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EDUCAÇÃO NUTRICIONAL Fernanda Rockett Rafaela da Silveira Corrêa Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 R682e Rockett, Fernanda. Educação nutricional / Fernanda Rockett, Rafaela da Silveira Corrêa. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 242 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-016-0 1. Nutrição. 2. Educação nutricional. I. Corrêa, Rafaela da Silveira. II. Título. CDU 613.2 Educação alimentar e nutricional nas diversas fases da vida Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Demonstrar conhecimento sobre os determinantes do comporta- mento alimentar de crianças e adolescentes e sobre os temas e ações de EAN apropriadas a essa fase. � Demonstrar conhecimento sobre os determinantes do comporta- mento alimentar de adultos e idosos e sobre os temas e ações de EAN apropriadas para esses ciclos das vida. � Construir ações adaptadas às diferentes culturas e contextos sociais Introdução A educação é um processo inerente à vida, o ser humano aprende e se desenvolve ao longo de sua existência no esforço por responder aos desafios cotidianos. A educação acontece nesse cotidiano social e também por intermédio de ações de instrução e ensino planejadas por pessoas com formação para tal. A Educação Alimentar e Nutricional (EAN) constitui uma estratégia central para a promoção de hábitos alimentares saudáveis, sendo definida como um campo de prática contínua e permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis. Considerando que cada etapa da vida tem suas particularidades, a EAN deve fazer uso de abordagens que favoreçam o diálogo junto aos indivíduos e grupos populacionais, estando contextualizada a realidade do sujeito e ao seu desenvolvimento biopsicossocial. Neste texto, você vai estudar sobre as particularidades de cada ciclo da vida, para após planejar ações adequadas a todos os públicos. Ciclos da vida O desenvolvimento de ações de educação alimentar e nutricional (EAN) ainda é um desafio, apesar de sua reconhecida relevância para a formação, mudança e manutenção de hábitos alimentares saudáveis. Conforme destaca o Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional, ainda é necessário ampliar a discussão sobre suas possibilidades, seus limites e o modo como são realizadas, uma vez que o seu campo de atuação não está claramente definido. Um dos pontos de discussão das práticas de EAN é a formulação de projetos adequados aos diferentes públicos e faixas etárias, considerando as particularidades de cada fase da vida. A nutrição nos ciclos da vida é a matéria que tem por fim estudar os prin- cípios da nutrição e sua aplicabilidade básica aos indivíduos e grupos de todas as faixas etárias e classes sociais. É uma disciplina com orientações práticas, que busca auxiliar os profissionais para lidar com situações no dia a dia em que sejam necessárias ações de EAN como parte do atendimento realizado. A seguir serão detalhadas as particularidades das diferentes fases da vida, com ênfase nos determinantes do comportamento alimentar de cada fase e nas possibilidades de ações de EAN. Lactentes e pré-escolares O comportamento alimentar começa a ser formado já bem no início da vida, sendo necessário compreender os fatores determinantes dessa fase. Os bebês iniciam essa jornada com a alimentação láctea (leite materno ou fórmula láctea) e logo suas experiências alimentares começam a se diferenciar. Nessa fase, a alimentação do bebê é totalmente dependente dos cuida- dos dos adultos responsáveis pela criança. Se a criança é amamentada ao seio, a quantidade e a formulação do leite produzido vão depender do estado nutricional, dos hábitos alimentares da mãe e de outros fatores que podem influenciar a sua composição. O leite materno possui substâncias flavorizantes, que mudam o seu sabor de acordo com a alimentação materna, sendo assim a criança alimentada no seio poderá ter mais facilidade para aceitar os sabores da alimentação complementar. Por outro lado, se a criança é alimentada arti- ficialmente, outros fatores ambientais estarão envolvidos, como, por exemplo, o volume