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Metabolismo integrado – semana 8 {Regulação do metabolismo por AMPK e mtor} AMPK: proteína quinase ativada por AMP. Desenvolvido por eucariotos que os permitiu modular o metabolismo baseado na disponibilidade de nutrientes. AMPK é um sensor da quantidade de energia disponível na célula, por ligar- se a nucleotídeos de adenina. AMPK está ativo quando: I. A taxa de AMP por ATP está alta (hipóxia, isquemia, baixa disponibilidade de nutrientes ou quando o consumo de ATP é acelerado – exercício ou jejum); ESTRUTURA E ATIVAÇÃO DA AMPK O AMPK é uma serina treonina quinase que é um complexo heterotrimérico formado por uma subunidade catalítica α -alfa e por duas unidades reguladoras β – beta e γ – gama. A subunidade alfa possui o resíduo de treonina 172 (Thr172), cuja fosforilação é importante para a atividade da enzima. Já a subunidade beta contém um domínio de ligação de carboidrato que permite que AMPK interaja com o glicogênio. A subunidade gama tem quatro subunidades CBS que formam uma interface/sítio para interação com três moléculas de AMP, ADP ou ATP. Em condições basais, a ligação de ATP mantém a atividade dessa enzima baixa, ou seja, AMPK só está totalmente ativo após a fosforilação na Thr172. A principal quinase na maioria dos tipos celulares que regula AMPK é o complexo heterotrimérico formado pela LKB1, STRAD e MO25. Esse complexo está constitutivamente ativo e fosforila AMPK continuamente, mas em condições basais o fosfato é imediatamente removido pelas proteínas fosfatases. No entanto, sob condições de estresse energético, as concentrações de AMP aumentam e se ligam a subunidade gama da AMPK, promovendo uma mudança conformacional que torna AMPK em um substrato mais pobre para desfosforilação. Assim, o AMP em numa menor extensão o ADP na subunidade gama, estimula a atividade de AMPK por duas razões: I. Porque o AMP estimula a fosforilação da ThR172 por estimular diretamente as quinases up stream ou por um mecanismo alostérico que favorece a fosforilação da Thr172; II. Porque o AMP inibe a desfosforilação da Thr172 por protegê-la de fosfatases. Além disso, AMPK pode ser fosforilada em resposta ao fluxo de cálcio pela quinase sensível a cálcio (CAMKK2) ou beta, fazendo um link entre a sinalização de cálcio e a regulação do metabolismo energético pela AMPK. A calmodulina quinase ativa AMPK de maneira independente da LKB1e dos níveis de nucleotídeos e essa ativação é muito importante em resposta a hormônios – como os tireoidianos e ao estresse celular e exercícios, através da regulação da razão ATP/AMP e dos níveis de cálcio intracelulares. REGULAÇÃO DA AMPK A fosforilação de AMPK nos resíduos de serina 485/491 reduz o nível de fosforilação na Thr172 e consequentemente reduz a atividade da AMPK. Essa fosforilação no resíduo de serina pode ser mediado por AKT e pela quinase S6K além de poder ser fosforilado pela MAP quinase ERK1/2 e por proteína Metabolismo integrado – semana 8 quinase c e quinase D1 por estímulo de diacilglicerol. Uma interação com glicogênio através da subunidade beta, também reduz o nível de fosforilação de AMPK em resíduos de Thr172 e assim a sua atividade. LOCALIZAÇÃO DA AMPK Existem nas células frações de AMPK lisossomal, citosólica, mitocondrial e nuclear que é estimulada pelos níveis de cálcio. Essas frações podem ser ativadas simultaneamente ou não dependendo do status metabólico celular. O AMPK é o principal regulador do metabolismo energético e o efeito dele sobre o metabolismo pode ser amplamente dividido em duas categorias: I. A inibição do anabolismo, para minimizar o consumo de ATP; II. Estimulação do catabolismo, estimular a produção de ATP; MODULAÇÃO DE VIAS ANABÓLICAS POR AMPK A primeira a ser identificada foi a síntese de lipídeos e de esterol por AMPK através da