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4 SEM ESC CUR SOC UNID 3 O Currículo Escolar e os Documentos Oficiais: Educação Infantil e Ensino Fundamental Introdução O resgate histórico sobre o currículo escolar evidencia os desafios enfrentados nas últimas décadas em busca da garantia de uma escola democrática, em que todos os alunos tenham acesso a uma educação de qualidade. O ano de 1980, palco de grandes conquistas nos âmbitos educacional, econômico, político e social no Brasil, foi um “divisor de águas” no que se refere à democratização do Ensino Fundamental, atendendo às prescrições legais da educação como um direito social. A proposta de criação de uma base curricular não é recente. As discussões acerca do currículo escolar acompanham a Constituição Federal de 1988 que, desde então, determinou em seu Artigo 210 o dever do Estado em fixar “conteúdos mínimos para o Ensino Fundamental, de maneira a assegurar a formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”. A análise cronológica das legislações no Brasil revela que a educação teve um investimento significativo das políticas públicas, efetivando-se na década de 1990, a partir da reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelecendo em seu Artigo 26 que: Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. Como ação articulada ao cumprimento de algumas das metas do Plano Nacional da Educação (PNE), instituído em 2014, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) começou a ser construída em 2015 com o objetivo de estabelecer os conteúdos fundamentais a serem aprendidos por crianças e jovens durante a Educação Básica. Resgatando o processo histórico dos materiais curriculares, em cumprimento à Constituição Federal de 1988 e à LDB n.º 9.394/96, foram elaborados pelo MEC e pelo Conselho Nacional da Educação documentos para as diferentes etapas da Educação Básica, até a concretização da BNCC, sendo eles: • PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (1997); • RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998); • PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (2000); • DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais (2012); • BNCC – Base Nacional Comum Curricular (2017). A liberdade de organização conferida aos sistemas de ensino vincula-se à existência de diretrizes que os orientem e lhes possibilitem a definição de conteúdos em conformidade à base nacional comum do currículo, bem como à parte diversificada. Nesse contexto, as propostas dos documentos oficiais tornam-se mais do que uma simples publicação, pelo contrário, trata-se de um processo de discussão nas escolas e nas Secretarias de Educação acerca da concepção de currículo e seus desdobramentos. Sintetizando Adiante são discutidos os principais aspectos acerca dos documentos que subjazem às etapas iniciais da educação básica, ou seja, a educação infantil e o ensino fundamental. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) Foi um documento elaborado no ano de 1997 e editado em 1998 no momento em que creches e pré-escolas passaram a integrar os sistemas de ensino no Brasil, constituindo-se como a primeira etapa da Educação Básica. O RCNEI (1998) foi o primeiro documento, em âmbito nacional, que direciona e embasa a ação dos municípios quanto ao público da educação infantil e dos profissionais da educação. A preocupação com a melhoria da qualidade do ensino na educação infantil se justificou nos anos 1990 por fatores sociais e pedagógicos. O primeiro atrelado à inserção da mulher no mercado de trabalho, tornando a creche um direito constitucional, e o segundo, às questões pedagógicas que, influenciadas pelo avanço das pesquisas psicogenéticas e cognitivas, contrapunham o processo de escolarização em detrimento do desenvolvimento infantil. De uso não obrigatório, o MEC expediu o referencial nacional servindo de subsídio para a uniformidade do atendimento das escolas de educação infantil no país. Portanto, apesar de apresentar uma base curricular nacional, o RCNEI (1998) não é mandatário, mas apresenta-se como um documento de reflexão e apoio às escolas. Mas, afinal, quais são os assuntos abordados nos três volumes do documento RCNEI? Volume 1 – Introdução O caderno introdutório apresentava o contexto da educação infantil e trazia questões importantes acerca dos princípios que norteiam a proposta curricular, como o respeito à dignidade e aos direitos das crianças consideradas nas suas diferenças individuais, sociais, econômicas, culturais, étnicas e religiosas. Além do contexto sociológico, o Volume 1 traz discussões concernentes à concepção de criança, educação, instituição escolar e de professor, definindo a partir desse delineamento os objetivos gerais para a Educação Infantil. Volume 2 – Formação Pessoal e Social O Volume 2 trazia contribuições prioritárias a respeito dos processos de construção da identidade e da autonomia da criança. Para tanto, no documento, foram apresentados aspectos relacionados às características e potencialidades do processo de desenvolvimento, concebendo a criança, acima de tudo, como sujeito ativo no processo de autoconhecimento. No mesmo volume, encontravam-se conteúdos relacionados aos objetivos gerais previstos para as crianças de zero a três anos e orientações didáticas para subsidiar o planejamento do professor a partir de atividades permanentes, sequenciadas e projetos. Volume 3 – Conhecimento de Mundo O Volume 3 é relativo ao âmbito das experiências acerca do conhecimento de mundo a partir do trabalho com os eixos: Movimento, Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. Apesar dos eixos serem apresentados separadamente, a proposta construtivista que subjaz o RCNEI (1998) recomendava que a abordagem das áreas de conhecimento não poderia ser fragmentada, mas de maneira integrada, respeitando o sujeito em sua totalidade. Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental Constituiu um referencial de qualidade para a educação no Ensino Fundamental em todo o país, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) foram elaborados em um contexto em que dados do Censo de 1990 apontavam que apenas 19% da população brasileira possuía o ensino fundamental. A exclusão escolar tinha início logo no primeiro ano de escolaridade, em que apenas 51% do total de alunos eram aprovados. Além disso, mesmo aqueles que concluíam os oitos anos de estudos que compunham o ensino fundamental na época acabavam dispondo de menos conhecimentos do que o esperado para os concluintes. De acordo com o Volume 1 dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 17): Durante as décadas de 70 e 80 a tônica da política educacional brasileira recaiu sobre a expansão das oportunidades de escolarização, havendo um aumento expressivo no acesso à escola básica. Todavia, os altos índices de repetência e evasão apontavam problemas que evidenciavam a grande insatisfação com o trabalho realizado pela escola. Os altos índices de evasão e repetência evidenciavam a baixa qualidade do ensino e a incapacidade dos sistemas educacionais e das escolas de garantirem a permanência do público, penalizando principalmente os alunos de níveis de renda mais baixos. Tendo em vista a reversão do quadro desanimador para uma formação cidadã, o documento foi produzido com a função de orientar e garantir a coerência dos investimentos no sistema educacional, socializando pesquisas e recomendações, subsidiando a participação de técnicos e professores. Porém, o documento não se constituía como obrigatório, o que fez com que muitos municípios e estados elaborassem seus próprioscurrículos durante a primeira década do século XXI e, devido à sua generalidade e amplitude, acabou se tornando invisível diante do ordenamento dos currículos estaduais e municipais, que por sua vez foram obtendo características próprias. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) apontavam questões de tratamento didático por área de conhecimento e por ciclo. O documento estava organizado, de modo a servir de referência, de fonte de consulta e de objeto para reflexão e debate fundamentando a relevância das áreas de conhecimento para a formação cidadã, conforme o quadro síntese a seguir. Volume 2 – Língua Portuguesa: trabalhava com a ideia que a escola tem a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos, necessários para o exercício da cidadania. Volume 3 – Matemática: deu suporte para resolver problemas da vida cotidiana e com aplicações no mundo do trabalho, funcionou como instrumento essencial para a construção de conhecimentos em outras áreas curriculares. Volume 4 – Ciências Naturais: o papel das ciências naturais é o de colaborar para a compreensão do mundo e suas transformações, situando o homem como indivíduo participativo e parte integrante do universo. Volume 5 – História e Geografia: desempenham funções de cidadania e de relações com diferentes espaços e tempos entre a humanidade e a natureza. Volume 6 – Arte: a educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que caracteriza o modo particular de dar sentido às experiências das pessoas. Volume 7 – Educação Física: trouxe uma proposta de democratização, humanização e diversificação da prática pedagógica, de uma visão biológica para um trabalho que incorpore as dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais dos alunos. Apesar de apresentar os volumes por área de conhecimento, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) buscaram contribuir para a superação da fragmentação das disciplinas e ainda trouxeram outros documentos para integrar a grade curricular, os chamados temas transversais. Esses expressam conceitos e valores necessários ao exercício da democracia e da cidadania a partir de temáticas emergentes na sociedade contemporânea: Ética, Meio Ambiente, Saúde, Trabalho e Consumo, Orientação Sexual e a Pluralidade Cultural; essas não são disciplinas autônomas, mas temas que permeiam todas as áreas de conhecimento. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Em 2012, o Ministério da Educação (MEC) lançou as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), sendo um documento de muita relevância para o desenvolvimento curricular brasileiro. As DCN instituíram os critérios gerais que deveriam ser considerados por municípios e estados para a elaboração dos currículos. Dessa forma, o documento referenciava os objetivos gerais a serem alcançados e direcionava o desenvolvimento dos objetivos mais específicos. A organização dos conteúdos mais específicos deveria ser um trabalho a ser desenvolvido nas escolas A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) vem a ser a operacionalização das DCNs, dos objetivos curriculares estabelecidos no documento anterior e no direito de aprender dos alunos. Dessa forma, os documentos são complementares e ambos se organizam como referenciais que devem ser considerados e aos quais os currículos dos sistemas locais (municipais ou estaduais) devem responder. A primeira versão da BNCC foi disponibilizada para consulta em 2015. Depois houve o processo de consultas públicas e de vários pareceres de especialistas ligados à educação, sendo publicada em 2016 a segunda versão do documento, que também foi objeto de amplo debate público e igualmente analisada por estudiosos de Educação. A terceira versão do texto foi encaminhada pelo MEC ao Conselho Nacional de Educação (CNE) em 6 abril de 2017, com referências curriculares para a educação infantil e o ensino fundamental. Coube ao CNE realizar audiências públicas ao longo de 2017 e emitir um parecer sobre o documento, enviado ao MEC para homologação que aconteceu no dia 20 de dezembro de 2017. A partir disso desse momento, inicia-se o processo de implementação da BNCC, com a construção de currículos estaduais e municipais. A importância desses documentos, em específico a BNCC, é que eles são referenciais que já estavam explícitos na LDB, quando se instituiu a necessidade de um conjunto de objetivos educacionais a serem garantidos para todos os educandos brasileiros como elementos de equidade e promoção da qualidade da educação. De acordo com o próprio material, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os educandos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da educação básica, de modo que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2017), Essa é a direção para a qual apontavam os PCN, as DCN estabelecidas também no PNE, com a complementação da publicação dos Direitos de Aprendizagem. Esses pressupostos finalmente se concretizam em um documento de objetivos de aprendizagem obrigatórios para todos os níveis e escolas do país, a BNCC. O novo documento apresentava um conjunto de objetivos que priorizavam um piso mínimo de aprendizagens para todos os estudantes do país. É o documento no qual esses objetivos se explicitam e recebem forma, a partir de todos os componentes curriculares contemplados na lei. As aprendizagens obrigatórias são organizadas em competências e habilidades, voltadas à formação integral de todos os alunos em suas variadas dimensões: intelectual, afetiva, ética, física, sociopolítica etc. Mas, afinal, o que é competência? De acordo com o próprio documento, competência é a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho (BRASIL, 2017) Para buscar a efetivação dessa política, o Ministério da Educação trabalhou em parceria com diversos órgãos ligados à educação – entre eles Consed (Conselho Nacional de Secretários de Educação), Undime (União Nacional dos Dirigente Municipais), União dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME) e Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação (FNCEE) –, oportunizando uma participação de vários especialistas da área e também alcançando uma abrangência maior. Na busca de oportunizar a tão sonhada equidade educacional, um dos princípios centrais da BNCC foi maximizar a colaboração entre as instâncias federais, estaduais e municipais na construção de um currículo, tendo como suporte a base de conhecimentos estabelecidos no documento, mas ao mesmo tempo respeitando a tão variada diversidade regional da extensão territorial brasileira. Importante! Vale a pena a evidenciar que a BNCC não se constituiu em um currículo, mas a base normativa para a elaboração dos currículos estaduais e municipais. Isso significa que todos os currículos, a partir de 2017, deverão considerar a BNCC. O documento trabalha com o desenvolvimento de dez competências gerais, que se inter-relacionam e se estendem na organização didática proposta para as três etapas da educação básica, articulando-se na elaboração de conhecimentos, no desenvolvimento de habilidades e na formação de atitudes e valores apresentados de maneira didática por meio da Figura A trajetória que professores e técnicos das secretarias percorreram em seu esforço para elaborar um currículo significativo e na busca de qualidade educacional para os estudantes das escolas em que atuam foi muito grande e cheia de obstáculos. No entanto, é relevante considerar o momento em que se vive, com o debate em torno da BNCC e sua posterior implementação, comouma oportunidade para desenvolver currículos que sejam relevantes para todos os brasileiros, que respeitem a diversidade de um país de características continentais e que, ao mesmo tempo, sejam construídos sobre uma base de equidade, que considere todos e lhes oportunize a mesma qualidade de educação e oportunidade para superar os desafios que as diferentes comunidades enfrentam no século XXI. O objetivo com a BNCC é o de desenvolver um conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os estudantes deverão alcançar em seu processo escolar e , nessa trajetória, orientar o desenvolvimento e a implementação dos currículos da educação básica dos sistemas e das redes das distintas unidades federativas (MODER, 2017).
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