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MALFORMAÇÕES CONGÊNITAS E ADQUIRIDAS DO ESÔFAGO ATRESIA DE ESÔFAGO/FÍSTULA TRAQUEOESOFÁGICA: CASO CLÍNICO 1 REFERÊNCIA: Cap. 21 Steven S. Rothenberg. ASHCRAFT CIRURGIA PEDIÁTRICA. EMBRIOLOGIA: ● Teoria 1: Durante a quarta semana de gestação, o intestino anterior começa a diferenciar-se em uma parte ventral respiratória e uma parte dorsal esofágica. O divertículo laringotraqueal então invagina ventralmente no mesênquima. A teoria tradicional supõe que o sistema respiratório ventral separa do esôfago pela formação de pregas traqueoesofágicas laterais que fundem na linha mediana e criam o septo traqueoesofágico. Entre 6 e 7 semanas de gestação, a separação entre a traqueia e o esôfago está completa. A fusão incompleta das pregas resulta em um septo traqueoesofágico defeituoso e em uma conexão anormal entre a traqueia e o esôfago. ● Teoria 2: Desequilíbrio no crescimento das pregas cranial e caudal presentes na região de separação traqueoesofágica. ● Teoria 3: Distúrbios da proliferação epitelial ou apoptose. ANOMALIAS ASSOCIADAS: A atresia esofágica (AE) pode ser dividida clinicamente em AE isolada e AE sindrômica., que ocorre aproximadamente na mesma proporção. As malformações associadas mais frequentemente encontradas são: ● Cardíacas (13-34%); ● Vertebral (6-21%) -> confinadas principalmente à região torácica; ● Membros e extremidades (5-19%); ● Anorretal (10-16%); ● Renal (5-14%). CLASSIFICAÇÃO: ● A: Atresia esofágica sem fístula -> OBS.: A atresia esofágica sem fístula apresenta maior risco de polidrâmnio ● B: Atresia esofágica com fístula proximal; ● C: Atresia esofágica com fístula traqueoesofágica: Subtipo MAIS COMUM; ● D: Atresia esofágica com fístulas proximal e distal; ● E: Fístula traqueoesofágica (tipo H) sem atresia; ● F: Estenose esofágica congênita; DIAGNÓSTICO PRÉ-NATAL: O diagnóstico pré-natal de atresia esofágica e fístula traqueoesofágica baseia-se, em princípio, em dois sinais não específicos: ● Polidrâmnio ● Bolha gástrica ausente ou pequena A combinação de um estômago pequeno em conjunto esôfago cervical dilatado (o sinal de bolsa) foi confirmado como sendo diagnóstico para AE pura em certo número de pacientes. No entanto, ele é encontrado apenas em alguns pacientes. A ultrassonografia não permite o diagnóstico preciso de AE/FTE. DIAGNÓSTICO PÓS-NATAL: Se for constatado polidrâmnio durante a gravidez, deve ser realizada a passagem de uma sonda ou cateter no estômago para avaliar a permeabilidade do esôfago. Como o AE impede a passagem de saliva para o esôfago, a saliva se acumula no esôfago proximal e na boca. A dieta oral deve ser suspensa até a continuidade do esôfago estar confirmada. Isto é melhor realizado através da inserção de uma sonda de calibre 10fr através do nariz ou da boca. Uma radiografia de tórax é então obtida com a sonda posicionada distalmente. Caso haja AE, a ponta da sonda ficará enrolada no coto proximal em torno de T2-T4. Esta técnica não só identifica a atresia, mas dá ideia do comprimento deste coto. Muitas vezes, o coto esofágico superior dilatado é visualizado através da presença de ar em seu interior. Já a visualização de ar no estômago significa a presença de uma FTE distal. A ausência de ar no estômago aponta para AE sem fístula distal. Se houver dúvida sobre o diagnóstico, uma pequena quantidade de contraste pode ser infundida no coto proximal. TRATAMENTO - PRÉ-OPERATÓRIO: Uma vez que o diagnóstico de AE foi estabelecido, o recém-nascido deve ser transferido para um centro de cuidados terciários com unidade de terapia intensiva neonatal e equipe de cirurgia pediátrica disponível. Deve-se inserir uma sonda de replogle 10fr no coto proximal do esôfago