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Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 1 01.06.21 Obesidade infantil Acúmulo excessivo de gordura corporal em extensão tal que acarreta prejuízos à saúde do indivíduo. TRANSIÇÃO NUTRICIONAL Processo de modificações sequenciais no padrão de nutrição e de consumo, acompanha mudanças econômicas, sociais e demográficas no perfil de saúde das populações. Mudanças nos padrões alimentares e comportamento (frutas - fast foods) EPIDEMIOLOGIA Reconhecida pela OMS como a maior epidemia de saúde pública mundial, com elevação de sua prevalência tanto em países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento estando associada às doenças crônicas não transmissíveis que vêm afetando mais precocemente crianças e adolescentes. O aumento da prevalência da obesidade no Brasil é relevante e proporcionalmente mais elevado nas famílias de baixa renda. Estudos realizados em diferentes regiões do país consideram critérios diagnósticos diferentes indicam prevalência de excesso de peso em crianças e adolescentes entre 11,6-38,5%. FISIOPATOLOGIA Herança genética na determinação da obesidade é de origem poligênica: características fenotípicas do indivíduo obeso são resultantes da interação de vários genes. Etiologia multifatorial: • Fatores genéticos • Ambientais • Comportamentais Mais de 400 genes já isolados, codificam componentes que participam da regulação do peso corporal. Entre esses componentes, alguns agem preferencialmente na ingestão alimentar, outros no gasto energético e ainda existem aqueles que atuam nos dois mecanismos ou modulas essas ações. Comorbidade com etiologia influenciada por fatores genéticos, ambientais e comportamentais, sendo que ao final há balanço energético positivo (ingestão maior que o gasto). • Leptina • Neuropeptídeos orexígenos e anorexígenos • Coelcistoquinina • Grelha • Adiponectina • Adipsina e proteína estimulante de acilação • Fator de necrose tumoral alfa • Interleucina 6 • Inibidor do ativador de plaminogênio • Proteínas do sistema renina-angiotensina O obeso é um inflamado crônico. DIAGNÓSTICO O diagnóstico da obesidade é clínico, baseado na história clínica e nutricional (quantitativa e qualitativa), no exame físico detalhado e em dados antropométricos. ANAMNESE: • História da obesidade: início, fatores desencadeantes, tratamentos anteriores e percepção da família. • Hábitos alimentares: dia alimentar habitual e/ou recordatório de 24 horas, dinâmica das refeições. • Antecedentes alimentares: amamentação, introdução de alimentação complementar e seus aspectos quantitativos e qualitativo. • Antecedentes pessoais: peso ao nascer, ganho de peso no primeiro ano de vida, uso de medicamentos • Uso de drogas, álcool e tabaco. • Comportamento e estilo de vida: realização de atividade física, atividades sedentárias, investigar ansiedade, depressão, compulsão alimentar e bullying. • Antecedentes familiares: doença cardiovascular precoce, HAS, dislipidemias, DM, tabagismo. ISDAS: respiração oral, roncos, apneia do sono, fadiga ao esforço, alterações de pele, dor ou edema em articulações dos membros inferiores, Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 2 dor abdominal e/ou retroesternal, há¡bito intestinal, alterações menstruais, sono agitado, alterações comportamentais. EXAME FÍSICO Dados antropométricos: peso, estatura, circunferência abdominal, circunferência do braço, prega cutânea triccipital, relação circunferência abdominal/estatura (adequada se menor ou igual a 0,5), pressão arterial sistêmica. Classificação do estado nutricional de acordo com IMC/idade por percentil e escore-Z. LABORATORIAL não auxiliam no diagnóstico da obesidade, mas sim são formas de identificar se a criança apresenta demais comorbidades associadas. (colocado no final do documento) MORBIDADES ASSOCIADAS À OBESIDADE HAS Quanto maior o IMC, maior a chance de a criança desenvolver HAS, fator de risco para que essa comorbidade também se apresente na fase adulta. Aferição da PA deve ser realizada em toda consulta médica de crianças a partir dos três anos - atentar-se à escolha de um manguito adequado para a circunferência braquial do paciente (80-100% da circunferência e 40% da largura do braço); Caso em uma primeira aferição a PA seja igual ou superior ao percentil 90, duas novas aferições devem ser realizadas em momentos distintos da consulta, sendo feita uma média das três aferições para classificar o nível de HAS que a criança apresenta. PERFIL GLICÊMICO E RESISTÊNCIA À INSULINA Há falta de valores de corte para definição de resistência insulínica (RI) na infância e as medidas utilizadas, tais como insulinemia de jejum, dão estimativa pobre da sensibilidade à insulina. Não se justifica a pesquisa de RI na infância, visto que o tratamento desses pacientes deve ser