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Insuficiência cardíaca – 06.05.21 A insuficiência cardíaca é o fim de toda doença cardíaca mal tratada. As doenças que levam à insuficiência cardíaca são frequentes – HAS, doença coronariana, doença valvar... A questão é não deixar chegar à insuficiência cardíaca, pois não é reversível e a qualidade de vida do paciente só piora. A morte do paciente com insuficiência cardíaca é progressiva, inevitável e fruto da degeneração da doença. Um betabloqueador descoberto recentemente reduziu a mortalidade dos pacientes com insuficiência cardíaca em 65% - aumenta a sobrevida do paciente. Beta-bloqueador é uma droga que freia a ação das catecolaminas sobre o coração e preserva o músculo íntegro. A arritmia cardíaca é a segunda maior causa de morte em pacientes com IC – subestimada. Podem ser usados medicamentos para evitar a morte por arritmia. O papel do coração é bombear sangue com O2 e nutrientes para os tecidos. A insuficiência cardíaca é uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas) que possui diversas doenças como etiologia (doenças que geram IC). Inicialmente o paciente passa por um período progressivo e grave em que não apresenta a síndrome clínica, mas o coração já está alterado. A terapêutica deve ser conduzida de forma objetiva para a etiologia. As principais etiologias do paciente com IC (as doenças bases) são hipertensão arterial e doença coronariana, mas também a miocardite (covid também causa), doença valvar, doença de Chagas... Doença isquêmica: IAM, angina – doenças que mais causam doença cardíaca. As doenças coronarianas são silenciosas na maioria das vezes. Todo paciente com IC que encontrarmos, devemos pesquisar a possibilidade de doença coronariana por trás. A desobstrução da coronária é a causa mais frequente e a causa reversível da IC – deve ser investigada, pois pode proporcionar cura do paciente. O objetivo do coração é manter um débito de sangue ejetado na raiz da aorta que irá oxigenar os tecidos. Um coração é competente quando ele realiza a oxigenação tecidual cumprindo as necessidades dos tecidos do organismo. A FC é em torno de 70 bpm. O Volume Sistólico é em torno de 70 ml. O DC, então, fica em 4900 ml/min – aproximadamente 5 litros/min. Então, 5 L/min é a quantidade de sangue que precisa ser ejetado pelo coração em 1 minuto para que ele cumpra sua função de oxigenar bem os tecidos. O DC de um paciente com sepse pode chegar a 10L/min para suprir a necessidade aumentada de O2 nos tecidos. O lactato (resíduo do metabolismo anaeróbio) do paciente estará alto – apesar do aumento do DC, não é suficiente para nutrir a necessidade de O2. Geralmente o organismo prioriza quem necessita de O2 em determinado momento (músculos durante corrida, alças intestinais durante a digestão...), mas durante a sepse todo o organismo está com necessidade de O2 aumentada – por isso o lactato aumenta porque começa a usar o metabolismo anaeróbio. Isso também é insuficiência cardíaca – coração não consegue suprir a necessidade de oxigênio do organismo – mas é uma IC de alto DC. O hipertireoidismo e a anemia também são exemplos de IC de alto DC. Quando o coração sofre infarto, ele perde sua capacidade de ejetar (perda da potência contrátil da musculatura) e o volume ejetado por ele passa a ser menor. Volume ejetado = volume sistólico. Se o volume sistólico diminui, a repercussão direta é a diminuição da oxigenação dos tecidos – coração passa a ser incompetente. Insuficiência cardíaca é quando um coração é incapaz de cumprir o seu papel de manter os tecidos oxigenados dentro de uma atividade física cotidiana e habitual. Se o indivíduo acabou de infartar e, consequentemente, perdeu parte da musculatura, ele terá seu volume sistólico diminuído. Se antes o volume sistólico era 70 e ele diminui pra 40, por exemplo, a FC aumenta para tentar compensar essa diminuição (DC = 40 x 110 = 4400 ml/min) Por isso, o aumento da FC é uma das manifestações de exame físico do paciente com insuficiência cardíaca. Outra manifestação clínica comum da insuficiência cardíaca, que é fruto do volume sistólico baixo, são sinais de baixo débito clínico – paciente pálido, com perfusão