ficando em aspiração contínua. A criança é posicionada com a cabeça para cima e de lado. É importante estabelecer uma boa via de acesso vascular e monitorar continuamente os dados vitais. Se a criança estiver com desconforto respiratório, pode ser necessária a entubação endotraqueal e ventilação mecânica. No entanto, dependendo da evolução clínica, uma rafia emergencial da fístula traqueoesofágica pode ser necessária. Após a ligadura da fístula, a correção primária retardada pode ser realizada quando a criança estiver clinicamente estável. É recomendado não adiar por mais de 7 a 14 dias a realização da anastomose, porque, após este período, pode ocorrer a recanalização da fístula. Se a criança estiver extremamente instável, então uma gastrostomia de emergência para descomprimir o estômago pode ser a melhor opção. No entanto, isto pode resultar em perda significativa de volume corrente e também pode acarretar maiores repercussões respiratórias. Geralmente, o tratamento operatório de AE/FTE não é considerado como um procedimento de emergência. Há tempo suficiente para confirmar o diagnóstico e para avaliar anomalias associadas. CORREÇÃO CIRÚRGICA – ATRESIA ESOFÁGICA COM FÍSTULA DISTAL (TIPO C): A operação é realizada com o paciente sob anestesia geral e com acesso venoso adequado. Um cateter arterial é ocasionalmente benéfico dependendo do estado clínico do neonato. O oxímetro de pulso e a capnografia devem ser monitorados. A operação pode ser realizada através de toracotomia ou toracoscopia. A via de acesso torácico deve ser realizada oposta à descida do arco aórtico: lado direito para uma aorta descendente esquerda e lado esquerdo para uma aorta descendente direita. Se um arco aórtico do lado direito não é detectado até que se inicie a operação, a conversão para o lado esquerdo é apropriada se a abordagem toracoscópica foi inicialmente escolhida. Entretanto, se foi realizada a toracotomia, uma anastomose torácica à direita deve ser tentada, mas há uma maior dificuldade e morbidade neste cenário. - BRONCOSCOPIA PRÉ-OPERATÓTIA: A broncoscopia pode revelar anomalias, tais como uma nova fístula proximal, uma fenda laringotraqueoesofágica, estenose traqueal, ou um brônquio traqueal para o lobo superior direito. Geralmente obtém-se uma boa visibilidade do orifício da fístula distal. Sua distância para a carina fornece uma pista sobre o tamanho do hiato entre os segmentos do esôfago: quanto mais perto da carina estiver a fístula, maior a distância. A gravidade da traqueomalácia é mais bem avaliada quando a criança está em respiração espontânea. A desvantagem de realizar a broncoscopia pré-operatória é que ela pode prolongar o tempo cirúrgico e a criança pode descompensar antes da rafia da fístula. -TORACOTOMIA: ● Neonato com a aorta descendente esquerda: decúbito lateral esquerdo/Neonato com a aorta descendente direita: decúbito lateral direito; ● O braço do paciente é colocado sobre a cabeça; ● Incisão curva feita um centímetro abaixo do ângulo inferior da escápula; ● O triângulo auscultatório é aberto e os músculos afastados; ● O acesso à cavidade torácica é feito pelo quarto ou quinto espaço intercostal; ● Com a abertura do espaço intercostal, a pleura é cuidadosamente afastada posteriormente até que o mediastino posterior esteja exposto; ● Uma vez identificado, o esôfago distal deve ser dissecado proximalmente para localizar onde a fístula entra na traqueia; ● Em seguida, devemos rafiar a fístula justa a traqueia (suturar com pontos separados e depois realizar suturas de tração em cada extremidade); ● O fechamento traqueal pode ser verificado irrigando com água morna e aplicado uma pressão de ventilação superior para avaliar a saída de bolhas de ar; ● A atenção