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YALOM - AULA 2

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A terapia de grupo ajuda os pacientes? 
De fa to, ajuda. Urn convincente corpus de pes-
quisas sobre seus resultados demonstra de ma-
neira inequfvoca q,-!~ a terapia de grUpo e uma 
forma bastante efetiva de psicoterapia e que 
ela e pelo menos igual a psicoterapia individual 
em sua capacidade de proporcionar beneficios 
significativos. l 
Como a terapia de grupo ajuda os pacien-
tes? Uma questao ingenua, talvez, mas se pu-
dermos responde-Ia com urn certo grau de pre-
cisao e certeza, teremos a nossa disposi<;ao urn 
prindpio organizacional central com 0 qual po-
deremos abordar os problemas mais provo can-
tes e controversos da psicoterapia. Uma vez 
identificados, os aspectos cruciais do processo 
de mudan<;a constituirao uma base racional para 
o terapeuta selecionar as taticas e estrategias 
necessarias para moldar a experiencia de gru-
po, de modo a maximizar sua potencia com di-
ferentes pacientes e em diferentes cenarios. 
Acredito que a mudan<;a terapeutica seja 
urn processo enormemente complexo, que 
ocorre por uma intera<;ao intricada de experien-
cias humanas, que chamarei de "fatores tera-
peuticos". Existe uma vantagem consideravel 
em se abordar 0 complexo pelo simples, 0 fe-
nomeno total por seus processos componentes 
basicos. Dessa forma, come<;o descrevendo e 
discutindo esses fatores elementares. 
• • 
• • 
• 
• • 
• • 
Os Jatores terapeuticos 
Segundo a minha perspectiva, linhas na-
turais dividem a experiencia terapeutica em 11 
fatores primarios: 
1. Instila<;ao de esperan<;a 
2. Universalidade 
3. Compartilhamento de informa<;6es 
4. Altrufsmo 
5. Recapitula<;ao corretiva do grupo familiar 
primario 
6. Desenvolvimento de tecnicas de sociali-
za<;ao 
7. Comportamento imitativo 
S. Aprendizagem interpes.s.oal 
9. Coesao grupal 
10. Catarse 
11. Fatores existenciais 
No restante deste capftulo, discuto os pri-
meiros sete fatores. Considero a aprendizagem 
interpessoal e a coesao grupal tao importantes 
e complexas que trato delas separadamente, 
nos dois capftulos seguintes. Os fatores exis-
tenciais sao discutidos no Capftulo 4, onde sao 
mais bern compreendidosno contexte de ou-
tros materiais apresentados. A catarse esta in-
trinsecamente entremeada com outros fatores 
terapeuticos e tambem sera discutida no Ca-
pftulo 4. 
24 IRVIN D. YALOM 
As distinr;:oes entre esses fatores sao arbi-
trarias. Embora eu os discuta individualmen-
te, eles sao interdependentes e nenhum deles 
ocorre ou funciona separadamente. Alem dis-
so, esses fatores podem representar diferentes 
partes do processo de mudanr;:a: alguns fato-
'res (por exemplo, a autocompreensao) atuam 
no myel da cognir;:ao; alguns (por exemplo, 0 
desenvolvimento de tecnicas de socializar;:ao) 
atuam no myel da mudanr;:a comportamental; 
al~ms (por exemplo, a catarse) atuam no nf-
vel da emor;:ao; e alguns (por exemplo, a coe-
sao) podem ser mais bern descritos como 
precondir;:oes para a mudanr;:a.Y Embora os 
mesmos fatores terapeuticos operem em todos 
os tipos de grupos de terapia, sua interar;:ao e 
importancia diferencial podem variar muito de 
grupo para grupo. Alem disso, devido a dife-
renr;:as individuais, os participantes de urn mes-
mo grupo beneficiam-se com diferentes con-
juntos de fatores terapeuticos.Y 
Tendo em mente que os fatores terapeu-
ticos sao constructos arbitrarios, podemos con-
siderar que eles proporcionam urn mapa cog-
nitivo para 0 estudante-Ieitor. Esse agrupamen-
to dos fatores terapeuticos nao e visto concreta-
mente, e outros clinicos e pesquisadores chega-
ram a grupos de fatores diferentes e tambem 
arbitrarios.2 Nenhum sistema explicativ~ pode 
abranger toda a terapia. Em seu nucleo, 0 pro-
cesso terapeutico e infinitamente complexo e 
nao existe limite para 0 numero de caminhos 
atraves da experiencia. (Discutirei essas ques-
toes de maneira mais ampla no Capftulo 4.) 
o inventario de fatores terapeuticos que 
proponho parte de minha experiencia clfnica, 
da experiencia de outros terapeutas, e de pes-
quisas sistematicas relevantes. Entretanto, ne-
nhuma dessas fontes esta livre de questiona-
mento. Nenhum membro de grupo ou lfder de 
grupo e inteiramente objetivo, e nossa me-
todologia de pesquisa muitas vezes e incipiente 
e inaplicavel. 
Com os terapeutas de grupo, obtemos urn 
inventario variado e internamente inconsisten-
te de fatores terapeuticos (ver Capftulo 4). Os 
terapeutas, que de mane ira alguma sao obser-
vadores desinteressados ou imparciais, inves-
tern tempo e energia consideraveis para apren-
der e dominar determinada abordagem tera-
peutica, fazendo com que suas respostas se-
jam estipuladas por sua escola de convicr;:ao. 
Mesmo entre terapeutas que compartilham da 
mesma ideologia e falam a mesma Ifngua pode 
nao haver consenso quanta as razoes pelas 
quais os pacientes melhoram. Na pesquisa so-
bre grupos de encontro, meus colegas e eu 
aprendemos que muitos lfderes de grupos bem-
sucedidos atribufram seu sucesso a fatores que 
eram irrelevantes para 0 processo de terapia. 
Por exemplo, a tecnica do hot-seat (desenvol-
vida por Fritz Peds, fundador da terapia gestalt, 
na qual urn paciente senta-se no centro do dr-
culo, enquanto 0 lfder e os outros membros do 
grupo concentram-se nele por urn longo perfo-
do de tempo), ou exerdcios nao-verbais, ou 0 
impacto direto da pessoa do terapeuta (ver Ca-
pftulo 16).3 Mas isso nao nos surpreende. A 
historia da psicoterapia esta cheia de terapeutas 
que eram efetivos, mas nao pelas razoes que 
supunham. Em outras epocas, nos terapeutas 
jogamos as maos aos ceus em espanto. Quem 
nunca teve urn paciente que tenha tide vastas 
melhoras por razoes inteiramente obscuras? 
Ao final de uma terapia de grupo, os par-
ticipantes podem fornecer dados sobre os fa-
tores terapeuticos que consideravam mais e me-
nos proveitosos. Ainda assim, sabemos que es-
sas avaliar;:oes serao 'incompletas e sua preci-
sao, limitada. Sera que os membros do grupo 
talvez nao se concentrem principalmente em 
fatores superficiais e omitam alguma forr;:a cu-
rativa profunda que possa estar alem de sua 
consciencia? Sera que suas respostas nao se-
rao influenciadas por uma variedade de fato-
res diffceis de controlar? E inteiramente possf-
vel, por exemplo, que suas visoes possam ser 
distorcidas pela natureza de sua relar;:ao com 0 
terapeuta ou com 0 grupo. (Uma equipe de 
pesquisadores demonstrou que quando pacien-
tes foram entrevistados quatro anos depois da 
conclusao da terapia, eles estavam muito mais 
aptos para comentar aspectos uteis ou preju-
diciais de sua experiencia com 0 grupo do que 
quando entrevistados imediatamente apos a 
sUa conclUSaO.)4 A pesquisa tambem mostrou, 
por exemplo, que os fatores terapeuticos valo-
rizados por membros do grupo pod em ser 
amplamente diferentes dos citados pelos seus 
terapeutas ou observadores do grupo,s uma 
observar;:ao feita tambem na psicoterapia indi-
vidual. Alem disso, muitos fatores de conftlSaO 
influenciam a avaliar;:ao do paciente sobre os 
fatores terapeuticos: por exemplo, 0 tempo em 
tratamento e 0 nfvel de funcionamento do pa-
ciente,6 0 tipo de grupo (ou seja, se externo, 
interno, hospital-dia, terapia breve),? a idade 
e 0 diagn6stico do paciente,8 e a ideologia do 
lfder do grupO.90utro fator que complica a 
busca por fatores terapeuticos comuns e 0 nf-
vel em que diferentes membros do grupo per-
cebem e experimentam 0 mesmo evento de 
diferentes rnaneiras. Y Deterrninada experien-
cia pode ser importante ou proveitosa para al-
guns e nao trazer conseqiiencias ou ate ser pre-
judicial para outros. 
Apesar dessas limitar;:oes, os relatos dos 
pacientes sao uma fonte rica e relativamente 
intocada de informar;:oes. Afinal, e a sua expe-
riencia, sua apenas, e quanto mais nos afasta-
mos da experiencia dos pacientes, mais ilativas 
Sa9 as nossas conclusoes. Certamente, existem 
aspectos do processo de mudanr;:a que operam 
fora da consciencia do paciente, mas isso nao 
significa que devamos desconsiderar aquilo que 
os pacientes dizem. 
Existe uma artepara obter os relatos dos 
pacientes. Questionarios para preencher ou de 
escolha proporcionam dados facilmente, mas 
muitas vezes nao conseguem captar as nuances 
e a riqueza da experiencia dospacientes. Quan-
to Illais 0 questionador puder entrar no mun-
do de experiencias do paciente, mais lucido e 
significativo se torna 0 relato da experiencia 
da terapia. Ate onde consegue suprimir ten-
dencias pessoais e evitar influenciar as respos-
tas do paciente, 0 terapeuta se torna 0 
questionador ideal: 0 terapeuta e confiavel e 
entende mais do que qualquer urn 0 mundo 
interne do paciente. 
AMm das visoes dos terapeutas e relatos 
dos pacientes, existe urn terceiro metoda im-
portante de avaliar os fatores terapeuticos: a 
abordagem de pesquisa sistematica. A estra-
tegia de pesquisa mais comum e correlacionar 
variaveis internas da terapia com 0 seu re-
sultado. Descobrindo quais variaveis estao sig-
nificativamente relacionadas com variaveis 
bem-sucedidas, pode-se estabelecer uma base 
razoavel para comer;:ar a delinear os fatores 
PSICOTERAPIA DE GRUPO ~5 
terapeuticos. Todavia, existem muitos problc;--
mas inerentes a essa abordagem: a mensurar;:ao 
do resultado ja e uma confusao metodologica., 
e a seler;:ao e mensurar;:ao de variaveis internas 
da terapia sao igualmente problemaricas:lO 
Todos esses metodos derivaram os fato-
res terapeuticos discutidos neste livro. Ainda. 
assim, nao considero essas conclus6es defini-
tivas. Em vez disso, oferer;:o-as como diretrizes 
provisorias, que podem ser testadas e aprofun-
dadas por outros pesquisadores clmicos. De 
minha parte, estou satisfeito de que eles sao 
derivados das melhores evidencias disponlveis 
no momenta e que constituem a base de uma 
abordagem efetiva a terapia. 
