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1 Julia Florenzano Soares – GT 6 PNEUMO PNEUMOCONIOSES Definição Doenças intersticiais causadas pela inalação de partículas inorgânicas (sílica, asbesto, pó de carvão) Fisiopatologia geral A gravidade e a evolução da doença dependem da forma, do tamanho (diâmetro aerodinâmico) e da quantidade de partículas inaladas, do tempo de exposição e do potencial fibrogênico do material inalado. As partículas mais deletérias são aquelas com 1 a 5 µm de diâmetro, pois podem alcançar as regiões mais distais do parênquima pulmonar (bronquíolos respiratórios, ductos alveolares e alvéolos). As partículas maiores que 10 µm de diâmetro são retidas pelo sistema mucociliar e as menores de 1 µm são em geral expiradas. Poeiras inaladas são retidas nas vias aéreas inferiores produzindo inflamação e fibrose. Os macrófagos alveolares constituem o primeiro mecanismo de defesa celular, que atua por meio da liberação de mediadores inflamatórios e do recrutamento de outras células. O resultado do processo inflamatório crônico é uma fibrose progressiva e irreversível. Diagnostico Avaliar quadro clínico, tipo de ocupação e tempo de exposição. Sintomas respiratórios mais frequentes: Tosse produtiva Dispneia Chiado Ao exame físico, observar a presença de: Baqueteamento digital (indicativo de hipóxia prolongada e doença avançada) Cianose (doença avançada) Exames complementares: Radiografia de tórax PA e perfil: Vão ser detectadas opacidades que: Quando pequenas e arredondadas à indicam silicose ou pneumoconiose do minerador de carvão. Quando pequenas e lineares à indicam asbestose. Espirometria: padrão restritivo é indicativo de pneumoconiose. Tomografia computadorizada Tratamento Não há tratamento específico para a doença. Entretanto, é possível reduzir a progressão da doença por meio de reabilitação pulmonar. 2 Julia Florenzano Soares – GT 6 PNEUMO O paciente deve ser afastado da ocupação. Utiliza-se oxigenioterapia nos casos de hipóxia Tratamento preventivo: vacinação contra influenza e pneumocócica As três principais pneumoconioses são: Silicose, Asbestose e Pneumoconiose de Mineradores de Carvão. Asbestose Asbesto (amianto) é um termo genérico utilizado para descrever vários silicatos minerais diferentes. A asbestose é uma doença fibrosante intersticial difusa dos pulmões e está diretamente relacionada com a intensidade e a duração da exposição. Essa doença é semelhante às outras formas de fibrose intersticial difusa. Em geral, a exposição ocorre por pelo menos 10 anos antes que a doença se manifeste. Ocupação relacionada: Mineração, moagem, manufatura, construção marítima, empresas construtoras (como montagem de tubulação). As doenças associadas à manipulação de asbestos são: a) placas fibrosas pleurais; b) fibrose pulmonar (asbestose); c) mesotelioma; d) carcinoma broncopulmonar; e) carcinoma da laringe Fisiopatologia: As fibras de asbesto são inaladas e devido ao seu diâmetro aerodinâmico, atingem com grande facilidade o trato respiratório inferior. A deposição de fibras de asbesto atrai macrófagos alveolares, que induzem uma reação inflamatória imediata. Essa reação produz edema de células alveolares, seguida por alveolite descamativa, espessamento das paredes alveolares e obliteração de alvéolos por feixes de colágeno. Durante o processo fibrótico, surgem corpos de asbesto e placas de fibrose pleural. Essas placas pleurais podem ser vistas no RX. Histologicamente: caracteriza-se nas fases iniciais por inflamação com fibrose em torno de bronquíolos de pequeno calibre. Com o progredir da doença, os pulmões são envolvidos por fibrose intersticial difusa, de padrão inespecífico, que acomete preferencialmente os lobos inferiores. Apresentação clínica: geralmente se dá com tosse seca e dispneia ao esforço. Exame físico: geralmente revela estertores basais na ausculta pulmonar e baqueteamento digital. Radiografia de tórax: mostra doença pulmonar intersticial basal, com ou sem alterações pleurais adicionais, como descrito anteriormente. A característica principal da asbestose na radiografia de tórax é a presença de opacidades irregulares ou lineares que em geral são primeiramente notadas em campos pulmonares inferiores Os testes de função pulmonar mostram doença pulmonar restritiva. 