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Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia TIREOIDE FISIOLOGIA Síntese hormônios tireoidianos 1. Transporte ativo de iodeto (I–) para o interior da célula tireoidiana, por meio do cotransportador de sódio e iodeto (NIS) 2. Oxidação do I– e ligação a resíduos tirosil da tireoglobulina, formando a monoiodotirosina (MIT) e a di-iodotirosina (DIT), reações catalisadas pela tireoperoxidase 3. Acoplamento de duas moléculas de DIT para formar T4, e de MIT + DIT para formar T3 4. Proteólise da tireoglobulina, com liberação dos hormônios livres na circulação → A tireoide normal produz todo o T4 circulante e cerca de 20% do T3 circulante. Os 80% restantes do T3 circulante provêm da deiodinação periférica do T4, por meio da ação das deiodinases tipo 1 D1 - no hipertireoidismo ocorre aumento da atividade da D1, sendo esta a principal responsável pela elevação do T3 circulante D2 - controlar a concentração intracelular de T3, mas também tem a função de proteger os tecidos dos efeitos deletérios do hipotireoidismo, mantendo a conversão local intracelular de T4 para T3. Em situações de eutireoidismo e hipotireoidismo, a D2 é a principal fonte de T3 D3 inativa T3 e T4, no hipotireoidismo está diminuída e no hipertireoidismo está aumentada Eixo hipotalâmico hipofisário tireoidiano de feedback negativo → O hormônio tireoestimulante (TSH), também chamado de tireotrofina, produzido pelas células tireotróficas da hipófise anterior, liga-se a receptores específicos nas células tireoidianas e estimula todas as etapas da síntese de T4 e T3, bem como sua liberação pela glândula → A síntese e a secreção do TSH, por sua vez, são inibidas pelos HT (feedback negativo) e estimuladas pelo hormônio liberador de tireotrofina (TRH), produzido no hipotálamo → Se a função hipotalâmico-hipofisária estiver intacta, pequenas alterações nos níveis dos HT livres provocam grandes alterações nos valores séricos do TSH (relação log-linear entre os HT e o TSH). Por isso, o TSH constitui-se no melhor indicador de alterações discretas da produção hormonal da tireoide → T3 e T4 circulam ligados a uma proteina carreadora → Apenas o hormônio livre é capaz de inibir ou estimular a secreção de TSH Aumento das proteínas carreadoras = aumenta o total, mas não aumenta o hormônio livre Distúrbios tireoidianos A medida do T3 é útil em casos de hipertireoidismo, sem a qual não é possível fazer a distinção entre: → Hipertireoidismo subclínico (caracterizado por TSH baixo, com T4 e T3 normais) → T3-toxicose (TSH baixo, T4 normal e T3 elevado) → Tireotoxicose induzida pela ingestão de T3 (TSH baixo e T4 baixo, com T3 elevado) Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia Tireoide na gravidez → Gravidez → aumenta estrogênio → aumenta proteínas carreadoras → diminuição da fração livre Há aumento, a partir da 6ª a 8ª semana de gestação, com pico na 20ª semana, nas concentrações hormonais totais até 1,5x maior que em mulheres não gestantes → O hormônio gonadotrofinico coriônico → estrutura semelhante ao TSH → estimula liberação de T3 e T4 = diminuição do TSH materno Durante seu pico, fim do primeiro trimestre, pode ocorrer aumento de T4 livre e supressão do TSH (pode ser indetectável). Depois dessa fase, o TSH volta ao normal e permanece inalterado se a ingestão de iodo for adequada Transporte dos hormônios tireoideanos 1. Aumento da TBG (estrógenos, gestação, tamoxifeno etc.) 2. Redução da TBG (desnutrição, cirrose etc.) 3. Maior afinidade (hipertiroxinemia disalbuminenica familiar) 4. Redução da afinidade (heparina, salicilatos etc.) Medicamentos que podem influenciar a síntese e a secreção dos hormônios tireoideanos 1. Redução