INSTlLACAo DE ESPERANCA 
A instilar;:ao e a manutenr;:ao da esperan-
r;:a sao cruciais em qualquer psicoterapia. A es-
peranr;:a nao apenas e necessaria para manter 
o paciente em terapia para que outros fatores 
terapeuticos passam ter efeito, como a fe em 
urn modo de tratamento pode ern si ja ser 
terapeuticamente efetiva. Diversos estudos 
demonstraram que uma expectativa elevada de 
ajuda antes de comer;:ar a terapia esta signifi-
cativamente correlacionada com urn resultado 
positivo.l1 Considere tambem a quantidade de 
dados que documentam a eficacia da cura pela 
fe e 0 tratamento com placebo - terapias me-
diadas inteiramente pela esperanr;:a e pela con-
vicr;:ao. E mais provavel que a psicoterapia te-
nha urn resultado positivo quando 0 paciente 
e 0 terapeuta tiverem ex.pectativas semelhan-
. tes para 0 tratamento.12 0 poder das expecta-
tivas estende-se aMm da imaginar;:ao apenas. 
* Podemos avaliar melhor os resultados da terapia 
de urn modo geral do que mensurando as relar;6es 
entre essas variaveis de processo e resultados. 
Kivlighan e colaboradores desenvolveram uma es-
cala promissora, a Escala de Grupo de Ajuda de 
Irnpacto, que tenta capturar a totalidade do proces-
so terapeutico de gropo de urn modo multidimensio-
nal, que abranja tarefas terapeuticas e relar;6es te-
rapeuticas, bern como variaveis relacionadas com 0 
processo, 0 cliente e 0 lider do grupo. 
26 IRVIN D. YAlOM 
Estudos recentes com imagem demonstram que 
o placebo nao e inativo, mas pode ter urn efei-
to psicologico direto sobre 0 cerebro. I3 
Os terapeutas de grupo podem capitali-
zar esse fator; fazendo 0 que podem para au-
mentar a cren~a e a confian~ dos pacientes 
na eficacia do modele de grupo. Essa tarefa 
inicia antes do grupo come~ar, na orienta~ao 
pre-grupo, na qual 0 te~apeuta refor~a expec-
tativas positivas, corrige preconceitos negati-
vos e apresenta uma explica~ao lucida e pode-
rosa das propriedades curativas do grupo. (Ver 
Capitulo 10 para uma discussao completa do 
procedimento de prepara~ao pre-grupo.) 
A terapia de grupo nao apenas se baseia 
nos efeitos gerais das expectativas positivas 
sobre a melhora, como tambem se beneficia 
como uma Fonte de esperan~a que e unica do 
formato de grupo. Os grupos de terapia invaria-
velmente contem individuos que estao em pon-
tos diferentes ao longo de urn continuum de 
enfrentamento e colapso. Assim, cada membro 
tern urn contato consideravel com outros -
muitas vezes individuos com problemas seme-
lhantes - que melhoraram como resultado da 
terapia. Muitas vezes, ouvi pacientes comen-
tarem ao final de sua terapia de grupo 0 quan-
to foi irnportante para eles observar a melhora 
dos outros. Notavelmente, a esperan~a pode 
ser uma for~a poderosa, mesmo em grupos de 
individuos que combatem urn cancer avan~a­
do e que perdem membros estimados do gru-
po para a doen~a. A esperan~a e flexivel - ela 
se redefine para se encaixar em parametros 
imediatos, tornando-se esperan~a de confor-
to, de dignidade, de conexao com outros mem-
bros ou de redu~ao do desconforto fisico. I4 
Os terapeutas de grupo nao devem, de 
mane ira alguma, isentar-se de explorar esse fa-
tor, chamando aten~ao periodicamente para as 
melhoras que os membros fizeram. Se eu rece-
ber recados de membros que tiveram termino 
recente informando-me de suas melhoras con-
tinuadas, fa~o questao de compartilhar isso com 
o grupo atual. Os membros antigos do grupo 
muitas vezes assumem essa fun~ao, oferecen-
do testemunhos espontaneos a membros no-
vos e ceticos. 
Pesquisas mostraram que tambem e vital 
que os terapeutas acreditem em si mesmos e 
na eficacia de seu grupO.IS SirIceramente, creio 
que sou capaz de ajudar cada paciente moti-
vado que esteja disposto a trabalhar com 0 gru-
po por pelo menDs seis meses. Em meus pri-
meiros encontros individuais com os pacien-
tes, compartilho essa convic~ao com eles e ten-
to imbui-Ios de meu otimismo. 
Muitos dos grupos de auto-ajuda - por 
exemplo, para pais enlutados, homens que agri-
dem, vitimas de irIcesto e pacientes de cirurgia 
cardiaca - enfatizam amplamente a instila~ao 
de esperan~a.I6 Uma parte irnportante dos en-
contros do Recovery; Inc. (para pacientes psi-
quiatricos atuais e passados) e do Alcoolicos 
Anonimos dedica-se a testemunhos. A cada en-
contro, os membros do Recovery; Inc. contam 
incidentes potencialmente estressantes, nos 
quais evitam a tensao, aplicando seus meto-
dos, e membros bem-sucedidos do Alcoolicos 
Anonimos contam suas historias de queda e 
resgate pelo AA. Urn dos pontos fortes do Al-
coolicos Anonimos e 0 fato de que os lideres 
sao todos alcoolicos - inspira~ao viva para os 
outros. 
Os programas de tratamento para abuso 
de substancias geralmente mobilizam a espe-
ran~a dos participantes, usando dependentes 
de drogas recuperados como lideres de grupo. 
Os membros recebem inspira~ao, levantando-
se as expectativas, pelo contato com aqueles 
que ja percorreram 0 mesmo caminho e en-
contraram 0 caminho de volta. Uma aborda-
gem semelhante e us ada para irIdividuos com 
doen~as medicas cronicas, como artrite e doen-
~as cardiacas. Esses grupos de automanejo 
usam membros treinados para estimular os-
outros membros a enfrentarem ativamente as 
suas condi~6es medicas. I7 A irIspira~ao que os 
participantes proporcionam aos seus pares re-
sulta em melhoras substanciais em resultados 
medicos, reduz os custos do cuidado de saude, 
pro move 0 sentido de auto-eficacia do indivi-
duo e muitas vezes torna as irIterven~6es de 
grupo superiores as terapias irIdividuais. I8 
UNIVERSALIDADE 
Muitos individuos come~am a terapia com 
o pensamento perturbador de que sao singula-
res em sua desgra~a, que apenas eles tern cer-
tos problemas, pensamentos, impulsos e fan-
tasias assustadores e irIaceitaveis. E claro que 
existe urn nucleo de verdade nessa no~ao, pois 
a maioria dos pacientes tern uma consteIa<;ao 
inusitada de estressores graves em suas vidas 
e periodicamente e irIundada por material apa-
vorante que vazou de seu irIconsciente. 
Ate urn certo grau, isso e verdade para 
todos nos, mas muitos pacientes, devido ao seu 
isolamento social extremo, tern urn sentido ele-
vado de singularidade. Suas dificuldades 
interpessoais impedem a possibilidade de uma 
intimidadeprofunda. Na vida cotidiana, eles 
nao aprendem sobre as experiencias e os sen-
timentos anaIogos dos outros e nao se valem 
da oportunidade de confidenciar e finalmente 
ser validados e aceitos por outras pessoas. 
Na terapia de grupo, especialmente nos 
primeiros estagios, a invalida<;ao dos sentimen-
tos de singularidade de urn paciente e uma po-
derosa Fonte de alivio. Apos ouvir outros mem-
bros revelarem preocupa<;6es semelhantes as 
suas, os pacientes relatam sentir-se mais em 
contato com 0 mundo e descrevem 0 processo 
como uma experiencia "bem-vinda,para a ra<;a 
humana". Colocado de forma simples, 0 feno-
meno encontra expressao no cUche "estamos 
todos no mesmo barco" - ou talvez, de forma 
mais cetica, "a miseria adora companhia". 
Nao existe urn ato ou pensamento huma-
no que esteja completamente fora da experien-
cia das outras pessoas. Ja ouvi membros de 
grupos revelarem atos como incesto, tortura, 
roubo, peculato, homiddio, tentativa de suid-
dio e fantasias de natureza ainda mais deses-
perada. Invariavelmente, eu observava outros 
membros de grupos aceitarem esses mesmos 
atos como dentro dos limites de suas proprias 
possibilidades, muitas vezes seguindo pela por-
ta da revela<;ao aberta pela confian<;a ou pela 
coragem de urn membro do grupo. Tempos 
atras, Freud observou que os tabus mais fir-
mes (novamente incesto e parriddio) foram 
precisamente construidos porque esses mesmos 
impulsos fazem parte da natureza mais pro-
funda do ser humano. 
E essa forma de ajuda nao se lirnita a te-
rapia de grupo. A universalidade tambem de-
sempenha urn pape! na terapia individual, 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 27 
embora, neste formato, haja menos oportuni-
dade para valida<;ao consensual, a medida que 
os terapeutas decidem restrirIgir 0 seu grau de 
transparencia pessoal. 
Durante as 600 horas de minha propria 
analise, tive urn encontro pessoal marcante com 
o fator terapeutico da universalidade. Ele ocor-
reu quando eu estava descrevendo meus senti-
mentes extremamente ambivalentes com rela-
<;ao a minha mae. Fiquei bastante perturbado 
com 0 fato de que, apesar de meus fortes sen-
timentos positivos, tambem me senti acossado 
por sentimentos de morte por ela, assim como 
resisti a herdar parte do que era dela. Meu 
analista simplesmente respondeu "que parece 
ser a forma como nos construimos". Essa de-
clara<;ao sincera nao apenas me trouxe cons i-
deravel alivio, como possibilitou que eu explo-
rasse minha ambivalencia em grande profun-
didade. 