agora é dirigida ao esôfago proximal, que pode ser identificado pedindo ao anestesiologista para mobilizar a sonda de Replogle; ● Uma anastomose término-terminal é realizada com suturas absorvíveis a partir do meio da parede posterior de cada segmento esofágico. É importante incluir tanto a mucosa quanto a parede muscular com cada sutura. A sutura na parede posterior na anastomose é simples com pontos separados e com nós intraluminais. Em seguida, a parede anterior da anastomose é rafiada também com suturas simples separadas posicionandoos nós externamente; ● Antes de terminar a anastomose, a sonda 8fr ou 10fr é introduzida para o estômago. Isto protege contra o fechamento inadvertido do lúmen e para a descompressão gástrica. ● A utilização de um dreno torácico é opcional (até 4-5 dias pós-operatório); ● A toracotomia é então rafiada em camadas. - RECONSTRUÇÃO ESOFÁGICA: ● Esofagostomia e Gastrostomia após esofagectomia. ● A Esofagostomia cervical deve ser evitada, pois compromete a capacidade de executar uma anastomose primária entre os cotos no futuro. - SUBSTITUIÇÃO DO ESÔFAGO – ESOFAGOPLASTIA: ● Cólon; ● Tubo Gástrico; ● Estômago Total. ESTENOSE ESOFÁGICA: CASO CLÍNICO 2 REFERÊNCIA: Cap. 20 O Esôfago Nicole M. Chandler & Paul M. Colombani. ASHCRAFT CIRURGIA PEDIÁTRICA. ESTENOSES ESOFÁGICAS: ● Estenose por fibrose idiopática; ● Estenose por compressão por arco vascular anômalo; ● Estenose por remanescente cartilagíneo (coristoma); ● Estenose secundária ao refluxo gastroesofágico; ● Estenose por ingestão de substância corrosiva; ● Estenose funcional por acalasia do cárdia (megaesôfago congênito); ESTENOSE CONGÊNITA DO ESÔFAGO (ECE): A maioria das crianças são assintomáticas ao nascimento, por isso a ECE raramente é diagnosticada no período neonatal. O início dos sintomas, mais comumente vômitos, disfagia e déficit de crescimento, tipicamente se dá com o a introdução de comida sólida a partir de 4 a 10 meses de vida. Sintomas respiratórios estão presentes em cerca de 10% dos pacientes. Um esofagograma pode mostrar uma estenose abrupta ou cônica, comumente na junção dos terços médio e distal do esôfago. Avaliação adicional, incluindo pHmetria e endoscopia, é necessária para excluir o diagnóstico mais comum de DRGE associada à estenose e esofagite. Quando associada à atresia esofágica, a estenose é normalmente encontrada no terço distal do esôfago. ACALASIA: Acalasia é uma desordem crônica da motilidade do esôfago caracterizada por peristaltismo esofágico ausente ou pobre e falha do EEI para relaxar durante a deglutição e cuja etiologia específica é desconhecida. Em crianças, ela tem sido associada a várias síndromes, incluindo a trissomia do 21 e a síndrome do triplo A (acalasia, alácrima e insensibilidade ao hormônio ACTH). Os sintomas da acalasia são dependentes as idade. Recém-nascidos e lactentes podem apresentar regurgitação frequente, asfixia, pneumonia e retardo no crescimento. Em crianças mais velhas, os sintomas são semelhantes aos observados em adultos e incluem disfagia, vômitos e perda de peso. O esofagograma contrastado com bário mostrará aperistalse e dilação do esôfago, além de nenhuma ou mínima abertura do EEI, conhecida como sinal do “bico de pássaro”. A esofagomanometria é o teste padrão para diagnóstico de acalasia, e achados típicos incluem elevada pressão do EEI, incapacidade de relaxamento do esfíncter durante a deglutição e contrações peristálticas não progressivas, de baixa amplitude ou ausentes no esôfago. Não há cura para a doença subjacente, portanto o objetivo da terapia é reduzir a pressão do EEI para facilitar o esvaziamento do esôfago e melhorar os sintomas. Várias abordagens têm sido utilizadas para o tratamento: agentes