do transporte de iodo pelo NIS: lítio, ânios monovalentes e tionamidas 2. Redução da síntese dos hormônios tireoideanos: sulfonilureias, cetoconazol 3. Redução na secreção dos hormônios tireoideanos: iodo, corticoide, heparina etc. 4. Redução na secreção do TSH: dopamina, interferon-alfa, IL-1 etc. Amiodarona Disfunção tireoidiana ocorre em 14 a 18% dos pacientes em uso de amiodarona → Hipotireoidismo: mais comum em áreas suficientes de iodo, mulheres e com autoimunidade Induzido pelo excesso de iodo fornecido pela medicação (efeito wolff- Chaikoff) → Tireotoxicose: comum em áreas deficientes de iodo, por síntese hormonal excessiva induzida pelo iodo (tipo 1) ou por tireoidite destrutiva por ação tóxica direta da amiodarona (tipo 2) ** Pacientes cardiopatas que usam amiodarona devem ser monitorados para sinais de disfunção tireoidiana que pode se manifestar como reaparecimento da descompensação da cardiopatia de base Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia Biotina O uso de biotina exógena, presente em compostos polivitamínicos e fórmulas para cuidado com os cabelos e as unhas, pode, potencialmente, interferir no ensaio laboratorial Ação dos hormônio tireoideanos 1. Aumenta taxa de metabolismo basal – gordura, carboidratos e proteínas 2. Efeito beta adrenérgico 3. Aumenta consumo de oxigênio e produção de calor 4. Crescimento ósseo e maturação esquelética 5. Aumenta FC, DC, VD e contratilidade 6. Estimula o trato gastrointestinal → A maior parte da atividade hormonal vem de T3 pois ele tem mais afinidade pelo receptor hormonal e é de 4 a 10 vezes mais potente que T4 → Quando os hormônios chegam à circulação, eles se ligam, reversivelmente, à 3 proteínas (tornam-se inativos) Globulina ligadora de tiroxina (TGB) a. Maior afinidade por T3 e T4 e menor capacidade de ligação Trantirretina (TTR) Albumina a. Menor afinidade por T3 e T4 e maior capacidade de ligação → Apenas 0,004% do T4 e 0,4% do T3 estão livres (forma ativa **Ana Paula Oliveira – 101B AVALIAÇÃO DA TIREOIDE Anamnese Exame físico Exames laboratoriais Exames de imagem Tá gravida? Quais medicamentos usa? Histórico familiar Glândula: aumentada, difuso/nodular Dos efeitos dos hormônios: FC, PA, pele, cabelo Do eixo hipotalâmico- hipófise-tireoide: TSH e T4 livre Repercussões sistêmicas: anemia, hipercolesterolemia Cintilografia Ultrassonografia Outros Anamnese Sexo 8x mais comuns em mulheres 2-3x maior risco de malignidade em homens Idade Mais comum em crianças (10-20% malignos) e adultos (maior parte benigna) Maior risco de malignidade: <20 e >70 anos Sintomas locais Invasão tissular por tumor (por exemplo): rápido crescimento, rouquidão permanente ou mudança da voz, disfagia e dor Ca de tireoide evolui geralmente sem sintomas Lesões benignas mais vascularizadas, como adenoma, podem apresentar rápido crescimento e dor devido hemorragia intranodular Disfunção do nervo laríngeo recorrente: 17-50% dos casos (patologias tireoidianas sem malignidade) Nódulo >4cm (moderada suspeita) Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia Anamnese Doenças associadas Maior prevalência em pacientes com doença de Graves Nódulo em pacientes com tireoidite autoimune tem mais chances de ser maligno A maioria dos casos do raro linfoma primário da tireoide ocorre em pacientes com tireoidite de Hashimoto Outros fatores História familiar: Ca detireoide e síndromes hereditárias (neoplasia endócrina múltiplo tipo 2, síndrome de Cowden, síndrome de Pendred, síndrome de Werner e polipose adenomatosa familiar) Radioterapia externa do pescoço na infância ou adolescência Crescimento rápido, especialmente no uso de L-tiroxina Exame físico → Nódulo solitário, duro, pouco móvel à deglutição e