Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
18 DOR PÉLVICA CRÔNICA É definida por uma dor em baixo ventre, não cíclica (lembrar que a dor cíclica é a da dismenorreia – importante diagnóstico diferencial) que possui uma duração > 6 meses. Na anamnese questionar sobre irradiações, fatores que modificam a dor, ciclo menstrual, antecedentes ginecológicos e obstétricos, cirurgias prévias, sintomas somáticos não relacionados a dor pélvica (náusea, vômitos, febre etc.), história sexual e perfil psicológico (insônia, por exemplo). Endometriose é uma importante causa de dor pélvica crônica. Realizar um exame físico bastante completo, analisar se a dor é da parede abdominal ou é uma dor mais profunda. Palpar musculatura vaginal (as vezes a dor é miofascial). Ver se ocorre dor na palpação do fundo de saco posterior (aponta muito para endometriose). Analisar cuidadosamente os anexos. PERFIL PSICOLÓGICO DAS PACIENTES COM DPC IDIOPÁTICA Número maior de cirurgias prévias. Maior número de sintomas somáticos não relacionados à dor pélvica. Quase 50% possui história prévia de abuso sexual. 50% das patologias psicológicas associadas e não aceitação de explicações/tratamentos não somáticos de seus sintomas (= não aceitam que existe uma explicação orgânica para essa dor). EXAMES COMPLEMENTARES Nem todos são para o diagnóstico da doença, mas auxiliam no diagnóstico. Citologia oncótica. Hemograma. EPU/Urocultura. Culturas cervicais: analisar possíveis sequelas de cervicites ou DIP (podem ou não estarem presentes). EPF/Sangue oculto. USG: na procura de um cisto ovariano grande ou alguma causa que ainda não foi diagnosticada. Geralmente o USG é normal, não ajudando elucidar o quadro. Laparoscopia diagnóstica: pode ser terapêutica em alguns casos. CAUSAS SOMÁTICAS Endometriose Infecção ginecológica. Congestão vascular pélvica: pode ser somente um achado acidental, uma vez que a ação da progesterona leva à dilatação dos músculos e dos vasos. Aderências pélvicas. Distúrbios gastrointestinais (cólon irritável) e urológicas (cistite intersticial). Dor miofascial. DISMENORREIA É a menstruação dolorosa que ocorre pela liberação de prostaglandinas pelo endométrio. Possui um caráter cíclico, com duração máxima de 72h e com dor do tipo cólica. Geralmente é localizada em baixo ventre e pode apresentar irradiação para lombar ou membros inferiores. É importante diferenciar a dismenorreia primária (que é normal – permanece igual durante toda a vida ou diminui após o puerpério) da dismenorreia secundária, a qual é anormal e apresenta alguma causa de base, dentre elas citamos: Endometriose: atentar que a endometriose não aparece no USG simples, então nunca descartar essa possibilidade caso o exame vir inconclusivo. DIU: o de cobre apresenta mais dismenorreia que o mirena. Adenomiose: ocorre a invaginação da glândula endometrial para dentro do miométrio. !!! A paciente geralmente relata “minha cólica está muito pior agora do que quando eu comecei a menstruar com 13 anos” 19 (s.i.c) = dismenorreia secundária = mudou durante a vida. O tratamento de primeira linha são AINES que atuam inibindo as prostaglandinas sintetases. ENDOMETRIOSE É um processo benigno que ocorre através da presença de glândulas ou estroma endometrial fora da cavidade uterina. A paciente vai relatar um quadro de dor cíclica que piora no período perimenstrual, associado a dispareunia profunda ou com dificuldade para engravidar. O exame ginecológico muitas vezes é pouco elucidativo, mostrando apenas nodulosidades em fundo de saco de Douglas. O método de diagnóstico padrão ouro é a laparoscopia. O tratamento pode ser clínico (empiricamente quando há fortes suspeitas) ou cirúrgico (indicado quando a paciente quer engravidar naquele exato momento e não está conseguindo). Cisto rompido – lesão em cauda de chocolate. Endometrioma – cisto de endometriose no ovário. A endometriose possui uma prevalência de 10%. Existem três fatores correlacionados com a etiopatogenia da endometriose: (1) Menstruação retrógrada (teoria de Sampson) – no período menstrual uma parte da menstruação é regurgitada para trompas e acaba se depositando nos anexos ovarianos, atentar que endometriose