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ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS PERIAPICOPATIAS E PERIODONTOPATIAS O periápice é um complexo de tecidos que circunda a porção apical da raiz de um dente: cemento, ligamento periodontal e osso alveolar. As periapicopatias são alterações no periápice dentário. Em processos agudos, considera-se sintomatologia e ausência de imagem radiográfica (porque o osso alveolar precisa de tempo para ser reabsorvido e gerar uma imagem). Em processos crônicos, considera-se pouca sintomatologia (ou nenhuma) e imagem radiográfica. ESTRUTURAS ANATÔMICAS AO REDOR DO PERIÁPICE: 1. CEMENTO: tecido mineralizado que cobre as raízes dos dentes (reveste a dentina radicular), com composição e RP semelhantes à dentina, não permitindo assim, a diferenciação de ambos radiograficamente. 2. ESPAÇO PERICEMENTÁRIO: espaço entre a raiz dentária e a lâmina dura, que se apresenta como uma linha RL fina e uniforme/contínua entre ambos. 3. OSSO ALVEOLAR (osso trabecular, osso esponjoso): apresenta-se como trabéculas ósseas RP limitadas por espaços medulares RL. Há diferenças entre maxila e mandíbula e entre regiões anterior e posterior. Na maxila, o trabeculado ósseo é pequeno e fino. Na mandíbula, é um emaranhado na região anterior e uma estrutura mais geométrica (mais alongada) na região posterior, sendo também um osso menos vascularizado. Osso alveolar = crista óssea alveolar + lâmina dura - LÂMINA DURA (cortical óssea alveolar que envolve a porção radicular): linha RP uniforme/contínua que contorna as raízes dentárias. Revela a integridade e saúde pulpar de um dente. Quando interrompida, indica uma lesão periapical devido a uma alteração dentária. Se existe alguma alteração no periápice, é preciso analisar a integridade dos tecidos periapicais, principalmente da lâmina dura, pois a descontinuidade (ruptura) dessa estrutura é um alerta. Mas, dependendo da incidência do feixe de raios X, a lâmina dura pode não estar tão nítida (por sobreposição de estruturas anatômicas), sendo então necessário analisar o espaço correspondente ao ligamento periodontal (espaço pericementário). É preciso estar atento aos acidentes anatômicos (forame mentual, forame incisivo, papila dentária), que podem ser confundidos com lesões. SEMPRE observar a integridade da lâmina dura. ETIOLOGIA DAS PERIAPICOPATIAS: ↳Microbiana: processo de cárie, infecção ou inflamação pulpar; microorganismos que atingem a polpa e causam necrose pulpar, junto de suas toxinas, atravessam o ápice radicular e invadem o espaço pericementário (espaço do ligamento peridontal), com consequente envolvimento periapical. ↳ Traumática: quedas, fraturas, dentes em supraoclusão (oclusão prematura), sobreinstrumentação de canais radiculares. ↳ Química: substâncias químicas irritantes que podem atravessar o ápice radicular, como as que irrigam o canal radicular durante uma endodontia. OBS - importância da radiografia antes e depois de processos endodônticos: tanto uma cicatriz pós-tratamento quanto uma reabsorção óssea apresentam-se como irregularidades no periápice. Paciente deve ficar em estado de proservação. PERIAPICOPATIAS 1. PERICEMENTITE AGUDA: - 2 a 3 dias - Sensação de dente crescido - Dor espontânea que aumenta com o toque, geralmente com percussão vertical - Quando bacteriana ou química, dente sem vitalidade pulpar (dor na percussão vertical). Quando traumática, dente com vitalidade pulpar (dor nas percussões horizontal e vertical) - Dor e edema Ana Caroline Peçanha - 2019/1 - UFES CRÔNICA: - Evolução da pericementite aguda (não tratada), sem sintomatologia (ou discreta ao toque), com reabsorção óssea discreta RX: - Rarefação óssea periapical, com espessamento do espaço pericementário e lâmina dura interrompida - A lesão causa reabsorção alveolar. Numa tentativa do organismo limitar o processo, há condensação de trabeculado ósseo ao redor da lesão (esclerose óssea periférica ou osteíte condensante) 3. ABSCESSO PERIAPICAL ou DENTOALVEOLAR: - Todos evoluem de um quadro de pericementite apical - Exsudato purulento (pus) na região periapical: interação entre bactérias piogênicas e neutrófilos - Abscesso Fênix: o que ressurgiu. Área previamente alterada com granuloma, cisto… Radiograficamente apresenta-se rarefação óssea periapical difusa ou circunscrita, e clinicamente há presença de edema intra ou extraoral e sintomas dolorosos característicos do processo agudo AGUDO: - Dor intensa e espontânea, aumentada mesmo com leve percussão - Começa no periápice, pela evolução de uma pericementite apical. Com a progressão, se dissemina pela região que apresenta menor resistência. A secreção purulenta, através dos espaços medulares, pode chegar ao periósteo (e drenar tanto pela lingual quanto pela vestibular) ou perfurar a cortical e se difundir através dos tecidos moles adjacentes - Em geral, há formação de uma parúlide na vestibular (nos molares superiores isso ocorre na lingual), que é uma lesão cujo caminho