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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL CURSO DE FONOAUDIOLOGIA AUDIOLOGIA CLÍNICA SEMINÁRIO: POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO - PEATE EMILY NASCIMENTO LOPES CANOAS 2021 EMILY NASCIMENTO LOPES AUDIOLOGIA CLÍNICA Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico - PEATE Seminário de Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico - PEATE, apresentado à disciplina de Audiologia Clínica, do curso de Graduação em Fonoaudiologia, da Universidade Luterana do Brasil, como requisito parcial para avaliação referente ao primeiro semestre de 2021. Prof. Fga. Marion Cristine de Borba CANOAS 2021 1. INTRODUÇÃO Os primeiros potenciais auditivos evocados no ser humano foram captados e reconhecidos como respostas a estímulos acústicos em 1939 por Davis. Em 1945, Lempert et al. obtiveram com sucesso potenciais sensoriais da orelha interna, por meio de eletrodo implantado diretamente na janela redonda, no transcurso de cirurgias otológicas, até então a soma dos eventos eletro biológicos eram feitas através de imagens fotográficas. No início de 1960, Davis estabeleceu as bases da audiometria cortical; no fim da década de 1960, Yoshie et al. e Aran et al. desenvolveram, simultaneamente, a eletrococleografia (ECochG); em 1971, Jewett e Willitson desenvolveram o potencial evocado auditivo de tronco encefálico (PEATE). 2. POTENCIAL EVOCADO AUDITIVO DE TRONCO ENCEFÁLICO (PEATE) O potencial evocado auditivo de tronco encefálico (PEATE), também denominado audiometria de tronco encefálico (ABR, auditory brainstem response) ou, ainda, brainstem evoked response audiometry (BERA), é o PEA de curta latência mais conhecido e utilizado clinicamente, devido a sua reprodutibilidade e geradores bem definidos. O PEATE avalia a atividade do sistema auditivo desde a orelha interna até o tronco encefálico alto. As respostas ocorrem entre zero e 10 milissegundos (ms) após a estimulação acústica, sendo captado desde os primeiros neurônios do sistema auditivo até o tronco encefálico, e pode levar até 12 ms após a estimulação acústica. As estimulações acústicas são constituídas por um potencial polifásico de sete ondas, sendo a onda PV mais característica e frequente. As ondas são classicamente denominadas em algarismos romanos, e cada uma corresponde à atividade neuronal síncrona e sequencial do sistema auditivo. A origem dos potenciais que apresenta maior aceitação é a seguinte: (I) nervo coclear distal; (II) nervo coclear proximal; (III) núcleo coclear; (IV) núcleo do complexo olivar superior; (V) núcleos do lemnisco lateral e do colículo inferior; (VI) núcleos da radiação talâmica. 3. CARACTERIZAÇÃO Com relação à maturação dos componentes do PEATE, a literatura relata que é possível visualizar as ondas I, III e V, no período entre a 30ª a e 32ª a semanas de idade gestacional. A latência da onda I apresenta valores próximos aos do adulto por volta dos três meses de idade, enquanto as das ondas III e V continuam a decrescer durante o primeiro ano de vida, sendo que em crianças nascidas a termo a latência da onda V atinge valores próximos aos do adulto entre 18 meses e dois anos de idade. Consequentemente, durante este período visualiza-se uma diminuição gradativa dos interpicos IIII, IIIV e IV . Em crianças nascidas pré-termo, a maturação do sistema nervoso auditivo central (SNAC) não segue o mesmo padrão maturacional de crianças nascidas a termo, sendo que esta característica provavelmente deve-se a uma imaturidade do sistema nervoso central (SNC) . Desta forma, para a análise da latência das ondas do PEATE deve ser considerada a idade corrigida para bebês prematuros. Além deste cuidado, é indicado o retorno do paciente para um reteste, quando os valores de latência estiverem alterados, verificando-se assim se o atraso obtido seria em decorrência de um déficit na maturação do SNAC. Portanto, ao interpretar traçados do PEATE de neonatos e lactentes, deve-se levar em consideração o efeito da maturação da via auditiva sobre as latências, amplitudes e formas das ondas . Seguem quadros de referências dos padrões de normalidade para as latências das ondas I, III e V, e interpicos IIII, IIIV e IV de acordo com a faixa etária. Tendo em vista a maturação da via auditiva no tronco encefálico, deve-se ter cautela na interpretação dos traçados obtidos em neonatos e lactentes, considerando