da mamadeira, ingredientes adicionados, como açúcar e cereais, e também o sabor constante da fórmula láctea. Educação nutricional122 A maior parte das informações e ações de EAN é voltada para as mães nos períodos de gestação e lactação. As ações realizadas para esse público nesse período são voltadas para instruir as mães a cuidar da alimentação e não consumir itens que possam ser prejudiciais ao desenvolvimento do bebê, além de dar ênfase aos alimentos ricos em determinados nutrientes necessários para uma boa saúde do feto e do recém-nascido. Sugestões de tema para abordar com famílias com crianças de até 6 meses de idade (BRASIL, 2015): � A importância do aleitamento materno e do aleitamento materno ex- clusivo até os 6 meses de vida. � Direitos que garantem a amamentação. � Apoio da família durante a amamentação. � Caso a mãe tenha dúvidas ou dificuldades com relação à prática do aleitamento materno, a equipe pode encaminhá-la ao serviço de saúde para que tenha uma atenção mais específica. A partir dos 2 anos, as mensagens veiculadas mudam consideravelmente, já com as crianças se tornando alvos da publicidade de alimentos, sobretudo processados e ultraprocessados de baixa qualidade nutricional. Desde muito cedo, a criança está exposta a diversos estímulos ligados aos alimentos, prin- cipalmente os sistemas sensoriais, como paladar, olfato e visão. As crianças já nascem com predisposição para preferir substâncias doces. Essa preferência é herdada e está associada ao processo evolutivo, uma vez que substâncias doces poderiam predizer o valor energético do alimento. Além disso, no ponto de vista evolutivo, o sabor amargo poderia ser associado ao perigo de substâncias tóxicas ou venenosas. Porém, é justamente por essa preferência inata que se deve evitar e retardar ao máximo a oferta de alimentos doces para as crianças. É justamente por essa razão que lactentes em geral respondem com expres- são facial positiva ao sabor doce e com expressão facial negativa aos sabores azedo e amargo. Essa reação acaba sendo interpretada pelos adultos como sendo a “preferência alimentar da criança”. É fundamental que as ações de EAN destinadas aos pais e cuidadores de crianças dessa faixa etária enfati- zem a importância da apresentação frequente aos novos alimentos para que ocorra a familiarização com os sabores e também que seja esclarecido que as expressões da criança estão relacionadas com as preferências inatas. Um novo alimento precisa ser apresentado de 10 a 15 vezes para a criança para então entender-se que ela realmente não gosta daquele sabor. 123Educação alimentar e nutricional nas diversas fases da vida Uma forma de tornar a alimentação mais atrativa para a criança é dando autonomia a ela no momento da refeição. Deixar que a criança toque o alimento, sinta o cheiro e leve ele à boca é uma forma de explorar os sentidos da criança tornando a hora da alimentação um momento de descoberta. Outra sugestão é apresentar um prato colorido, utilizando os alimentos para construir formas. Durante a amamentação e a introdução da alimentação complementar, o comportamento alimentar acaba sendo muito influenciado pela família e, secundariamente, pelas interações psicossociais e culturais. Nessa fase também começam a aparecer preferências alimentares e, não raramente, já se verifica a ocorrência da neofobia alimentar, isto é, o receio de experimen- tar novos alimentos e sabores. É frequente a queixa quanto à dificuldade da introdução alimentar. Para enfrentar essa dificuldade, as ações de EAN devem ser voltadas ao incentivo à introdução de novos alimentos, as crianças precisam ser encorajadas a descobrir novos sabores, cheiros e texturas que não conheçam. Para tanto,devem ser explorados os sentidos sensórios, tato, olfato, visão e o paladar. Muitas vezes são utilizadas estratégias equivocadas para essas situações, tais como a rigidez e insistência nos momentos das refeições, uso de distrações como televisões e tablets e até mesmo o oferecimento de recompensas. Todas essas estratégias não são eficazes e devem ser desestimuladas, pois acabam por gerar na criança uma relação negativa em relação