micropipeta de 20µl N) corantes para patologia espermática ou formol salina 4.3. SEQÜÊNCIA DO EXAME A) Identificação do animal: • Nome, registro, idade, raça. 12 B) Identificação do proprietário: • Nome, endereço, telefone, nome da propriedade. C) Exame do animal: • Anamnese (animal estabulado ou a campo, quanto tempo sem cobrir, doenças anteriores, medicamentos aplicados, etc.) • Geral (verificação dos parâmetros respiratório, cardíaco, digestivo, aprumos, sensibilidade na coluna, etc.) • Sistema reprodutivo (padrões normais) 1. Prepúcio – verificar comprimento, exposição da mucosa (desenvolvimento de acrobustite), diâmetro do óstio (Fimose, Parafimose). 2. Pênis – sem nenhuma alteração, escaras, edema, hematoma, forma, persistência do frênulo. 3. Glândulas anexas – Palpação retal (esvazia-se bem o reto do animal). Vesículas seminais: são lobuladas, bilaterais, aproximadamente medindo 15x4cm (variando com a idade), sem dor a palpação; Próstata: localizada centralmente (palpa-se o corpo), sem dor a palpação; Ampolas: bilaterais, ligeiramente à frente das vesículas seminais, sem presença de grumos, sem alteração dolorosa, espessura variando de um lápis a um dedo; Glândulas bulbo-uretrais: condição normal não é palpável. 4. Testículos e Bolsa escrotal – Observa-se bem o escroto, se não há feridas, bernes, edema, varicocele (dilatações vasculares), então se palpa os testículos que no bovino tem a forma ovóide, posicionamento vertical em relação ao animal, devem ter mobilidade dentro da bolsa, ausência de dor a palpação, apresentar simetria, consistência fibroelástica (semelhante a do músculo bíceps em contração); Mensurações: Circunferência escrotal (realizada na linha média entre a porção mais cranial e a mais distal do testículo) – Tabelas 1 e 2; Medidas individuais de cada testículo demonstram com maior exatidão a verdadeira massa testicular, devendo ser realizadas com o auxílio de um paquímetro: Comprimento = da região do polo proximal até a porção mais distal do testículo (variando de 10 a 16cm); Largura = entre a porção mais lateral e a mais medial (variando de 4 a 8 cm); Espessura = entre a região cranial e distal na porção média do testículo (variando de 4 a 8 cm). Tabela 1 – Classificação de touros Bos taurus taurus baseada no perímetro escrotal (cm) IDADE (MESES) MUITO BOM BOM QUESTIONÁVEL 12-14 >35 30-35 <30 15-20 >37 31-37 <31 21-30 >39 32-39 <32 ACIMA 30 >40 33-40 <33 • Beef Improvement Federation, (1994) 13 Tabela 2 – Classificação andrológica de touros Bos taurus indicus baseada perímetro escrotal (cm) IDADE (MESES) EXCELENTE MUITO BOM BOM QUESTIONÁVEL 7 a <12 21,0 19,5<21,0 17,5<19,5 <17 12 a <18 26,0 24,0<26,0 21,5<24,0 <21,5 18 a<24 31,5 28,5<31,5 26,0<28,5 <26,0 24 a <36 35,0 32,0<35,0 29,0<32,0 <29,0 36 a <48 37,0 33,5<37,0 30,5<33,5 <30,5 >48 39,0 36,0<39,0 33,0<36,0 <33,0 Acima 60 >38 36-38 33-<36 <33 • FONSECA et al. (1997) 5. Epidídimos – Devem ser palpados verificando sua presença, sensibilidade e forma (cabeça – capa acoplada ao polo apical; corpo – como uma fita localizada na face medial dos testículos e cauda – geralmente bem definida na região distal dos testículos, apresentando consistência fibro-elástica de tamanho variando de 1x1 a 3x3, conforme idade do animal e freqüência de ejaculados. 4.4. COLHEITA DO SÊMEN A colheita do sêmen pode ser efetuada basicamente por auxílio de vagina artificial, onde o animal deve ter um condicionamento prévio para que este monte em uma vaca em cio ou em manequim na presença do responsável pela colheita, esta metodologia é a que dá um ejaculado para análise com as características ideais, entretanto na maioria das vezes tem-se que optar pela eletro-ejaculação, onde o ejaculado é obtido por estímulos elétricos sobre suas glândulas anexas, nesta situação a amostra obtida pode não se enquadrar dentro dos padrões normais esperados pela espécie, assim sendo a interpretação do exame deve ser ponderada, para não se reprovar touros aptos a reprodução que não atingiram os índices estipulados. • Colheita com vagina artificial: a vagina artificial é composta de um tubo rígido, com uma válvula para introdução de ar, uma mucosa de látex, um copo coletor protegido de luz e alterações de temperatura. A vagina deve ser cheia com água quente a 42- 45°C e insuflada para apresentar uma pressão entre as paredes da mucosa. O animal condicionado saltando sobre o manequim, deve ter o pênis desviado segurando-se pelo prepúcio e direcionado até a extremidade da vagina artificial, apenas com um leve contato do pênis com a mucosa (sem introdução completa) o touro desencadeia a ejaculação que é diagnosticada com um salto do animal para frente. 