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Dietoterapia no Diabetes Mellitus Paulo Carvalho de Paula Setembro, 2019 Diabetes mellitus (DM) é um importante e crescente problema de saúde para todos os países, independentemente do seu grau de desenvolvimento. Em 2015, a Federação Internacional de Diabetes (International Diabetes Federation, IDF) estimou que 8,8% da população mundial com 20 a 79 anos de idade (415 milhões de pessoas) vivia com diabetes. DEFINIÇÕES E EPIDEMIOLOGIA A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que glicemia elevada é o terceiro fator, em importância, da causa de mortalidade prematura, superada apenas por pressão arterial aumentada e uso de tabaco DEFINIÇÕES E EPIDEMIOLOGIA O cuidado nutricional em diabetes mellitus (DM) é uma das partes mais desafiadoras do tratamento e das estratégias de mudança do estilo de vida Um dos objetivos de se implementar o cuidado nutricional no diabetes é contribuir para um bom controle metabólico, a “pedra angular” do manejo do diabetes A terapia nutricional no diabetes mellitus tem relevância? Evidências científicas demonstram que a intervenção nutricional tem impacto significativo na redução da hemoglobina glicada (HbA1c) no DM2, após 3 a 6 meses de seguimento com profissional especialista, independentemente do tempo de diagnostico da doença Quando associado a outros componentes do cuidado em DM, o acompanhamento nutricional pode favorecer ainda mais os parâmetros clínicos e metabólicos decorrentes de uma melhor aderência ao plano alimentar prescrito A abordagem do manejo nutricional não deve ser somente prescritiva, mas apresentar caráter mais subjetivo, de olhar comportamental, colocando o individuo no centro do cuidado. Ao contrário do DM1, que não pode ser evitado, o DM2 pode ser retardado ou evitado por meio de modificações do estilo de vida, que incluem alimentação saudável e atividade física. As seguintes sociedades: enfatizam que o alcance das metas de tratamento propostas requer esforço da equipe de saúde, que e composta por educadores em diabetes e nutricionista especializado, e do individuo com diabetes ativamente envolvido no processo Os profissionais de saúde devem estimular os indivíduos com DM a integrar estratégias de estilo de vida que evitem ganho de peso ou promovam, quando necessário, perda de peso modesta e realista Não ha proporção ideal de nutrientes aplicável para o público diabético. Assim, macro e micronutrientes devem ser prescritos de forma individualizada Não ha proporção ideal de nutrientes aplicável para o público diabético. Assim, macro e micronutrientes devem ser prescritos de forma individualizada A ingestão dietética em pacientes com DM segue recomendações semelhantes àquelas definidas para a população geral, considerando-se todas as faixas etárias O controle do peso corporal é importante para todos os diabéticos, independente do tipo clínico ou de sua associação com outras patologias de cunho cardiovascular BALANÇO ENERGÉTICO BALANÇO ENERGÉTICO Reduzir a ingestão de calorias e modificar o estilo de vida podem beneficiar adultos com sobrepeso ou obesos com DM2 e, também, aqueles em risco de desenvolver diabetes Grau de recomendação: “A” BALANÇO ENERGÉTICO A redução moderada de peso, definida como a redução sustentada de 5% do peso corporal inicial, melhora o controle glicêmico e ameniza a necessidade de medicamentos que diminuem a glicose BALANÇO ENERGÉTICO Planejamento da perda de peso (diabéticos tipo 2 com sobrepeso ou obesos): - Déficit energético de 500 a 750 kcal/dia - Oferta energética: 1200 – 1500 kcal (mulheres); 1500 – 1800 kcal (homens) BALANÇO ENERGÉTICO Para muitos obesos com DM2, a perda de peso de 5% promove resultados benéficos quanto a controle glicêmico, lipídios e pressão arterial, sendo a perda de peso sustentada de ≥ 7% a ideal BALANÇO ENERGÉTICO Para muitos obesos com DM2, a perda de peso de 5% promove resultados benéficos quanto a controle glicêmico, lipídios e pressão arterial, sendo a perda de peso sustentada de ≥ 7% a ideal Parâmetros clínicos para critério diagnóstico de síndrome metabólica MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS A ingestão de carboidrato influencia diretamente os níveis de glicose pós-prandial, sendo ele o macronutriente de maior preocupação no manejo glicêmico Não existem evidências que estabeleçam uma proporção específica de carboidratos para indivíduos diabéticos MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Concentração de carboidratos Alguns estudos reforçam que dietas com baixo teor desse nutriente podem ser benéficas MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Concentração de carboidratos Outros estudos, porém, não verificaram diferença significativa no controle glicêmico de indivíduos em dieta reduzida de carboidratos vs ingestão mais elevada de carboidratos MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Concentração de carboidratos Baixa ingestão vs ingestão não reduzida É consenso que a monitoração da quantidade de carboidratos das refeições é estratégia útil para melhorar os níveis glicêmicos pós-prandiais MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Concentração de carboidratos Recomendação de carboidratos: 45 – 60% do VET MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Concentração de carboidratos Não é recomendado dietas com quantitativo de carboidratos < 130 g/dia (OMS, 2003) Glucose MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Concentração de carboidratos Associação entre a ingestão excessiva