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Tratamento Oncológico

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1 Stephane D’arc – Módulo Proliferação Celular 
Tratamento Oncológico
 
Introdução 
O tratamento do câncer pode ser dividido em: 
• local ou sistêmico 
Como local: cirurgia e a radioterapia 
Como sistêmico: a quimioterapia e a terapêutica 
biológica. 
→ O uso de anticorpos e de vacinas e as 
terapias gênicas, assim como as terapias 
celulares, podem ser entendidos como 
parte da terapia biológica. 
Por sua vez, o uso de medicamentos de forma 
geral – agentes citotóxicos como na quimioterapia 
clássica e na hormonioterapia ou fármacos 
direcionados para alvos moleculares específicos –, 
é chamado de quimioterapia do câncer. 
Quimioterapia 
É a forma de tratamento sistêmico do câncer que 
usa medicamentos denominados 
“quimioterápicos”, os quais são administrados em 
intervalos regulares, que variam de acordo com os 
esquemas terapêuticos. 
Finalidades da quimioterapia: 
❖ Quimioterapia prévia, neoadjuvante ou 
citorredutora: indicada para a redução de 
tumores loco e regional- mente avançados 
que, no momento, são irressecáveis ou 
não. Tem a finalidade de tornar os tumores 
ressecáveis ou de melhorar o prognóstico 
do paciente. 
❖ Quimioterapia adjuvante ou profilática: 
indicada após o tratamento cirúrgico 
curativo, quando o paciente não apresenta 
qualquer evidência de neoplasia maligna 
detectável por exame físico e exames 
complementares. 
 
 
❖ Quimioterapia curativa: tem a finalidade 
de curar pacientes com neoplasias 
malignas para os quais representa o 
principal tratamento (podendo ou não 
estar asso- ciada à cirurgia e à 
radioterapia). Alguns tipos de tumores no 
adulto, assim como vários tipos de 
tumores que acometem crianças e 
adolescentes, são curáveis com a 
quimioterapia. 
❖ Quimioterapia para controle temporário 
de doença: indicada para o tratamento de 
tumores sólidos, avançados ou 
recidivados, ou neoplasias 
hematopoiéticas de evolução crônica. 
Permite longa sobrevida (meses ou anos), 
mas sem possibilidade de cura; sendo, 
porém, possível obter-se o aumento da 
sobrevida global do doente. 
❖ Quimioterapia paliativa: indicada para a 
paliação de sinais e sintomas que 
comprometem a capacidade funcional do 
paciente. Independente da via de 
administração, é de duração limitada, 
tendo em vista a incurabilidade do tumor 
(doença avançada, recidivada ou 
metastática), que tende a evoluir a 
despeito do tratamento aplicado. 
A hormonioterapia é considerada um tipo de 
tratamento quimioterápico. Consiste no uso de 
substâncias semelhantes ou inibidoras de 
hormônios para tratar as neoplasias que são 
dependentes desses. A finalidade desse 
tratamento é definida pelo oncologista clínico, 
conforme a doença do paciente. 
Agentes hormonais 
Evidências mostram de forma bastante 
consistente que tanto o câncer de mama quanto o 
 
