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TOXOPLASMOSE GESTACIONAL E CONGÊNITA CORRELACIONADAS À MEDICINA VETERINÁRIA: REVISÃO DE LITERATURA LETÍCIA RODRIGUES SANTANA MOURA Araçatuba – SP 2021 LETÍCIA RODRIGUES SANTANA MOURA TOXOPLASMOSE GESTACIONAL E CONGÊNITA CORRELACIONADAS À MEDICINA VETERINÁRIA: REVISÃO DE LITERATURA Trabalho de Conclusão da Residência em Medicina Veterinária apresentado à Faculdade de Medicina Veterinária – Unesp, Campus de Araçatuba, SP, para obtenção do título de Residente em Medicina Veterinária junto ao Programa de Residência Integrada em Medicina Veterinária. Área de Reprodução Animal Tutor: Prof. Ass. Dr. Carlos Antonio de Miranda Bomfim Araçatuba – SP 2021 AGRADECIMENTOS Primeiramente gostaria de agradecer a Deus por me permitir chegar até aqui. Meus eternos agradecimentos aos meus pais, Luzinete e Gilmar por estarem sempre me apoiando em todas as minhas decisões, não faltando nunca amor, atenção, preocupação e carinho. Além disso, gostaria de agradecer a minha mãe que lutou por mim devido à toxoplasmose gestacional que teve durante a minha gestação e graças a ela, hoje aqui estou. Gostaria de agradecer ao meu marido Carlos Eduardo por todo o apoio e por me dar a grande oportunidade de ser mãe. Agradeço também aos meus amigos de residência que sempre estiveram ao meu lado nesta jornada da Residência, em especial minhas companheiras do setor Luana, Stefany, Bárbara e a Izabela e em destaque minhas queridas Nathalia e Joyce. Agradeço imensamente ao meu orientador Profº Carlos Antonio de Miranda Bomfim, o qual tem todo meu carinho e admiração, pelo incentivo e suporte nesse longo caminho de graduação e Residência. Em especial, gostaria de agradecer também à enfermeira Bárbara Irikauva que me ensinou a enfrentar desafios que jamais imaginei enfrentar, me dando a oportunidade de trabalhar na linha de frente da COVID-19 e me fazendo enxergar que a Medicina Veterinária é muito além do que havia feito até então e a verdadeira importância desta classe de profissionais na área da Saúde Pública. Além disso, neste período de enfrentamento ao COVID-19, tive a oportunidade de trabalhar com minha parceira de vida Milena Costa, a qual tenho total admiração e agradeço muito pelo companherismo. Por último agradeço à Faculdade de Medicina Veterinária de Araçatuba, à Secretaria Municipal de Saúde e ao Programa de Residência Integrada pela oportunidade de aprendizado na área de Reprodução Animal e na Saúde Pública. RESUMO A toxoplasmose é uma zoonose de distribuição mundial, que pode causar sérios problemas nos seres humanos e nos animais, tendo o felino como hospedeiro definitivo. As formas mais comuns de transmissão são por meio da ingestão de oocistos esporulados provindos de fezes de gatos ou pela ingestão de carne crua ou mal cozida infectadas com cistos. Durante o período gestacional, há grandes chances de ocorrer transmissão via transplacentária e, consequentemente, levar à toxoplasmose congênita. Programas de prevenção para gestantes são importantíssimos para diminuir a prevalência da doença. Para isso, é necessário conhecer os mecanismos de transmissão, sinais clínicos, formas de diagnósticos e tratamentos tanto em humanos quanto em animais. Erroneamente, alguns profissionais da saúde aconselham as grávidas evitar contato com gatos durante a gestação, entretanto, este não é o grande vilão na transmissão da toxoplasmose. Desta forma, é fundamental que haja higiene adequada da população sobre o assunto para melhor conscientização e entendimento de que boa higiene alimentar e pessoal são, sem dúvidas, os melhores métodos profiláticos contra a toxoplasmose. Palavras chave: Toxoplasma gondii, prevenção primária, gestação ABSTRACT Toxoplasmosis is a zoonosis of worldwide distribution, which can cause serious problems in humans and animals, with the cat as the definitive host. The most common forms of transmission are by eating sporulated oocysts from cat feces or by eating raw or undercooked meat infected with cysts. During the gestational period, there is a high chance of transplacental transmission and, consequently, lead to congenital toxoplasmosis. Prevention programs for pregnant women are very important to reduce the prevalence of the disease. For this, it is necessary to know the transmission mechanisms, clinical signs, forms of diagnosis and treatments in both humans and animals. Wrongly, some health professionals advise pregnant women to avoid contact with cats during pregnancy, however, this is not the great villain in the transmission of toxoplasmosis. Thus, it is essential that there is good education of the population on the subject for better awareness and understanding that good food and personal hygiene are, without a doubt, the best prophylactic methods against toxoplasmosis. Key words: Toxoplasma gondii, primary prevention, pregnancy. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.................................................................................. 7 2. REVISAO DE LITERATURA............................................................. 8 2.1. Histórico e Etiologia .......................................................................... 