14 • Colheita com eletro-ejaculador: com o animal devidamente contido em um tronco, estimula-se a micção, esvazia-se todo seu conteúdo retal, onde será introduzida a probe. Começa-se com estímulos de baixa intensidade mantendo-os por aproximadamente 5 segundos, então gradualmente vai se repetindo a operação com estímulos mais fortes pelos mesmos 5 segundos, até que o animal comece a desencadear a ejaculação. Alguns animais podem não ejacular desta maneira, então se começa de novo com estímulos com duração mais curta (2 segundos) aumentando- se também gradualmente a intensidade. 4.5. ANÁLISE DO SÊMEN 4.5.1. EXAMES IMEDIATOS Logo após a colheita do sêmen deve-se registrar as características do ejaculado (sempre levar em consideração o método de colheita vagina artificial ou eletro-ejaculação) • Volume = Vagina artificial (3 a 5ml); eletro-ejaculador (variável) • Cor = desde branco acizentado até um amarelo citrino • Densidade = Varia do tipo aquoso até leitoso (cremoso) – diretamente relacionado com a concentração espermática • Odor = “Suis-generis” • Motilidade espermática = Se faz uma pequena gota de sêmen entre lâmina e lamínula aquecidas a 37°C e realiza-se a visualização em microscópio com aumento de 200 vezes. A motilidade espermática é analisada segundo uma escala de porcentagem variando de 0 a 100% (número em porcentagem de células que estão se movimentando) Caso a amostra esteja muito concentrada deve-se realizar uma diluição em meio diluidor (por ex. meio I do glicina gema), esta diluição pode ser 1:1 ou 1:2, sêmen:diluidor, dependendo da concentração da amostra. (Motilidade ideal ≥ 70%) • Vigor espermático = Concomitantemente com a motilidade espermática se avalia o vigor espermático na escala de 0 a 5 (velocidade com que o espermatozóide se desloca, quanto maior a velocidade maior o valor). (Vigor ideal ≥ 3) • Turbilhonamento = Nos bovinos outro método utilizado para avaliação da quantidade de espermatozóides móveis no ejaculado é o turbilhonamento (movimento de massa), onde se coloca uma gota espessa sobre uma lâmina aquecida e observam-se imagens semelhantes a ondas, refletindo a movimentação e a concentração de espermatozóides do ejaculado. O turbilhonamento é definido numa escala de cruzes (+), conforme sua presença e intensidade; ausente ( ), uma (+), duas (++), três (+++) ou quatro (++++).(ideal ≥ +++) 15 4.5.2. EXAMES MEDIATOS São realizados no momento da colheita, entretanto podem ser analisados posteriormente. Concentração espermática = Retira-se do volume ejaculado uma alíquota de 20µl utilizando-se uma pipeta de Sahli ou micropipeta e coloca-se em um tubo de ensaio contendo 4ml de água, ou seja, diluição 1:200. Após boa homogeneização, monta-se uma Câmara de Neubauer (ver figura abaixo), preenchendo seus 2 retículos, conta-se todos os espermatozóides presentes em 5 quadrados de cada retículo (vide exemplo), sendo que a variaçãoentre cada uma dos lados da câmara (retículos) não pode ser maior que 10% (se for maior repete-se a operação), então tira-se a média aritmética, o valor encontrado é representado pela letra (n). 16 A concentração espermática média para um touro adulto coletado na vagina artificial é de 800x106 a 1200x106 espermatozóides por ml, quando se utiliza o eletroejaculador a concentração espermática é muito variável, depende muito da quantidade de líquido pré-seminal que é coletada (bom senso do técnico para interpretar a concentração obtida). Ex:. De um dos lados da Câmara de Neubauer Neste exemplo temos 12 espermatozóides azuis que deverão ser contados para efeito de calculo, os mesmos localizam-se nos quadrados cinzas e sobre as linhas azuis, relativos ao cinco quadrados representados, levando-se em consideração o posicionamento 4 3 2 = 17 da cabeça. Espermatozóides que apresentam apenas a cauda dentro do quadrado não são contados. Após a contagem das células espermáticas, colocamos o resultado (n), na seguinte fórmula para cálculo da concentração espermática. Concentração espermática = espermatozóides/mm3 n = Número médio de células contadas nos dois lados da Câmara de Neubauer = Altura entre a lamínula e a Câmara de Neubauer em mm 5 x = 5 quadrados contados x a área do quadrado mm2 = Diluição realizada (20µl de sêmen em 4ml de água) O resultado encontrado é referente a concentração de espermatozóides do ejaculado por mm3, para converter esse dado para ml, basta multiplicá-lo por 103 (1000). Exemplo: Foram contadas 100 células de um lado câmara (em cinco quadrados) e 104 células do outro lado (variação