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Brasília-DF. Farmacocinética clínica oncológica Elaboração Wendell Rodrigues Oliveira da Silva Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5 introdução.................................................................................................................................... 7 unidAdE i A PATOGÊNESE DO CÂNCER ............................................................................................................... 11 CAPítulo 1 A GÊNESE DE umA CélulA CANCEROSA ............................................................................... 11 unidAdE ii FÁRmACOS ANTICÂNCER .................................................................................................................... 16 CAPítulo 1 PRINCíPIOS GERAIS DA AçãO DE FÁRmACOS ANTICÂNCER CITOTóxICOS ............................. 17 CAPítulo 2 ClASSES DE DROGAS CITOSTÁTICAS ...................................................................................... 21 unidAdE iii DESENVOlVImENTO DE RESISTÊNCIA .................................................................................................... 78 CAPítulo 1 RESISTÊNCIA AOS FÁRmACOS ANTICÂNCER ........................................................................... 78 unidAdE iV O INSTITuTO NACIONAl DE CÂNCER (INCA) ......................................................................................... 84 CAPítulo 1 VIGIlÂNCIA DO CÂNCER E SEuS FATORES DE RISCO .............................................................. 88 CAPítulo 2 TRATAmENTO PEDIÁTRICO ONCOlóGICO .............................................................................. 90 CAPítulo 3 ESTIlO DE VIDA SAuDÁVEl DuRANTE E APóS O TRATAmENTO DO CÂNCER – AlImENTAçãO SAuDÁVEl .............................................................................................................................. 92 CAPítulo 4 HOSPITAIS HAbIlITADOS Em ONCOlOGIA NO bRASIl ............................................................ 102 rEfErênCiAS ................................................................................................................................ 129 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 introdução O empirismo e o registro correto de dados foram a base inicial da ciência, e a terapia oncológica não fugiu a essa regra. O nome câncer, que vem do grego karkínos, significa caranguejo, e foi utilizada pela 1o vez por Hipócrates, o pai da medicina, que viveu entre 460 e 377 a.C. O câncer não é uma doença nova, pois por ter sido detectado em múmias egípcias mostra que ele já acometia o homem há mais de 3.000 anos antes de Cristo. Atualmente, câncer é a nomenclatura dada a um conjunto de mais de 100 doenças, que têm em comum o crescimento desordenado de células, que invadem tecidos e órgãos vizinhos. Embora o câncer seja reconhecido como doença há muitos séculos, as primeiras observações de regressão tumoral induzida por droga datam do início da década de 1940, com as mostardas nitrogenadas. Os 50 anos seguintes foram “utilizados” com a tentativa de identificação, em modelos experimentais, de substâncias com atividade antitumoral, com atenção menor ao mecanismo fisiopatológico intrínseco das neoplasias. Procurava-se a cura para todos os tipos de câncer. Os quimioterápicos muitas vezes verdadeiros extratos naturais de plantas, eram selecionados por método de tentativa e erro, purificados e administrados a pacientes na máxima dose tolerada. Esse procedimento teve muitos resultados positivos, como da cisplatina, que revolucionou o tratamento do câncer testicular nos anos 1970, aumentando a probabilidade de cura dos pacientes em 20% para mais de 90%. Entretanto, na imensa maioria das neoplasias malignas, os ganhos não foram tão significativos e não se conseguiu avanças considerados. Na última década, modernos métodos de avaliação laboratorial de mecanismos intercelulares e intracelulares de câncer trouxeram à luz informações preciosas sobre o ordenado crescimento e manutenção de células cancerosas. Passos enzimático de vias de estimulação específicas da célula maligna foram identificados, criando inúmeras oportunidades de intervenção farmacológica. Aconteceram grandes mudanças conceitual e racional no desenvolvimento de terapia antineoplásica: passamos da era de qual drogas eram utilizadas por ter o reconhecimento de sua eficiência (relativa e não seletiva), sem conhecimento adequado do seu mecanismo de ação, para uma nova fase, caracterizada por identificação do mecanismo fundamental de doença, seguido do esforço de cientistas em desenvolver drogas capazes de reverter esse defeito, proporcionando assim uma terapia ideal. Dessa forma, é importante ter em mente que câncer não é uma patologia única, mas várias doenças, cada uma delas com mecanismos individuais de sobrevivência. Cada neoplasia tem característicasque a torna única. Podemos citar como exemplo disso, o câncer de mama que não expressa receptor estrogênico e que hiperexpressa c-erbB2 é uma doença diferente do câncer de mama indolente, estimulado exclusivamente por hormônios circulantes. 8 O trabalho de isolar essas doenças e caracterizá-las de maneira tão individua é longo, exaustivo e custoso. Entretanto, somente assim seremos capazes de oferecer maiores chances reais de cura e tratamentos com melhor índice terapêutico aos pacientes. Já começamos a colher os frutos dessa revolução conceitual e científica e muitos estão em fase experimental, portanto, a caminho. Ao mesmo tempo, outra revolução se inicia. Como por meio de técnicas extremamente modernas de avaliação da expressão genética dos tumores (estudos de microensaio), seremos capazes de na prática, identificar aspectos específicos não apenas dos tumores, mas sim do tumor em cada indivíduo. A expressão de cerca de 40.000 genes distintos pode ser analisada a partir de uma pequena amostra de tecido. O que não tínhamos no passado ─ poucas informações ─ foi substituído pela dificuldade de avaliar esse excesso de informações e de aproveitar aquelas essenciais para a compreensão da fisiopatologia tumoral. Alguns acreditam que em poucos anos seremos capazes de selecionar os tumores não mais por sua característica morfológica, embriogênese ou expressão de marcadores celulares, mas sim pelos seus defeitos intracelulares e sensibilidade a determinados fármacos. Poderemos então tratar doenças com absoluta seletividade, escolhendo o ou os fármacos específicos para cada paciente. Finalmente, a tendência deste assunto parece ser sempre crescente, em número de drogas e, sobretudo, refletindo-se em tratamentos que terão cada vez mais impacto na vida das pessoas. O câncer é doença caracterizada pela multiplicação e disseminação descontroladas de formas anômalas de células do próprio corpo. Trata-se da segunda mais comum causa de óbito em nações desenvolvidas (as doenças cardiovasculares possuem a distinção constestada de encabeçar essa lista) e uma em cada três pessoas terá o diagnóstico de câncer durante a vida. No Reino Unido, mais de 365.000 casos novos de câncer foram identificados e a mortalidade em 2006 foi superior a 154.000 (Cancer Research UK). O câncer é responsável por cerca de um quarto de todos os óbitos no Reino Unido, e a maioria dos casos é representada por câncer de pulmão e de intestino, acompanhados pelo câncer de mama e pelo câncer de próstata. As estatísticas da maioria dos outros países desenvolvidos são praticamente da mesma forma, com os mesmos dados. À primeira vista, os números da incidência nos últimos 100 anos, ou em torno disso, dão a impressão de que a doença está aumentando nos países desenvolvidos, mas o câncer acontece principalmente nos anos avançados da vida do indivíduo e, com os avanços na saúde pública, na ciência médica e no conhecimento, maior número de pessoas vive hoje até idade mais avançada, na qual estão mais suscetíveis ao desenvolvimento dessa doença. Os termos câncer, tumor maligno (neoplasia significa “novo crescimento”) e neoplasia malignasão sinônimos. Tanto tumores benignos quanto malignos manifestam 9 proliferação descontrolada, mas os malignos diferenciam-se pela sua capacidade de desdiferenciação, de invasividade e de metastatizar (espalhar-se para outras partes do corpo). Neste capítulo, vamos concentrar-nos somente no tratamento do câncer ou da neoplasia maligna. O aparecimento das características anômalas reflete padrões alterados de expressão genética nas células cancerosas, como resultado de mutações genéticas herdadas ou adquiridas. Existem três procedimentos mais usados em tratamento do câncer estabelecido ─ excisão cirúrgica, radioterapia e terapia com fármacos (geralmente denominada quimioterapia) ─ e o valor relativo de cada um desses enfoques depende do tipo de câncer e do seu estágio de desenvolvimento. A quimioterapia pode ser usada como único tratamento ou associada a outras formas de terapia. A quimioterapia do câncer, quando comparada com a da doença bacteriana, apresenta maiores dificuldades. Em termos bioquímicos, os microrganismos são diferentes, tanto quantitativa como qualitativamente, das células humanas, e as células cancerosas e as células normais são tão parecidas, na maioria dos aspectos, que é mais difícil encontrar diferenças gerais, exploráveis e bioquímicas entre elas, o que muitas vezes leva a muito mais efeitos colaterais ao paciente Recentemente, o foco da quimioterapia contra o câncer foi ampliado para incluir, assim como fármacos citotóxicos convencionais (que atuam em todas as células, e contam com uma pequena margem de seletividade para serem utilizados como agentes anticâncer), muitos fármacos que afetam tanto a regulação hormonal do crescimento do tumor quanto o controle do ciclo celular defeituoso, que é a base da malignidade. Em geral, este tem sido um dos campos com maiores avanços no desenvolvimento de fármacos nos últimos anos, nos quais a genômica e os biofármacos desempenharam o papel principal. Provavelmente, o fluxo de inovações continuará por muito tempo. objetivos » Atualizar os conhecimentos dos profissionais que atuam na área de oncologia. » Desenvolver uma visão integral da farmacologia oncológica. » Favorecer a inserção do profissional na equipe multidisciplinar de atenção ao paciente oncológico. 