associado a linfadenomegalia regional é bastante sugestivo de câncer → Consistência do nódulo pode ser enganosa Alguns adenomas hemorrágicos ou calcificados têm aparência suspeita Carcinomas papilíferos eventualmente tem consistência cística → A palpação é pouco sensível para diagnosticar e definir número de nódulos, sendo melhor o US → Tireoidite de Hashimoto: aderência as estruturas locais → Tireoidite de Riedel: consistência pétrea e invasão local, simula carcinoma → Doença benigna da tireoide: 30% dos nódulos endurecidos ou com aparente fixação às estruturas locais Exames laboratoriais Padrões de resultados de testes de função tireoidiana **O achado de hipertireoidismo em paciente com bócio nodular é um forte indicativo contra o diagnóstico de neoplasia maligna → A elevação da calcitonina sérica (sCT) é o achado mais característico do carcinoma medular da tireoide (CMT) Os níveis de calcitonina podem estar aumentados em pacientes com tumores endócrinos de pâncreas e pulmão, insuficiência renal, doença autoimune tireoidiana ou hipergastrinemia (p. ex., resultante da terapia com inibidores da bomba de prótons). Outros fatores que provocam aumento de calcitonina são consumo de álcool, tabagismo, sepse, bem como anticorpos heterofílicos anticalcitonina Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia Exames laboratoriais Prevalência dos anticorpos antireoideanos Anti TPO Anti TG TRAb Tireoidite de Hashimoto 90 a 100 80 a 90 10 a 20 Doença de graves 50 a 80 50 a 70 80 a 95 População em geral 8 a 27 5 a 20 0 Parentes de pacientes com DTA 40 a 50 40 a 50 0 Gestante 14 14 0 Anti TPO: A tireoperoxidase é a principal enzima envolvida na síntese de hormônios tireoidiano, é consequência da lesão tireoidiana Anti TG: consequência da lesão tireoidiana, maior utilidade – seguimento de carcinomas diferenciados TRAb: responsáveis diretos pela patogênese da doença de Graves (TRAb estimulador + receptor de TSH = excesso de hormônio tireoidiano independentemente do TSH = hipertireoidismo) Achados clínicos Alta suspeita Moderada suspeita História familiar de carcinoma medular ou neoplasia endócrina múltipla Prévia radioterapia Crescimento rápido, especialmente durante a terapia supressiva com L-tiroxina Nódulo muito firme ou endurecido Fixação do nódulo às estruturas adjacentes Paralisia das cordas vocais Linfadenopatia satélite, metástase a distância Idade <20 ou >70 anos Sexo masculino História de radioterapia de cabeça ou pescoço Nódulo >4cm Presença de sintomas compressivos ABORDAGEM DO PACIENTE COM NÓDULO TIREOIDIANO → A prevalência de nódulos tireoidianos palpáveis é 5% em mulheres e 1% em mulheres → Na ultrassonografia: 19%-68% mais frequente em mulheres e idosos → Em estudo de autópsia a prevalência de cerca de 50% de pacientes com nódulos, mesmo sem história de doença da tireoide → O câncer de tireoide ocorre em 7% a 15% dos nódulos → O câncer diferenciado de tireoide: papilífero e folicular são >90% dos casos → As causas mais frequentes dos nódulos são cistos coloides e tireoidites (80%), neoplasias foliculares benignas (10-15%) e carcinoma (5-10%) Diagnóstico → Descartar possibilidade de câncer Anamnese e exame físico Testas da função tireoidiana Ultrassom Cintilografia da tireoide Biópsia aspirativa por agulha fina Testes moleculares Fatores de risco para malignidade Nódulos com crescimento rápido + irradiação de pescoço + histórico familiar Sintomas compressivos: dispneia, disfagia, rouquidão Nódulo: endurecido, aderido aos planos profundos, com linfadenopatia, paralisia ipsilateral de corda vocal Exames laboratoriais → TSH Obrigatório para TODOS os pacientes independente de apresentar ou não sintomas de tireotoxicose → TSH suprimido