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Universidade Federal de São Paulo Julia Duques dos Santos – RA: 135.423 – Noturno Rafael Lopes de Oliveira Roque – RA: 123.019 - Noturno Avaliação I da UC de Tópicos em História da Educação e da Escola no Brasil Questões: 1-) A partir da leitura do texto abaixo, compare com o modo como Marta Maria Chagas de Carvalho constrói sua abordagem historiográfica sobre a escola na Primeira República em relação à matriz azevediana: Segundo Marta Maria Chagas aborda em seu livro A Escola e a República e Outros ensaios a escola foi um signo da instauração da nova ordem, como uma arma para efetuar o progresso, sendo essa uma arma perigosa. A política republicana foi acusada pelo abandono de milhões de analfabetos de letras e ofícios, visto como um freio para o Progresso. Ao decorrer dos anos 20, intelectuais da República sedimentaram a visão da educação como solução para os problemas que identificavam. Como citado no trecho complementar a essa questão, Maria Luiza Marcílio, “Estavam determinados em modernizar a educação para tirar o país da ‘barbárie’ e incluí-lo na elite das nações ‘civilizadas’.”, isso fez com que o papel social-pedagógico da educação fosse de transformação dos habitantes, com o poder de constituir uma nação e moldar o povo. Essa solução se dava para uma resposta para tornar o povo saudável, disciplinado e produtivo. Anteriormente, seguindo as teses racistas, que foram articuladas em defesa da imigração, excluíam qualquer participação negra do mercado de trabalho, porém estavam sendo reformuladas, já que o imigrante não era mais visto como o centro de disciplina e energia, já que as condições desumanas de trabalho e qualidade de vida fizeram que muitos desses grupos operários organizarem e participarem ativamente das greves operárias. Com o surgimento da escola como meio de organização em busca do Progresso, a matriz azevediana tem grande participação para formação e oficialização do currículo, segundo Fernando de Azevedo, a criação de um currículo escolar tornaria a educação escolar mais efetiva. “A educação é, assim, uma espécie de espelho da sociedade e da história de sua evolução porque acompanha as mudanças operadas no seu interior preparando os indivíduos para o trabalho e para as relações sociais cotidianas e, ao mesmo tempo, conserva as tradições que dão identidade para o organismo social ao qual o indivíduo está ligado, assegurando a continuidade do grupo como tal em sua evolução”. (TOLEDO, 1995, p.116). Marta Maria Chagas também aborda sobre o papel da escola com o dever domiciliário, organizando o trabalho nacional para fixar o homem no campo e controlar os fluxos migratórios para cidade, dessa forma, a reforma da educação faria com que o trabalhador rural agora se veja como livre e dono de sua propriedade, um “cidadão útil”. “Desta perspectiva, organizar o trabalho nacional era, sobretudo [...] fixar o homem no campo, de modo a conter os fluxos migratórios para as cidades e a revitalizar a produção rural” (CARVALHO, 2003, p. 16). Para formar o cidadão, organizar o trabalho e tirar a sociedade da fase estagnada, a República teve como tarefa fornecer a educação necessária para essa mudança, incluindo as condições básicas de ler, escrever e contar, tirando milhares de pessoas do índice de analfabetização. A escola também buscava a civilidade do povo, resultando em uma separação de classes, que segundo Azevedo, somente uma elite seria capaz de propor um projeto para a nacionalidade, sendo a escola essencial para a formação das elites e a chegada desses à universidade. “Para o Autor podem existir dois tipos de reformas educacionais: aquelas que se fazem de “cima para baixo”, são promovidas por ação vitoriosa de grupos ou de grandes políticos, que chegando a uma ditadura de minorias, ajusta a estrutura pedagógica - são reformas totais ou nacionais; ou aquelas que são parciais ou gerais, locais ou nacionais, “cujo sucesso definitivo depende, porém, da adoção da política geral de que faz parte e em que está contida esta nova política de educação.” (Cf. Azevedo,1954:153. Nota de rodapé de TOLEDO, 1995, p 125). Segundo Carvalho, com a concretização da nova educação, surgiu a “Escola Nova”, a nova escola teria um papel social notável, livrando o povo da acomodação, da falta de progresso, além disso – como aponta o pensamento azevediano – a escola também tem o papel fundamental de transpassar a cultura, ação que ocorre desde os colégios jesuíticos, sendo