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FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS SAÚDE DA MULHER II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Diabetes na Gravidez A diabetes é um distúrbio metabólico de etiologia multifatorial podendo ser decorrente de secreção de insulina deficiente ou diminuição da capacidade da insulina em exercer sua ação, tudo culminando em hiperglicemia. Sabe-se que nos Estados Unidos 4% das gestações correm com esta patologia, mas no Brasil o número é maior, representando 7,6%. Com isso, vem alguns riscos como o aumento da mortalidade perinatal (2 a 5%), aumento de prematuridade (25%), aumento de macrossomia (54,2%) e de anomalias congênitas (5%). Tipos: Diabetes Mellitus tipo 1: Cursa com destruição de células beta, com IAc anti-ilhotas pancreáticas em 85% dos casos. Tem associação com HLA no cromossomo 6. A história familiar é positiva em apenas 10% dos casos e a patologia tem início súbito, em pacientes mais jovens, com predisposição a cetose e complicações a longo prazo como retinopatia, nefropatia, neuropatia e aterosclerose. Quando engravidam, as pacientes com DM1 se encontram em estágio de complicações como as supracitadas. Diabetes Mellitus tipo 2: Representa 90% da população diabética e ocorre em > 30 anos. Geralmente a história familiar é positiva e a etiologia é multifatorial. Em sua fisiopatologia compreende-se a resistência insulínica, depressão de receptores responsivos à ação da insulina, mecanismos pós receptores e deficiência relativa, progressiva de insulina. Critérios diagnósticos fora da gestação: Diabetes Mellitus Gestacional: Ocorre principalmente na segunda metade da gravidez (mudança metabótica após 20 semanas, em que se inicia maior catabolismo), em 3 a 25% das gestações. É comum a recorrência do quadro e existem diversas formas de rastreio, a maioria se baseando na presença de fatores de risco → Alterações Metabólicas da Gravidez: Primeira Metade da Gestação: anabolismo ↑ Estrogênio e Progesterona (pelo corpo lúteo/placenta) → Hiperplasia de células beta pancreáticas → ↑ Secreção de insulina e consequentemente ↑ resposta insulínica à glicose → ↓ glicemia em 10-20% e ↑ ác graxos e cetonas. - A sensibilidade periférica à insulina está normal - A utilização periférica de glicose está aumentada - A lipogênese está aumentada - A glicemia de jejum está MENOR do que usualmente (antes da gravidez) → cuidado com isso: grávida tem que se alimentar bem para não fazer hipoglicemias! FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS SAÚDE DA MULHER II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Primeira Metade da Gestação: catabolismo ↑ Hormônios contra-insulínicos: ↑ HLP, ↑ prolactina, ↑ cortisol, ↑ progesterona → suprimento constante de nutrientes para o feto - Isso culmina em um ↑ na resistência à insulina e uma ↓ tolerância à glicose, ↓ no estoque de glicogênio e ↑ da glicogênese. - Logo o nível de glicose da mãe está mais alto, passando para o feto pela barreira hematoplacentária e o suprindo (isso é FISIOLÓGICO! Se houver DM o nível de glicose é bem maior e aí está o problema!) - Complicações de DM na Gravidez: Primeira Metade da Gestação: Mãe já DM diagnosticada ou descobriu na gravidez - NÃO É DM GESTACIONAL, É DM NA GESTAÇÃO - A hiperglicemia por si só pode ser teratogênica aumentando em 2 a 8 vezes o risco de malformação congênita. - Também é possível que ocorra a embriopatia diabética - As alterações mais comuns são as relacionadas a regressão caudal e um grande problema é a má formação cardíaca → realiza-se um eco fetal! Segunda Metade da Gestação: O metabolismo já está programado para manter a hiperglicemia, se o consumo for excessivo, ela causará hiperplasia das células beta pancreáticas fetais gerando hiperinsulinemia fetal, que culmina no crescimento somático do feto (marcador = circunferência abdominal) e consequente aceleração do anabolismo. Complicações fetais: OBS: hiperglicemia em DM1 nem sempre cursa com macrossomia, pode até causar CIUR. Em DM2 e DMG cursam com macrossomia, tendo maior dificuldade no nascimento e causando tocotraumatismo. Complicações maternas: Orientações Pré Concepcionais: para mulheres que já são diabéticas e desejam engravidar é importante que: - Seja feito o controle glicêmico de 3 a 6 meses antes da concepção com glicohemoglobina < 6%, - Seja feito o controle pressórico com suspensão de IECA ou bloqueadores da angiotensina - Seja feita a descontinuação no uso de estatinas → utilizar fibratos apenas em hipertrigliceridemia severa com risco de pancreatite aguda FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS SAÚDE DA MULHER II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A - Seja feita a avaliação oftalmológica com fundoscopia e se necessário tratamento da retinopatia proliferativa antes de engravidar. Caso seja portadora deve-se reavaliar com 10-20 semanas (pode piorar na gestação) e 28 semanas. - Seja feita a adequação do peso e a suplementação com ácido fólico 