Buscar

AS TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NO MUNDO DO TRABALHO: O PARADIGMA FLEXÍVEL E SEUS IMPACTOS NA QUALIFICAÇÃO DOS TRABALHADORES

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

- -1
PEDAGOGIA NAS INSTITUIÇÕES NÃO 
ESCOLARES
AS TRANSFORMAÇÕES OCORRIDAS NO 
MUNDO DO TRABALHO: O PARADIGMA 
FLEXÍVEL E SEUS IMPACTOS NA 
QUALIFICAÇÃO DOS TRABALHADORES
- -2
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1. Caracterizar as mudanças na esfera da produção e do trabalho que marcam o paradigma flexível;
2. analisar as mudanças políticas vividas pelos estados após a crise: o neoliberalismo;
3. caracterizar a Reforma do Estado e a constituição do Terceiro Setor;
4. caracterizar as reformas nas políticas sociais implementadas pelos governos neoliberais nos anos 80 e 90;
5. identificar os principais elementos do novo paradigma tecnológico: o toytismo;
6. analisar os impactos sobre o conteúdo do trabalho, sobre a divisão do trabalho e sobre a qualificação dos
trabalhadores causados pela mudança na base técnica e pela organização do processo de trabalho próprias do
paradigma flexível;
7. analisar a polarização das qualificações e a segmentação ocorrida na classe trabalhadora como consequências
das mudanças introduzidas na produção e organização do trabalho no paradigma flexível;
8. analisar as transformações ocorridas nas relações de trabalho e no mercado de trabalho e seus impactos para
os trabalhadores.
1 Introdução
Na aula anterior, você viu como a realidade do desenvolvimento das economias capitalistas dos anos dourados
foi alterada pela crise que se iniciou nos anos 70. O esgotamento do bem-sucedido período fordista de
acumulação capitalista determinou a crise que inaugurou uma nova fase do capitalismo e provocou profundas
transformações em todas as esferas da vida social. A globalização e o domínio do capital financeiro passam a
predominar no mundo após os anos 70.
Nos anos que se seguiram à crise, a ascensão do neoliberalismo promove mudanças no âmbito estatal. Ocorre a
reforma do Estado e uma redefinição das relações do Estado com a sociedade civil. Os neoliberais defendem a
reconstituição do mercado, da competição e do individualismo, como argumentos básicos para as mudanças
realizadas tanto no âmbito da política econômica, quanto nas políticas sociais. Propõem a eliminação da
intervenção do Estado na economia, seja no que diz respeito ao planejamento mais sistemático, seja no que
concerne à sua atuação enquanto produtor direto, através da desregulamentação das atividades econômicas e da
privatização.
Caro aluno, antes de iniciar a aula conheça um pouco mais sobre as transformações no mundo do trabalho.
- -3
Os neoliberais acusam o Estado de Bem-estar de ser antieconômico, (porque provoca crise fiscal), antiprodutivo
(porque desestimula o trabalho e o investimento), ineficaz (porque favorece o monopólio estatal e a tutela dos
interesses particulares) e ineficiente (porque elimina as formas tradicionais - - família e comunidade – de
proteção social).
Considerado pelos neoliberais como o vilão da crise, o Bem-estar Social foi colocado em questão e, por isso, são
realizados cortes nas políticas sociais. As políticas sociais no neoliberalismo já não são mais para todos como no
Bem-estar Social. São políticas só para os mais carentes.
Visando reduzir os gastos sociais, as políticas sociais neoliberais passam a ter um caráter mais pontual,
assistencialista e compensatório. Só alguns se beneficiam dessas políticas. O Estado não “gasta” mais com todos.
A lógica não é mais a universalidade, a igualdade, mas sim a equidade: “dar mais a quem tem menos”. Esta
corresponde a uma estratégia para a manutenção da ordem social desigual.
A globalização econômica, que se caracteriza por uma maior aceleração, concentração e mobilidade do capital,
vem, a partir dos anos 70, impondo uma nova ordem nas relações econômicas entre as nações. Esse processo,
denominado por muitos de mundialização, a um só tempo dinamiza a economia, internacionalizando mercados e
serviços financeiros, e provoca novos arranjos estruturais, aprofundando as contradições sociais e políticas.
Convive-se com uma nova organização social da produção que exige formas distintas de cooperação capitalista,
marcadas pela necessidade de articulação e integração de empresas. Essa nova ordem determina também que as
empresas busquem estratégias de elevação da competitividade, mediante a utilização intensiva de tecnologia e
inovações nos processos de gestão do trabalho. A produção passa por um processo de reestruturação que traz
imensas consequências para o mundo do trabalho. De fato, o novo paradigma conta com um novo modelo
tecnológico, a especialização flexível, do qual o toyotismo é o formato mais emblemático. Esse novo modelo está
fundado em novas bases tecnológicas e produtivas e é promotor de mudanças no âmbito da divisão do trabalho,
dos conteúdos do trabalho e da qualificação dos trabalhadores.