fosforilação inibitória da acetil CoA carboxilase (ACC1/ACC2) que catalisa o primeiro passo da síntese de lipídeos novamente e a fosforilação inibitória da HMG-CoA redutase, que catalisa o passo determinante para a síntese de colesterol. AMPK também previne o armazenamento de glicogênio pela fosforilação inibitória da glicogênio sintase (GYS). A inibição de mTOR leva o decréscimo da síntese proteica e no crescimento celular – o crescimento celular e a tradução proteica são os principais consumidores de ATP na célula. COMO OCORRE A INIBIÇÃO DE mTOR? A ativação de AMPK leva a inibição de mTORC1 no complexo 1 de mTOR por dois mecanismos independentes: 1. Ativação do regulador negativo da mTORC1 (TSC2) fosforilando essa proteína em um resíduo de treonina e um outro de serina, fazendo com que essa proteína fique estimulada e iniba mTORC1. Por outro lado, AMPK também é capaz de levar a uma inibição por fosforilação de raptor, um dos componentes do complexo mTORC1. ATIVAÇÃO DE VIAS CATABÓLICAS Além de promover a inibição de vias anabólicas, AMPK estimula vias catabólicas. Sobre o metabolismo de carboidratos, ele aumenta a translocação para membrana plasmática do transportador de glicose (GLUT4), estimulando a captação de glicose tanto no músculo esquelético e cardíaco quanto no tecido adiposo. Ela também vai estimular o fluxo através da Metabolismo integrado – semana 8 glicólise, estimulando, indiretamente a enzima da via glicolítica – a PFK1. O aumento na utilização de lipídeos, é estimulado pela ativação de lipases, como a lipase do tecido adiposo (ATGL), que libera ácidos graxos dos estoques de triglicerídeos. Esses ácidos graxos vão para a beta-oxidação nas mitocôndrias. COMO ESSES ÁCIDOS GRAXOS VÃO PARA A BETA-OXIDAÇÃO NAS MITOCÔNDRIAS? Para que isso ocorra, AMPK modula a atividade da acil transferase – carnitina palmitoil transferase (CPT-1) facilitando o transporte dos ácidos graxos para o interior das mitocôndrias. O malonil CoA gerado pela acetil CoA carboxilase (ACC), é um potente inibidor da CPT-1. Portanto, pela simples inibição da ACC pela AMPK faz com que os níveis de malonil CoA diminuam, resultando num decréscimo na síntese de lipídeos e um aumento do transporte desses lipídeos e sua beta-oxidação. Por fim, AMPK regula a autofagia e a mitofagia, principalmente por regular a proteína quinase ULK1. Autofagia: processo pelo qual os componentes celulares como proteínas, organelas, macromoléculas e patógenos são reciclados nas células. Nela, ocorre o encapsulamento da carga em estruturas membranares chamadas autofagossomos. Posteriormente eles se fundem aos lisossomos e depois ocorre a degradação dessa carga pelos autofagolisossomos. Ela vai servir para duas funções: I. A reciclagem de moléculas antigas ou danificadas; - processo contínuo nas células. II.Reposição dos estoques de nutrientes depletados durante períodos de jejum; - envolve a sinalização mediada por mTORC1 e modula a ULK1. Autofagia: AMPK vai controlar a autofagia em diferentes etapas. Primeiro a atividade de mTOR é reduzida, por fosforilar TSC 2 e raptor. Isso vai fazer com que mTOR se torne inativo, liberando a ULK1da fosforilação inibitória promovida por mTOR. Por outro lado, a própria AMPK fosforila diretamente ULK1em quatro resíduos, sendo fundamental para a autofagia e para sobrevivência celular durante a depleção de nutrientes e estresse metabólico. Esse eixo entre AMPK e a ULK1 é de suma importância para a mitofagia – remoção seletiva de mitocôndrias danificadas. Isso ocorre em diferentes contextos como: tecido adiposo marrom, jejum prolongado e no envelhecimento muscular, assim como em macrófagos e hepatócitos. Após a ativação da ULK1 por fosforilação, essa quinase fosforila então diversas proteínas envolvidas na execução da autofagia, incluindo ATG14L, beclina e a ATG9. A autofagia