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1 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 6 Introdução Falando-se de tumor hepático, o tumor mais comum seria metástase, mas se tratando de primário (tumor que nasce no próprio fígado), é o CHC. • É a neoplasia primária do fígado mais comum (90%) • Terceira causa de morte por câncer no mundo; • Entre a 6º e a 7º décadas, sexo masculino; esôfago e estômago tem uma preferência entre a 5º-6º década, enquanto o fígado muda um pouco. • Cirrose em 80-85% dos casos, é muito comum, por isso induz-se o pensamento para CHC e cirrose, mas também pode ocorrer em fígados normais (pela própria função hepática de morte e regeneração celular). Se for encontrado um fígado cirrótico, é necessário fazer rastreamento de CHC pelo resto da vida dos pacientes. A maior parte dos pacientes com CHC são cirróticos. • Relaciona-se a infecção do HBV (2-6%), HCV (3- 5%). Este é um dado referente a porcentagem de pacientes com HBC e HCV que evoluem para cirrose, não para CHC. O aumento de casos de infecção por HCV tem aumentado o número de CHC nos últimos anos. • Maior causa de morte entre cirróticos compensados. Fatores de risco • Cirrose hepática de qualquer etiologia (1/3 dos pacientes com cirrose vão desenvolver CHC) • Infecção pelo HBV (neoplasia sem cirrose) e HCV (54%-31%), ou seja, dos 100% dos pacientes com CHC, 54% são por HBV e 31% por HCV. Hepatite B, esteato hepatite e hepatite auto- imune podem fazer CHC sem fazer cirrose. As outras estão relacionados ao desenvolvimento de cirrose. • Álcool (14%), hemocromatose, cirrose biliar primária, deficiência de alfa-1-anti tripsina, doença de Wilson, criptogênica. • No Brasil, por álcool corresponde à 14%, 1% restante inclui as outras doenças como esteato hepatite e hepatite autoimune. Subtipo Existem esses dois subtipos principais porque histopatologicamente eles são diferentes, apesar de imaginologicamente serem semelhantes. • CHC; • CHC Variante Fibrolamelar: mais comum em adultos jovens, e também está relacionada à fígados normais (não cirróticos). Por ex.: se colocarem na prova um paciente entre a terceira e quarta década de vida, com CHC e fígado normal → variante fibrolamelar. Rastreamento • Todo paciente cirrótico → através de USG e alfa-fetoproteína a cada 6 meses. Quadro clínico • Assintomático; • Icterícia; • Ascite (por hipertensão portal e falência hepática); • Anorexia e perda de peso (relacionado à síndrome anorexia/caquexia); • Dor no andar superior do abdome (em especial localizada no hipocôndrio direito), pode ter massa palpável; HD é fígado ou vesícula. • Descompensação hepática no cirrótico; • Tríade clássica: dor no quadrante superior, perda de peso e hepatomegalia; • Síndrome de Budd chiari (trombose de suprashepáticas que o paciente faz ascite refratária; já pode chegar nessa situação); • Síndromes paraneoplásicas: hipoglicemia, trombocitopenia – não se relacionam diretamente ao câncer em questão, mas aparece com frequência em pacientes com esses tumores. ❖ Esses sintomas estão relacionados normalmente à pacientes cirróticos, alcoolistas, com doença avançada. Câncer Hepatocelular (CHC) 2 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 6 Diagnóstico Alteração de AFP, massa em USG (6/6 meses) → rastreio normal do paciente cirrótico. • Imagem + AFP > 400 ng/ml (30%): esses dois critérios são suficientes para fechar diagnóstico de CHC, porém essa AFP > 400 ng/ml só corresponde a 30% dos pacientes. Na verdade, menos de 30% tem essa AFP>100ng/ml. Se o paciente no rastreio encontrar uma massa em USG sugestivo sem alteração de AFP, deve-se prosseguir a investigação com exame mais sensível e específico, que são a TAC e RNM (são os 2 melhores exames para diagnóstico de tumores hepáticos). • TAC → são necessárias 4 fases para fechar o diagnóstico (sem