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Diabetes e Hipoglicemiantes

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1 João Victor Pinheiro 
Hipoglicemiantes orais 
INTRODUÇÃO 
O pâncreas é uma glândula que pode ser dividida em 
pâncreas exócrino, por produzir enzimas digestivas, e em 
pâncreas endócrino (ilhotas de langerhans), por produzir 
hormônios; 
Nas ilhotas de langerhans existem 5 tipos de células que são 
responsáveis pela produção de seus respectivos hormônios: 
1) Células alfa → produção de glucagon; 
2) Células beta → produção de insulina, peptídeo C e 
amilina (modula a secreção de insulina e glucagon); 
3) Células delta → somastotina (inibidor das células 
secretoras); 
4) Células épsilon → grelina (liberação do hormônio 
do crescimento na hipófise). 
DIABATES MELITO 
O diabetes melito (DM) corresponde a um grupo de doenças 
metabólicas com etiologias diversas, caracterizado por 
hiperglicemia, que resulta de uma secreção deficiente de 
insulina pelas células beta, resistência periférica à ação da 
insulina ou ambas; 
As duas principais etiologias são DM tipo 2 (DM2) e DM tipo 
1 (DM1); 
A hiperglicemia crônica do diabetes frequentemente está 
associada a dano, disfunção e insuficiência de vários órgãos, 
principalmente olhos, rins, coração e vasos sanguíneos. 
DIABETES TIPO 1 
Distribuição das células Beta, que acarreta na deficiência 
absoluta da insulina; 
Pode ser classificada de acordo com sua origem: 
Origem autoimune: DM Tipo IA; 
Origem idiopática: DM Tipo IB. 
No DM1, o indivíduo torna-se dependente do uso de 
insulina, o não uso pode levar a quadros graves como 
cetoacidose diabética; 
Geralmente surge na infância e adolescência; 
Sintomas clássicos: poliúria, polidipsia, polifagia; 
Tendencia à cetose; 
 
DIABETES TIPO 2 
É resultante da perda progressiva da secreção adequada de 
insulina pelas células beta, frequentemente antecedida pela 
resistência à insulina periférica à ação insulínica nos 
adipócitos e, principalmente, no músculo esquelético; 
Aumento da produção hepática da glicose, resultante da 
resistência insulínica no fígado; 
Predomina em adultos com excesso de peso e idade >30 a 
40 anos; 
Oligossintomáticos ou assintomáticos; 
A ocorrência de agregação familiar é mais comum no DM2 
doque no DM1; 
Fatores de risco: história familiar da doença, avançar da 
idade, obesidade, sedentarismo, diagnóstico prévio de pré-
diabetes ou DM gestacional e presença de componentes da 
síndrome metabólica (HAS e dislipidemia); 
É necessário o uso de hipoglicemiantes, e em alguns casos 
faz-se necessário o uso da insulina por falência das células 
beta; 
Indivíduos com DM2 sem tratamento ou controle 
inadequado da glicemia, pode ocorrer quadros de 
desidratação podendo levar a uma condição potencialmente 
fatal chamada de coma hiperosmolar não cetótico. 
DIABETES MELITO GESTACIONAL 
Intolerância à glicose, de qualquer grau, diagnosticada pela 
primeira vez durante a gravidez, e que pode ou não persistir 
após o parto; 
Hiperglicemia diagnosticada durante a gravidez, geralmente 
surgindo após a 24ª semana (mão implica risco aumentado 
para teratogênese); 
O quadro de DMG é revertido após o parto, mas tende a 
recorrer em gravidezes subsequentes; 
Gestantes com DMG estão sujeitas a complicações 
obstétricas, como polidrâmnio, toxemia gravídica, ruptura 
prematura de membranas amnióticas e maior frequência de 
partos por cesárea. 
 
 
 