entre os lados menor que 10%), tira-se a média aritmética, o n = 102 (espermatozóides), colocando-se na fórmula, temos: Concentração espermática = , resolvendo a equação Concentração espermática = 1.020 x 103 espermatozóides por mm3, convertendo para ml (x103), a concentração espermática desse touro foi de 1.020 x 106 espermatozóides por ml. “Dica” Sempre que a diluição efetuada for de 1/200, basta multiplicar o (n), por 107 e tem-se direto a concentração por ml. No exemplo passado n = (102) multiplicado por 107, tem-se 1.020 x 106 espermatozóides por ml. 1 10 x 5 25 x 1 200 n 1 10 1 200 1 10 x 5 25 x 1 200 102 1 25 1 25 18 Patologia espermática = Existem duas possibilidades para verificação da patologia espermática, diluindo-se duas ou três gotas do sêmen em 1 ml de Formol Salina, homogeneiza-se bem, coloca-se uma gota em uma lâmina recobre-se com uma lamínula e observa-se em microscopia de contrate de fase aumento de 1000x (imersão), ou colocando- se uma gota de sêmen em uma lâmina e realizando-se um esfregaço, fixa-se o esfregaço em metanol e cora-se a lâmina com corantes Ex:. Karras modificado por Papa et al (1998) (1 min Rosa Bengala lava-se a lâmina em água corrente fraca, então se põe 1 min no Tanino lava-se novamente e 30 segundos no Azul Vitória, lava-se a lâmina, deixa secar, observa-se em microscopia óptica aumento de 1000x). Tanto pelo método do Formol Salino como pela coloração modificada de Karras, conta-se 200 células, percorrendo a lâmina de forma homogênea como mostra o esquema abaixo e classificando os espermatozóides conforme suas patologias, obtendo no final a porcentagem de espermatozóides normais e de cada patologia. Esquema de como se deve percorrer a lâmina para leitura de patologia espermática. As patologias espermáticas são divididas em Defeitos Maiores, relacionados com a infertilidade e Defeitos Menores não interferem diretamente sobre a fertilidade. • Defeitos Maiores 1. Acrossomo: 2. Patologia da cabeça: Subdesenvolvida .............................................................. Isolada patológica ............................................................ Estreita na base................................................................ Piriforme.......................................................................... Pequena anormal ............................................................. Contorno anormal ............................................................ “Pouch formation” ........................................................... 3. Gota proximal: 4. Formas teratológicas: 5. Defeito de peça intermediária: (Desfibrilação, fratura, edema, pseudogota) ........................ 6. Patologia da cauda: Fortemente dobrada ou enrolada......................................... Dobrada com gota.............................................................. Enrolada na cabeça............................................................ 7. Formas duplas: 19 • Defeito Menores 1. Patologia da cabeça: Delgada ............................................................................ Gigante, curta, larga, peq. normal.................................... Isolada normal................................................................... 2. Patologia da cauda e implantação: Retro e abaxial, oblíquo..................................................... Dobrada ou enrolada......................................................... 3. Gota Citop. Distal: Esquema das patologias espermáticas encontradas: A = Patologias de Acrossomo B = Patologias de Cabeça C = Patologias de Inserção de Cauda D = Patologias de Peça Intermediária E = Patologias de Cauda F = Formas Teratológicas 20 Descrição das patologias do quadro anterior A) = Acrossomo A1 = normal A2 = grande A3 = com grânulos A4 = oblíquo A5 = pequeno A6a = sptz s/ acrossomo A6b = solto A7a e b = deformações B) = Cabeça B1a, b e c = normal B2 = estreita B3 = piriforme B4 = lanciforme B5 = raquetiforme B6 = globuliforme B7 = gigante B8 = anã C) = Inserção C1 = normal C2 = reta C3 = invertida C4 = estreita C5 = larga C6 = simétrica C7 = excêntrica (abaxial) C8 = paraxial C9 = retroaxial C10 = rutura do colo C11 = ausência genética da cabeça D) = Peça Intermediária (PI) D1 = normal D2 = curta D3 = comprida D4 = estreita D5 = disforme D6a e b = ruturada D7 = repregueada D8 = tipo axial D9a e b = tipo fibrilar E) = Cauda E1 = gota proximal E2 = gota distal E3 = gota presa na cauda E4 = gota presa na PI E5 = fortemente dobrada E6 = espiraliforme E7 = enrolada cabeça E8 = rudimentar F) = formas duplas Elementos figurados do sêmen de touros