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1 Anna Carolina S. Moulin Anatomia e Fisiologia Patológicas Distúrbios da circulação do SNC e traumatismo crânio-encefálico INTRODUÇÃO – DOENÇAS CIRCULATÓRIAS Condições normais ↪ FSC constante. Maior densidade capilar e maior FSC na substância cinzenta. Alteração na circulação do SNC ↪ sempre vai ocasionar uma isquemia ou uma hemorragia. Hemorragia Intracerebral No interior do Parênquima cerebral Subaracnóidea No interior do espaço subaracnóideo (entre aracnoide e pia-máter) Principais causas de distúrbios da circulação: • Lesão da parede dos vasos; • Insuficiência hemodinâmica sistêmica (= ↓ FStotal = ↓ FSC); o Necrose neuronal seletiva (apenas dos neurônios – menos grave); o Encefalopatia hipóxico-isquêmica/ isquemia global transitória (todas as células do SNC). o Morte encefálica ou cerebral (se for persistente); • Embolia; o Infarto cerebral; o Isquemia regional; • Doenças hematológicas; o Isquemia (doenças que ↑ a viscosidade do sangue); o Hemorragia (doenças que afetam os fatores de coagulação); • Iatrogenia; • Uso de drogas; • Hipertensão intracraniana; o Pintracraniana > Pcapilares ↪ Encéfalo não perfundido ATEROSCLEROSE CEREBRAL Uma das principais causas de infarto cerebral. Hiperlipidemia + HAS Ramos intracranianos Ramos extracranianos HAS Ramos intracranianos (e intracerebrais) Principais artérias acometidas no SNC: • Artérias carótidas internas; • Grandes vasos do Polígono de Willis; o Artéria Basilar; o Artéria Cerebral Média; o Artéria Cerebral Posterior; o Artérias Vertebrais; 2 Anna Carolina S. Moulin Mecanismos – Infarto cerebral: 1) Crescimento da placa ateromatosa ↪ obstrução da luz do vaso ↪ isquemia de uma parte do cérebro. 2) Pedaço da placa se desprende ↪ segue o caminho da circulação ↪ oclui um vaso menor ↪ isquemia da região (trombose). 3) Hemorragia no interior da placa. (?) 4) Fragmentação do trombo ↪ Embolia, Outra consequência da Aterosclerose ↪ Ataque Isquêmico Transitório. Um acidente isquêmico transitório (AIT) consiste numa alteração da função cerebral que, normalmente, dura menos de uma hora e é causada por um bloqueio temporário do fornecimento de sangue ao cérebro. Placas de ateroma nas artérias carótidas e no sistema vertebrobasilar originam êmbolos que causam essa condição. Além disso, hipotensão arterial e queda do FSC também podem causar esse quadro. Dolicoectasia é outra lesão comum originada da Aterosclerose na qual o vaso se encontra tortuoso, largo e alongado. Normalmente ocorre na artéria basilar ou na artéria carótida interna. MICROANGIOPATIA HIPERTENSIVA | HIPERTENSÃO ARTERIAL CRÔNICA HA no SNC ↪ Lesão dos pequenos vasos ↪ doença dos pequenos vasos. O comprometimento dessas artérias pode resultar em: • Infarto lacunar; • Demência vascular subcortical isquêmica; o Quando ocorrem vários infartos lacunares; • Hemorragia cerebral parenquimatosa primária não traumática; Tipos de lesões dos pequenos vasos: 1) Lipo-hialinose/ necrose fibrinoide Deposição de proteínas plasmáticas e fibrina na parede vascular ↪ espessamento da parede. 2) Arteriosclerose Espessamento hialino das arteríolas. 3) Microaneurisma de Charcot-Bouchard Dilatação sacular microscópica das pequenas artérias. Destruição da camada elástica e muscular média, substituída por fibrose hialina. 4) Aterosclerose Vasos mais acometidos pela HA: • Artérias lenticulo-estriadas; • Artérias lenticulo-ópticas; Encefalopatia hipertensiva aguda ↪ aumento rápido e grave da pressão arterial. Pode resultar em hemorragia cerebral parenquimatosa. • Hipertensão intracraniana; • Cefaleia; • ↓ Nível de consciência; • Náuseas e vômito; • Sinais focais Pode haver alteração da barreira hematoencefálica e ocorrer edema vasogênico. ANGIOPATIA AMILOIDE CEREBRAL Deposição extracelular de substância amiloide. 