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Hemorragia e choque Emergências cirúrgicas – Prof. Felipe Góis Aula 7 – 25/03/2021 Fisiologia Definição: Choque é a expressão clínica da insuficiência circulatória que resulta em utilização inadequada de oxigênio pelas células. Em TODOS os tipos de choques ocorre a queda da pressão arterial e, consequentemente, um distúrbio na circulação de sangue, afetando os órgãos e tecidos do corpo. Os outros sinais e sintomas podem ser diferentes a depender da causa. Choque não significa hipotensão → Hipotensão é um sinal clínico. À medida que a circulação sanguínea é comprometida, a perfusão tecidual será mais comprometida diretamente. O sangue é composto pelo plasma e pelas células sanguíneas, plaquetas, leucócitos e hemácias. As hemácias são células anucleadas, de formato biconvexo que no seu centro existe a hemoglobina, que tem 4 grupamentos globina e um grupamento heme no centro, que é formado por um núcleo ferroso Fe+³ e um anel de porfirínico. O grupo heme se liga em uma ligação covalente com o O2 (alta afinidade). A hemoglobina carreia o O2 e leva para as células, sem o O2 as células não sobrevivem por muito tempo, porque incialmente realizam a respiração celular anaeróbia, que libera metabólitos tóxicos, sendo o principal deles o ácido lático, aumentando o índice de lactato e reduzindo o pH no sangue (estado de acidose). A respiração celular acontece até um certo limite, ultrapassando esse limite a célula morre. A meta do organismo é preservar os órgãos nobres (coração, cérebro, rins). A única célula que não faz respiração celular é o neurônio, por isso que o indivíduo que tem morte cerebral os neurônios morrem, mas os outros órgãos permanecem intactos, porque o coração segue batendo e levando circulação para o resto do corpo, sendo possível a doação de órgãos. Hipoperfusão tecidual → Hipóxia → Morte celular Fisiopatologia Medicina UniFTC – 8º semestre Mª Manuela Ribeiro O que diferencia os diversos tipos de choque são as causas da hipoperfusão, seja por sangramento, lesão medular, reação anafilática, TEP, vários mecanismos que podem gerar a fisiopatologia do choque. O volume sistólico/ débito cardíaco, pré-carga precisa vencer a pressão da valva aórtica (semi-lunar), a depender do que aconteça, essa pré-carga não será suficiente para vencer a pressão, no choque hipovolêmico, por exemplo, a quantidade sangue circulante no corpo é reduzida, a pós-carga (sangue que chega ao coração) diminui, menos sangue será ejetado e menos pressão vai fazer. Inicialmente, isso afeta diretamente o DC e o corpo tenta compensar aumentando a FC. Em outros padrões de choque esse mecanismo é diferente, no choque séptico, por exemplo, o volume intravascular está mantido, nesse caso são liberados muitos mediadores químicos, que atuam nos vasos periféricos e fazem vasodilatação, diminuindo a resistência dos vasos, perdendo a capacidade de bombear o sangue (o sangue fica represado) e fazendo com que menos sangue chegue aos tecidos. Nesse caso, a RVP é muito reduzida e para isso o corpo tenta aumentar o DC, na tentativa de manter a PA. Um outro exemplo seria o choque distributivo, a exemplo do choque anafilático, os mediadores vasodilatam os vasos periféricos, mas não trabalham diretamente em cima do DC e do VS, diferentemente do choque hipovolêmico. Frente a um caso de um paciente que esteja com hipotensão arterial é necessário avaliar sinais de má perfusão: • Palidez cutâneo-mucosa; • Pele com aspecto pegajoso e fria (a pele perde calor) • Oligúria ( formação de urina) • Alteração no nível de consciência • Taquicardia • Elevação do lactato (achado laboratorial, pode refletir um estado de desidratação) o Respiração anaeróbia → Liberação de ácido lático → níveis séricos do lactato • Hipotensão Sinais de má perfusão + Hipoperfusão → Quadro clínico compatível com choque Classificação Hipovolêmico Equivale a 16% dos casos de choque. Diminuição do volume intravascular (redução de volemia). Exemplo: o choque hipovolêmico hemorrágico é um tipo de choque em que o paciente perde muito sangue. Paciente queimado: resposta inflamatória inicial muito grande, vasodilatação intensa (vermelhidão inicial), migração de leucócitos que fazem um processo de degradação do tecido lesionado e, num segundo momento, o líquido sai do intravascular e vai para periferia. O grande queimado morre por causa do choque hipovolêmico, perde muito líquido ( permeabilidade) e acaba perdendo muita proteína, reduzindo a pressão oncótica. • A reposição volêmica no paciente queimado é baseada no grau da queimadura (superficial, profunda superficial e total) usa-se as regras de reposição volêmica, após 24h a reposição acontece de acordo com a diurese e FC. Não tem indicação de acesso central, PAM e ATB. Cardiogênico Equivale a 16% dos casos de choque. Capacidade de bombeamento prejudicado. Causas: • Insuficiência Cardíaca: hipertrofia cardíaca que gera um defeito contrátil no coração, provocando uma dificuldade no bombeamento. • Insuficiência coronariana: a exemplo do IAMSST ou sequelas do IAM; • DAC • IAM • Arritmias • Tamponamento cardíaco: sangue acumulado no saco pericárdico e impede o ciclo cardíaco, se acumulando no coração direito, pressiona o septo interventricular e o volume sistólico diminui. Tratamento: pericardiocentese subxifóidiana. Obstrutivo: Equivale a 2% dos casos de choque; Oclusão/obstrução de