 
2 João Victor Pinheiro 
HIPOGLICEMIANTES ORAIS 
Diminuem os níveis glicêmicos por diversos mecanismos, e 
podem ser separados em grupos: 
• Agentes que se ligam a canais de potássio na célula 
B e que estimulam a secreção de insulina 
(sulfonilureais, meglitinidas); → Secretagogos da 
insulina 
• Agentes que reduzem os níveis de glicose em 
virtude de suas ações sobre o fígado, o músculo e 
o tecido adiposo, além de sensibilizadores à 
insulina (biguanidas, tiazolidinedionas); → 
Sensibilizadores da insulina 
• Agentes que retardam a absorção intestinal da 
glicose (inibidores da a-gluvosidase); → Inibidores 
da absorção de glicose 
• Agentes que simulam o efeito da incretina ou que 
prolongam a sua ação (agonistas do receptor 
peptídico semelhante ao glucagon 1 [GLP-1], 
inibidores da dipeptil peptidase-4 [DPP-4]; 
• Agentes que inibem a reabsorção de glicose no rim 
(inibidores do cotransportador de sódio-glicose 
[SGLT]). 
SECRETAGOGOS DA INSULINA 
SULFONILUREAIS 
Estimulam a secreção de insulina pelo pâncreas. Fecham os 
canais de K+ dependentes de ATP presentes na célula beta 
→ despolarização da membrana e abertura de canais de 
cálcio voltagem-dependente → influxo de cálcio e liberação 
de insulina pré-formada; 
São metabolizadas pelo fígado e excretados pelos rins ou 
bile; 
Os principais efeitos colaterais são: ganho de peso e 
hiperinsulinemia → hipoglicemia; 
Vantagem: redução do risco de complicação microvascular; 
São contraindicados com pacientes com insuficiência 
hepática ou renal devido à demora na excreção. 
1ª geração: tolbutamida, tolazamida, Clorpropamida e 
acetoeamida (os fármacos de 1ª geração são raramente 
utilizados no tratamento de diabetes atualmente); 
✓ Tolbutamida: Meia-vida de 4 a 5h, uso: 500mg 
antes de cada refeição, dose máxima: 3000mg/dia; 
segura em pacientes idosos e com DRC; 
✓ Clorpropamida: Meia-vida de 32 horas, uso: 
250mg/dia (dose única); contraindicado em idosos; 
✓ Tolazamida: Meia-vida de 7h, dose inicial: 
500mg/dia, possui uma absorção mais lenta; 
✓ Acetoexamida: duração da ação de 8 a 24 horas, 
uso 0,25 a 1,5g/dia. 
2ª geração: glibenclamida, glipizina, glimeperida e glicazida 
(os medicamentos de 2ª geração são 100-200x mais 
potentes). 
✓ Glibenclamida: Duração média do efeito de até 
24h, dose inicial: 2,5mg/dia, dose de manutenção: 
5-10mg/dia (não exceder 20mg/dia); 
contraindicado em hepatopatias e DRC; 
✓ Glipizida: Absorção diminuída com alimentos 
(ingerir 30 minutos antes das refeições), dose 
inicial: 5-15mg/dia; contraindicado em 
comprometimento hepático grave e preferível em 
idosos; 
✓ Glimepirida: meia-vida de 5 a 9 horas, dose iniciak 
de 1mg e máxima de 8mg (REDUZ O NÍVEL DE 
GLICEMIA COM A MENOR DOSE DE TODAS AS 
SULFONIUREIAS); 
✓ Glicazida: meia-vida de 10 horas, dose inicial de 40 
a 80mg/dia, dose máxima 320mg/dia. 
MEGLITINIDAS/GLINIDAS 
Em contraste com as sulfoniureias, as glinidas tem inicio 
rápido e duração de ação mais curto, devendo ser 
administrada 3 vezes ao dia; 
Liberação precoce de insulina depois da refeição, são 
classificadas como reguladores glicêmicos pós-prandiais; 
Não podem ser utilizadas em associação com sulfonilureias 
(sobreposição do mecanismo de ação); 
São contraindicadas durante a gravidez; 
✓ Nateglinida: Inicio de ação muito rápido, duração 
da ação de 4h, uso: 60 a 120mg/ 3x ao dia; dose 
máxima: 360mg/dia; pode ser utilizada em 
pacientes idosos e com comprometimento renal; 
✓ Repaglinida: Inicio de ação muito rápido, duração 
da ação de 4 a 7 horas, deve ser tomado 
imediatamente antes de cada refeição, doses de 0,5 
a 40mg por tomada, com dose máxima de 
16mg/dia; risco de hipoglicemia se a refeição for 
adiada, podendo ser utilizada por pacientes idosos 
e com comprometimento renal. 
SENSIBILIZADORES DA INSULINA 
BIGUANIDA 
A metformina é a única biguanida comercializada no Brasil; 
 