esse um sistema educacional precursor da educação estabelecida em 1930, analisado de uma forma presentista por Azevedo. “As mudanças estruturais, portanto, criam uma “atmosfera” de mudança, onde as tradições podem ser questionadas e o lugar de suas certezas é substituído pelo conflito do velho frente ao novo, do tradicional frente ao moderno. A evolução brasileira é marcada por dois períodos distintos: da colonização até 1930 - cujas tradições são estabelecidas e perpetuadas, sem conflitos, pelas instituições educacionais e pela própria organização social; e de 1930 em diante - onde ocorrem mudanças profundas na sociedade e com elas há a possibilidade das tradições serem postas em xeque e renovadas.” (TOLEDO, 1995, p 123). Além da importância da criação de um currículo, a formação de novos profissionais qualificados para lecionar, era primordial. Neste período houve grande importação de materiais e planos pedagógicos vindos de escolas americanas – que compartilhavam alguns preceitos azevedianos – para serem utilizados como base para a criação do material didático nacional, como retrata Carvalho. Muitos dos cargos de novos docentes eram preenchidos por jovens da elite que tiveram sua formação fora do país, como abordado anteriormente. A autora Margarita Victoria Rodriguez, aborda esse momento retratando o papel da escola em conjunto com o avanço do capitalismo em rumo ao progresso educacional e social ambicionado pela República. “No século XX, com o avanço do capitalismo e o processo de expansão industrial, apareceu, no campo educacional, um novo discurso, especialmente influenciado pelas contribuições dos pedagogos da Escola Nova, que considerava a atividade docente como profissional, colocando-a no nível das outras profissões.” (RODRÍGUEZ, 2008, p. 50-51). O problema educacional se tornou uma causa cívica, de grande importancia para todo o país, após a ABE (Associação Brasileira de Educação), fundada em 1924, se posicionar sobre as relevâncias dos problemas educacionais, viabilizando a reforma, como a discorre Carvalho. O intuito dessa nova escola era moldar, desde criança, o indivíduo para ser apto ao trabalho e relações cotidianas, seria um espelho da sociedade e de sua evolução, segundo Toledo, que também indaga a reflexão de que a introdução de novas tecnológicas e conhecimentos podem desequilibrar a sociedade, resultando na desordem social, onde tradições podem ser questionadas. Em síntese, a matriz azevediana tem papel fundamental no campo acadêmico brasileiro, feitos como o censo de 1940, importante em meio ao cenário de ditadura, mostrando um Brasil diferente do que era falado e para construção da matriz azevediana, além da construção do currículo escolar, para uma educação e reforma educacional mais efetiva, embasados na periodização e no presenteísmo, criando um modelo a partir do presente de Azevedo. 2-) Levando em consideração o excerto abaixo, discutam as permanências e mudanças das reformas educativas na Primeira República e no período de 1931-1961 em relação: a) ensino primário; b) ensino secundário; A história das reformas educacionais na Primeira República e, posteriormente entre 1931 - 1961, tem como uma de suas chaves interpretativas a contradição entre um ideal de democratização da escola pública e uma realidade socioeconômica de exclusão da maioria da população. Essaproblemática é apontada pela autora Marília Pontes Sposito no excerto em questão ao apontar o papel das demandas populares nas mudanças na educação em diferentes contextos, em especial no da Capital paulista nas décadas de 40 e 50. A partir dessa desigualdade entre projeto/discurso e realidade é que serão analisadas as permanências e mudanças do ensino primário e secundário entre a Primeira República e o período 1931 - 1961. Entretanto, vale destacar que essa abordagem não se limita a pensar o projeto como um ideal e a realidade como um mero problema de aplicação do mesmo. Arriscando-se, assim, a reproduzir os discursos problemáticos da época. Trata-se de analisar as formas que os discursos educacionais desses períodos caracterizam a escola, a cidadania, e quem tem acesso ao conhecimento escolar. Outro apelo que o excerto em questão nos traz é a de compreender as transformações da educação, durante esse período, a partir das demandas dos diferentes agentes históricos e não como uma mera discussão de profissionais da educação em postos chaves da administração pública. Num panorama geral que aborda as duas temporalidades