8 2.2. Epidemiologia.....................................................................................9 2.2.1. Em humanos ........................................................................... 9 2.2.2. Em animais ............................................................................. 10 2.3. Ciclo Biológico....................................................................................11 2.4. Transmissão........................ ............................................................. 14 2.5. Sinais Clínicos.................. ................................................................ 16 2.5.1. Em humanos ........................................................................... 16 2.5.2. Em animais ............................................................................. 17 2.6. Diagnóstico................... .................................................................... 18 2.6.1. Em humanos ........................................................................... 18 2.6.2. Em animais ............................................................................. 20 2.7. Tratamento................... .................................................................... 21 2.8. Controle e Prevenção ....................................................................... 22 3. CONCLUSÃO .................................................................................... 25 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................. 26 8 1. INTRODUÇÃO A toxoplasmose é uma zoonose causada pelo T. gondii, protozoário intracelular obrigatório, de distribuição mundial, que pode causar sérios problemas tanto nos seres humanos, quanto nos animais (hospedeiros intermediários) e felídeos (hospedeiros definitivos) (ARAÚJO et al., 1998). O principal mecanismo de transmissão da doença é por meio da ingestão de oocistos esporulados provenientes de fezes de gatos ou pela ingestão de carne crua ou mal cozida infectadas com cistos (AMENDOEIRA, 1995). A toxoplasmose é frequentemente encontrada em humanos, tendo prevalência entre 20 a 90%, variando de acordo com as regiões, condições sanitárias e índices sócio-econômicos (HILL & DUBEY, 2002). A forma congênita é resultante da transmissão via transplacentária do T. gondii para o concepto. As infecções perinatais podem chegar a 2,5% de todos os nascimentos e são consideradas um grande obstáculo para saúde pública, devido a sua alta taxa de morbimortalidade (REMINGTON et al., 2006). Durante o período gestacional, a chance de transmissãovia placenta gira em torno de 40%, aumentando com o avançar da gestação. O grau de severidade é mais elevado quando ocorre no primeiro trimestre da gravidez (MOREIRA, 2012). Países que seguem protocolos de prevenção da toxoplasmose gestacional e congênita possuem taxas de prevalência da doença mais baixas, demonstrando a influêcia positiva da prevenção de gestantes (LAPPALAINEN et al., 1995). Como os métodos diagnóticos e tratamentos desta doença são onerosos, uma maneira mais acessível seria a prevenção primária por meio da identificação dos fatores de risco para toxoplasmose durante a gestação e fornecimento de orientações às gestantes soronegativas na primeira consulta pré-natal (VARELLA et al., 2003). Assim sendo, esta revisão de literatura tem por objetivo abordar sobre a toxoplasmose gestacional e congênita, correlacionando-as com a 9 medicina veterinária, para que seja possível entender quais são as medidas realmente necessárias para prevenção e controle da doença. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Histórico e Etiologia O Toxoplasma gondii, protozoário responsável pela toxoplasmose, foi encontrado primeiramente por Alfonso Splendore em São Paulo no ano de 1908. Ao trabalhar com coelhos, este pesquisador de origem italiana, pode descrever completamente as lesões patológicas e os corpúsculos parasitários presentes na forma livre e intracelular, isolados e agrupados, em diversos tecidos de animais doentes (SPLENDORE, 1908). No mesmo período, de forma independente, o mesmo protozoário foi encontrado pelos parasitologistas franceses Charles Nicolle e Louis Herbert Manceaux, os quais observaram na Tunísia o T. gondii em roedor silvestre norte-africano (Ctenodactylus gondii). A princípio, consideraram o protozoário causador da toxoplasmose como sendo do Gênero Leishmania, porém, ao observar a ausência do cinetoplasto, reconheceram tratar-se de um novo parasito, dando origem a nova espécie: Toxoplasma gondii (NICOLLE & MANCEAUX, 1908). A toxoplasmose, pode afetar basicamente todos os animais homeotérmicos, sendo considerada uma doença de alto potencial zoonótico (SWANGO et al., 1992). Trata-se de um parasito pertencente ao filo Protozoa, sub-ilo Apicomplexa, classe Sporozoa, família Sarcocystidae, sub-família Toxoplasmatinae, gênero Toxoplasma e espécie Toxoplasma gondii (NICOLLE & MANCEAUX, 1908). O parasito possui três formas infectantes durante seu ciclo biológico. Os taquizoítos estão presentes em abundância nas infecções agudas, e podem se proliferar rapidamente. Neste estágio, o T. gondii pode 10 