ao alimento. A alimentação e o gosto pelos alimentos faz parte de um processo de aprendizagem. Nessa relação de aprendizagem estão envolvidos, além dos aspectos ligados aos alimentos, também outros, relacionados ao contexto social em que o alimento foi consumido, à quantidade que deve ser consumida, entre outros aspectos. À medida que transcorre a introdução da alimentação complementar, aumenta consideravelmente a gama de alimentos consumidos pela criança. A formação das preferências e dos hábitos alimentares da criança na fase pré-escolar é marcada pela influência do contexto socioafetivo. A imitação de adultos, familiares e outras crianças que convivem no mesmo ambiente na seleção dos alimentos é comum nessa fase. Educação nutricional124 Nessa fase a família tem uma grande influência e, portanto, deve também ser estimulada a ter bons hábitos de alimentação. Se a família apresenta uma alimentação equilibrada e saudável, as chances da criança aprender bons hábitos alimentares são grandes. Do contrário, o risco de a criança iniciar o estabelecimento de hábitos alimentares inadequados é muito alto, sendo os reflexos percebidos a curto e longo prazo. O padrão alimentar infantil é estabelecido por volta dos 5 anos e é amplamente influenciado pelas práticas alimentares dos pais da criança, pois são eles que determinam a exposição da criança ao alimento, o tipo, a quantidade e a frequência. A cozinha é um local de experimentação e brincadeiras! Ao levar a criança para esse espaço e inseri-la no processo de preparo dos alimentos, os pais ganham pela pro- ximidade e pelo vínculo construídos naquele momento e também pela curiosidade que leva os pequenos a ter mais interesse pelos alimentos. Por isso, oficinas culinárias são muito indicadas em qualquer faixa etária e. quando realizadas na escola, podem também incluir os pais. Devido às mudanças sociais e familiares, as crianças começam a frequen- tar a escola cada vez mais cedo. A partir do momento em que ingressa no cotidiano escolar, além dos pais, os professores e os colegas passam a ganhar importância nesse processo e a ter influência na escolha dos alimentos e no comportamento alimentar. Nessa fase as ações realizadas na escola precisam incentivar escolhas saudáveis, e deve-se ter atenção especial com a introdução de alimentos inadequados e práticas incorretas trazidas de casa. Os professores, por sua vez, devem assumir uma postura motivadora, incentivando os alunos a consumirem uma alimentação variada. Por essa razão, é de grande importância trabalhar com esse grupo para que se tornem multiplicadores da alimentação saudável dentro de sala de aula. 125Educação alimentar e nutricional nas diversas fases da vida Comportamento alimentar de crianças e adolescentes Escolares A fase escolar, que compreende dos 7 aos 10 anos, é marcada por um cresci- mento mais lento, porém contínuo, e por um aumento constante do consumo alimentar. Nessa fase, a escola passa a desempenhar um papel ainda mais importante nas escolhas alimentares e na manutenção da saúde da criança. A maior autonomia da criança nesse período é determinante para o estabeleci- mento de novos hábitos e a solidificação daqueles adquiridos anteriormente. Nesse período, ocorre a formação de laços sociais com adultos e indivíduos da mesma idade, aumentando a influência de colegas, professores e ídolos. Outro fator que exerce influência nas escolhas alimentares é o hábito de assistir à televisão. Quanto maior o tempo em frente à tela, maior será a expo- sição à publicidade voltada ao público infantil. A maior parte das propagandas veiculadas na televisão brasileira durante a programação infantil é de produtos alimentícios. Dessas, mais da metade pertence ao grupo dos açúcares, sendo o refrigerante o alimento mais presente nas propagandas. Em contrapartida, alimentos básicos, como frutas, hortaliças, cereais e leguminosas, estão com- pletamente ausentes da publicidade. O tempo despendido diante da televisão parece contribuir duplamente para o aumento da obesidade: devido à exposição aos comerciais abusivos de alimentos e devido ao fato de a criança estar sentada em frente