discutidas nesta questão é importante definir que foi um período de debate sobre as funções da educação no Brasil em que diferentes modelos de escola apareceram para diferentes propósitos e interesses. Indícios disso estão nas legislações educacionais que regulamentam os ensinos primário e secundário: as reformas educacionais apontam para princípios norteadores da educação e não para uma unificação regulatória das diferentes formas de ensino. E a formação de profissionais da educação também não foi regularizada e unificada na forma como foi a partir das Leis de Diretrizes e Bases da Educação, em 1961. Pode-se resumir o período como a legitimação do espaço escolar, um processo lento e conflituoso e que esteve ligado tanto com as diferentes visões para um futuro do Brasil republicano como com as demandas populares por acesso ao letramento primário e à ascensão social pelo ensino secundário. O estudo das reformas educacionais não se limita a discutir as mudanças legais do papel da federação e dos estados na regulação da educação. Então o recorte temporal baseado nessas reformas é uma forma de situar essas mudanças na organização social e política brasileira. Para isso, vamos começar com as demandas e discursos que envolveram a Primeira República sobre a regulação dos ensinos primário e secundário. A primeira reforma importante para esta discussão é a proposta por Caetano de Campos, em 1891. Ela surge com a principal função de reformular a Escola Normal e o ensino primário. A autora Marta Carvalho, em A Escola e a República, narra um panorama dos discursos que permearam esse contexto. Primeiramente, a ideia de que a República recém proclamada possui uma dívida para com os atrasos herdados do período imperial. Apropriando-se do positivismo de roupagens “científicas” em voga a partir de meados do século XIX, a República torna- se como uma luz de progresso a regenerar a sociedade brasileira para uma civilização superior. Neste discurso, a educação é a ferramenta principal dessa regeneração, e por meio dela o civismo, a higiene e a cidadania seriam levadas para as massas. Como a cidadania dependia da alfabetização numa república que negou o voto aos analfabetos, a educação primária tornou-se o meio pelo qual as elites condutoras da nação internalizariam a submissão às regras impessoais à uma população tida como amorfa (CARVALHO, p. 13). Outro ponto importante como função social da educação foi a organização do trabalho. Neste sentido, a educação teria a missão de controlar os fluxos migratórios e assim a urbanização das cidades (CARVALHO, p 16). Dessa forma, o camponês se fixaria na terra rural e a cidade estaria livre para se ordenar de forma higiênica e organizada. Esse discurso carrega uma contradição implícita na formação da industrialização brasileira. O fenômeno das migrações dos chamados “trabalhadores nacionais” foi incentivado pela burguesia industrial, com agentes de recrutamento em diversas regiões do Nordeste, sendo assim, importante para a formação da classe operária brasileira. O discurso referente aos trabalhadores migrantes será retomado de outra forma nos anos 50, adiantando uma das permanências importantes para essa questão. Com relação ao ensino secundário, a sua função social esteve ligada à formação das elites condutoras da nação, sendo assim, gerada de forma excludente. Essa ideia esteve relacionada com o objetivo de introduzir nas elites nacionais as regras impessoais que fazem parte do sistema republicano, no combate ao paternalismo político dessa elites denominadas de arcaicas. Então o ensino secundário adquiriu a função propedêutica de criar uma cultura cívica e erudita nessas elites para que sejam os condutores da massa alfabetizada pelo ensino primário. A responsabilidade da Federação e dos Estados para com o secundário foi a de fiscalizar as normas curriculares e higiênicas, por isso, o secundário cresceu a partir da iniciativa privada. Em 1920 foi feita a reforma paulista de Sampaio Dória, que diminuiu os anos do ensino primário de 4 para 2 com a intenção de aumentar o acesso à alfabetização. Entretanto, essa reforma durou apenas 5 anos e foi duramente criticada pelos intelectuais associados com a ABE e defensores da reforma C. de Campos. Para esses intelectuais, a alfabetização intensiva é prejudicial para a ordem pública, uma vez que a massa amorfa da população precisa de mais tempo para ser moldada no civismo republicano (CARVALHO, p. 40/41). Eis a contradição implícita na expansão