também está ligada com a remoção de patógenos intracelulares num processo chamado xenofagia. A via da AMPK está ativada durante as infecções por vírus, bactérias e por príons. Então, para os patógenos sustentarem a sua replicação, vários patógenosregulam a atividade da AMPK dependendo de suas necessidades específicas, tais como: evasão da xenofagia, aumento da oxidação de glicose/lipídeos dessa maneira estimulando AMPK ou aumentando a disponibilidade de nutrientes, dessa maneira inibindo AMPK. AMPK E RESTRIÇÃO CALÓRICA O AMPK é um importante sensor de nutrientes com a capacidade de regular o metabolismo de todo o corpo, então passou-se a pensar que ele seria o mediador de efeitos benéficos da restrição calórica. Então o papel do AMPK em detectar o estresse energético e agir como regulador e mestre da biogênese e do metabolismo mitocondrial Metabolismo integrado – semana 8 indicou que essa quinase está modulando os efeitos benéficos da restrição calórica através da ativação de sirtuínas, da autofagia e da regulação negativa de mTOR. REGULAÇÃO DA TRANSCRIÇÃO GÊNICA POR AMPK AMPK sob condições prolongadas de baixa energética reprograma o metabolismo através da regulação de fatores de transcrição gênicos de vias biossintéticas, prolongando os efeitos dessa quinase. AMPK, então é capaz de modular a p300 a FOXO além de outros fatores de transcirção como as histonas desacetilases de classe 2 (HDACs), SREBP1,ChREBP, modulando assim o metabolismo, a autofagia e a função lisossomal. AMPK COMO ALVO TERAPÊUTICO Ativadores de AMPK: induzem alterações de conformação no complexo do AMPK levando a uma ativação por meio de uma interação direta com uma subunidade específica do AMPK. Ex: AICAR – se liga a subunidade gama da AMPK e não é específico para AMPK; A-769662 – ligante não “nucleotídio”, sendo específico para AMPK, se ligando na subunidade beta. Salicilato, mas não a aspirina – agem de maneira semelhante ao A-769662, ligando-se a um sítio semelhante. Ambos promovem uma ativação alostérica de AMPK. AMPK também pode ser ativada por qualquer modulador que cause um acúmulo no AMP ou no cálcio intracelular. Essas moléculas desses compostos são classificadas como ativadores indiretos, porque uma interação direta entre AMPK e esses moduladores não é necessária. Ex: Metformina – assim como as Rosiglitazonas e Bioglitazonas, são capazes de inibir o complexo 1 da cadeia respiratória, aumentando os níveis de AMP e assim ativando AMPK; Glitazonas – além do efeito de aumentar o nível de AMPK, também são capazes de induzir a expressão de adiponectina dos adipócitos, que por sua vez ativa AMPK no músculo esquelético e no fígado. Polifenóis – agem por inibir a ATP sintase modulando os níveis de AMP/ATP intracelulares. RESUMO DA AULA: mTOR: é uma serina/treonina quinase sensível ao antibiótico Rampamicina, na verdade, ela é inibido por esse antibiótico. Ele existe em dois complexos: o mTORC1 e o mTORC2, que são enzimas independentes que funcionam como um sensor nutricional regulando o crescimento e a sobrevivência celular. mTORC1: possui o adaptador regulador raptor que é uma proteína que confere sensibilidade a Rapamicina. mTORC2: ao invés de raptor, ela vai possuir outro adaptador regulatório, que é o rictor que é insensível a Rapamicina. Ela só é inibida por altas concentrações Metabolismo integrado – semana 8 de Rapamicina e aí sim vai ser considerada insensível a Rapamicina. A principal função de ambas é regular o crescimento, a sobrevivência e proliferação celular. Ambos os complexos são regulador por fatores de crescimento. Elas são proteínas sensíveis a fatores de crescimento, mas que uma vez ativadas regulam uma série de sinalizações intracelulares, então por exemplo, para regular a síntese proteica e o metabolismo, a principal proteína mediadora desse processo é a