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NUTRIÇÃO FUNCIONAL E FITOTERAPIA Daniela Aguirre Alergias alimentares e disbiose Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever o que são as alergias alimentares. Analisar o que é e o que produz a disbiose. Aplicar o uso de probióticos e pré-bióticos para a saúde intestinal. Introdução As dietas ricas em alimentos refinados, gorduras saturadas e trans, açúca- res, bebidas alcoólicas, pouca ingestão de frutas, hortaliças, grãos e água, tornam a saúde do intestino vulnerável, agredindo-o e inflamando-o. Essa situação provoca complicações que envolvem o sistema imunológico, a permeabilidade intestinal e o enfraquecimento da microbiota benéfica em relação à patógena, o que potencializa os processos alérgicos. Neste capítulo, você vai estudar a disbiose, distúrbio que causa inú- meros desequilíbrios no nosso organismo. Além disso, você vai entender o quanto a dieta é fundamental para evitar a disbiose. Alergias alimentares: o que são? “As reações adversas aos alimentos são representadas por qualquer re- ação anormal à ingestão de alimentos ou aditivos alimentares” (ASBAI, p. 3, 2008). U2_C07_Nutrição funcional e fitoterapia.indd 93 07/07/2017 15:35:59 Confira alguns aspectos relacionados às reações alérgicas: Podem ser provocadas pela ingestão de substâncias tóxicas de bactérias. Substâncias presentes em alimentos que, em algumas pessoas, podem causar reações adversas. Esses elementos são denominados substâncias não tóxicas. A alergia alimentar é uma reação provocada por componentes encon- trados em alimentos que podem ser imunomediados ou não. As reações não tóxicas podem ser classificadas de duas formas: intolerância alimentar ou hipersensibilidade alimentar. Intolerância alimentar A intolerância alimentar é marcada por reações não tóxicas não imunomediadas por IgE. Isso quer dizer que não envolve o sistema imunológico. A intolerância a algum alimento é produzida pela má digestão de alguma substância, sendo que o sistema imunológico não está envolvido. A intolerância à lactose (dissacarídeo) é um exemplo de intolerância alimentar. Ela ocorre pela falta da enzima lactase. Muitas vezes, é confundida com a alergia ao leite de vaca. As manifestações que ocorrem são náuseas, diarreia, vômito e flatulências. Isso acontece quando uma molécula não consegue ser digerida, por exemplo, pela falta de uma enzima necessária para esse processo, provocando os distúrbios aqui mencionados. Pode causar alterações cutâneas (como dermatite), além de alterações gastrintestinais e respiratórias. Alergia alimentar ou hipersensibilidade alimentar A alergia alimentar é uma reação adversa a alimentos mediada por IgE, de- pendente de mecanismos imunológicos. Nesses mecanismos, os anticorpos são estimulados, e a manifestação ocorre de forma imediata ou tardia. Pode ser por vermelhidão, coceira ou reações como rinite, sinusite, asma, dermatite, otite, entre outros problemas, alergia gastrintestinal ou choque anafi lático. Nutrição funcional e fitoterapia 94 U2_C07_Nutrição funcional e fitoterapia.indd 94 07/07/2017 15:36:00 As manifestações alérgicas a alimentos são desencadeadas por reações imunológicas a proteínas. São mais prevalentes em crianças do que em adultos; apesar disso, alergias a certos alimentos podem desaparecer com o passar dos anos e, em adultos ou adolescentes, pode causar reações mais acentuadas. As reações podem ser induzidas por alimentos como leite de vaca (nas casinhas e proteínas do soro), ovo, trigo, soja, amendoim, nozes e frutos do mar. O aleita- mento materno é uma das melhores formas de prevenção à alergia alimentar, pois tem grande relevância na proliferação de microrganismos benéficos à microbiota intestinal. Essa é uma forma de proteção e fortalecimento do sistema imunológico entérico. Aditivos alimentares costumam ser associados a alergias, mas somente uma pequena parcela apresenta relação referente a alergias alimentares. Resposta imune e alergia alimentar Quando o sistema imune identifi ca um alimento de forma errônea, ele envia sinais que são mediadores infl amatórios como resposta defensiva em vista de ter relacionado esse alimento como uma ameaça. A resposta infl amatória restringe a superfície da mucosa, protegendo o organismo. Assim, nas próximas vezes em que a pessoa ingerir esse mesmo alimento, o sistema de defesa irá reagir como resposta a uma ameaça, desenvolvendo as manifestações clínicas mencionadas. Isso pode ocorrer por ingestão de proteínas alergênicas ou por fatores genéticos. A hiperpermeabilidade intestinal está associada às alergias alimentares. A função imunológica intestinal se encontra no tecido linfoide chamado GALT. Saúde intestinal Durante a vida, através do trato grastintestinal, introduzimos uma infi nidade de substâncias que o organismo deve identifi car, discriminar, digerir, absorver e excretar. É o maior contato do organismo com o meio externo e, por esse motivo, é desenvolvido um sistema imune intestinal, associado ao tecido 95Alergias alimentares e disbiose U2_C07_Nutrição funcional e fitoterapia.indd 95 07/07/2017 15:36:00 linfoide. Esse tecido é chamado GALT (gut-associated lymphoid tissue) e contém