10 11 unidAdE iA PAtogênESE do CÂnCEr CAPítulo 1 A gênese de uma célula cancerosa A patogênese do câncer Para entender os problemas e a ação dos agentes anticâncer utilizados atualmente e para diminuir as dificuldades terapêuticas que precisam ser vencidas pelos reputados novos fármacos, é importante considerarem mais detalhes a biopatologia dessa doença. Existem quatro características que as células cancerosas manifestam, em vários graus, que as distinguem das células normais, que são: » proliferação descontrolada; » desdiferenciação e perda de função; » invasiabidade; » metástase. O que torna uma célula normal cancerosa é decorrente de uma ou mais mutações em seu DNA, que pode ser adquirida ou herdada, geralmente por meio da exposição a vírus ou substâncias cancerígenas (por exemplo, produtos que contêm tabaco, amianto). Um bom exemplo é o câncer de mama: mulheres que herdam somente uma cópia defeituosa dos genes de supressão tumoral BRCAI e BRCA2 apresentam risco maior para o desenvolvimento do câncer de mama. No entanto, a carcinogênese é um processo complexo de múltiplos estágios, em geral envolvendo mais de uma alteração genética, bem como outros fatores epigenéticos (hormonais, cocarcinogênicos e efeitos de promoção tumoral etc.) que, por si sós, não levam ao câncer, mas contribuem para que mutações genéticas terminem por resultar em câncer. 12 UNIDADE I │ A PATOGÊNESE DO CÂNCER Existem duas categorias de alterações genéticas importantes: 1. A ativação de proto-oncogenes a oncogenes ─ Proto-oncogenes são genes que normalmente controlam a divisão, a diferenciação celular e a apoptose, mas que podem transformar-se em oncogenes, os quais induzem alterações malignas por ação carcinogênica ou viral. 2. A inativação de genes de supressão tumoral ─ As células normais apresentam genes com propriedade de suprimir alterações malignas ─ chamados genes de supressão tumoral (antioncogenes) ─ e mutações nesses genes podem estar associadas a vários tipos de cânceres. A perda de função dos genes de supressão tumoral pode ser um evento crítico na carcinogênese. Certa de 30 genes de supressão tumoral e 100 oncogenes dominantes já são conhecidos. As alterações que levam à malignidade resultam de mutações pontuais, translocação cromossômica ou amplificação do gene, em geral causadas por vírus ou carcinógenos químicos. Características especiais das células cancerosas Proliferação descontrolada Muitas células sadias no epitélio do trato gastrintestinal e na medula óssea, por exemplo,tem a propriedade de divisão rápida contínua e geralmente não está correta a afirmação de que as células cancerígenas proliferam-se mais rapidamente que as normais. Algumas células cancerosas multiplicam-se lentamente (por exemplo, aquelas dos tumores de células do plasma) e algumas são mais rápidas (por exemplo, as células do linfomade Burkitt). O que importa é que as células cancerosas desenham-se do mecanismo que normalmente regula a divisão celular e o crescimento tecidual. É esse aspecto, e não sua velocidade de proliferação, que as diferenciam das células normais. Entre as alterações que levam à proliferação descontrolada das células tumorais podemos citar a inativação de genes de supressão tumoral ou a transformação de proto- oncogenes em oncogenes que podem conferir autonomia de crescimento a uma célula e, assim, promover a proliferação descontrolada ao produzir alterações em diversos sistemas celulares, incluindo: » fatores de crescimento, seus receptores e vias de sinalização; 13 A PATOGÊNESE DO CÂNCER │ UNIDADE I » nos transdutores do ciclo celular, como, por exemplo, ciclinas, quinases dependentes de ciclinas (cdks) ou inibidores de cdk; » no mecanismo apoptótico que normalmente coordena as células anômalas; » na expressão da telomerase; » nos vasos sanguíneos locais, resultando em angiogênese direcionada ao tumor. Potencialmente, todos os genes que codificam os componentes citados poderiam ser considerados como oncogenes ou genes de supressão tumoral, no entanto nem todos são igualmente propensos à transformação maligna. É preciso entender que a transformação maligna de vários componentes é necessária ao aparecimento e desenvolvimento do câncer. resistência a apoptose Apoptose é a morte celular programada, e mutações genéticas nos genes anti-apoptóticos geralmente são pré-requisito para o câncer; na verdade, a resistência à apoptose é marco importante da doença, podendo ser causada pela inativação de fatores pró-apoptóticos ou pela ativação de fatores anti-apoptóticos. Expressão da telomerase Os telômeros são estruturas específicas que recobrem os terminais dos cromossomos protegendo-os da degradação, da recomposição e da fusão com outros cromossomos. Além disso, a DNA polímerase não consegue duplicar facilmente os últimos poucos nucleotídeos nos terminais do DNA, e os telômeros impedem a perda desses genes. Com cada ciclo de divisão celular, uma porção do telômero sofre erosão, de maneira que acaba por tornar-se não funcional. Neste ponto, a replicação do DNA para e a célula continua seu processo de envelhecimento. Células que estão se dividindo com rapidez, como as células da medula óssea e as células tronco, células do epitélio do trato gastrointestinal e da linha germinal, expressam a talomerase, enzima que mantém e estabiliza os telômeros. Se, de uma forma, ela não está na maioria das células somáticas diferenciadas, aproximadamente 95% dos tumores malignos em estádio final expressam de fato essa enzima, e é isto o que pode proporcionar “imortalidade” às células do câncer. 14 UNIDADE I │ A PATOGÊNESE DO CÂNCER o controle dos vasos sanguíneos relacionados com o tumor Os fatores já mencionados causam a proliferação descontrolada de células cancerosas individuais, mas outros fatores, como o suprimento de sangue, determinam o crescimento real de um tumor sólido. Tumores de 1-2 mm de diâmetro podem obter nutrientes por difusão, mas qualquer expansão adicional requer angiogênese, ou seja, desenvolvimento de novos vasos sanguíneos. A angiogênese acontece devido a fatores de crescimento produzidos pelo tumor em evolução. desdiferenciação e perda de função A multiplicação de células normais em certos tecidos começa com a divisão de células-tronco indiferenciadas dando origem a células-filhas. Essas células-filhas, possivelmente, diferenciam-se e tornam-se células maduras do tecido em questão, prontas para realizar suas funções para que foram programadas. Por exemplo, quando os fibroblastos amadurecem, eles secretam e organizam a matriz extracelular; células musculares amadurecidas podem contrair-se. Uma das principais características das células cancerosas é a propriedade de elas desdiferenciam-se em graus variados. Habitualmente, cânceres mal diferenciados multiplicam-se mais rapidamente e acarretam prognóstico pior que cânceres bem diferenciados. invasividade Células normais não são, de uma forma em geral, encontradas fora do seu tecido “determinado” de origem. Isto ocorre porque, durante a diferenciação e o crescimento de tecidos e órgãos, as células normais desenvolvem certas relações espaciais umas com as outras. Essas relações são mantidas por diversos fatores de sobrevida específicos dos tecidos que impedem a apoptose. Assim, qualquer célula que esteja fora do seu tecido de origem perde esses sinais de sobrevida e morre. Por isso, embora as células do epitélio mucoso normal do reto proliferem-se de forma contínua à medida que o revestimento se desintegra, elas permanecem como epitélio de revestimento. O câncer da mucosa retal, por exemplo, invade outros tecidos que formam o reto e, com frequência, os tecidos de outros órgãos pélvicos. As células cancerosas não só perderam, pela mutação, as restrições que possuem nas células normais, mas também secretam enzimas (por exemplo, metaloproteinases), que desintegram a matriz extracelular, permitindo que elas se movam. 15 A PATOGÊNESE DO CÂNCER │ UNIDADE I Metástases Metástases são tumores (“secundárias”), formados por células que foram liberadas do tumor primário ou inicial, e que chegaram a outros locais por meio de vasos sanguíneos ou do sistema linfática, pelo transporte para outras células, ou como resultado da sua desintegração nas cavidades corporais. As metástases são a principal causa de mortalidade e morbidade na maioria dos cânceres e são grande problema na terapia do câncer. Como já mencionado anteriormente, a migração e ou o deslocamento anômalo de células normais levaria à morte celular programada como consequência da retirada dos fatores antiapoptóticos fundamentais. Células cancerosas que metastatizam sofreram várias alterações genéticas que modificam suas respostas aos fatores reguladores que controlam a arquitetura celular dos tecidos normais, permitindo que elas se estabeleçam em vários outros tecidos. O crescimento local de novos vasos sanguíneos induzido pelo tumor favorece a metástase. Tumores secundários acometem mais frequentemente certos tecidos, em relação aos outros. Por exemplo, é comum a ocorrência de metástases de cânceres de mama nos ossos, no cérebro e nos pulmões. O motivo disso é que as células do câncer de mama expressam receptores de quimiocinas, como o CXR4 em suas superfícies, e quimiocinas que reconhecem esses receptores e são expressas em boa quantidade nesses tecidos, mas não em outros (por exemplo, rim), facilitando o acúmulo seletivo de células nesses locais. 