3 Anna Carolina S. Moulin Forma esporádica ↪ β-amiloide (Aβ). Manifestação clássica ↪ hemorragia lobar (principalmente lobo frontal ou frontoparietal). Aspectos morfológicos: • Parede espessada; • Contorno arredondado; • Substituição das camadas média e adventícia por material amorfo eosinofílico; CADASIL E CARASIL (SÍNDROME DE MAEDA) “Leucoencefalopatias do adulto”. Afetam a substância branca. CADASIL – doença vascular cerebral não associada a aterosclerose ou a amiloidose. • Arteriopatia cerebral. • Doença autossômica dominante (genética rara). • Causa infartos subcorticais e leucoencefalopatia. • Mutação em gene responsável pela formação dos vasos. Acomete adultos ↪ 40-50 anos. • Degeneração das células musculares e acúmulo de grânulos basofílicos PAS-positivos na camada média. • Achado patognomônico ↪ material granuloso osmiofílico à microscopia eletrônica. Espessamento da parede ↪ estreitamento da luz ↪ redução do FSC ↪ lesão isquêmica focal na substância branca Infartos nos núcleos da base e na ponte ↪ levam à diminuição da cognição evoluindo para demência subcortical. CARASIL: • Autossômica recessiva. • Acomete jovens ↪ 20-45 anos. • Infartos ↪ substância branca, núcleos da base e ponte. ARTERITES Doença vascular inflamatória. Infecciosas: • Comprometimento do Endotélio favorece a formação de trombos. • Proliferação da infecção na íntima dos vasos leva à obstrução progressiva da luz. • Fungos ↪ Aspergillus fumigatus, Candida albicans e Mucor. • Infecção ↪ aneurismas infecciosos/ micóticos ↪ enfraquecimento da parede dos vasos ↪ hemorragia parenquimatosa. Não infecciosas: • Quase sempre manifestação de alguma doença sistêmica. Principalmente ↪ reações autoimunes.: o Imunocomplexos na parede dos vasos; o Anticorpo citoplasmático antineutrófilo; o Anticorpo citoplasmático antiendotélio; o Resposta anormal de Linf T; o Formação de granulomas; Arterite de Células Gigantes ↪ granulomatosa; mais comum; principalmente arteríolas extracranianas; natureza autoimune (reação contra as fibras elásticas da lâmina elástica interna). Infiltrado inflamatório mononuclear na camada média + células gigantes multinucleadas e fragmentação da lâmina elástica interna. Doença de Takayasu ↪ células gigantes do tipo corpo estranho; destruição da lâmina elástica interna; infiltrado inflamatório de mononucleares comprometendo a camada média. Artérias com a luz reduzida ↪ tornam-se rígidas ↪ trombos e êmbolos ↪ infarto cerebral. Arterites como manifestação de Doença Sistêmica Lúpus eritematoso sistêmico (LES) Múltiplos focos de infarto cerebral associados a obstrução arterial de pequenos vasos por hiperplasia de células endoteliais; Deposição de imunocomplexos; Ação de Anticorpo citoplasmático antiendotélio; Poliarterite nodosa Vasculite que compromete simultaneamente vários órgãos; Comprometimento do SNC nos estágios terminais da doença; Poliangiite com granulomas Vasculite sistêmica, especialmente das vias aéreas; Lesões ↪ infarto, hemorragia; Pode ser ↪ secundária à vasculite ou extensão de lesão das vias aéreas; Síndrome de Churg- Strauss Quadro de isquemia ou hemorragia; 4 Anna Carolina S. Moulin Doença de Kawasaki Afecção sistêmica febril que acomete principalmente crianças; Arterite necrosante, podendo comprometer as artérias cerebrais ANEURISMA SACULAR Dilatação da luz vascular por enfraquecimento da parede. Principal causa de hemorragia subaracnóidea não traumática. 10 mm de diâmetro ↪ ruptura iminente. Manifestação da hemorragia causada pela ruptura de um aneurisma ↪ cefaleia, vômito, náuseas e sinais de irritação meníngea. MALFORMAÇÕES VASCULARES Causados por distúrbios do Mesoderma durante a embriogênese. 