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AGENTE ETIOLÓGICO ❖ Tradicionalmente, as enteroviroses (família Picornaviridae, gênero Enterovirus) têm sido classificadas em viroses causadas pelos ecovírus, coxsackievírus A e B e pelos poliovírus, com várias designações para cada sorotipo individual (p.ex., Coxsackie vírus A1). ❖ No início dos anos de 1960, as enteroviroses recentemente descobertas tinham recebido designações numéricas (p.ex., enterovirose 71) antes de serem distribuídas nos grupos tradicionais. A classificação atual, baseada nas características moleculares e biológicas, divide as enteroviroses humanas em quatro espécies (A a D), mas mantém os nomes tradicionais para os subtipos individuais. ❖ Mais de 100 sorotipos já foram identificados. ❖ As polioviroses já foram erradicadas nos países desenvolvidos devido à vacinação. No entanto, os enterovírus não pólio continuam causando doença por todo o mundo. ❖ Em vários países, epidemias ocorrem a cada dois a três anos, afetando principalmente crianças entre um e quatro anos de idade. ❖ O momento das epidemias está relacionado ao acúmulo de uma nova população de crianças pequenas suscetíveis. ❖ Há uma predominância pelo gênero masculino nos pacientes com menos de 20 anos. No entanto, nos pacientes com 20 anos ou mais, existe um predomínio no gênero feminino, provavelmente A devido aos cuidados com as crianças infectadas. ❖ Essa apresentação foca nos padrões clínicos de enteroviroses: herpangina, doença das mãos-pés e boca e faringite linfonodular aguda. Esses três padrões clínicos estão intimamente relacionados e não devem ser considerados infecções totalmente independentes. Nos relatos de epidemias, nas quais muitos pacientes adquiriram o mesmo tipo de vírus, as apresentações clínicas normalmente variam e incluem tanto a herpangina quanto a doença das mãos-pés e boca. Além disso, vários pesquisadores consideram a faringite linfonodular aguda mais como uma variante da herpangina do que uma entidade separada. ❖ A título de especificação: 1. A herpangina está associada aos coxsackievírus A1 a A6, A8, A10 ou A22. Entretanto, também pode ser causada por uma infecção pelos coxsackievírus A7, A9 ou A16; coxsackievírus B2 a 6; ecovírus 9, 16 ou 17; ou enterovírus 71. 2. A doença das mãos-pés e boca é geralmente causada pelo coxsackievírus A16, mas também pode estar associada aos coxsackievírus A5, A9 ou A10; echovírus 11; ou enterovírus 71. 3. A faringite linfonodular aguda é menos reconhecida e o coxsackievírus A10 tem sido observado nos poucos casos relatados. SINAIS E SINTOMAS ❖ A maioria das enteroviroses é assintomática ou subclínica. Entre os casos sintomáticos, a apresentação clínica é variável e pode variar de febre baixa a uma infecção grave e potencialmente fatal. ❖ A maioria dos casos aparece no verão ou no início do outono em áreas não tropicais, com condições de higiene precárias e aglomerações, que favorecem a sua disseminação. ❖ A via orofecal é considerada a principal forma de transmissão e a lavagem frequente das mãos é enfatizada na intenção de diminuir a disseminação durante as epidemias. ❖ O período de incubação para esses vírus é de quatro a sete dias. Durante a fase aguda, o vírus também pode ser transmitido pela saliva ou por gotículas respiratórias. ❖ Nos três padrões clínicos, a gravidade varia de acordo com as cepas. A maioria das cepas produz uma doença autolimitante que não requer tratamento, mas algumas cepas podem causar epidemias com graves complicações podendo levar a óbito. Herpangina ❖ A herpangina começa com o aparecimento agudo de dor de garganta, disfagia (dificuldade para engolir) e febre, acompanhadas por tosse, rinorreia (corrimento nasal), anorexia, vômitos, diarreia, mialgia (dor muscular) e cefaleia (dor de cabeça). ❖ A maioria dos casos, entretanto, é leve ou subclínica. ❖ Um pequeno número de lesões orais, de duas a seis, aparecem na