3 João Victor Pinheiro 
Aumenta a captação e utilização de glicose; 
Reduz a produção hepática de glicose (bloqueia a 
gliconeogênese e glicogenólise hapática); 
Diminui a absorção de glicose; 
Ação sensibilizadora de insulina nos tecidos; 
Vantagens: Diminuição de eventos cardiovasculares, 
melhora do perfil lipídico, não causa hipoglicemia; 
Desvantagens: Deficiência de vit. B12 a longo prazo, acidose 
lática (raro) e desconforto no TGI; 
Contraindicações: Gravidez, insuficiência renal, hepática, 
cardíaca, pulmonar e acidose grave; 
Dose: 500-2550g/dia. 
TIAZOLIDINEODIONAS/GLITAZONAS 
São sensibilizadores de insulina e atuam 
predominantemente na resistência insulina periféricaem 
músculo, adipócito e hepatócito; 
Agonistas Agosnistas do receptor de hormônio nuclear-
PPARγ (responsáveis por modular a expressão de genes 
envolvidos no metabolismo de lipídeos e da glicose, na 
transdução de sinais de insulina e na diferenciação dos 
adipócitos e de outros tecidos); 
Aumentam a expressão do transportador de glicose (GLUT1 
E GLUT4), diminuem os níveis de ácidos graxos livres, e 
diminuem o débito hepático de glicose; 
Vantagens: melhora perfil lipídico, rara hipoglicemia; 
Efeitos colaterais: retenção hídrica, anemia, insuficiência 
cardíaca e fraturas; 
Contraindicação: gravidez, insuficiência cardíaca classe II e IV 
e insuficiência hepática. 
Pioglitizona: Absorção após 2h da ingestão, dose inicial de 
15 a 30mg/dia, não podendo ultrapassar 45mg/dia. 
INIBIDORES DA ABSORÇÃO DA GLICOSE 
Inibidores da absorção da alfa-
glicosidase: 
São drogas que retardam a absorção dos carboidratos, 
resultando em níveis glicêmicos pós-prandiais mais baixos; 
Melhora o perfil lipídico e provoca a diminuição de eventos 
cardiovasculares; 
Efeitos colaterais: flatulência, diarreia e dor abdominal 
(tendem a diminuir com efeito contínuo); 
✓ Arcabose: Pouco absorvida, dose inicial de 
50mg/2x, dose máxima de 300mg/dia (100mg/3x), 
diminui 30 a 50% os níveis pós-prandiais de glicose, 
contraindicado na gravidez; 
✓ Miglitol: Bem absorvido, dose inicial de 50mg 
(3x/dia), dose máxima de 100 mg(3x/dia), 
contraindicado em casos de insuficiência renal. 
INIBIDORES DA DDP-4 GLIPTINA 
Aumentam o nível de GLP-1; ↑Síntese da secreção da 
insulina; ↓Glucagon; 
Possui efeito neutro em relação ao peso e rara hipoglicemia; 
Possui reações de hipersensibilidade, infecções respiratórias 
superiores, cefaleia, nasofaringite; 
Contraindicado na presença de hipersensibilidade aos 
componentes presentes no medicamento; 
✓ Vildagliptina: Dose:50mg uma ou duas vezes ao dia, 
raramente pode causar hepatite; 
✓ Linagliptina: Dose: 5mg/dia, excreção via biliar, não 
necessita de ajuste na dosagem para paciente com 
comprometimento renal; 
✓ Saxagliptina: Dose diária de 2,5-5mg/dia, possui 
meia-vida de 2,5horas; 
✓ Sitagliptina: Dose diária única de 100mg, pode 
ocorrer hipoglicemia se associado a sulfonilureia e 
insulina, meia-vida de 12 horas, reduzir dose em 
pacientes com comprometimento renal (50mg → 
TFG= 30-50ml/min; 25mg → TFG < 30ml/min). 
INIBIDORES DO COTRANSPORTADOR DE SGLT2 
 
Impede a reabsorção da glicose no túbulo proximal renal e 
promove a glicosúria; 
Rara hipoglicemia, redução de peso, redução da PA, redução 
de eventos cardiovasculares e mortalidade em pacientes 
com doenças cardiovasculares; 
Os principais efeitos colaterais dos inibidores de SGLT2 
consistem em incidência aumentada de infecções genitais e 
infecções do trato urinário, por causa da glicosúria, provo-
cando uma mudança de pH na região geniturinária. 
Acometem cerca de 8 a 9% dos pacientes. A diurese 
osmótica também pode causar contração do volume 
intravascular e hipotensão; além do aumento de LDL, 
confusão mental e cetoacidose diabética; 
 
4 João Victor Pinheiro 
Não deve ser utilizado em pacientes com disfonção renal 
moderada a grave; 
✓ Empaglizofina: perda de peso de 2 a 3kg, dose 
inicial de 10mg/dia e dose máxima de 25mg/dia; 
✓ Dapaglizofina: Perda de peso de 2 a 4 kg, dose de 5 
a 10 mg/dia e em casos de insuficiência hepática 
(5mg/dia); 
✓ Canaglizofina: Perda de peso de 2 a 5 kg, terapia 
inicial de 100mg/dia e dose máxima de 300mg/dia.

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