de carboidratos e um maior risco de mortalidade cardiovascular (67,7 a 77,2% do VET) MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Índice glicêmico e carga glicêmica Reduções de HbA1c de 0,2 a 0,5% foram demonstradas em alguns estudos, após a inclusão de dietas com baixo IG MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Índice glicêmico e carga glicêmica Algumas sociedades recomendam especificamente o uso de dietas de baixo IG como estratégia primária para o melhor controle do diabetes MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Índice glicêmico e carga glicêmica É consenso que a qualidade e a quantidade dos carboidratos consumidos afetam a resposta glicêmica É consenso que a observação do IG e da CG pode trazer benefícios adicionais quando o total de carboidratos da refeição é contabilizado Grau de recomendação: “B” MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Índice glicêmico e carga glicêmica Para diminuir a resposta glicêmica da ingestão dietética, alimentos com alto IG podem ser substituídos por alimentos de baixo IG, sobretudo quando consumidos de maneira isolada MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Índice glicêmico e carga glicêmica Sacarose e alimentos contendo sacarose não são proibidos para indivíduos com diabetes, uma vez que não aumentam a glicemia mais do que outros carboidratos, quando ingeridos em quantidades equivalentes. Pode ser inserida no contexto de uma alimentação saudável MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Índice glicêmico e carga glicêmica Se adicionada à refeição, a sacarose deve ser substituição de outras fontes de carboidratos Recomendação de sacarose (OMS, 2015): Até 5% do VET MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Índice glicêmico e carga glicêmica Preferência por alimentos in natura, e minimamente processados, e a moderação no consumo de alimentos processados e ultraprocessados devem ser prioridades para toda a população, com ou sem diabetes MACRONUTRIENTES: CARBOIDRATOS Índice glicêmico e carga glicêmica É consenso a importância de incentivar o consumo de carboidratos a partir de vegetais, frutas, grãos integrais, legumes e produtos lácteos, evitando fontes de carboidratos que contenham altas concentrações de gorduras, açúcares e sódio FIBRAS As fibras consumidas atuam de maneira diversa no controle do diabetes: Solúveis: benefícios na glicemia e no metabolismo dos lipídios Insolúveis: saciedade e controle do peso Ambas: preservação da saúde intestinal FIBRAS Principais fontes alimentares de fibrasFIBRAS Aveia, feijões, cevada, psyllium, entre outros, auxilia no retardo do esvaziamento gástrico, contribuindo positivamente para o controle glicêmico pós-prandial Grau de recomendação: “B” FIBRAS Após 12 semanas de consumo de 44 g de farinha da casca do maracujá, pacientes diabéticos e dislipidêmicos que foram suplementados tiveram redução dos níveis de glicose FIBRAS O consumo de fibras solúveis está associado a redução do colesterol da lipoproteina de baixa densidade (LDL-c) e do colesterol total Grau de recomendação: “A” Benefício de fibras solúveis para diabéticos dislipidêmicos FIBRAS Em 2015, recomendaram aumento do consumo de fibras pela população com diabetes, em comparação com a população geral. Recomendação de fibras: 30 – 50 g/dia (mínimo de 14 g/1000 kcal) FIBRAS O alcance dessa meta pelos pacientes deve ser, entretanto, planejado individualmente, uma vez que muitos não estão habituados ao consumo de fibras, o que pode ocasionar desconfortos gástricos e intestinais A recomendação da quantidade total de lipídios para diabéticos ainda é inconclusiva, devendo a meta ser individualizada MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS A distribuição desse macronutriente deve ser baseada, portanto, na avaliação individualizada e em padrões alimentares, preferências e metas metabólicas Grau de recomendação: “C” O estudo PREDIMED demonstrou benefícios significativos, com redução de doenças cardiovasculares, em indivíduos que receberam suplementos, por 5 anos, de azeite extravirgem (50 g/dia) ou nozes (30 g/dia) MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS Recomendação de lipídios totais: 20 – 35% do VET MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS A qualidade do tipo de ácido graxo fornecido parece ser mais importante do que a quantidade A quantidade de ácido graxo saturado, com o objetivo de reduzir o LDL-c em indivíduos com alto risco cardiovascular, deve ser < 6% do VET MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS Grau de recomendação: “A” A substituição de ácido graxo saturado por mono ou poli-insaturado pode ter resultados positivos sobre o HDL-c de alguns pacientes MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS Fontes de ácidos graxos saturados Carnes gordas Manteiga Óleo de dendê Leite e derivados integrais Embutidos MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS Uma dieta rica em ácido graxo monoinsaturado (consumo de ácido graxo monoinsaturado superior a 12% do VET) promove o controle glicêmico e reduz marcadores de risco cardiovascular Uma simples substituição de 5 a 10% do total de energia de carboidrato ou ácido graxo saturado por monoinsaturado promove resultados similares MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS Recomendação de ácidos graxos monoinsaturados: 5 – 15% do VET MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS O consumo de ácidos graxos omega-3 está associado a uma menor incidência de DM2 A suplementação de