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1 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 - PROPEDÊUTICA EM COLOPROCTOLOGIA – (AULA 1 – 02/02/2021) IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA CLÍNICA o Pela dificuldade que o paciente em geral apresenta para descrever as suas queixas retais o Pela grande precisão de métodos de exame do ânus, reto e sigmóide distal através do toque retal e retosigmoidoscopia → exame simples / fácil / “tabu”, vergonha do paciente em deixar ser examinado Propedêutica em coloproctologia Reto e canal anal • Doenças orificiais • CA canal anal • CCR - carcinoma colorretal Cólon e intestino delgado • Pólipos • CCR - cancer colorretal • Doença diverticular • DII – DC (boca ao ânus) / RCU (intestino grosso) Não devemos ficar satisfeitos apenas em diagnosticar o paciente. É de suma importância o rastreio do paciente e avaliação de todo o cólon, íleo terminal e se possível de todo o intestino delgado PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS DAS DOENÇAS ANORRETAIS o Sangramento: deve ser descrito/ caracterizado adequadamente • sangramento vermelho vivo/ “pinga no vaso”/ suja o papel durante a evacuação - doenças orificiais (doença hemorroidária, fissura, fístula) • Sangramento escurecido/ misturado às fezes, pode vir acompanhado de muco - normalmente tem origem mais proximal - podendo por ex. estar relacionado a pólipo, doença inflamatória intestinal ou mesmo um CA colorretal o Dor anal • Fissura anal: dor durante a evacuação • Abcesso ou trombo anorretal o Prolapso: projeção da mucosa para fora do reto/ canal anal • situação relativamente “comum” principalmente relacionada às hemorróidas/ DD com prolapso completo do reto o Prurido anal: situação muito comum, e está relacionada principalmente à higiene do paciente - por ex. pacientes que fazem a higiene com papel higiênico o Tumefações o Escapes o Incontinência o Tenesmo → RCU (retrocolite ulcerativa): reto inflamado gera uma sensação de “peso”/ necessidade de evauação ou mesmo evacuação incompleta → CA colorretal DOENÇAS MAIS COMUNS QUE SE RELACIONAM A ESTES SINTOMAS o Hemorróidas o Fístulas/ abcessos o Fissura anal o DST o CA canal anal* 2 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 o CA reto* #OBS: não podem nos passar desapercebidos!! O exame proctológico é simples, barato e de fácil execução. Através dele podemos muitas vezes ter indícios diagnósticos que norteiem o diagnóstico dessas doenças. Por isso a análise minuciosa do médico é essencial PROPEDÊUTICA RETO E CANAL ANAL Exame proctológico completo: 1. Inspeção anal 2. Palpação e toque retal 3. Anuscopia 4. Retossigmoidoscopia A grande maior parte das doenças que iremos atender no ambulatório são as que compreendem esse segmento distal – ou um pouco acima da linha pectínea ou um pouco abaixo. o Linha pectínea (denteada) • Marco anatômico de grande importância • Região formada por todas as glândulas anais juntas – delimita o local onde a mucosa intestinal se funde com o epitélio escamoso (pavimentoso) do canal anal • A partir da linha pectínea temos: A. Zona colorretal – epitélio colunar estratificado B. Zona de transição – a partir da linha pectínea proximalmente situada entre a mucosa colorretal ininterrupta acima e o epitélio escamoso ininterrupto abaixo C. Zona escamosa – se estendendo a partir da linha pectínea distalmente até a junção mucocutânea e destituída de apêndices cutâneos) – epitélio estratificado pavimentoso não queratinizado • Drenagem linfática ✓ Acima da linha pectínea → linfonodos anorretais, perirretais, e paravertebrais ✓ Abaixo da linha pectínea → linfonodos inguinais superficiais • Vascularização ✓ Acima da linha pectínea → A. retal superior (ramo da mesentérica inferior) → Plexo hemorroidário interno → veia retal superior (sistema porta-hepático) → Inervação simpática: plexo mesentérico inferior → Inervação parassimpática: nervos esplâncnicos pélvicos e plexo hipogástrico inferior ✓ Abaixo da linha pectínea → Aa. Retais média e inferior (R. da ilíaca interna) → Plexo hemorroidário externo → veias retais média e inferior → Linfa → linfonodos inguinais → Nervo pudendo → inervação sensorial 3 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 • OBS: Fissuras anais - localizadas abaixo da linha pectínea → lesões