contraste, arterial precoce, portal, excretora) → Com relação aos tumores hepáticos, tanto os benignos quanto os malignos é necessário observar o comportamento do contraste. * Na fase arterial ela corou muito, na venosa precoce ela descorou completamente → comportamento de lesões muito vascularizadas. O contraste tem um comportamento no fígado e outro na lesão. Se essa lesão tem muitos vasos (mais do que o fígado), o uso de contraste em fase arterial irá corar muito mais essa vascularização intratumoral, pois tumores de fígado são hipervascularizados, ficando extremamente branco. Quando o contraste vai saindo, na fase portal ele também o faz de forma rápida. Lembrando a fisiologia normal: o contraste entra na artéria vai na microcirculação, faz oxigenação do tecido e sai na veia (vênulas → veias). Realce arterial precoce e wash out (escoamento rápido – cora e descora rápido) nas fases portal e de equilíbrio → Padrão típico do CHC; • RNM → irá dar o mesmo padrão da TC. Hipersinal em T2 (lembrar que na fase T2 o líquido fica parecendo como se estivesse com contraste, porque ela usa o líquido como contraste próprio). Em T1 é o padrão de realce vascular semelhante a TAC - injeta o contraste, e observa paulatinamente o comportamento dele. Na RNM não precisamos pedir fase, até porque é um exame demorado e incômodo. Apenas solicitamos RNM de abdome superior para diagnóstico de tumor hepático (CHC) a esclarecer. Observar as particularidades em relação à tamanho de imagem: • Nódulos > 2cm: 1 exame de imagem. Se é característico, fecha o diagnóstico. • Nódulos entre 1-2 cm: 2 exames de imagem para obter o diagnóstico de CHC. • Nódulos < 1 cm: exame de imagem a cada 3 meses. Pode vir no laudo como lesão indeterminada ao método, porque nem sempre o método de imagem é suficiente para fechar o diagnóstico. Nesse caso, solicita-se a biópsia. • Biópsia: exceção, imagem não fecha, lesões volumosas, OU se tiver uma lesão com 1-2cm, realizado os dois exames de imagem, é sugestiva porque é hipervascular, mas não fecha o diagnóstico porque ela não faz o wash out. Na vida prática, raramente é feita a biópsia. Ou vai tirar ou vai acompanhar. Conduta de exceção: se a lesão tem características imaginológicas de uma lesão tumoral maligna (bordas irregulares, invasão vascular, lesão grande, apresentando crescimento, em acompanhamento), dificilmente vai fazer biópsia; vai entrar e tirar a lesão, considerando que é maligna. Quando as lesões são muito pequenas (1-2cm) e não são periféricas e que, acredita que será difícil a biópsia, aí faz-se a retirada. Se for central, precisa fazer US intraoperatório, e pode fazer tanto laparoscópico quanto aberto. Se tiver um fígado cirrótico, uma lesão entre 1-2 cm e o padrão for muito característico de CHC, faz-se biópsia porque o cirrótico não aguenta grandes excisões, mas se for um fígado normal acaba partindo para segmentectomia. A ideia inicial é fazer percutânea, SEMPRE. Toda vez que se pensar em procedimento cirúrgico deve- se pensar no menos invasivo possível. O menor é a punção. Caso não consiga, faz a aberta. Importante: O diagnóstico de CHC é por exame de imagem. Biópsia é exceção. 3 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 6 Avaliação inicial Este, talvez, seja o único capítulo que não vai fazer diagnóstico e estadiamento em seguida. Nesta situação precisa fazer o diagnóstico e pensar: este paciente tem condições cirúrgicas? (Lembrando que se trata de pacientes cirróticos). É necessário pensar se o paciente vai aguentar a cirurgia. 1. Função hepática de base: precisa saber se o paciente tem uma reserva hepática para ser submetido a cirurgia. 2. Hipertensão portal. 3. PS (performance status): fator que muda a cirurgia. Se é um paciente acamado, mórbido ou ECOG 0 (que faz tudo). 