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João Vitor Duarte Cirurgia Pediátrica FIMOSE Introdução • A fimose e seu tratamento são assuntos extrema- mente polêmicos, não somente por acometer um órgão genital e envolver aspectos médico-epidemi- ológicos, mas por dizer respeito a assuntos sociais, culturais e religiosos. Embriologia e anatomia • O prepúcio origina-se por volta da 8ª semana de gestação, a partir de um espessamento da epi- derme sobre a glande. • Esse processo se completa até a 16ª semana de ges- tação, e a superfície interna do prepúcio adere à su- perfície da glande. Ao nascimento • Por esse motivo, ao nascimento, praticamente to- dos os meninos têm o prepúcio aderido à glande em toda sua extensão. • Estatística (ao nascimento): o 4% dos meninos conseguem expor a glande; o 20% o fazem ao redor dos 6 meses; o Cerca de 75%, com 1 ano de idade. No decorrer do primeiro ano de vida • Prepúcio vai se descolando da glande gradativa- mente e tornando-se mais elástico, aumentando o diâmetro do orifício prepucial • Isso propicia a exposição da glande quando se pro- voca a retração do prepúcio até a visualização da coroa da glande Conceito de fimose • Enrijecimento na parte distal do prepúcio, que im- pede a sua retração. Prepúcio • Estrutura que, ao nascimento, é quase sempre ade- rente à glande, firme e não retrátil; • Aderência: camada comum de epitélio escamoso entre a glande e a camada interna, mucosa; o Ou seja, não são estruturas desapegadas. A glande e o prepúcio têm uma espécie de cama da única que, aos poucos, vai descamando e soltando, até o ponto de permitir expor a glande. • Descamação se desfaz gradualmente; o Com isso, a fenda prepucial se abre e permite a exposição da glande. • Proteger a glande – protege a glande principal- mente na fase em que a criança apresenta inconti- nência urinária. Ou seja, o prepúcio protege a glande do contato direto com a urina – o que pro- vocaria alterações/infecções. • Até quando o prepúcio permanece? o Varia de caso a caso.... dependendo da criança, até 2, 4, 6, 8 anos... variável. Anatomia do pênis infantil Etiologia • Congênita; o É aquela que decorre do processo fisiológico que não ocorreu de forma adequada (ou seja, o prepúcio não se soltou ao ponto de permitir a exposição total da glande, como era o espe- rado) • Adquirida; o Quando adquire uma condição qualquer que faz a fenda prepucial ficar estreitada. o Geralmente, advém de condições que envol- vem algum tipo de inflamação. o Exemplos de situações que podem levar à fi- mose adquirida: ▪ Dermatite amoniacal – consiste no contato direto com a urina. ▪ “Exercícios” – consiste no hábito de expor a glande desde pequeno para “limpar den- tro”. É muito prejudicial pois, se a princí- pio, a fenda prepucial não se abre espon- taneamente e alguém força a abertura, no mínimo, provoca-se microfissuras que ci- catrizarão com fibroses. Estas fibroses im- pedem a evolução natural da ampliação da fenda prepucial. ▪ Postite – inflamação do prepúcio seja por qualquer motivo pode evoluir para fimose patológica. Fimose fisiológica João Vitor Duarte • A princípio, fimose fisiológica toda criança vai apre- sentar nesse período em que apresenta incontinên- cia urinária. o Obs: existem sim crianças (4%) que já nascem com a exposição da glande e isso também é normal. • O prepúcio, no início, precisa realmente ser mais fe- chado e só depois vai se soltando. Marcos fisiológicos do desenvolvimento do prepúcio: a) Em torno dos 2-3 anos: conseguir visualizar o me- ato uretral. b) Em torno dos 5-6 anos (às vezes 8): conseguir expor completamente a glande. Apenas 1% da população masculina permanece com a fimose fisiológicas após os 18 anos. Diante dessa estatística, supõe-se que “muita coisa er- rada” já foi feita com o prepúcio alheio... cirurgias de- mais? Respeitar a fisiologia é importante. Fimose adquirida • A fimose adquirida geralmente envolve uma fibrose cicatricial na fenda prepucial, que pode ser mais aberrante (como na figura 1) ou mais discreta. • Normalmente, a fimose adquirida vai necessitar de tratamento. Figura 1 - fibrose cicatricial Figura 2 - Duas condições que podem levar à fimose adquirida. A cicatrização dessas duas condições leva à fibrose e podem atrapa- lhar o processo natural de exposição da glande. Condições fisiológicas Figura 3 - Aderências bálano prepuciais fazem parte do processo natural e gradual do prepúcio ir se descolando da glande. Quando as regiões vão se soltando, vai havendo a liberação de pequena quantidade de esmegma. Figura 4 - Antigamente, o