Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 1 PEDIATRICO O comprometimento do sistema respiratório é uma das principais causas de atendimento a crianças nos serviços de emergência, com a gravidade variando desde quadro leve e autolimitado até doença fatal. A população pediátrica é particularmente suscetível a desenvolver distúrbio respiratório de maior gravidade, em decorrência de diversos fatores inter-relacionados que favorecem essa evolução, que vão desde peculiaridades anatômicas a características fisiológicas e imunológicas. Além disso: → As crianças possuem uma complacência torácica aumentada. → Há uma diferença no tórax da criança (barril) para o do adulto. → As costelas são cartilaginosas e horizontais. → O esterno não é ossificado totalmente. → Os músculos estão em desenvolvimento e elas tem poucas fibras tipo I. → As funções musculares intercostal e diafragmática menos maduras, favorecendo a exaustão. → Quanto menor a idade, mais elevada é a frequência respiratória. → O pequeno diâmetro das vias aéreas, que produz mais tendência à obstrução. → Os pulmões com menos elastina nas crianças pequenas, levando à diminuição na propriedade de recolhimento elástico, com consequente diminuição na complacência. → O sistema imunológico em desenvolvimento, favo recendo as infecções. → E eles possuem uma incoordenação do sono REM (no sono profundo as vezes tem pausas na respiração, depois respiram mais acelerado...) → Além disso, as crianças possuem uma resistência aumentada da via aérea. Quanto mais a criança é pequena, mais ela respira de forma abdominal, em que estufa bem a barriga e utiliza bem o diafragma. Existe também algumas outras diferenças anatômicas importantes na criança, tais como: Disponível em: https://fortius.com.br/resumo- do-curso-dns-clinico-a-parte-1/ Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 2 É importante saber diferenciar uma insuficiência respiratória, uma angustia respiratória e uma falência respiratória: A angustia respiratória é quando ainda não houve um comprometimento de trocas gasosas. É uma condição clínica caracterizada por sinais e sintomas de padrão respiratório anormal, como elevação de frequência respiratória (taquipneia) e aumento de esforço respiratório (por exemplo, retrações intercostais). Se há um comprometimento da troca gasosa, a insuficiência respiratória está instalada. É a incapacidade dos pulmões em fornecer oxigênio suficiente ou remover o dióxido de carbono para atender às demandas metabólicas do organismo. A angústia respiratória é considerada um estado de compensação no qual o paciente mantém as trocas gasosas adequadas a partir do aumento do trabalho e da frequência respiratória. Quando a criança entra em exaustão ou apresenta piora da função respiratória que não pode ser compensada, instala-se a insuficiência respiratória. OBS: Na situação de deterioração, seja pela história natural da doença ou pelo atraso ou ausência de tratamento, o paciente entra no estágio de falência cardiopulmonar que antecede a parada cardiorrespiratória. A falência cardiopulmonar pode ser conceituada como insuficiência respiratória associada a choque, que requer intervenção imediata para evitar parada cardiorrespiratória. OBS: os problemas respiratórios podem ou não evoluir nessa sequência relatada, dependendo da história natural da doença e do tratamento instituído. Além disso, em algumas situações a insuficiência respiratória pode se instalar de forma abrupta sem ser precedida pela angústia respiratória, como na obstrução de via aérea por corpo estranho. TIPOS DE INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA A insuficiência respiratória pode ser classificada pela fisiopatologia subjacente ou duração do processo. A classificação fisiopatológica baseia-se no conteúdo de O2 e CO2 no sangue arterial. Ela pode ser: Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 3 HIPOXÊMICA (Tipo I): A insuficiência respiratória hipoxêmica (oxigenação inadequada) é definida como a pO2 arterial < 60 mmHg em ar ambiente. Ocorre quando uma determinada alteração das trocas gasosas pulmonares, ou mesmo uma associação destas, é suficiente para causar hipoxemia. A hipoxemia decorre dos seguintes mecanismos: desequilíbrio da relação