a) espermatozóides normais b) gotas livres c) anormalidades primárias d a h) anormalidades secundárias d) cabeças isoladas e) gotas proximais f) gotas distais g) cauda dobrada com gota h) acrossomas livres i) formações ciliares (medusas) k) células epiteliais de descamação l) células linhagem espermática = casos de degeneração testicular m) hemácias n) piócitos 21 • Principais causas das patologias espermáticas A) Cabeça Acrossomo = As alterações no acrossomo como: forma irregular, enrugado ou destacado, podem ser devido ao choque térmico, manipulação indevida ou senilidade. A presença de um grânulo no acrossomo, o denominado Knobbed sperm, é de origem hereditária e está ligado diretamente com a infertilidade do animal quando encontrado em grande quantidade. Vacúolos nucleares: Pouch formation = vacúolos dispersos na região da cabeça do espermatozóide. Diadema defect = caracterizado pela presença de vacúolos na região equatorial da cabeça não mais no acrossomo, formando um colar na cabeça do espermatozóide são invaginações da membrana nuclear devido a rarefação da cromatina, apresentam relação direta com a presença de hipoplasiaou degeneração testicular. Alterações na forma da cabeça como: estreita na base, piriforme, lanciforme e anã, são patologias de origem testicular podendo ser oriundas de hipoplasia ou degeneração testicular. B) Colo Defeitos de inserção como: Abaxial, paraxial e retroaxial, são devido a presença de “goteira”, falha na formação do espermatozóide. A localização da “goteira” definirá o tipo da inserção. A inserção abaxial (mais encontrada nos eqüinos), pode não afetar a fertilidade, pois o espermatozóide tende a se adaptar com o movimento e conseguir um deslocamento compatível com a fertilização. As inserções paraxial e retroaxial apresentam uma maior relação com a infertilidade, pois impossibilitam o deslocamento necessário do espermatozóide para a fecundação. Gotas citoplasmáticas proximais ou distais são restos de citoplasma que são o nutriente do espermatozóide durante o trânsito epididimário. O espermatozóide durante sua maturação pelo epidídimo permanece três dias na cabeça do epidídimo ainda com a presença da gota, posteriormente fica um dia no corpo e finalmente seis dias na cauda onde deve se desprender desta gota; teorias afirmam que existem enzimas ativadoras no epidídimo, que dissolveriam a gota. A presença de gotas em grades quantidades podem ser devido: 1) animal imaturo, que começou a produção a pouco tempo, nestes casos colheitas seriadas resolvem, um animal que está há muito tempo em descanso sexual também pode vir a apresentar gotas, devido a um diminuição no trânsito epididimário, da mesma forma colheitas periódicas levam ao desaparecimento da patologia; 2) disfunção epididimária devido a alterações de temperatura (deficiência na termorregulação) levando a um desequilíbrio iônico Na+ e K+, causando alterações no ciclo de maturação; 3) degeneração testicular, levando a disfunção epididimária; 4) hipoplasia testicular, por se tratar de uma patologia hereditária a gota sempre irá aparecer no ejaculado. 22 C) Peça Intermediária Corkscrew defect (defeito em saca rolha), devido a degeneração do plasmalema, afetando a região das mitocôndrias que fica com aspecto rugoso, podendo dificultar a saída da gota e mais grave afetando a conformação das microfibras que podem se soltar patologia vista em animais idosos. Cabeça destacada (isolada), “goteira” rasa quando se forma podendo ser decorrente de problema de inserção paraxial ou de origem genética. Forma duplas da PI e/ou cauda, origem hereditária. D) Cauda Enrolada, fortemente enrolada, dobrada e fortemente dobrada, são devidas a uma diminuição no número de microfibras 3 ou 4 (Dag defect) neste caso sendo de caráter hereditário, estes animais apresentam elevado nível de Zn no sêmen. Outra causa da apresentação de defeitos de cauda nos espermatozóides pode ser devido a choque osmótico ou térmico. E) Outras anormalidades Aglutinação de cabeça (head aglutination), os espermatozóides chegam em blocos ao epidídimo, e neste local há presença de antiaglutininas que promovem a separação das células, uma disfunção epididimária pode levar ao desenvolvimento desta patologia. Espermatozóides subdesenvolvidos, animais imaturos ou processos interferindo na espermatogênese (de animais maduros) havendo a liberação no ejaculado de células primordiais espermatócitos, espermatogônias, espermátides. Medusa, restos ciliares do epidídimo por disfunção epididimária, geralmente nos casos de recuperação de degeneração testicular. Pseudogota, semelhante a gota citoplasmática, porém situada na porção média da PI, e apresentando tamanho maior que a gota tradicional devido ao envolvimento de 1 ou 2 camadas de mitocôndrias. 