4. Estadiamento tumoral: é feito por último. Assim, entende-se, primeiro, quem é o paciente,qual “seu Child”. 1- Avaliação de função hepática remanescente ESCORE CHILD-PUGH é usado para cirurgia: classifica em A, B ou C e define se ele tem condição de fazer uma cirurgia. Ex: todo paciente com hérnia umbilical volumosa, child A, que tem dor constante, ele pode ser operado. Todo paciente child C, que não tem hérnia encarcerada, mas tem dor, não vai operar, pois ele não tem reserva. MORTALIDADE PÓS-OPERATÓRIA: • CHILD A: 10 → a mortalidade é razoável, por isso o paciente pode ser operado. Em grandes centros chega a ser até menor. Por isso, é melhor operado do que deixar o paciente com dor. • CHILD B: 30. • CHILD C: 80 → a mortalidade é muito alta, por isso prefere não operar. Para avaliar o CHILD-PUGH usa o mnemônico BEATA, e sua referente pontuação de acordo com a tabela: • Bilirrubina; Encefalopatia; Albumina; INR (TP): é função hepática; Ascite. No INR na tabela, ao invés de <2,3 ... é >2,3. De acordo com o número de pontos, define se é CHILD A, B, C: CHILD A: 5-6; CHILD B: 7-9; CHILD C: 10-15; Classificação da encefalopatia: deve ser verificada na tabela: normal, leve perda de atenção, paciente letárgico, sonolento mas responsivo ou em coma. Precisa memorizar essas tabelas. ESCALA MELD: A escala MELD ou Modelo para Doença Hepática Terminal é um sistema de pontuação para avaliar a gravidade da doença hepática crônica. Ela utiliza os valores do paciente de BIC - BILIRRUBINA sérica, CREATININA sérica e ÍNDICE INTERNACIONAL NORMALIZADO (INR) para predizer sobrevida. Este sistema também é utilizado para priorizar a alocação dos pacientes para transplante hepático. É calculado de acordo com a seguinte fórmula: MELD = 3,78 (Ln bilirrubina sérica (mg/dL)) + 11,2 (Ln INR) + 9,57 (Ln creatinina sérica (mg/Dl)) + 643 OBS: Ln = logarítimo natural. Não precisa gravar o algoritmo. Pode ser que precisa saber qual o que é usado: bilirrubina, creatinina e INR. O que deve dizer o valor do MELD? Na interpretação da escala MELD em pacientes hospitalizados, a mortalidade em 3 meses é: • MELD = 40 ou mais: significa que há risco de 100% de mortalidade em 3 meses. • MELD = 30 a 39: significa que há risco de 83% de mortalidade em 3 meses. • MELD = 20 a 29: significa que há risco de 76% de mortalidade em 3 meses. 4 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 6 • MELD = 10 a 19: significa que há risco de 27% de mortalidade em 3 meses. • MELD = < 10: significa que há risco de 4% de mortalidade em 3 meses. Quanto maior o CHILD, mais grave é o paciente. Quanto menor o MELD, melhor é o paciente. É a mesma coisa de OS e ECOG (quando um vai em uma direção, o outro vai na outra). 2 - Hipertensão portal • EDA: é usada para fazer o diagnóstico. • Pressão na veia porta: obtida através de coloração de um cateter num ramo pequeno da veia hepática insuflando um balão que oclui um ramo largo da veia hepática. A veia porta vai ser vista após a junção da mesentérica com a esplênica. Quando há uma pressão normal dentro da veia porta é até 8. Quando passar de 9-10, já tem hipertensão porta. Quando está acima de 12, o paciente já é de alto risco para sangramento por varizes. Quando começa a haver fibrose no parênquima hepático, há vasoconstricção e retração do vaso (como se fosse uma estenose). Assim, para o líquido passar da veia porta, precisa de mais força. Então, é assim que a cirrose faz hipertensão portal. A pressão aumentada na veia porta (vaso de ligação principal do fígado) acaba sendo distribuída para os vasos acessórios, que fazem irrigação gástrica e esofágica. Por isso que ocorrem as varizes de esôfago. Na endoscopia vai ser avaliada a hipertensão portal, que pode se observar varizes no esôfago (imagem da direita). Existe um gradiente de pressão na veia porta. Pode colocar um cateter, fecha a hepática e ver a pressão que o sangue está saindo. É um procedimento invasivo e em desuso. Se a veia porta está com alta pressão, a veia esplênica também irá sentir, fazendo uma esplenomegalia. Então, um sinal INDIRETO de hipertensão porta é a esplenomegalia. 