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Lara Letycia Araujo Costa Trauma torácico Introdução · Qualquer tipo de lesão no tórax; · Podem ser traumas contusos (+frequentes – contusões musculares) ou penetrantes (perfurantes/ cortantes); ❖ ANALGESIA em todos os pacientes que chegarem com dor, antes de qualquer exame; · Iniciar com um analgésico simples (Ex.: dipirona); · Analgésico + anti-inflamatório (Ex.: dipirona + cetoprofeno); · Analgésico + anti-inflamatório + opioide (Ex.: dipirona + cetoprofeno + morfina/ tramadol); · Diferente de outras estruturas ósseas, uma fratura de arco costal não pode ser imobilizada, por isso é importante manter uma analgesia constante e informar ao paciente que ele vai continuar sentindo dor, devido a necessidade de movimentação do tórax durante a respiração. Em situações de dor muito grave, faz-se bloqueio intercostal superior e inferior. Às vezes, há a necessidade ainda de uma cirurgia para fixar essa costela; · O mais comum são os traumas que envolvem músculos e arcos costais; · Pode ocorrer lesões costais, pneumotórax, hemopericárdio, congestão brônquica. Epidemiologia · 25% das mortes por trauma; · 85% dos traumatismos torácicos contusos são tratados por medidas simples; ❖ 15-20% toracotomia. Avaliação inicial do trauma (PHTLS 9 Ed) · Tratar como um politraumatizado, por isso, iniciar sempre pelo XABCDE: · X: eXsanguination: controle de sangramento externo ameaçador – lesão de grandes vasos que são fatais antes mesmo do controle das vias aéreas; · A: Airways: perviedade da via aérea; · B: Breathing: oferta de O2 presente; · C: Circulation: avalia hemodinâmica como um todo → hemorragias internas; ▪ É importante a monitorização eletrocardiográfica da vítima de contusão torácica com risco de contusão miocárdica, pois podem ocorrer arritmias, frequentemente associadas a hipóxia e a acidose; · D: Disability: escala de Coma de Glasgow e avaliação pupilar; · E: Environment Exposure: remoção das roupas, exposição por completo do paciente; · Anamnese e exame físico; · No trauma, considera-se a história SAMPLA: ✓ Sintomas; · Alergia e anos de vida do paciente; · Medicações; · Passado médico; · Líquidos; · Ambiente do trauma e última alimentação. Sinais e sintomas ❖ Dor torácica ; ❖ Dispneia; ❖ Taquipneia; ❖ Cianose – pode ser um sinal tardio e sua ausência não significa uma perfusão adequada em todos os casos ; ❖ Veias jugulares ingurgitadas ; ❖ Expansibilidade diminuída ; ❖ Desvio de traqueia ; ❖ Crepitação óssea ; ❖ Enfisema subcutâneo ; ❖ Alteração de ausculta ; ❖ Uso de musculatura acessória ; Sempre exigir boa técnica de Raio - X ❖ Observar seios costofrênicos e o lhar arcos costais um a um . Fratura costal ❖ Bastante frequente; ❖ D or ; ❖ Associado a lesões mais completas ; ❖ A insuficiência respiratória desenvolve - se progressivamente e decorre de hemorragia e edema do parênquima pulmonar, levando à hipóxia; ❖ Uma complicação possível é a pneumonia; ❖ T ratamento : analgesia de acordo com o grau de dor e orien- tação . Figura 1 Raio X normal de tórax . Figura 2 Possíveis acometimentos de trauma torácico . Fratura de arcos costais/ tórax instável · Conceito: 2 ou mais fraturas em 2 ou mais fragmentos de arcos costais consecutivos; · Perda de continuidade – diante da quantidade de fraturas, o tórax perde a estabilidade; · Respiração paradoxal – na inspiração, o pedaço desconectado desce, já na expiração, ele sobe; · Observa-se ainda crepitação à palpação das costelas e dor intensa; · O segmento instável leva a respiração paradoxal, dor e contusão pulmonar (trauma direto no parênquima pulmonar) – todos esses fatores contribuem para diminuir a saturação, por conta da redução da capacidade de oxigenar, podendo resultar em hipóxia – paciente, normalmente, intubado; · No Raio-X: Figura 3 Respiração paradoxal, tórax instável. · A área de contusão pulmonar aparece mais esbranquiçada no exame (pulmão “apagado”); · Se na lateral do tórax houver uma área mais escura é sinal de enfisema