estar presente no sangue, excreções e secreções, podendo sobreviver no ambiente ou em carcaças por poucas horas. Os bradizoítos são encontrados em infecções congênitas e crônicas, encontrada em vários tecidos (principalmente musculares, esqueléticos, cardíaco, nervoso e retina), sendo a forma de reprodução lenta. Neste estágio, tem o potencial de sobrevivência em tecidos por alguns dias depois da morte do doente, sendo destruído apenas pelo congelamento a – 12ºC por 24 horas ou cocção a 58ºC por dez minutos. Os oocistos são as formas eliminadas pelo trato gastrointestinal dos felídeos, resultado do ciclo sexuado do parasito. Estes são eliminados nas fezes e necessitam de três a cinco dias para se tornarem infectantes no meio ambiente, podendo ser viável por até um ano e meio quando nas condições adequadas (GERMANO, 1985). 2.2. Epidemiologia 2.2.1. Em humanos A toxoplasmose é considerada zoonose de distribuição mundial, causadora de alto impacto na saúde pública (DUBEY et al., 1988). Galván- Ramirez et al. (1998), por meio de pesquisas epidemiológicas, desmonstraram que 20% a 90% da população já teve contato com o T. gondii, afetando aproximadamente 60% da população europeia, 70% da população das Américas e 75% das populações africanas e asiáticas (CAMARGO et al., 1977). No Brasil, a taxa de toxoplasmose em humanos encontrada gira em torno 50% e 80% (BAHIA - OLIVEIRA et al., 2003). A prevalência costuma ser mais elevada em Médicos Veterinários, principalmente naqueles que lidam com felinos e funcionários de abatedouro (URQUHART, 1998). A distribuição de renda, o índice de desenvolvimento humano, o 11 acesso à saúde, os hábitos alimentares, a educação, os fatores culturais, o saneamento básico e os projetos para controle populacional de felinos estão diretamente correlacionados aos índices de prevalência da toxoplasmose. Desta forma, regiões ou países de baixa renda tendem a manifestar maior prevalência desta enfermidade (ROSTAMI et al., 2020). Em relação às gestantes soropositivas, estudos desmonstram que cerca de 45% das mulheres gestantes em Curitiba são soropositivas para o Toxoplasma gondii, maior que a prevalência em São Paulo (32,4%) e em Salvador (42,0%), porém menor que Porto Alegre (54,3%), Recife (69,4%) e Rio de Janeiro (77,1%) (GIROLETTA et al., 2016). 2.2.2. Em animais Os felídeos são fundamentais para a epidemiologia da toxoplasmose, uma vez que são os únicos a produzirem a forma sexuada do parasito, por meio do ciclo entérico, sendo considerados a principal fonte de infecção de animais herbívoros por eliminarem os oocistos nas fezes. Nos outros animais acontece somente o ciclo extra-intestinal, com multiplicação de taquizoítos nos órgãos e, com a resposta imune, desenvolvem-se os cistos teciduais (ALVES, 2008). Em relação à prevalência da enfermidade em gatos, estudos epidemiológicos mostram que 60% destes animais são soropostivos para toxoplasmose (URQUHART, 1998). A taxa da infecção de T. gondii desses animais está diretamente ligada a ingestão de aves e pequenos mamíferos infectados (DUBEY, 2010). Além disso, áreas livres de felinos normalmente são livres da doença (URQUHART, 1998). As aves são reservatórios do protozoário, sendo importantes transmissores do parasito para os carnívoros. Desta forma, as galinhas domésticas podem oferecer risco como fonte de infecção direta para humanos, principalmente para aqueles que tem alta proximidade com as 12 criações, além da possibilidade de ingestão de carne crua parasitada (DUBEY et al., 2006). Além disso, as galinhas são excelentes indicadores da presença de oocistos do parasito no solo, sendo consideradas vetores mecânicos em regiões de alta incidência da toxoplasmose, uma vez que costumam ciscar o solo e são altamente suscetíveis a adquirirem a doença (DUBEY et al., 2002). No Brasil, a prevalência da toxoplasmose no rebanho de bovinos, dependendo da região pode atingir altas taxas. No estado de Mato Grosso, Santos (2008) comparou a prevalência da soropositividade nos rebanhos de bovinos e na população rural. Foi possível observar taxa de 71% e 97,41%, respectivamente, demonstrando o sério risco do carnivorismo como importante via de transmissão da enfermidade (SANTOS, 2008). Em relação aos suínos, no Brasil, a soroprevalência da toxoplasmose nesses animais é elevada, variando de 10% a 54,1% (MILLAR et al., 2008). Desta forma, a ingestão da carne suína crua ou mal cozida também pode levar à transmissão desta doença (FIALHO et al., 2003). Os caprinos e ovinos também são espécies importantes para transmissão da toxoplasmose, uma vez que pesquisas demonstram a presença do parasito em carne ovina, além dos riscos de trasminssão por meio da ingestão do leite in natura e seus subprodutos de caprinos infectados (SILVA et al., 2003). No Brasil, soro prevalências da infecção em caprinos variam entre 5,9% e 46,0% e em ovinos entre 7,7% e 54,6% (LUCIANO et al., 2011). 2.3. Ciclo Biológico O T. gondii apresenta dois tipos de reprodução, assexuada e sexuada. A primeira pode ocorrer em diferentes tecidos do hospedeiro intermediário e a segunda acontece apenas no epitélio gastrointestinal dos felinos não imunes (NEVES, 2003). 