farmacológicos, dilatação mecânica, e esofagomiotomia. O objetivo da esofagomiotomia é interromper a hipertonia do EEI o suficiente para eliminar a disfagia sem causar complicações de refluxo excessivo. Isto pode ser conseguido por uma abordagem torácica ou abdominal, aberta ou minimamente invasiva, com ou sem uma abordagem de antirrefluxo concomitante. LESÕES CORROSIVAS DO ESÔFAGO: ● Ingestão de soda cáustica (hidróxido de sódio): As lesões cáusticas têm classificação semelhante à de queimaduras. A classificação da lesão é baseada na avaliação endoscópica e utilizada clinicamente para ajudar e predizer o curso e os resultados clínicos subsequentes. Lesões cáusticas de primeiro grau são superficiais e resultam em edema e eritema. A mucosa esofágica se transformará, porém não se formará estenose. Lesões de segundo grau envolvem a mucosa, a submucosa e as camadas musculares. Elas resultam em ulceração profunda e tecido de granulação, após o que ocorrem deposição de colágeno e contração. Se houver lesão periférica, uma estenose pode se desenvolver. As lesões de terceiro grau são transmurais, com ulcerações profundas que dão ao revestimento do esôfago uma aparência enegrecida. Essas lesões podem resultar em perfuração esofágica. Os pacientes com grau 2b ou 3 desenvolverão estenose em 70-100% de casos. A classificação endoscópica da lesão mucosa prediz diretamente o risco de complicações com aumento de nove vezes na morbidade com cada aumento progressivo do grau da lesão. ● Ingestão de ácido clorídrico (muriático): estenose de esôfago podendo também haver estenose gástrica -> A lesão por ácido resulta em dor imediata e necrose coagulativa, com a formação de escara, que provavelmente limita a penetração tissular e a profundidade da lesão. A ingestão de ácidos causa mais comumente lesão gástrica, a de álcali normalmente resulta em lesão esofágica. ● Ingestão de pequenas baterias de relógio. ● Sintomas após ingestão corrosiva: Depois de uma ingestão corrosiva, os pacientes podem permanecer assintomáticos ou apresentar náusea, vômito, disfagia, odinofagia, salivação, dor abdominal, dor torácica ou estridor. Não há dados conclusivos para correlacionar sintomas ou valores laboratoriais com o grau da lesão. A ausência de sintomas ou lesões na orofaringe não exclui lesão esofágica. Na verdade, na endoscopia digestiva alta encontram-se lesões esofágicas em 12% dos pacientes assintomáticos e 61% daqueles sem trauma oral. Em pacientes sintomáticos, a presença de três ou mais sintomas é um importante preditor de lesão esofágica grave. ● Endoscopia de Imediato: A avaliação endoscópica deve ser realizada nas primeiras 24 a 48 horas após a ingestão. Contraindicações à endoscopia incluem choque, insuficiência respiratória, peritonite, mediastinite ou evidência de perfuração. A endoscopia não deve ser realizada depois de cinco dias, já que a fase de reparação já teve início, pois o esôfago está mais fino e o risco de perfuração é maior. Uma vez que o grau da lesão é identificado, uma avaliação suplementar do esôfago distal também aumenta o risco de perfuração. ● Sonda Enteral; ● Antibióticos e Analgésicos; ● Chance de Perfuração; ● Dilatações após 3 semanas; ● Provável evolução para perda do esôfago; ● Risco de neoplasia epitelial: carcinoma epidermóide do esôfago. ESTENOSE HIPERTRÓFICA DO PILORO: CASO CLÍNICO 6 REFERÊNCIA: Cap. 23 Curt S. Koontz • Mark L. Wulkan. ASHCRAFT CIRURGIA PEDIÁTRICA. DIAGNÓSTICO DA ESTENOSE HIPERTRÓFICA DO PILORO (EHP): A apresentação clássica da EHP é de vômitos em jato não biliosos em um neonato a termo que tenha entre duas a oito semanas de vida. Inicialmente a emese é infrequente e pode parecer doença do refluxo gastroesofágico. No entanto, ao