à TV, quando na verdade deveria estar brincando de forma fisicamente ativa. Esse cenário acaba contribuindo para o aumento da prevalência de sobrepeso infantil e também para o surgimento de doenças crônicas não transmissíveis. Sabe-se que a obesidade é causada por uma rede complexa de fatores, que inclui genética, ambiente, alimentação, atividade física, entre outros fatores. Embora não seja possível modificar as influências genéticas, as comportamentais podem ser mudadas com a educação alimentar e nutricional. Nesse sentido, a escola representa um espaço e um tempo privilegiados para promover a saúde. O ambiente de ensino, ao articular de forma dinâmica a comunidade escolar, proporciona condições para o desenvolvimento de atividades que reforçam a escola como um local favorável à convivência saudável, ao desenvolvimento psicoafetivo e ao aprendizado, podendo, como consequência, constituir-se em um espaço para a intervenção no sentido de formação e consolidação de hábitos saudáveis. Educação nutricional126 Para saber mais sobre essa fase e o importante papel da escola, você pode verificar um material elaborado pelo Ministério da Saúde: Manual operacional para profissionais de saúde e educação: promoção da alimentação saudável nas escolas. Disponível em: <http://www.ideiasnamesa.unb.br/upload/bibliotecaIdeias/1392113080manual_ope- racional_para_profissionais_biblioteca.pdf>. Como estratégia para o alcance desses objetivos, para além da oferta de uma alimentação saudável, a escola pode desenvolver atividades, como: implan- tação e manutenção de hortas escolares pedagógicas, realização de oficinas culinárias experimentais com os alunos, formação da comunidade escolar, entre outras atividades. Sugestões de tema para abordar com crianças e suas famílias (BRASIL, 2015): � Reconhecimento de novos alimentos � As refeições em família � A valorização da cultura alimentar regional � A importância da alimentação variada � Direitos das crianças: responsabilidades do Estado e da família Adolescentes A adolescência é o período compreendido entre os 10 e 19 anos, sendo essa fase marcada pela transição entre a infância e a idade adulta. Caracteriza-se como um momento de intenso crescimento, desenvolvimento e transformações físicas, sociais, emocionais e mentais. Muitos questionamentos surgem nesse período e, nesse processo, o adolescente passa por uma adaptação para a nova forma corporal e sua posição na sociedade. 127Educação alimentar e nutricional nas diversas fases da vida http://www.ideiasnamesa.unb.br/upload/bibliotecaIdeias/1392113080manual_ope- Nessa fase, tendem a ocorrer mudanças no comportamento alimentar, principalmente em razão das modificações fisiológicas e da importância que o ambiente social ganha para o adolescente. Aspectos psicológicos, so- cioeconômicos e culturais irão influenciar na escolha dos alimentos nesse período, interferindo diretamente na formação do comportamento alimentar. As influências externas, como a relação com os amigos e a mídia, passam a ter um peso ainda maior como determinantes das escolhas dos adolescentes. Nessa fase, a preocupação com o corpo e a estética, a busca de identidade e a negação de padrões infantis de comportamento estão aflorados. Frequentemente são verificados nesse público hábitos alimentares que incluem o consumo irregular de refeições, o hábitode “beliscar” com frequ- ência, de realizar refeições fora de casa (principalmente do tipo fast food) e de fazer dietas. Diversos fatores influenciam nessa forma de comportamento, como: perda de influência da família; maior influência de colegas e amigos; maior exposição à mídia; aumento de responsabilidades; e, inclusive, o me- nor tempo de refeições junto à família. Os adolescentes consideram o sabor, a familiaridade/hábito e a saúde como os elementos mais importantes na escolha alimentar. Outro aspecto marcante é a falta do hábito diário de ingestão de frutas, vegetais, leite e cereais, a qual está associada com deficiências vitamínicas. Por outro lado, o hábito de consumir bebidas açucaradas, sobremesas e proteína animal (carne bovina, suína, frango, ovos e frutos do mar) está