mudança de estilo de vida, com orientação nutricional e atividade física. Critérios de diagnóstico para diabetes, pela Associação Americana de Diabetes: • Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL, colhida em duas situações diferentes • Glicemia acima de 200 mg/dL em qualquer horário associada a sintomatologia típica (poliria, polidíssima, emagrecimento • Glicemia acima de 200 mg/dL após 2 h de sobrecarga oral de glicose (teste de tolerância oral à glicose) Glicemia de jejum alterada quando a glicemia de jejum fica entre 100 - 125 mg/dL e intolerância à glicose quando a glicemia 2 h após sobrecarga oral de glicose fica entre 140 - 199 mg/dL DISLIPIDEMIAS Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 3 O perfil lipídico mais comum na obesidade consiste em TG, VLDL-C e partículas pequenas e densas de LDL-C elevados, HDL-C diminuído e LDL- C e CT entre valores desejáveis. DOENÇA GORDUROSA HEPÁTICA NÃO-ALCÓOLICA Considerada a doença hepática crônica mais frequente em pediatria, apresenta aumento da sua prevalência juntamente com a epidemia mundial de excesso de peso. Todas as crianças com sobrepeso e obesidade devem ser submetidas a uma ultrassonografia hepática para investigação. DOENÇAS ORTOPÉDICAS Modificação do eixo de equilíbrio natural, a qual resulta em aumento da lordose lombar, com protusão do abdome e inclinação anterior da pelve, cifose torácica e aumento da lordose cervical. Joelhos valgos, pés planos, epifisiólise da cabeça do fêmur VER ALGUNS ALGUMAS IMAGENS SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP) • Associação entre hirsutismo, amenorreia e ovários policísticos. • Etiologia desconhecida com evidências de relação complexa entre fatores genéticos, ambientais, graus diversos de resistência insulínica e alterações na esteroidogênese. ALTERAÇÕES DERMATOLÓGICAS • Intertrigo • Acanthosis nigricans • Estrias • Acne • Hirsutismo (pelos em locais masculinos) • Ceratose pilar • Foliculite • Furúnculo SÍNDROME DA APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO Distúrbio da respiração durante o sono caracterizado pela obstrução parcial prolongada das vias aéreas superiores e/ou obstrução completa intermitente, que prejudicam a ventilação e o padrão de sono normais A SAOS acomete 1-12 % das crianças eutróficas mas estima-se que em crianças obesas chegue a 60%. Polissonografia SÍNDROME METABÓLICA Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 4 • A SM é uma condição clínica composta de anormalidade antropométricas, fisiológicas e bioquímicas que predispõem os indivíduos afetados ao desenvolvimento de DM tipo 2 e DCV. • O componente clínico central da SM é a gordura visceral, enquanto a principal anormalidade metabólica é a RI. • A RI tem natureza poligênica, mas sua expressão fenotípica depende de fatores como um estilo de vida relacionado ao consumo excessivo de gorduras e carboidratos aliado à inatividade física. •Acredita-se, assim, que a SM seja desencadeada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Definição (SBP) entre adolescentes entre 10-16 anos • Aumento da circunferência abdominal (P>90) associado a pelo menos duas das anormalidades: • O enfoque pediátrico deve ser basicamente preventivo e de atenção à detecção precoce de qualquer componente de SM na infância • Os programas que propõem estilo de vida saudável (educação alimentar e estímulo à atividade física) são as propostas existentes para reduzir a obesidade e suas comorbidades, incluindo a SM, na infância e adolescentes. • Alguns trabalhos mostram falha terapêutica da mudança de hábito alimentar e prática de exercícios físicos na prevenção da DM2 em adolescentes obesos, com hiperinsulinemia e HF de DM2. O uso de droga que aumenta a tolerância à glicose, como a metformina, poderia ser útil para impedir a progressão da doença. • O plano terapêutico deve ser traçado de forma individualizada e instituído gradativamente, em conjunto com o paciente e sua família, evitando-se a imposição de dietas rígidas e extremamente restritivas. • O tratamento deve contemplar uma dieta balanceada com distribuição adequada de macro e micronutrientes e orientação alimentar que permita escolha de alimentos de ingestão habitual ou de mais fácil aceitação. • Todas as mudanças devem ser discutidas com o paciente. • A participação dos pais melhora os resultados. • Os resultados esperados são manutenção do peso para crianças abaixo de 7 anos, redução gradativa do peso para as acima desta idade e redução das morbidades. • As mudanças do hábito e de comportamentos alimentares ocorrem em médio e longo prazo. • A pirâmide de alimentos é um instrumento importante na educação nutricional para difundir os conceitos de variedade, moderação e proporcionalidade da alimentação. • Auxilia o paciente a quantificar as porções de alimentos e fazer