13 Os gatospodem se contaminar por via transplacentária, ingestão de oocistos esporulados e principalmente na ingestão de pequenos mamíferos e aves infectados ou ao serem alimentados com carne mal cozida ou crua (DUBEY et al.,1999). Segundo Webster et al. (1994), ratos infectados no sistema nevoso, demonstram comportamento mais ativo e destemido, tornando-os mais vulneráveis à predação pelos felinos. Sabe-se que todas as formas infectantes do parasito ingeridas podem dar início à multiplicação no sistema gastrointestinal dos felinos. A primeira fase é a endodiogenia, seguinda pela merogonia, a qual resulta na formação do meronte (conjunto de merozoítos). Ao se romper, as células que estavam com o parasito liberam esses merozoítos, iniciando então a reprodução sexuada com a produção de gametócitos. Os microgametocitos (gametas masculinos) encontram os macrogametócitos (gametas femininos), dando origem aos oocistos, os quais irão romper o epitélio e serão elimidados junto das fezes cerca de quatro dias depois (NEVES, 2003). Estudos mostram que o gatos podem eliminar até 100 mil oocistos por grama de fezes (DUBEY, 1994). Após a reprodução sexuada desde parasito, os felinos excretam em suas fezes os oocistos por 10 a 20 dias, raramente mais que isso. Em ambientes que possuem oxigênio e temperatura adequada, há esporulação desses oocistos por um período de um a cinco dias, tornando-se assim infectantes (LANGONI, 2006). Após este período de excreção, geralmente os gatos se tornam imunes, ocorrendo raramente nova eliminação de oocistos, necessitando ou não de reinfecção. (DUBEY, 1995). Após a esporulação dos oocistos, estes podem permanecer viáveis por pelo menos um ano, suportando temperaturas de 20ºC a 37,5ºC. (FRENKEL; NELSON; ARIAS-STELLA, 1975). Além disso, conseguem permanecer viáveis mesmo em temperaturas frias, mas geralmente não quando são congelados. Temperaturas mais elevadas que 66ºC, inviabiliza os cistos. (FRENKEL, 2002). Em relação à agentes químicos, os oocistos conseguem 14 resistir por uma hora à tintura de iodo a 2%, à solução sulfocrômica e ao ácido hipocloroso a 10%. (AMATO NETO & MARCHI, 2002). Para a reprodução assexuada ocorrer, há necessidade do hospedeiro intermediário ingerir os oocistos maduros contendo esporozoítos em água ou alimentos contaminados, taquizoítos em leite cru de animais infectados ou os cistos encontrados na carne e produtos cárneos crus ou mal cozidos. Os taquizoítos não resistem à acidez do estômago, porém aqueles que penetram pela mucosa oral podem evoluir igualmente cistos e oocistos (REY, 2008). No intestino, há ruptura dos oocistos e liberação dos esporozoítos, os quais se multiplicam no epitélio intestinal e nos linfonodos regionais, dando origem à taquizoítos. Os taquizoítos se disseminam para todo o organismo por meio do sangue e da linfa (NEVES, 2003), sob a forma livre ou através de células circulantes, como monócitos, macrófagos e neutrófilos, para vários tecidos (TENTER et al, 2002). Inicia-se então início ao processo de reprodução assexuada por endodiogenia, ocorrendo rápida produção de taquizoítos que geram novos processos em outras células (NEVES, 2003). Com a imunidade desenvolvida pelo hospedeiro, há encistamento do parasito como bradizoítos, havendo mínima ou nenhuma reação inflamatória (DENKERS,1999). A formação dos cistos ocorrem em vários tecidos corporais como por exemplo nervoso, músculo esquelético e cardíaco, retina e fígado (DUBEY, 1994). Os bradizoítos podem continuar viáveis encistados durante toda a vida do hospedeiro, podendo ser transmistidos quando ingeridos. Os cistos geralmente não causam respota imune no hospedeiro e podem não ser percebidos por toda sua vida (LOPES-MORI et al., 2013). Na fase aguda (multiplicação de taquizoítos) a passagem do T. gondii pelas barreiras hemato-encefálica, a hemato-retiniana e a placenta é muito eficiente, sendo que mesmo após a parasitemia materna, pode haver infecção da placenta para o feto (BRASIL, 2016). 15 2.4. Transmissão A transmissão do T. gondii pode acontecer de duas maneiras, horizontalmente ou verticalmente. A primeira ocorre quando existe ingestão de oocistos esporulados ou bradizoítos encistados. Além disso, mesmo que raramente, pode ocorrer a ingestão de taquizoítos no leite cru, principalmente de cabra. A forma vertical ocorre quando há passagem de taquizoítos por via transplacentária, acontecendo principalmente na primeira infecção do hospedeiro (OLIVEIRA & BELIVACQUA, 2004). Sabe-se que o felino é o hospedeiro definitivo da toxoplasmose, já os seres humanos, mamíferos e as aves são hospedeiros intermediários (BONAMETTI et al., 1997). A ignorância da população e dos profissionais de saúde, tratando-se dos meios de trasmissão da toxoplasmose, é considerada uma grande dificuldade para o controle e prevenção da doença. Considera-se que a maneira em que mais há infecções por este protozoário seja por meio da ingestão de carnes cruas ou mal cozidas (PRADO et al., 2011). Pesquisas demonstraram que 25% dos carneiros e suínos estavam infectatas com o parasito (BONAMETTI et al., 1997). O consumo de água contaminada ou legumes e frutas mal