células do sistema imunológico, como as células B, IgA, linfócitos T e linfócitos intraepiteliais. Separado por uma camada de células e muco, é exposto a bactérias e substâncias que modifi cam sua natureza (PUJOL, 2011). Outros mecanismos de defesa do organismo são as junções das células epiteliais chamadas de tight junctions. Elas regulam a permeabilidade intes- tinal formando uma barreira entre os enterócitos através de proteínas, o que protege a entrada de patógenos no resto do organismo. Doenças autoimunes, alergias, asma e doenças respiratórias e do trato gastrintestinal têm sido relacionadas ao desequilíbrio da microbiota intestinal. A microbiota intestinal participa da modulação do sistema imune, e a saúde desse sistema está relacionada com a dieta. Os hábitos alimentares podem afetar a permeabilidade intestinal e a comunidade de bactérias benéficas. Dietas de perfil ocidental – ricas em energia provenientes de açúcar e gorduras e pobre em fibras – modificam a composição da microbiota intestinal, proliferando as bactérias patogênicas que se encontram em constante disputa com a microbiota favorável ao hospedeiro. Essas dietas enfraquecem o sistema imune inato, tornando a barreira intestinal permeável e suscetível à passagem de patógenos e moléculas não digeridas, provocando distúrbios e alergias. Disbiose Desequilíbrio da flora intestinal A alimentação é um fator fundamental no equilíbrio da saúde, pois interfere diretamente no funcionamento intestinal adequado. Você sabia que o processo de saúde do intestino inicia na mastigação? A correta mastigação promove a quebra adequada de nutrientes que, se passarem mal digeridos para o intestino e este estiver permeável (permitindo a passagem dessas moléculas para a corrente sanguínea), podem causar diversos problemas. Confira alguns deles: Nutrição funcional e fitoterapia 96 U2_C07_Nutrição funcional e fitoterapia.indd 96 07/07/2017 15:36:00 fermentação que causa disputa pelo espaço com bactérias benéficas, provocando processos inflamatórios; má absorção e síntese de nutrientes; reações alérgicas; dores abdominais; disbiose. Fazer uso de medicamentos sem prescrição médica é um grande risco, pois estes podem causar inflamações ao serem mal utilizados. O uso prolongado de medicamentos deixa resíduos no organismo que danificam a parede intestinal. Por esse motivo, para corrigir a disbiose, é importante realizar um processo de desintoxicação do organismo, para que, então, seja possível restabelecer a microflora intestinal. Na nutrição funcional, diversos aspectos da saúde do paciente são avaliados. Os sintomas são analisados e, a partir daí, busca-se o problema inicial, para realizaro tratamento. Deve ser sempre pesquisado o funcionamento ade- quado do trato gastrintestinal, que geralmente se encontra em desequilíbrio pelos maus hábitos alimentares. Essa condição pode até reduzir a eficiência imunológica, causando problemas de pele e cabelos, entre outros distúrbios mais graves. Tem-se evidenciado deficiência de absorção de nutrientes e até dificuldade na perda de peso devido ao mau funcionamento intestinal. A disbiose é uma condição associada ao desenvolvimento de múltiplas doenças, o que dificulta o tratamento. A disbiose é marcada pelo predomínio de bactérias patogênicas que, se não forem controladas, podem causar danos à saúde. As bactérias intestinais devem se manter em equilíbrio, proporcionando- -se substrato que alimente a microbiota e reduzindo-se o consumo de alimentos favoráveis a processos inflamatórios e à permeabilidade da barreira intestinal. 97Alergias alimentares e disbiose U2_C07_Nutrição funcional e fitoterapia.indd 97 07/07/2017 15:36:00 Probióticos e pré-bióticos na saúde intestinal Probióticos Os probióticos são microrganismos vivos. Os mais populares são os Lactoba- cillus Lactobacillus acidophilus, Bifi dobacterium e Bifi dobacterium longum. Essas bactérias constituem a microbiota benéfi ca que ajuda a prevenir infecções causadas por microrganismos patogênicos, além de colaborar na melhora do processo de digestão de nutrientes, produção de vitaminas, redução de diarreias e proteção geral do intestino. Portanto, os probióticos são microrganismos vivos que conferem benefícios à saúde do hospedeiro através de mudanças metabólicas. Pré-bióticos Os pré-bióticos são substâncias não digeríveis que, ao chegarem ao colo, são fermentadas, promovendo o crescimento e a proliferação de bactérias benéfi cas. Os fruto-oligossacarídeos e a inulina são exemplos de pré-bióticos mais utilizados. Os pré-bióticos incluem oligossacarídeos fermentáveis não digeríveis que estimulam o crescimento e a atividade das bactérias no colo. Nutrição funcional e fitoterapia 98 U2_C07_Nutrição funcional e fitoterapia.indd 98 07/07/2017 15:36:01 PUJOL, A. P. P. Nutrição aplicada à estética. Rio de Janeiro: Rubio, 2011. SOLÉ, D. et al. (Coord.). Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2007. Revista Brasileira de Alergia e Imunopatologia, v. 31, n. 2., 2008. Disponível em: < http:// www.asbai.org.br/revistas/vol312/ART%202-08%20-%20Consenso%20Brasileiro%20 sobre%20Alergia%20Alimentar%20-%202007.pdf>. 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