capilar lenta, temperatura mais baixa, volume urinário baixo... Se o coração do paciente fosse bom, a descarga de adrenalina decorrente da baixa de O2 aumentaria a contração ventricular e o volume sistólico – aumento do DC. No entanto, no caso da IC, mesmo a descarga de catecolaminas agindo no coração, ele não irá contrair melhor. O infarto agudo do miocárdio (IAM) é a versão aguda da insuficiência cardíaca – até 6 meses de evolução. Na versão crônica, lentamente uma hipertensão arterial vai destruindo a musculatura, uma a uma das células ao longo de anos, até que a perda de todas as células somadas é uma perda grande e consequentemente o DC começa a cair significativamente a tal ponto de gerar manifestações clínicas ao paciente – evolução mais tardia. Exemplo de patologias que vão destruindo as células miocárdicas: hipertensão arterial, doença de chagas, doença valvar. Rins e cérebro são órgãos nobres. O tratamento da IC tem como objetivo aliviar as forças contrárias à ejeção. O uso de betabloqueador contra a ação das catecolaminas diminui a pós-carga do coração (RVP) e preserva o músculo íntegro. Uso de diurético para diminuir a volemia – pré-carga. As reações imediatas quando o DC cai: - O sistema nervoso central (SNC), ao perceber que o DC diminuiu, passa a estimular diretamente o sistema renal para que o rim comece a aumentar a volemia sanguínea (aumenta a retenção volêmica). Para o SNC o problema é baixo volume circulante, sem saber que o baixo volume circulante decorre da perda de função contrátil do coração. - Se caiu o volume que chega ao SNC, teoricamente há baixo volume dentro do sistema arterial, para que o fluxo para os órgãos continue dentro do adequado o SNC estimula a descarga de noradrenalina, que faz aumentar a resistência vascular periférica (RVP) para que a pressão arterial (PA) do indivíduo aumente. Se o volume cai, a pressão também tende a cair e a perfusão tecidual também, então, com aumento da PA ele consegue manter a perfusão adequada à custa de muito sacrifício do coração. Tudo que ocorre de problema nesse paciente é porque o coração tá ruim e o DC tá ruim. O SNC sabe que o volume está pouco, mas não sabe o porquê. A noradrenalina, então, de maneira agressiva, promove uma irritação miocárdica (estímulo do coração) que não deveria acontecer nesse momento. O excesso de volume circulando pelos rins também vai estimular o coração. Então, as duas reações que ocorrem tentando consertar o problema estimulam ainda mais o coração prejudicam o coração mais ainda, pois ele passa a trabalhar com sobrecarga volêmica. A pré-carga do coração está relacionada com o volume que chega (retorno venoso). Como o volume que chega está dentro do normal, porém o coração não é capaz de ejetar todo seu volume, permanece volume dentro do coração. O excesso de volume dentro do coração gera uma pressão maior. Sendo assim, a pré-carga no coração do paciente com insuficiência cardíaca é extremamente elevada. A pós-carga é a força ou pressão que o ventrículo tem que exercer durante a sístole pra ele ejetar. O grande fator que determina o aumento da pós carga é o aumento da RVP. O aumento da RVP aumenta a pós-carga já que o ventrículo terá que fazer muito mais força pra vencer a RVP e ejetar seu volume. A reação do SNC de estimular a liberação de noradrenalina aumenta a RVP e, consequentemente, aumenta a pós-carga fazendo com que o coração não consiga ejetar com boa qualidade. Como antes o ventrículo não ejetou todo o seu volume, ele tem um volume em excesso, fazendo com que o ventrículo tenha que fazer mais força pra ejetar seu volume. Então, o volume da pré-carga também é prejudicial para o coração. Na maioria das vezes a insuficiência cardíaca acomete o coração esquerdo – doença coronariana e HAS acometem mais o coração esquerdo. O coração direito normalmente é acometido por continuidade da disfunção do coração esquerdo.Dificilmente uma patologia vai gerar insuficiência cardíaca direita isoladamente – cor pulmonale. O ventrículo esquerdo (VE), que é ruim, a partir do momento que ele vai à falência, há o aumento de volume dentro do ventrículo, já que ele não contrai, e a pressão dentro do ventrículo também aumenta. O aumento