higienizados são fatores significativos para a transmissão da toxoplasmose (PEREIRA et al., 2010). Além disso, esta pode ocorrer por meio de inalação de oocistos esporulados, transfusão de sangue e hemoderivados, e por transplantes de alguns órgãos, de doador infectado (LANGONI, 2006). Erroneamente, alguns profissionais da saúde aconselham as grávidas evitar contato com gatos durante a gestação (PRADO et al., 2011). Porém, sabe-se que o problema não está no contato com esses animais, mas sim pela contaminação o meio ambiente ao eleminar milhões de oocistos juntos das fezes (GARCIA et al., 1999). Durante a gestação, raramente ocorre transmissão vertical 16 quando não se trata da primeira infecção pelo parasito, pois gestantes que já eram soropositivas para T. gondii antes da gravidez geralmente não transmistem via transplacentária. Após atingir o feto, o protozoário pode causar alterações com vários graus de severidade, depedendo muito da virulência da cepa, da imunocompetência da gestante e da idade gestacinal do feto. A transmissão vertical geralmente acontece no último trimestre gestacional, tendo uma gravidade menor no neonato quando comparada aquela que ocorre em outro período gestacional. (FIGUEIRÓ-FILHO et al., 2005). Sabe-se que o primeiro trimestre da gestação apresenta 15% de risco de infecção via transplacentária, acarretando danos graves para o feto podendo evoluir ao óbito. No segundo trimestre o risco é de 25% de transmissão, podendo o recém nascido ter apenas alterações subclínicas. Já no terceiro trimestre, o risco de transmissão é de 65% de risco, podendo o neonato também apresentar manifestações subclínicas e raramente quadros severos (MOREIRA, 2012). O risco de retinocoroidite, no entanto, não sofre interferência do periodo gestacional, podendo ocorrer em qualquer fase (GRAS et al., 2001). A infecção dos felinos geralmente ocorre por meio do carnivorismo, pois são animais com instinto predador e costumam caçar aves e roedores (PRADO et al., 2011). Em relação aos cães, estes podem ser veiculadores mecânicos da doença, pois ao rolarem na terra ou mexerem na caixa de areia dos gatos, podem ter oocistos aderidos em seus pêlos. Desta maneira, ao entrarem em contato direto com o homem e este levar a mão à boca, podem se infectar (LINDSAY, 1997). Em relação às aves, sabe-se que aquelas criadas sob extensão são significativas para a cadeia epidemiológica dessa doença e as aves de vida livre são importantes vetores da toxoplasmose. É comum escutar equivocadamente que os pombos podem transmitir o parasito para o ser humano, porém isso só ocorre se sua carne contaminada for ingerida crua17 ou má coziada, pois não há eliminação de oocistos em suas fezes (LANGONI, 2006). 2.5. Sinais Clínicos 2.5.1. Em humanos A toxoplasmose é uma doença muito comum em seres humanos, apresentando-se, geralmente, assintomática, a não ser que o indivíduo esteja imunossuprimido ou para gestantes que se infectam com parasito durante o período gestacional (GARCIA et al., 1999). Quando sintomática, a toxoplasmose pode causar hepatite, pneumonia, cegueira e desordens neurológicas severas (BENENSON, 1992). Além disso, a toxoplasmose pode causar mudanças de comportamento como esquizofrenia, Transtorno de Déficit de Atenção Hiperativa (TDAH) e Transtorno Obsessivo- Compulsivo (TOC) (KAWASOE, 2005). Sobre a toxoplasmose congênita, a gravidade da doença fetal é mais exacerbada quando ocorre durante o primeiro trimestre da gestação. A transmissão congênita do parasito acontece quando há infecção aguda de T. gondii durante a gestação, com multiplicação placentária e migração para os tecidos do feto (TEDESCO, 2000). Segundo Caiaffa et al. (1993) a doença acomente principalmente o tecido nervoso, conjuntivo e musculares do feto. As principais alterações são calcificações intracranianas, alterações no sistema nervoso, microcefalia, hidrocefalia, hemiplegia, tonicidade muscular anormal e retinocoroidite. Há casos nos quais o recém-nascido não apresenta qualquer alteração clínica, porém quando não tratados, podem apresentar futuras alterações, como retardo mental, paralisia cerebral, convulsões, surdez e cegueira (CRUZ et al., 2008). 18 2.5.2. Em animais Em animais, tanto em hospedeiros intermediários ou definitivos, a infecção é comum, porém, geralmente, assintomática, dependendo diretamente da imunocompentência do animal (NEGRI, 2008). A forma clínica da toxoplasmose é observada mais em felinos do que nos caninos, tendo ambas espécies sintomatologia semelhante. São geralmente sintomas não específicos, como anorexia, depressão e febre intermitente (BIRCHARD & SHERDING, 2003), com envolvimento de vários órgãos como o gastrointestinal, linfático, hematopoiético, hepático, respiratório, muscular-esquelético, cardiovascular, ocular e nervoso (GALVÃO, 2014). Em relação à toxoplasmose felina, a multiplicação do parasito no intestino pode levar a quadros leves de diarreia em filhotes, mas a sintomalogia geralmente está ligada à formação de cistos nos tecidos, principalmente fígado, pulmões, linfonodos, no sistema nervoso e olhos. (GASKELL; BENNETT, 2001). A infecção pela placenta pode levar ao aborto ou