excesso de prepúcio era indicação de postectomia. Hoje, sabe-se que, quando o pênis infantil evolui para pênis adulto, o excesso de pele é "equilibrado". O risco aumentado de desenvolver câncer de pênis está relacionado à higiene e não ao fato da quantidade de prepúcio. Se há um prepúcio mais extenso com higiene adequada, não há risco. Retenção de esmegma • A partir do momento que o prepúcio vai se sol- tando, o esmegma vai sendo liberado. • PORÉM, não necessariamente ele se solta comple- tamente... existe uma fase em que esse esmegma está “colado” na glande. • Isso é fisiológico! Não é p/ esfregar para remover. Sai naturalmente. Balonamento prepucial • É quando ocorre uma fenda prepucial estreitada e o pênis por dentro já está solto. • Por isso, quando a criança vai urinar, o pênis fica como um “balão” e o jato urinário é estreitado. • Muitas vezes é indicação de tratamento, mas pode ser parte do processo fisiológico já explicado. Por isso, pode-se apenas acompanhar e reavaliar. João Vitor Duarte Parafimose • É a condição em que houve exposição FORÇADA da glande. Ou seja, qualquer condição em que houve manipulação inadequada do prepúcio. • Com isso, o prepúcio “prende atrás e não consegue voltar para frente”. • Duas situações em que isso acontece: 1) Cuidador que quer lavar muito bem o pênis da criança e acaba forçando; 2) A própria criança perceber que mexer na re- gião é prazeroso e acaba forçando de tanto me- xer. • Tratamento: o Ideal: anestesiar o local e “trazer” o prepúcio para frente (como na figura 3). o Pode usar pomada de corticoide. o Em locais com poucos recursos: Água morna, pois em torno de 3 semanas, apesar do edema importante, costuma regredir espontanea- mente. Figura 5 - Parafimose Fimose: como reconhecer? • Quadro clínico; • Exame físico. Diagnóstico Conduta • Expectar; • Orientar pais sobre evolução natural; • Desmistificar massa- gens e higienização – se o prepúcio está todo fechado ainda, não há necessidade de forçar para abrir e lim- par!!! • Não existe aumento do risco de neoplasia relacio- nado com a presença do prepúcio. Indicações para o tratamento • Não visualização da uretra até 2 / 3 anos de idade; • Não exterioriza a glande até os 6 anos; • Balanopostite de repetição; • Fimose secundária (anel fibroso); • Parafimose; • Indicação religiosa, cultural, experiência dos pais. o Judeus, muçulmanos e certas tribos africanas. Tratamento • Clínico (95% de chance de sucesso) o Betametasona; o Triancinolona; o Betametasona + hialuronidase. Sobre o insucesso do tratamento clínico: quanto mais fibrose existir, menos resultado haverá com o tto clínico c/ corticoide. Quando menos fibrose, mais sucesso. • Cirúrgico o Postectomia clássica; o Postectomia com plastibell. Tratamento clínico Figura 7 - Início / 1 semana de corticoide / 3 semanas de corticoide Tratamento cirúrgico • Indicado quando há falha do tratamento clínico OU quando há fibrose relevante OU indicação religi- osa/cultural. • Anestesia; Figura 8 - A anestesia é geral + bloqueio local. Por isso, deve-se pe- sar as complicações relacionadas à anestesia. Figura 6 - foto de criança emque foi feito "exercício". Isso cicatriza com fibrose! João Vitor Duarte Cirurgia tradicional • Base teórica da postectomia: fazer a ressecção do prepúcio e da sua fenda estreitada de forma que se permita a exposição da glande. • O resultado ideal é que a glande fique totalmente exposta. Cirurgia com Plastibell • É um dispositivo (conhecido como “anelzinho”) em que se abre a fenda prepucial e o coloca além do estreitamento. • Faz-se a amarradura do prepúcio ao nível da sua própria chanfradura dele e resseca o excesso de prepúcio. • Com o tempo, isso acarreta num necrose e conse- quente expulsão do dispositivo plástico (anel). Pós-operatório • O pós-operatório das duas técnicas envolve muita hiperemia, edema, dor. Dói muito. • Não se usa ATB. Anti-inflamatório também não, pois prolonga o processo de resolução pós-opera- tório. Figura 9 - O que se observa é fibrina e não pus. Figura 10 – Resultado (Plastibell à esquerda; tradicional à direita) Complicações da Cirurgia • Infecção 4 a 6%; • Estenose de meato uretral (neonatal) – principal- mente quando se liga o frênulo bálano prepucial na técnica cirúrgica. • Recidiva da fimose; • Fístula uretro-cutânea; • Sangramento 4 a 6%; • Lesão da glande. Retenção do Plastibell • Complicação não grave. Basta apenas sedar a cri- ança e cortar o anel. Pré e pós-operatório Figura 11 - A glande fica completamente exposta.
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