1. Malformação arteriovenosa ↪ não interposição de capilares entre artérias e veias. Enovelados de artérias, veias e vasos malformados. Alto riscode sangramento. 2. Hemangioma cavernoso ↪ vasos de calibre variado justapostos. 25% assintomáticos. 3. Angioma venoso (malformação venosa) ↪ malformação vascular mais comum. Aglomerado de veias separadas por tecido nervoso sem anormalidades. “Cabeça de medusa”. Quase sempre assintomático. 4. Teleangiectasia capilar ↪ aglomerado de capilares separados por tecido nervoso normal. Quase sempre assintomática. Pequenas hemorragias. 5. Displasia fibromuscular ↪ estreitamento. Fibrose da íntima e desorganização da camada média (deposição de colágeno). Alternância com segmentos dilatados de parede fina (associados comumente com aneurismas). 6 Síndrome de Moyamoya ↪ estenose bilateral da porção distal da Artéria Carótida Interna e porções proximais das Artérias Cerebral Média e Anterior. Espessamento fibroso da íntima, duplicação da lâmina elástica interna e atrofia da média. ISQUEMIA (a) Regional ↪ infarto cerebral; (b) Global transitória ↪ encefalopatia hipóxico- isquêmica; INFARTO CEREBRAL Necrose isquêmica. Causas: • Trombose arterial. o Aterosclerose. • Trombose venosa. o (a) Flebotrombose ↪ primária e asséptica; o (b) Tromboflebite ↪ secundária e séptica; menos frequente. • Embolia o Difícil identificar o êmbolo. Identificação de doença que origina êmbolos (fibrilação atrial, trombose parietal secundária a IAM, cardiopatia chagásica crônica, endocardite infecciosa ou endocardite trombótica não infecciosa). o (a) Gordurosa ↪ fratura de ossos longos, queimaduras, pancreatite ou traumatismo do tecido subcutâneo na descompressão súbita. Hemorragia petequial difusa na substância branca (púrpura cerebral). 5 Anna Carolina S. Moulin o (b) Gasosa ↪ acidentes dos mergulhadores ou cirurgias de coração aberto. o (c) Neoplásica. o Êmbolo séptico ↪ a partir de endocardite infecciosa. • Outros. o Hipotensão arterial durante arritmias cardíacas; o Vasoespasmo após episódio de hemorragia subaracnóidea; o Aumento da viscosidade sanguínea; Infarto branco ↪ não hemorrágico/ anêmico. Infarto vermelho ↪ hemorrágico. Recente Fase de Organização Antigo/ Cicatrizado Até 1 semana 2-5 semanas Após 5 semanas Hemorragia em infarto branco ↪ reperfusão de área isquêmica. Ex: fragmentação/ lise de êmbolo. Infartos brancos Oclusão arterial trombótica; Vasoespasmo; Hipotensão arterial; Infartos vermelhos Trombose venosa; Infarto branco: • Recente: o Área fica tumefeita. o Giros achatados. o Limite entre substância branca e cinzenta impreciso. o ↓ Consistência. • Fase de Organização: o Limites mais precisos. o Aspecto granuloso acentuado. o Tecido friável. o Início ↪ desintegração e cavitação. o ↓ Edema perilesional. • Antigo/ Cicatrizado: o Característica principal ↪ cavidade. o Contornos irregulares. o Dentro da cavidade ↪ trabéculas delicadas com líquido límpido, incolor ou levemente amarelado. Infarto vermelho: • Recente: o Petéquias na substância cinzenta comprometida. • Antigo/ Cicatrizado: o Cavidade com parede ferruginosa (hemossiderina). 6 Anna Carolina S. Moulin Zona de penumbra ↪ região que fica ao redor da área de isquemia na qual os neurônios permanecem viáveis por até 48h (até a reperfusão). A redução do fluxo sanguíneo é acompanhada do aumento da extração de O2. Área mais afetada ↪ Artéria Cerebral Média. ATAQUE ISQUÊMICO TRANSITÓRIO = Acidente vascular cerebral isquêmico transitório. É a manifestação menos grave da diminuição do FSC. Disfunção neurológica transitória. Isquemia cerebral/ da medula/ da retina focal sem evidência de infarto agudo na neuroimagem. Principal causa ↪ êmbolos. INFARTO LACUNAR Cavidade – 0,5-15 mm