16 unidAdE iifÁrMACoS AntiCÂnCEr Os fármacos anticâncer mais usados podem ser divididos nas seguintes categorias gerais: » Fármacos citotóxicos. O mecanismo de ação desses fármacos será discutido em mais detalhes a frente. Esses agentes incluem: › agentes alquilantes e substâncias relacionadas, que formam ligações covalentes com o DNA e, assim, impedem a sua replicação; › antimetábólitos, que bloqueiam ou subvertem uma ou mais vias metabólicas envolvidas na produção do DNA; › antibióticos citotóxicos, ou seja, substâncias de origem microbiana que impedem a divisão celular nos mamíferos; › derivados de plantas (alcaloides da vinca, taxanos, campotecinas): boa parte desses agentes afeta de forma específica a função microtubular e, dessa forma, a formação do fuso mitótico. » Hormônios, dos quais os mais importantes são os esteroides (por exemplo, os andrógenos, glicocorticoides e estrógenos), bem como agentes que suprimem a secreção hormonal ou antagonizam a ação hormonal. » Anticorposmonoclonais: esses são utilizados somente em alguns tipos de câncer. » Inibidores de proteína quinase: esses fármacos inibem proteínas (geralmente tirosina) quinases que transduzem os sinais de crescimento nas células com divisão rápida. Não são usamos com muita frequência. » Diversos agentes que não se encaixam nas categorias anteriores. O uso terapêutico dos fármacos anticâncer é território do oncologista, que deve selecionar os esquemas de tratamento apropriados para o paciente com o objetivo de curar, prolongar a vida ou promover a terapia paliativa. Existem mais de 80 fármacos disponíveis no Reino Unido, os quais são, na maioria das vezes, utilizados em associações. Neste material, vamos discutir os mecanismos de ação e os principais efeitos adversos dos agentes anticâncer mais utilizados. 17 CAPítulo 1 Princípios gerais da ação de fármacos anticâncer citotóxicos Em experimentos com leucemias transplantáveis de crescimento rápido em camundongos, descobriu-se que uma determinada dose terapêutica de um fármaco citotóxico destrói várias das células malignas. Assim, uma dose que destrói 99,99% das células, quando usada para tratar um tumor com 1011 células, ainda deixará 10 milhões (107) de células malignas viáveis. Dessa forma, como o mesmo princípio se aplica a tumores de crescimento rápido em seres humanos, os esquemas de quimioterapia têm como objetivo produzir o maior número possível de destruição do total de células, ao contrário do que acontece com os microrganismos, não se pode depender totalmente dos mecanismos de defesa imunológica do hospedeiro contra as células malignas remanescentes. Um dos principais problemas em tratar o câncer é que o crescimento do tumor, geralmente, já está muito avançado antes do seu diagnóstico. Tomemos como exemplo um tumor que surge de uma única célula e que o crescimento seja exponencial, o que é possível de ocorrer nos estágios iniciais. O tempo de “duplicação” varia, sendo, por exemplo, em torno de 24 horas no linfoma de Burkitt, duas semanas no caso de algumas leucemias e três meses nos cânceres mamários. Cerca de trinta duplicações seriam necessárias para produzir massa de células com diâmetro de dois cm, contendo 109 células. Um tumor como este está dentro dos limites dos procedimentos diagnósticos, muito embora pudesse passar despercebido se surgisse em um tecido como o fígado. Outras dez duplicações produziriam 1012celulas, massa tumoral mais passível de ser letal, e que mediria cerca de vinte cm de diâmetro, se fosse uma única massa sólida. Entretanto, o crescimento exponencial contínuo desse tipo não ocorre normalmente. No caso da maioria dos tumores sólidos (por exemplo, do pulmão, do estômago, do útero e outros), diferente das leucemias (tumores dos leucócitos), a taxa de crescimento cai a medida que a neoplasia cresce. Em parte, isso é devido ao tumor crescer mais que a capacidade do seu suprimento sanguíneo, e, em parte, porque nem todas as células proliferam-se de forma continua. As células de um tumor sólido podem ser consideradas de acordo com três compartimentos: 1. compartimento A ─ consiste em células em divisão, possivelmente em ciclo celular contínuo; 18 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER 2. compartimento B ─ consiste em células em repouso (fase G0) que, mesmo sem se dividirem, têm potencial para fazê-lo; 3. compartimento C ─ consiste em células não mais capazes de dividiram-se, mas que contribuem para o volume do tumor. Fundamentalmente, apenas as células no compartimento A, que são no máximo 5% de alguns tumores sólidos, são suscetíveis aos principais fármacos citotóxicos atuais, conforme abordaremos adiante. As células no compartimento C não representam problema, mas é a existência do compartimento B que dificulta a quimioterapia do câncer, já que essas células não são muito sensíveis aos fármacos citotóxicos e são passíveis de reentrar no compartimento A após a quimioterapia. A maioria dos fármacos anticâncer, principalmente os citotóxicos, afeta somente um aspecto característico da biologia da célula cancerosa ─ a divisão celular ─, mas não têm nenhum efeito inibidor específico na tendência para criar metástases na invasividade ou na perda de diferenciação. Em muitos casos, a ação antiproliferativa é decorrente da ação durante a fase S do ciclo celular, e o dano resultante ao DNA inicia a apoptose. Além disso, na medida em que seu alvo principal é a divisão celular, elas afetarão todos os tecidos normais em divisão rápida, e assim é provável que produzam, em grau variado, os seguintes efeitos tóxicos gerais: » toxicidade à medula óssea (mielossupressão) com queda na produção de leucócitos e, portanto, queda na resistência a infecções; » comprometimento da cicatrização; » perda de pelos/cabelos(alopecia); » dano ao epitélio gastrintestinal (incluindo membranas da mucosa oral); » depressão do crescimento em crianças; » esterilidade; » teratogenicidade. Os agentes citotóxicos podem ser, também em algumas situações, por si sós carcinogênicos. A rápida destruição celular também leva ao catabolismo extenso da purina, e os uratos podem precipitar-se nos túbulos renais e causar lesão renal. Por esse motivo, quase todos os agentes citotóxicos produzem náuseas e vômitos graves, o que tem sido encarado ─ como um dos principais motivos da não adesão do paciente aos esquemas de tratamento completo com esses agentes. 19 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II A oncologia é uma especialidade médica que estuda os diversos tipos de cancros, tumores malignos, e a forma como esses tumores se desenvolvem no organismo, como também o seu tratamento. Para cada tipo de câncer existe um tratamento específico, ou mais indicado, podemos citar como exemplos de tratamentos a hormonioterapia, a cirurgia, a quimioterapia, a radioterapia, e em alguns casos inclusive a utilização de mais de um tratamento em conjunto. Por isso, deve-se ter em mente que o tratamento oncológico é sempre muito individualizado, sendo que cada paciente tem uma característica própria. A utilização de fármacos também deve seguir esse princípio do tratamento individualizado, por esta e outras razões o tratamento é multidisciplinar. Os casos de câncer aumentam de forma exponencial ano a ano e é preciso ligar o sinal de alerta. O profissional deve se qualificar cada vez mais para atender da melhor forma possível esses novos casos. Principalmente o farmacêutico, pois ele é parte integrante do tratamento farmacológico. A quimioterapia consiste na administração de drogas químicas, quer seja via oral, intramuscular, venosa, cavitária, intrarterial, que atuam interferindo diretamente no ciclo celular, bloqueando uma sequência metabólica e dessa forma impedindo a divisão ou amadurecimento celular levando a célula consequentemente a morte. É importante ficar bem explicado que o mecanismo de ação das drogas quimioterápicas é atuam por interferência direta no metabolismo celular, quer seja na duplicação do DNA, na síntese de RNA, na síntese proteica e nas fases S, G1, G2e M do ciclo celular, com consequente parada daquela via metabólica e evidentemente a morte da célula. Já na fase G0 do ciclo celular essas drogas praticamente não têm ação. A terapia antineoplásica vive uma verdadeira revolução. As drogas quimioterápicas disponíveis para utilização na prática clínica até poucos anos atrás, mesmo ainda úteis e frequentemente indicadas, representam no momento apenas uma pequena parcela dos recursos terapêuticos atuais. Nos últimos anos, novas drogas quimioterápicas foram desenvolvidas, passaram por estudos clínicos e foram liberadas para a comunidade. Mesmo com maior atividade antitumoral e menor toxicidade, o fundamento racional da ação dessas moléculas estava baseado em conceitos relativamente antigos do ciclo celular. Essas drogas se caracterizam por interromper ou conturbar etapas importantes da reprodução celular, o que leva as células em fase de duplicação à morte celular.Infelizmente, em boa parte das situações, as etapas passíveis de bloqueio são comuns as células malignas e células normais do hospedeiro, o que leva a baixo índice terapêutico e elevado dano aos tecidos funcionais, causando expressiva toxicidade. 