longo de um curto período de tempo os vômitos ocorrem em todas as refeições e se tornam forçados (em jato). O conteúdo do vômito é das refeições recentes, mas não são incomuns sinais de gastrite (vômitos em borra de café). Ao exame físico o recém-nascido está bem, se o diagnóstico for feito cedo. No entanto, dependendo da duração dos sintomas e do grau de desidratação, o RN pode estar abatido e sonolento. Podem estar presentes ondas peristálticas visíveis na parte média e superior esquerda do abdome. A oliva pilórica é palpável em 72-89% dos pacientes. Para palpar o piloro hipertrofiado, o bebê precisa estar relaxado. Depois de palpar a borda do fígado, as pontas dos dedos do examinador devem deslizar na linha média da parede abdominal, tentando palpar a “oliva”. Se palpado, não são necessários outros estudos, caso contrário deve ser realizada ultrassonografia (US). A ultrassonografia se tornou a técnica-padrão para diagnosticar EHP, e suplantou o exame físico na maioria das instituições. Os critérios de diagnóstico paraestenose pilórica são uma espessura muscular de 4 mm ou mais e um comprimento do canal pilórico de 16 mm ou mais. Uma espessura de mais de 3 mm é considerada positiva se a criança tiver menos de 30 dias de vida. TRATAMENTO: A base da terapia é a reposição volêmica seguida por piloromiotomia. O distúrbio metabólico de alcalose metabólica hipoclorêmica e hipocalêmica ocorre na maioria dos pacientes. É importante saber que a EHP não é uma emergência cirúrgica e que a reposição volêmica é a prioridade inicial. A reposição inadequada pode levar à apneia pós-operatória causada por uma alcalose metabólica. A piloromiotomia pode ser realizada pela técnica convencional aberta ou pela abordagem minimamente invasiva, videolaparoscopia. REFLUXO GASTROESOFÁGICO: CASO CLÍNICO PÓS-TESTE REFERÊNCIA: Cap. 22 Corey W. Iqbal • George W. Holcomb III. ASHCRAFT CIRURGIA PEDIÁTRICA. HISTOLOGIA DO CÁRDIA: Inexistência de musculatura esfincteriana do cárdia. HISTOLOGIA DO PILORO: MECANISMOS ANATÔMICOS ANTIRREFLUXO: 1. Mecanismo da Gravata Suíça: ângulo de Hiss; 2. Mecanismo da roseta mucosa na zona de transição esofagogástrica; 3. Ligamentos; 4. Pilar diafragmático; 5. Extensão de esôfago intrabdominal; 6. Clareamento pelo peristaltismo esofágico e pela saliva. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: A apresentação da DRGE em lactentes e crianças e variável e depende da idade e do estado geral do paciente. Regurgitação persistente é a queixa mais comum pelos pais. No entanto, nos lactentes, os vômitos costumam ser fisiológicos e podem ser “normais”. Esse tipo de vômito é chamado calasia da infância, sendo visto precocemente na vida, geralmente durante a eructação, depois da alimentação ou quando os lactentes são colocados em posição supina. A calasia não interfere com o crescimento ou o desenvolvimento normal e raramente leva a outras complicações. No entanto, quando a regurgitação persistente é decorrente do RGE, pode levar a complicações, incluindo desnutrição significativa e deficiência do crescimento devido ao consumo calórico insuficiente. Nos lactentes, outro sintoma de apresentação é a irritabilidade causada pela dor. A esofagite dolorosa pode ser consequência do refluxo ácido. Como nos adultos, a dor é de origem retrosternal e costuma ser descrita como pirose. A DRGE de longa duração com esofagite pode levar à inflamação crônica ou até à formação de úlcera, com eventual cicatriz e estenose. A disfagia pode ocorrer em decorrência de estenose esofágica, bem como por distúrbio da motilidade esofágica secundariamente à inflamação da mucosa de longa duração. Sintomas obstrutivos e dor são as queixas associadas mais comuns nos casos de estenose