2 Stephane D’arc – Módulo Proliferação Celular 
de próstata podem ser considerados como 
neoplasias hormônio-dependentes. 
Pela administração de agonistas do LHRH, como 
goserrelina, triptorrelina e leuprolide, que 
promovem a depleção de FSH e LH no nível 
hipofisário, o efeito obtido é o mesmo da 
castração, com consequente parada de síntese e 
secreção de estradiol no ovário, ou testosterona 
no testículo, levando ao controle da neoplasia a 
longo prazo, com altas taxas de resposta, sem os 
efeitos indesejáveis da quimioterapia citotóxica 
clássica. 
Outra modalidade de hormonioterapia é o uso de 
antagonistas dos receptores hormonais 
esteróidicos no nível da célula neoplásica. A 
ligação de estrógenos ou andrógenos a tais 
receptores faz com que eles se liguem a elementos 
responsivos no DNA e estimulem a transcrição de 
genes envolvidos em proliferação e sobrevivência 
da célula neoplásica. Tais receptores podem ser 
inibidos por tamoxifeno, um antagonista parcial 
do receptor de estrógeno, amplamente utilizado 
no tratamento adjuvante, no tratamento da 
doença metastática e na quimio-prevenção em 
pacientes portadores de câncer de mama. 
Nas pacientes pós-menopausadas, nas quais as 
principais fontes de estrógenos circulantes são a 
gordura periférica e a musculatura esquelética, o 
uso de inibidores da aromatase permite a inibição 
da síntese de estrógenos nesses níveis, tornando o 
ambiente hipoestrogênico desfavorável à 
progressão da neoplasia, o que desencadeia 
apoptose da célula neoplásica. 
Radioterapia 
A radioterapia é o método de tratamento local ou 
locregional do câncer que utiliza equipamentos e 
técnicas variadas para irradiar áreas do organismo 
humano, prévia e cuidadosamente demarcadas. 
Finalidades da radioterapia: As finalidades da 
radioterapia relacionadas abaixo se referem a 
pacientes adultos, já que, em crianças e 
adolescentes, cada vez menos se utiliza a 
radioterapia, em virtude dos efeitos colaterais 
tardios ao desenvolvimento orgânico que ela 
acarreta. 
1. • Radioterapia curativa: principal 
modalidade de tratamento radioterápico; 
visa à cura do paciente. 
2. • Radioterapia pré-operatória: 
procedimento que antecede a principal 
modalidade de tratamento, a cirurgia, para 
reduzir o tumor e facilitar o procedimento 
operatório. 
3. • Radioterapia pós-operatória: segue-se à 
principal modalidade de tratamento, com 
a finalidade de esterilizar possíveis focos 
microscópicos do tumor. 
4. • Radioterapia paliativa: objetiva o 
tratamento local do tumor primário ou de 
metástase(s), sem influenciar a taxa da 
sobrevida global do paciente. 
Características das Radiações 
As radiações podem ser classificadas em 
corpusculares e eletromagnéticas. 
✓ As corpusculares possuem massa 
(elétrons, prótons e nêutrons) 
✓ eletromagnéticas são ondas com 
diferentes comprimentos e a mesma 
velocidade, que é a da luz 
Para fins biológicos, as radiações podem ser 
classificadas em não ionizantes e ionizantes. 
o As ionizantes promovem ejeção de 
elétrons da órbita do átomo (ionização). 
Importante propriedade física desses 
agentes é a transferência linear de energia 
(LET), que é a taxa de energia liberada por 
unidade de trajeto percorrido pela 
radiação. 
o As ondas eletromagnéticas percorrem 
mais longa trajetória e promovem radiação 
esparsa (baixo LET). Quanto maior a 
energia maior a capacidade de penetração 
no meio absorvedor. 
Quanto maior a taxa de dose, maior a eficácia 
radio-biológica devido à inibição dos mecanismos 
de reparo das células. 
 
3 Stephane D’arc – Módulo Proliferação Celular 
Mecanismo de ação da Radioterapia 
As radiações ionizantes podem interagir diretamente 
com componentes celulares como DNA, proteínas e 
lipídeos. Após absorção de energia pelo meio biológico, 
elétrons são ejetados e estes provocam lesão nas 
células e tecidos. As radiações podem também 
interagir com o meio em que os constituintes celulares 
e as próprias células estão suspensas, ou seja, a água, 
produzindo radicais livres. A maior probabilidade de 
ocorrência do efeito indireto deve-se ao fato de a água 
ocupar parcela substancial da composição celular. 
O principal radical livre resultante da radiólise da água 
é a hidroxila (radical oxidante). Quando os radicais 
hidroxila reagem com moléculas orgânicas, formam-se 
radicais orgânicos. O oxigênio, quando presente, 
combina-se com os radicais orgânicos e produz radicais 
peroxidantes. Estes não permitem a recombinação 
para a molécula original, levando à “fixação” da lesão. 
Por tais razões, o oxigênio é um importante 
radiossensibilizador. 
Alvos biológicos das radiações 
As radiações podem provocar: quebras em DNA e 
cromossomos, peroxidação lipídica, indução de genes, 
transdução de sinais, alteração da progressão do ciclo 
celular, entre outros. 
 