20 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER Graças ao conhecimento mais detalhado do processo celular maligno, conseguimos identificar passos enzimáticos e receptores específicos de células malignas. A partir dessas informações, uma nova geração de drogas desenvolveu-se rapidamente. Esses agentes, atuando em nível de membrana celular ou no ambiente intracelular, induzem a morte celular maligna, com pouco ou nenhum efeito deletério residual. 21 CAPítulo 2 Classes de drogas citostáticas Podemos dividir as drogas citostáticas em diferentes classes de acordo com sua interferência no metabolismo celular, como também sua constituição química. As principais classes são: alquilantes, antimetabolitos, alcaloides de plantas, antibióticos antitumorais, enzimas, metálicas entre outras. Com frequência o tratamento de um tumor é feito com um ciclo de quimioterapia que usualmente emprega mais de uma droga sendo uma de cada classe de um modo geral. Desta maneira são comuns os ciclos com um alquilante, um antibiótico, um antimetabólito e um alcaloide, associados e administrados no mesmo dia. Por vezes este procedimento é feito em sequência de dias, em infusão de 24 horas continuamente, com todas as drogas sendo administradas juntas ou em sequência uma após a outra, com o objetivo de atingir o maior número de células malignas possível. Entretanto, este procedimento também atinge as células normais com grandes perdas. São devido a este detalhe que a quimioterapia tem sua maior limitação na citotoxidade que atinge diferentes células de diferentes órgãos, sendo necessária por isto a suspensão do tratamento, com aqueles citostáticos, iniciando-se outra sequência com outras drogas menos tóxicas àqueles órgãos, mas que invariavelmente serão mais tóxicas a outras células de outros órgãos. Podemos dividi-las em cinco classes químicas: mostardas nitrogenadas (clormetina, ciclofosfamida, ifosfamida, clorambucila, estramustina e melfalana); etileniminas (tiotepa, altretamina); alquilsulfonatos (bussulfano, treossulfano); nitrosureias (carmustina, lomustina, semustina, estreptozocina) e triazenos (dacarbazina, temozolomida). A resistência aos agentes alquilantes se desenvolve rapidamente e quando usados em monoterapia, deprimem a imunidade humoral e celular, sendo usados em várias doenças autoimunes. Ciclofosfamida é usada em terapia adjuvante de câncer de mama e tratamento de metástases, em associação com metotrexato e fluoruracila (esquema CMF); neoplasias hematológicas (doença de Hodgkin, linfomas, mieloma múltiplo e leucemias linfoides), carcinoma de ovário, câncer de mama (com fluoruracila, metotrexato ou doxorrubicina), neuroblastoma, retinoblastoma, carcinoma de pulmão de pequenas células, carcinomas de bexiga, endométrio, rabdomiossarcoma, sarcoma de Ewing; regimes de condicionamento para transplante de medula óssea, por suas propriedades imunossupressoras potentes, prevenindo a rejeição do enxerto; doenças não neoplásicas, como vasculites necrosantes sistêmicas e granulomatose de Wegener. Em linfoma de Burkitt, a monoterapia com ciclofosfamida induziu remissões completas e curas presumíveis. Ifosfamida é usada no tratamento 22 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER de vários tumores sólidos, incluindo os de colo de útero, pulmões, ovário, testículos e timo, bem como em sarcomas de adultos e crianças e linfomas, principalmente como terapia de salvamento em linfomas não Hodgkin, agressivos e muito agressivos (grau intermediário e alto). Figura 1. Ciclofosfamida. Fonte: SIlVA, Penildon. Farmacologia 8ª edição, Rio de Janeiro, 2010, Editora Guanabara Koogan S.A. Consta dos seguintes protocolos: MINE (mitoxantrona + ifosfamida + etoposídeo); ICE (ifosfamida + carboplatina+ etoposídeo); EPIC (etoposídeo + prednisolona + ifosfamida + carboplatina). Em leucemia linfoblástica aguda (células pré-B e T) de alto e muito alto risco, é utilizada como bloco de consolidação em combinação com citarabina e também no protocolo BFM 86 para pacientes pediátricos. Ifosfamida ainda pode ser usada como alternativa à ciclofosfamida em linfomas, como o de Burkitt. Também é usada em regimes paliativos no câncer de colo uterino, pulmões, ovários, como segunda linha de tratamento e terapia de salvamento para tumores de testículos e timo, e como adjuvante no tratamento de sarcomas ósseos e rabdomiossarcomas. É o mais neurotóxico dos agentes alquilantes. Podemos melhorar a toxicidade urinária com hidratação abundante. Clorambucila é usada em leucemia linfocítica crônica, linfoma não-Hodgkin, doença de Hodgkin, linfoma folicular e macroglobulinemia de Waldenström. A associação de fludarabina com clorambucila induziu expressivas mielossupressão e mielodisplasia em leucemia mielóide aguda (3,5%) em comparação ao uso isolado de fludarabina (0,5%). Figura 2. Clorambucila. Fonte: SIlVA, Penildon. Farmacologia 8ª edição, Rio de Janeiro, 2010, Editora Guanabara Koogan S.A. Melfalana é usada no tratamento de mieloma múltiplo, adenocarcinoma de ovário, câncer de mama, neuroblastoma e policitemia vera. Em melanoma e sarcoma de extremidades, pode ser administrado por perfusão arterial regional. Também 23 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II pode ser usada em esquemas mieloablativos seguidos de reconstituição de células tronco de medula óssea ou sangue periférico. Sua toxicidade é predominantemente hematológica. Dacarbazina é usada no tratamento de mieloma múltiplo como monoterapia e, em combinação com outros agentes, no tratamento de doença de Hodgkin. Antimetabólitos Apresentam estrutura similar a compostos existentes na natureza, como aminoácidos ou nucleosídeos. Os principais subgrupos e representantes são análogo do ácido fólico (metotrexato), análogos das pirimidinas (fluorouracila, floxuridina, idoxuridina), análogos de citidina (citarabina, gencitabina, capecitabina e azacitidina) e análogos das purinas (mercaptopurina, tioguanina, pentostatina, fludarabina e cladribina). Metotrexato de sódio é o agente de escolha na leucemia linfocítica aguda em crianças. Também é usado em linfoma não Hodgkin, coriocarcinoma e muitos tumores sólidos. A prevenção de mielossupressão e mucosite pode ser feita com folinato de cálcio. Além das propriedades antineoplásicas, apresenta benefício no tratamento de psoríase, dermatomiosite, artrite reumatoide, granulomatose de Wegener e doença de Crohn. Também inibe a reação de rejeição a enxertos. Fluoruracila é administrada por via intravenosa em tumores sólidos. Produz respostas parciais (10 a 20% dos pacientes) em tumores metastáticos de cólon, trato gastrintestinal superior e mama. Por via tópica pode ser aplicada em lesões cutâneas malignas ou pré-malignas. É comumente usada em conjunto com folinato de cálcio. Citarabina é usada em monoterapia para induzir remissão de leucemia mielocítica aguda. Também é empregada em outros tipos de leucemia, por via intratecal, está indicada em meningite leucêmica. É potente mielossupressora. Cladribina é usada em leucemia de células ciliadas em pacientes com leucemia linfocítica crônica que não responderam a tratamentos convencionais contendo um agente alquilante. Na primeira condição, 80% dos pacientes respondem completamente a curso único de terapia. Induz mielossupressão e neurotoxicidade graves. Mercaptopurina é usada em doença inflamatória intestinal e leucemias agudas. Tioguanina é indicada em leucemias agudas e leucemia mieloide crônica. 24 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER Figura 3. metotrexato de sódio. Fonte disponível em: <http://www.laboratoriocentralmm.com.br/manual-de-exame-m/>. Figura 4. Fluoruracila. Fonte disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fluorouracil.png>. Figura5. Citarabina. Fonte disponível em: <http://www.my-personaltrainer.it/salute-benessere/citarabina.html>. Figura 6. Cladribina. Fonte disponível em: < https://www.ecured.cu/Cladribina>. 25 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II Figura 7. mercaptopurina. Fonte disponível em: < https://es.wikipedia.org/wiki/mercaptopurina>. Figura 8. Tioguanina. Fonte disponível em: < http://www.wikiwand.com/pl/Tioguanina>. Antagonistas do folato O principal antagonista do folato é o metotrexato. O metotrexato é um análogo 4-amino, 10-metil do ácido fólico. É a droga antifolato mais utilizada na terapia anticâncer, com atividade contra leucemias, neoplasias de pescoço e cabeça, coriocarcinoma, osteossarcomas, câncer urotelial e linfomas, e. É ainda usado no tratamento de patologias não oncológicas, como artrite reumatoide e psoríase. Folatos são essenciais para a síntese de nucleotídeos purínicos e timidilato que, por sua vez, são vitais para a síntese de DNA e a divisão celular. O mecanismo de ação do metotrexato é baseado na inibição da enzima di-hidrofolato redutase (DHFR), que mantém armazenamento intracelular de folato em sua forma reduzida (tetra-hidrofolato). A manutenção dessa via intacta é essencial para a biossíntese de nucleotídeos timidínicos e purínicos, que serão incorporados ao DNA. Outro efeito do metotrexato é dado na sua transformação em formas poliglutamadas. Tais formas têm uma meia-vida intracelular mais prolongada, e ocorrem em maior proporção nas células tumorais em relação a células normais, o que torna sua ação inibitória mais seletiva. As formas poliglutamadas inibem potentemente várias enzimas dependentes de folato, como a DHFR, timidilato sintase (TS), GAR transformilases. A principal ação dos