substituições entre aqueles que pertencem a um mesmo gruo e que têm valor energético similar. • Ela contempla os conceitos de quantidade, qualidade, harmonia e adequação. • Em situações em que a perda gradual do peso está indicada, a redução energética deve ocorrer prevendo-se perda em torno de 0,5Kg/semana em adolescentes que já completaram o estirão puberal. • Para crianças e os adolescentes que ainda estão em fase de crescimento, cabe ressaltar que a redução de 108 Kcal na ingestão diária leva à perda de aproximadamente 15g/dia ou 450g/mês. • Dietas muito restritivas, além de não mostrarem benefícios quando comparadas às hipocalóricas, podem levar a complicações como colelitíase, hipotensão ortostática, alterações do comportamento, diarreia, halitose e declínio da síntise proteica (transferrina e frações do sistema complemento). • Outra complicação grave é o comprometimento da velocidade de crescimento, que deve ser monitorada durante toda a intervenção nutricional. Pode ocorrer ainda comprometimento da massa muscular. TRATAMENTO NUTROLÓGICO • 1ª ETAPA: esclarecimento; • 2ª ETAPA: avaliação do comportamento; • 3ª ETAPA: quantidade; • 4ª ETAPA: qualidade; • 5ª ETAPA: manutenção; Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 5 TRATAMENTO DIETÉTICO Diminuir a quantidade de açúcar, deixando a criança sentir a frutose. Diet: tem em sua composição ausência total de algum ingrediente em particular, como açúcar, gordura ou sal. Light: são aqueles com teor reduzido (aproximadamente em 20%) de sódio, açúcares, gorduras ou colesterol. Não é necessário usar alimentos diet e light na dieta, porque além de ser mais caro, a pessoa que está acostumada com o açúcar pode aumentar a quantidade de consumo. ATIVIDADE FÍSICA • Fundamentalmente prazerosa para que a criança ou adolescente sejam motivados a realizá-la. • Praticar AF moderada ou intensa durante 60 minutos (no mínimo), no mínimo 3 vezes na semana. • O programa de treinamento contemplar exercícios aeróbicos (caminhada, ciclismo, natação) e exercícios aeróbios e treinamento resistido para obter melhoas à saúde cardiovascular, do sistema osteomulscular e da composição corporal. • Diminuir o tempo com atividades sedentárias (TV, vídeo- games, computador, tempo ao telefone, celular, tablets) para no máximo duas horas por dia. MEDICAMENTOSO Apenas para SM • Uso de metformina • Não há outras drogas autorizadas MONITORIZAÇÃO DO TRATAMENTO • Antropometria • Exames laboratoriais ABORDAGEM PSICOSSOCIAL • Vínculo família O tratamento da obesidade na infância deve ser co-construído pelos profissionais e pelas famílias, levando-se em consideração que pais, mães, filhos e filhas precisam ser acolhidos e compreendidos em suas histórias, em seus sofrimentos, conflitos, valores, crenças e saberes. Constitui-se em uma estratégia facilitadora da relação entre profissional e família do paciente, na tentativa de que a intervenção não se torne uma ameaça à identidade do grupo familiar. Pelo contrário, que possibilite o envolvimento e a participação das famílias no processo de mudanças O trabalho não se reduz a cuidar da mudança dos hábitos alimentares, já que inclui a vida das pessoas, seus vínculos afetivos familiares e sociais. Representa um processo dinâmico e reconstrutivo de um novo estilo de vida na família. PREVENÇÃO Prevenir a obesidade na infância é a maneira mais segura de controlar a doença crônica grave, que pode iniciar já na vida intrauterina Pré-natal: identificar fatores de risco (DM, DCV, HAS, dislipidemia, tabagismo) avalia e monitorar o estado nutricional da gestante e orientar dieta e estilo de vida, evitando o sedentarismo Puericultura: • Avaliar o ganho ponderal e a velocidade de crescimento estatural da criança; • AME e complementar/indicar fórmula infantil com quantidade de proteína adequada; • Respeitar a saciedade da criança; • Avaliar a qualidade da alimentação; • Horários, mastigação, ambiente; • Lazer ativo / limitar lazer passivo; A PREVENÇÃO DA OBESIDADE É MAIS BARATA E EFICIENTE DO QUE SEU TRATAMENTO!!!!!!!!!!!!! Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 6 EFEITOS A LONGO PRAZO • Ganho excessivo de peso durante a gestação está associado com aumento do escore-z de IMC, aumento das pregas cutâneas e da PA durante a infância • Obesidade materna está associada com fatores de risco cardiometabólicos na criança. Crianças nascidas de mãe obesa têm maior chance de nascerem pequenas para idade gestacional e crianças pequenas para idade gestacional tem aumento no risco de obesidade na adolescência e na idade adulta. Crianças nascidas de mães obesas e pequenas para idade gestacional têm o dobro de risco de desenvolver resistência insulínica ALVOS POTENCIAIS PARA PREVENÇÃO DA OBESIDADE Bruna Altvater Saturnino XLII – 2021.1 - 7
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