de diâmetro. Localização ↪ núcleos da base, tálamo, substância branca hemisférica ou ponte. Causas ↪ isquemia, hemorragia, infecção e neoplasia. Pequenas cavidades perivasculares – achados comuns em pessoas idosas. Manifestações ↪ sinais e sintomas motores ou sensitivos, ataxia-hemiparesia e disartria. ENCEFALOPATIA HIPÓXICO-ISQUÊMICA = Isquemia global transitória. ↓ FSC ↪ dano difuso em todo o Encéfalo. Encefalopatia hipóxico-isquêmica Resulta de isquemia global Infarto cerebral Resulta de isquemia localizada Principal causa ↪ hipotensão arterial grave (ex: parada cardíaca). Encéfalo não perfundido ↪ forma mais grave da isquemia global. Corresponde aos quadros de morte encefálica (a circulação e a função cerebral não mais serão restabelecidas). Necrose neuronal seletiva • Necrose isquêmica; • Afeta exclusivamente neurônios; • Preserva células gliais e vasos; • Não ocorre necrose liquefativa nem cavitação; • Neurônios substituídos por gliose; • Fase de cicatrização ↪ córtex mostra coloração mais branca devido à perda de neurônios e aumento da consistência (pela gliose). HEMORRAGIA HEMORRAGIA INTRACRANIANA E INTRARRAQUIDIANA Quanto à etiologia: • Traumática; • Não traumática (espontânea); o Subaracnóidea; o Parenquimatosa; Quanto ao local: • Extradural/ epidural o Entre ossos cranianos e a face externa da dura-máter; • Subdural o Entre a face interna da dura-máter e a face externa da aracnoide; • Subaracnoidea o No espaço subaracnoideo • Parenquimatosa/ Intracerebral o Na intimidade do tecido nervoso encefálico. • Subependimária o Na matriz germinativa subependimária de feto prematuro. • Intraventricular o Nos ventrículos cerebrais. o Quase sempre é secundária à parenquimatosa. • Intramedular/ Hematomielia o Na intimidade da medula espinhal. OBS: Extradural e Subdural são quase sempre de origem traumática. Sede Causa 7 Anna Carolina S. Moulin Região extradural Traumatismo cranioencefálico Espaço subdural Espaço subaracnoideo Aneurisma sacular Malformação arteriovenosa Doenças hematológicas Iatrogenia Intoxicação exógena Parênquima cerebral Hipertensão arterial Angiopatia amiloide cerebral Neoplasia primária e metastática Malformação arteriovenosa Doenças hematológicas Iatrogenia Intoxicação exógena Tronco encefálico Hipertensão arterial Cerebelo HEMORRAGIA INTRACEREBRAL OU PARENQUIMATOSA Nos Hemisférios Cerebrais ou no Tronco Encefálico. Causas: • Hipertensão arterial; • Distúrbios da coagulação; • Malformação arteriovenosa; • Neoplasia cerebral primária ou metastática; • Aneurisma infeccioso ou micótico; • Angiopatia amiloide cerebral; • Iatrogenia; • Intoxicação exógena; • Hipertensão intracraniana acompanhada de hérnia temporal transtentorial e deslocamento caudal do tronco encefálico; Hemorragia Intracerebral Infratentorial Supratentorial Lobar Profunda Hemorragia cerebelar é quase sempre hemisférica. Hemorragia no Tronco Encefálico compromete principalmente a Ponte e o Mesencéfalo. Hematoma ↪ hemorragia maciça maior que 3cm de diâmetro. Hemorragia maciça pode levar rapidamente à morte pelo efeito de massa agravado pelo edema perilesional ↪ hipertensão intracraniana, hérnias e compressão mesencefálica. Manifestações ↪ cefaleia, crise convulsiva, alterações visuais e sinais focais. Aspectos morfológicos: • Limites imprecisos; • Circundada por edema; • Após 48h ↪ neutrófilos. • Tempo ↪ cavidade de contorno regular contendo líquido turvo de cor acastanhada. • Posteriormente ↪ cavidade reduz; torna-se preenchida por líquido límpido ou amarelado. HEMORRAGIA CEREBRAL HIPERTENSIVA Hipertensão arterial ↪ lesões nas pequenas artérias e arteríolas encefálicas ↪ surgimento de lesões isquêmicas e hemorrágicas frequentes. Causa mais comum de morte cerebral entre as doenças