bastante dolorosas - região extremamente sensitiva O lúmen possui dobras de membrana mucosa (colunas anais) produzidas por corpos cavernosos arteriais (almofadas [coxins] anais) na submucosa. Tais colunas estão conectadas umas às outras em suas porções distais por dobras transversais (válvulas anais). Atrás das válvulas anais encontra-se criptas (criptas de Morgagni), no interior das quais os ductos excretores das glândulas anais se abrem. Todas as válvulas anais em conjunto formam a linha denteada (ou pectínea), uma linha serrilhada onde a mucosa intestinal se funde com o epitélio escamoso (pavimentoso) do canal anal. Musculatura que envolve o reto termina no canal anal, no esfincter anal interno (musculatura lisa, ação involuntária - autônoma) → Esfincter anal externo → músculo estriado - inervação somática → classifica o trajeto da fístula PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS DAS DOENÇAS CÓLICAS • Alterações do ritmo intestinal - diarreia / constipação → principalmente alterações recentes (paciente que possuía transito intestinal normal e notou modificações recentes) • Dor abdominal • Sangramento • Emagrecimento e Anorexia: podem estar relacionados ou a doenças consuptivas (CA) ou doenças inflamatórias (redução da absorção de nutrientes) • Doenças mais comuns atendidas no ambulatório: → Constipação funcional e orgânica → Doença diverticular → Pólipos → Síndromes polipóides (HNPCC e FAP) → CCR PROPEDÊUTICA - INTESTINO DELGADO E GROSSO • Cólon e intestino delgado - pode ser avaliado a partir de: → Exames endoscópicos → Exames de imagem intestino delgado e grosso - entero-TC; entero-RNM; cápsula endoscópica; DINÂMICA DO EXAME PROCTOLÓGICO • Ambiente adequado • Sempre ser acompanhado por uma segunda pessoa (assistente, enfermeira) • Conversar com o paciente antes de levá-lo para à sala de exame • Deixá-lo seguro de que não vai sentir dor • A importância do relaxamento do paciente na hora de iniciar o exame avisando antecipadamente a cada etapa do exame • Não expor o paciente #OBS: Na presença de fissuras ou tromboses podemos não realizar o exame completamente – condição muito dolorosa para o paciente #OBS: Antes do exame proctológico devemos sempre realizar o exame abdominal, uma vez que as doenças do ânus e reto como é o caso das ISTs e neoplasias tem repercussão em linfonodos, principalmente da região inguinal → necessária avaliação 4 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 o Posições utilizadas no exame proctológico • Posição de Sims → paciente em decúbito lateral esquerdo (deita o sigmóide para esquerda deixando o reto livre) com nádegas mais afastadas do centro da maca e mais próximas ao examinador • Posição Genupeitoral - era uma posição bastante utilizada, contudo, para o paciente é extremamente desconfortável, dessa forma quando possível evitamos a utilização dessa posição para realização do exame 1) #INSPEÇÃO 1.1 Condições dermatológicas (pele da região) ▪ Dermatite anal – vermelhidão (rubor), comumente acompanhada por queixa de prurido, - na grande maioria das vezes associada ao uso frequente do papel higiênico e más condições de higiene locais Devemos lembrar que esta é uma região com: pouca ventilação; grande exposição à calor e umidade bem como contaminação de fezes - soma de situações que pode cursar com infecções secundárias associadas (ex: candidíase) ▪ Dermatites anais crônicas – figura 3 – notar o espessamento da pele da região orificial 1.2 Avaliação do tônus anal ▪ Em pacientescom certo grau de incontinência há perda da tonicidade 1.3 Hemorróidas externas ▪ Pele tumefeita ▪ Pode estar associado à tromboses - extremamente dolorosa 2- Lesão aguda, notar ruborização intensa 1- Ânus normal 3Dermatite crônica - lesões em forma de placas, mudança da consistência da pele 5 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 1.4 Lesões locais ▪ Fissura anal grande apresentando áreas sangramento - intensificado durante a evacuação ▪ Fístula anal complexa – orifícios múltiplos com drenagem de secreção pustulosa ▪ Fissura anal com fundo sujo e com plicoma mostrando uma reação inflamatória em ressposta à esta lesão → fissura atípica - normalmente pouco dolorosa → devemos investigar outras condições No caso em questão trata-se de um paciente com sífilis 3ª - notar manchas palmares #OBS: Fístulas DC - normalmente se originam na mucosa do reto e do cólon. Essa doença leva ao acometimento transmural (não é como a RCU restrita a mucosa), dessa forma na maioria das vezes se inicia no reto e se exterioriza na forma de fístula anal. Em alguns casos, caso a lesão seja mais superior, pode haver transfixação do reto e acometimento de vagina, intestino delgado (quando acima da reflexão peritoneal) Foto 1 – observar a formação de uma solução de continuidade - paciente normalmente chega com queixa de muita dor, podendo ou não estar acompanhada de sangramento anal. - fissura anal aguda < 6 semanas Foto 2 - fissura anal crônica (> 6 semanas) - fundo esbranquiçado - exposição do esfincter anal interno Pode estar associada à presença de plicomas e papilas hipertróficas (exteriorizando) TRÍADE DA FISSURA CRÔNICA =. FISSURA ANAL + PLICOMA SENTINELA + PAPILA HIPERTRÓFICA 6 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 O mecanismo da formação das fissuras anais estão diretamente associadas à contração desse esfincter. De forma que o tratamento da maior parte das fístulas se dá por administração de medicação que promova o relaxamento desse local, sendo atualmente a esfincterotomia conduta de escolha restrita (cirurgia) Fase aguda – abcesso anorretal fase crônica - abcesso que evoluiu com fístula crônica – drenagem de material purulento Aplicações: • Determinar a complexidade da fístula - somente um orifício fistuloso? múltiplos? qual a distância destes da margem anal? • Quanto maior o número de orifícios fistulosos e quanto mais distantes eles tiverem da margem anal mais complexa é a fístula - normalmente estas estão associadas a doenças de base como ex: DII (DC e RCU), tuberculose intestinal, etc. • Identificar os fatores de risco e a recorrência, bem como distúrbios da continência REGRA DE GOODSALL Devemos saber descrever a localização do orifício fistuloso Linha imaginária partindo-se do ânus entre 3 e 9 horas • Orifício localizado anteriormente → normalmente tem trajeto retilíneo para dentro do canal anal • Orifícios localizados posteriormente → tem trajeto curvilíneo Como sabemos as fístulas terão um orifício externo (visível) e um orifício interno (não visível), de forma que a partir dessa regra conseguiremos encontrar o orifício interno das fístulas em pelo menos 90% dos casos Paciente com orifício mais anteriorizado (voltado para a região de períneo) de forma que podemos inferir que a fístula terá trajeto mais retilíneo paciente c fistula mais anterior (mais para regiao do períneo0? trajeto mais retilíneo INSPEÇÃO DINÂMICA • Realizado solicitando ao paciente para que faça esforço evacuatório • Avaliação de prolapso mucoso e hemorroidário • Para avaliar prolapso total do reto - pode ser necessária posição de cócoras 7 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 QP: “Toda vez que vai evacuar sente que sai uma bola de dentro do ânus (prolapso completo do reto)” OBS:. O professor orientou forçando os coxins hemorroidários, futuramente podem ocasionar um prolapso mucoso Hemorróida externa - “cor da pele” - extremamente dolorosa Notar mamilos hemorroidários internos se projetando - prolapso mucoso → situação aguda (pseudoestrangulamento hemorroidário - tromboflebite) Foto da direita inferior - mamilos hemorroidários múltiplos, das 3, 9, 7 e 11 horas prolapso mucoso do reto Prolapso completo do reto – paciente idosa, períneo flácido – necessita intervenção cirúrgica - retossigmoidectomia perineal TOQUE RETAL o Feito sempre pelo dedo indicador - 2 luvas (após análise do toque retira-se uma das luvas partindo para a 3ª etapa do exame - anuscopia) o Avisar sempre ao paciente que se mantenha relaxado o Palpação prévia externa da margem anal (posterior → laterais → anterior) o Solicitar ao paciente que faça força para evacuar o Avaliar mucosa – lisa? Regular? Presença de massa? Pólipo? Sangue no dedo de luva? o Avaliar tonicidade dos esfíncteres (com e sem esforço) - pedir para o paciente “prender o seu dedo” • Homem - próstata (anterior) • Mulher - útero, colo e reflexão do fundo de saco (parede que separa o reto da vagina) #OBS: Nas mulheres multíparas/ idosas podemos a palpação dessa parede pode ser sentida como um orifício - retocele - nesses casos também é indicado exame ginecológico – OBS: pode levar a