Radiação e Ciclo Celular 
As células irradiadas retardam a progressão do ciclo 
celular e ativam genes de reparo. 
Ocorre alteração da estrutura da cromatina devido à 
autofosforilação intramolecular e dissociação do 
dímeroda quinase ATM (ataxia telangiectasia matated) 
que, por sua vez, fosforila a proteína p53. Esta ativa a 
proteína p21 e para a progressão do ciclo celular na 
fase de G1 /S. A proteína mdm2 é também fosforilada 
pela ATM e sua função de controlar a degradação da 
p53. Ainda, a ATM fosforila a quinase CHK2, esta 
fosforila a fosfatase CDC25A que é degradada 
acarretando retardo do ciclo celular em G1 /S. 
✓ As fases G2 /M são extremamente sensíveis à 
radiação, devido à grande compactação do 
DNA. A grande compactação da cromatina 
torna as lesões inacessíveis às enzimas 
reparadoras. 
✓ A fase de síntese (S) é a menos sensível à 
radiação, possivelmente devido à duplicidade 
do conteúdo informacional. 
Morte celular radioinduzida 
A radiação pode induzir a morte clonogênica e a morte 
por apoptose. A morte clonogênica ou falência 
reprodutiva caracteriza-se pela perda da capacidade de 
divisão celular. As células passam pela mitose sem 
reparar as quebras cromossômicas e transmitem 
aberrações letais para as células-filhas, que perdem a 
capacidade de realizar mitose, ou seja, ficam estéreis. 
Mutação e carcinogênese 
Os tumores mais comuns após irradiação são as 
leucemias, câncer de tireoide, mama, pulmão, osso e 
pele. As doses de radiação administradas durante a 
radioterapia relacionam-se mais à indução da morte do 
que à transformação celular. Estima-se que a chance de 
um indivíduo submetido à radioterapia desenvolver 
uma segunda neoplasia é de 5%. 
Fundamentos para radioterapia 
 Classicamente, a radioterapia é administrada de forma 
fracionada com doses de 1,8 a 2 Gy por fração, 
diariamente, 5 dias por semana, em 5 semanas. 
Os chamados quatro ou cinco “Rs” da radiobiologia 
tentam explicar porque o fracionamento funciona. São 
eles: redistribuição, reparo da lesão subletal (RLSL), 
repopulação, reoxigenação e radiossensibilidade. 
Fracionando-se a dose de radiação, permite-se o 
reparo (RLSL) do tecido normal de resposta lenta e a 
repopulação das células do tecido normal de resposta 
rápida, entre as frações. Ao mesmo tempo, dividindo-
se a dose em frações, aumenta-se a lesão nas células 
tumorais em consequência da reoxigenação e 
redistribuição das células nas fases sensíveis do ciclo 
celular. O quinto “R” refere-se à radiossensibilidade do 
tecido irradiado e depende das características 
biológicas do mesmo. 
Cirurgia 
A oncologia cirúrgica inclui a prevenção do câncer, o 
aconselhamento genético, a reabilitação e os 
cuidados de acompanhamento. 
A radiologia é um componente do estadiamento clínico 
da maioria dos cânceres. As diretrizes sobre realização 
de imagens foram bem estabelecidas para as 
 