corresponde à fístula - Mobilidade dentária CRÔNICO: RX: - Rarefação óssea periapical difusa, sem corticalização, podendo estar associada a esclerose (que torna a lesão parcialmente circunscrita) - Pode ter reabsorção radicular e óssea Em um paciente jovem, ao palpar a área, o CD pode sentir um espessamento da cortical, que corresponde a uma osteomielite proliferativa (proliferação óssea em lâminas; observada em radiografias oclusais) 3. GRANULOMA PERIAPICAL: - Processo inflamatório periapical crônico parcialmente organizado; não é tecido de granulação. RX: - Rarefação óssea periapical bem circunscrita (em alguns casos apresenta corticalização), com perda de lâmina dura 4. CISTO PERIAPICAL ou PERIODONTAL APICAL: - Cápsula de tecido epitelial contendo material semi-sólido em sua cavidade - Assintomático, a menos que seja infectado secundariamente - Não é possível diferenciá-lo do granuloma pelo tamanho RX: - Lesão RL bem circunscrita, corticalizada/não corticalizada/parcialmente corticalizada, circundando o ápice do dente acometido, com perda de lâmina dura - Reabsorção radicular é comum - O osso periférico pode formar uma linha esclerótica (RP), mas isso não me garante que é um cisto Ana Caroline Peçanha - 2019/1 - UFES OSTEOMIELITES/OSTEÍTES: - Inflamação nos espaços medulares (osso medular), ou nas superfícies corticais do osso, que se estende além do sítio inicial de envolvimento. Ou seja: a necrose que se inicia no periápice se estende para outros locais, longe do seu sítio de escape. A grande maioria é causada por infecção bacteriana e resulta em uma destruição lítica e expansiva do osso envolvido, com supuração (saída de pus) e sequestro ósseo (reabsorção) - Relacionada a doenças sistêmicas crônicas, má formação óssea, etc. - Geralmente ocorre na mandíbula (menor vascularização) RX: imagem RL (osteolítica), RO (esclerótica) ou mista 1. OSTEOMIELITE AGUDA 2. OSTEOMIELITE CRÔNICA: RX: - Aspecto de corroído por traça - Imagem mista irregular com sequestro ósseo no interior Osso necrótico se solta e a tendência é que ele seja expelido na cavidade oral 3. OSTEOMIELITE ESCLEROSANTE FOCAL ou OSTEÍTE ESCLEROSANTE ou OSTEÍTE CONDENSANTE: RX: - Área RP homogênea ou mista, restrita a área agredida. Mantém o espaço pericementário e a lâmina dura entre a raíz e a lesão. DD: cementoblastoma - Não há expansão e não possui halo RL periférico. DD: displasia cemento-óssea focal Após ser formada no nosso, permanece mesmo após cicatrização do alvéolo 4. OSTEOMIELITE ESCLEROSANTE DIFUSA: RX: - Áreas mistas - RL e RP - distribuídas por toda a mandíbula, com linha RL periférica Osteomielite esclerosante difusa Displasia cemento-óssea florida Episódios de dor intermitentes. Fases assintomáticas e multi-sintomáticas. Geralmente assintomática Não tem predileção por sexo e cor Mulheres negras Adultos Adultos de meia idade e idosos Frequente na mandíbula Ocorre na mandíbula e maxila Não se desenvolve a partir de lesões RL anteriores Se desenvolve a partir de lesões RL anteriores Ana Caroline Peçanha- 2019/1 - UFES Ex de caso clínico: paciente diabética não controlada, com queixa de episódios de dor e supuração, sequestro ósseo e fases assintomáticas... 5. OSTEOMIELITE PROLIFERATIVA: - Infecção atinge o periósteo e estimula células a produzirem material mineralizado (osso), fazendo isso em camadas - Mais comum em pacientes jovens (maior capacidade reacional) e são mais vistas em radiografia oclusal RX: - Linhas RP com aspecto de casca de cebola Osteomielite crônica com periostite proliferativa* PERIODONTOPATIAS Acometimento de estruturas do periodonto – gengiva, ligamento periodontal, cemento radicular e osso alveolar. Distância da junção amelocementária até o ápice da crista óssea alveolar até 2mm é considerada normal (até 3mm em pacientes mais velhos). Maior que isso pode indicar uma doença periodontal. AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA DA DOENÇA PERIODONTAL: Exame periapical completo (14 radiografias) e interproximal. ↳ INFORMAÇÕES: trabeculado ósseo, crista óssea alveolar, envolvimento de furca, osso presente, restauração em excesso, falta de contato interproximal, cálculo dental. ↳ LIMITAÇÕES: imagem bidimensional (de uma estrutura tridimensional), perda óssea é subestimada, não mostram relação com tecido mole (perda óssea não significa doença ativa - gengivite não apresenta sinais radiográficos). É necessário associar com a avaliação clínica PERIODONTITE - PROGRESSÃO: - Perda das cristas ósseas alveolares dos tipos horizontal ou angular (informar para que face da raiz está inclinada) OBS: perda angular é diferente de inclinação dentária; além da inclinação, em casos de perda óssea, também é necessário ter distância da junção amelocementária até o ápice da crista óssea > 2 ou 3mm - Lesão de furca: rarefação óssea difusa na região de furca - Lesão endoperiodontal: rarefação óssea difusa na região de furca e rarefação óssea periapical circunscrita ou difusa Ana Caroline Peçanha - 2019/1 - UFES