3 Julia Florenzano Soares – GT 6 PNEUMO O tratamento farmacológico não é eficaz e a doença pulmonar pode progredir para fibrose em fase terminal. O tratamento é de suporte, incluindo oxigênio suplementar e consideração para o transplante de pulmão Complicações: Mesotelioma pleural (pode ocorrer até mesmo em exposições relativamente curtas - 1 a 2 anos); câncer de pulmão Exames complementares: - Radiografia de tórax - Espirometria - TC de alta resolução (melhora a detecção da abestose) A radiografia frontal de tórax mostra placas pleurais calcificadas bilaterais compatíveis com doença pleural associada ao asbesto. Nos lobos inferiores dos dois pulmões, podem ser observadas anormalidades lineares e reticulares maldefinidas A tomografia computadorizada de alta resolução do tórax no plano axial, obtida nos campos pulmonares inferiores, mostra um padrão reticular subpleural (setas pretas), que reflete a doença pulmonar fibrótica causada pela asbestose. Pneumoconiose de mineradores de carvão Ocupação relacionada: Mineração de carvão, a escavação de túneis, o escoramento dos túneis e a retirada das rochas são exemplos de atividades produtoras de poeira, que fazem com que os trabalhadores envolvidos tenham acesso a uma grande massa inalada de partículas de carvão. Fisiopatologia: 4 Julia Florenzano Soares – GT 6 PNEUMO - As partículas de poeira proveniente do carvão são inaladas e, ao chegarem na via aérea inferior, são fagocitadas por macrófagos alveolares, que circundam os bronquíolos respiratórios, formando nódulos antracóticos. Estes tendem a aumentar com o tempo de exposição. O carvão em si possui baixo potencial fibrogênico. - Esta apresentação da doença é conhecida como forma benigna (PMC simples), sem alteração na função pulmonar, sendo caracterizada histologicamente por aglomerados de macrófagos alveolares contendo pigmento de carvão, conhecidos como máculas. - Em alguns indivíduos, esse comportamento "benigno" é substituído por uma doença de evolução muito mais agressiva (PMC complicada), conhecida como fibrose progressiva maciça, em que se forma fibrose intensa e surge grave comprometimento funcional dos pulmões. Apresentações clinicas: Tosse com escarro, dispneia Exames complementares: - Radiografia de tórax: opacidade nodular (menor que 1cm = forma benigna; maior que 1cm = forma complicada). OBS: síndrome de coplan: primeiramente descrita em mineradores de carvão e depois em pacientes com silicose, é a combinação de nódulos de pneumoconiose e artrite reumatoide soropositiva. Silicose Doença pulmonar causada pela inalação da forma cristalina de dióxido de silício, principalmente o quartzo. A mais freqüente das pneumoconioses. 5 Julia Florenzano Soares – GT 6 PNEUMO Ocupação relacionada: mineração; corte de pedras; jato de areia; produção de vidro e cimento; trabalho em fundições; empacotamento do pó de sílica; e extração e lavra de rochas, principalmente granito. Na maioria dos casos, a fibrose pulmonar causada por exposição à sílica (silicose) segue um padrão de dose-resposta após muitos anos de exposição. Fisopatologia: Uma vez inaladas, as partículas de sílica depositam-se principalmente nos bronquíolos respiratórios e alvéolos. Se o clearance mucociliar ascendente e linfático não for capaz de remover as partículas, elas acabam por induzir um processo inflamatório, caracterizado inicialmente como uma alveolite,podendo evoluir para a fase de fibrose. - Fase inicial: as partículas de sílica induzem, por contato direto de sua superfície com a água e lipoproteínas da camada do revestimento bronquioloalveolar ou pela ativação de macrófagos e de células epiteliais, a formação de radicais livres. Caso ocorra de geração destes radicais em quantidades que superem os mecanismos de defesa antioxidantes, pode haver lesão de células epiteliais tipo I, aumento da ativação de macrófagos e indução de proliferação de células epiteliais tipo II. - Este processo, se mantido pela persistência da inalação de partículas, amplia-se com a liberação