de volume e aumento de pressão dentro do ventrículo esquerdo repercute diretamente no átrio esquerdo (AE), que aumenta seu volume e aumenta sua pressão também. Sendo assim, as veias pulmonares também têm sua pressão aumentada e represamento líquido – hipertensão veno-capilar pulmonar. O líquido começa a represar retrogradamente: VE, AE, veias pulmonares... Quando chega nos capilares pulmonares, que é um sistema de vasos fenestrados, a pressão hidrostática do líquido aumenta e líquido sai de dentro do vaso e cai nos alvéolos. Líquido dentro do pulmão dificulta sua expansão e que ele realize a hematose. Por isso, o sintoma principal da insuficiência cardíaca esquerda é a dispneia e ausculta com crepitações por conta de líquido nos alvéolos. Se o líquido não estiver no alvéolo e estiver no interstício, não haverá crepitações, mas o paciente terá dificuldade de expandir o pulmão pelo peso aumentado por conta do líquido. O EAP (edema agudo de pulmão) é o encharcamento pulmonar por causa do mecanismo retrógrado – muito líquido/paciente “afoga” no seco. A insuficiência cardíaca esquerda começa a repercutir retrogradamente também nas arteríolas pulmonares, aumentando a pressão dentro do sistema de artéria pulmonar e o ventrículo direito (VD), que trabalha mal com excesso de volume e pressão, terá dificuldade de ejetar. Com isso, volume irá sobrar dentro do VD, sobrecarregando o átrio direito (AD), que começará a trabalhar em sistema de elevada pressão também. Esse aumento de pressão no AD gera aumento da pressão na veia cava inferior e, consequentemente, edema de membros inferiores e ascite. O aumento de pressão na veia cava superior irá gerar turgor jugular. Assim, a insuficiência cardíaca esquerda se torna insuficiência cardíaca direita também. A insuficiência cardíaca tem dois modelos: um com fração de ejeção normal (FEN) e um com fração de ejeção reduzida (FER). A fração de ejeção é um cálculo matemático feito no ecocardiograma que avalia a potência do coração. Quando a fração de ejeção é normal, ela é maior ou igual a 50%. Uma fração de ejeção é reduzida e quando ela é menor ou igual a 40%. Entre 40% e 50% a fração de ejeção é limítrofe. Nos pacientes que tem insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada, o coração contrai a massa ventricular basicamente bem – o problema dele é na diástole. O ventrículo normalmente estará hipertrofiado, então o espaço físico no interior do ventrículo está reduzido. O espaço interno do ventrículo reduzido dificulta que o átrio despeje todo o volume dentro do ventrículo. Como o ventrículo não abriga todo o volume, o excesso desse volume vai sobrar pro átrio esquerdo, para as veias pulmonares, pro capilar pulmonar, congestionando o capilar pulmonar e o alvéolo, dando dispneia no paciente. Mesmo tendo fração de ejeção normal, o DC será baixo porque o ventrículo enche mal. O sistema de congestão pulmonar é o mesmo, mas na fração de ejeção reduzida o coração contrai mal e na fração de ejeção preservada o problema é que na diástole o coração tem algum problema que não deixa que o ventrículo se encha normalmente. Na fração de ejeção reduzida o DC será baixo porque o coração contrai mal. O sistema neuro-hormonal guia todas as reações da insuficiência cardíaca – noradrenalina, aldosterona, renina, angiotensina II. A diminuição do DC faz com que os rins, guiados pelo SNC e guiados por si só (porque tá recebendo pouco volume), comecem a ter reação imediata de retenção hídrica disparada principalmente pela ativação da renina. A renina pega o substrato angiotensinogênio no fígado e transforma em angiotensina I. A angiotensina I, pela ação de enzima conversora, se transforma em angiotensina II. A angiotensina II, por sua vez, ativa indiretamente o SNC, induzindo a liberar mais catecolamina (adrenalina) para aumentar a força contrátil do ventrículo e aumentar a pressão arterial. Isso é bom momentaneamente, mas destrói o ventrículo que já está doente. A angiotensina II faz também com que os túbulos renais retenham mais líquido. A angiotensina II ativa a aldosterona a nível de suprarrenal pra reter mais líquido também. A angiotensina II induz diretamente a vasoconstrição. A angiotensina