23 4.6. MODELO DO LAUDO DE EXAME ANDROLÓGICO A) Identificação do Reprodutor Nome: Raça: Idade: Registro: Proprietário: Propriedade: Endereço: B) Exame Clínico Histórico: Estado Geral: Sistema Reprodutivo: Pênis: Prepúcio: Circunferência Escrotal: Testículos Esquerdo Direito Dimensões (Comp, Larg, Alt.): Simetria: Forma: Posição: Sensibilidade dolorosa: Mobilidade: Epidídimo: Genitália Interna: C) Espermiograma 1. Método de colheita: Data: Hora: 2. Características do ejaculado Volume: Motilidade: Cor: Vigor: Aspecto: Concentração: Turbilhonamento: Total espermatozóides: 3. Características Morfológicas: Método de avaliação Karras ( ) Formol salina ( ) Defeitos Maiores: Defeitos Menores: Total de Defeitos: D) Observação E) Conclusão Local, data Veterinário Responsável: Assinatura: CRMV 24 4.7. PADRÕES SEMINAIS PARA APROVAÇÃO DE TOUROS A MONTA NATURAL SEGUNDO O CBRA (COLÉGIO BRASILEIRO DE REPRODUÇÃO ANIMAL) • Monta Natural: Motilidade progressiva = 70% Vigor = 3 Movimento de massa = +++ Total de formas anormais = 30%, sendo no máximo 20% de defeitos menores, 5% de defeitos maiores individuais (de uma patologia só Ex. 5% de gota proximal) e 10% de defeitos menores individuais. 4.8. COMO LAVRAR O LAUDO Após serem realizados todos os eventos acima se tem que concluir se o animal examinado se encontra apto ou inapto a desenvolver atividade reprodutiva. Em algumas situações onde o animal esta muito tempo sem realizar coberturas, ou iniciando sua atividade reprodutiva (animal jovem), e ele não se enquadrar dentro dos padrões estipulados, então sugere-se um novo exame em 30 dias.(colheitando ou submetendo o animal a monta durante esse período) Os animais que se enquadrarem dentro das normativas vigentes, devem ser considerados na conclusão do laudo como: O animal se encontra apto a desenvolver atividade reprodutiva de acordo com índices recomendados pelo CBRA Os animais que não obtiverem índices mínimos estipulados são considerados inaptos ao exercício reprodutivo ressaltando porque foram reprovados. Ex. O animal não se encontra apto a desenvolver atividade reprodutiva, pois apresenta patologia espermática acima dos índices recomendados pelo CBRA 25 5. CONGELAÇÃO DE SÊMEN 5.1. INTRODUÇÃO A congelação do sêmen trouxe vários benefícios ao sistema de produção dos bovinos, facilitando a comercialização do material genético a baixo custo, controlando doenças sexualmente transmissíveis e principalmente apressando a seleção genética. Nos bovinos esta técnica esta bem estabelecida, possibilitando a obtenção de índices de fertilidade satisfatórios desde que empregada com pessoal capacitado para essa finalidade. O medico veterinário capacitado a realizar esta biotecnologia, vem ampliando seu campo de trabalho, já que a utilização do sêmen congelado na inseminação artificial tem crescido muito nos últimos anos. 5.2. MATERIAL NECESSÁRIO A) vagina artificial ou eletroejaculador B) microscópio C) mesa aquecedora D) vidraria (proveta de 100ml, tubo de ensaio, becker) E) lâmina e lamínula F) palhetas de 0,25 ou 0,5ml (identificadas) G) Câmara de Neubauer H) pipeta de Sahli ou micropipeta de 20µl I) álcool polivinílico ou bolinhas para lacrar palhetas J) diluente para congelação (Glicina-gema, Tris, TES, etc.) K) uma geladeira (no local) a 5°C para estabilização L) termômetro M) caixa de isopor N) grade para as palhetas (local onde são colocadas as palhetas p/ estabilização) O) suporte para localizar a grade de palhetas acima do nível do N2 P) botijão de N2 (no local) Q) banho Maria 5.3. SEQUÊNCIA PARA CONGELAÇÃO a) Preparo do laboratório Antes de iniciar a colheita do sêmen para congelação, tem-se que preparar os materiais no laboratório ou sala onde será realizada a congelação. Aferir a geladeira se esta entre 4 e 6°C, descongelar os diluentes (não utilizar temperaturas superiores a 60oC) e colocá-los no 26 banho Maria a 37°C, separar um tubo de ensaio com 4ml de água para a concentração espermática. b) Colheita dosêmen O sêmen pode ser colhido com a vagina artificial ou com o eletroejaculador, conforme descrito no exame andrológico. No caso da colheita ser realizada com o eletroejaculador evitar colher muito líquido pré-seminal que posteriormente poderá afetar a manipulação do sêmen. c) Manipulação no laboratório Logo após a colheita do sêmen encaminha-se o ejaculado ao local onde será realizada a congelação. Primeiramente, observa-se a motilidade do sêmen e