Por sua vez, essas transformações produtivas são responsáveis (ao lado das políticas econômicas neoliberais)
pela redução do emprego assalariado que marca os anos 90. Assim, o processo de reestruturação produtiva
trouxe também profundas mudanças para o mercado de trabalho, que passa a incorporar dimensões novas,
como a informalização das camadas médias, além de acentuar traços que nele já estavam presentes, como as
atividades informais e a flexibilização do trabalho. Assiste-se então à adoção de terceirizações e de
subcontratações, à contração do emprego, à expansão do mercado informal, à desregulamentação dos contratos
de trabalho, à precarização das condições de trabalho, à eliminação de postos de trabalho, ao desemprego
estrutural e crônico, enfim, à exclusão social
- -4
Essas transformações de ordem econômica correspondem a mudanças no plano estatal. Rompem-se as barreiras
que antes regulamentavam e protegiam as economias nacionais. Os estados redefinem suas funções e seu
espectro de atuação. Ocorre a reforma do aparelho estatal, o estabelecimento de relações de um novo tipo entre
o Estado e a sociedade civil e a realização de mudanças na condução das políticas sociais (MONTAÑO, 2002). As
mudanças no papel e funções do Estado, que busca agora articular um crescimento econômico não includente
com menor compromisso com a produção e distribuição de benefícios sociais, levam à adoção de novas
estratégias de desenvolvimento de políticas sociais, como forma de garantir a continuidade do processo de
acumulação e, ao mesmo tempo, evitar que o acirramento da desigualdade social possa se transformar em
conflito político incontornável. A privatização, a focalização e a descentralização das políticas são implementadas
como tentativa de resolução dessa problemática, marcando de modo distintivo a totalidade das políticas sociais
da maioria dos países ocidentais.
Este é o contexto que iremos aprofundar nesta aula: os processos de reestruturação econômica e de reforma
política que ocorrem a partir anos 70 visando à retomada do patamar de acumulação capitalista que havia sido
posto em questão com a crise do regime de acumulação fordista. Vamos assim tratar da ascensão do novo regime
de acumulação: o paradigma flexível (que envolve uma nova base técnica e tecnológica) e seu respectivo modo
de regulação: o Estado Neoliberal ou Mínimo.
2 O Estado Neoliberal
Os anos 80 e 90 são marcados por mudanças no âmbito estatal que correspondem a adaptações e alterações na
configuração e nas políticas sociais desenvolvidas pelos Estados de Bem-estar que se consolidaram nos países
centrais no pós-guerra. Como vimos na aula passada, o pensamento neoliberal se tornou hegemônico e saiu
vitorioso com a eleição dos governos conservadores, trazendo a necessidade de romper com as antigas
estratégias de condução das políticas econômicas e sociais.
Essa ruptura é interpretada por alguns autores como Laurell (1995) como relativa à necessidade de adequar o
Estado às exigências impostas pela tentativa de adoção de um novo regime de acumulação e desencadear uma
nova etapa de expansão capitalista, atrelada a um novo ciclo de concentração de capital. Tratava-se de criar as
condições políticaspara a realização deste projeto, mediante a fragilização das organizações reivindicatórias da
classe trabalhadora.
- -5
Os neoliberais defendem a reconstituição do mercado, da competição e do individualismo, como argumentos
básicos para as mudanças realizadas tanto no âmbito da política econômica, quanto nas políticas sociais.
Propõem a eliminação da intervenção do Estado na economia, seja no que diz respeito ao planejamento mais
sistemático, seja no que concerne à sua atuação enquanto produtor direto, através da desregulamentação das
atividades econômicas e da privatização. Advogam o Estado Mínimo e a realização de cortes nas políticas sociais,
como forma de desativar os mecanismos de negociação e os direitos adquiridos pelos trabalhadores (LAURELL,
1995).
Considerado pelos neoliberais como o vilão da crise, o bem-estar social foi colocado em questão. Como vimos, os
neoliberais entendiam que a crise era fruto da atuação do Estado de Bem-estar Social. Viam o Bem-estar como o
grande culpado, pois:
• ele intervinha na economia, regulando preços e interferindo na lógica natural dos mercados (para os 
neoliberais o mercado deveria ser deixado “livre”, sem intervenção, já que a sua livre atuação garantiria o 
equilíbrio econômico. Na visão dos neoliberais, o estabelecimento de regras políticas, como a do salário 
mínimo, causavam distorções nos sistemas de preços, impedindo que estes atingissem seu ponto de 
equilíbrio mediante a lei da oferta e da procura. O desemprego era considerado desejável pelos 
neoliberais. A ausência de proteção estatal era também fundamental, pois estimulava a competitividade 
entre as organizações, considerada vital para o crescimento econômico.);
• ele apoiava os sindicatos (para os neoliberais o Estado estaria acobertando os sindicatos, incentivando o 
corporativismo, mantendo certos grupos sob seu domínio);
• ele realizava gastos sociais em demasia (para os neoliberais, as políticas sociais acabavam por ampliar a 
dívida pública e eram medidas paternalistas, já que não estimulavam a busca pelo crescimento da renda 
dos indivíduos. De acordo com os neoliberais, para que houvesse estímulo por uma vida melhor, era 
necessário que houvesse desigualdade social, que cada um fosse deixado “livre” para tentar melhorar de 
vida segundo seus talentos e capacidades). Os neoliberais acreditavam que o Estado deveria intervir 
minimamente na vida das pessoas, deixando de implementar os serviços sociais públicos como saúde, 
educação, habitação, previdência etc. Acreditavam que essas necessidades sociais deviam ser resolvidas 
no âmbito das famílias e comunidades, sem interferência do Estado. O objetivo era estimular a 
competição e o individualismo. Assim, esses serviços sociais deviam ser oferecidos pelo setor privado. 