positivamente associado com o excesso de peso. Faz-se necessário prover as condições para que os adolescentes façam escolhas mais saudáveis, conscientes e de forma crítica. Isso se dá quando eles são colocados no papel de protagonistas da saúde e cidadania próprias. Nesse ponto encontra-se inserida a EAN, no sentido de possibilitar atividades valorizando as suas experiências e objetivando a construção de conhecimento e o desenvolvimento das potencialidades dos adolescentes. São boas opções atividades de arte, esporte e lazer que sensibilizem o jovem para os desafios da realidade social, cultural, ambiental e política de seu meio social e que incentivem diferentes formas de expressão. Para que se tenha a aderência desse público, é importante que as atividades sejam atrativas e estejam pautadas em referências culturais, sociais e em valores afetivos/emocionais e comportamentais próprios do contexto no qual o jovem está inserido. O jovem que se identificar com as temáticas sobre EAN se sentirá parte da ação e do grupo e se envolverá com a atividade proposta, participando ativamente. Educação nutricional128 As ações direcionadas a esse público devem valorizar as suas vi- vências, a convivência social e a participação cidadã do adolescente, auxiliando na construção de sua autonomia e melhorando sua autoestima. O adolescente pode ser protagonista na comunidade, realizando ações nos domicílios, nas escolas e em outros espaços comunitários (BRASIL, 2015). Sugestões de temas para serem trabalhados com os adolescentes e suas famílias (BRASIL, 2015): � O direito humano à alimentação adequada � A importância de uma alimentação adequada e saudável � A influência da publicidade de alimentos nas escolhas alimentares � Rotulagem nutricional de alimentos industrializados � A influência da mídia acerca dos padrões de beleza � Sustentabilidade � Desperdício e escassez de alimentos � Direito à alimentação e nutrição adequadas e as dificuldades para seu usufruto Comportamento alimentar de adultos e idosos Adultos Nas últimas décadas ocorreram mudanças importantes na configuração familiar no Brasil. As famílias estão reduzindo numericamente. É menor o número de filhos a cada ano que passa, a mulher passou a ter uma posição na renda familiar trabalhando fora de casa, e o cuidado das crianças passou a ser cada vez mais cedo em escolas, muitas vezes em tempo integral. Diante de todas essas mudanças, também houve uma mudança importante no padrão alimentar. Atualmente, a população adulta brasileira apresenta elevadas taxas de obe- sidade, diabetes, cânceres, doenças cardiovasculares e outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), ao mesmo tempo em que as carências nutricionais 129Educação alimentar e nutricional nas diversas fases da vida ainda estão presentes em várias partes do país. Esse cenário expressa o quadro de insegurança alimentar e nutricional existente hoje no Brasil. A alimentação é um fator fortemente associado ao desenvolvimento des- sas doenças. De acordo com a Pesquisa Nacional de Orçamentos Familiares – POF, de 1988 a 2009, a população brasileira adulta mostrou aumento no consumo de calorias de gorduras, principalmente saturadas, e no consumo de alimentos industrializados, com elevado teor de açúcar, gordura e sal, tais como refrigerantes, biscoitos, além do aumento do consumo de refeições fora do domicílio, muitas vezes, pouco saudáveis. A alimentação adequada e saudável é fundamental em qualquer fase da vida. Uma alimentação que compreenda alimentos variados e saudáveis e que esteja de acordo com os hábitos alimentares da região promovendo um estilo de vida saudável e o resgate ou a promoção da culinária regional faz parte da busca pela garantia do direito humano à alimentação adequada e saudável. As temáticas sobre EAN devem ser trabalhadas com os adultos partindo-se das demandas e problemáticas apresentadas pelas famílias e devem propiciar a sociabilização e a conscientização sobre a responsabilidade social sobre os hábitos alimentares locais, procurando contribuir significativamente para melhorar a qualidade de vida de todos os envolvidos. É fundamental