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VARIÁVEIS COMPLEXAS Cristiane da Silva Funções analíticas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir funções analíticas. Reconhecer as propriedades das funções analíticas. Identificar a importância das funções analíticas no estudo das variáveis complexas. Introdução As funções analíticas são uma parte da matemática com grande relevância em razão das suas aplicações em áreas como cartografia, hidrodinâmica, aerodinâmica, elasticidade, eletromagnetismo, etc. Neste capítulo, você conhecerá as funções analíticas, aprenderá a encontrar soluções para funções complexas e conhecerá teoremas importantes. Definição Dizemos que uma função f de uma variável complexa z é analítica em um conjunto aberto S se f tiver uma derivada em cada ponto desse conjunto. Além disso, a função será analítica em um ponto z0 se for analítica em alguma vizinhança de z0. Cabe destacar que, na literatura, também são utilizados os termos regular ou holomorfa em vez de analítica. No caso de uma função que é analítica em um conjunto S que não é aberto, entende-se que essa função é analítica em algum conjunto aberto que contém S. Chamamos de inteira uma função analítica em cada ponto de todo o plano complexo (BROWN; CHURCHILL, 2015). 02996_Variaveis_Complexas.indb 47 21/03/2018 15:17:48 A função é analítica em cada ponto não nulo do plano finito, pois a sua derivada existe em um tal ponto. A função não é analítica em ponto algum, pois a sua derivada existe apenas em z = 0, e não em todos os pontos de alguma vizinhança. Como a derivada de um polinômio existe em toda parte, segue que qualquer polinômio é uma função inteira. Fonte: Brown e Churchill (2015, p. 72). Outro ponto importante é que uma condição necessária para uma função ser analítica em um domínio D é a continuidade dessa função em cada ponto de D. Além disso, a validade das equações de Cauchy-Riemann também é necessária, embora não suficiente. Outras condições suficientes vêm das regras de derivação. As derivadas da soma e do produto das duas funções existem em cada ponto em que cada uma dessas funções tiver derivada (BROWN; CHURCHILL, 2015). Brown e Churchill (2015, p. 74) destacam ainda que, se uma função não for analítica em um ponto z0, mas for analítica em cada ponto de alguma vizinhança de z0, z0 é uma singularidade, ou ponto singular de f. O ponto z = 0 é uma singularidade da função . Por outro lado, a função não tem singularidades, por não ser analítica em ponto algum. Funções analítica real versus função analítica complexa Uma função real f = f(x) pode ter a primeira derivada contínua, mas não possuir a segunda derivada. Já no sistema complexo, isso não ocorre, pois, se f = f(z), tem-se a primeira derivada e também todas as outras derivadas. Vejamos um exemplo em relação à analiticidade. Funções analíticas48 02996_Variaveis_Complexas.indb 48 21/03/2018 15:17:49 Podemos exibir uma função real f = f (x) que não é analítica, mas cuja equivalente complexa f = f (z) é analítica. Por exemplo, a função real definida por f(0) = 0 e se x ≠ 0 não é analítica, mas a função complexa definida por f (0) = 0 e se z ≠ 0 é analítica em todo o plano complexo. Fonte: Toffoli (2006). Propriedades Brown e Churchill (2015) apontam algumas propriedades das funções analíti- cas. Os autores explicam que, se duas funções são analíticas em um domínio D, então a soma e o produto dessas funções são funções analíticas em D. A composição de duas funções analíticas é analítica, o que pode ser visto a partir da regra da cadeia da derivada de uma função composta. Outra propriedade útil das funções analíticas é que, se em cada ponto de um domínio D, então f (z) é constante em D. Funções harmônicas Brown e Churchill (2015, p. 77, grifo nosso) defi nem funções harmônicas da seguinte forma: Dizemos que uma função real H de duas variáveis reais x e y é harmônica em um dado domínio do plano xy se as derivadas parciais de segunda ordem de H existirem em forem contínuas em cada ponto do domínio e satisfize- rem a equação diferencial parcial Hxx (x,y) + Hyy (x,y) = 0, conhecida como equação de Laplace. Essas funções possuem aplicações matemáticas importantes. Por exemplo, as temperaturas T(x,y) de placas finas do plano xy são, muitas vezes, harmô- nicas. A função V(x,y), que representa um potencial eletrostático que varia somente com x e y no interior de alguma região do espaço tridimensional livre de cargas, também é harmônica (BROWN; CHURCHILL, 2015). Vejamos um exemplo de função harmônica. 