vasculares cerebrais. Se for parenquimatosa é quase sempre rapidamente fatal. Patogênese depende de (além de hipertensão): (a) Lesões da parede arterial. (b) Crises hipertensivas. Aspectos morfológicos: • Hemorragiavolumosa (hematoma). • 80% ↪ nos hemisférios cerebrais. • Tende a forma esférica. • Pode ter limites irregulares.. HEMORRAGIA SUBARACNOIDEA Principal causa (80%) ↪ trauma; ruptura de aneurisma sacular; malformação arteriovenosa. Complicações: • Vasoespasmo o Causa isquemia e infarto cerebral. o Pode levar a isquemia global. • Hipertensão intracraniana 8 Anna Carolina S. Moulin o Causada pela falta de reabsorção do líquor pelas granulações aracnoideas, pelo próprio sangramento no espaço subaracnóideo e/ou intraventricular ou por edema cerebral. Aspectos morfológicos: • O sangramento subaracnóideo difunde-se mais ou menos livremente ao longo do espaço subaracnóideo cerebral e medular. • Paciente sobrevive ↪ o sangue é absorvido ↪ macrófagos migram para a leptomeninge ↪ fagocitam e digerem as hemácias.. • Fibrose da pia-aracnoide. • Espessamento fibroso no local da hemorragia + cor ferruginosa da leptomeninge. INTRODUÇÃO – TRAUMATISMOS CRANIOENCEFÁLICOS As lesões intracranianas podem ser primárias ou secundárias. Lesões primárias: • Fratura do crânio; • Laceração cerebral; • Hematomas extra e subdural; • Contusão cerebral; • Lesão axonal difusa; As lesões primárias são determinadas pela ação imediata do traumatismo e produzidas no momento do traumatismo. As manifestações clínicas podem ter aparecimento imediato ou tardio. Forças dinâmicas no momento do traumatismo: 1. Impulso. Ex: golpe na face (movimentação rápida e intensa da cabeça – sem impacto direto no crânio). 2. Impacto. Ex: queda (encontro com superfície rígida). O impacto produz lesão cranioencefálica por meio de mecanismo de: a. Contato (golpes, projéteis). b. Aceleração/ Desaceleração (inércia) (lesões em acidentes de trânsito). Lesões por contato resultam em: • Fratura do crânio; • Laceração cerebral; • Hematoma extradural; • Contusão cerebral; • Ondas de choque; Deformação tecidual – mecanismos de compressão, estiramento ou secção → causa lesão craniana, vascular e/ou encefálica. Tipo de lesão Mecanismo de formação Fratura do crânio Contato Laceração cerebral Contato Hematoma extradural Contato Contusão cerebral Contato Hematoma subdural Aceleração/ desaceleração Lesão axonal difusa Aceleração/ desaceleração Síndrome da criança espancada Aceleração/ desaceleração e contato Encefalopatia traumática crônica Contato/ aceleração/ desaceleração/ isquemia/ lesão da barreira hematoencefálica Lesões secundárias: • Lesões tardias; • Devem-se a: o Hipertensão craniana. o Distúrbios circulatórios e/ou respiratórios. o Hipertensão arterial. o Vasoespasmo das artérias cerebrais. o Alteração dos órgãos torácicos. o Infecção intracraniana. o Fraturas múltiplas. 9 Anna Carolina S. Moulin Alteração secundária mais frequente ↪ lesão cerebral hipóxica (85% das vítimas fatais de TCE). FRATURA DO CRÂNIO Agente traumatizante que atua por meio de forte impacto. Tipos: 1. Linear ↪ impacto contra superfície plana. 2. Deprimida ↪ impacto contra objetos pequenos e irregulares; produz endentação de fragmentos na tábua interna do crânio. 