estimular e empoderar os indivíduos para atuar com mais autonomia e consciência nas suas escolhas alimentares. Sugestões de temas para serem trabalhados com as famílias (BRASIL, 2015): � Alimentação e cultura alimentar: o respeito e/ou resgate da cultura alimentar regional � Influência da mídia nas práticas alimentares � Rotulagem nutricional de alimentos � Direito humano à alimentação adequada e garantia do alimento à mesa � Higiene e boas práticas de produção de alimentos � Produção de alimentos em hortas domésticas e comunitárias � Meios de produção e o cultivo agroecológico e orgânico � Alimentação saudável como prevenção de doenças crônicas e deficiências nutricionais � Alimentação saudável como responsabilidade de toda a família � Compra, higiene e armazenamento dos alimentos (crus e cozidos) � Educação para o consumo responsável � Direito ao meio ambiente saudável Educação nutricional130 Idosos Consideram-se idosos os indivíduos com 60 anos ou mais. No Brasil e no mundo esse é o segmento da população que mais cresce e, por isso, é neces- sário voltar-se para a atenção à saúde dessa população. O envelhecimento da população causa diversas repercussões, uma vez que a idade é um fator de risco importante para o surgimento de diversas doenças. A nutrição é um elemento importante da saúde da população idosa. Os adultos mais velhos estão mais propensos do que os mais jovens de serem atin- gidos com uma variedade de doenças relacionadas com a idade e deficiências funcionais que possam interferir na manutenção do estado nutricional. Essa população também está em maior risco de deficiências nutricionais induzidas por drogas devido ao elevado número de medicamentos que costumam tomar. Conheça os dez passos para uma alimentação saudável para as pessoas idosas, do Caderno de Atenção Básica n.º 19: Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abcad19.pdf>. Problemas relacionados com digestão, dentição, alteração de apetite ou diminuição do paladar costumam interferir no consumo de alimentos podendo levar à desnutrição e a deficiências nutricionais específicas. Muitas vezes, com a idade também surgem outros problemas que vão além do estado nutricional, como a fragilização de vínculos afetivos e a exclusão social. Com isso, a alimentação adequada e saudável da pessoa idosa deve levar em consideração esses fatores e estar pautada na cultura alimentar e nos hábitos regionais. A responsabilidade pela qualidade da alimentação do idoso recai sobre todos os que estão envolvidos no seu cuidado, como a família, as equipes de saúde e assistência. A nutrição nessa fase da vida deve ser pensada de forma a propiciar uma vida satisfatória e tranquila para um envelhecimento saudável. 131Educação alimentar e nutricional nas diversas fases da vida http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abcad19.pdf A EAN direcionada a esse grupo populacional deve ser guiada pela pro- moção do envelhecimentoativo, saudável e autônomo, na manutenção e rea- bilitação da capacidade funcional da pessoa idosa, promovendo qualidade de vida e uma alimentação adequada e saudável. As atividades sobre EAN podem incentivar a convivência social e a autonomia, a autoconfiança, a busca por atividades prazerosas, bem como incentivar a tomada de decisão e mudança de atitudes, superação e valorização da vida, no fortalecimento dos vínculos familiares e do convívio comunitário e na prevenção ou proteção de situações de risco social. Além disso, as atividades podem desenvolver as potencialida- des e capacidades para novos projetos de vida da pessoa idosa, propiciando vivências que valorizam as experiências e que estimulem e potencializem a condição de escolher e decidir. Sugestão de temas para serem trabalhados com os idosos e suas famílias (BRASIL, 2015): � Opções para transpor dificuldade na alimentação de idosos (dentição, apetite) � Atividades que estimulem a prática de atividade física � Resgate da história alimentar da comunidade � Resgate de pratos típicos da região � Eventos que reconheçam a alimentação adequada e saudável como forma de inclusão social Educação nutricional132 1. Em cada fase da