4 Stephane D’arc – Módulo Proliferação Celular 
neoplasias malignas mais comuns. Essas diretrizes são 
baseadas nos padrões mais comuns de crescimento e 
propagação de cânceres específicos. O objetivo é 
documentar, com precisão, o tamanho, a localização e 
a extensão do câncer antes da terapia. Os achados de 
imagem frequentemente vão influenciar a estratégia 
de tratamento e a ordem em que as diferentes terapias 
serão aplicadas. 
Avaliação Endoscópica 
Trata-se de um dos principais meios de obtenção 
de biópsias de tumores gastrintestinais. A 
ultrassonografia endoscópica é utilizada no 
estadiamento de cânceres de esôfago, estômago e 
reto. 
No câncer colorretal, a avaliação endoscópica é 
importante para a obtenção de diagnóstico do 
tecido e para a detecção de lesões síncronas. As 
técnicas endoscópicas têm sido usadas para tratar 
o esófago de Barrett, alcançar a hemostasia de 
sangramento de tumores e é de utilidade para o 
tratamento paliativo da obstrução das vias biliares 
e aerodigestivas. As técnicas de ressecção 
endoscópica estão sendo desenvolvidas para os 
cânceres esofágicos, gástricos e iniciais. 
Estadiamento Laparoscópico 
A laparoscopia é utilizada principalmente no 
estadiamento de neoplasias malignas 
gastrintestinais e ginecológicas. Às vezes, ela é 
usada para obter o tecido para análise patológica, 
a fim de ajudar com os dilemas de diagnóstico. A 
ultrassonografia laparoscópica é superior à 
ultrassonografia transabdominal para avaliação 
das lesões hepáticas e pode ser usada em biópsias 
com agulha diretas. Quando a laparoscopia é 
utilizada para avaliar a extensão da doença, 
procedimentos adicionais adjuvantes também 
podem ser realizados, como a colocação de tubos 
de alimentação; isso pode ajudar no apoio aos 
pacientes submetidos a terapias neoadjuvantes 
difíceis. O diagnóstico laparoscópico de 
carcinomatose poupa o paciente de laparotomia 
não terapêutica. 
 
Intervenção Cirúrgica 
A cirurgia pode ser uma terapia simples, segura e 
curativa para pacientes com tumores restritos à 
localização anatômica de origem. Para algumas 
doenças, é conveniente estender a ressecção, 
incluindo bacias linfáticas regionais para fins de 
estadiamento e controle local. Em determinados 
pacientes, a doença metastática pode ser 
ressecada com a intenção de prolongar a 
sobrevida. Os procedimentos cirúrgicos também 
podem ser necessários para aliviar sintomas em 
pacientes com câncer avançado. 
Metastasectomia 
Em pacientes cuidadosamente selecionados, a 
remoção de depósitos metastáticos pode resultar na 
sobrevida em longo prazo e é ocasionalmente curativa. 
Em geral, a metastasectomia é considerada quando o 
paciente teve um intervalo de tempo longo livre da 
doença, locais limitados de doença que podem ser 
completamente res- secados, com baixa morbidade, e 
estado funcional adequado. Os pacientes com 
metástases hepáticas completamente ressecadas de 
carcinoma colorretal têm taxas de sobrevida muito 
superiores às expectativas para doença de estágio IV. 
 A metastasectomia é especialmente adequada para 
os cânceres que não respondem bem à quimioterapia 
sistêmica e tem sido descrita no tratamento de 
pacientes com sarcoma, melanoma, tumores 
neuroendócrinos e câncer adrenocortical 
metastáticos. 
Cirurgia Paliativa 
Pacientes com câncer avançado frequentemente 
apresentam sintomas atribuídos ao seu tumor. As 
cirurgias paliativas podem ser justificadas para aliviar 
dor, e tratar hemorragia, obstrução ou infecção. A 
cirurgia paliativa é tipicamente considerada quando 
medidas não cirúrgicas foram esgotadas. Há uma 
escassez de dados de qualidade de vida com relação 
aos procedimentos paliativos; no entanto, sabe-se que, 
em pacientes cuidadosamente selecionados, a maioria 
apresenta alívio dos sintomas. Infeliz- mente, esta é, 
muitas vezes, à custa de morbidade e mortalidade. 
Os procedimentos paliativos, por natureza, têm 
durabilidade limitada e os pacientes frequentemente 
desenvolvem sintomas recorrentes ou novos sintomas 
 
5 Stephane D’arc – Módulo Proliferação Celular 
com a progressão da doença. A decisão de intervenção 
deve ser tomada no contexto da situação de cada 
paciente individualmente. 
Referência: 
HOFF, P. M. G. (ed). Tratado de oncologia. SÃO PAULO: 
ATHENEU, 2013. 2829p. 
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