Apesar da complexidade dos problemas 
humanos, certos denominadores comuns .sao 
claramente evidentes entre os irIdividuos, e os 
membros de urn grupo terapeutico logo perce-
bern suas semelhan~s. Urn exemplo e ilustra-
tivo: por muitos anos, solicitei a membros de 
grupos-T (que nao sao pacientes - formados 
principalmente por estudantes de medicina, re-
sidentes psiquiatricos, enfermeiros, tecnicos 
psiquiatricos e voluntarios da Peace Corps; ver 
Capitulo 16) para participarem de uma tarefa 
"secreta", na qual deveriam escrever, em uma 
tir:a de papel e de forma anonima, a coisa que 
estavam menDs inclinados a compartilhar com 
o grupo. Os segredos se mostravam notavel-
mente semelhantes, com alguns temas impor-
tantes predominando. 0 segredo mais comum 
era a convic~ao profunda de uma inadequa<;ao 
basica - urn sentimento de ser basicamente 
incompetente, de ter side urn blefe ao longo 
da vida. 0 proximo em freqii@ncia eum senti-
do profundo de aliena~ao interpessoal- ou seja, 
apesar das aparencias, nao se deve, ou nao se 
pode, cuidar ou amar outra pessoa. A terce ira 
categoria mais freqiiente e alguma variedade 
de segredo sexual. Essas preocupa<;6es impor-
tantes de nao-pacientes sao qualitativamente 
as mesmas em individuos que buscam ajuda 
pro fissional. Quase invariave!mente, nossos pa-
cientes experimentam uma profunda preocu-
28 IRVIN D. YALOM 
pa<;ao com seu sentido de valor e sua capaci-
dade de se relacionar com os outros.· 
Alguns grupos especializados, compostos 
de individuos para os quais 0 segredo tern sido 
urn fator especialmente importante e de isola-
mento, enfatizam particularmente a universa-
lidade. Por exemplo, grupos estruturados de 
curta dura<;ao para pacientes bulimicos tern em 
seu protocolo uma forte exigencia de auto-reve-
la<;ao, especialmente quanto a atitudes para 
com a imagem corporal e narrativas detalhadas 
dos rituais alimentares e praticas de purga de 
cada membro. Corn raras exce<;oes, os pacien-
tes expressam grande alfvio ao descobrirem que 
nao estao sos, que os outros compartilham os 
mesmos dilemas e experiencias de vida.19 
Os membros dos grupos de abuso sexual 
tambem se beneficiam consideravelmente com 
a experiencia de universalidade.20 Uma parte 
integral desses grupos e 0 compartilhamento 
fntimo, muitas vezes pela primeira vez na vida 
de cada membro, dos detalhes do abuso e da 
devasta<;ao intema que sofreram como conse-
qiiencia. Os membros desses grupos podem 
encontrar outros que sofreram semelhantes 
viola<;oes quando crian<;as, que nao foram res-
ponsaveis pelo que lhes aconteceu, e que tam-
bern sofreram sentimentos profundos de ver-
gonha, culpa, raiva e impureza. 0 sentido de 
universalidade muitas vezes e urn passo fun-
damental na terapia de paCientes sobrecar-
regados pela vergonha, estigma e culpa, por 
exemplo, pacientes corn HIV / AlDS ou aqueles 
que lidam com as conseqiiencias de urn sui-
ddio.21 
Os membros de grupos homogeneos 12.0-
dem falar uns dos outros com uma autentici-
• Existem diversos metodos para usar essas infor-
ma~6es no trabalho do grupo. Uma tecnica efetiva 
e redistribuir os segredos anonimos aos membros, 
cada urn recebendo 0 segredo do outro. Cada mem-
bro entao Ie 0 segredo em voz alta e revela como se 
sente ao guardar esse segredo. Esse metodo geral-
mente se mostra uma demonstra~ao valiosa de uni-
versalidade, empatia e da capacidade dos outros de 
entender. 
dade poderosa que vern de sua experiencia ern 
primeira mao, de maneiras que os terapeutas 
talvez nao consigam fazer. Por exemplo, uma 
vez, supervisionei urn terapeuta, de 3S anos, 
que estava liderando urn grupo de homens 
deprimidos na faixa entre os 70 e os 80 anos. 
Em urn certo ponto, urn homem de 77 anos, 
que havia perdido a esposa recentemente, ex-
pressou sentimentos suicidas. 0 terapeuta he-
sitou, temendo que qualquer coisa que pudes-
se dizer parecesse ingenua. Entao, urn mem-
bro do grupo de 91 anos falou e descreveu 
como havia perdido sua esposa apos 60 anos 
de casamento, e como havia mergulhado em 
urn desespero suicida e havia, finalmente, se 
recuperado e retomado a vida. Essa declara-
<;30 teve repercussao profunda e nao foi igno-
rada facilmente. 
Ern grupos multiculturais, talvez os tera-
peutas necessitem prestar particular aten<;ao 
ao fator clfnieo da universalidade. Minorias 
culturais em urn grupo predominantemente 
branco podem sentir-se exclufdas por causa de 
atitudes culturais diferentes para com a reve-
la<;3o, as intera<;ao e a expressao afetiva. Os 
terapeutas devem ajudar 0 grupo a ultrapas-
sar 0 foco ern diferen<;as culturais concretas 
para respostas transculturais - ou seja, univer-
sais - a situa<;oes e tragedias humanas.22 Ao 
mesmo tempo, os terapeutas devem estar agu-
damente conscientes dos fatores culturais em 
jogo. Os profissionais da saude mental muitas 
vezes nao possuem 0 conhecimento dos fatos 
culturais da vida que sao necessarios para tra-
balhar de maneira efetiva com membros cul-
turalmente diversos. E imperativo que os te-
rapeutas aprendam 0 maximo possfvel sobre 
as culturas dos pacientes, bern como de seu 
vinculo ou aliena<;ao com a sua cultura.23 
A universalidade, como outros fatores 
terapeuticos, nao possui limites nftidos, mes-
clando-se com outros fatores terapeuticos. A 
medida que os pacientes percebem sua seme-
lhan<;a com os outros e compartilham suas mais 
profundas preocupa<;6es, eles se beneficiam 
ainda mais da catarse que acompanha a tera-
pia e da aceita<;ao dos outros membros (ver 
Capftulo3 sobre a coesao grupal). 
COMPARTILHAMENTO DE INFORMA~iiES 
Na categoria geral do compartilhamento 
de informa<;6es, incluo a instru<;ao didatiea 
sobre a saude mental, doen<;as mentais e a 
psieodinfunica geral fomecida pelos terapeutas, 
bern como 0 aconselhamento, as sugestoes ou 
a orienta<;ao direta do terapeuta ou outros 
membros do grupo. 
Instrut;iio diiJcitica 
A maioria dos partieipantes, na conclu-
sao de uma terapia de grupo interacional bem-
sucedida, aprende muito sobre 0 funcionamen-
to psfquico, 0 significado dos sintomas, a dina-
mica interpessoal e de grupo e 0 processo da 
psieoterapia. De urn modo geral, 0 processo 
educacional e implfcito. A maioria dos tera-
peutas de grupo nao bferece ip.stru<;ao dida.ti-
ca explfcita ern terapia de grupo interacional. 
Todavia, ao longo da ultima decada, muitas 
abordagens de terapia de grupo fizeram da ins-
tru<;ao formal, ou psieoeduca<;ao, uma parte 
importante do programa. 
Urn dos precedentes historicos mais po-
derosos para a psicoeduca<;ao pode ser encon-
trado na obra de MaxWell Jones, que, em seu 
trabalho corn grupos grandes na decada de 
1940, palestrava para seus pacientes por tres 
horas por semana a respeito da estrutura, do 
funcionamento e da relevancia do sistema ner-
voso para os sintomas psiquiatricos e a defi-
ciencia.24 
Marsh, que escreveu na decada de 1930, 
tambem acreditava na importancia da psicoe-
duca<;ao e de aulas organizadas para seus pa-
cientes, completadas corn palestras, tarefas de 
casa e notas.2S 
o Recovery, Inc., 0 mais antigo e maior 
programa de auto-ajuda do pais para pacien-
tes psiquiatricos atuais e ex-pacientes, e orga-
nizado basicamente ao longo de linhas dida.ti-
cas.26 Fundada em 1937 por Abraham Low, essa 
organiza<;ao tern mais de 700 grupos operan-
do hojeY A participa<;ao e voluntaria e os lfde-
res nascem dos membros. E~bora nao haja 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 29 
orienta<;ao pro fissional formal, a condu<;3o dos 
encontros foi altamente estruturada pelo Dr. 
Low. Partes de seu livro, Mental Health Through 
Will Training,28 sao lidas em voz alta e discuti-
das a cada reuniao. A doen<;a psieologica e 
explicada com base ern alguns prindpios sim-
ples, que os membros memorizam - por exem-
plo, 0 valor de "identificar" comportamentos 
problematieos e autodestrutivos; que os sinto-
mas neuroticos sao perturbadores, mas nao 
perigosos; que a tensao intensifica e mantem 0 
sintoma e deve ser evitada; que 0 usa do livre 
arbftrio do individuo e a solu<;ao para os dile-
mas do paciente nervoso. 
Muitos outros grupos de auto-ajuda 
enfatizam 0 compartilhamento de informa<;oes. 
Grupos como os para adultos sobreviventes ao 
incesto, pais anonimos, jogadores anonimos, 
apoio aos pacientes com cancer, para pais sem 
parceiros e para pessoas solitarias estimulam 
a troca de informa<;oes entre os membros e fre-
qiientemente convidam especialistas para fa-
lar ao grupO.29 0 ambiente do grupo onde a 
aprendizagem ocorre e importante. 0 contex-
to ideal e de parceria e colabora<;ao, ao inves 
de prescri<;ao e subordina<;ao. 
A literatura recente da terapia de grupo 
tern descri<;6es abundantes de grupos especiali-
zados para individuos que tern algum trans-
tomo espedfico au que enfrentam alguma cri-
se decisiva em suas vidas - por exemplo, trans-
tomo de panico, 30 obesidade,31 bulimia,32 adap-
ta<;ao apos 0 divorcio,33 herpes,34 doen<;a 
coronariana,35 pais de crian<;as que sofreram 
abuso sexual,36 homens violentos,37Iuto,38 HIV / 
AIDS,39 disfun<;i5es sexuais,40 estupro,41 adap-
ta<;ao a auto-imagem apos mastectomia,42 dor 
cronica,43 trans plante de orgaos44 e preven<;ao 
de recafdas da depressao.45 
Alem de oferecerem apoio mutuo, esses 
grupos geralmente envolverri. urn componente 
psieoeducacional, oferecendo instru<;ao explici-
ta sabre a natureza da doen<;a ou do problema 
do paciente e examinando as concep<;6es erra-
neas e respostas autodestrutivas a sua doen<;a. 
Por exemplo, as lfderes de urn grupo para pa-
cientes com transtomo de panieo descrevem a 
causa fisiologica dos ataques de panico, expli-
30 IRVIN D. Y ALOM 
cando que 0 estresse e a excita~ao aumentam 
o fluxo de adrenalina, que pode resultar em 
hiperventila~ao, falta de ar e tontura. 0 pacien-
te interpreta os sintomas incorretamente, de 
maneira que apenas os exacerba ("estou mor-
rendo" ou "estou enlouquecendo"), perpetuan-
do assim urn drculo vicioso. Os terapeutas dis-
cutem a natureza benigna dos ataques de pa-
nico e of ere cern instru<;:ao sobre como produ-
zir urn ataque leve e como preveni-Io. Eles for-
necem instru~oes detalhadas sobre tecnicas de 
respiraC;ao adequada e relaxamento muscular 
progressivo. 
Os grupos muitas vezes sao cenarios ade-
quados para se ensinarem novas abordagens 
de redw;:ao do estresse baseadas em medita-
~ao e concentrac;ao. Aplicando urn foco discipli-
nado, os membros aprendem a se tomar obser-
vadores esdarecidos, receptivos e imparciais 
de seus pensamentos e sentimentos e a redu-
zir 0 estresse, a ansiedade e a vulnerabilidade 
a depressao.46 
Os lfderes de grupos para pacientes HIV-
positivo frequentemente fomecem informac;6es 
medicas consideraveis relacionadas com as 
doen~as e ajudam a corrigir os temores irracio-
nais e as concep~oes erroneas dos membros 
sobre a infec~ao. Eles tambem podem aconse-
lhar os outros membros com rela~ao a meta-
dos para informar outras pessoas sobre sua 
condi~ao e moldar urn estilo de vida que pro-
voque menos culpa. 