nascimento de neonatos com transtornos clínicos graves podendo causar óbito (HILL et al., 2005). Em cães acometidos pela toxoplasmose, as alterações podem abranger os sistemas neuromuscular, respiratório e gastrointestinal. (DUBEY, 1999), com sinais clínicos de pneumonia, sintomas nervosos, ataxia e diarreia. Pode haver também quadros respiratórios associados a cinomose. A forma generalizada da doença é marcada por febre intermitente, dispneia, diarreia, vômito, pneumonia e linfadenopatia. Já a forma neuromuscular é caracterizada por radiculomielite e miosite, levando à paresia, paralisias progressivas e convulsões (DUBEY et al., 2006). Além disso, em inoculação experimental em cadelas gestantes, foi observado morte fetal e aborto (BRESCIANI, et al., 2001). Em animais de produção a infecção por T. gondii é comumente observada (DUBEY et al. 1988; TENTER et al., 2000), sendo os caprinos, ovinos e suínos mais sensíveis quando comparados aos equinos, bovinos e aves (MILLAR et al.,2008). Os caprinos apresentam os quadros mais 19 severos de toxoplasmose (SILVA et al., 2002), podendo apresentar morte embrionária precoce e reabsorção fetal, morte fetal com mumificação, aborto, natimortos ou morte perinatal (DUBEY, 1990). Além disso, podem haver lesões dos sistemas respiratório e nervoso. Na espécie ovina, também há relatos de abortos, sendo apontada como a principal causa de problemas reprodutivos nesta espécie (UNDERWOOD & ROOK, 1992). Em suínos, a toxoplasmose pode levar ao aparecimento de hipertermia, anorexia, prostração e corrimento nasal, tendo como compliacções problemas relacionados à reprodução como abortamento, natimortalidade e mumificação fetal (VIDOTTO et al. 1990). Em bovinos, a toxoplasmose geralmente se apresenta de forma aguda, com febre, dispneia e sintomas nervosos, como ataxia e hiperexcitabilidade no início, evoluindo para extrema letargia. Nesta espécie, dificilmente ocorre o abortamento, porém os neonatos podem nascer fracos ou mortos. Bezerros com a doença congênita apresentam febre, dispneia, tosse, espirros, corrimento nasal, convulsões clônicas, ranger dos dentes e tremores da cabeça e do pescoço, morrendo geralmente entre dois a seis dias após o nascimento (RADOSTITS et al., 2002). Os equinos são os animais mais resistentes para o aparecimento de sinais clínicos da infecção por T. gondii (Al-KHALIDI & DUBEY, 1979). Quando presentes, há hiperirritabilidade, incoordenação, desordem do sistema nervoso e ocular (DUBEY & PORTERFIELD, 1990). 2.6. Diagnóstico 2.6.1. Em humanos Da mesma maneira que pessoas imunocompetes, as gestantes geralmente são assintomáticas para toxoplasmose ou demonstram sintomas sutis, tornando dificil a realização do diagnóstico clínico, fazendo 20 com que o exames laboratoriais sejam indispensáveis para o diagnóstico definitivo desta doença (DUNN et al., 1999). A constatação da infecção e/ou imunidade materna é realizada por meio de um perfil sorológico, no qual é feita a análise de anticorpos específicos IgG e IgM (BRASIL, 2018). O exame deve ser requisitado no início do primeiro trimestre de gestação (IgM e IgG), se a gestante for suscetível (IgM e IgG não reagentes), há necessidade de repetição no início do segundo e terceiro trimestres gestacionais. Gestantes com resultados de IgM e IgG positivos, deverão realizar o teste de avidez para IgG, de preferência na mesma amostra. Caso o resultado for IgM não reagente e IgG reagente, aponta infecção antiga, não havendo necessidade de repetição do exame nos outros períodos gestacionais, exceto em imunodeprimidos (SILVA & GATTI, 2013). Os métodos utiliziados geralmente são ELISA, quimioluminescência ou RIFI (reação de imunofluorescência indireta) (MENTGES & ROCHA, 2015). O diagnóstico da toxoplasmose fetal é fundamentado em sinais ultrassonográficos, na testagem do sangue fetal por cordocentese e no estudo do líquido amniótico por amniocentese, porém ambos devem ser realilzados passadas 20 semanas gestacionais (BRASIL, 2000). Os achados ultra-sonográficos podem ser encontrados em até 28% dos casos de infecção congênita, sendo eles: hidrocefalia, microcefalia, calcificações intracranianas, hepatoesplenomegalia e ascite fetal (ALVES, 2008) Estudos recentes têm demonstrado a detecção de anticorpos IgA T. gondii-específicos para o diagnóstico da doença aguda recente, por desaparecerem antes mesmo dos anticorpos IgM. A detecção simultânea de IgM e IgA indica infecção aguda da toxoplasmose, ajudando a fechar um diagnóstico da doença aguda de forma mais fidedigno (VARELLA et al., 2003). O diagnóstico molecular como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) pode ser utilizado para constatação do protozoário, principalmente no líquido amniótico de gestantes. É considerado um método rápido, 21 seguro e preciso (HOHLFELD et al., 1994), além de ser altamente sensível e específico quando comparado com outros testes (FOULON et al. 1999). É importante ressaltar que para pessoas imunocompetentes, os testes sorológicos são suficientes para o fechar o diagnóstico, porém a interpretação de seus resultados deve ser realizada por profissionais qualificados. Entretanto, para o diagnóstico em gestantes e imunossuprimidas, é necessário a realização de examescomplementares (MONTOYA, 2002). 