ventilação-perfusão (V/Q). HIPERCÁPNICA (Tipo II): A insuficiência respiratória hipercápnica (ventilação inadequada) é definida como a pCO2 arterial > 50 mmHg, sendo importante ressaltar que as duas formas podem coexistir como uma falha combinada de oxigenação e ventilação. Na avaliação por critério de tempo, a insuficiência respiratória é classificada em aguda quando as alterações são de início recente (horas ou dias) e crônica quando as alterações desenvolvem-se ao longo de semanas ou anos. No quadro agudo os mecanismos compensatórios fisiológicos ainda não ocorreram, produzindo desequilíbrio acidobásico. Já nos quadros crônicos os mecanismos compensatórios, têm tempo para atuar, melhorando o transporte de O2 (aumento dos níveis de hemoglobina para carrear mais O2) e compensando a acidemia respiratória (aumento dos níveis de bicarbonato através dos rins). Um outro ponto anatômico importante de ser compreendido é que tudo que pega da laringe para cima é via aérea alta (superior), e o que pega da laringe para baixo é via aérea baixa (inferior). E na insuficiência respiratória também é dividida dessa forma a depender de onde esteja a causa. Sendo assim, a depender do fator causal, ela pode ser uma insuficiência respiratória alta ou baixa. É importante saber: Hipoxemia é a baixa (hipo) concentração de oxigênio no sangue arterial. É diferente de hipóxia, que é a baixa disponibilidade de oxigênio para determinado órgão, o que pode ocorrer mesmo na presença de quantidade normal no sangue arterial, como no infarto agudo do miocárdio ou no acidente vascular cerebral. Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 4 AVALIAÇÃO A avaliação inicial do paciente com comprometimento respiratório, como de qualquer condição clínica potencialmente grave, pode ser feita por meio da abordagem sistemática proposta pelo Suporte Avançado de Vida em Pediatria da American Heart Association, que utiliza a regra mnemônica ABCDE. AVALIAÇÃO DA VIA AÉREA O objetivo é determinar se a via aérea superior está patente, com o paciente sendo classificado como tendo uma via aérea livre ou obstruída. A avaliação consiste da observação dos movimentos do tórax e abdome, da ausculta dos ruídos dos sons respiratórios e da movimentação do ar e da sensação de fluxo de ar através do nariz e boca. São considerados sinais sugestivos de obstrução de via aérea superior a alteração da voz (rouquidão), o estridor (geralmente inspiratório, mas pode ser bifásico), o ronco inspiratório e os episódios de esforço respiratório não acompanhados de sons respiratórios ou de sensação de fluxo de ar através do nariz e boca, além do batimento da asa do nariz. O desempenho respiratório é avaliado com base na análise da frequência respiratória (FR), esforço respiratório, entrada de ar, sons respiratórios e oximetria de pulso. A FR deve ser avaliada antes da manipulação da criança, pois a ansiedade e a agitação provocadas pelo exame físico podem alterar a frequência basal. A FR é inversamente proporcional a idade, então quanto maior a idade, menor é a FR. E suas anormalidades são classificadas em taquipneia (FR mais rápida do que a normal para idade), bradipneia (FR mais lenta do que a normal para idade) e apneia (cessação da respiração por 20 segundos ou menos se acompanhada de bradicardia, cianose ou palidez). Os sinais de esforço respiratório representam a tentativa do paciente de compensar a piora da troca gasosa, por meio do aumento do trabalho respiratório. A observação de elevado número ou de determinados sinais de esforço respiratório está geralmente associadaà maior gravidade do comprometimento respiratório. Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 5 ENTRDA DE AR A análise da entrada de ar nos pulmões é uma das formas de avaliar clinicamente a ventilação do paciente, sendo caracterizada pela observação da expansão da parede torácica e da ausculta da movimentação distal do ar. A expansão torácica e/ou a movimentação distal do ar diminuídas podem ser consideradas um sinal de ventilação inadequada, enquanto a assimetria da entrada de ar pode ser um sinal de processo patológico unilateral como atelectasias, pneumotórax ou derrame pleural. SONS RESPIRATÓRIOS E AUSCULTA RESPIRATÓRIA Os sons respiratórios anormais podem auxiliar no diagnóstico do tipo de problema respiratório, por geralmente estarem associados a determinadas alterações no sistema respiratórios. É importante diferenciar os sons auscultados pois isso pode indicar se é alguma obstrução de via aérea superior, ou outra cousa de insuficiência ou angustia respiratória Toda vez que tiver sibilo, há comprometimento da via aérea superior (insuficiência baixa). Estridor indica comprometimento da via aérea superior (insuficiência alta). E Crepitação indica problema em parênquima (pneumonia, edema pulmonar, covid...) Alterações em outros sistemas orgânicos podem ser constatadas quando ocorre comprometimento respiratório. Na avaliação do sistema circulatório podem estar Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 6 presentes palidez cutânea, cianose, extremidades frias, taquicardia e bradicardia.7 Na avaliação neurológica podem ser observadas agitação, ansiedade, irritabilidade e rebaixamento de nível de consciência OXIMETRIA DE PULSO Em condições ótimas, a cianose central é verificada apenas quando a saturação de oxigênio (Sat.O2) encontra-se por volta de 75%. Com isso, em todo paciente com angústia respiratória o médico deve mensurar a oximetria de pulso. Valores de Sat.O2 ≥ 94% quando mensurados em pacientes em ar-ambiente geralmente indicam oxigenação adequada. Entretanto, é importante destacar que a oximetria de pulso apresenta algumas limitações. A Sat.O2 pode estar artificialmente elevada quando a concentração de carboxi-hemoglobina está alta (por exemplo, inalação de fumaça), diminuída artificialmente na presença de corantes intravenosos (por exemplo, azul de metileno) e diminuída ou aumentada nas concentrações elevadas de meta-hemoglobina. Também não é confiável para pacientes com perfusão tecidual diminuída (choque, hipovolemia ou hipotermia) devido à detecção de sinal fraco. EXAMES COMPLEMENTARES Além dos exames específicos para cada tipo de doença que pode comprometer o sistema respiratório, a radiografia de tórax e a gasometria arterial são exames complementares disponíveis na maioria dos serviços de urgência e de fácil realização e que podem auxiliar no diagnóstico preciso do comprometimento respiratório do paciente. A radiografia de tórax é uma importante ferramenta utilizada para confirmar um diagnóstico de pneumonia, edema pulmonar, pneumotórax ou derrame pleural. A gasometria arterial avalia com precisão a extensão da hipoxemia ou hipercapnia e auxilia na diferenciação entre insuficiência respiratória aguda e crônica ETIOLOGIA Os problemas do sistema respiratório podem ser classificados em tipos sindrômicos de acordo com a localização da doença envolvida. Podemos classificar os problemas respiratórios em: obstrução de via aérea superior, obstrução de via aérea inferior, doença do tecido pulmonar e alteração do controle da respiração. Enquanto alguns sinais de angústia respiratória podem ocorrer na maioria dos tipos de problemas respiratórios (por exemplo, taquipneia), outros sinais são geralmente associados a determinados tipos, auxiliando na classificação. Por exemplo, um paciente com taquipneia e sibilos expiratórios provavelmente apresentará uma obstrução de via aérea inferior intratorácica como causa do problema respiratório. As causas podem ser devido a: PATOLOGIAS PULMONARES: Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 7 Em que a insuficiência respiratória ou angustia pode ocorrer devido a: As patologias pulmonares podem ser obstrutivas: tendo obstrução da via aérea superior, ou inferior. E também há as doenças restritivas, que comprometem por exemplo o parênquima pulmonar (como covid, pneumonia...) CAUSAS MECÂNICAS Essas causas podem ser torácicas – derrame pleural, pneumotórax, coisas que deixa a caixa torácica comprometida... E também causas que estão relacionadas com o abdômen, como tumores, hemorragias, obstrução do trato gastro intestinal que podem comprometer a troca gasosa. CAUSAS METABÓLICAS CAUSAS DE TRANSPORTE DE GASES AOS TECIDOS CAUSAS NEUROLÓGICAS Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 8 Já as casas neurológicas podem ser centrais ou periféricas. Periféricas quando compromete raiz nervosa, nervo... e central em infecções, traumas, epilepsia, encefalopatia... CONDUTA E