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Resumo Bioquímica Saliva, proteínas salivares e saliva como biomarcador Por OdontoNathi Saliva Embora a saliva tenha um papel fundamental na manutenção da saúde bucal, infelizmente é o fluxo menos conhecido e valorizado do corpo humano, sua importância só é percebida quando da sua ausência total, como em casos de cárie grave pós-radioterapia. A saliva é a secreção glandular que banha a cavidade bucal. É formada pelos produtos de três pares de glândulas salivares maiores (parótidas, submandibulares e sublinguais) e de todas as glândulas salivares menores. Em média o ser humano produz 0,5L de saliva por dia. A composição salivar é muito variável entre os indivíduos e para cada indivíduo por conta de diferença de secreção de cada glândula, período do dia, natureza e duração dos estímulos, além de oscilação no fluxo salivar. Cerca de 99% da saliva é composta por água, o restante inclui proteínas e outros compostos orgânicos. Saliva não estimulada Corresponde à saliva total presente normalmente na cavidade bucal em ausência de estímulos exógenos. Forma um revestimento que cobre, umecta e lubrifica as mucosas e os dentes. Fluxo salivar normal da saliva não estimulada é em média entre 0,3 e 0,4 mL/min. É produzida principalmente pelas glândulas submandibulares (60%), pelas glândulas parótidas (25%), sublinguais (7-8%) e mucosas menores (7-8%). Redução do fluxo pode ocorrer durante o sono ou em situações de estresse, por exemplo. Nessas situações a taxa de limpeza da cavidade bucal é reduzida, ocorrendo uma aumento na concentração Bucal de compostos sulfurados voláteis, produtos da degradação de proteínas por microrganismos na cavidade bucal, tais compostos contém enxofre e são responsáveis pelo mau-hálito matinal. A diminuição do fluxo salivar durante o sono pode também potencializar o efeito remineralizante do fluoreto se o mesmo for utilizado antes de dormir. Alterações no fluxo salivar também podem causar hipossalivação (pouca saliva) e sialorreia (excesso de saliva). Fatores que afetam o fluxo da saliva não estimulada: Bioquímica oral, 2017 Saliva estimulada Secretada em resposta a estímulos externos que podem ser químicos (gustativos, olfativos, medicamentos) ou mecânicos (mastigação, vômito). Média do fluxo normal é de 1 a 3 mL/min. Produzida principalmente pela glândula parótida (50%) O fluxo salivar estimulado tem papel direto na manutenção da saúde bucal, promovendo a limpeza e eliminação de carboidratos e restos alimentares, o tamponamento e tem um maior potencial de reparar minerais perdidos pelos dentes. Bioquímica oral, 2017 Funções e propriedades da saliva A saliva possui diversas funções, a principal visa a manutenção a saúde bucal, bem como auxiliar na proteção do trato gastrointestinal. As funções e propriedades da saliva dependem da característica do fluido e da sua composição e podem ser agrupadas de forma simplificada em Fluido/lubrificação, digestão e paladar, ação antimicrobiana, limpeza e ação tamponante e manutenção da integridade bucal e remineralização. São as funções e propriedades: Fluido/lubrificação Revestimento que cobre as mucosas bucais, protegendo de irritação mecânica, térmica e química, além da desidratação. Serve como lubrificante na formação do bolo alimentar e é importante durante a fonação. Essa propriedade é conferida pela presença de mucina, sintetizadas pelas glândulas submandibulares, sublinguais e salivares menores e o revestimento é composto por mucina, cistatina, imunoglobulina A (IgA), amilase e estaterina, proteínas que protegem o epitélio oral contra invasão. Digestão e paladar Dissolvendo os flavorizantes dos alimentos, a saliva possibilita que eles entrem em contato com as papilas gustativas, palato mole, epiglotes, nasofaringe e esôfago, aguçando o paladar. A dissolução dos alimentos promove o início da digestão através da ação da amilase salivar, que hidrolisa o amido e o transforma em maltose, maltotriose e dextrinas, iniciando o metabolismo na boca, porém esse tempo é muito curto e, uma vez que o bolo é deglutido, a amilase é inativada pelo suco gástrico. Limpeza e ação tamponante Limpar e remover bebidas e restos alimentares da cavidade bucal é uma das funções da saliva, protegendo os dentes contra cárie e erosão, além disso, a saliva remove células epiteliais descamadas