49Funções analíticas 02996_Variaveis_Complexas.indb 49 21/03/2018 15:17:49 É fácil verificar que a função T(x,y) = e–y sen x é harmônica em qualquer domínio do plano xy e, em particular, na faixa vertical semi-infinita 0 < x < π,y> 0. Os valores dessa função nas arestas da faixa estão indicados na figura abaixo. Essa função satisfaz todas as condições. Que descrevem as temperaturas estacionárias T(x,y) de uma placa homogênea fina do plano xy, sem fontes ou poços de calor e que esteja isolada, exceto pelas condições indicadas ao longo das arestas. Fonte: Brown e Churchill (2015, p. 77-78). Brown e Churchill (2015, p. 78) destacam um teorema que é fonte de funções harmônicas é o seguinte: “Se uma função f(z) = u(x,y) + iv(x,y) é analítica em um domínio D, então suas funções componentes u e v são harmônicas em D”. Bourchtein e Bourchtein (2014) definem uma função harmônica na região D como aquela que satisfaz à equação de Laplace. Princípio da reflexão Essa é uma propriedade de algumas funções analíticas. Por exemplo, as fun- ções z + 1 e z2 têm essa propriedade em todo o plano complexo, mas isso não acontece com as funções z + i e iz2. O teorema, conhecido como princípio da Funções analíticas50 02996_Variaveis_Complexas.indb 50 21/03/2018 15:17:49 refl exão, fornece uma maneira de detectar quando vale . Vejamos o teorema e a sua demonstração (BROWN; CHURCHILL, 2015, p. 83-84). Teorema Suponha que uma função f seja analítica em algum domínio D que contém um segmento do eixo x e cuja metade inferior é a refl exão da metade superior em relação a esse eixo. Então: em que cada ponto z do domínio se, e somente se, f(x) é real em cada ponto x do segmento. Começamos a demonstração supondo que f(x) seja real em cada ponto x do segmento. Para obter a equação (1) mostramos que a função: é analítica em D. Para estabelecer a analiticidade de F(z), escrevemos: e observamos que: Segue, da equação (2), que os componentes de F(z) e f(z) estão relacionados pelas equações: e em que t = –y. Como f(x + it) é uma função analítica de x + it, as derivadas parciais das funções u(x,t) e v(x,t) são contínuas em D e satisfazem as equações de Cauchy-Riemann. 51Funções analíticas 02996_Variaveis_Complexas.indb 51 21/03/2018 15:17:50 Além disso, pelas equações (4), temos: E segue dessas equações e da primeira das equações de (5) que Ux = Vy. Analogamente, E a segunda das equações (5) nos diz que Uy = –Vx. Já que verificamos que as derivadas de primeira ordem de U(x,y) e v(x,y) satisfazem as equações de Cauchy-Riemann e como essas derivadas parciais são contínuas, estabelecemos que a função F(z) é analítica em D. Além disso, como f(x) é real no segmento do eixo real contido em D, sabemos que v(x,0) = 0 nesse segmento; em vista das equações (4), isso significa que Assim: em cada ponto do segmento. Disso segue que a equação (6) é válida em D, pois uma função analítica defi nida em um domínio D é determinada de maneira única por seus valores em qualquer segmento de reta contido em D. Pela defi nição (2) da função F(z) segue, então, que O que corresponde à equação (1). Funções analíticas52 02996_Variaveis_Complexas.indb 52 21/03/2018 15:17:50 Para provar a recíproca do teorema, vamos supor que valha a equação (1). Observe que, pela equação (3), a forma (7) da equação (1) pode ser reescrita como: Em particular,se (x,0) for um ponto do segmento do eixo real que está contigo em D, então: E, igualando as partes imaginárias, vemos que v(x,0) = 0. Logo, f(x) é real no segmento do eixo real contido em D. Funções analíticas e variáveis complexas A teoria das funções analíticas apresenta grandes riquezas em termos de propriedades e formalidade. Além disso, tem fundamental importância em aplicações à física e à técnica. Trataremos aqui da representação de funções analíticas por séries. Convergência Brown e Churchill (2015) explicam que uma sequência infi nita z1, z2, ..., zn, ... de números complexos tem um limite z se, dado qualquer número positivo ε, existir algum inteiro positivo n0 tal que: Ou seja, com valores suficientemente grandes de n, os pontos zn estão em qualquer vizinhança dada de z, como mostra a Figura 1. 