sempre o efeito desta maturação sobre a latência, amplitude e morfologia das ondas. O PEATE é uma ERA (audiometria de respostas elétricas electric response audiometry) com o eletrodo ativo no vértice craniano e o eletrodo referencial na mastóide ipsilateral ao estímulo sonoro. Os potenciais obtidos necessitam de uma sequência de 1.000 a 4.000 estímulos para uma resposta confiável. Movimentos cervicofaciais interferem de forma crítica na resposta obtida e, assim, é preciso sedar adultos ansiosos e tensos para obter respostas satisfatórias. Na avaliação pediátrica, de acordo com cada caso, o PEATE pode ser obtido em boas condições técnicas com o sono pós-prandial, ou com sedação. Pela natureza da estimulação do PEATE (cliques e logons), também não é possível obter uma ERA tonal; a atividade eletrofisiológica principal é restrita à espira basal da cóclea, na área entre 1 kHz e 4 kHz. 4. APLICAÇÃO Davis foi um dos primeiros a relatar a importância do PEATE como instrumento de avaliação da audição em recém nascidos, crianças pequenas, indivíduos hiperativos, indivíduos com distúrbios emocionais, pacientes com alterações neurológicas e indivíduos difíceis de serem avaliados pelos métodos comportamentais. O PEATE é utilizado principalmente para o topodiagnóstico da lesão auditiva e é um método muito sensível nessa aplicação. Usualmente, são considerados os seguintes parâmetros: limiar eletrofisiológico, latências absolutas de PI e PV e latências interpicos PI-V, PI-III e PIII-V. Outras aplicações clínicas do PEATE referem-se ao monitoramento intraoperatório, avaliação do grau do coma e morte encefálica , sendo que atualmente o PEATE também é utilizado para monitorar o processo terapêutico. Ela pode também ser utilizada para a predição do limiar psicoacústico, tendo em vista uma possível adaptação de aparelho de amplificação sonora individual e permite a detecção de anormalidades no nível do tronco encefálico, por imaturidade, lesões degenerativas e/ou tumorais no nível do SNC. Com a implantação do programa de triagem auditiva universal, por meio da aplicação do teste de emissão otoacústica, o PEATE passou a ser um exame complementar essencial no reteste de crianças que falharam à emissão otoacústica na triagem inicial, é um exame fundamental no diagnóstico de neuropatia auditiva infantil. Diversas são as aplicações clínicas da pesquisa da integridade da via auditiva por meio do PEATE, entre elas: - Detecção de tumores do nervo acústico - Detecção de lesões do tronco encefálico - Monitorização cirúrgica - Avaliação do grau do coma e auxílio no diagnóstico de morte encefálica - Identificação da neuropatia auditiva - Avaliação da maturaçãodo sistema auditivo central em neonatos - Diagnóstico do tipo de perda auditiva. Aplicações clínicas da pesquisa do limiar eletrofisiológico: - Identificação de limiar eletrofisiológico em neonatos - Identificação de limiar eletrofisiológico em crianças difíceis de serem avaliadas por meio dos procedimentos audiológicos de rotina, dentre elas, crianças muito pequenas, com transtornos psiquiátricos, com problemas neurológicos - Mensuração objetiva da audição em adultos para fins diagnósticos e legais: simulação/dissimulação Dentre as formas de utilização clínica do PEATE destacam-se duas delas: a pesquisa do limiar eletrofisiológico da audição; e a pesquisa da integridade da via auditiva . Tais procedimentos podem ser indicados, isoladamente ou de modo combinado, para diversas populações de acordo com objetivo da avaliação audiológica. A aplicação do PEATE no diagnóstico precoce da surdez é um desafio para o audiologista, que deve ter o domínio da aplicação de procedimentos eletrofisiológicos, aliado ao raciocínio audiológico, possibilitando uma tomada de decisões rápidas e precisas, a fim de obter as informações necessárias e essenciais para conclusão diagnóstica. O PEATE com a utilização de todos os recursos disponíveis é uma ferramenta valiosa que fornece resultados confiáveis que norteiam o processo de intervenção precoce, favorecendo um melhor prognóstico para a criança com deficiência auditiva. 