Os lfderes de grupos para 0 luto podem 
proporcionar informa~6es sobre 0 cido natu-
ral do luto, para ajudar os membros a enten-
der que existe uma seqiiencia de dor, pela qual 
estao progredindo, e que a sua perturba~ao tera 
uma redu~ao natural e quase inevitavel, a me-
dida que avan~arem atraves dos estagios des-
sa sequencia. Os Hderes podem ajudar os pa-
cientes a preyer, por exemplo, a anglistia agu-
da que sentem a cada data importante (feria-
dos, aniversarios e outras comemora~oes) du-
rante 0 primeiro ana de luto. Grupos psicoedu-
cacionais para mulheres com cancer de mama 
primario fomecem aos membros informac;oes 
sobre a sua doen~a, op~oes de tratamento e 
riscos futuros, bern como recomendac;6es para 
urn estilo de vida mais saudavel. A avalia~ao 
do resultado desses grupos mostra que os par-
ticipantes apresentam beneficios psicossociais 
significativos e duradouros.47 
A maioria dos terapeutas de grupo usa 
alguma forma de orienta~ao antecipatoria para 
os pacientes que iniciam a situac;ao assustado-
ra do grupo de psicoterapia, como uma sessao 
preparatoria, visando esclarecer importantes 
razoes para disfunc;oes psicologicas e propor-
cionar instru~oes em metodos de auto-ex-
plora~ao.48 Prevendo os medos dos pacientes, 
proporcionando-lhes uma estrutura cognitiva, 
ajudamo-os a enfrentar de forma mais efetiva 
o choque cultural que podem encontrar quan-
do entram para 0 grupo de terapia (ver Ca-
pitulo 10). 
Dessa forma, a instru~ao didatica e em-
pregada de varias maneiras na terapia de gru-
po: para transferir informac;oes, alterar padroes 
de pensamento destrutivos, estruturar 0 gru-
po, expIicar 0 processo da doenc;a. Essa instru-
~ao muitas vezes funciona como a for~a de Ii-
gac;ao inicial para 0 grupo, ate que outros fato-
res terapeuticos entrem em operac;ao. Contu-
do, a expIica<;ao e 0 esclarecimento ja funcio-
nam em parte como agentes terapeuticos. Os 
seres humanos sempre abominaram a incerte-
za e, atraves das eras, tentaram organizar 0 
Universo, fornece'ndo explicac;oes, principal-
mente reIigiosas ou cientfficas. A expIica~ao de 
urn fenomeno e 0 primeiro passo para 0 seu 
controle. Se uma erup~ao vulcanica e causada 
por urn deus descontente, entao, pelo menos, 
existe esperanc;a de agradar ao deus. 
Frieda Fromm-Reichman enfatiza 0 pa-
pel que a incerteza tern de produzir ansieda-
de. A consciencia de nao ser 0 proprio piloto, 
afrrma ela, de que as proprias percep~6es e 
comportamentos sao controlados por for~as 
irracionais, e uma fonte comum e fundamen-
tal de ansiedade.49Em nosso mundo contemporaneo, somos 
for~ados a confrontar 0 medo e a ansiedade com 
frequencia. Em particular, os eventos de 11 de 
setembro de 2001 colocaram essas emo~oes 
perturbadoras em primeiro plano de forma mais 
clara na vida das pessoas. E extremamente im-
portante confrontar ansiedades u'aurmiticas com 
urn enfrentamento ativo (por exemplo, envol-
vendo-se na vida, falando abertamente e pro-
porcionando apoio mutuo), ao contrario de ce-
der a urn retraimento desmoraIizado. Nao ape-
nas essas respostas agradam ao nosso senso co-
mum, mas, como demonstra a pesquisa neuro-
biologica contemponlnea, essas formas de 
enfrentamento ativo estimulam importantes cir-
cuitos neurais no cerebro que ajudam a regular 
as reac;6es de estresse do COrpO.50 
E e isso que ocorre com os pacientes em 
psicoterapia: 0 medo e a ansiedade que pro-
vern da incerteza da fonte, do significado e da 
gravidade dos sintomas psiquiatricos podem 
causar uma disforia tao grande que a explora-
~ao efetiva se torna muito mais dificil. A ins-
truc;ao didarica, por proporcionar estrutura e 
explica~ao, tern valor intrinseco e merece urn 
lugar em nosso repertorio de instrumentos 
terapeuticos (ver Capitulo 5). 
Aconselhamento direto 
Ao contrario da instruc;ao didatica expH-
cita do terapeuta, 0 aconselhamento direto dos 
membros ocorre sem exce~ao elfl cada grupo 
de terapia. Em grupos de terapia interacional 
dinamica, ela invariavelmente ffiz parte da vida 
inicial do grupo e ocorre com tal regularidade 
que po de ser usada para se estimar a idade do 
grupo. Se observo ou ou~o uma gravac;ao de 
urn grupo no qual os pacientes, com uma certa 
regularidade, dizem coisas como: "acho que 
voce deveria ... " ou ''voce deve fazer ... " ou "por 
que voce nao ... ?", posso ter uma certeza razoa-
vel de que e urn grupo novo ou que e urn gru .. 
po antigo com alguma dificuldade que impe-
diu 0 seu desenvolvimento ou produziu uma 
regressao temporaria. Em outras palavras, 0 
aconselhamento pode refletir uma resistencia 
a urn envolvimento mais intimo, com os mem-
bros tentando administrar os relacionamentos, 
em vez de se conectarem. Embora 0 aconselha-
mento seja comum no come~o da terapia de 
grupo interacional, e raro que conselhos espe-
dficos beneficiem qualquer paciente direta-
mente. Todavia, de maneira indireta, 0 acon-
selhamento serve a urn proposito. 0 processo 
de aconselhar, ao inves do conteudo do conse-
PSICOTERAPIA DE GRUPO 31 
lho, pode ser benefico, implicando e transmi-
tindo interesse e cuidado mutuos, como real-
mente e verdade. 
o comportamento de dar ou pedir con-
selhos muitas vezes e uma pista importante na 
elucida<;iio de patologias interpessoais. 0 pa-
ciente que, por exemplo, pede conselhos e su-
gest6es continuamente para outras pes so as, 
para depois rejeita-Ios e frustrar os outros, e 
bastante conhecido dos terapeutas de grupo, 
como 0 paciente "queixoso que rejeita ajuda" 
ou 0 paciente "sim ... mas" (ver Capitulo 13).51 
Alguns membros de grupos podem buscar aten-
~ao e carinho, pedindo sugest6es sobre urn pro-
blema que seja insoluvel ou que ja tenha sido 
resolvido. Outros absorvem conselhos com uma 
sede insaciavel, mas nunca agem de forma re-
dproca com pessoas que tambem estejam ne-
cessitadas. Alguns membros de grupos estao 
tao interessados em manter urn status superior 
no grupo ou uma fachada de auto-suficiencia 
. tranqiiila que nunca pedem ajuda diretamen-
te, outros sao tao ansiosos para agradar que 
nunca pedem nada para si mesmos, outros ain-
da sao excessivamente efusivos em sua grati-
dao, e outros nunca reconhecem 0 presente, 
mas levam-no para casa, como urn osso, para 
roe-Io em particular. 
Outros tipos de grupos mais estruturados 
que nao ~ concentram nas interac;oes entre os 
membros fazem uso explfcito e efetivo de su-
gestoes e conselhos diretos. Por exemplo, gru-
pos para moldar 0 comportamento, grupos de 
transic;ao e planejamento da alta hospitalar, 
grupos de habilidades para a vida, grupos de 
habilidades de comunicac;ao, 0 Recovery; Inc. 
e 0 Alcoolicos Anonimos, todos proferem uma 
quantidade consideravel de conselhos diretos. 
Urn grupo de habilidades de comunica~ao para 
pacientes com doen~as psiquiatricas cronicas 
relata resultados excelentes com urn progra-
rna de grupo e'struturado que inclui feedback 
focado, reprodu~ao de gravac;oes e projetos de 
resolu~ao de problemas. 52 0 AA usa conselhos 
e slogans. Por exemplo, os membros devem 
permanecer em abstinencia apenas pelas pro-
ximas 24 horas - "urn dia de cad a vez". 0 
Recovery; Inc. ensina os membros a identificar 
sintomas neuroticos, a apagar e reescrever, a 
t 
f 
f' 
.l! 
32 IRVIN D. YALOM 
ensaiar e inverter e mostra como aplicar a for-
C;a de vontade de maneira efetiva. 
Existem conselhos melhores que os ou-
tros? Os pesquisadores que estudaram urn gru-
po para moldar 0 comportamento de agressores 
sexuais do sexo masculino observaram que 0 
aconselhamento era comum e era proveitoso 
para diferentes membros em graus variados. A 
forma menos efetiva de conselho era a suges-
tao direta, e a mais efetiva era uma serie de 
sugest6es altemativas sobre como chegar a urn 
objetivo desejado.S3 A psicoeducac;ao com re-
lac;ao ao impacto da depressao sobre relacio-
namentos fami!iares e muito mais efetiva quan-
do os participantes examinam, em urn nfvel 
direto e emocional, a maneira como a depres-
sao esta afetando suas vidas e seus relaciona-
mentos familiares. As mesmas informac;6es 
apresentadas de mane ira intelectualizada e 
desconectada sao muito menos valiosas.S4 
ALTRUiSMO 
Existe uma antiga historia hassfdica de 
urn rabino que teve uma conversa com Deus 
sobre 0 Ceu e 0 Inferno. "Eu the mostrarei 0 
Inferno", disse Deus, e conduziu 0 rabino ate 
uma sala com urn grupo de pessoas desespera-
das e famintas, sentadas ao redor de uma gran-
de mesa circular. No centro da mesa, estava 
urn grande prato de came ensopada, mais do 
que 0 suficiente para todos. 0 cheiro do enso-
pado era entao delicioso que deixou 0 rabino 
com agua na boca. Ainda assim, ninguem co-
rnia. Cada pessoa ao redor da mesa tinha na 
mao uma colher com urn longo cabo - longo 0 
suficiente para alcanc;ar 0 prato e tirar uma co-
lherada de ensopado, mas longa demais para 
chegar a propria boca. 0 rabino viu que 0 so-
frimento realmente era terrivel e sacudiu a ca-
bec;a em compaixao. '~gora, eu the mostrarei 
o ceu", disse Deus, enquanto entravam em 
outra sala, identica a primeira - a mesma gran-
de mesa redonda, 0 mesmo grande prato de 
ensopado, as mesmas colheres de cabo longo. 