grandes vasos Causas: • TEP: a resolução é com a diluição do trombo, ou por trombectomia ou por antigoagulação. A maioria dos casos de TEP não tem uma repercussão tão intensa por ser subsegmentar, nos ramos finais da artéria. • Pneumotórax hipertensivo: aumento da pressão na artéria pulmonar e represamento do sangue no coração direito Distributivo: O coração está bombeando normalmente, o volume sanguíneo está adequado, mas o sangue se distribui de forma incorreta. Séptico: • Acontecem em 62% dos casos de choque; • São focos inflamatórios causados por SIRS; • Mediadores químicos aumentam a vasodilatação periférica, levando a RVP e, com isso, o sangue não é bombeado. Nesses casos, por exemplo, é usada a NORADRENALINA (vasoconstrictora) Neurogênico: • Desequilíbrio simpático e parassimpático; • Lesão raquimedular que compromete as terminações nervosas eferentes, deixando os vasos plegicos, entrando em estado de choque. O tratamento consiste em corticoterapia. Anafilático: Estado de hipoperfusão causado por uma reação de hipersensibilidade do tipo 2 mediada, em que ocorre uma liberação maciça de histamina (produzido pelos mastócitos) que é um vasodilator e, vai ocorrer uma vasodilatação muito grande, por isso o edema de glote (dilatação da mucosa que obstrui a rima glótica), isso se reflete na periferia através de uma vasodilatação periférica. Diagnóstico Clínico e laboratorial Frente a um paciente com sinais de má perfusão tecidual (TEC, hipotensão, palidez cutâneo-mucosa) + lesão de órgão alvo (oligúria, alteração no nível de consciência) + hipotensão e taquicardia → CHOQUE Sinais clínicos Hipoperfusão • Cutânea: pele fria e úmida, vasoconstricção e cianose; • Renal: débito urinário <0,5 mL/Kg/h • Neurológico: alteração no nível de consciência; Sinais hemodinâmicos Hipotensão arterial sistêmica • PS < 90mmHg ou PAM < 70mmHg Taquicardia Sinais bioquímicos Lactato sérico • > 1,5mmol/L Choque hipovolêmico Volume intravascular diminuído: 15 a 25% Hemorragia é a principal causa de choque no trauma; Lembrar da insuficiências cardíacas e coronarianas ( contratilidade cardíaca); Fatores de risco para choque hipovolêmico Fatores internos Fatores externos Hemorragias Trauma Queimaduras Cirurgia Ascite Vômitos Peritonite Diarreia Desidratação Diabetes insípido Diurese Mecanismo do choque Para compensar esse mecanismo do choquehipovolêmico o coração aumenta a FC. No momento em que o DC não for suficiente para manter a pressão arterial, vai ocorrer a hipotensão. Ao longo das artérias, em pontos específicos, como na junção da carótida interna com a externa a nível de C4, vão existir os barorreceptores, que são terminações nervosas que levam mensagem para o SNC, a medida que tiver pouco/muito sangue, a artéria se contrai/dilata e com isso manda um estímulo para o cérebro. No trauma contuso o principal órgão afetado é o fígado e depois o baço. Os rins não costumam sofrer tanto com traumas contusos porque são órgãos retroperitoneais, entretanto, a queda de cavalo comumente provoca um trauma renal contuso. Choque hemorrágico Hemorragia corresponde a perda de 7% ou mais de seu peso corporal em volume sanguíneo (aproximadamente 5 litros de sangue). Classificação segundo gravidade: define conduta inicial. Não aguardar instalação do choque → Iniciar volume precoce • Realizar 2 acessos calibrosos e infusão de 1000ml de ringer no atendimento inicial (atendimento inicial BÁSICO, quando ainda não se sabe a causa) Identificar o foco de sangramento (externo e interno) e contê-lo Diminuição do volume sanguíneo Diminuição do retorno venoso Diminuição do volume sistólico Diminuição do débito cardíaco Diminuição da perfusão tissular Conduta Garantir oxigenação (suplementação de O2 com MNR) Reposição volêmica inicial • 2000ml de solução isotônica no adulto • 20ml/kg de ringer na criança Sondagem vesical e nasogástrica Acesso vascular • Periférico • Intraósseo (perfuração na tíbia) • Central REAVALIAR!!! O sistema de drenagem superficial dos MMSS é formado pelas veias cefálica, basílica e mediana. A veia cefálica recebe a braquial e drena para axilar. Acesso venoso central: são as veias calibrosas, como jugular interna e veia femoral (no trígono inguinal, formado pelo músculo reto abdominal (medialmente), ligamento inguinal (inferiormente) e vasos epigástricos inferiores (superolateralmente). Nos MMII o sistema de drenagem profundo é formado pelas veias satélites. Já o sistema de drenagem superficial é formado pelas veias safena magna e parva. Classificação do choque Diurese e FC são os parametros mais impostantes porque mostram diretamente a lesão de órgão alvo Se o paciente não responder ao volume, precisa repor hemoglobina através de hemoderivados → chamar cirurgião Conduta Hemoderivados • Choque grau III e IV • Resposta transitória ou mínimas as medidas iniciais • Concentrado de hemácias • Plasma fresco congelado (crioprecipitado: rico em fatores de coagulação) Hipotensão permissiva: pressão suficiente para perfundir os tecidos as que não piore o sangramento Reconhecer a fonte de sangramento • “sangue no chão” + 4 locais (tórax, retroperitônio/loja renal, pelve e coxa) Avaliar resposta Choque hemorrágico Hemorragia visível Compressão local Membros → Torniquete Aorta (REBOA) Hemorragia não visível Estável FAST (USG) Estabilidade TC Líquido livre Cirurgia Instável Grave Cirurgia
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