analisa-se sua característica para saber se este ejaculado tem condições de ser congelado, ele deve ter uma motilidade mínima de 70%, vigor 3, apresentar odor característico e um turbilhomamento de +++ (sugerindo uma boa concentração espermática). Então se retira uma alíquota de 20µl e dilui-se nos 4ml previamente preparado. Neste momento pode-se colocar um pouco de Meio I (2 a 3ml) no ejaculado para que este se mantenha com boa qualidade até a realização da concentração espermática. Anota-se todos os valores em uma ficha volume do ejaculado, motilidade e a concentração. Então se passa a efetuar o cálculo da quantidade de Meio I e II que será adicionada ao ejaculado para que este fique com concentração de espermatozóides e crioprotetor adequados para a congelação. Este cálculo é realizado da seguinte forma: 1) Multiplica-se a concentração por ml encontrada pelo volume do ejaculado, para saber a quantidade de células espermáticas totais do ejaculado. 2) Então se multiplica novamente este valor encontrado pela motilidade do sêmen para obter a quantidade de espermatozóides viáveis do ejaculado. 3) Neste ponto temos que definir a concentração de espermatozóides viáveis que serão colocados em cada dose (nós utilizamos 30x106 espermatozóides viáveis por dose pré-congelação). 4) Dividi-se então a concentração total de espermatozóides viáveis do ejaculado (item 2) por 30x106 e obtém-se o número de doses que serão congeladas. 5) Sabendo-se que em uma palheta média cabe 0,5ml, divide-se o números de doses a serem congeladas por 2, que dará o volume de diluente (Meio I + II) a ser adicionado ao ejaculado. 6) O Meio II do diluente tem 12,8% de glicerol (crioprotetor) em sua composição, sendo que a concentração ideal de crioprotetor para congelação de sêmen bovino é de 6,4%, então metade do volume final desta solução (sêmen + diluente) deve ser de Meio II a outra metade dever conter o volume do ejaculado + o restante de Meio I (que não possui crioprotetor). 7) Sempre se dilui primeiro o sêmen com o Meio I e depois se adiciona lentamente o Meio II, devido a alta concentração de glicerol. Ex. Um touro ejaculou 10ml com motilidade de 80% e vigor 3, a concentração do ejaculado foi de 900x106 espermatozóides por ml. 1) Multiplica-se concentração x volume (900x106 x 10 = 9000x106) 27 2) Vezes a motilidade (9000x106 x 80% (0,8) = 7200x106) 3) Divide-se pela concentração da dose 7200x106 ÷ 30x106 = 240 doses 4) Dividindo por 2 tem-se 120ml de solução final (volume necessário para encher 240 palhetas) 5) Dos 120ml metade é de Meio II = 60ml a outra metade é de meio I + o volume do ejaculado 50 (Meio I) + 10 (Volume ejaculado) = 60ml. 6) Acrescentam-se 50 ml de Meio I ao ejaculado e posteriormente os outros 60ml de Meio II lentamente. Quando se utiliza diluente onde a apresentação é apenas um meio único para congelação, por exemplo, TRIS, realiza-se o cálculo das doses da mesma forma, entretanto ao se diluir o sêmen apenas se desconta o volume do ejaculado do valor final de diluente a ser acrescentado. Exemplo: Utilizando-se os mesmos valores do exemplo anterior onde, após os cálculos tínhamos 240 (palhetas) doses. Assim sendo utilizaremos são necessários 120 ml para preencher 240 palhetas (0,5 ml cada palheta), como o animal ejaculou 10 ml adiciona-se o restante para completar os 120 ml, logo utilizaremos 110 ml de diluente. 28 • Identificação das palhetas As palhetas devem conter dados que possam identificar com precisão o animal o qual o sêmen foi congelado (nome do animal), a data da congelação e a partida. A raça também deve estar incluída seguindo um padrão com 3 letras, como segue tabela abaixo: CÓDIGO RAÇA CÓDIGO RAÇA ABG Aberdeen Angus JER Jersey ANR Angus Vermelho LAV Lavinia AYR Ayrshire LIM Limousine BLA Blonde D’Aquitaine LIR Lincoln Red BRA Brahman LUN Luing BRU Brangus MAR Marchigiana CAN Canchim MIJ Maine Anjou CAR Caracu MON Mocho Nacional CHA Charolosa NEL Nelore CIN Chianina NEM Nelore Mocho CUL Curraleiro NOR Normanda DEP Polled Devon PAN Pantaneiro DEV Devon PIM Piemontesa DIV Dinamarquesa Verm. PIN Pinsgawer DOM Draugthmaster PIT Pitangueiras FLA Flamenga REP Red Poll GAL Galloway ROM Romagnola GEL Gelbvieh SCY Schwyz GIL Gir Leiteiro SGT Snata Gertrudes GIM Gir Mocho SHD Shorthorn Leiteiro GIR Gir SHO Shorthorn GNY Guersnsey SHP Polled Shorthorn GUZ Guzerá SID Sindi HAC Hays Converter SIM Simental HEN Herens SOD South Devon HEP P. Hereford SUX Sussex HER Hereford TAB Tabapuã HOP Holandesa Preta TAR Tarantaise IND Indubrasil HOV Holandesa Vermelha Para a impressão destes dados nas palhetas existem algumas possibilidades: 1. Utilizar um papel estêncil perfurado (com auxílio de uma máquina de escrever) com os dados do animal, sobre um pedaço de isopor com uma fenda do tamanho da palheta e preenchido com tinta para tecidos, então se pressiona a palheta sobre este molde, 29 impregnando-se os dados na palheta. Método barato e com boa qualidade de impressão, porém trabalhoso. 