3 - Perfomance status É a terceira avaliação. É feito o ECOG: • 0: assintomático, atividades normais; • 1: sintomático; • 2: sintomático, acamado menos que 50% do dia; • 3: sintomático, acamado mais que 50% do dia; • 4: acamado, pode necessitar de internação; • 5: morte. Observar que no ECOG o estado do bom paciente é com numeração menor. 4- Estadiamento • TNM: O T é adequado, sendo relacionado com o número de lesões e a invasão vascular (intra-hepática e de ramo principal): ❖ T2 é intra-hepática; ❖ T3b é de ramo principal; ❖ T4 já é de órgãos adjacentes. O TNM não é a classificação que é mais usada, pois não é um T com classificação de parede, que avalia bem. Por isso existe o BCLC (estadiamento pra CHC), que é um estadiamento a parte. BCLC: Esse é o estadiamento que é mais usado para CHC, que mais cai em prova. Usa os critérios de Milão, que são os critérios de nódulo para transplante hepático → paciente cirrótico com: 5 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 6 ❖ Nódulo único < 5cm; ❖ Até 3 nódulos < 3cm; ❖ Ausência de invasão macrovascular ou metástase. O critério de Milão serve para fazer o estádio precoce. Se o paciente está dentro desses critérios, ele é candidato a fazer o transplante hepático por conta do CHC. O BCLC estadia 0, A, B, C e D. • 0 (muito precoce): nódulo menor de 2 cm. • A (precoce): são os critérios de Milão → 1 nódulo menor que 5 cm ou 3 nódulos menores que 3 cm (CHILD PUGH A) • B (intermediário): já sai do critério de Milão. são múltiplos nódulos, mas não há metástase. (CHILD PUGH A ou B); • C (avançado): tem invasão de porta (importante na conduta, pois muda a ressecção, tem que fazer exérese de lesão com reconstrução vascular, se factível), linfonodo ou metástase positivos (CHILD A ou B); OS 1-2. B e C são pacientes borderlines. • D (terminal): independentemente do número de nódulos, o PS é ruim e CHILD PUGH é C (mortalidade 80%). Então, percebe-se como é importante a PS no paciente com CHC. O estágio terminal poderia até estar no critério de Milão, mas tem PS ruim, é CHILD C, então não opera de jeito nenhum. T/N/M: TAC DE TÓRAX E ABDOME Mesmo sabendo que o paciente já tem CHC, precisa ver o comportamento da lesão com o número de lesões associadas, para definir o tipo de cirurgia. A TC de tórax vai dizer se tem comprometimento de linfonodo intratorácico. “WASH OUT” → Imagem abaixo: A imagem A1 mostra a fase arterial precoce, pois o fígado não tem outros vasos arteriais corados, tem uma lesão bem corada. A imagem A2 tem a fase portal, que a fase venosa, estando o fígado corado de forma mais clara e a lesão de forma mais escura. Quando tiver lesão hipervascular na arterial e o fígado menos vascularizado e na outra imagem o fígado mais vascularizada e a lesão mais baixa, a soma dos dois é um wash out. Por que tem que ser a soma? Se tivesse só uma lesão hipovascular do fígado, só imagem na fase venosa, pensaria em meta, pois a principal lesão hepática é metástase. Mas se tiver a fase arterial de uma lesão hipervascular, e sabendo que meta não é hipervascular em 80% das vezes, já pode pensar em wash out. Então wash out é o padrão de ascender e abaixar precoce. As demais imagens estão mostrando o comportamento progressivo. Tratamento Opções curativas (0 e A) Ressecção cirúrgica, transplante e radiofrequência/ablação e injeção de etanol são opções curativas. As opções curativas são para quando o paciente está no estádio 0 ou A. É difícil responder qual é a escolha prioritária. No estágio 0 e A, no paciente cirrótico, o ideal era o transplante hepático, pois quando faz o transplante,além de tirar a lesão (câncer), tira a doença (cirrose). Mas há um déficit grande de órgãos, deixando o paciente oncológico na dependência do órgão aparecer e no local em que se encontra na lista. Por isso, quando pega o paciente com estágio muito precoce (CHILD A), sem hipertensão, MELD 9 6 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 6 no Brasil, de forma geral, acaba fazendo ressecção hepática, que cura o câncer, mas não cura a cirrose. O transplante é deixado para o quando o paciente é CHILD B e C, MELD >10, que não é precoce. RESSECÇÕES CIRÚRGICAS • Cirróticos: terapia secundária → morbimortalidade; • Child A, sem hipertensão portal, MELD < 9; • Volume hepático remanescente = ❖ 40% em cirróticos / 25% não cirróticos. Nesse caso, ele é candidato à ressecção cirúrgica, ou seja, opta-se pela ressecção cirúrgica por conta dessa logística. Quando se fala em fígado e em ressecção hepática, em indivíduos saudáveis, pode- se deixar de 25-30% do fígado, que ele regenera, e essa porcentagem dá conta de suprir o que é preciso. No entanto, em pacientes cirróticos deve-se deixar pelo menos 40% (alguns lugares deixam 30% e outros 40%), ou seja, dentro da tomografia em que o paciente vai ser operado, deve-se lembrar que tem que fazer volumetria hepática (é preciso saber o volume de fígado que vai tirar e o que vai ficar, para saber se o paciente pode). TRANSPLANTE • Child A, sem hipertensão portal, MELD < 9 (nesse caso não pode fazer ressecção porque ele não tem volume de fígado suficiente, fazendo com que seja necessária a realização do transplante – esses pacientes acabam sendo priorizados na fila de transplante, já que o transplante é reservado para casos especiais); • Cirrose, CHILD B ou C/MELD; • Sem metástase ou invasão vascular → critérios de Milão Quando se tem, por exemplo, três nódulos, menores do que 3cm, mas está no fígado direito e no fígado esquerdo, e o paciente não aguenta fazer a dissecção dos dois tumores → transplante. RADIOFREQUÊNCA, ABLAÇÃO, INJEÇÃO DE ETANOL • Tumores de 3cm. • Limitações: ascite, plaquetopenia, coagulopatia. Quando se acompanha um paciente e foi diagnosticado o CHC em dois lobos hepáticos não é possível ressecção cirúrgica. Ele foi colocado na fila, esperou um mês, mas a lesão está crescendo, o paciente está desconfortável, ou seja, a ressecção e o transplante não deram conta, parte-se para a radiofrequência. Pode-se fazer a radiofrequência de uma lesão e deixar outra, pois se por exemplo, fizer nas duas, ele sai/cai da lista de transplante imediatamente. Se for feita radiofrequência e essa lesão diminuir, ficar estável, segura-se o paciente ainda para o transplante. Portanto, deve-se lembrar que se foi diminuída a lesão, deve-se saber se esse paciente ainda é candidato à transplante, pois se essas lesões desaparecerem, ele sai da lista de transplante por CHC. No entanto, por exemplo, o transplante está demorando e não se pode esperar, pois pode-se perder o paciente, a doença é mais agressiva do que o normal, lança-se mão de outras coisas. Opções paliativas (B e C) Os estadio B e C não são mais opções curativas (como 0 e A), são feitas: 1. Terapias transarteriais (quimioembolizações – respostas excelentes, dá uma sobrevida boa); 2. Sorafenibe (QT) (quimioterápico que também é excelente para fígado). Caso haja disponibilidade, o melhor são as terapias transarteriais. Opções cuidado de suporte exclusivo • Sem tratamento específico para doença: Paciente em estadio B obviamente encontra-se com suporte. Quando se tem um paciente que é Child A, deve-se lembrar que Child C não é mais um candidato à ressecção cirúrgica. Os pacientes candidatos à ressecção cirúrgica são Child A, que não tem 7 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 6 hipertensão portal, nódulo único, então pode ressecar. No entanto, se houverem nódulos múltiplos, em critérios