Não foi mesmo o que ocorreu? No Brasil, depois dos anos 90, cresceram os serviços privados como: 
•
•
•
- -6
competição e o individualismo. Assim, esses serviços sociais deviam ser oferecidos pelo setor privado. 
Não foi mesmo o que ocorreu? No Brasil, depois dos anos 90, cresceram os serviços privados como: 
seguro saúde, previdência privada, expansão do ensino (sobretudo o superior) privado etc.
Em síntese é possível afirmar que o neoliberalismo propõe a eliminação da intervenção do Estado na economia e
a realização de cortes nas políticas sociais, como forma de desativar os mecanismos de negociação e os direitos
adquiridos, necessários ao incremento da competição e individualismo. Acreditam que a esfera do bem-estar
social deve permanecer no âmbito privado da família, da comunidade e dos serviços privados, com intervenção
estatal minimizada e atuando apenas na dimensão do alívio da pobreza ou dos serviços pouco interessantes para
o setor privado. Na maioria dos países de capitalismo avançado, são então implementadas reformas estatais
orientadas pelos argumentos neoliberais em defesa da liberdade individual e do mercado, determinando maior
responsabilização individual e por parte da sociedade civil pelo atendimento às demandas sociais.
Assim, os sistemas de proteção social do Estado de bem-estar foram duramente criticados pelos neoliberais que
rompem com os benefícios concedidos à classe trabalhadora, por meio de corte nas políticas sociais (saúde,
habitação, educação etc) e de corte ao apoio aos sindicatos. Desta forma, os novos Estados Neoliberais ou
Mínimos que se constituíram passam a desmontar as estruturas criadas pelo Estado de Bem-estar Social.
Numa perspectiva de cortes nos gastos sociais, o Estado acaba por só atuar nos serviços sociais destinados à
camada mais empobrecida da população, de modo a “apagar os incêndios” sociais da miséria e da fome. As
políticas sociais no neoliberalismo já não são mais para todos como no Bem-estar Social. São políticas só para os
mais carentes. Visando reduzir os gastos sociais, as políticas sociais neoliberais passam a ter um caráter mais
pontual, assistencialista e compensatório.
- -7
Aí é que surgem: o restaurante popular, o bolsa-família, o cheque-cidadão etc. Só alguns se beneficiam dessas
políticas. Não são mais implementadas políticas para todos, universais, de qualidade, como no Estado de Bem-
estar Social. O Estado não “gasta” mais com todos. A lógica não é mais a universalidade, a igualdade, mas sim a da
equidade: “dar mais a quem tem menos”. Essa corresponde a uma estratégia para a manutenção da ordem social
desigual.
3 As Políticas Sociais Neoliberais
Draibe (1993) distingue dois momentos na condução dos governos neoliberais após a década de 70 que se
refletem em ênfases distintas da definição das políticas sociais: nos anos 80 e nos anos 90.
4 O Novo Paradigma Tecnológico
No plano econômico, após os anos 70, o processo produtivo passa a incorporar cada vez mais os avanços da
tecnologia como a microeletrônica, a informática, as telecomunicações, as energias renováveis e os novos
materiais. Entre as principais tendências que esse novo padrão industrial apresenta é possível destacar, em
primeiro lugar, o desenvolvimento da tecnologia digital de base microeletrônica e o progresso técnico que o
próprio complexo eletrônico passou a gerar. O complexo eletrônico proporciona expansão e confere vantagens
competitivas às indústrias, em virtude de seu potencial inovador.
- -8
Novas técnicas e novas formas de organizar os trabalhadores nas empresas são implementadas. Uma nova
forma, um novo paradigma produtivo então começa a surgir: a produção flexível. Esse novo paradigma industrial
convive com o questionamento dos princípios fordistas de produção, o abandono de equipamentos rígidos,
voltados para a produção de produtos padronizados, e vê crescer a adoção de sistemas integrados de automação
flexível.