constipação intestinal (obstrução #OBS: Professor contou uma história de uma paciente que ele atendeu há anos atrás. “Moça de 19a que procurou atendimento no PS com queixa de sangramento retal. No PS recebeu atendimento diagnosticaram-na com hemorroida e a mandaram para casa. Um ano depois ela engravidou e o sangramento voltou (disseram que a hemorroida era uma complicação frequente da gestação*) e novamente foi mandada para casa. O professor a atendeu no dório silva isso 8 m após a filha da mesma nascer e através toque retal foi possível identificar uma massa exuberante” – CA colorretal com extensão para parede anterior do útero e colo da vagina → importância do exame proctológico no diagnóstico e na identificação e intervenção precoce de condições patológicas 8 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 *E realmente o é – o útero leva a compressão do plexo hemorroidário inferior e uma estase venosa, levando ANUSCOPIA o É a melhor maneira para examinar as doenças do canal anal. o É a melhor maneira de tratar as doenças anais e do canal anal. o Etapas - Avaliação mucosa retal inferior (rósea) - Avaliação da zona de transição anocutanea (linha pectinea – mais escura/ azulada) – Papilas? Verrugas? orificios fistulosos? fissuras e mamilos hemorroidários (manobra de Valsalva). o Avaliação do reto inferior (mucosa) – rosada o Avaliação da doença hemorroidária interna. o Tratamento das doenças do canal anal o A artéria mesentérica inferior é ramo direto da Aorta e da origem as artérias sigmoideas e por fim a artéria retal superior (que se divide em lateral direita e lateral esquerda). A artéria lateral direita se subdivide em: R. anterior e R. posterior, já a artéria lateral esquerda só possui o ramo lateral Por esse motivo temos os mamilos hemorroidários lateral esquerdo (3); anterior direito (7h) e posterior direito (11)? OBS: A doença hemorroidária sangra muito (esguincho de sangue vermelho)! Lembrar que a artéria mesentérica inferior é ramo da aorta! As fezes normalmente ficam localizadas no colon sigmoide. A passagem destas para o reto se da graças ao reflexo gastrocólico “sensação de vontade de evacuar”. As mulheres principalmente, não vão ao banheiro em qualquer lugar, tendendo a prender as fezes – - quando essa situação ocorre com frequência há a perda desse reflexo → o esfíncter anal interno, continuidade da musculatura interna relaxa; o esfíncter anal externo (voluntário) nesses casosO esforço para evacuar → despencamento dos mamilos hemorroidários #OBS: Ao longo dos anos (envelhecimento) há a tendência de desenvolvimento de doença hemorroidária CLASSIFICAÇÃO DAS HEMORROIDAS INTERNAS QUANTO AO GRAU Hemorroida de 1º grau: não exterioriza, se mantém a nível da linha pectínea Hemorroida de 2º grau: início do desabamento dos coxins, podendo ser visível quando solicitamos ao paciente que o mesmo faça “força para evacuar” (exteriorização do mamilo interno que retorna a posição inicial logo em seguida) Hemorroida de 3º grau: mamilo hemorroidário exteriorizado que não consegue retornar a posição original (necessário empurrar – redução igital) Hemorroida de 4º grau: constantemente exteriorizada 9 NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 #TT DE HEMORROIDAS 2º-3º GRAU: o Princípio – destruição do plexo h. interno Químicos – Escleroterapia - Ethamolin Mecânico – L. elástica – mais utilizada (estrangulamento levando a necrose, queda fibrose e fixação do epitélio anal) → queda da hemorroida ~6 dias Elétrico – Fotocoagulação Térmicos – Crioterapia RETOSSIGMOIDOSCOPIA o Todo paciente com queixas anorretocólicas de qualquer natureza. o Capacidade de avaliar reto e sigmoide distal (25 cm) o Pacientes assintomáticos relacionado ao grupo de risco para CCR devem realizar após os 40 anos de idade. o História familiar de CCR, Pólipos adenomatosos e Sindromes polipoides (iniciar o rastreio aos 12 anos de idade). #OBS: Pacientes com DII – RCUI e DC acima de 10 anos de evolução (maior chance de desenvolver neoplasias – realizar anuscopia anual). OBS: DD lesão mostrada na figura: - Fissura anal - Abscesso anal - Fístula anal - Condilomas - Pólipo - CÂNCER DO RETO Exame Proctológico Completo em todos os pacientes. Colonoscopia para pacientes acima de 45 anos para risco médio para pacientes com fatores de risco alto para CCR