ácidos graxos poli-insaturados omega-3 pode reduzir as concentrações de triacilglicerois em indivíduos com DM2 MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS Suplementação de ácido graxo poli-insaturado ômega-3 pode modular resposta inflamatória e reduzir resistência à insulina MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS Não ha evidências que suportem a suplementação de ômega-3 em indivíduos com diabetes Grau de recomendação: “A” Consumo de duas ou mais porções de peixes por semana, com exceção dos fritos, pode ser recomendado Grau de recomendação: “B” MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS A ADA indica o consumo de ácido graxo omega-3 por óleo de peixe, oleaginosas ou DHA MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS Recomendação de ácidos graxos poli-insaturados: completar de forma individualizada MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS Não ha evidência suficiente que corrobore uma diminuição do LDL-c provocada pela redução do consumo de colesterol dietético Recomendação de colesterol: < 300 mg/dia, evitando ao máximo o consumo de gordura trans MACRONUTRIENTES: LIPÍDIOS Fontes de gordura trans Frituras Tortas/bolos Fast-foods Biscoitos Pipoca MACRONUTRIENTES: PROTEÍNAS Não ha evidências de que a ingestão proteica usual para a maioria dos indivíduos (1 a 1,5 g por kg de peso corporal/dia) precise ser modificada para aqueles com diabetes e função renal preservada A prescrição de proteína deve ser individualizada, considerando-se o diagnóstico nutricional e o controle glicêmico MACRONUTRIENTES: PROTEÍNAS Recomendação de proteínas: 15 – 20% do VET MACRONUTRIENTES: PROTEÍNAS Algumas pesquisas sugerem o aumento da ingestão usual de proteínas para 1,5 a 2 g/kg, ou 20 a 30% do VET, durante o processo de redução de peso em pacientes com sobrepeso e obesos com DM2 e função renal preservada MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS A deficiência de vitaminas e minerais é frequente em indivíduos com diabetes As principais causas são: - Perdas na urina - Diminuição da capacidade intestinal de absorção - Ingestão dietética baixa MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS Para atingir as necessidades diárias de vitaminas e minerais, indivíduos com diabetes devem ter um plano alimentar variado, com o consumo mínimo de duas a quatro porções de frutas, sendo pelo menos uma rica em vitamina C (frutas cítricas), e de três a cinco porções de hortaliças cruas e cozidas. MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS É importante variar os tipos e as cores desses vegetais, pois cada cor corresponde a um perfil nutricional especifico Grau de recomendação: “A” Recomendação de vitaminas: a mesma para a população geral MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS Estudos mostram benefícios de alimentos funcionais com potenciais efeitos antioxidantes, tais como café, chá, cacau e canela. MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS Experimentalmente, a modulação do estresse oxidativo por antioxidantes parece ter resultado positivo, mas estudos de intervenção não recomendam suplementação de antioxidante com o único propósito de prevenir o DM2 A suplementação rotineira de antioxidantes não é aconselhável pela falta de evidências sobre a eficácia e pela preocupação relacionada com a segurança a longo prazo Grau de recomendação: “A” MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS Uma das prováveis causas da neuropatia diabética é a deficiência de vitamina B12 O uso prolongado de metformina pode causar a deficiência dessa vitamina, sendo necessária a suplementação com doses terapêuticas MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS A deficiência de vitamina D também é evidente em indivíduos com diabetes e está relacionada com o mau controle glicêmico Vitamina D ↑ sensibilidade à insulina ↑ secreção de insulina ↓ estado inflamatório MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS Não há evidências suficientes quanto ao benefício da suplementação de vitaminas e minerais em indivíduos com diabetes que não apresentem deficiência desses nutrientes Grau de recomendação: “A” MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS Com relação aos minerais, as deficiências são mais evidentes no metabolismo do zinco e do magnésio Essas alterações parecem estar relacionadas com aumento das concentrações de HbA1c, progressão do diabetes e complicações MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS Um estudo mostrou que a ingestão abundante de óleo de peixe, incluindo omega-3 e zinco, pode exercer efeitos anti-ateroscleróticos por meio do aumento dos níveis séricos de HDL-c. MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS Suplementação de magnésio por via oral durante 4 a 16 semanas pode ser eficaz na redução das concentrações plasmáticas de glicose em jejum, além de aumentar o HDL-c em pacientes com DM2 MICRONUTRIENTES: VITAMINAS E MINERAIS A suplementação de micronutrientes não deve ser prática rotineira, pois precisa ser individualizada conforme sua deficiência Mais estudos são necessários para comprovar os reais efeitos da suplementação e avaliar possíveis efeitos colaterais Grau de recomendação: “A” MICRONUTRIENTES: SÓDIO Para indivíduos com diabetes, deve-se limitar o consumo de sódio em < 2.300 mg/dia, embora restriçãoadicional possa ser indicada àqueles com hipertensão arterial e diabetes MICRONUTRIENTES: SÓDIO Recomendação de sódio: até 2000 mg/dia
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