4.1 Características do Novo Paradigma Tecnológico
A introdução da automação e a substituição da eletromecânica pela eletrônica revoluciona e flexibiliza os antigos
processos industriais fordistas. São introduzidas então muitas mudanças na estrutura produtiva, que podem ser
sintetizadas pelas seguintes características da produção flexível:
Integração
Maior integração entre as etapas do processo produtivo, o que assegura um aumento de produtividade, pois,
com as inovações tecnológicas, ocorre a elevação dos tempos de utilização da maquinaria e dos equipamentos,
como também ocorre uma otimização do fluxo de materiais, reduzindo a porosidade (tempos mortos) do
processo e trabalho. Essa integração também se dá entre as empresas. Esse processo de integração vem
direcionando a formação de formas multindustriais, cooperativas, que têm como objetivo integrar
financiamento, fornecimento e produção sob o comando da grande empresa oligopolista. Formam-se então
grandes empresas concentradas, multindustriais, com grandes braços financeiros e que operam em escala
internacional (DELUIZ, 1995).
Flexibilidade
A flexibilidade das máquinas e equipamentos envolve as dimensões técnicas que garantem uma variação de
processo e produto que permite à produção seadaptar (maior número de lotes de produtos manufaturados
diversificados) às exigências de mercados menores e mais segmentados. Assim, ocorre a possibilidade de
produzir novos tipos de produtos, diversificados e mais sofisticados, atendendo à demanda de diferentes tipos
de consumidores. A flexibilidade se realiza também no âmbito da organização do trabalho produtivo, o que
inclui: a) a flexibilidade dos funcionários (que agora não assumem mais um posto de trabalho fixo, mas podem
ser alocados em diferentes tarefas e funções) e b) a flexibilidade de práticas de emprego - relativa à adoção de
contratos de trabalho mais flexíveis – o que engloba: a flexibilidade de salários (em função do desempenho da
empresa), a flexibilidade numérica (quando se ajusta o número de trabalhadores ao nível da produção mediante
a demissão e o contrato de trabalho temporário ou autônomo), a flexibilidade de horário, entre outras práticas
(DELUIZ, 1995).
- -9
Descentralização
Uma descentralização, que ocorre em dois níveis: a) no interior da mesma unidade produtiva, viabilizando a
separação de tarefas ou grupos de tarefas que se tornam relativamente independentes, e b) na subdivisão da
indústria em várias outras de menor porte, interligadas por modernas redes de comunicação. Parte das
atividades executadas no interior de uma única empresa também são frequentemente terceirizadas, ampliando a
gama de serviços demandada pela indústria e favorecendo a redução da força de trabalho industrial diretamente
vinculada às grandes empresas. A descentralização traz impactos também sobre a força de trabalho, na medida
em que as empresas subcontratadas acabam por gerar empregos diferenciados no que diz respeito aos salários,
estabilidade, com contratos irregulares, gerando a precarização de grandes contingentes de mão de obra.
Inovação
A possibilidade de criação e desenvolvimento de novos produtos, fazendo com que a inovação seja a marca da
produção flexível, com a adoção de novos processos de planejamento e de pesquisa de produtos e mercados.
Em contraposição à organização do trabalho taylorista-fordista, a transformação da fábrica num organismo
complexo, capaz de inovar e de atuar num mercado cada vez mais competitivo e segmentado, faz com que sejam
adotadas novas formas de organização do trabalho.
As relações hierárquicas e trabalhistas são reestruturadas e novas técnicas de gestão da força de trabalho
passam a ser incorporadas. O trabalhador é chamado a participar e tomar decisões relativas ao controle e
qualidade dos produtos, passando a responsabilizar-se pela introdução de aperfeiçoamentos e correções no
processo de produção. Nessa perspectiva, diluem-se as fronteiras entre os papéis desempenhados pela gerência,
pela supervisão e pelas funções operacionais. Diluem-se os contornos entre concepção e execução do processo
de trabalho. (DELUIZ, 1995).
A nova base técnica, assim, provoca um impacto nos processos de produção, determinando o surgimento um
novo paradigma produtivo, o paradigma da produção flexível, fundado na automação e na informatização.
A revolução tecnológica propicia a consolidação de uma nova forma de organização da produção e permite que
as empresas elevem seus níveis de competitividade. Assim, é pela utilização intensiva de tecnologia e pelas
inovações nos processos de gestão do trabalho que as empresas buscam se tornar mais competitivas e se manter
no mercado. A cada inovação nos produtos viabilizada por essas mudanças, as empresas ganham melhor posição
no mercado e ampliam seus lucros.
Essas transformações ocorridas na esfera produtiva não se consolidaram de forma homogênea em todos os
países ou setores, constituindo mais uma tendência do que uma prática uniforme. O fordismo persiste. O fato é
que hoje, o fordismo e o taylorismo convivem e se mesclam com outros processos produtivos que se
caracterizam pela emergência de novos processos de trabalho, pela flexibilização da produção, por novos
- -10
padrões de produtividade, novas formas de adequação à lógica do mercado. A eles estão associados novos
padrões de gestão da força de trabalho e de desconcentração industrial.
5 O Toyotismo
Entre todas as experiências da produção flexível, destacou-se no cenário mundial o toyotismo, nascido no Japão,
na fábrica de automóveis Toyota. O toyotismo revelou-se o modelo que operou uma revolução técnica mais
radical e que causou mais impacto, uma vez que alguns de seus pontos básicos têm penetrado em escala
mundial, mesclando-se ou mesmo substituindo o padrão fordista dominante.