5. REALIZAÇÃO DO EXAME A avaliação deve ser realizada preferencialmente em uma sala com tratamento acústico e elétrico, e que o paciente seja acomodado de forma confortável em uma poltrona reclinável ou uma maca. O posicionamento dos eletrodos é outro item de grande importância na captação do PEATE, sendo assim, deve-se respeitar as normas propostas pelo International Electrode System (IES) para sua correta utilização. Uma das formas utilizadas para a montagem define as mastoides direita e esquerda (M2 e M1, respectivamente), ou ainda os lóbulos das orelhas direita e esquerda (A2 e A1, respectivamente) como eletrodos referência (negativos), a fronte (Fpz) como eletrodo “terra”, e a fronte (Fz) ou vértex (Cz), como eletrodo ativo (positivo). O posicionamento dos eletrodos no pré amplificador para utilização de equipamento de dois canais. O uso de pasta abrasiva, para limpar a pele do paciente nas posições pré determinadas, e da pasta eletrolítica, é indicado uma vez que proporciona melhor condutividade elétrica. A fixação dos eletrodos deve ser feita com o uso de esparadrapo. Vale ressaltar que, após a colocação dos eletrodos, é necessária a verificação de seus valores de impedância (grau de conexão do eletrodo com a pele), sendo que estes devem situar-se abaixo de 5 kOhms (quiloohms), e a diferença entre eles não pode ser maior do que 2 kOhms. Para a realização do PEATE é necessário o uso de um protocolo padronizado para que os parâmetros da avaliação sejam controlados. Além de um protocolo bem estruturado, é necessário tomar algumas medidas para minimizar a interferência de artefatos elétricos e musculares (como o uso de estabilizador de voltagem, o reposicionamento do paciente e, se necessário, a modificação dos filtros passa alto e/ou passa baixo), bem como das condições gerais de realização do exame. Outro fator importante é a reprodutibilidade do traçado, ou seja, ao sobrepor dois traçados obtidos com os mesmos parâmetros, é necessário que eles sejam similares para haver a confirmação da geração das ondas e, consequentemente, da presença de respostas no tronco encefálico. Ainda, outros parâmetros de medida que devem ser levados em consideração durante a realização e análise do PEATE; são a relação sinal ruído (signalnoiseratio, SNR) e o ruído residual (residualnoise, RN). Utilizando o protocolo sugerido pelo BCE HP , uma SNR maior do que 1,0 indica presença de respostas, sendo que o RN inferior ou igual a 0,11 (em pelo menos 2 traçados com os mesmos parâmetros) auxiliaria na interpretação da ausência de resposta. Cabe ressaltar que estes parâmetros de medida são utilizados para auxiliar na interpretação do traçado, sendo que a observação visual, e confirmação pela reprodução, é o método principal para determinação de presença ou ausência de resposta. Devemos ressaltar que para a realização do PEATE, é importante que o indivíduo permaneça quieto, sem movimentar o corpo (especialmente as regiões de cabeça, pescoço e ombros), e que nos casos em que não é possível realizar o exame com o indivíduo acordado, este pode ser feito sob sedação, isto porque a geração das ondas do PEATE não depende do estado de alerta do indivíduo e nem sofre influência do uso de sedativos e anestésicos. O exame pode, também, ser realizado durante o sono natural, sendo este procedimento bastante utilizado em crianças e neonatos. Sobre o PEATE sempre deve ser considerado em conjunto com a avaliação audiológica convencional; a avaliação isolada de tais testes pode incorrer em erros diagnósticos, em determinadas situações, ele permite uma avaliação mais ampla do sistema auditivo, da orelha interna ao tronco encefálico. 6. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS No campo da eletrofisiologia da audição, o potencial evocado auditivo de tronco encefálico é, sem dúvida, o procedimento mais utilizado clinicamente. Para que a análise e interpretação de seus resultados sejam realizadas adequadamente, torna-se imprescindível a atuação de profissionais altamente especializados. Embora o potencial evocado auditivo de tronco encefálico seja considerado um instrumento objetivo para avaliar a audição, tendo como principais aplicações clínicas a pesquisa da integridade da via auditiva no tronco encefálico e a do limiar eletrofisiológico, este não tem como finalidade substituir os procedimentos audiológicos de rotina, e sim complementá los. Sendo assim, tanto os métodos objetivos quanto os subjetivos devem ser aplicados e analisados conjuntamente. Esta somatória de informações a respeito do funcionamento da via auditiva proporcionará um diagnóstico audiológico mais preciso e, consequentemente, um melhor prognóstico para o paciente.
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