5 mg/dia de 3 a 6 meses antes da concepção (tem mais dificuldade na formação do tubo neural, logo começa a suplementar antes) - Seja feita a suspensão diante diabéticos orais se for possível a substituição por insulina Contraindicações para engravidar: - Retinopatia proliferativa grave → risco de cegueira - Gastroparesia - Coronariopatia → risco de infarto - Hipertensão arterial grave de difícil controle → formal - Creatinina sérica > 2mg% → risco de diálise - GlicoHb > 10% Rastreamento de DMG: - Screening Universal - Glicemia de jejum no início do pré natal - GPD entre 24 e 28 semanas de gestação → quando o metabolismo muda - intervenção rápida no one-step Diretriz PBH: OMS e SBD: No início do pré natal - GJ < 92mg% → rastreamento entre 24 e 28 semanas - GJ > 126 mg% em duas ocasiões → DM diagnosticado na gravidez - GJ 92-126 → DMG Entre 24 e 28 semanas - Fazer o TOTG 75g - Jejum > 92 - 1h > 180 - 2h > 155 mg% Conduta: Dieta: Importante orientar refeições fracionadas em seis vezes, com 40 a 50% de carboidratos, 20% de proteínas e 30 a 40% de gorduras, sendo que gorduras saturadas não devem ultrapassar 10%. É importante incluir fibras na alimentação. Utilizar adoçantes recomendados como aspartame e sucralose. Ganho de peso deve ser calculado de acordo com o IMC → Atividade física: Tem como benefícios a diminuição da resistência insulínica e da adiposidade fetal. É contra-indicada se houver sinais de trabalho de parto pré-termo, pré eclâmpsia, CIUR, sangramento uterino persistente após o segundo trimestre, síndrome nefrótica, retinopatia proliferativa, hipoglicemia, neuropatia periférica. Tratamento Medicamentoso: Insulina: se houver necessidade, é a droga de escolha pois não é absorvida pelo feto FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS SAÚDE DA MULHER II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A - Começar o tratamento quando houver ausência de resposta glicêmica após 2 semanas de dieta e atividade física (jejum > 95 persistente ou >100 em duas ocasiões / 1h PP > 140 / 2h PP > 120 mg%) ou se identificada macrossomia fetal pelo US entre 29-33 semanas (CA > percentil 70) - O tipo da insulina depende do recurso, mas todas podem ser utilizadas - DM insulinodependente: as pacientes DM2 que já usavam insulina diminuem a dose no início da gravidez, mas quando o metabolismo muda você retorna a dose e talvez até suba mais e use doses mais frequentes para controlar melhor os picos que determinam a macrossomia. Metformina: atravessa a placenta (50%) mas não há nenhum efeito adverso descrito no feto Glibenclamida: atravessa a barreira placentária com maiores taxas de hipoglicemia neonatal mas não foram identificados e adversos no feto. Há maior taxa de macrossomia fetal e só deve ser utilizada após o segundo trimestre. Acompanhamento ambulatorial: as consultas devem ser quinzenais até a trigésima semana e então semanais até o parto. Deve ser medido a glicemia capilar 5 vezes por dia. Seu acompanhamento laboratorial é diferente: Avaliação fetal: - 1 trimestre: US → datamento e TN, avaliação de doppler de artéria uterina - 2 trimestre: - US morfológico → 20 a 24 semanas - Doppler a. uterina → 20 semanas- ECO fetal → 24 e 26 semanas (DM pré gestacional) - US mensalmente → crescimento fetal e ILA - 3 trimestre - US mensalmente → crescimento fetal, ILA e PBF - Cardiotoco basal → após 30 semanas - Doppler → a partir de 26 semanas (vasculopatia ou aumento da PA) - Mobilograma diariamente → após 28 semanas Indicação de internação: quando há necessidade de uso de corticoide para maturação pulmonar fetal, uso de Beta miméticos como salbutamol ou análogos, quando houver indicações obstétricas ou hipoglicemia persistente e em casos mais graves de coma hipoglicêmico/cetoacidose. Indicação de interrupção eletiva: quando o controle metabólico materno está precário (glicemia média maior que 120), pré-eclâmpsia, piora de HAS pré-existente, CIUR, macrossomia (especialmente se assimetria), sofrimento fetal, declínio da função renal, insuficiência útero-placentária. Via de parto: a indicação é obstétrica (IG, uso ou não de insulina e complicações associadas) e gestantes portadoras de retinopatia proliferativa ativa tem indicação de cesariana na tentativa de se evitar novas hemorragias FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS SAÚDE DA MULHER II GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Avaliação Pós Parto: deve ser reavaliada a necessidade de insulina → se a grávida não usava insulina antes do parto ela pode ser retirada. Mas se era diabética e utilizava insulina, deve reduzir a dose para metade da utilizada no final da gestação ou retornar para dose inicial pré-gestacional. Sabe-se que 98% pacientes com diabetes gestacional têm níveis glicêmicos normais após o parto. Deve ser feita uma reavaliação de seis a oito semanas após o parto abrangendo glicemia de jejum e glicemia 2h após 75g de dextrosol (e refazer 1x por ano pelo risco).
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