5.1 A Natureza Capitalista da Produção Flexível
As mudanças operadas pelo toyotismo no âmbito da divisão técnica do trabalho, relativas à diluição dos
contornos entre concepção e execução, não significam uma forma de organizar a produção voltada para os
interesses dos trabalhadores. No toyotismo os homens trabalham em equipe, sem a linha de montagem, sem
trabalho parcelado. Os trabalhadores devem introduzir melhorias no produto, inovar, solucionar problemas,
operando com várias máquinas, programando e decidindo como fazer. São, portanto, operários que pensam e
fazem, diferentemente dos trabalhadores desqualificados do fordismo. (DUARTE, 2008). Os trabalhadores agora
pensam, tomam decisões, mas isso não significa a superação do capitalismo ou a consolidação de um processo de
trabalho comprometido com os interesses de emancipação dos trabalhadores. Sob o toyotismo, os interesses do
capital continuam prevalecendo.
Parte-se da noção de que o toyotismo deve ser entendido como um processo de trabalho essencialmente
capitalista e que as mudanças por ele operadas no âmbito da divisão técnica do trabalho, (relativas à diluição dos
contornos entre concepção e execução), devem ser compreendidas dentro do quadro do processo de valorização
do capital. A transformação operada pelo toyotismo “só é possível porque se realiza no universo estrito e
rigorosamente concebido do sistema produtor de mercadorias, do processo de criação e valorização do capital”
(ANTUNES, 1995, p.33).
5.2 O Toyotismo
Reafirmar a natureza capitalista do toyotismo é a posição adotada nesta disciplina. Entretanto, não existe
consenso sobre isso na literatura. Nesta disciplina coloca-se em discussão as teses como as de Coriat (1994) que
veem no sistema Toyota a presença de práticas mais democráticas de trabalho ou o sinal do surgimento de uma
sociedade de novo tipo, pós-capitalista ou pós-industrial. Coriat (1994) analisa positivamente o toyotismo, já que
- -11
o entende como um modelo que introduz a democracia nas relações de trabalho. Defende a ocidentalização e a
incorporação do modelo sob uma variante social-democrata.
6 Os Impactos do Paradigma Flexível nas Qualificações dos 
Trabalhadores
A mudança qualitativa na base técnica e organizativa do processo de trabalho acarreta impactos não apenas
sobre a divisão do trabalho, mas também sobre: o conteúdo do trabalho e a qualificação dos trabalhadores.
A análise a respeito do impacto que o paradigma flexível traz para as qualificações dos trabalhadores tem sido
realizada por vários autores com diferentes enfoques e abordagens. Num retrospecto das análises a respeito das
consequências das atuais transformações que ocorrem no mundo do trabalho sobre a dinâmica da qualificação
/desqualificação humana, é possível destacar duas visões.
Inicialmente predomina a tese da requalificação dos operadores (SOUZA; SANTANA; DELUIZ, 1999). A ideia era
que o novo paradigma trazia como consequência uma maior qualificação dos trabalhadores, antes
desqualificados no fordismo.
Vários autores colocaram a tese da requalificação em questão.
Antunes (1995) defende a tese da polarização das qualificações. Afirma que o avanço científico e tecnológico
introduz mudanças no processo de trabalho que se traduzem no peso crescente da dimensão mais qualificada do
trabalho, pela intelectualização do trabalho social. Defende a existência de uma polarização no que se refere à
qualificaçãodos trabalhadores. Afirma que se convive por um lado com uma dimensão mais qualificada do
trabalho (pela intelectualização do trabalho social), e por outro, com a desqualificação de inúmeros setores
operários, seja pela desespecialização dos trabalhadores multifuncionais do toyotismo, seja pela informalização
e precarização das relações de trabalho.
Assim, em determinados setores, se constrói, no centro da produção, um novo tipo de profissional com novos
atributos. Dele se exige mais educação geral, mais formação profissional. Um trabalhador capaz de:
• se antecipar, prevenir, solucionar problemas e tomar decisões.
• liderança, de desenvolver relações interpessoais, de desenvolver maior habilidade de comunicação etc.
• trabalhar em equipe e introduzir inovações e melhorias.
• responsabilidade, conhecimento do processo, ser aberto a mudanças.
• mais autonomia e criatividade.
• aprender continuamente e realizar trabalhos complexos e diversificados.
• ser polivalente (isto é, capaz de operar com várias máquinas e em diferentes forças).
• mobilizar saberes, construídos na escola, no trabalho e na vida, para dominar situações concretas, sendo 
capaz de transpor experiências. (DUARTE, 2008).
• raciocínio abstrato, dominar novos conhecimentos.
•
•
•
•
•
•
•
•
•
- -12
Ao lado desse grupo, isto é, ao lado da intelectualização de uma parcela da classe trabalhadora, o autor identifica,
na periferia da produção, a presença de inúmeros setores operários desqualificados. Constata a presença dos
operários desespecializados do fordismo, dos operários parciais, temporários, subcontratados, terceirizados, dos
trabalhadores da economia informal, dos desempregados.