2. Escrever nas palhetas com uma caneta esferográfica de ponta fina a base de álcool. Procedimento muito barato, muito trabalhoso e dependendo da caligrafia do operador. 3. Pode-se também adquirir uma impressora manual simples que possui vários carimbos e você roda os carimbos até se posicionarem da maneira a formar o nome do animal, partida, raça, etc. que você deseja, passa-se tinta de tecido sobre a seqüência de carimbos selecionados e com um mata borrão imprimi-se 4 ou 5 palhetas de cada vez. Relativamente barato, menos trabalhoso que os anteriores, com boa qualidade de impressão. Pagar para uma empresa que possua uma máquina de impressão automática ou semi- automática para imprimir as palhetas. Empresas de chuveiro, fábrica de fios elétricos, centrais de congelação de sêmen, universidades que possuam a impressora, etc. Não é muito caro e fica com ótima qualidade. • Envase das palhetas 1. O envasamento das palhetas é feito através de diversos tipos de equipamentos: manuais, semi-automáticos e automáticos. • Fechamento das palhetas Para lacrar as palhetas existem três possibilidades: 1. Utilizar álcool polivinílico é um pó que em contato com o líquido se polimeriza impermeabilizando a palheta. 2. Fechar com bolinhas de vidro ou plástico a extremidade das palhetas. 3. Lacrar a palheta com aquecimento. Após o fechamento das palhetas, com um leve movimento manual deve-se centralizar a bolha de ar na palheta. • Fase de estabilização Após todas as palhetas estarem devidamente preparadas, estas são colocadas em uma grade de aço inox e submetidas à primeira curva de resfriamento que é realizada a 5°C (podendo ter uma variação de ± 1°C) em geladeira por quatro horas. • Fase de resfriamento rápido Passada a primeira estabilização a grade de inox com as palhetas é retirada da geladeira e levada a uma caixa de isopor com 3 cm de nitrogênio líquido ao fundo, sobre um suporte que mede 6cm de altura (3 cm ficam submersos e os outros 3 acima do nível do 30 N2),permanecendo por 20 minutos. Decorrido esse tempo retira-se o suporte e mergulha-se as palhetas no nitrogênio líquido. Após a congelação das palhetas estas podem ser acondicionadas em “rack” e colocadas no botijão ou simplesmente colocadas em um tubo de plástico que caiba na caneca ou canister do botijão. A posição correta de armazenamento da doseé com a bucha voltada para baixo dentro das canecas ou “rack” do botijão criobiológico. • Descongelação Sempre se retira uma palheta da partida congelada para avaliação do procedimento. Esta palheta pode ser descongelada em banho maria a 37°C por 30 segundos metodologia tradicional, no entanto trabalhos mostram que quanto maior a temperatura de descongelação melhor a qualidade do sêmen descongelado, porém devemos nos lembrar que quem irá manipular esta palhetas é o peão e quanto maior a temperatura de descongelação menor é o tempo de exposição da palheta a água quente e consequentemente maior a probabilidade de acontecer acidentes. Assim sendo preconizamos a temperatura de 50°C por 20 segundos como a que traz bons resultados espermáticos. • Análise do sêmen pós-descongelação Retirando-se a palheta do banho maria, deve-se secá-la bem com uma pano ou toalha de papel, para evitar que alguma gota de água entre em contato com o sêmen, posiciona-se a bolha para ponta da palheta e corta-se com uma tesoura na porção onde se localiza o lacre (álcool polivinílico, bolinha). Verifica-se a motilidade, vigor, a concentração e faz-se um esfregaço ou colocam-se duas gotas de sêmen em um “ependorff’ com meio ml de formol- salina, para análise da patologia espermática. Lacra-se a palheta novamente e leva-se ao banho maria a 46°C por 30 minutos para realização do teste de termorresistência. O teste de termorresistência não é adotado como prova para avaliação de sêmen pós descongelação pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento, entretanto achamos importante sua realização e adotamos como índices mínimos aceitáveis após o teste uma motilidade de 20% com vigor 2. Padrões mínimos estipulados pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento, portaria SRD-26 de 05/09/1996. A portaria recomenda descongelação a 35-37°C por no mínimo de 30 segundos Volume da