fosforilação e ativação da proteína quinase S6K1 que regula, dessa forma, o metabolismo de nucleotídeos, por exemplo e o metabolismo de proteínas e lipídeos. Enquanto que em relação ao catabolismo, a ativação da mTORC1, inibe a autofagia e a produção de lisossomos, fazendo com que haja uma diminuição nos processos catabólicos de uma forma geral. Além disso, a insulina ou fatores de crescimento, têm cascatas similares, mas que acabam culminando com a inibição do complexo TSC – um complexo regulatório, e é inibidor para mTORC1. Com a inibição desse TSC por hormônios anabolizantes, por exemplo, há a ativação de mTORC1, o que vai gerar a parte de tradução proteica, ou seja, síntese proteica celular. De forma análoga, terá a ativação da Akt – intermediário de ativação comum a fatores de crescimento e a insulina, e ela vai ativar mTORC2, promovendo parte dos rearranjos já citados, regulando positivamente a parte de proliferação e sobrevivência celular, ou seja, as células vão sobreviver mais por conta da ativação por mTORC2 e vão proliferar mais também por conta da ativação de ambos os complexos. Em condições fisiológicas de ativação de mTOR e de alimentação: I. a mTORC1vai gerar a hipertrofia e mTORC2 regulando a captação de glicose e a síntese de glicogênio. *essa captação de glicose é de suma importância para que haja a hipertrofia. II. No fígado, mTORC1vai ser responsável pela inibição da cetogênese e pela ativação da lipogênese, ou seja, regulando negativamente o catabolismo de ácidos graxos e positivamente a síntese de ácidos graxos. Enquanto que, mTORC2 regula positivamente tanto a síntese de glicogênio, como a gliconeogênese – importantes para o funcionamento do fígado. III. No tecido adiposo o mTORC1regula a importação de ácidos graxos e adipogênese – proliferação de células adiposas. Já o mTORC2 regula a lipogênese – acúmulo de lipídeo para essas células e regula positivamente a captação de glicose – substrato para que haja a lipogênese. IV. Em condições de jejum ou supressão pela Rapamicina, haveria um bloqueio da atividade do mTOR. No caso do mTORC1, haveria um bloqueio da quebra de proteínas no músculo, porque essa sensibilidade de mTOR será importante para que o músculo não se degrade completamente, então ela controla essa quebra de proteínas – regulando negativamente a atividade lisossomal e autofágica. No fígado, ela vai bloquear a cetogênese, também para impedir que o fígado gere uma acidose muito grande e também vai promover uma quebra de proteínas, sendo fundamental para que ocorra a gliconeogênese. mTORC1 e mTORC2 vão agir em conjunto para que ocorra, por exemplo, a captação de glicose e isso acabe gerando nutrientes para que haja sobrevivência e o crescimento celular. Em um processo de obesidade, onde há uma hiperatividade crônica do complexo mTORC1 e esse complexo é capaz de Metabolismo integrado – semana 8 fosforilar em resíduos de serina e treonina o IRS, que uma vez fosforilado, os resíduos se tornam inativos, gerando resistência a insulina em decorrência da obesidade. - mecanismo para que haja o controle de armazenamento de lipídeos. Ainda assim, mTORC1 e mTORC2 vão regular principalmente processos celulares, como por exemplo a produção de espécies reativas de oxigênio (ROS), acumulação de danos causados em organelas celulares que levariam a inativação delas, ativação de células tronco que levariam a geração de novos tecidos ou a regeneração celular, haveria o controle positivo da síntese proteica e haveria a regulação completa do controle de proliferação de crescimento celular. Ela age sempre em conjunto e antagonicamente a AMPK que também é um sensor nutricional, que age controlando processos catabólicos, principalmente, enquanto que os complexos mTOR regulam os processos anabólicos.
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