vida, o ser humano tem diferentes necessidades nutricionais e também diferentes fatores que influenciam nas escolhas alimentares. A fase da vida é determinante para a escolha do assunto e da abordagem na Educação Alimentar e Nutricional. Sobre os lactentes e pré-escolares, está correto afirmar que: a) Enquanto estão sendo amamentados ou recebendo fórmula láctea, as crianças ainda não estão formando hábitos alimentares, pois ainda não há contato com o alimento. b) Para os lactentes, não há diferenças entre a oferta do leite materno ou da fórmula láctea do ponto de vista da formação de hábitos alimentares. c) Quanto ao sabor, não há diferença se a criança recebe o leite materno ou a fórmula láctea, visto que a fórmula busca reproduzir fielmente o leite materno, incluindo, entre os quesitos, o sabor. d) As crianças possuem proteção legal quanto às informações veiculadas na mídia, sendo proibidos comerciais de alimentos ultraprocessados de baixo valor nutricional na televisão brasileira. e) As crianças já nascem com predisposição para preferir substâncias doces, sendo essas preferências associadas ao processo evolutivo. 2. A neofobia alimentar está relacionada à introdução da alimentação complementar, sendo definida como a aversão da criança a experimentar novos alimentos e sabores. Muitas estratégias de EAN são utilizadas justamente para driblar esse processo. Assinale a alternativa correta: a) Para enfrentar essa dificuldade, as ações de EAN devem incentivar a introdução de novos alimentos, sendo as crianças encorajadas a descobrir novos sabores, cheiros e texturas que não conheçam. b) Diante da negação de um novo alimento, a melhor estratégia a ser adotada é a substituição deste pelo leite materno ou fórmula láctea. c) O ideal é que o alimento seja apresentado até cinco vezes para a criança. Se em cinco momentos distintos não houver aceitação, significa que a criança não gosta do alimento. d) Em muitos momentos, deve-se forçar a criança a provar o alimento quando ela apresentar resistência. e) Uma forma de motivar e alimentar a criança é deixar a televisão ligada. Assim, a criança se distrai com o desenho animado de sua preferência e come adequadamente. 3. A fase escolar, dos 7 aos 10 anos de idade, é marcada por um crescimento mais lento, porém contínuo, e 133Educação alimentar e nutricional nas diversas fases da vida por um aumento constante do consumo alimentar. Nessa fase: a) A escola ainda não tem um papel de destaque. Isso só ocorrerá quando a criança entrar na adolescência. b) Quanto menor a autonomia da criança, melhor serão suas escolhas alimentares, pois estas ainda dependerão dos responsáveis. c) Quanto maior o tempo em frente à tela, melhor a alimentação, pois a televisão veicula muitas informações importantes e pertinentes sobre alimentação saudável. d) A escola representa um espaço e um tempo privilegiados para promover a saúde, sendo um local para a intervenção no sentido de formação e consolidação de hábitos saudáveis. e) Quando inserida na escola, a EAN deve ser trabalhada pelo professor de biologia, pois somente ele tem conhecimento dessa temática. 4. A adolescência é o período compreendido entre os 10 e os 19 anos de idade, sendo essa fase marcada pela transição entre a infância e a idade adulta. Nesse momento, tendem a ocorrer mudanças no comportamento alimentar. Sobre os jovens, está correto afirmar que: a) Nessa fase, não há um crescimento intenso, sendo este um dos fatores que contribui para o excesso de peso. b) O adolescente, por sua característica de rebeldia, não está sujeito à influência de fatores externos na sua alimentação. c) Nessa fase, a preocupação com o corpo e a estética, a busca de identidade e a negação de padrões infantis de comportamento estão aflorados, levando a mudanças de comportamento que refletem na alimentação. d) Não é um hábito dessa população “beliscar” alimentos, pois, como frequentemente fazem dietas, os jovens costumam realizar seis refeições. e) Não é indicado realizar atividades de EAN para esse público, pois é resistente à mudança e não adere às ações propostas. 