Verifica-se, então, uma segmentação na classe trabalhadora do seguinte tipo:
no centro do processo produtivo encontra-se um grupo de trabalhadores, em processo de retração em escala
mundial, mas que permanece em tempo integral dentro das fábrica, com maior segurança no trabalho e mais
inserido na empresa. (...) esse segmento é mais adaptável, flexível e geograficamente móvel. (...) A periferia da
força de trabalho compreende dois subgrupos diferenciados: o primeiro consiste em empregados em tempo
integral com habilidades facilmente disponíveis no mercado de trabalho, como pessoal do setor financeiro,
secretárias, pessoal das áreas de trabalho rotineiro e de trabalho manual menos especializado. Este subgrupo
tende a se caracterizar por uma alta rotatividade no trabalho. O segundo subgrupo situado na periferia oferece
uma flexibilidade numérica ainda maior e inclui empregados em tempo parcial, empregados casuais, pessoal
com contrato por tempo determinado, temporários, subcontratação e treinados com subsídio público, tendo
ainda menos segurança no emprego que o primeiro grupo periférico. (...) ao mesmo tempo em que se visualiza
uma tendência para a qualificação do trabalho, desenvolve-se também intensamente um nítido processo de
desqualificação dos trabalhadores, que acaba configurando um processo contraditório que superqualifica em
alguns ramos produtivos e desqualifica em outros. (ANTUNES, 1995, p.53/54).
7 As Mudanças nas Relações de Trabalho e no Mercado de 
Trabalho
A introdução de um novo paradigma industrial e tecnológico não foi o único efeito da reestruturação mundial do
capitalismo ocorrido nos últimos anos. Concomitantemente, e como parte do mesmo movimento, podem ser
observadas profundas transformações nas relações de trabalho e no conjunto do mundo do trabalho.
Transformações que operam uma fratura nos termos em que estava constituída a relação capital/trabalho do
pós-guerra. Se este período do pós-guerra se caracterizou pelo avanço das conquistas trabalhistas (salário
mínimo, fundo de garantia, férias, 13º salário, entre outras), agora, com a ofensiva do capital reestruturado sob
predominância financeira, assiste-se a um novo alinhamento de forças, no qual o trabalho perde muito de seu
poder e representação. (PINHEIRO, 1999)
As conquistas dos trabalhadores obtidas no contexto do Estado do Bem-estar e as políticas de pleno emprego e
de crescimento econômico vividas no pós-guerra estão sendo questionadas, e a antiga relação salarial
- -13
consolidada nessa época está se desestruturando, fragmentando o mundo do trabalho e rompendo com as
formas de segurança do trabalho conquistadas nos anos dourados.
Essas mudanças dizem respeito não apenas à criação de novas e restritas relações de trabalho, mas também e,
sobretudo, à expansão da exclusão econômica e social. Elas trazem para o cenário atual uma realidade
impensável nos chamados anos de ouro, pois provocam: a redução do emprego, a ampliação do desemprego, a
intensificação do trabalho, o surgimento de novas formas de trabalho, as mudanças na forma e no conteúdo das
contratações e a redução do poder dos sindicatos.
A nova realidade do mundo do trabalho coloca em cheque a crença de que o mercado é eficiente e capaz de, em
seu processo de expansão, absorver um número crescente de indivíduos, que irão viver sob os mesmos
princípios de organização do mundo do trabalho: com salários e empregos assegurados para a grande maioria.
Assim, a atualidade coloca em questão a capacidade de o sistema capitalista garantir condições de trabalho e
vida digna para a maioria da população, bem como a sua capacidade de promover o progresso e de se
desenvolver de forma abrangente e homogênea. (PINHEIRO, 1999)
8 Refletindo Sobre a Atuação do Pedagogo A Partir do 
Atual Contexto do Mundo do Trabalho
Ao concluir esta aula, é necessário refletir sobre o papel do pedagogo neste novo cenário político, econômico e
social.
- -14
Você já compreendeu que, para atuar nas instituições, é fundamental entender como funciona o mundo do
trabalho e suas exigências para os profissionais da atualidade. Que, sem essa compreensão, é impossível educar
de modo crítico e comprometido com os interesses dos trabalhadores.
Como formar pessoas nas instituições, sem saber como funciona o mundo do trabalho e o que as
organizações esperam delas?
Se não compreendemos o que ocorre, podemos nos tornar inocentes úteis ao sistema, sem visão crítica e sem
capacidade de educar para a transformação social, ou mesmo prejudicando quem pretendemos ajudar. A seguir,
você verá cinco exemplos para refletir e compreender melhor esta situação.
Por exemplo: Se você for contratado(a) por uma empresa fordista para capacitar funcionários, será que estará
atuando a favor da transformação social se educar só para o exercício da tarefa, se apenas treinar o trabalhador
para "apertar parafusos"? De fato é exatamente isso que a empresa espera que você faça: que treine o operário
para que ele realize as tarefas exigidas no seu posto de trabalho com eficiência. Que ele faça isso bem e rápido.
