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O ônus da prova é um instituto do direito brasileiro aplicado, quando mal elucidado o caso, pelo juiz por meio de medidas especiais, buscando obter uma melhor justificativa da parte perante suas alegações e esclarecimento suficiente para determinar a decisão. É a partir dele que o indivíduo apresenta elementos justificando o sustentado até então e comprovando os fatos que o favorecem. Pode ser aplicado a qualquer uma das partes, cabendo ao autor comprovar fato constitutivo de direito, e ao réu fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Art. 373. O ônus da prova incumbe: I. ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito; II. ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor. Entende-se o ônus da prova, portanto, como instrumento indicador da parte possivelmente prejudicada pela dúvida, sendo assim a mais interessada no instituto e esclarecimento judicial. De acordo com Luiz Guilherme Marinoni (2015, p. 260), é importante a prévia informação de a quem compete o ônus da prova, para que esteja ciente do que lhe cabe, a fim de ter opção de julgamento favorável. Ainda em situações nas quais a omissão não resulte inevitavelmente em desfavor, o ônus aponta a hipótese de que na falta de provas, o citado correrá risco de decisão em prejuízo. Desse modo, por um lado, o aporte de provas no processo pelas partes - e por qualquer pessoa que tenha conhecimento de fatos relevantes ao julgamento da causa - é um dever imposto por dispositivos como os arts. 378, 379 e 380 do CPC. Por outro lado, em razão da regra do ônus da prova, esse mesmo aporte satisfaz também um interesse das próprias partes, a fim de evitar sujeitar-se a uma decisão desfavorável em razão de sua omissão (MARINONI, 2015, p.260) No que tange à inversão do ônus da prova, tal hipótese presente nos §§ 1º e 3º, artigo 373 do CPC, ocorrerá “§1º - nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário [...]”, quando o juiz atribuir. Além disso, as partes podem decidir pelo instituto por meio de convenção celebrada antes ou depois do processo (§§ 3º e 4º), com exceções previstas em lei. Ou seja, ocorrerá inversão quando for mais fácil para uma das partes obter provas, uma vez que não faria sentido atribuir o ônus da prova a quem possui maior dificuldade de consegui-la e correr o risco de faltar sua aquisição por isso. Também se aplica quando o responsável pela prova apresenta “impossibilidade ou excessiva dificuldade de cumprir o encargo”, e esta pode ser trazida pela outra parte. “Ou seja, a modificação do ônus da prova é imperativo de bom senso quando ao autor é impossível, ou muito difícil, provar o fato constitutivo, mas ao réu é viável, ou muito mais fácil, provar a sua inexistência” (MARINONI, 2015, p.267), ou vice-versa. A modificação do ônus ocorre quando comprovado que a parte que assumi-lo terá a possibilidade de cumprir o encargo. A inversão do ônus com o intuito de dificultar a produção de provas, ou fazê-lo sabendo que a modalidade de prova é impossível ou extremamente dificultosa, caracteriza a chamada “prova diabólica”, proibida pelo direito brasileiro. O caso também ocorre quando o juiz não realiza a inversão, deixando a parte originariamente responsável pelo ônus em situação desigual ou de desvantagem. O §1º do artigo 373, CPC, tem em seu texto as hipóteses em que poderá ocorrer a inversão, cabendo ao juiz “atribuir o ônus da prova de modo diverso” quando identificadas. Ao agir de modo contrário, caracteriza-se estilo de prova unilateralmente diabólica, sendo impossível ou dificultosa para apenas uma das partes no processo. Já em seu § 2º, determina que “a decisão prevista no § 1º deste artigo não pode gerar situação em que a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil”, estando proibida a inversão caso a prova seja impossível ou dificultosa para ambas as partes. O desrespeito deste parágrafo define a modalidade de prova diabólica bilateral. Por fim, o §3º do mesmo artigo estabelece as exceções em que não será aplicada a inversão por convenção, quando “I - recair sobre direito indisponível da parte; II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito''. Assim como as hipóteses acima, o descumprimento desta caracteriza prova diabólica ou prova de fato negativo. A jurisprudência a seguir trata do tema de inversão do ônus da prova e reformatio in pejus: AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONDOMÍNIO EDILÍCIO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE VÍCIOS CONSTRUTIVOS. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. INCIDÊNCIA. REFORMATIO IN PEJUS. NÃO OCORRÊNCIA. Hipótese em que a adoção de fundamentos distintos para a inversão do ônus da prova – seja em virtude da aplicação do disposto no art. 373, § 1º, do CPC/2015, seja em função da incidência das normas consumeristas – não implicou reformatio in pejus, pois não houve piora da situação da parte que, pela adoção de um ou outro fundamento, permaneceu responsável pela comprovação da inexistência de vícios no imóvel objeto da lide, capazes de comprometer a sua solidez e segurança. […] A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem albergado a inversão do ônus da prova nas demandas propostas por condomínios contra construtoras/incorporadoras, em defesa dos interesses de condôminos, com fundamento no art 6º, VIII, do CDC ou mediante aplicação da teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova de que trata o art. 373, § 1º, do CPC/2015. (STJ, 3ª Turma, AgInt no AREsp 1293126/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/12/2018, publicado em 14/12/2018) A ação envolve condomínio e construtora, onde o primeiro alega vícios em imóvel feito pelo segundo, ficando como encargo comprovar a inexistência de vícios no objeto do processo. Instaura-se a divergência sobre a aplicabilidade de normas consumeristas e prejuízo por inversão do ônus da prova. Em resumo, ficou estabelecido que a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça acolhe a inversão do ônus da prova em sentido favorável aos condomínios, visto a relação de consumidor/fornecedor existente entre as partes. Além de acreditar que tal inversão não estabelece reformatio in pejus, uma vez que inexiste piora de situação decorrente da modificação. Referências BASTOS, Athena. Ônus da prova no Novo CPC: conceito, definição e mudanças. conceito, definição e mudanças. 2019. Atualizado em: 18 de setembro de 2020. Disponível em: https://blog.sajadv.com.br/onus-da-prova/. Acesso em: 14 jan. 2021. BRASIL. Código de Processo Civil (2015). Código de Processo Civil Brasileiro. Brasília, DF: Senado, 2015. MARINONI, Luiz Guilherme. Novo curso de processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum, volume III. Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart, Daniel Mitidiero. - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. - (Curso de processo civil; v. 2)
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