2.6.2. Em animais O diagnóstico da toxoplasmose em animais é realizado por métodos direitos, através da identificação do protozoário em materiais de animais infectados, e indiretos, com a identificação de anticorpos específicos para o parasito. Um dos métodos diretos é o reconhecimento do T. gondii em esfregaços de secreção ocular, corados com Giemsa, no qual é possível a identificação de taquizoitos (GERMANO, 1985). A citologia corada com Giemsa também pode ser utilizada em biópsias, geralmente de linfonodo e fígado, além de lavados traqueobrôquicos, principalmente de felinos (SWANGO et al. 1992). Como metodologia indireta, existem os exames sorológicos, mais indicados para confirmação do diagnóstico. Sabe-se que a combinação dos resultados sorológicos de IgG e IgM possui grande valor diagnóstico. Desta maneira, são realizadas dosagens de IgG e IgM, sendo na maioria das vezes o diagnóstico embasado na detecção de IgG específico. A identificação de IgM específico indica infecção recente, porém suas concentrações ficam altas por pouco tempo (ARAÚJO et al. 1998). O diagnóstico da toxoplasmose é obtido pela combinação da presença de anticorpos no soro, com a evidenciação de um título de IgM maior do que 1:64 ou um aumento de quatro vezes ou mais no título de IgG, sugerindo infecção ativa ou recente (LAPPIN, 2004). 22 Em gatos, o diagnóstico pode ser feito por meio do exame parasitológico, já que eliminam oocistos de uma a duas semanas depois da infecção, porém estes são dificilmente encontrados no exame fecal, não sendo um meio diagnóstico confiável (DUBEY; LAPPIN, 1998; LAPPIN, 2004). 2.7. Tratamento O tratamento da toxoplasmose é realizado tanto em humanos como em animais, sendo que em pessoas com sistema imune competente não há necessidade de tratamento. Já para indivíduos imunocomprometidos, o tratamento instituído é uma combinação de um antiprotozoário e um antibiótico (pirimetamina + sulfonamida) (PEREIRA et al., 2010; DUBEY, 2010). O tratamento preconizado pelo Ministério da Saúde para gestantes infectadas com o T. gondii no início da gestação é com espiramicina ou clindamicina. Após o segundo trimestre gestacional, é indicado pirimetamina, sulfadiazina e ácido folínico (AVELINO et al., 2004). A pirimetrina é teratogênica e não deve ser recomendada durante o primeiro trimestre da gestação, além disso requer acompanhamento mensal da gestante, uma vez que pode acarretar em anemia megaloblástica, plaquetopenia, leucopenia ou pancitopenia. Quando essas alterações aparecerem, o tratamento deve ser substituido para espiramicina. A sulfadiazina é desaconselhada para mulheres acima da 35ª semana gestacional, devido ao risco de desenvolver encefalopatia bilirrubínica no recém-nascido. Caso não seja possível o tratamento com sulfadiazina e pirimetamina, a espiramicina deve ser utilizada continuadamente (LOPES- MORI et al, 2011). Em felinos e caninos o tratamento preconizado é com clindamicina, podendo também utilizado sufonamidas ou também a combinação de ambos (McCANDLISH, 2001). 23 2.8. Prevenção e Controle A prevenção da toxoplasmose congênita pode ser dividida em três categorias: primária, secundária e terciária (GIROLETTA et al., 2016). No momento, não existe no mercado vacina contra toxoplasmose, sendo extremamente necessária a aplicação de medidas preventivas (AMBROISE-THOMAS, 2003). A prevenção primária consiste em projetos de educação em saúde, principalmente para gestantes nunca contaminadas. (FOULON, 1992; CONTIERO-TONINATO et al., 2014). A secundária corresponde ao rastreamento sorológico para detecção de gestantes soropositivas, com o propósito de se instalar um tratamento adequado o mais cedo possível para que não haja transmissão via placenta para o feto (FOULON et al., 1999). A prevenção terciária atua no tratamento de crianças nascidas infectadas e na prevenção de complicações (PAUL et al., 2001). Tendo em vista que a prevenção primária é a única maneira para prevenir a infecção materna pelo T. gondii e que muitas gestantes não tem informações sobre esta doença, está é a melhor forma para o ideal controle da toxoplasmose congênita (MOURA et al., 2016). Mesmo sendo improvável a completa eliminação de todo o risco da gestante se infectar com o parasito, a prevenção primária reduz consideravelmente a taxa de soroconversão durante a gestação (FOULON et al., 1994). Entretanto, é de extrema importância que os médicos investiguem os hábitos culturais de cada gestante para definir estratégias eficientes para real prevenção da infecção congênita (AMENDOEIRA et al., 2010). Esta educação em saúde, conhecida como prevenção primária, engloba a promoção do conhecimento sobre como se evitar a infecção pelo T. gondii. Sabe-se que gestantes devem evitar o consumo de carne crua ou mal cozida, lavar as mãos ao manipular carne crua, evitar o consumo de água não filtrada ou fervida e de leite não pasteurizado, assim como de alimentos desprotegidos de moscas, baratas, formigas e outros insetos, higienizar bem as frutas e legumes e evitar contato com o solo ou, pelo 24 