3. Penetrante/ aberta ↪ causada por objetos pontiagudos ou projétil de arma de fogo; resulta também em laceração da dura-máter. Fraturas de contragolpe – localizadas distantes do sítio do impacto. LACERAÇÃO CEREBRAL = Lesão cerebral aberta. Perfuração dos ossos do crânio, da dura-máter e pia- aracnoide. Causa solução de continuidade do tecido nervoso, podendo haver ou não perda de massa encefálica para o exterior. Causas ↪ golpes violentos na cabeça e projétil de arma de fogo. Lesão provocada por projétil de arma de fogo Por afundamento Projétil não entra na cavidade craniana; Afundamento e contusão cerebral subjacente; Penetrante Projétil penetra na cavidade craniana, mas não a ultrapassa; Perfurante O projétil atravessa a cavidade craniana e deixa um orifício de entrada e outro de saída; Alteração de consciência ocorre somente nos casos de lesões centroencefálicas ou secundárias a hipertensão intracraniana Aspectos morfológicos: • Cavidade central permanente preenchida por sangue (trajeto do projétil). • Cavitação temporária no entorno de tamanho variável (deslocamento do tecido cerebral provocado pela energia cinética do projétil). • Faixa de tecido necrótico-hemorrágico. • Pode haver lesão axonal difusa no tecido que forma cavitação temporária. • Cicatrização ↪ proliferação fibrosa nas meninges e astrocitose fibrilar nas bordas do tecido nervoso lacerado, causando aderência entre as meninges e o cérebro. HEMATOMA EXTRADURAL Sangue coagulado entre a dura-máter e os ossos do crânio. 95% ↪ associada a fraturas do crânio. Presença de período assintomático ↪ relação com o aumento progressivo do hematoma. A sintomatologia clínica resulta de compressão pelo hematoma, hipertensão intracraniana, hérnia para-hipocampal e compressão do mesencéfalo. Aspectos morfológicos: • Sede habitual ↪ região temporoparietal. • Na região extradural não existe espaço livre ↪ o hematoma só aumenta de volume à medida que ocorre descolamento gradual da dura-máter em relação ao crânio. CONTUSÃO CEREBRAL Lesão cerebral fechada. As meninges permanecem íntegras e não há solução de continuidade do tecido nervoso. 85-95% dos casos de quedas e agressões. Mecanismo básico ↪ resulta do impacto da superfície interna do crânio contra a superfície cerebral. 10 Anna Carolina S. Moulin (a) Por fratura ↪ osso fraturado. (b) Por golpe ↪ relação com o local do impacto na ausência de fratura. (c) Por contragolpe ↪ ocorre em áreas distantes do local do impacto. (d) Por hérnia ↪ nos casos de hipertensão intracraniana quando o giro para-hipocampal projeta-se contra a margem livre da incisura do tentório. É uma lesão focal que atinge áreas não vitais ↪ pode acompanhar-se de manutenção plena da consciência e ter evolução clínica favorável desde que não ocorram complicações. Aspectos morfológicos: • Início ↪ focos perivasculares múltiplos, diminutos ou maiores de hemorragia na cúpula dos giros e no espaço subaracnóideo adjacente. • Necrose isquêmica no tecido nervoso do permeio da hemorragia. • Pode-se observar edema cerebral na periferia da lesão. • A substância branca adjacente exibe rarefação e astrocitose fibrilar. HEMATOMA SUBDURAL Coleção de sangue entre a dura-máter e a aracnoide. Causas ↪ quedas, agressões e acidentes de trânsito. O hematoma subdural resulta do movimento diferencial entre crânio e encéfalo devido à movimentação da cabeça durante o traumatismo. Há deslizamento da aracnoide em relação à dura-máter e estiramento e ruptura das veias-ponte (veias cerebrais superiores) que drenam para o seio sagital superior. Envelhecimento ↪ esclerose das veias-ponte; atrofia cerebral (aumenta o espaço subdural). Explosão lobar ↪ lesão quando coexistem hematoma subdural agudo, contusão cerebral e hematoma na substância branca em correspondência com a área contusa. Agudo: • Apenas sangue coagulado. • Primeiras 48h. Subagudo: • Mistura de sangue líquido e coagulado. • 2-14 dias após o traumatismo. Crônico: • O traumatismo inicial pode ser banal, surgindo a sintomatologia semanas ou meses após o evento. • Líquido turvo escuro e quantidade variável de sangue fresco LESÃO AXONAL DIFUSA Espectro mais grave da lesão axonal traumática. É a causa anatômica da inconsciência que ocorre após