5. A população adulta e idosa merece igual atenção para a promoção de hábitos alimentares saudáveis. Destaca-se a crescente prevalência de excesso de peso e de doenças crônicas não transmissíveis (p. ex., diabetes, hipertensão, câncer), que colocam essas populações em risco. Sobre esses ciclos da vida, assinale a alternativa correta: a) Nessa fase, é necessário ignorar a cultura, pois são necessárias medidas que previnam e tratem os agravos nutricionais. b) O profissional de saúde deverá determinar o assunto a ser trabalhado, sem a participação da comunidade na escolha. c) O consumo de alimentos fora do domicílio é um dos fatores que trouxe melhorias para a alimentação das famílias. Educação nutricional134 d) À medida que os anos passam e chega a terceira idade, melhoram os hábitos alimentares, o apetite aumenta, o paladar está mais aguçado e assim há uma melhora na qualidade de vida. e) A EAN direcionada aos idosos deve ser guiada pela promoção do envelhecimento ativo, saudável e autônomo, na manutenção e na reabilitação da capacidade funcional da pessoa idosa, promovendo qualidade de vida e uma alimentação adequada e saudável. 135Educação alimentar e nutricional nas diversas fases da vida BRASIL. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS). Educação alimentar e nutricional: o direito humano à alimentação adequada e o fortalecimento de vínculos familiares nos serviços socioassistenciais. Brasília, DF, [2015]. (Caderno Teórico). Disponível em: <http://www.ideiasnamesa.unb.br/upload/bibliotecaIdei as/04052015130014Cadernos_de_EAN_-_o_DHAA_e_o_fortalecimento_de_vin- culos_familiares_e_comunitarios_-_Caderno_Teorico.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Marco de referên- cia de educação alimentar e nutricional para as políticas públicas. Brasília, DF: MDS, Secretaria Nacional de Segurança Alimentar, 2012. Disponível em: <www.fnde.gov. br/arquivos/category/116-alimentacao-escolar?...marco-de-referencia>. Acesso em: 10 jan. 2017. CONTENTO, I. Nutrition education: linking research, theory, and practice. Second edition. Burlington: Jones & Bartlett Learning, 2011. QUAIOTI, T. C. B.; ALMEIDA, S. de S. Determinantes psicobiológicos do comportamento alimentar: uma ênfase em fatores ambientais que contribuem para a obesidade. Psicologia USP, São Paulo, v. 17, n. 4, p. 193-211, 2006. Disponível em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642006000400011&lng=en&n rm=iso>. Acesso em: 10 jan. 2017.Educação nutricional136 http://www.ideiasnamesa.unb.br/upload/bibliotecaIdei http://scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642006000400011&lng=en&n Leituras recomendadas BRASIL. Ministério da Saúde. Manual operacional para profissionais de saúde e educação: promoção da alimentação saudável nas escolas. Brasília, DF, 2008. (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Disponível em: <http://www.ideiasnamesa.unb.br/upload/bib liotecaIdeias/1392113080manual_operacional_para_profissionais_biblioteca.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Aten- ção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2007. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abcad19.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017. GABRIEL, C. G.; SANTOS, M. V. D.; VASCONCELOS, F. D. A. G. D. Avaliação de um programa para promoção de hábitos alimentares saudáveis em escolares de Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife, v. 8, n. 3, p. 299-308, jul./set. 2008. NOBRE, L. N.; LANOUNIER, J. A.; FRANCESCHINI, S. C. C. Padrão alimentar de pré- -escolares e fatores associados. Jornal de Pediatria, São Paulo, v. 88, n. 2, p. 129-136, 2012. PIMENTA, D. V.; MASSON, D. F.; BUENO, M. B. Análise das propagandas de alimentos veiculadas na televisão durante a programação voltada ao público infantil. Journal of the Health Sciences Institute, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 52-5, 2011. 137Educação alimentar e nutricional nas diversas fases da vida http://www.ideiasnamesa.unb.br/upload/bib http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/abcad19.pdf Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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