em focos extragenitais e retroperitoneais não são explicados por essa teoria. (2) Genética – as mulheres que possuem endometriose apresentam um histórico familiar positivo para a doença. (3) Transformação celômica – uma célula tronco polipotente que pode gerar endometriose em tecidos extragenitais. A endometriose segue a rega do 1/3: 1/3 das mulheres não apresentarão quadro clínico; 1/3 apresentarão dor pélvica crônica; 1/3 apresentará infertilidade. Como cerca de 30-40% das mulheres são assintomáticas, é importante realizar um diagnóstico bem apurado. Principais sintomas: dor pélvica cíclica, dispareunia profunda, dismenorreia secundária, hemoptise, tenesmo, dor pleurítica, derrame pleural, disúria, hematúria (a endometriose invade a bexiga e o ureter), SNC. A intensidade dos sintomas não depende da quantidade de implantes. Exame físico: realizar em período perimenstrual. Podem ser vistos nódulos em FSP ou no ligamentos útero-sacros, retroversão fixa e aumento anexial (endometrioma). Exames complementares: VLP: não é realizado de rotina. Utilizado quando a paciente está tentando engravidar e não consegue; sem resultado ao tratamento clínico; endométrio profundo (focos > 5 cm); endometriose no septo vaginal e endometriomas com > 4 cm. USG TV: Não possui muita relevância. Poucos serviços no Brasil oferecem um USG TV especializado em endometriose, sendo que este possui maior importância, principalmente no diagnóstico de endometriose profunda. RNM: utilizado somente nos casos de endometrioses profundas. Entretanto, 80% das endometrioses são leves e não aparecem em exames de imagem. CA-125: é um marcador de endometriose profunda, porém muitos pacientes não apresentam elevação de seus números. Não é um bom exame de triagem, é muito utilizado nos casos em que o marcador vem alterado como forma de acompanhamento da doença (diminuiu ou aumentou?). Classificação: Estágio 1 Mínima (1-5 cm); Estágio 2 Leve (6-15 cm); Estágio 3 Moderada (16-40 cm); Estágio 4 Grave (> 40 cm). Tratamento: consiste numa forma de reduzir a dor, reduzir a infertilidade e postergar ou evitar recorrência. Tratamento da infertilidade: estudos mostraram que não houve benefício no uso de medicação para o tratamento de infertilidade nos casos leves (estágio 1 e 2), dessa forma, somente a opção cirúrgica consegue aumentar as chances de fertilidade dessa mulher. Nos casos mais graves (estágio 3 e 4) mesmo com a cirurgia, as chances de engravidar são baixas, uma vez que o tamanho da endometriose acarretou mudanças anatômicos no sistema reprodutor feminino. Nesses casos, está indicado a cirurgia e logo após uma fertilização in vitro. Pacientes com endometriose sem tratamento cirúrgico possuem 6% de chance de engravidar. Pacientes após o tratamento cirúrgico elevam essas chances para 12%. A idade da paciente também é muito importantes, mulheres jovens apresentam maiores chances de engravidar do que as mais velhas (> 35 anos). Tratamento da dor (clínico): é realizado empiricamente naqueles mulheres que não apresentam nenhuma massa pélvica ou que não possuem preocupação com a fertilidade imediata (não querem engravidar no momento). O tratamento clínico é embasado em criar um status hormonal desfavorável aos implantes ectópicos (progestágenos fazem o endométrio atrofiar, por exemplo). Exemplos: (1) Progestágenos: Desogestrel ou Dienogeste. (2) ACO cíclico ou contínuo: o cíclico pode ser utilizado quando a paciente apresenta muita acne. O estrogênio em teoria aumenta a endometriose, porém é utilizado para o bloqueio da anticoncepção e para o bloqueio do eixo hipotálamo-hipófise- ovário, trazendo, assim, mais benefícios do que malefícios. (3): MPA, Danazol, Gestrinona e Análogosdo GnRH (depois de 1-2 semanas de uso dos análogos, ocorre uma saturação dos receptores de GnRh que ocasiona uma down regulation). Tratamento da dor (cirúrgico): realizar nos casos de falhas do tratamento clínico. Geralmente por VLP tanto diagnóstico quanto terapêutica. Endometriomas com > 4 cm devem sofrer interferência cirúrgica. Buscar sempre o diagnóstico histológico. Pan-histerecotmia somente em casos mais extremos, pois a dor permanece em 10% dos
Compartilhar