menos, usar luvas adequadas durante a jardinagem, ao manusear materiais potencialmente contaminados com fezes de felinos ou ao manipular caixas de areia dos mesmos. Essas são precauções que devem ser seguidas continuamente e enfatizadas durante toda a gestação, principalmente para aquelas que nunca tiverão contato com o parastia (COOK et al., 2000). Pesquisas realizadas na França mostraram que o contato com os felinos foi menos significativo como forma de transmissão do que o manuseio da terra e de vegetais crus, tendo destaque a transmissão por meio da ingestão de carne crua ou mal cozida. Isto foi de extrema importância para desmistificar que a gestante precisa evitar contato com gatos e que assim ela estaria bem protegida da contaminação pelo T. gondii. (BARIL et al.,1999). Isto porque, a infecção deste protozoário por contato direto com felinos que estão eliminando oocistos é extremamente improvável, uma vez que estas formas evolutivas precisam de um tempo e ambiente adequado para esporular e então se transformarem em infectantes. Desta forma, o contato com as fezes frescas não é capaz de causar infecção (LAPPIN et al., 1993). Outro fato importante é que os gatos, em geral, defecam e enterram suas fezes em terra fofa ou areia e, a não ser que este animal esteja doente, pouco ou nenhum resíduo fecal fica aderido à sua região perineal, além disso, são animais que costumam se higienizar frequentemente. Desta maneira, a possibilidade de transmissão para homem pelo ato de tocar ou acariciar o gato é mínima ou inexistente (DUBEY, 1994). Em um inquérito realizado em Araçatuba sobre o conhecimento da população sobre a toxoplasmose, 54,5% desconheciam as formas de transmissão desta enfermidade e e 55,3% não souberam informar quaisquer conduta profilática, mostrando o quão importante a prevenção primária desta doença. Devido a essa limitação de informações, é possível compreender a necessidade do desenvolvimento de um programa de educação comunitária continuada, visando ampliar o conhecimento dos 25 moradores sobre as principais zoonoses (VIOL et al., 2014). A prevenção secundária está baseada na triagem sorológica e detecção da infecção nas gestantes, para que seja possível realizar o tratamento específico adequado e precoce, impedindo ou atenuando a infecção fetal (CAMARGO, 1995). Na maioria das cidades do Brasil, na primeira visita pré-natal da gestante, é realizado um teste sorológico, entretanto, muitas vezes esta sorologia não é repetida durante o período gestacional. Essa conduta necessita ser alterada, havendo a necessidade de um controle sorológico periódico durante toda a gestação, para assim ocorrer a detecção próximada infecção e evitar a toxoplasmose congênita (SPALDING et al., 2003). Por haver uma pequena chance de ocorrer transmissão do T. gondii por via transplacentária caso a infecção na mãe ocorra pouco tempo antes da gestação, orienta-se um período de seis meses após a infecção para engravidar (WONG & REMINGTON, 1994). Além disso, infelizmente nem sempre é possível realizar a detecção intrauterina de toxoplasmose. Nessas ocasiões, o diagnóstico e o tratamento do neonato devem ser realizados o mais breve possível, para que haja diminuição da gravidade das sequelas (prevenção terciária) (REMINGTON et al., 2006). As medidas profiláxicas para evitar a infecção pelo T. gondii em cães e gatos estão focadas pricipalmente nos cuidados com a alimentação destes animais, tais como oferecer somente alimentos comerciais ou pré- cozidos, manter diariamente a higiene das caixas de areia dos felinos, controle adequado de roedores, manter granjas, baias e local de armazenamento de ração sem a presença de gatos errantes e evitar acesso à rua destes animais (SANTOS, 2009) 3. CONCLUSÃO A toxoplasmose é uma zoonose transmitida, principalmente, por alimentos e água contaminados. Assim sendo, muitas vezes o contágio 26 está relacionado à ingestão de carne crua ou mal cozida de animais infectados como suínos, ovinos, caprinos, bovinos e aves. Apesar dos felinos terem participação no ciclo biológico, não são os grandes vilões responsáveis pela transmissão da doença. É fundamental que haja boa educação da população sobre o assunto para melhor conscientização e entendimento de que boa higiene alimentar e pessoal são, sem dúvidas, os melhores métodos profiláticos contra a toxoplasmose. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AL-KHALIDI, Nahad W.; DUBEY, J. P. Prevalence of Toxoplasma gondii infection in horses. The Journal of parasitology, v. 65, n. 2, p. 331-334, 1979. ALVES, C. Toxoplasmose. 2008. Disponível em: http://www.hospvetprincipal.pt/toxoplasmose.html. Acesso em: 12 jan. 2021. AMATO NETO, V.; MARCHI, C. R. Toxoplasmose. In: CIMERMAN, B.; CIMERMAN, S. Parasitologia Humana e seus Fundamentos Gerais. 2.ed. São Paulo: Editora Atheneu, p. 159-178. 2002. AMBROISE-THOMAS, P. Toxoplasmose congénitale: les différentes stratégies préventives. Arch Pediatr, v. 10, n. Suppl 1, p. 12-4, 2003. AMENDOEIRA M. R. R. Mecanismos de transmissão da toxoplasmose. An Acad Nac Med. v. 4, p. 224-5, 1995. AMENDOEIRA, M. R. R. et al. 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