antagonistas do folato é interferir na síntese de timidilato. A estrutura do folato consiste em três elementos: um anel de pteridina, ácido p-aminobenzoico e ácido glutâmico. Os folatos são captados ativamente pelas células, onde são convertidos em poliglutamatos. Para agirem como coenzimas, os folatos 26 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER precisam ser reduzidos a tetra-hidrafolato (FH4). Essa reação em duas etapas é catalisada pela di-hidrofolato redutase, que converte o substrato primeiro em di-hidrofolato (FH2) e depois em FH4. O FH4 opera como cofator essencial de transporte de grupos metila necessários para a transformação de 2’-desoxiuridilato (DUMP) em 2’-desoxitimidilato (DTMP), e este é essencial para a produção de DNA e purinas. Durante a formação de DTMP a partir de DUMP, o FH4 é convertido novamente em FH2, permitindo que o ciclo se repita. O metotrexato possui maior afinidade que o FH2 pela di-hidrofolato redutase e, assim, inibe a enzima, depletando o FH4, intracelular. A ligação de metotrexato a di-hidrofolato redutase envolve uma ligação adicional ausente quando o FH2 se liga. A reação mais sensível à depleção de FH4 é a formação de DTMP. Portanto, a atividade inibitória do metotrexato é resultante de um processo multifatorial que depende da depleção parcial dos folatos reduzidos e da inibição direta das enzimas folato-dependentes pelos poliglutamatos tanto do metotrexato quanto dos di-hidrofolatos que se acumulam após a DHFR ser inibida. O metotrexato é mais ativo em células em proliferação, e seu efeito citotóxico ocorre durante a fase S do ciclo celular. O efeito em induzir a morte celular será maior quanto maior for o período de exposição e maior a concentração da droga. No intuito de prevenir e resgatar células dos efeitos tóxicos do metotrexato, principalmente relacionados à toxicidade medular e gastrointestinal, quando a terapia é feita em altas doses, recomenda-se a administração de folatos reduzidos, como a leucovorina (LV). A dose da leucovorina necessária para resgatar tecidos normais depende da concentração do antifolato no momento da sua administração. A ação da LV não se baseia apenas em aumentar o estoque de folato reduzido intracelular, mas também em competir com o metotrexato e sua forma poliglutamada para a manutenção da síntese de purinas. A monitorização das concentrações plasmáticas do metotrexato é essencial para o seu uso com segurança, particularmente com regimes em altas doses. O metotrexato pode ser administrado por via oral, como pode também ser administrado via intravenosa, intramuscular ou intratecal. A farmacocinética do metotrexato pode ser alterada pelo seu acúmulo em coleções no terceiro espaço, como ascite e derrame pleural, aumentando sua meia-vida e levando a maior toxicidade. Recomendam- se, portanto, o esvaziamento dessas coleções antes de sua administração e a monitorização dos níveis séricos da droga após o tratamento. O fármaco tem baixa lipossolubilidade e, assim, não atravessa com facilidade a barreira hemato-encefálica. É, dessa forma, captado ativamente nas células pelo sistema de transporte do folato e é metabolizado em derivados de poliglutamato, que ficam retidos na célula por semanas0 27 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II (ou até mesmo meses em alguns casos) na ausência do fármaco extracelular. A resistência ao metotrexato pode desenvolver-se em células tumorais por diversos mecanismos. O metotrexato também é usado como agente imunossupressor no tratamento de artrite reumatoide e algumas outras condições autoimunes. Os efeitos adversos incluem depressão da medula óssea e dano ao epitélio do trato gastrintestinal. Pode ocorrer pneumonite. Além disso, esquemas de doses elevadas – doses dez vezes maiores do que as doses padrão, por vezes usados em pacientes com resistência ao metotrexato ─ podem levar a nefrotoxicidade, causada pela precipitação do fármaco ou um metabólito seu nos túbulos renais. A principal toxicidade do metotrexato é a mielossupressão e a mucosite gastrointestinal, que geralmente podem ser revertidas em 14 dias, podendo prolongar-se em pacientes com disfunção renal. A nefropatia induzida pela droga é resultado da precipitação intratubular do metotrexato e de seus metabólitos. Hidratação vigorosa e alcalinização urinária podem reduzir a incidência dessa complicação em regimes terapêuticos de altas doses. Hepatotoxicidade aguda ou crônica também já foi relatada. Síndromes neurológicas foram relatadas após o uso do metotrexato intratecal: aracnoidite química aguda (imediatamente após a infusão intratecal da droga); neurotoxicidade subaguda (10% dos pacientes evoluem com rebaixamento do nível da consciência após a terceira ou quarta aplicação da medicação, e sua continuação pode ser letal); encefalopatia desmielinizante (acontece em crianças meses a anos após o tratamento intratecal). Esquemas com doses elevadas devem ser seguidos por “resgate” com ácido folínico (uma forma de FH4). Relacionado quimicamente ao folato, o raltitrexede também inibe a timidilato sintetase e o pemetrexede, a timidilato transferase. novos antifolatos raltitrexato O raltitrexato é um potente inibidor da TS e, assim como o metotrexato, é metabolizado para sua forma poliglutamada para exercer sua ação citotóxica. Sua maior toxicidade é a fadiga, seguida de diarreia, transaminasemia e mielossupressão. Mostrou atividade em neoplasia de ovário, de pulmão de células não pequenas e colorretal. 28 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER Pemetrexato O pemetrexato é uma nova droga antifolato com inibição de múltiplos alvos intracelulares: a TS, DHFR e GAR transformilase. Necessita de suplementação de vitamina B12 e ácido fólico para evitar toxicidade medular e gastrointestinal. Mostrou eficácia no tratamento do câncer de pulmão de células não pequenas em segunda linha e no tratamento do mesotelioma pleural. Análogos de pirimidina 5-fluorouracila (Sfu) Com estrutura similar às fluoropirimidinas, o 5-fluorouracila é um inibidor da TS, interferindo na síntese do DNA e em seu reparo. É bastante utilizado no tratamento de tumores sólidos como neoplasias colorretais, de cabeça e pescoço e de mama. Várias drogas parecem modular sua ação, e é utilizadoprincipalmente em esquemas de combinação. Figura 9. 5-fluoruracila. Fonte disponível: <http://www.mpbio.com/product.php?pid=02101722&country=223>. A 5-fluoruracila, um análogo da uracila, também interfere na síntese de DTMP. É convertida em um nucleotídeo “falso”, o monofosfato de fluordesoxiuridina (FDUMP), que interage com a timidilato sintetase, mas não pode ser convertido em DTMP. O resultado é a inibição do DNA, mas não do RNA ou da síntese de proteína. A fluoruracila é geralmente administrada por via parenteral. Sua aplicação endovenosa pode ser feita tanto em bolo quanto em infusão contínua; a infusão contínua é associada a maior atividade da droga. A toxicidade varia de intensidade de acordo com a forma de infusão, tendo como efeitos principais mucosite e diarreia (resultantes da ulceração epitelial do trato gastrointestinal), esofagite e proctite. A mucosite pode ser minimizada com a utilização de crioterapia oral por 30 minutos a partir da infusão da droga. Náuseas e vômitos podem ocorrer, porém geralmente de leve intensidade. Reações cutâneas como de fotossensibilidade, descamação palmoplantar e eritrodisestesia 29 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II (síndrome mão-pé) também foram relatadas, principalmente com sua infusão de forma contínua. Os principais efeitos adversos são mielotoxicidade e dano ao epitélio gastrintestinal. Podem ocorrer, também, transtornos cerebelares. Outro fármaco, a capecitabina, é metabolizado em fluoruracíla, bem como o tegafur. A citarabina (cistosina arabinosídeo) é um análogo do nucleosídeo de ocorrência natural 2’-desoxicitidina. Figura 10. Citarabina. Fonte disponível em: <http://www.my-personaltrainer.it/salute-benessere/citarabina.html>. O fármaco entra na célula-alvo e sofre as mesmas reações de fosforilação que o nucleosídeo endógeno, produzindo trisfosfato de citosina arabinosídeo, que inibe a DNA polimerase. Os principais efeitos adversos envolvem a medula óssea e o trato gastrintestinal, podem haver também, vômitos e náuseas. A gencitabina, um análogo da citarabina, possui poucas ações adversas, basicamente uma síndrome semelhante à influenza (gripe) e mielotoxicidade branda. Pode ser administrada em combinação com outros fármacos, como a cisplatina. Figura 11. Gencitabina. Fonte disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Gencitabina. Angina, com ou sem alterações eletrocardiográficas compatíveis com isquemia miocárdica, foi descrita e relacionada principalmente a vasoespasmo coronariano associado à 30 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER infusão da medicação, podendo ser revertida com o uso de nitrato e bloqueadores do canal de cálcio. Raros pacientes podem evoluir com toxicidade exagerada após o uso do 5FU, e, em muitos casos, para o óbito. São portadores de deficiência herdada da DPD (desidropirimidina desidrogenase), presente em 3 a 5% dos pacientes portadores de neoplasia. Análogos da purina Os principais análogos da purina anticâncer incluem fludarabina, pentostatina, cladribina, nelarabrina, clofarabina, mercaptopurina e tioguanina. A fludarabina é metabolizada ao trisfosfato e inibe a síntese de DNA por ações semelhantes às da citarabina. É mielossupressora. A pentostatina possui mecanismo de ação diferente. Inibe a adenosina desaminase, a enzima que transforma adenosina em inosina. Tal ação interfere em vias críticas no metabolismo da purina e pode ter efeitos significativos na proliferação celular. A cladribina, a mercaptopurina e atioguanina são usadas principalmente no tratamento da leucemia. Figura 12. Fludarabina. Fonte disponível em: <https://es.wikipedia.org/wiki/Fludarabina>. Figura 13. Pentostatina. Fonte disponível em: <https://es.wikipedia.org/wiki/Pentostatina>. 