esofágica. O esôfago de Barret é uma condição pré-maligna associada à DRGE prolongada. Sintomas respiratórios são frequentemente observados em lactentes e crianças. Pode ser difícil delimitar o papel do RGE como agente etiológico dos sintomas respiratórios, devido à semelhança dos sintomas vistos em outras doenças pulmonares e ao fato de que aspiração causada pela dismotilidade orofaríngea pode ser o fator inicial, não o RGE. Tosse crônica, sibilância, sufocação, apneia ou a síndrome da morte súbita do lactente (SMSL) podem ser sintomas atribuídos ao RGE. Bronquite ou pneumonia recorrente pode ocorrer pela aspiração do refluxato. A estimulação esofágica por meio da acidificação da mucosa causa laringospasmo e broncospasmo mediados pelo nervo vago, os quais se apresentam clinicamente como apneia ou sufocação, ou que podem ser confundidos com asma. A esofagite provavelmente potencializa esse mecanismo. Embora incomum, a hemorragia pode ser um sintoma de apresentação da DRGE. DIAGNÓSTICO: ● Radiografia contrastada do esôfago, estômago e duodeno; ● Cine-esôfago-gastroduodenografia; ● Cintilografia esôfago-gástrica; ● Ultrassonografia esôfago-gastro-duodenal; ● Ph-metria esofágica 24h. FLUXOGRAMA: TRATAMENTO CLÍNICO: ● Decúbito elevado a 45º todo o período; ● Dieta fracionada a curtos intervalos; ● Ranitidina; ● Drogas procinéticas: Domperidona. ● Eficaz em mais de 90% de casos. TRATAMENTO CIRÚRGICO: A conduta cirúrgica vem geralmente após a falha do tratamento clínico por crescimento insatisfatório (atraso de crescimento ou falta de ganho de peso apropriado), para a maioria dos sintomas respiratórios e outros sintomas, como dor e esofagite. ANOMALIAS INTESTINAIS CONGÊNITAS: CASO CLÍNICO REFERÊNCIA: Cap. 24. Pablo Aguayo • Daniel J. Ostlie. ASHCRAFT CIRURGIA PEDIÁTRICA. ATRESIA DUODENAL: ● Diagnóstico Antenatal: Há múltiplos benefícios em se estabelecer o diagnóstico antenatal de obstrução duodenal, incluindo o aconselhamento dos pais. O diagnóstico pode frequentemente ser sugerido pelo ultrassom (US) pré-natal. A avaliação ultrassonográfica em fetos de mães com histórico de polihidrâmnio pode detectar duas estruturas preenchidas por líquido, formando uma bolha dupla, em até 44% dos casos. Apesar de a obstrução duodenal ocorrer geralmente por volta da 12ª semana, a razão para a falha de diagnóstico pré-natal precoce não está inteiramente clara. A maioria dos casos de atresia duodenal é detectada entre os 7 e 8 meses de gestação. Atualmente acredita-se que a imaturidade no esvaziamento gástrico intraútero possa contribuir para as pressões gástricas baixas, não ocorrendo dilatação do duodeno proximal até uma fase mais tardia da gestação. Embora as camadas musculares, circular e longitudinal, estejam presentes no estômago por volta da 8ª semana de gestação, a pressão na 25ª semana é de apenas 60% da pressão gástrica do recém-nascido a termo. ● Diagnóstico no Neonato: A apresentação do neonato com obstrução duodenal varia, dependendo de a obstrução ser completa ou incompleta, e da localização da ampola de Vater em relação à obstrução. A apresentação clássica é a de vômitos biliosos nas primeiras horas de vida em um neonato aparentemente normal. Em aproximadamente 10% dos casos a atresia é pré-papilar e os vômitos não são biliosos.15 A distensão abdominal pode ou não estar presente. Nos neonatos com atresia duodenal o abdome é escavado. Nos casos suspeitos de obstrução duodenal no período pré-natal, bem como nos neonatos com apresentação clínica consistente de obstrução intestinal proximal, a radiografia do abdome em posição ortostática é suficiente para confirmar o diagnóstico de atresia duodenal. A apresentação radiográfica de atresia duodenal é a de um sinal de bolha