Mas será que isso é bom para o trabalhador? É esse tipo de treinamento que vai ajudá-lo a crescer como
trabalhador e como cidadão? Se você for um pedagogo consciente e esclarecido, você poderá propor um outro
tipo de treinamento mais abrangente, propostas de educação mais amplas, que envolvam inclusive o aumento de
escolaridade do trabalhador...
Se você for contratado(a) para atuar em uma mutinacional, pode ser que tenha que lidar com profissionais de
perfil distinto de qualificação: com trabalhadores super-qualificados, com segurança, estabilidade no trabalho e
salários elevados, ao mesmo tempo em que precise orientar a formação profissional de trabalhadores sem
contrato, temporários e com baixa qualificação. Como atuar diante de trabalhadores com remunerações
díspares, contratados e terceirizados, convivendo num mesmo ambiente? É preciso atenção para não aprofundar
as diferenças, para atuar junto ao segundo grupo de modo a não aprofundar a precariedade das suas relações de
trabalho. Para atuar junto ao primeiro grupo, garantindo seus interesses, mas sem elitizá-los ou aprofundar
preconceitos contra os demais.
Se você for contratado(a) para atuar em uma organização da atualidade, pode ser que tenhaque lidar com
trabalhadores com um perfil de qualificação mais sofisticado. Trabalhadores dos quais a empresa exija
competências diferenciadas, ou como afirma Deluiz (2004, p.73), trabalhadores dos quais a empresa exija um
conjunto de competências que vai além: da dimensão cognitiva, das competências intelectuais e técnicas
(capacidade de reconhecer e definir problemas, equacionar soluções, pensar estrategicamente, introduzir
modificações no processo de trabalho, atuar preventivamente, transferir e generalizar conhecimentos), para as
competências organizacionais ou metódicas (capacidade de autoplanejar-se, auto-organizar-se, estabelecer
métodos próprios, gerenciar seu tempo e espaço de trabalho), as competências comunicativas (capacidade de
- -15
expressão e comunicação com seu grupo, superiores hierárquicos ou subordinados, de cooperação, trabalho em
equipe, diálogo, exercício da negociação e de comunicação interpessoal), as competências sociais (capacidade de
utilizar todos os seus conhecimentos - obtidos através de fontes, meios e recursos diferenciados - nas diversas
situações encontradas no mundo do trabalho, isto é, da capacidade de transferir conhecimentos da vida
cotidiana para o ambiente de trabalho e vice-versa) e as competências comportamentais (iniciativa, criatividade,
vontade de aprender, abertura às mudanças, consciência da qualidade e das implicações éticas do seu trabalho,
implicando no envolvimento da subjetividade do indivíduo na organização do trabalho).
Será que educá-los com esse perfil é interessante para os trabalhadores? Certamente que sim. É suficiente para
promover uma maior conscientização e emancipação dos sujeitos? Certamente que não. Pense nos interesses do
capital. Pense que ele lucra agora com a subjetividade operária. Interessa um profissional capaz de pensar com a
cabeça da empresa. Pense no trabalhador. Pense que ele, além de profissional, precisa ser educado para ser um
cidadão, consciente de seu papel e do lugar que ocupa na sociedade.
Nesse sentido, como pedagogo, você precisa formá-lo com competências mais amplas, também com
competências políticas. Como afirma Deluiz (2004, p.74), as competências exigidas pelo capital são necessárias
ao sistema produtivo, mas não são suficientes quando se tem como perspectiva a expansão das potencialidades
humanas e o processo de emancipação individual e coletivo. No processo de construção destas competências, é
preciso, pois, propiciar uma formação que permita aos trabalhadores agir como cidadãos produtores de bens e
de serviços e como atores na sociedade civil, atendendo a critérios de equidade e democratização sociais.
Neste sentido, ao conjunto das competências profissionais acrescem-se as competências políticas, que
permitiriam aos indivíduos refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção (compreendendo sua posição
e função na estrutura produtiva, seus direitos e deveres como trabalhador, sua necessidade de participação nos
processos de organização do trabalho e de acesso e domínio das informações relativas às reestruturações
produtivas e organizacionais em curso), assim como na esfera pública, nas instituições da sociedade civil,
constituindo-se como atores sociais dotados de interesses próprios que se tornam interlocutores legítimos e
reconhecidos.
E se você for contratado(a) por uma ONG para atuar em educação profissional com crianças e jovens? Como você
vai atuar se não compreender o sentido político do trabalho no Terceiro Setor? Se não compreender que o
Estado neoliberal se ausentou da execução das políticas públicas, deixando alguns serviços sociais a cargo da
sociedade civil? Se não entender que essas políticas são, na maioria dos casos, assistencialistas? Se você não tiver
uma visão crítica, acabará trabalhando na ONG aprofundando as diferenças sociais. Sem exercer seu papel
transformador.