31 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II Figura 14. Cladribina. Fonte disponível em: <https://it.wikipedia.org/wiki/Cladribina>. Figura 15. mercaptopurina. Fonte disponível em: <https://es.wikipedia.org/wiki/mercaptopurina>. Figura 16. Tioguanina. Fonte disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422005000100021>. Imagem editada. Antibióticos Antitumorais Entre as diversas terapias (a quimioterapia como método que utiliza compostos químicos no tratamento de doenças causadas por agentes biológicos) utilizadas no combate ao câncer com a aplicação de um ou mais quimioterápicos, os antineoplásicos mais empregados no tratamento do câncer incluem os alquilantes polifuncionais, antimetabólitos, inibidores mitóticos, antibióticos e os antitumorais. Antibióticos antitumorais ou “antibióticos citotóxicos” são drogas que inibem e combatem o desenvolvimento do tumor. Exemplos: antraciclinas. Trata-se de um grupo de fármacos bastante empregado e que produz seus efeitos basicamente pela ação direta no DNA. Como regra, eles não devem ser administrados em conjunto com a radioterapia, já que a carga acumulada de toxicidade é muito elevada. 32 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER Representam um grupo de substâncias com estrutura química variada, e, apesar de interagirem com o DNA e inibirem a síntese desse ácido ou de proteínas, não agem especificamente sobre uma fase específica do ciclo celular. Possuem em comum anéis insaturados que permitem a incorporação de excesso de elétrons e a produção de radicais livres reativos. Podem também associar novos mecanismos de ação, como alquilação (mitomicina C), inibição enzimática (actinomicina D e mitramicina) ou inibição da função do DNA por intercalação (bleomicina, daunorrubicina, actinomicina D, adriamicina e seus análogos mitoxantrona e epirrubicina). Antraciclinas Os antibióticos antracíclicos são produtos da fermentação do Streptomyces peucetius. O principal antibiótico anticâncer do grupo das antraciclinas é a doxorrubicina. Classificação. As antraciclinas são classificadas como um componente bastante relevante em quimioterapias para tratamento de muitas neoplasias malignas de adultos, como câncer de mama, sarcoma e linfoma. No caso do câncer de mama precoce, ela é à base do tratamento quimioterápico que melhora as chances de sobrevivência do paciente. Em cânceres infantis, ela também está presente em mais de 50% dos regimes que contribuem para uma taxa de sobrevida global maior que 75%. A quimioterapia citotóxica vem ganhando cada vez mais espaço no tratamento de neoplasias, o que tem como resultados mais sobreviventes (e com maior tempo de sobrevida). Isso mostra a importância da toxicidade na cura de pacientes com câncer. Apesar disso, em crianças tratadas com antraciclinas, é possível detectar uma relação de efeitos tardios da medicação. As antraciclinas são a classe de medicamentos mais associados com toxicidade cardíaca aguda e tardia. Ciência ─ é sabido que o tratamento com antraciclina aumenta o risco de insuficiência cardíaca, e que isso depende da dose e do tempo de medicação. Embora os efeitos anticarcinogênicos das antraciclinas sejam mediados principalmente pela inibição da síntese, transcrição e replicação de DNA, esses fármacos também produzem radicais livres derivados de oxigênio. Estes radicais livres causam danificam diretamente os lipídios as proteínas e o DNA, e evidências sugerem que a apoptose do miócito está relacionada ao estresse oxidativo causado por esses processos. Adicione-se a isso o fato de que o número de miócitos só decresce, naturalmente, após o nascimento, e o paciente terá um coração cada vez mais 33 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II fragilizado. Os mecanismos bioquímicos por trás da cardiotoxicidade dos antracíclicos ainda são desconhecidos, mas é importante que haja mais estudos para se entender melhora fisiopatologia e, talvez, descobrir alternativas para o tratamento. Mecanismos de lesão miocárdica Os antracíclicos causam cardiotoxicidade por meio de estresse oxidativo, este altera a cascata do cálcio levando a: desorganização miofibrilar, apoptose do miócito e necrose domiócito. Então ocorre maior degradação proteica do que síntese proteica.A terapia alvo para a superexpressão de HER 2, leva a miocardiopatia dilatada e aumenta a sensibilidade miocárdica a ação dos antraciclicos. Outros compostos relacionados incluem a daunorrubicina, a epirrubicina, a mitoxatrona e a idarrubicina. A amascrina tem uma ação muito semelhante à deste grupo. doxorrubicina A doxorrubicina possui diversas ações citotóxicas. Liga-se ao DNA e inibe tanto a síntese de DNA quanto a de RNA, mas sua principal ação citotóxica parece ser mediada por efeito na topoisomerase II (uma DNA girase), cuja atividade é muito intensa nas células em proliferação. A importância da enzima está no fato que, durante a replicação da hélice do DNA, é preciso haver rotação reversível em torno da forquilha de replicação para evitar que a molécula filha de DNA fique inextricavelmente emaranhada durante a segregação mitótica. O “giro” em torno do eixo é produzido pela topoisomerase II, que corta ambos os filamentos do DNA e, subsequentemente, fecha novamente as rupturas. A doxorrubicina intercala-se no DNA, e seu efeito é essencialmente estabilizar o complexo DNA-topoisomerase II, depois de os filamentos terem sido cortados, interrompendo, assim, o processo neste ponto. Fig. 17. Doxorrubicina. Fonte disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Doxorrubicina>. 34 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER A doxorrubicina intercala-se entre os pares de bases da dupla hélice do DNA, interferindo na sua síntese. Ocorre inibição das enzimas topoisomerases I e II. Estudos têm demonstrado rápida penetração celular, rápida inibição da atividade mitótica e da síntese de ácido nucleico e indução de mutagênese, além de 4 aberrações cromossômicas. A doxorrubicina atua principalmente em células na fase S. A doxorrubicina não é absorvida por via oral, e, por causar necrose tecidual, não pode ser administrada por via IM ou SC. A doxorrubicina é um dos mais efetivos agentes utilizados no tratamento de carcinomas da bexiga, da mama, do ovário, do endométrio, da tireoide e tumor de pulmão de pequenas células. É incluída em esquemas de poliquimioterapia para Iinfomas difusos e doença de Hodgkin. Pode substituir a daunorrubicina em pacientes com leucemia aguda e, é eficiente em sarcoma de Ewing, sarcoma osteogênico, sarcoma de partes moles e neuroblastoma. Alguma atividade é demonstrada em câncer de pulmão de células não pequenas, mieloma múltiplo e adenocarcinomas do estômago e da próstata. A doxorrubicina é administrada por infusão intravenosa. O extravasamento no local da injeção pode causar necrose local. Além dos efeitos adversos gerais, o fármaco pode causar dano cardíaco cumulativo relacionado com a dose, levando a disritmias e insuficiência cardíaca. Tal ação pode resultar da geração de radicais livres. Ocorre, também, com frequência, perda pilosa acentuada. Os efeitos colaterais mais importantes da doxorrubicina são a cardiotoxicidade e a mielossupressão. Agudamente, a doxorrubicina pode causar arritmias cardíacas e depressão da função miocárdica. Outras toxicidades menos graves incluem flebite e esclerose das veias, conjuntivite e hiperpigmentação do leito ungueal. doxorrubicina lipossômica O ingrediente ativo do doxil é a doxorrubicina HCI, cujo mecanismo de ação já foi descrito. Doxil é a doxorrubicina encapsulada em lipossomos. Esses Iipossomos sofrem um processo tido como peguilação, que os protege da detecção pelo sistema fagocítico mononuclear e aumenta à meia-vida da droga. O doxil está indicado em pacientes com carcinoma metastático de ovário refratário a regimes baseados em paclitaxel e em sarcoma de Kaposi/AIDS (SIDA) em progressão após poliquimioterapia prévia. Devido ao potencial de mielossupressão, em todos os pacientes, as contagens hemáticas devem ser cuidadosamente monitorizadas. Mielossupressão grave permanente pode resultar em superinfecção, neutropenia febril ou hemorragia. 