II também induz a retenção hídrica por estimulação da secreção de ADH. A alteração neuro-hormonal é quem determina a mortalidade a longo prazo do coração. Uma vez disparado o gatilho da lesão, o paciente fatalmente irá morrer em torno de 7, 8 a 10 anos – 5 anos após o início da clínica 70% dos pacientes morrem. Cada dia que passa do paciente com insuficiência cardíaca maltratada, milhões de células morrem e o DC diminui. A morte dessas células ao longo dos anos é que determina a morte desse paciente. Essas células morrem por estar constantemente sob estresse (excesso de volume, excesso de catecolaminas...) e existem hormônios que diretamente determinam a mortalidade das células – modificam a codificação intracelular do RNA da célula e induz essas células à apoptose. Por conta de angiotensina II, renina, aldosterona, noradrenalina as células vão morrendo pouco a pouco. Esses hormônios fazem com que o coração dilate ou com que o coração hipertrofie. Mais do que tratar os fenômenos mecânicos da insuficiência cardíaca – diuréticos para diminuir a volemia, melhorar a congestão pulmonar e a dispneia – mais importante é tratar os neuro-hormônios que irão matar o coração ao longo do tempo. Para bloquear as ações desses neuro-hormônios, são utilizados beta-bloqueadores e inibidores de ECA (enzima conversora de angiotensinogênio). Esses hormônios mudam a conformação do coração – hipertrofia. A Fração de ejeção avalia a função contrátil do coração. Fração de ejeção (FE) normal é acima de 50%. O problema do coração hipertrofiado é que ele não enche na diástole, então o volume sistólico diminui, o DC diminui e não oxigena adequadamente – IC diastólica ou IC FE preservada. Um coração com FE reduzida é um coração aumentado. O diagnóstico de IC é feito através dos critérios de Framingham. O único exame complementar utilizado para diagnóstico de IC é o raio x de tórax se ele comprovar que o coração tá aumentado. O ecocardiograma é o melhor exame para avaliar a função do coração – contração, músculo hipertrofiado... Mesmo se os exames do paciente estiverem alterados, como a IC é uma síndrome clínica, só pode ser diagnosticada clinicamente (sinais e sintomas) - paciente pode ter disfunção cardíaca que não se expressa clinicamente. A IC é uma disfunção cardíaca com expressão clínica! Paciente apresenta 4 critérios maiores (dispneia paroxística noturna, coluna de pulso venoso aumentada, terceira bulha e crepitações finas) e 2 menores (edema de MMII e dispneia aos esforços) – diagnóstico de acordo com os critérios de Framingham. Paciente hipotenso e extremidades frias e cianóticas por baixo DC. FC, FR aumentadas. Saturação baixa e FR aumentada por congestão pulmonar. Coração aumentado – FE reduzida. B3 é bulha característica de corações aumentados. Sopro sistólico mitral – coração aumentado separa as cúspides. O edema da IC tem como características – frio, bilateral, simétrico, indolor e com sinal de cacifo. Precisamos classificar o paciente com IC para decidir sobre a terapêutica adequada. 1 – se ele está úmido ou seco Paciente com edema estará úmido. Se o paciente estiver seco e hipotenso, provavelmente precisa de reposição volêmica. 2 – se ele está quente ou frio Se a mão do paciente está quente, é sinal de que o sangue está chegando nas extremidades. Quando a quantidade de sangue é insuficiente, ele é desviado para os órgãos nobres e o paciente fica frio. O paciente quente e úmido trata com diurético – tem razoável DC. Se o paciente estiver frio e úmido, deverá ser usada umadroga inotrópica. O paciente frio e seco deve fazer reposição de volume. Classificação da intensidade dos sintomas de dispneia do paciente. Quanto mais grave a classe de dispneia, maior a mortalidade. Provavelmente é o paciente da imagem à esquerda é um paciente com IC com FE preservada. O paciente à direita possui aumento da área cardíaca – provável IC com FE reduzida. Normalmente o pulmão aparece preto na radiografia. O parte branca dentro do parênquima pulmonar é água dentro do alvéolo. Paciente dispneico. Imagem à esquerda – pulmão normal/aerado. Imagem à direita – água nos alvéolos e derrame pleural.
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