subcutâneo (ar na pele); ▪ No enfisema subcutâneo, a crepitação é um achado comum; ❖ Tratamento: · Oxigênio suplementar; · Reposição volêmica adequada; · Analgesia – medicamentos EV ou bloqueio de plexo intercostal; · Intubação e ventilação mecânica se necessário. Figura 4 Enfisema subcutâneo. Pneumotórax ❖ Está presente em 20% das lesões torácicas graves; ❖ Ar entre o parênquima do pulmão e a pleura; ❖ Tipos: ✓ Simples – pequeno: · Resulta da entrada de ar no espaço pleural, entre as pleuras visceral e parietal, e pode acontecer por trauma penetrante ou contuso; o Existe o pneumotórax espontâneo – sem trauma prévio; · Observa-se diminuição do murmúrio vesicular do lado afetado, com possível hipertimpanismo à percussão; · O diagnóstico pode ser feito por radiografia de tórax em expiração, bem mais sensível do que em inspiração para pneumotórax; · Tratamento: observação a drenagem de tórax; · Nesse tipo de pneumotórax, é importante ter cuidado com pacientes em uso de ventilação mecânica, pois esta pode alimentar esse pneumotórax simples, tornando-o hipertensivo; CERTIFIQUESE DE QUE ELE NÃO TEM UM PNEUMOTÓRAX ANTES DE VENTILAÇÃO MECÂNICA E SE HOUVER, DRENAR O PENUMOTÓRAX PREVIAMENTE; ✓ Aberto: (lesão que ameaça a vida) · Por definição, pneumotórax aberto acontece quando há uma lesão na parede torácica, com diâmetro maior do que dois terços do diâmetro da traqueia; · Há menor resistência de entrada de ar por esse orifício, o que gera, consequentemente, um colabamento do pulmão e só cessa quando a pressão intrapleural se equilibra com a pressão atmosférica; · A ventilação fica prejudicada (colapso do pulmão ipsilateral e fluxo de ar preferencial pelo local da lesão) com consequentes hipóxia e hipercapnia; o Ocorre também diminuição do retorno venoso e hipotensão; · “Ferimento torácico soprador”, “ferida torácica aspirativa” ou traumatopneia; o Também se observa clinicamente desconforto respiratório e sinais de instabilidade hemodinâmica; · Existe o risco de evolução para o pneumotórax hipertensivo, pois ele tem duas fontes de ar – o trauma e a traqueia; ▪ Tratamento inicial: o Curativo de 3 pontas (válvula unidirecional); ➢ Um erro poderá acontecer se o curativo for fixado nos 4 lados, nesse caso o paciente evoluirá com pneumotórax hipertensivo; · A seguir, drena-se o tórax afetado no 5º EIC; ▪ Tratamento definitivo: · Após estabilização, deve-se realizar a síntese cirúrgica da lesão na parede torácica; ✓ Hipertensivo: (lesão que ameaça a vida) · Ocorre quando o vazamento de ar para o espaço pleural progride para um prolapso do pulmão com deslocamento do mediastino para o lado oposto levando a diminuição do retorno venoso e a compressão do pulmão contralateral; o óbito nesse caso acontece justamente pela interrupção do retorno venoso pelos vasos da base; · Compressão de diversas estruturas; · Tão grande que repercute na hemodinâmica do paciente: · EMERGÊNCIA; · O aumento da pressão intratorácica piora o comprometimento pulmonar e redução do retorno venoso ao coração; · O acúmulo de ar comprime o pulmão ipsilateral e, a depender do tamanho, pode comprimir a região mediastinal, diminuir o retorno venoso e, até mesmo, comprimir o pulmão contralateral; · O DISGNÓSTICO TEM QUE SER CLÍNICO, SEM ENCAMINHAR À RADIOLOGIA; o Dor torácica e desconforto respiratório; o Saturação baixa/hipóxia (taquidispneia, taquicardia e hipotensão); o Turgência jugular; o Ausência de murmúrios vesiculares e timpanismo à percussão do lado afetado; o Desvio da traqueia; ✓ Tratamento: descompressão imediata (toracocentese descompressiva) com jelco 14 no 5º espaço intercostal (EIC), na linha axilar anterior ou média para liberar o ar. Depois disso, parte para o tratamento definitivo com o dreno de tórax (toracostomia) “em selo d’água” – dreno tubular no mesmo lugar da inserção. Hemotórax · Sangue na cavidade pleural; · Na maioria das vezes, hemopneumotórax;❖ Na radiografia: · Pulmão BRANCO (sangue); · Pode confundir com a área de contusão pulmonar → diferenciar pela