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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ (UECE) FACULDADE DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA DISCIPLINA: Sociologia e Extensão Rural DISCENTE: David Rocha Vasconcelos CONFLITOS AGRÁRIOS E AMBIENTAIS Hoje em dia, tendo em vista o atual contexto social e político brasileiro, principalmente quando tratamos de assuntos de ordem econômico-agrário e ambiental, é notável as inúmeras questões e problemas que enfrentamos. Desde o desmatamento desenfreado da Amazônia causado por facções de garimpeiros e pela pecuária, até os conflitos entre fazendeiros e movimentos sociais que reivindicam uma redistribuição de terras de forma justa. As áreas de preservação ambiental e indígena do Brasil são as grandes fontes de conflitos ambientais ou socioambientais. Um exemplo disso é a Amazônia, que sofre com o desmatamento e com o desinteresse do atual governo por políticas ambientais da sua fauna e flora. O agronegócio possui apoio fiscal e financeiro do governo, e utiliza o território para a pecuária extensiva e na produção de monoculturas agrícolas como a soja, por exemplo, que no fim é exportada, isso resulta em um aumento do ritmo demasiado do desmatamento da amazônia e a geração de conflitos agrários. O Brasil é um país marcado pela desigualdade desde os tempos coloniais, medidas como a divisão do território em capitanias hereditárias geraram consequências que se estendem até os dias de hoje. O território brasileiro é repleto de latifúndios que se encontram praticamente abandonados, desrespeitando completamente o art. 5°, XXIII da constituição federal que garante a “função social da propriedade rural”, apenas em função da especulação imobiliária. Movimentos como o MST (movimento dos trabalhadores sem-terra) buscam, por meio de ocupações e manifestações, a desapropriação dessas terras (com base na lei federal) e a sua redistribuição de forma justa, para que milhares de famílias de trabalhadores brasileiros possam ter onde trabalhar e morar. O MST é um dos movimentos político-sociais mais importantes do Brasil. A função social anteriormente mencionada diz respeito ao estatuto da terra, criado em 1964 pelo então presidente João Goulart, o estatuto dita as regras que as propriedades rurais devem cumprir, essas são: serem aproveitadas adequadamente; ter seus recursos utilizados em equilíbrio com a preservação do meio ambiente; serem exploradas de forma que favoreça o bem estar dos trabalhadores e proprietários e ter as regulamentações de trabalho obedecidas. Toda extensão de terra que não cumpre esses requisitos tem sua função social considerada perdida, e a constituição de 1988 prevê a desapropriação da terra (com indenização ao proprietário) e a divisão e distribuição da terra entre pequenos agricultores. Todo o processo é bem planejado na teoria, mas na prática a desapropriação raramente acontece e quando acontece é de forma tão lenta que acaba passando longe de ter qualquer efeito positivo, esse acaba sendo um dos principais motivos da ocupação pelas famílias integrantes do mst, tentar acelerar esse processo altamente lento. É nesse ponto que os conflitos agrários começam, as famílias de agricultores que compõem os núcleos do movimento ocupam lotes de terras ociosas que perderam sua função social e os latifundiários que são donos tentam por todos os meios não terem sua terra desapropriada. Como esses proprietários de terra possuem uma força econômica muito maior que núcleos de famílias agricultoras, eles podem contar com diversos meios para tentar parar o processo, seja com subornos a autoridades, divulgação em massa de notícias falsas sobre os integrantes do movimento, apelo a grandes políticos de extrema direita que defendem os mais ricos, ou até mesmo usando violência, expulsando as pessoas com uso criminoso de pessoal armado. Apesar de toda a oposição, injustiça, notícias falsas e de o Brasil ser atualmente o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, em grande parte graças às políticas anti-ciência do atual governo, o MST, por exemplo, continua sendo o maior produtor de alimentos orgânicos livres de agrotóxicos do Brasil, e ainda é o maior produtor de arroz orgânico da américa latina. Visto que vivemos num país onde existe uma grande extensão de terras férteis ociosas e que depois de anos volta novamente a ser assolado pelo problema da fome, a atuação desse movimento tem se mostrado muito útil, pois resolve os 2 problemas de forma muito sustentável, produzindo alimento de boa qualidade e livre de agrotóxicos. A questão econômico-agrária no Brasil está longe de ter uma solução, principalmente no contexto do atual governo, contudo, é notável que existem sim outras alternativas que podem ser viáveis, tanto no âmbito econômico como no ambiental. Apoiar a luta dos movimentos sociais é uma destas soluções, buscar políticos que se preocupam com esta é outra.