Ainda assim, havia alegria no ar. Todos pare-
ciam bem-nutridos, rechonchudos e exuberan-
tes. 0 rabino nao conseguia entender e olhou 
para Deus. "E simples", disse Deus, "mas exige 
certa habilidade. Veja, as pessoas desta sala 
aprenderam a se alimentar umas as outras!"· 
Nos grupos de terapia, bern como no ceu 
e no inferno imaginados da historia, os mem-
bros ganham por darem, nao apenas por rece-
berem ajuda como parte da seqiiencia redpro-
ca de dar e receber, mas tambem por se bene-
ficiarem com algo que e intrinseco ao ato de 
dar. Muitos pacientes psiquiatricos que come-
c;am a terapia estao desmoralizados e possu-
em urn sentido profundo de nao ter nada de 
valor para oferecer aos outros. Eles ha muito 
se consideram urn fardo, e a experiencia de 
descobrir que podem ser importantes para ou-
tras pessoas e renovadora e aumenta sua auto-
esrima. A terapia de grupo e peculiar por ser a 
unica que oferece aos pacientes a oportunida-
de debeneficiar outras pessoas, e tambem es-
rimula a versatilidade de papeis, exigindo que 
os pacientes se altemem nos papeis de receber 
e dar qjuda. ss 
E, e claro, os pacientes sao imensamente 
uteis uns para os outros no processo terapeutico 
de grupo. Eles proporcionam apoio, tranqiii-
lizac;ao, sugest6es, insight e compartilham pro-
blemas semelhantes entre si. Com freqiiencia, 
e muito mais faci! que os membros do grupo 
aceitem observac;6es de outro membro do que 
do terapeuta. Para muitospacientes, 0 terapeu-
ta permanece sendo 0 profissional pago. Os ou-
tros membros representam 0 mundo real, e 
pode-se contar com suas reac;6es e seus comen-
tarios espontaneos e verdadeiros. Observando 
o curso da terapia retrospectivamente, quase 
• Em 1973, uma participante abriu 0 primeiro en· 
contro do prirneiro grupo para pacientes de dincer 
avan<;ado distribuindo essa parabola para os outros 
membros do grupo. Essa mulher (sobre a qual ja 
escrevi antes, referindo-me a elacomo Paula West; 
ver I. Yalom, Momma and the Meaning of Life [New 
York: Basic Books, 1999]) esteve envolvida comigo 
desde 0 principio em conceituar e organizar esse 
grupo (ver tanlbem 0 Capitulo 15). Sua parabola 
mostrou-se presciente, pois muitos membros se be-
neficiaram com 0 fator terapeutico do altrufsmo. 
todos os membros creditam importancia aos 
outros membros em sua melhora. As vezes, eles 
ciram seu apoio e conselhos expHcitos; em ou-
tras, referem-se ao simples fato de estarem pre-
sentes e permitirem que outras pessoas cres-
c;am como resultado de urn relacionamento 
facilitador e solidario. Com a experiencia do 
altruismo, os membros do grupo aprendem em 
primeira mao que tern obrigac;6es para com 
aqueles de quem desejam receber carinho_ 
Uma interac;ao entre dois membros de urn 
grupo e ilustrativa. Derek, urn homem na faixa 
de 40 anos, cronicamente ansioso e isolado e 
que recentemente entrou para 0 grupo, irritou 
os outros membros, rejeitando seus comenta-
rios e sua preocupac;ao. Em resposta, Kathy; 
uma mulher de 3S anos com depressao croni-
ca e problemas com abuso de substancias, di-
vidiu com ele uma lic;ao fundamental em sua 
experiencia com 0 <grupo. Durante meses, ela 
rejeitou a preocupac;ao de todos porque sentia 
que nao merecia. Posteriormente, depois que 
outros membros disseram que a sua rejeic;ao os 
agredia, ela tomou a decisao consciente de ser 
mais receptiva aos presentes que the ofereciam 
e logo observou, para sua surpresa, que havia 
comec;ado a se sentir muito melhor. Em outras 
palavras, ela nao apenas se 'beneficiou com 0 
apoio recebido, como tambem por poder aju-
dar 2!' outros a sentir que tinham algo de valor 
para oferecer. Ela esperava que Derek conside-
rasse essas possibilidades para si mesmo. 
o altrufsmo e urn fator terapeutico vene-
ravel em outros sistemas de cura. Em culturas 
primitivas, por exemplo, costuma-se atribuir a 
uma pessoa com problemas a tarefa de prepa-
rar urn banquete ou realizar algum tipo de ser-
vic;o para a comunidade.56 0 altrufsmo desem-
penha uma parte importante no processo de 
cura em santuarios catolicos, como 0 de 
Lourdes, onde os doentes rezam nao apenas 
para si mesmos, mas para outras pessoas. As 
pessoas precisam sentir que sao necessarias e 
uteis. E comum alcoolistas manterem seus con-
tatos do M por anos apos terem alcanc;ado 
sobriedade totaL Muitos membros relatam sua 
historia de queda e recuperac;ao pelo menos 
mil vezes e continuam a desfrutar da satisfa-
c;ao de oferecer ajuda aos outros. 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 33 
No come<;o, os membros neofitos de gru-
pos nao gostam do irnpacto curativo dos ou-
tros membros. De fato, muitos possfveis candi-
datos resistem a qualquer sugestao de terapia 
de grupo com a questao: "como pode urn cego 
conduzir outro cego?" ou "0 que posso ganhar 
com outras pessoas que estao tao confusas 
quanta eu? Acabaremos nos afundando uns ao 
outros". Essa resistencia e mais bern resolvida 
explorando-se a auto-avaliac;ao critica do pa-
ciente. De urn modo geral, urn individuo que 
rejeita a perspectiva de obter ajuda de outros 
membros do grupo na verdade esta dizendo: 
"eu nao tenho nada de valor para oferecer". 
Existe outro beneficio mais suti! inerente 
ao ate altruista. Muitos pacientes que se quei-
xam de falta de significado estao imersos em 
uma auto-absorc;ao morbida, que assume a for-
rna de uma introspecc;ao obsessiva ou de urn 
esforc;o resoluto para se cumprir. Concordo com 
Victor Franld, de que 0 sentido de significado 
na vida pode ser 0 resultado, mas que ele nao 
deve ser deliberadamente perseguido: 0 signi-
ficado na vida sempre e urn fenomeno deriva-
do, que se materializa quando transcendemos 
nos mesmos, quando esquecemos de nos mes-
mos enos absorvemos em outra pessoa (ou 
algo) fora de nos mesmosY 0 foco no signifi-
cado da vida e no altruismo e componente par-
ticularmente importante das psicoterapias de 
grupo para pacientes que enfrentam doenc;as 
medicas fatais, como 0 cancer e a AIDS.YsS 
A RECAPITULA~AO CORRETIVA 
DO GRUPO FAMILIAR PRIMARIO 
A grande maioria dos pacientes que en-
tram para grupos de terapia - com exce<;ao dos 
que sofrem de transtorno de estresse pos-trau-
matico ou de algum estresse medico ou am-
biental - terri urn historico de uma experiencia 
extremamente insatisfatoria em seu primeiro 
e mais importante grupo: a familia primaria. 
o grupo de terapia se parece com uma familia 
em muitos aspectos: existem figuras de autori-
dade/parentais, figuras de irmaos/fraternas, 
revelac;6es pessoais profundas, emoc;6es fortes 
e uma intimidade profunda, bern como senti-
34 IRVIN D. YALOM 
mentos hostis e competitivos. De fato, os gru-
pos de terapia muitas vezes sao liderados por 
uma equipe de homens e mulheres terapeutas 
em urn esforc;:o deliberado de estimular a con-
figura<;ao parental ao maximo possiveL Quan-
do 0 desconforto inicial e superado, e inevirn-
vel que, mais cedo ou mais tarde, os membros 
interajam com os !ideres e com outros mem-
bros de forma semelhante a suas intera<;oes 
com seus pais e irmaos. 
Se os !ideres de grupos forem vistos como 
figuras parentais, eles produzirao rea<;oes as-
sociadas a figuras parentais/de autoridade: al-
guns membros se tomarao desesperadamente 
dependentes dos lideres, a quem imbuem co-
nhecimento e poder irreais, outros desafiarao 
os lideres cegamente, po is percebem-nos como 
controladores e infantilizadores, outros ainda 
terao medo deles, pois acreditam que querem 
privar os membros de sua individualidade. Al-
guns membros tentam dividir os co-terapeutas, 
na tentativa de incitar discordancias e rivali-
dades parentais, alguns se revelam mais quan-
do urn dos co-terapeutas esta ausente, e ou-
tros competem amargamente corn os outros 
membros, esperando acumular unidades de 
aten<;ao e carinho dos terapeutas. Alguns sen-
tern inveja quando a aten<;ao do !ider se volta 
para outras pessoas, outros gastam sua ener-
gia em busca de aJiados entre ~ outros mem-
bros para derrubar os terapeutas, enquanto 
outros negligenciam seus proprios interesses 
em uma tentativa aparentemente abnegada de 
satisfazer os lideres e os outros membros. 
Obviamente, fenomenos semelhantes 
ocorrem na terapia individual, mas 0 grupo 
proporciona urn numero e uma variedade bas-
tante maiores de possibilidades de recapitu-
la<;ao. Em urn dos me us grupos, Betty, uma 
participante que havia pass ado dois encontros 
amuada, reclamou de nao estar em terapia in-
dividual. Ela disse que se sentia inibida por-
que sabia que 0 grupo nao poderia satisfazer 
as suas necessidades, e que conseguiria falar 
Jivremente sobre seus problemas ern uma con-
versa particular corn 0 terapeuta ou com qual-
quer urn dos membros do grupo. Quando pres-
sionada, Betty expressou sua irrita<;ao por 
achar que os outros eram favorecidos no gru-
po. Por exemplo, 0 grupo havia recentemente 
recebido bern outro membro que retomava 
de ferias, ao passo que 0 seu retorno das ferias 
havia passado despercebido pelo grupo. Alem 
disso, outro membro do grupo foi elogiado 
por dar uma importante interpreta<;ao para 
urn membro, ao passo que ela havia feito urn 
comentario semelhante algumas semanas an-
tes e ninguem havia notado. Ha algum tem-
po, ela tambem vinha mencionando sua in-
digna<;ao crescente por ter que dividir 0 tem-
po corn 0 grupo, sentindo-se impaciente quan-
do precisasse esperar a sua vez e irritada sem-
pre que a aten<;ao se afastava dela. 
Sera que Betty estava certa? Sera que a 
terapia de grupo era 0 tratamento errado para 
ela?Absolutamente nao! Essas mesmas criti-
cas - que tinham raizes ern seus relacionamen-
tos corn seus irmaos - nao constituem obje<;oes 
validas para a terapia de grupo. Pelo contra-
rio, 0 formata de grupo era particularmente 
vaJioso para ela, pois perrnitia que a sua inveja 
e seu desejo por aten<;ao viessem a tona. Na 
terapia individual - onde os terapeutas pres-
tam aten<;ao a cada palavra e preocupa<;ao do 
paciente e se espera que 0 individuo use todo 
o tempodisponivel - esses conflitos especifi-
cos poderiam emergir so mente tard~ demais, 
ou nunca. 
Todavia, 0 importante nao e apenas que 
conflitos familiares precoces sejam revividos, 
mas que sejam revividos de maneira corretiva. 
A nova exposi<;ao sem reparo apenas torna pior 
uma situa<;ao que ja era ruim. Nao se deve per-
mitir que padroes de relacionamento que ini-
bern 0 crescimento se congelem no sistema ri-
gido e impenetravel que caracteriza muitas 
estruturas familiares. Pelo contrario, devem-se 
explorar e desafiar continuamente os papeis 
fixos, estabelecendo regras basicas que incen-
tivem a investiga<;ao de relacionamentos e 0 
teste de novos comportarnentos. Para muitos 
membros de grupos, discutir problemas com 
terapeutas e outros membros do grupo tam-
bern e resolver negocios inacabados de ha 
muito tempo. (0 grau ern que 0 trabalho com 
o pass ado deve ser explicito e uma questao 
complexa e controversa, a qual abordarei no 
Capitulo 5.) 
DESENVOLVIMENTO DE TECNICAS DE SOCIAUZA~Ao 
A aprendizagem social - 0 desenvolvi-
mento de habilidades sociais basicas - e urn 
fator terapeutico que opera em todos os gru-
pos de terapia, embora a natureza das habili-
dades ensinadas e 0 grau ern que 0 processo e 
exp!icito variem muito, dependendo do tipo de 
terapia de grupo. Pode haver uma enfase ex-
plicita no desenvolvimento de habilidades so-
ciais ern, por exemplo, grupos que pr~param 
pacientes hospitalizados para a alta ou grupos 
de adolescentes. Os membros do grupo podem 
ter que dr<lmatizar como abordar urn possivel 
empregador ou convidar alguem para sair. 