35 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II daunorrubicina A daunorrubicina é usada no tratamento de leucemias agudas, enquanto o seu análogo estrutural, a doxorrubicina (adriamicina), é bastante utilizada em várias neoplasias. Figura 18. Daunorrubicina. Fonte disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Daunorrubicina>. dactinomicina A dactinomicina intercala-se no sulco menor do DNA, entre pares adjacentes de guanina-citosina, interferindo no movimento da RNA polimerase ao longo do gene e, assim, evitando a transcrição. Há, também, evidências de que esse agente tem ação semelhante à das antraciclinas na topoisomerase II. É usada principalmente no tratamento de cânceres pediátricos. Figura 19. Dactinomicina. Fonte disponível em: <http://www.chemicalland21.com/lifescience/uh/DACTINOmYCIN.htm>. Bleomicinas As bleomicinas são um grupo de antibióticos glicopeptídeos quelantes de metal que degradam o DNA pré-formado, levando fragmentação da cadeia e liberação de bases livres. Considera-se que tal ação envolva quelação de ferro ferroso e interação com 36 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER oxigênio, resultando na oxidação do ferro e geração de radicais superóxido e/ou hidroxila. A bleomicina é mais efetiva na fase G2 do ciclo celular e da mitose, mas é também ativa nas células em não divisão (células na fase G0). Bastante usada para tratar câncer de células germinativas. Figura 20. bleomicina. Fonte disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/bleomicina>. Em pacientes com função renal normal, 60-70% da dose administrada é recuperada na urina como bleomicina ativa. O uso da bleomicina é indicado nas seguintes patologias: carcinoma de pênis; carcinoma testicular; carcinoma vulvar; carcinoma cervical, carcinoma de cabeça e pescoço; carcinoma de células embrionárias; coriocarcinoma; linfossarcoma; linfoma de Hodgkin; efusão pleural maligna; teratocarcinoma e sarcoma de células reticulares. A administração da bleomicina pode ser feita por via IM, IV, SC ou intrapleural. Após administração intrapleural, aproximadamente 45% da bleomicina é absorvida sistemicamente. Ao contrário da maioria dos fármacos anticâncer, a bleomicina causa pouca mielossupressão; seu efeito tóxico mais grave é a fibrose pulmonar, que ocorre em 10% dos pacientes tratados e é relatada como evento fatal em 1% dos casos. Podem ocorrer, também, reações alérgicas. Cerca da metade dos pacientes manifesta reações muco-cutâneas (as palmas das mãos são atingidas, quase sempre), e muitos desenvolvem hiperpirexia. A toxicidade mais grave associada à bleomicina é a fibrose pulmonar. Pneumonite é a mais frequente, progredindo ocasionalmente para fibrose pulmonar. Sua ocorrência é mais comum em pacientes idosos e naqueles que recebem mais de 400 UI (dose total). 37 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II Medidas preventivas são sugeridas quanto ao uso de oxigenoterapia em pacientes submetidos à cirurgia, em uso de bleomicina, sob o risco de desenvolver toxicidade pulmonar. Uma reação idiossincrática grave consiste em hipotensão, confusão mental, febre e calafrios, descrita em cerca de 1% dos pacientes com linfoma tratados com bleomicina. Perda de peso e anorexia são comuns. Também é descrito fenômeno de Raynaud em pacientes em uso de bleomicina em combinação com vimblastina com ou sem cisplatina Mitomicina Após a ativação enzimática, a mitomicina age como agente alquilante bifuncional, ligando-se preferencialmente em O6 do núcleo da guanina. Faz ligações cruzadas no DNA e pode, também, degradar o DNA por meio da geração de radicais livres. Causa mielossupressão tardia acentuada e também pode causar dano renal e fibrose do tecido pulmonar. Figura 21. mitomicina. Fonte disponível em: <https://portuguese.alibaba.com/product-detail/pharmaceutical-grade-anti-tumor-mitomycin-c-powder- cas-50-07-7--60380613574.html>. quimioterápicos Antineoplásicos O primeiro quimioterápico antineoplásico foi desenvolvido a partir do gás mostarda, usado nas duas Guerras Mundiais como arma química. A partir da publicação, em 1946, dos estudos clínicos feitos com o gás mostardae das observações sobre os efeitos do ácido fólico em crianças com leucemias, verificou-se avanço crescente da quimioterapia antineoplásica. Há alguns princípios básicos da quimioterapia antineoplásica. O primeiro é de que cada dose de citostático destrói certa fração de células leucêmicas e não certo número das 38 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER mesmas. Essa resposta é proporcional ao tamanho do inóculo. Logo, a curabilidade de uma neoplasia é inversa ao volume do inóculo inicial. O segundo princípio é de que, após quimioterapia, o crescimento das células tumorais se faz na mesma taxa de antes do tratamento. Logo, a curabilidade depende da concentração efetiva de antitumoral e do tempo a que as células são expostas. Dessa forma, para obter-se cura, são necessárias múltiplas injeções de quimioterápicos, em dose que condicione taxa de destruição celular maior do que a da “repopulação” do tumor. O objetivo da quimioterapia do câncer é reduzir à zero o número de células neoplásicas. O tratamento de tumores malignos na atualidade é feito após análise criteriosa onde todos os procedimentos são colocados em termos de se atingir a curado paciente. Assim cirurgia, quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, hormonioterapia, geneterapia, vacinoterapia, modificadores de resposta biológica e toda uma nova variedade de ações que visam atingir principalmente as células malignas com maior intensidade e as células benignas com menor intensidade são imediatamente postas em prática. O planejamento do tratamento de um paciente com câncer é de fundamental importância não apenas na cura do paciente, mas também na retirada da maior quantidade de massa tumoral possível, quer seja por um dos procedimentos citados acima ou pela associação de dois deles ou de todos eles. A meta é que sempre a cirurgia seja possível, pois a retirada do tumor é sempre de primordial importância. Porém em casos em que a massa tumoral é muito grande, por vezes inicia-se a quimioterapia, ou radioterapia ou as duas em conjunto, ou qualquer uma das modalidades descritas associadas as duas para redução da massa tumoral, e posteriormente a cirurgia ablativa com extirpação total do tumor. Devido isso, o primeiro passo no tratamento de um paciente só deve ser feito dentro de critérios científicos muito bem elaborados e programados. A quimioterapia é o método que utiliza compostos químicos, chamados quimioterápicos, no tratamento de doenças causadas por agentes biológicos. Quando aplicada ao câncer, a quimioterapia é chamada de quimioterapia antineoplásica ou quimioterapia antiblástica. O importante na escolha do tratamento é o diagnóstico histológico da doença. Cada tipo de tumor, e conforme sua localização tem história natural própria e resposta particular à quimioterapia. É importante conhecer a resistência da célula tumoral aos diversos antineoplásicos. A resistência pode aparecer no tratamento inicial (primária) ou emergir no momento de recidivada doença (adquirida). Para controle da resistência são usadas associações medicamentosas. O segundo fator determinante da terapia é o estadiamento da doença, o qual orienta a resposta a tratamento. Há outros fatores prognósticos específicos a cada caso, tais como genética, hereditariedade, dieta, exposição ambiental etc. A avaliação clínica geral do paciente, incluindo idade e doenças concomitantes, também é decisiva na determinação da estratégia de tratamento. 39 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II Quimioterápicos mais ativos e menos tóxicos encontram-se disponíveis para uso na prática clínica. Os avanços verificados nas últimas décadas, na área da quimioterapia antineoplásica, têm facilitado consideravelmente a aplicação de outros tipos de tratamento de câncer e permitido maior número de curas. Os medicamentos utilizados recebem o nome de agentes quimioterápicos, podendo ser ingeridos ou administrados por veias, artérias e músculos do paciente. Ao contrário da radioterapia, que tem ação restrita à região em que é aplicada, a quimioterapia atua de forma sistêmica, isso é, alcança as células do câncer (neoplásicas) em qualquer região do corpo. Dependendo do tipo de câncer e de sua extensão no organismo, o tratamento pode ter objetivo de controle da doença ou curativo. No tratamento curativo o objetivo da quimioterapia é eliminar completamente a doença. Nos casos em que a doença não pode ser removida por completo, a quimioterapia busca diminuir a quantidade de células malignas no organismo. Determinando uma regressão do câncer ou impedindo que suas células atinjam outros órgãos, a quimioterapia prolonga a vida do paciente, diminuindo os sintomas da doença. Esse é o tratamento de controle. Entretanto é necessário que quem cuida tão criteriosamente dos pacientes também se cuide com os mesmos rígidos critérios de segurança (Biosegurança Oncológica), pois a maioria dos procedimentos que envolvem agentes quimioterápicos é cancerígena bem como o é também a radioterapia. Já os vacinoterápicos, imunoterápicos, hormonioterápicos, procedimentos de geneterapia e de modificadores de resposta biológica nem sempre são capazes de induzir modificação do perfil celular dos profissionais que lidam com eles a fim de induzir mutações que levem ao câncer. Entretanto, os cuidados devem ser extensivos a todos os profissionais que lidam na área, como médicos, psicólogos, farmacêuticos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, pessoal de limpeza hospitalar e inclusive com os familiares dos pacientes. Nos estudos difusos da Quimioterapia alguns princípios e ou procedimentos devem ser levados em consideração. Exemplos: 1. Protocolos Quimioterápicos. 2. Duração do Tratamento. 3. Efeitos Colaterais. 