de Milão, mas esses nódulos estão em apenas um segmento, ainda pode-se ressecar, apesar de no fluxograma já orientar fazer transplante. Se forem nódulos múltiplos em lobos diferentes, onde a cirurgia não é factível, parte-se para o transplante. Se o paciente se encontra fora dos critérios de Milão, parte-se para a radiofrequência, quimioembolização. Além disso, pode-se fazer uma estratégia que eles usam também, onde é feita a radiofrequência, a lesão diminui e volta e opera. Teoricamente quando se faz downstaging, você traz o paciente para baixo no estadiamento, mas você deveria tirar a mesma coisa, no entanto, se tratando de um fígado cirrótico, não se tira a mesma coisa, tira apenas o que sobrou de lesão. Os pacientes com hipertensão portal, dentro dos critérios de Milão vão entrar diretamente no transplante, mas se estiver fora dos critérios de Milão, o paciente faz radiofrequência. No Child B é a mesma coisa: se tiver critérios de Milão, faz transplante, mas se estiver fora dos critérios, parte-se para radiofrequência. Se o paciente está no Child C, que é aquele paciente que não vai ser operado, ou parte-se direto para o transplante, ou se não houver critérios de transplante, é suporte paliativo. Quando o paciente apresenta doença extra- hepática, é basicamente suporte paliativo ou terapia alvo, para paciente que ainda aguenta. RESSECÇÕES HEPÁTICAS • Transplantes hepáticos em doadores vivos; • Lobos anatômicos; • Anatomia funcional (4 setores – VSH). Existem os lobos anatômicos, que são separados pelo ligamento falciforme (separa lobo direito e esquerdo), e a anatomia funcional, onde divide-se o fígado em 4 setores, pelas veias supra-hepáticas e a entrada da veia porta. A entrada da veia porta marca uma linha chamada de linha de “cant lee”, que sai ou da veia porta, ou da fossa vesicular até a veia supra-hepática média. Essa subdivisão divide funcionalmente o fígado direito e o fígado esquerdo. Tem-se também outra subdivisão pela veia supra-hepática direita, no qual divide-se os setores: o setor posterior (segmento 6 – posterior inferior - e 7 – posterior superior dividido pela porta) e setor anterior (segmento 5 – anterior inferior - e 8 – anterior superior). A divisão do segmento 4 – lateral - para o segmento 2 – medial - e 3 ocorre a partir do ligamento falciforme. Entre o ligamento falciforme e o cant lee tem-se o segmento 4. Essa é a segmentação da Sociedade Internacional de Cirurgia Hepatobiliopancreática, é uma segmentação dos setores funcionalmente. Isso é muito importante pois liga-se por exemplo, a porta, e tira o segmento 6 e 7. Isso é importante cirurgicamente. O segmento 1 tem uma tríade portal exclusiva para ele, com a veia hepática drenando para ele, então é um segmento a parte. Isso também é importante para transplante hepático, pois se sabe que quer ficar com 25% do fígado, e vai retirar o fígado esquerdo para o transplante, vai na linha de cant lee e faz a ressecção vascular. Acima mostra-se a divisão funcional. Posteriormente tem o segmento 1, e a divisão segue os ponteiros do relógio (sentido horário). 8 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia oncológica – Aula 6 Acima, observa-se a setorectomia. Pode-se fazer a setorectomia anterior direita (segmento 5 e 8), setorectomia posterior direita (segmento 6 e 7), setorectomia lateral esquerda (segmento 4), setorectomia direita + segmento 4 e tri setorectomia esquerda. RESSECÇÕES HEPÁTICAS Regradas: Manobra de pringle. Hepatectomias não regradas: Metastasectomias Para que sejam feitas as ressecções regradas pode- se fazer manobras. Em um trauma hepático, onde está sangrando muito, pode-se fazer a Manobra de Pringle, onde pega-se a tríade portal, o forame de Winslow, liga-se artéria hepática, veia hepática, porta e colédoco, e segura o sangramento. (vídeo e explicação dovídeo).