Ern outros grupos, a aprendizagem social 
e mais indireta. Os membros de grupos de te-
rapia dinamicos, que tern regras basicas que 
estimulam comentarios abertos, podem obter 
inforrna<;oes consideraveis sobre comportamen-
tos sociais mal-adaptativos.Um membro pode, 
por exemplo, descobrir que tern uma tenden-
cia desconcertante de evitar olhar para a pes-
soa corn quem esta conversando, conhecer as 
impress6es dos outros sobre a sua atitude ar-
rogante e orgulhosa ou uma v~riedade de ha-
bitos sociais que, sem a pessoa notar, tern atra-
palhado os seus relacionamentos. Para indivi-
duos que nao tern relacionamentos intimos, 0 
grupo muitas vezes representa a primeira opor-
tunidade para urn feedback interpessoal preci-
so. Muitos lamentam sua inexplicavel solidao; 
e a terapia de grupo proporciona uma rica opor-
tunidade para que os membros aprendam so- " 
bre como contribuem para 0 seu proprio isola-
mento e solidao. S9 
Urn homem, por exemplo, que ha anos 
estava ciente de que os outros evitavam conta-
tas sociais com ele, descobriu na terapia de 
grupo que a sua inclusao obsessiva de detalhes 
minimos e irrelevantes ern suas conversas era 
desconcertante. Anos depois, ele me contou que 
urn dos eventos mais importantes de sua vida 
foi quando urn membro do grupo (cujo nome 
ele havia esquecido ha tempos) the disse: 
"Quando voce fala dos seus sentimentos, gosto 
de voce e quero me aproximar, mas quando 
voce come<;a a falar de fatos e detalhes, eu 
quero fugir da sala!". 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 35 
Nao quero simplificar demais. A terapia e 
urn processo complexo e obviamente envolve 
muito mais do que 0 simples reconhecimento e 
a altera<;ao deliberada e consciente do comporta-
mento social. Contudo, como mostrarei no Capi-
tulo 3, esses ganhos sao muito mais do que bene-
ficios extras, eles muitas vezes sao instrumentais 
nas fases iniciais da mudan<;a terapeutica. Eles 
perrnitem que os pacientes entendam que exis-
te uma discrepancia enorme entre sua inten<;ao 
eo seu impacto verdadeiro sobre os outros.Y 
Frequentemente, membros antigos de gru-
pos de terapia adquirem habilidades sociais so-
fisticadas: sintonizarn-se com 0 processo (ver 
Capitulo 6), aprendem como responder de for-
ma util aos outros, adquirem metodos de reso-
lu<;ao de conflitos, sao menos provaveis de jul-
gar e mais capazes de experimentar e expressar 
empatia. Essas habilidades ajudam esses pacien-
tes em intera<;oes sociais futuras, e constituem 
as bases da inteligencia emocional.60 
COMPORTAMENTO IMITATIVO 
Durante a psicoterapia individual, os pa-
cientes podem sentar, caminhar, falar e ate pen-
sar como seus terapeutas. Existem evidencias 
consideraveis de que os terapeutas influenci-
am os padroes de comunica<;ao ern seus gru-
pos, modelando certos comportamentos, por 
exemplo, revela<;6es pessoais ou apoio.61 Nos 
grupos, 0 processo de imita<;ao e mais difuso: 
os pacientes podem modelar-se a partir de as-
pectos dos outros membros do grupo e do 
terapeuta.62 Os membros do grupo aprendem 
observando os outros a lidarem corn seus pro-
blemas. Isso pode ser particularmente forte em 
grupos homogeneos que se concentram em 
problemas compartilhados - por exemplo, urn 
grupo cognitivo-comportamental que ensina 
estrategias a pacientes psicoticos para reduzir 
a intensidade de suas alucina<;6es auditivas.63 
E diflcil medir a importancia do compor-
tamento imitativo no processo terapeutico, mas 
a pesquisa social-psicologica sugere que os 
terapeutas podem te-lo subestimado. Bandura, 
que ha muito afirmou que a aprendizagem so-
cial nao po de ser expJicada adequadamente 
36 IRVIN D. YALOM 
com base no refon;o direto, demonstrou de 
forma experimental que a imita<;ao e uma for-
<;a terapeutica efetiva.y64 Na terapia de grupo, 
nao e incomum que urn membro se beneficie 
observando a terapia de outro membro com 
uma constela<;ao de problemas semelhante -
urn fenomeno geralmente chamado de terapia 
vicaria ou por espectador. 65 
o comportamento imitativo geralmente 
desempenha urn papel mais importante nos pri-
meiros estagios de urn grupo, a medida que os 
membros se identificam com os membros an-
tigos ou com os terapeutas.66 Mesmo que 0 
comportamento imitativo seja, em si, efemero, 
ele pode ajudar a descongelar 0 individuo 0 
suficiente para que ele experimente com 0 novo 
comportamento, 0 que pode dar inicio a urn 
espiral adaptativo ever Capitulo 4). De fato, 
nao e incomum que, ao longo da terapia, os 
pacientes "experimentem" partes e aspectos de 
outras pessoas e os rejeitem por nao se encaixa-
rem neles. Esse processo pode ter urn impacto 
terapeutico solido. Descobrir 0 que nao somos 
e progredir rumo a descobrir 0 que somos. 
A aprendizagem interpessoal, como eu a 
defino, e urn fator terapeutico amplo e com-
plexo. Ela e 0 analogo na terapia degrupo de 
importantes fatores rerapeuticos da terapia in-
dividual, como 0 insight, a resolu<;;ao da trans-
ferencia e a experiencia emocional corretiva. 
Porem, ela tambem representa processos uni-
cos do cenario "de grupo, que somente se des-
dobram como resultado do trabalho especifico 
do terapeuta. Para definir 0 com:eito de apren-
dizagem interpes'soal e descrever 0 mecanis-
mo pelo qual ela medeia a mJdan<;;a terapeuti-
ca no individuo, devo antes discutir tres ou-
tros conceitos: 
1. A importancia de relacionamentos inter-
pessoais 
2. A experiencia emocional corretiva 
3. 0 grupo como micro cosmo social 
A IMPORTANCIA DE 
RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS 
Qualquer perspectiva pela qual se estude 
a sociedade humana - se examinarmos a his-
toria da evolu<;;ao da humanidade ou 0 de-
senvolvimento de urn unico individuo - sem-
pre nos obriga a considerar 0 ser humane na 
matriz de seus relacionamentos interpessoais. 
Existem dados convincentes do estudo de pri-
matas nao-humanos, culturas humanas primi-
tivas e da sociedade contemporiinea de que os 
seres humanos sempre viveram em grupos que 
• • 
• • 
• 
• •• • 
Aprendizagem interpessoal 
se caracterizaram por relacionamentos intensos 
e persistentes entre os membros e que a necessi-
dade de fazer parte e uma motiva<;ao poderosa, 
fundamental e global. l A rela<;ao interpessoal 
foi claramente adaptativa no sentido evolucio-
nista: sem vinculos interpessoais profundos, 
positiv~s e reciprocos, nao seria possivel a so-
brevivencia individual ou da especie. 
John Bowlby, a partir de seus estudos do 
relacionamento entre mae e mho, nao apenas 
concrui que 0 comportamento de apego e ne-
cessario para a sobrevivencia, mas tambem que 
ele e essencial, intrinseco e geneticamente pro-
gramado.2 Se a mae e 0 bebe forem separados, 
ambos experimentam uma grande ansiedade 
concomitante com a sua busca pelo objeto per-
'. dido. Se a separa<;ao for prolongada, as con-
seqiiencias para 0 bebe serao profundas. 
Winnicott tambem observou que: "0 bebe nao 
existe, 0 que existe e urn par de mae e bebe".3 
Vivemos em uma "matriz relacional", segundo 
Mitchell: "A pessoa somente e compreensivel 
dentro dessa rede de relacionamentos passa-
dos e presentes".4 
De manejra semelhaIi.te, urn seculo atras, 
o grande psicologo-filosofo norte-americano 
William James disse: 
Nao apenas somos animais gregarios que gos-
tarn de estar it vista de seus arnigos, como te-
mos uma propensao inata a nos fazermos no-
tad os, e notados de maneira favoravel, por 
nossa especie. Nao se poderia imaginar puni-
~ao mais cruel, se isso fosse fisicamente possi-
38 IRVIN D. Y ALDM 
vel, do que uma pessoa ser largada na socie-
dade e ser absolutamente ignorada por todos 
os membros dali em diante.s 
De fato, as especula<;oes de James foram 
corroboradas muitas vezes pela pesquisa con-
temporanea, que documenta a dor e as conse-
qiiencias adversas da solidao. Por exemplo, 
existem evidencias convincentes de que a taxa 
de quase todas as causas de morte importan-
tes e significativamente maior para os solita-
rios, os solteir~s, os divorciados e os viuvos.6 
o isolamento social e tanto urn fator de risco 
para a mortalidade precoce quanta fatores de 
risco fisico obvio, como 0 tabagismo e a obesi-
dade.7 0 inverso tambem e verdadeiro: a co-
nexao e a integra<;ao sociais tern urn impacto 
positiv~ sobre 0 curso de doen<;as serias, como 
o cancer e a AIDS. B 
Reconhecendo a primazia do relaciona-
mento e do apego, os modelos contemporaneos 
da psicoterapia dinamica evoluiram de uma psi-
cologia freudiana individual e baseada no im-
pulso para uma psicologia relacional de duas 
pessoas, que coloca a experiencia interpessoal 
do paciente no centro da psicoterapia efetiva. YJ 
A psicoterapia contemporanea emprega urn 
"modelo relacional, segundo 0 qual se acredi-
ta que a mente nasce de configura<;6es intera-
cionais do self em rela<;ao aos outroS".IO 
Com base nas contribuic;,:6es de Harry Stack 
Sullivan e sua teoria interpessoal da psiquia-
tria,l1 os modelos interpessoais de psicoterapia 
passaram a predominar.12 Embora 0 trabalho 
de Sullivan tenha tido importancia seminal, as 
gerac;,:oes contemporaneas de terapeutas rara-
mente 0 leem. Em primeiro lugar, sua lingua-
gem muitas vezes e obscura (embora existam 
excelentes interpretac;,:oes de seu trabalho em 
ingles simples) .13 Em segundo lugar, seu traba-
Iho tanto permeou 0 pensamento psicotera-
peutico contemporaneo que suas obras origi-
nais parecem familiares ou obvias. Entretanto, 
com 0 recente foco na integra<;il.o de aborda-
gens cognitivas e interpessoais na terapia indi-
vidual e na terapia de grupo, ressurgiu 0 inte-
resse em suas contribui<;oes.14 Kiesler de fato 
argumenta que 0 arcabou<;o interpessoal e 0 
modele mais apropriado para que os terapeutas 
possam sintetizar as abordagens cognitivas, 
comportamentais e psicodinamicas de manei-
ra significativa - e a mais abrangente das psico-
terapias integrativas.yls 
As formula<;oes de Sullivan sao muito 
importantes para se entender 0 processo 
terapeutico de grupo. Embora uma discussao 
abrangente da teoria interpessoal esteja aMm 
dos limites deste livro, descreverei aqui alguns 
conceitos fundamentais. Sullivan afirma que a 
personalidade e quase inteiramente produto da 
interac;,:ao com outros seres humanos significa-
tivos. A necessidade de se relacionar intima-
mente com outras pessoas e tao basica quanta 
qualquer necessidade biologica e, a luz do pro-
longado perfodo de impotencia da primeira 
infancia, e igualmente necessaria para a sobre-
vivencia. A crian<;a em desenvolvimento, na 
busca por seguranc;,:a, tende a cultivar e 
enfatizar os tra<;os e aspectos do self que tern 
aprova<;ao e silenciar ou negar aqueles que sao 
desaprovados. Finalmente, 0 individuo desen-
volve urn conceito de self com base em sua per-
cepc;,:ao das avalia<;oes de outras pessoas impor-
tantes. 