dupla sem gás no intestino distal. CONDUTA: Depois de feito o diagnóstico é necessária a correção do balanço hídrico e das alterações eletrolíticas, além da descompressão gástrica. Em nossa instituição todos os neonatos com diagnóstico de obstrução duodenal realizam exames para que se tenha um perfil metabólico completo, hemograma completo, estudos de coagulação, ultrassom abdominal e espinhal, e ecocardiografia bidimensional antes de qualquer cirurgia. A cirurgia de emergência é realizada somente nos casos em que não se possa excluir a má rotação com vólvulo concorrente. Atualmente a técnica preferida é a duodenoduodenostomia aberta ou laparoscópica. ATRESIA JEJUNOILEAL: CASO CLÍNICO ● Diagnóstico Pré-Natal: Os achados do ultrassom incluem alças dilatadas do intestino e poli-hidrâmnio, que podem não estar presentes precocemente na gestação ou somente nas obstruções muito distais. Em um feto com esses achados anormais devemos pesquisar anormalidades gastrointestinais familiares, além de encaminhá-lo para avaliação pré-natal. A grande maioria dos pacientes com atresia jejunoileal não é diagnosticada no pré-natal. ● Diagnóstico Neonatal: Os neonatos com atresia ou estenose os sintomas são de obstrução intestinal, com vômitos biliosos e distensão abdominal. Embora o mecônio possa parecer normal, é mais comum ver tampões cinzentos de muco serem eliminados pelo reto. O diagnóstico de atresia jejunoileal pode ser feito pelo exame radiográfico do abdome, usando o ar ingerido como contraste. Os pacientes com atresia jejunalpodem ter algumas alças do intestino delgado preenchidas por gás e líquido, mas o restante do abdome não tem gás. Como as haustrações são raramente visíveis em neonatos, a atresia ileal distal pode ser difícil de se diferenciar da atresia colônica. (A. jejuno)) (A. íleo) CONDUTA: O manejo operatório das atresiasintestinais se baseia na localização da lesão, no tipo de lesão, nas condições associadas observadas durante a cirurgia e na extensão do intestino remanescente. ÍLEO MECONIAL - MUCOVISCIDOSE: Doença autossômica recessiva com alteração localizada no cromossomo 7 7 (7q31,2). É a doença genética de maior prevalência em indivíduos caucasianos, sendo a alteração presente em 1:18 indivíduos e sua incidência estimada em 1:5.000nascidos vivos. Caracterizada como uma exocrinopatia. Poderá ocorrer obstrução intestinal ao nascimento (íleo meconial ) em cerca de 15,0% dos casos, produzido pelo mecônio anormalmente espesso por alto conteúdo de albumina e alteração hidroeletrolítica. Desidratação por elevada perda de cloro e sódio no suor e síndrome de mal absorção por insuficiente produção de enzimas pancreáticas. É muito comum ocorrência de pneumonia por muco muito espesso. Pode haver icterícia por bile anormalmente espessa, com evolução para cirrose biliar. Diagnosticada pelo Teste do pesinho: Imunotripsina reativa (ITR) ou na criança maior pela concentração de sódio e cloro no suor. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Bebês com IM complicado apresentam sintomas em 24 horas após o nascimento. Alguns recém-nascidos são sintomáticos logo após o nascimento como resultado de perfuração in útero ou comprometimento do intestino. Os sinais de peritonite, incluindo distensão, sensibilidade, edema da parede abdominal, eritema e evidência clínica de sepse, podem ser encontrados no exame neonatal inicial. A distensão abdominal pode ser muito grave, causando desconforto respiratório imediato. A massa palpável sugere formação pseudocística, que resulta da perfuração do intestino in útero. O recém-nascido pode se apresentar in extremis e precisa de reanimação urgente e exploração operatória.
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