indica autonomia do nódulo → Anti TPO (opcional) → Calcitonina (controverso) Triagem para carcinoma medular apenas quando tiver história familiar de carcinoma medular de tireoide ou NEM 2 Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia Cintilografia de tireoide → A maior parte dos nódulos mostra-se hipocaptante (“frios”) ou normocaptante à cintilografia (> 90%), porém não mais do que 15% dos nódulos “frios” são malignos (Figura 23.3). Em contrapartida, é excepcional o achado de malignidade em nódulos “quentes” ou hipercaptantes (1 a 2%) Indicações: 1. Patologia nodular associada ao hipertireoidismo → diagnóstico preciso de adenoma tóxico ou de bócio multinodular tóxico 2. Diagnóstico citológico de neoplasia folicular → identificar adenoma hipercaptante autônomo afastando a malignidade **Em caso de nódulo normo ou hipocaptante, deverá ser seguido o protocolo de investigação com PAAF, mesmo quando detectado em pacientes com doença de Graves. Resumão Imagens de ultrassonografia Todos sugestivos de malignidade 1. Nódulo hipoecóico 2. Nódulo com microcalcificações 3. Nódulo hipoecóico 4. Nódulo hipoecóico com margens irregulares De acordo com a ecogenicidade, os nódulos sólidos podem ser classificados como hipoecoicos, isoecoicos ou hiperecoicos, quando apresentam amplitude de ecos, respectivamente, menor, igual ou maior que o parênquima tireoidiano normal **Malignidade: hipoecogenicidade, microcalcificações, margens irregulares, arranjo caótico e aumento do diâmetro anteroposterior Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia TIRADS TIRADS 1 → Inconclusivo TIRADS 2 → Cistos tireoidianos → benignos TIRADS 3 → Nódulo hiperecóico com formato ovalar, margens não tão nítidas → baixo risco TIRADS 4 → Ligeiramente hipoecóico, margens irregulares → médio risco TIRADS 5 → Nódulo hipoecogênico, praticamente não tem margens, microcalcificação, diâmetro anteroposterior grande → alto risco **Na prática: Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia PAAF – avaliação e conduta → Conceito de citologia diagnóstica Presença de >6 agrupamentos de células foliculares, cada um com >10 células epiteliais Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia Punção aspirativa com agulha fina (PAAF) **Ana Paula Oliveira – 101B → Embora todas as diretrizes recomendem PAAF como o procedimento de escolha na avaliação de nódulos sólidos da tireoide, há variação no tamanho do nódulo como indicaçãode PAAF Sociedade Indicação AACE / AME / ETA ≥10 mm com características de US de alto risco ≥20 mm com características de US de risco intermediário > 20 mm com características de US de baixo risco, mas que estão aumentando de tamanho ou associadas a uma história de risco e antes de cirurgia de tireoide ou terapia de ablação minimamente invasiva ATA > 0,5 cm de diâmetro ESMO > 1 cm de diâmetro NCCN Usam os limiares ACR TI-RADS ≥1 cm para nódulos altamente suspeitos ≥1,5 cm para nódulos moderadamente suspeitos ≥2,5 cm para nódulos levemente suspeitos Testes moleculares na citologia indeterminada → Conhecer a Validade Clínica (VPP e VPN) dos diferentes testes → Conhecer a prevalência de malignidade na população local → Custo elevado → Disponibilidade restrita → Curva de aprendizado local → Diversidade de mutações na tumorigênese do CDT → Incorporação de novas mutações aumentando acurácia dos testes → NFITP (noninvasive follicular thyroid neoplasm with papillary- like nuclear features)- corresponde a grande parte das citologias indeterminadas Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia EXTRA Manejo nódulo tireoidiano Escore de pontos para avaliação de nódulos tireoidianos segundo o sistema ACR TI-RADS Glaziele Odawara – 6° Período - Endocrinologia