e bactérias. Ação remineralizante Concentrações de íons Ca2+ e PO43- da saliva estimulada e não estimulada fazem com que o fluido seja supersaturado com relação ao mineral do dente, porém não ocorre a precipitação espontânea dos sais. A precipitação é mediada por algumas proteínas salivares estabilizadoras de minerais, como a estaterina e a família de proteínas ácidas ricas em prolina, permitindo que a saliva regule os processos de remineralização e desmineralização. Ação antimicrobiana Função específica das proteínas salivares: Lisozima, lactoferrina, peroxidades, cistatina, histatina, glicoproteína salivar e imunoglobulina, que não eliminam totalmente os microrganismos, mas evitam o supercrescimento dos mesmos, mantendo o equilíbrio. LISOZIMA É secretada pelas glândulas salivares maiores, menores, fluido gengival e leucócitos salivares, está presente na saliva total e age na parede celular das bactérias gram-positivas. LACTOFERRINA É secretada por glândulas salivares maiores e menores e leucócitos salivares. Possui atividade quelante de ferro, inibindo assim a atividade metabólica de microrganismos patogênicos, além de inibir a aderência do Streptococcus mutans à película adquirida do esmalte. PEROXIDASES o Peroxidase salivar, secretada pelas glândulas parótidas e submandibulares. o Mieloperoxidase, derivada do fluido gengival. Estas têm funções antimicrobiana e de proteção, utilizando o peróxido de hidrogênio produzido pelas bactérias aeróbicas e o tiocianato da saliva para produzir um potente antimicrobiano, o hipotiocianato (OSCN-), que tem atividade antimicrobiana contra bactérias aeróbias, anaeróbias e vírus. CISTATINA Inibem a proteólise indesejada das proteínas salivares, fazendo com que não haja aminoácido para a síntese proteica por parte dos microrganismos. HISTATINA Secretada pelas glândulas parótidas e submandibulares. Existem 3 tipos: 1, 3 e 5. São capazes de inibir a aderência do Streptococcus mutans à película adquirida do esmalte, já a histatina 3 tem atividade antifúngica, podendo inibir o crescimento de Candida albicans. GLICOPROTEÍNAS SALIVARES Possuem a função de aglutinação de bactérias, função desempenhada por mucinas e aglutininas salivares de alto peso molecular, agregando microrganismos não aderidos à superfícies bucais, conseguindo reduzir a quantidade de microrganismos na cavidade oral, já que são removidos facilmente pela deglutição. IMUNOGLOBULINAS São anticorpos (IgA secretória, IgG e IgM gerados pelo sistema imunológico das mucosas, sendo específicos contra microrganismos que compõem a microbiota oral e outros que ingressam no corpo através da boca. Proteínas salivares Caracterização das proteínas Cerca de 1% do fluido salivar é composto por diversos tipos de proteína que participam da defesa da cavidade bucal e podem ser afetadas pela alteração do fluxo salivar. A proteínas são constituídas a partir de 20 aminoácidos primários unidos por ligações covalentes (peptídicas). Características das proteínas salivares As proteínas salivares possuem três características: Multifuncionalidade: Capacidade de uma única molécula exercer mais de uma função na cavidade oral. Redundância: Diz que a mesma função pode ser exercida por mais deuma molécula. Anfifuncionalidade: A molécula pode agir a favor do hospedeiro ou ser contrária a ele. Principais papeis das proteínas salivares Ao serem adsorvidas nos tecidos duros dentais, formam uma película que regula o processo de mineralização e desmineralização do esmalte dentário. Essas proteínas podem ser um dos principais fatores contra a cárie. Além do mais podem atuar como tampões para a regulação do pH da saliva. Saliva como marcador sanguíneo e ferramenta de diagnóstico A saliva é um importante biomarcador para o diagnóstico precoce de doenças. Essa função se dá pelo fato de que alterações no material genético e nas proteínas da saliva podem refletir o estado fisiológico da pessoa. Vantagens no uso da saliva como biomarcador: Baixo custo Exatidão Eficácia Facilidade para obter uma ou várias amostras sem desconforto para o paciente Risco mínimo de contaminação cruzada Utilidade para detecção de doenças em crianças, adultos e idosos. Referências: CURY, J. A., TENUTA, L. M. A., Tabchoury, C. P. M., Bioquímica Oral, Artes Médicas Ltda, Grupo A, São Paulo, 2017.
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