Pode-se dizer que 0 self e feito de avalia<;6es 
refletidas. Se elas forem principalmente ne-
gativas, como no caso de uma crian,<;3 indese-
jada que nunca foi amada ou de uma crian<;a 
que caiu nas maos de pais adotivos que nao 
tern interesse real nela como crian<;a; como 
costumo dizer, se 0 dinamismo do self for prin· 
cipalmente formado por experiencias negati-
vas, ele facilitara. avalia<;6es depreciativas de 
outras pessoas e produzini avalia<;6es depre-
ciativas e hostis de si mesmo.l6 
. Esse processo de construir nossa auto-es-
tima com base em avalia<;oes refletidas que le-
mos nos olhos de pessoas importantes continua, 
e claro, ao longo do ciclo evolutivo. Grunebaum 
e Solomon, em seu estudo com adolescentes, 
enfatizaram que relacionamentos satisfatorios 
com amigos e a auto-estima sao conceitos 
inseparaveisY 0 mesmo e verdadeiro para os 
idosos - nunca ultrapassamos a necessidade de 
urn relacionamento significativo.IB 
Sullivan usava 0 termo "distorc;,:oes parata-
xicas" para descrever a propensao dos indivi-
duos a distorcer suas percepc;,:oes dos outros. 
Uma distorc;,:ao paratcixica ocorre em uma situa-
c;,:ao interpessoal quando uma pessoa nao se 
relaciona com outra com base em atributos 
realistas da outra, mas com base em uma per-
sonificac;,:ao que existe principalmente na fan-
tasia da pessoa. Embora a distor<;ao parataxica 
se assemelhe ao conceito de transferencia, ela 
difere em duas maneiras importantes. Em pri-
meiro lugar, seu alcance e mais amplo, referin-
do-se nao apenas a visao distorcida de urn in-
dividuo sobre 0 terapeuta, mas a todos os rela-
cionamentos interpessoais (incluindo, e claro, 
relacionamentos distorcidos entre membros do 
grupo). Em segundo lugar, a teoria de origem 
e mais arripla: a distorc;,:ao parataxica nao se 
constitui apenas na simples transferencia de 
atitudes para com figuras do passado para re-
lacionamentos contemporaneos, mas na dis-
tor<;ao da realidade interpessoal em resposta a 
necessidades intrapessoais. Usarei os dois ter-
mos de forma intercambiavel. Apesar das dife-
ren<;as de origem, a' transferencia e a distor<;ao 
parataxica podem ser consideradas identicas . 
no sentido operacional. Alem disso, muitos 
terapeutas atualmente utilizam 0 termo "trans-
ferencia" referindo-se a todas as distor<;oes in-
terpessoais, em vez de confinaI:'em seu uso ao 
relacionamento entre 0 paciente e 0 terapeuta 
(ver Capitulo 7). 
As distor<;oes da transferencia surgem a 
partir de urn con junto de memorias p.£.ofunda-
mente distorcidas de experiencias de interac;,:oes 
antigas. 19 Essas memorias contribuem para a 
constru<;ao de urn modele de trabalho interne 
que moIda os padroes de apego do individuo ao 
longo de sua vida.20 Esse modelo de trabalho 
interno, tambem conhecido como esquema,21 
consiste nas crenc;,:as do individuo sobre si mes-
mo, na maneira como ele entende pistas de re-
lacionamentos e no comportamento interpessoal 
que se segue - nao apenas 0 seu, mas 0 tipo de 
comportamento que ele evoca em outras pes-
soas.22 Por exemplo, e provavel que umajovem, 
ao crescer com pais depressiv~s e sobrecarrega-
dos, sinta que deve manter-se conectada e ape-
gada aos outros, que nao deve fazer exigencias 
e que deve suprimira sua independencia e su-
bordinar-se as necessidades emocionais das ou-
tras pessoas. Y A psicoterapia pode representar 
a prinleira oportunidade para rejeitar esse mapa 
interpessoal rigido e linIitante. 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 39 
As distorc;,:6es interpessoais (ou sejam, 
parataxicas) tendem a se autoperpetuar. Por 
exemplo, urn individuo com uma auto-imagem 
negativa e degradada pode, por proje<;§o ou 
desatenc;,:ao seletiva, perceber incorretamente 
que outra pessoa 0 trata de forma severa e 0 
rejeita. AMm disso, 0 processo ocorre porque 
esse individuo pode gradualmente desenvol-
ver maneirismos e trac;,:os comportamentais -
por exemplo, servilismo, antagonismo defen-
sivo ou condescendencia - que acabam fazen-
do com que os outros, na realidade, sejam se-
veros e 0 rejeitem. Essa seqiiencia costuma ser 
chamada de "profecia auto-realizavel" - 0 in-
dividuo preve que os outros responderao de 
uma dada maneira e entao, de maneira 
involuntaria, se comporta de modo a fazer com 
que isso aconte<;a. Em outras palavras, a cau-
salidade nos relacionamentos e circular, nao 
linear. A pesquisa interpessoal corrobora essa 
tese, demonstrando que as cren<;as interpes-
soais do indivfduo expressam-se em compor-
tamentos que tem um impacto previsfvel so-
bre as outras pessoas.23 
As distorc;,:oes interpessoais, na visao de 
Sullivan, sao principalmente modificaveis por 
valida<;ao consensual - ou seja, comparando-
se as avalia<;oes interpessoais do indivfduo com 
a de outras pessoas. A valida<;ao consensual e 
urn conceito particularmente importante na 
terapia de grupo. Com uma certa freqiiencia, 
urn membro do grupo altera suas distor<;6es 
ap6s compara-las com as visoes dos outros 
membros sobre algum incidente importante. 
Isso nos traz a visao de Sullivan do pro-
cesso terapeutico. Ele sugere que 0 foco ade-
quado de pesquisa em saude mental e 0 estu-
do de processos que ocorrem entre as pessoas 
ou que as envolvem.24 0 transtorno mental, ou 
a sintomatologia psiquiatrica em todas as suas 
manifesta<;6es variadas, deve ser traduzido em 
termos interpessoais e tratado dessa forma. 2S 
As psicoterapias atuais para muitos trans tor-
nos enfatizam esse principio.Y 0 "transtorno 
mental" tambem consiste em processos inter-
pessoais que sao inadequados a situac;,:ao so-
cial ou excessivamente complexos porque 0 in-
dividuo esta se relacionando com as outras 
pessoas, nao apenas como sao, mas em termos 
de imagens distorcidas baseadas em quem re-
40 IRVIN D. YAlOM 
presentam do passado. 0 comportamento 
interpessoal mal-adaptativo pode ser tambem 
definido por sua rigidez, extremismo, diston;ao, 
circularidade e sua aparente inescapabili-
dade.26 
Dessa forma, 0 tratamento psiquiatrico 
deve ser voltado para a corre~ao de diston;:5es 
interpessoais, possibilitando assim que 0 indi-
viduo leve uma vida mais abundante, partid-
pe e trabalhe em con junto com outras pessoas, 
obtenha satisfa<;ao interpessoal no contexto de 
reladonamentos interpessoais realistas e mu-
tuamente satisfatorios: "0 individuo atinge a 
saude mental ate 0 nivel em que esta ciente 
dos proprios relacionamentos interpessoais".27 
A cura psiquiMrica e a "expansao do self ate 
urn efeito tao decisive que 0 paciente, como 
ele se conhece, seja a mesma pessoa que se 
relaciona com os outroS".28 Embora suas cren-
<;as negativas basicas sobre si mesmo nao de-
sapare<;am totalmente com 0 tratamento, 0 tra-
tamento efetivo gera uma capacidade de do-
minio interpessoal,29 de modo que 0 paciente 
possa responder com urn repertorio ampliado, 
flexivel, empatico e mais adaptativo de com-
portamentos, substituindo ciclos viciosos com 
ciclos construtivos. 
Melhorar a comunica~ao interpessoal e 0 
foco de uma variedade de interven~5es 
psicoterapeuticas de grupos de pais e filhos que 
abordam transtomos de conduta e 0 compor-
tamento anti-social na infancia. A falta de co-
munica~ao das necessidades da crian<;a e das 
expectativas dos pais produz sentimentos de 
desamparo e falta de efetividade pessoal em 
crian~as e pais, levando a comportamentos de 
atua~ao por parte das crian<;as, bern como a 
respostas parentais que muitas vezes sao hos-
tis, depreciativas e inadvertidamente provoca-
doras.30 Nesses grupos, pais e filhos aprendem 
a reconhecer e corrigir cidos interpessoais mal-
adaptativos, pelo uso de psicoeduca~ao, reso-
lu~ao de problemas, treinamento em habilida-
des interpessoais, dramatiza~ao de papeis e 
feedback. 
Essas ideias - que a terapia e amplamen-
te interpessoal, tanto em seus objetivos quan-
to em seus meios - sao muito pertinentes na 
terapia de grupo. Isso nao significa que todos 
ou a maioria dos pacientes que entram em uma 
terapia de grupo pe~am explicitamente por aju-
da em seus relacionamentos interpessoais. Ain-
da assim, observei que os objetivos terapeuticos 
dos pacientes muitas vezes passam por uma 
mudan~a apos algumas sess5es. Seu objetivo 
inicial, 0 alivio do sofrimento, e modificado e 
finalmente substituido por novos objetivos, 
geralmente de natureza interpessoal. Por exem-
plo, os objetivos em buscar alivio da ansiedade 
ou da depressao podem ser modificados em 
aprender a se comunicar com os outros, ser 
mais confiavel e honesto com os outros, apren-
der a amar. Nas terapias de grupo breves, tal-
vez essa tradu~ao de preocupa~5es e aspira-
<;5es dos pacientes para quest5es interpessoais 
deva ocorrer mais cedo, na fase de avaliac;ao e 
prepara~ao ever Capitulo 10).31 
A mudan~ de objetivos do alivio do so-
frimento para a mudan~a no funcionamento 
interpessoal e urn passo inicial essencial no 
processo terapeutico dinamico, sendo tambem 
importante no pensamento do terapeuta. 0 
terapeuta nao pode, por exemplo, tratar a de-
pressao em si: a depressao nao sugere urn ins-
trumento terapeutico efetivo, uma base racio-
nal para. se examinarem os relacionamentos 
interpessoais, que, como espero dernpnstrar, e 
a chave para 0 poder terapeutico do grupo de 
terapia. Ii necessario, em primeiro lugar, tradu-
zir a depressao em termos interpessoais e entao 
tratar a patologia interpessoal subjacente. As-
sim, 0 terapeuta traduz a depressao em suas 
quest5es interpessoais - por exemplo, depen-
dencia pass iva, isolamento, subserviencia, in-
capacidade de expressar raiva, hipersensibili-
dade a separa~ao - e entao aborda essas ques-
toes interpessoais na terapia. 