um traumatismo cranioencefálico na maioria das vezes. Interrupção segmentar do fluxo axonal 60 min após o traumatismo: • Acúmulo de organelas; • Acúmulo de axoplasma; • Tumefação e lobulação do segmento afetado; • Fragmentação do axônio (após 12h). Níveis: 1) Grau 1 ↪ bulbos axonais e esferoides; 2) Grau 2 ↪ lesão axonal + hemorragia no corpo caloso;3) Grau 3 ↪ + hemorragia na região dorsolateral da porção rostral do tronco encefálico; Aspectos morfológicos: • Lesão difusa do axônio e lesão focal do corpo caloso e do tronco encefálico. SÍNDROME DA CRIANÇA ESPANCADA Principais lesões: • Hipertensão intracraniana (secundária a edema cerebral). • Lesão cerebral hipóxica. • Hemorragia subdural aguda. • Hemorragias retinianas e na bainha do nervo óptico (nos casos mais graves, associadas ao descolamento de retina). • Fratura do crânio. ENCEFALOPATIA TRAUMÁTICA CRÔNICA 11 Anna Carolina S. Moulin Alterações neuropatológicas progressivas resultantes de traumatismo cranioencefálico repetitivo ao longo de anos (frequentemente relacionado à prática de esportes). Achado característico ↪ deposição da proteína tau hiperfosforilada como emaranhados neurofibrilares em neurônios e em forma de fuso em neuritos e astrócitos. (taupatia). Pode haver também deposição difusa de β-amiloide e da proteína TDP-43 sob a forma de incisões em neurônios e células gliais. Características clínicas: • Perda de memória; • Alterações comportamentais e da personalidade; • Declínio cognitivo; • Parkinsonismo; • Distúrbios da fala e da marcha; Aspectos: • Cérebro ↪ grande cavo no septo pelúcido e fenestração de suas folhas; • Atrofia ↪ corpo caloso, hipocampo, córtex entorrinal, córtex frontotemporal, amígdala e corpos mamilares. • Cerebelo ↪ perda neuronal; • Substância negra ↪ perda neuronal; • Córtex cerebral + regiões perivasculares e periventriculares + tronco encefálico ↪ placas difusas contendo o peptídeo β-amiloide e emaranhados neurofibrilares; SEQUELAS NEUROLÓGICAS EM SOBREVIVENTES DE TCE Moderadamente incapacitados: • Hematoma intracraniano tratado cirurgicamente (75%). • LAD grau I (30%). Gravemente incapacitados: • Fratura de crânio. • Hematoma intracraniano tratado cirurgicamente. • Contusão cerebral. • LAD grau II e III (50%). Estado vegetativo (funções corticais abolidas – preservação das funções mediadas pelo tronco encefálico): • LAD grau II e III (71%). • Perda neuronal intensa no Tálamo (96%) e no Hipocampo. TRAUMATISMOS RAQUIMEDULARES Lesão da medula espinhal ↪ 15-20% das fraturas da coluna vertebral. 60% das lesões medulares ↪ segmentos cervicais. Fechados: • Sem lesão da dura-máter; • Tipos de fratura mais encontrados: o Por explosão ↪ Ex: queda de altura na posição vertical; sobrecarga axial produz fratura dos corpos vertebrais e os fragmentos são desviados para o canal vertebral. o Por compressão-flexão. o Por compressão-extensão. o Por tração com deslocamento. Abertos: • Objetos penetrantes que produzem laceração e compressão da medula espinhal. Síndrome clínica imediata ↪ secção medular ↪ déficit motor e sensitivo. Segmentos cervicais Tetraplegia flácida Segmentos torácicos Paraplegia flácida Aspectos morfológicos: • Contusão ↪ principal lesão traumática fechada da medula espinhal. o Focos múltiplos de hemorragia; mais na porção cinzenta (menor consistência e maior vascularização). o Hemorragias extradural e subaracnóidea. o Necrose isquêmica, edema, liquefação e absorção do tecido necrótico. o Lesão dos axônios ↪ seguida de fragmentação axonal distal e da bainha de mielina ↪ atrofia medular. • Siringomielia pós-traumática o Absorção dos restos necrótico- hemorrágicos ↪ formação de cavidade. 12 Anna Carolina S. Moulin
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