53Funções analíticas 02996_Variaveis_Complexas.indb 53 21/03/2018 15:17:50 Figura 1. Convergência. Fonte: Adaptada de Brown e Churchill (2015, p. 180). Podemos escolher ε tão pequeno quanto quisermos, assim os pontos zn estarão arbitrariamente próximos de z à medida que os seus índices crescem. O valor de n0 que é necessário depende, em geral, do valor de ε. Uma sequên- cia tem, no máximo, um limite. Diz-se que a sequência converge a z quando o limite z existir (BROWN; CHURCHILL, 2015). Podemos representar da seguinte forma: Se uma sequência não tiver limite, ela diverge. Brown e Churchill (2015, p. 179-180) destacam o seguinte teorema: “Su- ponha que e . Então, se, e só se, e ”. Vejamos dois exemplos — um de uma sequência que converge; outro, de uma que diverge. Funções analíticas54 02996_Variaveis_Complexas.indb 54 21/03/2018 15:17:50 Exemplos Exemplo 1 A sequência: converge a –1, pois: Também podemos usar a definição (1) para obter esse resultado. Mais precisamente: É necessário ser cuidadoso na adaptação do teorema a coordenadas polares. Exemplo 2 Considerando a mesma sequência do exemplo anterior: Usando coordenadas polares: em que Argzn denota os argumentos principais . Vemos que: mas, É evidente que não existe o limite de se n tender ao infinito. Fonte: Brown e Churchill (2015, p. 181). 55Funções analíticas 02996_Variaveis_Complexas.indb 55 21/03/2018 15:17:50 1. No que diz respeito à definição de função analítica é correto afirmar que: a) Uma função f de uma variável complexa z é analítica em um conjunto aberto S se f tiver uma derivada em cada ponto desse conjunto. b) A função é analítica em um ponto z0 apenas se não for analítica em alguma vizinhança de z0. c) Se f for analítica em um ponto z0, então f não será analítica em cada ponto de alguma vizinhança de z0. d) Uma função só será analítica em um conjunto S aberto. e) Uma função não é analítica em um conjunto aberto que contém S. 2. Para uma função ser analítica, é necessário: a) e suficiente a validade das equações de Cauchy-Riemann. b) que, considerando um domínio D, haja a descontinuidade dessa função em cada ponto de D. c) lembrar das condições suficientes que vêm das regras de antiderivação. d) lembrar das condições que vêm das regras de radiciação. e) a validade das equações de Cauchy-Riemann, embora isso, por si só, não seja suficiente. 3. No que diz respeito às funções analítica real e analítica complexa, analise a afirmativa correta. a) Uma função real f = f(x) precisa necessariamente ter a primeira derivada contínua e também possuir a segunda derivada. b) No sistema complexo f = f(z), tem-se apenas a primeira derivada. c) A função complexa definida por f(0) = 0 e f(z) = e−1/z se z ≠ 0 é analítica em todo o plano complexo. d) Uma função real f = f(x) que não é analítica não terá equivalente complexa analítica. e) A função complexa definida por f(0) = 0 e f(z) = e−1/z se z ≠ 0 não é analítica em todo o plano complexo. 4. Considerando a função exponencial ex (com x real), as propriedades básicas são: Se desejarmos uma função exponencial complexa ez com as mesmas propriedades, escrevemos z = x + iy. Então, é correto afirmar que: a) b) c) d) e) Funções analíticas56 02996_Variaveis_Complexas.indb 56 21/03/2018 15:17:51 BOURCHTEIN, L.; BOURCHTEIN, A. Teoria das funções de variável complexa. Rio de Janeiro: LTC, 2014. BROWN, J. W.; CHURCHILL, R. V. Variáveis complexas e aplicações. 9. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2015. TOFFOLI, S. F. L. Variáveis complexas: derivadas de funções complexas. 2006. Disponível em: <http://www.uel.br/projetos/matessencial/superior/vc/vc06.htm>. Acesso em: 15 mar. 2018. 5. As funções analíticas podem ser representadas por séries. Brown e Churchill (2015) explicam que uma sequência infinita z1, z2, ..., zn, ... de números complexos tem um limite z se, dado qualquer número positivo Ɛ, existir algum inteiro positivo n0 tal que |zn – z| < Ɛ se n > n0. Nesse contexto, é correto afirmar que: a) uma sequência pode ter vários limites. b) uma sequência diverge de z quando o limite z existir. c) uma sequência converge a z quando não tiver limite. d) uma sequência pode ser convergente e divergente ao mesmo tempo. e) uma sequência tem, no máximo, um limite. 57Funções analíticas 02996_Variaveis_Complexas.indb 57 21/03/2018 15:17:52 http://www.uel.br/projetos/matessencial/superior/vc/vc06.htm Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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