40 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER Importante fator limitante da quimioterapia antineopláscia é a toxicidade das drogas em tecidos sadios, especialmente os que têm taxa de proliferação rápida, como medula óssea, epitélio gastrintestinal, folículos pilosos da pele e epitélio germinativo. Assim, efeitos adversos mais frequentes incluem mielossupressão, náusea, vômito, diarreia, alopecia e diminuição da fertilidade. Face ao tratamento potencialmente tão lesivo, é fundamental definir padrões de resposta que apontem alcance ou não dos objetivos terapêuticos, nesse último caso determinando suspensão da terapia. Após determinado número de ciclos de quimioterapia, a resposta pode ser completa quando há desaparecimento de todo sinal ou sintoma durante pelo menos um mês; parcial quando diminuem pelo menos 50% das lesões mensuráveis e há ausência de progressão ou aparecimento de qualquer nova lesão; estável em que inexiste alteração em tamanho de tumor ou sinais e sintomas da doença; progressiva em que aumentou o tumor em pelo menos 25% ou surgiu nova lesão. Agentes antineoplásicos classificam-se por mecanismo de ação citotóxica (agentes alquilantes e antimetabólitos), ação fisiológica (hormônios) ou origem (produtos naturais). Agentes que não se enquadram nessas categorias são classificados como miscelânea. A quimioterapia oncológica era reservada a etapas avançadas da doença cancerosa. Hoje é empregada em fases iniciais. A terapia medicamentos antineoplásica subdivide-se em: adjuvante (após tratamento cirúrgico e/ou radioterápico), neo-adjuvante (antes do tratamento cirúrgico ou radioterápico definitivo), paliativa e curativa. Quimioterapia de indução é administrada em neoplasias avançadas, podendo ser paliativa, aumentar a sobrevida ou ser curativa (Roithmann S. Fármacos antineoplásicos. In: Fuchs FD, Wannmacher Leditors Farmacologia clínica. Fundamentos da terapêutica racional. 2nd ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. pp. 317-27). O uso de associações de antineoplásicos resulta em maior taxa de resposta quando comparado a monoterapia. Para realizá-lo, as drogas combinadas devem ter: 1. atividade antitumoral demonstrada em monoterapia; 2. diferentes mecanismos de ação; 3. toxicidades diferentes sobre tecidos normais;4. ausência de resistência cruzada. Agentes Alquilantes e Substâncias relacionadas Agentes alquilantes são compostos capazes de substituir, na molécula exposta, um átomo de hidrogênio por um radical alquil. Assim, se ligam ao DNA, impedindo a separação 41 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II dos dois filamentos do DNA na dupla hélice, ou seja, bloqueando a replicação. As reações dos diversos agentes alquilantes sobre o DNA têm sido estudadas detalhadamente, e o 7-nitrogênio (N7) e o 6-oxigênio (06) da guanina foram demonstrados como particularmente suscetíveis. Os alquilantes atuam em todas as fases do ciclo celular de modo inespecífico. Agentes alquilantes e substâncias relacionadas contêm grupos químicos que conseguem formar ligações covalentes com substâncias nucleofílicas particulares na célula. Com os agentes alquilantes, a etapa principal é a formação de um íon carbono ─ um átomo de carbono com apenas seis elétrons em sua camada externa. Esses íons são altamente reativos e reagem de forma instantânea com um doador de elétron, como os grupos amina, hidroxila ou sulfidroxila. Grande parte dos agentes alquilantes anticâncer citotóxicos são bifuncionais, ou seja, possuem dois grupos alquilantes. Por ser extremamente nucleofílico, é possível que o nitrogênio na posição 7 (N7) da guanina seja o principal alvo molecular da alquilação no DNA, embora N1 e N3 da adenina e N3 da citosina também possam ser afetados. Um agente bifuncional, ao reagir com dois grupos, pode causar entre cruzamento intra ou intercadeias. Isso interfere não só na transcrição, como também na replicação, o que é o efeito crítico dos agentes alquilantes anticâncer. Outros efeitos da alquilação em N7 guanina são a excisão da base da guanina com a cisão da cadeia principal, ou o pareamento da guanina alquilada com timina em vez de citosina, e eventual substituição o par GC pelo par AT. Seu principal impacto é durante a replicação (fase S), quando algumas zonas do DNA estão não pareadas e mais suscetíveis à alquilação. Isto resulta em bloqueio em G2 e subsequente morte celular apoptótica. Todos os agentes alquilantes deprimem a função da medula óssea e causam transtornos gastrintesmais. Com o uso prolongado, ocorrem dois outros efeitos adversos: depressão da gametogênese (sobretudo nos homens), levando à esterilidade e ao aumento no risco do desenvolvimento de leucemia não linfocítica aguda e outras malignidades. Os agentes alquilantes estão entre os mais empregados de todos os fármacos anticâncer. Grande número está disponível para uso na quimioterapia do câncer (algumas dezenas aprovadas no Reino Unido). Apenas os mais utilizados serão discutidos aqui. Mostardas nitrogenadas As mostardas nitrogenadas estão relacionadas com o “gás mostarda” usado durante a 1a Guerra Mundial; sua fórmula básica (R-N-bis-(2-cloroetil). No corpo, cada cadeia lateral de 2-cloroetil sofre ciclização intramolecular, com a liberação de um Cl-. O 42 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER derivado altamente reativo etileno imônio, então formado, consegue interagir com o DNA e outras moléculas. Figura 22. Gás mostarda. Fonte disponível em: <http://quiprocura.net/w/2016/11/29/armas-quimicas/>. Mecloretamina Mostarda nitrogenada Com a descoberta do gás mostarda, quase simultaneamente, foi observada a sua efetividade no tratamento contra os linfomas. É um agente alquilante ciclocelular não específico. Interfere na replicação do DNA, do RNA e na síntese proteica. Após administração, a mecloretamina é rapidamente transformada em metabólitos, e em minutos a droga não é detectada no sangue. Muito utilizada no passado para a doença de Hodgkin, atualmente foi substituída por esquemas menos tóxicos e mais efetivos. Pode ser administrada por via endovenosa e intracavitária. É uma droga vesicante; o extravasamento leva a dor, inflamação e eritema. Os efeitos colaterais hematológicos observados são leucopenia e trombocitopenia, cujo nadir ocorre em 10-14 dias, e linfopenia com imunossupressão podendo ativar um herpes-zoster latente. Toxicidade gastrointestinal: náuseas e vômitos intensos no período de 1-24 horas. Podem ocorrer anorexia, diarreia, colite, perda de peso, estomatite, icterícia e gosto metálico. Aparelho reprodutor: amenorreia, aplasia germinai, inibição da espermatogênese, infertilidade permanente. Várias anormalidades cromossômicas podem ocorrer, determinando risco aumentado de neoplasias secundárias. · Figura 23. mecloretamina. Fonte disponível em: <https://it.wikipedia.org/wiki/mecloretamina>. 43 FÁRMACOS ANTICÂNCER │ UNIDADE II Ciclofosfamida/ifosfamida A ciclofosfamida é, provavelmente, o agente alquilante mais usado. É inativa até ser metabolizada no fígado pelas oxidases de função mista do P450. Tem efeito pronunciado nos linfócitos e pode, também, ser usada como imunossupressor. Usada amplamente na área oncológica, age impedindo as divisões celulares, fragmentando as hélices de DNA. Por ser um pro-fármaco, necessita de um processo complexo de ativação (fígado e tecidos) por meio das enzimas microssômicas do citocromo P450. Esses agentes interagem especificamente com a acroleína, formando um composto atóxico. Também tem atividade imunossupressora. Seu uso é indicado em linfoma não Hodgkin, doença de Hodgkin, linfoma de Burkitt, mieloma múltiplo, leucemias: LLC, LMC, mieloide aguda e monocítica, linfoblástica aguda; neuroblastoma disseminado e tumor de Wilms em crianças; micose fungoide avançada; adenocarcinoma de ovário; retinoblastoma; câncer colorretal; tratamento adjuvante de câncer de mama e metastático; da cérvix uterina; adenocarcinoma de pulmão (pequenas células ou não); rabdomiossarcoma; sarcoma de Ewing; carcinoma de testículo, próstata, endométrio, rim e bexiga. A ciclofosfamida também é indicada para condicionamento em transplante de medula óssea e em síndromes reumatológicas. Em geral, é administrada por via oral ou intravenosa, mas pode, também, ser administrada por via intramuscular. Algumas precauções são necessárias para os pacientes em tratamento. Os efeitos tóxicos importantes são náusea e vômito, depressão da medula óssea e cistite hemorrágica. Este último efeito (que também ocorre com o fármaco relacionado ifosfamida) é causado pelo metabolito acroleína e pode ser aliviado pelo aumento da ingestão de líquidos e administração de substâncias doadoras de sulfidrila, tais como N-acetilcisteina ou mesma (2-mencaptoetano-sulfonato sódico). Deve-se ter atenção especial para pacientes com leucopenia e trombocitopenia, infiltração da medula óssea por células tumorais, pacientes tratados previamente com quimioterapia ou radioterapia, pacientes com hemorragia cística, infecção urinária, diabete melito, insuficiência renal ou hepática. Os efeitos colaterais incluem mielossupressão, que atinge mais os leucócitos do que as plaquetas, ocorrendo 10 a 14 dias após a administração da droga; a recuperação medular geralmente é vista 21-28 dias após a injeção. A ciclofosfamida reduz o número de linfócitos circulantes, alterando as funções humoral e celular (células B e T) do sistema imune. A terapia por tempo prolongado aumenta o risco de infecções. Náuseas 44 UNIDADE II │ FÁRMACOS ANTICÂNCER podem ocorrer poucas horas após a administração. Alopecia é mais comum do que com outras mostardas. A cistite é uma toxicidade exclusivamente relacionada à ciclofosfamida e à ifosfamida. Disúria e diminuição da frequência de diurese são os sintomas mais comuns. Doses altas endovenosas têm resultado em alteração da excreção renal de água, hiponatremia e aumento da osmolaridade urinária e têm sido associadas à necrose subendocárdica hemorrágica, arritmias e insuficiência cardíaca congestiva. Fibrose pulmonar intersticial pode também resultar de tratamentos prolongados. Observa-se ainda no tratamento a longo prazo amenorreia, infertilidade, mutagênese e carcinogênese. Deve-se usar com cautela na gestação e evitar a amamentação durante a sua utilização.
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