história clínica; ▪ Tiro, facada; ❖ Tratamento: · Drenar o tórax para retirar o sangue – no 5º EIC, na linha axilar anterior ou média; · Se deixar o sangue, ele vai ter repercussões hemodinâmicas e ainda pode se tornar infectado (coagulotórax ou hemotórax infectado) ou até mesmo evoluir para um empiema – coleção de pus dentro de uma cavidade (complicação de pneumotórax não drenado precocemente); · Se o local lesionado (porta de sangramento) parar de sagrar espontaneamente após o dreno, ele é classificado como hemotórax simples. No entanto, se não parar de sangrar espontaneamente, ele é chamado de hemotórax maciço, saindo cada vez mais sangue; ❖ Hemotórax simples: · < 1500 mL; · Hemotórax pequeno (300 – 500mL); · Hemotórax médio (500 – 1500mL); · Laceração pulmonar/ artérias intercostais/ artéria mamária interna/ fratura-luxação da coluna torácica; ❖ Hemotórax maciço: (lesão que ameaça a vida) · > 1500 mL; · Hemotórax grande; · > 200 mL/h nas 2h a 4h seguintes; · EMERGÊNCIA – o diagnóstico deve ser clínico, sem necessidade de exames radiográficos; · Sinais de choque, insuficiência respiratória e ausência de murmúrio vesicular do lado afetado ao exame físico; · Diferencia-se de pneumotórax por macicez a percussão; ✓ Tratamento: · Reposição volêmica agressiva com cristaloides e sangue; · Avaliar toracotomia – abrir o tórax e resolver a fonte de sangramento. Figura 5 Repercussões de trauma torácico. Tamponamento cardíaco (lesão que ameaça a vida) · O tamponamento cardíaco ocorre pelo acúmulo de sangue no saco pericárdico, estrutura inelástica, levando a compressão cardíaca, ao comprometimento do retorno venoso e ao choque obstrutivo; · O hemopericárdio pode evoluir com hemotórax; · A cavidade mais comumente lesada é o ventrículo direito, por sua localização mais anterior; · A apresentação clássica do tamponamento cardíaco é descrita como Tríade de Beck (hipofonese de bulhas, estase jugular e pulso paradoxal); · Pulso paradoxal: queda maior ou igual a 10 mmHg da PA durante a inspiração espontânea; · A respiração de Kussmaul (aumento da pressão venosa durante a inspiração espontânea) é outro sinal; · Diagnóstico: o diagnóstico se baseia em sintomas, resultados de exames e normalmente em um ecocardiograma realizado no pronto-socorro; · A US FAST pode avaliar a presença de líquido livre no saco pericárdico, sendo alternativa para o ECO, que é pouco disponível em serviços de emergência; O sangue no pericárdio exerce pressão sobre o coração. O coração não consegue expandir completamente. Menos sangue deixa o coração. Muito pouco oxigênio chega aos tecidos. Taquicardia; Hipotensão; Taquipneia; Pânico; Turgência Jugular. Perda de consciência; Morte Súbita. · Tratamento: · Drenagem (pericardiocentese) – punção subxifóidea e aspiração de sangue não coagulado presente no saco pericárdico; · A depender da quantidade de sangue – intervenção cirúrgica. Contusão cardíaca · Pancada sem laceração; · Relaciona-se com desconforto torácico e hipotensão; · Variedade de lesões; · Alteração de ECG (extrassístoles ventriculares múltiplas, taquicardia sistólica, fibrilação atrial) e enzimas; ❖ Tratamento: monitorização eletrocardiográfica, por pelo menos 24h (risco de desenvolvimento de arritmias). Resumo das lesões Avaliação primária Lesões que ameaçam a vida Avaliação secundária Lesões potencialmente fatais Pneumotórax hipertensivo Pneumotórax simples Pneumotórax aberto Hemotórax Lesões traqueobrônquicas Contusão pulmonar Hemotórax maciço Tórax instável Tamponamento cardíaco Ruptura traumática de diafragma · As lesões que ameaçam a vida (risco imediato de morte) devem ser diagnosticadas e tratadas durante a avaliação primária; · As lesões potencialmente fatais podem ser tratadas durante o exame secundário; · Na última atualização do ATLS ouve uma troca de posicionamento de tórax instável com lesão de árvore traqueobrônquica, sendo esta considerada a partir de agora como uma lesão que ameaça a vida.
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