TRATAMENTO O manejo proposto dependerá da classificação do paciente quanto ao grau de comprometimento respiratório e ao tipo de problema respiratório. O manejo do comprometimento respiratório tem como objetivo: a) Garantir a patência e a sustentabilidade da via aérea superior; b) Dar suporte para oxigenação e ventilação adequadas. A terapêutica necessária para esses objetivos dependerá do grau do comprometimento; e a quantidade e complexidade das medidas aumentam com a piora da condição clínica do paciente. VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 9 A ventilação não invasiva (VNI) refere-se ao fornecimento de suporte respiratório mecânico sem o uso de intubação endotraqueal. Pode ser indicada nas situações em que a IRA é reversível em um período de tempo relativamente curto.14 Nesse cenário, o objetivo é maximizar a função pulmonar até reverter a causa precipitante. Esse suporte ventilatório tem a meta de “ganhar tempo”, ao reduzir a carga sobre os músculos respiratórios pelo aumento da ventilação, poupando, com isso, o esforço respiratório do paciente e melhorando a troca gasosa antes que ocorra exaustão. Por não necessitar de intubação endotraqueal, a VNI evita alguns riscos relacionados ao procedimento e à utilização de ventilação mecânica invasiva, como trauma da via aérea superior, edema de laringe, disfunção de corda vocal pós-extubação, infecção nosocomial, mais utilização de sedativos e de agentes bloqueadores neuromusculares. Existem alguns tipos de cateteres, mascaras e aparelhos para que essa ventilação mecânica possa ser feita, tais como: BPAP/CPAP As máquinas de CPAP são configuradas com uma única pressão, enquanto as máquinas BiPAP são programadas com duas pressões distintas, uma para inalar e outra para expirar. A Máscara Não Reinalante é um dispositivo muito utilizado em salas de emergência e UTI, onde a princípio compõem por uma máscara facial com duas portas de exalações, uma delas contendo uma válvula unidirecional. É utilizada principalmente do trauma (quando a intubação não está indicada) e em situação de emergência clínica em que há uma hipoxemia moderada-grave que não conseguiu ser revertida com cânula e que ainda não há uma indicação de intubação ou ventilação-não-invasiva. A Máscara Venturi é indicada para fornecer oxigênio em fluxos programados, evitando dosagens nocivas e facilitando o desmame do oxigênio. Destinado ao uso individual do paciente. Possui um sistema de válvulas para diferentes concentrações de Fração Inspirada de Oxigênio (FiO2) Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 10 INTUBAÇÃO ENDOTRAQUEAL E VENTILAÇÃO MECÂNICA INVASIVA A intubação nunca deve ser uma primeira escolha, a não ser que tenha perda do nível de consciência, obstruçãode via aérea. Mas sempre é importante tentar primeiro fazer oxigenação, aumentar essa oxigenação e consequentemente, saturação. Algumas das indicações para intubação são: → Inabilidade de oxigenação e ventilação adequados. → Potencial risco com obstrução de via aérea → Nível de consciência (Glasgow < 9) → Parâmetros gasométricos com: pO2 < 60 mmHg (FiO2 maior ou igual 0,6) e/ou um PH < 7,2 devido a elevação da pCO2 (não responsiva a medidas terapêuticas adotadas). → Há um cálculo importante também para se avaliar a indicação de intubação que é feito da seguinte forma: pO2 / FiO2 > 300 (normal) Por exemplo, uma pessoa com pO2 de 95, com uma FiO2 de 25%, o calculo vai ser feito 95/0,25 que da 380. LEMBRETE: FiO2 - fração inspirada de oxigênio; PaO2 - pressão arterial de oxigênio; SaO2 - saturação arterial de oxigênio; SpO2 - saturação periférica de oxigênio; FR – freqüência respiratória; FC - freqüência cardíaca. pCO2 – é a pressão parcial de gás carbônico. OBS: quando há uma insuficiência respiratória e ocorre uma acidificação do sangue, o sistema tampão tenta fazer uma compensação para a eliminação do ácido, com isso, o rim libera bicarbonato. O pulmão faz uma hiperventilação, para que seja feita uma alcalose respiratória com a intenção de eliminar CO2. Habilidades Médicas V | Larissa Gomes de Oliveira. 11 REFERÊNCIAS FONSECA, Jaisson Gustavo., Et al. Avaliação e manejo inicial da insuficiência respiratória aguda na criança. Rev Med Minas Gerais. 2013; 23(2): 196-203
Compartilhar