dose ≥ 0,25 ml Motilidade progressiva ≥ 30% Vigor ≥ 3 Porcentagem de patologia espermática aceita: Doses com concentração ≥≥≥≥ 10x106 espermatozóides com motilidade progressiva Defeitos totais ≤ 30% Defeitos maiores ≤ 20% Doses com concentração entre 6x106 a 10x106 espermatozóides com motilidade progressiva 31 Defeitos totais ≤ 20% Defeitos maiores ≤ 10% 5.4. LAUDO PARA SÊMEN CONGELADO Dose aprovada A dose se encontra dentro dos padrões estipulados pelo MAARA. Dose reprovada A dose se encontra fora dos padrões estipulados pelo MAARA, por apresentar motilidade progressiva menor que 30% ou por apresentar patologia espermática acima dos índices estipulados, etc. 5.5. PROVAS LABORATORIAIS DE INTEGRIDADE DA MEMBRANA PLASMÁTICA Atualmente, um fator de grande importância pesquisado pela sociedade científica, é a integridade da membrana plasmática (IMP) do espermatozóide na pós-descongelação. As colorações simples como o Karras, por exemplo, não conseguem identificar se a membrana plasmática esta integra ou não. Assim sendo se desenvolveram provas que nos possibilitam identificar essa integridade como: 1. Coloração supra-vital utilizando eosina-negrosina É uma prova simples onde se coloca uma gota de sêmen na extremidade de uma lâmina + uma gota deste corante, homogeneiza-se bem as gotas e se realiza um esfregaço. Após a secagem da lâmina leva-se ao microscópio em aumento de 400 vezes e conta-se 200 células, sendo que os espermatozóides que estiverem com a coloração vermelha estavam com a membrana lesada e permitiram a entrada do corante os demais que não se coraram são classificados como íntegros e o valor é expresso em porcentagem. 2. Choque osmótico Outra prova bem simples de ser realizada, submete-se o espermatozóide a um estresse osmótico utilizando água destilada aquecida a 37°C, coloca-se uma gota de sêmen em 19 gotas desta água destilada e conta-se também 200 células, sendo que as que apresentarem dobramento de cauda são consideradas íntegras e as que permanecerem retas lesadas. A fisiologia do processo é que as membranas íntegras começam a receber um grande influxo de água pois a água vai do meio menos concentrado no caso a água que tem osmolaridade 0, para o gradiente mais concentrado no caso a célula espermática com osmolaridade próximo de 280Mosmol e esse excesso de pressão dentro da célula faz com que esta se deforme dobrando a cauda. As células que não tinham a membrana íntegra não fazem esta troca osmótica e permanecem esticados, os resultados são expressos em porcentagem, descontando-se os espermatozóides que já apresentavam caudas dobradas como patologia espermática. Ex. 60% de células dobraram a cauda após o choque osmótico e o touro tinha 32 5% de caudas dobradas ou enroladas como patologia espermática, logo concluímos que este animal tem 55% de células com integridade de membrana plasmática. 3. Sondas fluorescentes É uma técnica mais refinada, que necessita de um microscópio de fluorescência, cujo custo é muito caro, porém pode-se destinar a amostra a um local que possua este equipamento e realize o exame. São utilizadas duas sondas fluorescentes (“corantes”), um é um éster de carboxifluoresceína substância apolar que penetra em membrana íntegra, ela é metabolizada no citoplasma do espermatozóide por esterases lá presentes, transformado em fluoresceína que não consegue sair da célula emitindo uma coloração verde. O outro corante é uma substância polar que não consegue penetrar em membrana íntegra. Só o faz quando ela está lesada ao penetrá-la atinge o núcleo do espermatozóide e libera um RNAm que codificará as organelas a produzirem uma fluorescência vermelha. Então as células que se coram de verde são as com membrana íntegra e as que expressarem cor vermelha apresentam algum tipo de lesão em sua membrana. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Espero que esse material seja um grande auxílio, no desenvolvimento dessa sua nova opção de trabalho e que você a desempenhe sempre com muita responsabilidade e profissionalismo, lembrado-se que estamos sempre a sua inteira disposição para qualquer eventual dúvida ou esclarecimentos. Boa sorte. 7. LITERATURA CONSULTADA DYCE, K.M.; SACK, W.O.; WENSING, C.J.G. Tratado de anatomia veterinária. 2ª ed, Editora Afiliada, 1996. HAFEZ, E.S.E. Reprodução animal. 4ª ed, Editora Malone, 1998. Manual para exame andrológico e avaliação de sêmen animal, do CBRA N°017/1996 POPESKO, P. Atlas de anatomia topográfica dos animais domésticos. Editora Malone, v.III, 1990. SMITH, B.P. Tratado de medicina interna de grandes animais. 1ª ed, Editora Malone, v.II. 1994.