do ensino público durante esse período: tal expansão não tem haver com acesso à educação e sim com o projeto político oligárquico de controle social. As décadas seguintes, de 30 e 40, serão as das reformas do ensino secundário. Em 1931, com Francisco de Campos e em 1942, com a Lei Orgânica do Ensino Secundário. A principal mudança é a divisão da escola propedêutica em dois ciclos: o ginasial, com um currículo amplo e enciclopédico de cultura geral; e o colegial, no qual o aluno escolhe a vocação clássica ou científica (determinando, assim, sua intenção de curso superior). A outrora heterogeneização do ensino secundário foi aos poucos sendo organizada pela centralização da federação na fiscalização das escolas e na criação das categorias de escolas oficiais, equiparadas e reconhecidas. Entretanto, a função social de educar as elites vai se manter, sendo aprofundada na impossibilidade de transitar entre os diferentes ramos desse ensino secundário - normal, propedêutica e profissional (FONSECA, p. 29). Essa segregação foi objeto de disputas populares ao longo dos anos 50, pois a classe trabalhadora (de origem migrante e imigrante, nos centros urbanos industrializados), a qual se destinou apenas a educação primária, vai encontrar no ensino secundário uma possibilidade de ascensão social (NUNES, p. 45). Pois aquele ideal de organização do trabalho a partir da educação, em que aos pobres se destina o ensino profissionalizante e fixador não fez parte das demandas dessa maioria da população. Um exemplo disso é observado no estudo da formação da classe operária paulistana de Paulo Fontes, Um Nordeste em São Paulo. O autor informa que entre 1951 e 1960, aproximadamente 260 alunos foram formados pela escola profissional do SENAI no parque industrial da Nitro Química em São Miguel Paulista (FONTES, p. 111). Num contingente de operários na escala dos milhares. As mudanças do secundário na Capital paulista estavam ligadas às demandas da classe trabalhadora organizada em SABs (Sociedade de Amigos do Bairro) na periferia e que pressionavam políticos populista como Ademar de Barros e Jânio Quadros a expandir a oferta de secundário na cidade. Outro importante desdobramento das reformas de 31e 42 nos anos 50 são os diferentes tipos de exames. A proposta de exames de admissão e de suficiências foram pensadas com o intuito de segregar os discentes em diferentes categorias e excluir a grande maioria das pessoas da escola secundária. Como o pró-primário foi dividido em ramos e alguns ramos em ciclos ou séries, a quantidade de exames entre etapas aumentou e dificultou muito a transição do primário para o secundário e a permanência neste. Entretanto, nos anos 50 surgiram os exames de equivalência, uma forma de transitar entre os ramos do ensino secundário e resultado das demandas dos próprios discentes. Pois num cenário de escassez de escolas, principalmente no interior, muitos alunos ficavam apenas com a possibilidade de cursar a escola Normal. Com o exame de equivalência, passou-se a ter a possibilidade de mudar de ramo. Por fim, voltamos a reforçar o apelo de Sposito em pensar as transformações da educação a partir das demandas populares num processo de legitimação do espaço escolar. Um embate entre a mudança e a permanência em relação às funções sociais da escola. Entre o acesso e a exclusão. BIbliografia CARVALHO, Marta Maria Chagas de. A Escola e a República e outros ensaios. Bragança Paulista: EDUSF, 2003. FONTES, Paulo. Um Nordeste em São Paulo: trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista (1945-66). Rio de Janeiro: FGV, 2008. FONSECA, Silvia Asam. “A lei orgânica do Ensino Secundário e seus desdobramentos no período 1942-1961”; “O debate sobre a qualidade do ensino e as disputas a ele inerentes”; “A expansão do ensino em São Paulo”. In: FONSECA, Silvia Asam. Os professores e a qualidade do ensino: a escola secundária paulista (1946- 1961). cap. I, II e IV. São Paulo: EHPS/PUC-SP, 2004 (dissertação de mestrado). NUNES, Clarice. O “velho” e “bom” ensino secundário: momentos decisivos. Revista Brasileira de Educação. n.14, Rio de Janeiro, maio/ago., 2000. RODRÍGUEZ, Margarita Victoria. Reformas educacionais e a proletarização do docente. Universidade Católica Dom Bosco, Maringá, v. 30, n. 1, p. 45-56, 2008. TOLEDO, Maria Rita de A. “Introdução”; “Fernando de Azevedo como objeto da História”; “As aventuras e desventuras do criador”. In: TOLEDO, Maria Rita de A. 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