de enzimas proteolíticas, geração de mais espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio e pela liberação de citocinas inflamatórias como o fator de necrose tumoral α, o fator de transformação de crescimento - β, interleucina 1 e a proteína inflamatória de macrófago. Estas substâncias recrutam macrófagos, neutrófilos e linfócitos, dando origem à alveolite e consequente perda da integridade da barreira epitelial, ocorrendo a intersticialização das partículas, com o que elas estimulam macrófagos e a proliferação de fibroblastos, ampliando assim o processo inflamatório no interstício. - O resultado final é o aumento incontrolado da proliferação de fibroblastos e da produção de colágeno, com resultante fibrose intersticial. Resumindo: Ao ser fagocitado pelos macrófagos, existe quebra da estrutura do SiO2, que, hidrolisado, gera SiOH, este muito tóxico para as células fagocitárias. Ativação persistente de macrófagos e quimiotaxia de novas células fagocíticas para o território alveolar geram uma espiral inflamatória que ativa mecanismos de fibrose local. Nesse processo, estão envolvidos o fator de crescimento de transformante beta (TFG-β), fator de crescimento derivado de plaquetas (PDGF) e fibronectina. Inicialmente, as partículas inaladas de sílica evocam a formação de pequenos nódulos, que, com o tempo, formam áreas de fibrose nodular coalescente, mais frequentes nos lobos superiores. Formas de manifestação clínica e patologia: Existem três formas de apresentação clínica da doença: a) Aguda (proteinose alveolar silicótica): Ocorre geralmente após meses ou poucos anos de exposição elevada a partículas de sílica. Habitualmente, há rápida evolução para o óbito. Manifesta-se com quadro de intensa dispnéia, astenia, perda de peso e hipoxemia. 6 Julia Florenzano Soares – GT 6 PNEUMO Apresenta como achados na radiografia padrão de infiltrado alveolar bilateral, com distribuição difusa e, na tomografia de alta resolução, padrão de opacidade em vidro fosco, espessamento septal liso nas áreas alteradas e imagem de condensação com distribuição geográfica ou regional. b) Acelerada: É a forma de silicose cujo período de manifestação ocorre entre as formas aguda e crônica, geralmente após um período de exposição de cinco a dez anos. As manifestações clínicas e por imagem são semelhantes a forma crônica c) Crônica É a forma de apresentação mais comum e geralmente ocorre após mais de dez a quinze anos de exposição ou de latência. Tem evolução insidiosa, sendo inicialmente assintomática, e pode evoluir com sintomas de dispnéia progressiva. Com o avançar do processo fibrótico, desenvolve sintomas típicos de cor pulmonale. O exame de imagem apresenta, nos estágios iniciais, infiltrado micronodular bilateral, com predomínio nas zonas pulmonares superiores, poupando os seios costofrênicos. Com o progredir da doença, pode ocorrer a coalescência dos nódulos e a formação de grandes opacidades, geralmente bilaterais, recebendo a condição a denominação de fibrose maciça progressiva Alterações funcionais: - Podem não apresentar alterações funcionais nas fases iniciais, evoluindo para um padrão obstrutivo, restritivo ou misto. Nos casos mais avançados de fibrose, ou na presença de enfisema, há importante redução da capacidade de difusão de monóxido de carbono. - Na forma aguda, predomina o padrão restritivo e nas formas crônicas, o obstrutivo, em geral pouco ou não responsivo ao uso de broncodilatadores. - A obstrução é atribuída a diversos fatores, como irritação brônquica pela poeira, distorção e compressão das vias aéreas pelos nódulos silicóticos e pela fibrose e existência de enfisema Exames complementares: - Radiografia de tórax: podem mostrar infiltração ou condensação miliar profusa - TC de alta resolução: mostra um padrão típico caracterizado por pavimentação em mosaico. OBS: Como a sílica é citotóxica para os macrófagos alveolares, os pacientes com silicose correm risco mais alto de contrair infecções pulmonares que afetam estas células como defesas primárias (Mycobacterium tuberculosis, micobactérias atípicas e fungos.)
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