região posterior da boca, principalmente no palato mole. ❖ As áreas acometidas se apresentam como manchas vermelhas que dão origem a vesículas frágeis e rapidamente se ulceram. As ulcerações variam de 2 a 4 mm de diâmetro. ❖ Os sintomas sistêmicos regridem dentro de poucos dias; como era de se esperar; as ulcerações geralmente cicatrizam em 7 a 10 dias. Doença das Mãos-Pés e Boca ❖ A doença das mãos-pés e boca é a infecção pelo enterovírus mais bem conhecida. ❖ Assim como a herpangina, as erupções cutâneas e as lesões orais estão associadas a sintomas semelhantes aos da gripe (p.ex., faringite, disfagia, febre), algumas vezes acompanhadas por tosse, rinorreia, anorexia, vômito, diarreia, mialgia e cefaleia. ❖ O nome descreve bem a localização das lesões. As lesões orais e das mãos estão quase sempre presentes. ❖ As lesões orais surgem na ausência de sintomas prodrômicos e precedem o desenvolvimento das lesões cutâneas. Estão presentes dor de garganta e febre baixa. O número de lesões na pele varia de umas poucas a dezenas de lesões que afetam principalmente as bordas das palmas das mãos e plantas dos pés, bem como as superfícies ventrais e laterais dos dedos dos pés. ❖ As lesões cutâneas individuais surgem como máculas eritematosas que evoluem para vesículas centrais e cicatrizam sem a formação de crosta. ❖ As lesões orais são semelhantes às da herpangina, porém podem ser mais numerosas e geralmente envolvem a região anterior da boca. As lesões podem variar, em número, de 1 a 30. A mucosa jugal, a mucosa labial e a língua são os locais mais comumente afetados, mas qualquer área da mucosa oral pode estar envolvida. As lesões individuais medem entre 2 e 7 mm de diâmetro, porém podem ser maiores do que 1 cm. As lesões ulceram rapidamente e cicatrizam-se dentro de uma semana. Farringite Linfonodular Aguda ❖ A faringite linfonodular aguda é caracterizada por faringite, febre e cefaleia leve, que pode durar de quatro a 14 dias. ❖ Um pequeno número (um a cinco) de nódulos amarelos a cor-de-rosa escuros se desenvolvem no palato mole e nos pilares amigdalianos. Os nódulos regridem em 10 dias sem vesículas ou ulceração. DIAGNÓSTICO ❖ O diagnóstico dessas três enteroviroses normalmente é estabelec/ido pelas manifestações clínicas. Nos pacientes com apresentações atípicas, é prudente a confirmação laboratorial. ❖ O isolamento do vírus pela cultura pode ser executado. Culturas da garganta tendem a ser positivas durante os estágios iniciais da doença. ❖ A análise dos espécimes das fezes é a melhor técnica nos casos de pacientes que apresentam apenas lesões orais, enquanto a cultura das lesões cutâneas é melhor para o diagnóstico da doença das mãos-pés e boca. ❖ A demonstração sorológica da elevação dos títulos de anticorpos enterovirais entre os estágios agudo e convalescente pode ser usada para confirmar o diagnóstico em caso de dúvida. A PCR está cada vez mais disponível e tem substituído a cultura viral em vários laboratórios de diagnóstico. TRATAMENTO ❖ Na maioria dos casos, a infecção é autolimitante e sem maiores complicações. ❖ O tratamento é sintomático; o uso de antipiréticos que não contenham aspirina e de anestésicos tópicos, como cloridrato de diclonina, geralmente é benéfico. ❖ Ocasionalmente, certas cepas produzem infecções com curso clínico mais agressivo. Tais pacientes apresentaram temperatura corporal mais elevada (acima de 39°C), febre por mais de três dias, episódios graves de vômitos e letargia. Quando esses achados estão presentes, o paciente deve ser monitorado de perto devido à possibilidade do surgimento de complicações mais graves. ❖ Importante também ressaltar que a infecção confere imunidade contra uma reinfecção pela mesma linhagem. Apesar dessa imunidade, uma pessoa pode desenvolver imunidade contra vários tipos de enterovírus, mas continuar suscetível a cepas adicionais.
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