- -16
Como afirmam Deluiz, Gonzáles e Pinheiro (2003, p.40), as ONGs que atuam nas políticas de educação
profissional, apesar de terem como missão: “buscar alternativas para a melhoria da qualidade de vida e
oportunidades sociais para segmentos da sociedade em desvantagem social, muitas vezes sua prática
educacional é assistencialista e contribui para a manutenção das desigualdades sociais”. Isso porque oferecem
aos jovens “uma formação atrelada à lógica do mercado, sem a perspectiva de ampliação da escolaridade básica e
de reflexão sobre o mundo do trabalho e sobre a sociedade capitalista”. Ao contrário dessa visão, os processos de
transformação social dependem de que as populações tradicionalmente excluídas do conhecimento e do
exercício da cidadania possam ter uma formação técnica e política, capaz de viabilizar uma efetiva participação
na sociedade.
Vamos refletir sobre outro exemplo. Pense que você está coordenando a parte pedagógica de um cursinho básico
de informática oferecido por uma ONG aos jovens de uma comunidade. Se você não compreendeu corretamente
o contexto do mundo do trabalho, vai acreditar ingenuamente na proposta defendida pela ONG. Ela certamente
afirma que está agindo no sentido de buscar tornar seus alunos empregáveis.
Defende que eles, após o curso, serão capazes de se responsabilizar pela geração de sua própria renda, por um
trabalho por conta própria, que lhes garanta a sobrevivência. Certamente a ONG acredita que está fazendo o
melhor para a população. Como acreditar nisso se você sabe que no mundo globalizado não existem empregos
para todos? Que o mundo do trabalho da atualidade é excludente, que a segurança no trabalho e a estabilidade
dos anos dourados já não existem mais, que o mercado de trabalho é marcado agora pelo desemprego e pela
precarização? Se isso é fato, quando as ONGs responsabilizam os jovens por sua inserção no mercado, acabam
por reforçar a visão liberal. Se o aluno não conseguir emprego/trabalho depois da realização do curso, ele vai se
sentir o único responsável por sua situação laboral. Não vai perceber que seu provável fracasso se deve as
condições excludentes do mercado de trabalho da atualidade. Como afirmam Deluiz e Pinheiro (2006, p. 56), as
ONGs contribuem para difundir uma ideologia de passividade, uma vez que as dificuldades de inserção no
mercado são vividas como fracasso pessoal, resultante da incapacidade dos indivíduos de negociarem as
competências adquiridas nos processos educativos. Não há compromisso com a formação de cidadãos
conscientes de seu direito à renda, ao trabalho e ao emprego, que são capazes de lutar pela transformação das
relações que produzem a exclusão.
A ênfase na empregabilidade associada à aceitação passiva da realidade excludente do mundo do trabalho
transfere para a educação profissional um poder e um papel que ela de fato não possui: de superação das
dificuldades das camadas populares no mundo do trabalho. Nessa perspectiva, ao assumirem a empregabilidade
como finalidade das suas ações educativas, as ONGs convertem a educação profissional em um instrumento de
mistificação, encobrindo o real desinteresse por parte do Estado no enfrentamento das questões sociais e
- -17
econômicas mais amplas. Ao atuar como parceiras do Estado na autorresponsabilização dos setores mais
carentes pelo desenvolvimento de respostas aos problemas de geração de trabalho e renda, as ONGs acabam, no
limite, por legitimar a própria "desresponsabilização" do Estado neoliberal na intervenção social. Mas, ao
contrário, se você tiver clareza sobre o cenário e desenvolver uma visão crítica sobre o mundo do trabalho,
poderá ver que essas "migalhas" que o Estado Neoliberal oferece as camadas populares, que esses cursinhos
aligeirados, não contribuem de fato para a emancipação dos jovens e crianças atendidos. Quem sabe você
poderá, então, propor na ONG uma formação mais ampla, que envolva a discussão de questões relativas à
cidadania, de forma lúdica e integrada, contribuindo para a ampliação da visão de mundo desses jovens e para o
aumento de sua escolaridade...
O que vem napróxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• Sobre as organizações, as organizações, principal lócus de atuação do pedagogo. Você irá aprender que, 
em uma perspectiva crítica, as organizações têm como função atenuar os conflitos sociais. Fazem isso 
buscando impedir que os conflitos dos trabalhadores se transformem em conflitos coletivos. Com esta 
intenção, as organizações criam um sistema coerente, orientado para a subordinação e para o 
enquadramento dos trabalhadores à ordem econômica, política e ideológica capitalista.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Analisou o regime de acumulação flexível que emerge no cenário mundial após a crise do fordismo, em 
meados dos anos 70;
• percebeu que o neoliberalismo correspondeu a uma estratégia de gestão do capital frente às mudanças 
estruturais no capitalismo, a partir de uma nova divisão internacional do trabalho;
• aprendeu que no plano econômico essa nova etapa do processo de acumulação capitalista foi marcada: 
pela introdução de novas tecnologias, pelo abandono dos equipamentos dedicados, pela introdução de 
novas técnicas organizacionais, pela flexibilização de produção, e por mudanças na gestão da força de 
trabalho;
• compreendeu que as transformações de ordem econômica acarretam mudanças no mercado de trabalho.
•
•
•
•
•

Outros materiais