A dedara~ao de Sullivan sobre 0 proces-
so geral e os objetivos da terapia individual e 
profundamente condizente com os objetivos da 
terapia de grupo interacional. Esse foco inter-
pessoal e relacional e urn dos pontos fortes que 
definem a terapia de grupo.! A enfase em 0 
paciente compreender 0 pass ado, 0 desenvol-
vimento genetico de posturas interpessoais mal-
adaptativas, pode ser menos crucial na terapia 
de grupo do que no cenario individual em que 
Sullivan trabalhava ever Capitulo 6). 
A teoria dos relacionamentos interpes-
soais tomou-se uma parte tao integral do teci-
do do pensamento psiquiatrico que nao preci-
sa ser mais enfatizada. As pessoas necessitam 
de pessoas - para sua sobrevivencia inicial e 
continua, para a socializa~ao, para a busca da 
satisfa~ao. Ninguem - nem os moribundos, nem 
os exdufdos, nem os poderosos - transcende a 
necessidade de contato humano. 
Durante os muitos anos em que conduzi 
grupos de individuos com alguma forma avan-
~ada de d\.ncer,32 observei repetidamente que, 
diante da morte, nao tememos tanto 0 nada 
ou 0 nao 'ser, mas a completa solidao que os 
acompanha. Os pacientes terminais podem ser 
assombrados por preocupa~oes interpessoais -
quanta a ser abandonados, por exemplo, e ate 
exduidos pelo mundo dos vivos. Uma mulher, 
por exemplo, planejou urn grande evento so-
cial e descobriu na manha anterior que 0 seu 
cancer, ate entao"supostamente controlado, 
havia desenvolvido metastases. Ela manteve a 
informa~ao em segredo e deu a festa, todo 0 
tempo com 0 horrfvel pensamento de que a 
dor de sua doen~a se tomaria tao insuportavel 
que ela se tomaria menos humana e, finalmen-
te, inaceitavelpara os outros. 
o isolamento dos mon'bundos muitas ve-
zes e uma faca de dois gumes. Os proprios pa-
cientes costumam evitar as pessoas de quem 
mais gostam, temendo que iraQ arras tar seus 
familiares e amigos para 0 pantano de seu de-
sespero. Assim, evitam conversas morbidas" 
desenvolvem uma fachada alegre e animada e 
guardam seus temores para si mesmos. Seus 
amigos e sua familia contribugm para 0 isola-
mento retraindo-se, nao sabendo como falar 
com urn moribundo, nao querendo incomoda-
10 ou se incomodarem. Concordo com Elizabeth 
Kubler-Ross, quando diz que a questao nao e 
se, mas como contar ao paciente, de maneira 
aberta e honesta, sobre sua doen~a fatal. 0 
paciente sempre e informado de forma dissi-
mulada que esta morrendo, por meio da atitu-
de e pelo afastamento dos viVOS.33 
Os medicos muitas vezes aumentam 0 iso-
lamento, mantendo pacientes com cancer avan-
~ado a uma distfmcia psicologica consideravel-
talvez para evitar sua sensac;ao de fracasso e 
PSICOTERAPIA DE GRUPO 41 
futilidade, talvez tambem para evitar 0 medo 
de sua propria morte. Eles cometem 0 erro de 
conduir que, afinal, nao ha nada que possam 
fazer. Ainda assim, do ponto de vista do pacien-
te, esse e exatamente 0 momento em que 0 
medico e mais necessario, nao por sua ajuda 
tecnica, mas pela simples presen~a humana. 0 
paciente precisa fazer contato, ser capaz de 
tocar outras pessoas, falar abertamente de suas 
preocupa~5es, ser lembrado de que nao esta 
apenas a parte, mas que tambem faz parte. As 
abordagens psicoterapeuticas estao come~an­
do a tratar dessas quest5es especificas dos 
doentes terminais - seu medo do isolamento e 
seu desejo de manter a dignidade em seus re-
lacionamentos.! Considere os individuos pros-
critos - individuos considerados tao acostuma-
dos com a rejei~ao que suas necessidades inter-
pessoais tomaram-se quase insensiveis. Pois 
esses individuos tambem tern necessidades so-
dais. Uma vez, tive uma experiencia em uma 
prisao que me proporcionou urn lembrete for-
~ado da natureza ubiqua dessa necessidade 
humana. Urn tecnico psiquiatrico sem forma-
~ao consultou-me a respeito de seu grupo de 
terapia, composto de 12 prisioneiros. Os mem-
bros do grupo eram todos reincidentes, cujas 
agress5es variavam de abuso sexual violento 
de urn menor a assassinato. 0 grupo, confor-
me ele se queixava, era lento e continuava se 
concentrando em material insignificante e ex-
temo. Concordei em observar 0 grupo e sugeri 
que, antes, obtivessemos algumas infonna~5es 
sociometricas, solicitando em particular que 
cada membro classificasse os outros membros 
do grupo quanta a sua popularidade gera!. (Eu 
esperava que a discussao dessa tarefa induzis-
se 0 grupo a voltar a aten~ao para si mesmo). 
Embora tivessemos planejado discutir os resul-
tados antes da sessao seguinte, circunstancias 
inesperadas nos for~ararri a cancelar nossa reu-
niao antes da sessao do grupo. 
Durante a proxima reuniao do grupo, 0 
terapeuta, entusiasmado, mas profissionalmen-
te inexperiente e insensfvel as necessidades 
interpessoais, anunciou que leria os resultados 
da pesquisa de popularidade. Ao ouvirem isso, 
os rnembros do grupo ficaram agitados e te-
merosos. Eles deixaram claro que nao queriam 
42 IRVIN D. YALOM 
saber os resultados. Varios membros falaram 
de forma tao veemente da devastadora possi-
bilidade de que pudessem aparecer no final da 
Iista que 0 terapeuta abandonou, nipida e per-
manentemente, 0 seu plano de ler a lista em 
voz alta. 
Sugeri urn plano alternativo para 0 pro-
ximo encontro: cada membro indicaria aquele 
ctljo voto mais Ihe interessasse e depois explica-
ria a sua escolha. Esse instrumento tambem foi 
amea~ador demais, e apenas urn ter~o dos 
membros aventurou-se a apresentar a sua es-
colha. Entretanto, 0 grupo mudou para urn ni-
vel de intera~ao e desenvolveu urn grau de ten-
sao, envolvimento e alegria antes desconheci-
do. Esses homens haviam recebido a mensagem 
de rejei~ao final da sociedade como urn todo: 
eles foram aprisionados, segregados e explicita-
mente rotulados como proscritos. Para urn ob-
servador casual, eles pareciam endurecidos, 
indiferentes as sutilezas da aprova<;ao e desa-
prova~ao interpessoais. Mesmo assim, eles se 
importavam, e se importavam profundamente. 
A necessidade de aceita~ao e intera~o com 
outras pessoas nao e diferente entre pessoas no 
polo oposto do destino humane - aquelas que 
ocupam os dominios do poder, do renome ou 
da riqueza. Vma vez, trabalhei com uma pacien-
te muito rica por tres anos. As principais ques-
toes giravam_em tomo do abismo que 0 dinhei-
ro criava entre ela e os outros. Sera que alguem 
a valorizava por si mesma, em vez de seu di-
nheiro? Sera que as pessoas a estavam explo-
rando? A quem ela poderia se queixar do fardo 
de uma fortuna de 90 milhoes de dolares? 0 
segredo de sua riqueza a mantinha isolada das 
outras pessoas. E os presentes! 'Como poderia 
ela dar presentes adequados, sem que os outros 
se sentissem decepcionados ou impressionados? 
Nao ha necessidade de se perder tempo nesse 
assunto, a solidao dos que sao muito privilegia-
dos e conhecimento comum. (A solidao, inci-
dentalmente, nao e irrelevante para 0 terapeuta 
de grupo. No Capitulo 7, discutiremos a solidao 
inerente ao papel de lider do grupo.) 
Todo terapeuta de grupo, estou certo dis-
so, ja encontrou membros que professem sen-
tir indiferen<;a ou desapego pelo grupo. E1es 
proclamam: "Nao me importo com 0 que di-
zem ou pensam. Eles nao significam nada para 
mim. Nao tenho respeito pelos outros mem-
bros", ou palavras do tipo. Minha experiencia 
tern sido de que se eu puder manter esses pa-
cientes no grupo por tempo suficiente, seus de-
sejos por contato inevitavelmente acabarao vin-
do a tona. Eles se preocupam com 0 grupo em 
urn nfvel muito profundo. Vma participante que 
manteve sua postura indiferente por muitos 
meses foi convidada a contar 0 seu segredo para 
o grupo, a questao que ela mais desejasse co-
locar diante do grupo. Para perplexidade de 
to dos, essa mulher aparentemente distante e 
desapegada colocou a seguinte questao: "Como 
voces conseguem me agiientar?" 
Muitos pacientes esperam pelas reunioes 
com muita avidez ou ansiedade. Alguns tam-
bern se sentem abalados demais para conse-
guirem voltar para casa dirigindo ou dormir 
naquela noite. Muitos tern conversas imagina-
rias com 0 grupo durante a semana. Alem dis-
so, esse envolvimento com outros membros 
costuma ser prolongado. Conhe~o muitos pa-
cientes que pensam e sonham com 0 grupo por 
meses, ate anos, apos 0 grupo ter acabado. 
Resumindo, as pessoas nao se sentem in-
diferentes para com os outros membros do gru-
po por muito tempo. E os pacientes nao aban-
donam grupos de terapia porque estao,entedia-
dos. Acredite em desprezo, raiva, medo, falta 
de estimulo, vergonha, panico, odio! Acredite 
em qualquer uma dessas op~oes, mas nunca 
acredite em indiferen~a! 
Em sintese, revisei alguns aspectos do 
desenvolvimento da personalidade, do funcio-
namento maduro, do psicopatologia e do trata-
mento psiquiatrico do ponto de vista da teo ria 
interpessoal. Muitas das questoes que levantei 
tern uma influencia vital no processo terapeu-
tico da terapia de grupo: 0 conceito de que a 
doen<;a mental emana de relacionamentos in-
terpessoais perturbados, 0 papel da vaJida<;ao 
consensual na modifica~ao de distor<;oes inter-
pessoais, a defini<;ao do processo terapeutico 
como uma modifica<;ao adaptativa para relacio-
namentos interpessoais, e a natureza duradou-
ra e a for<;a das necessidades sociais dos seres 
humanos. Voltemo-nos agora para a experien-
cia emocional corretiva, 0 segundo dos tres con-
ceitos necessarios para se compreender 0 fator 
terapeutico da aprendizagem interpessoal. 
A EXPERIENCIA EMOCIONAL CORRETIVA 
Em 1946, Franz Alexander, ao descrever 
o mecanisme da cura psicanalitica, introduziu 
o conceito da "experiencia emocional correti-
va". 0 principio basico do tratamento, disse, 
"e expor 0 paciente, sob circunstancias mais 
favoraveis,