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Vitória S. Fraulob T4C SBC HÉRNIAS DA PAREDE ABDOMINAL HÉRNIA: protusão anormal de um órgão ou tecido por um defeito em suas paredes circundantes. - Tipos de hérnias da parede abdominal: • Hérnia inguinal (direta e indireta); • Hérnia femoral; • Hérnia umbilical; • Hérnia incisional; EPIDEMIOLOGIA: Os mais acometidos com hérnias são os homens, cerca de 25 vezes mais do que a população do sexo feminino. FATORES DE RISCO: Os principais fatores de risco associadas às hérnias inguino-femorais são: • Histórico familiar; • Sexo masculino; • Idade (≥70 anos); • Tabagismo; • Doenças colagenosas; • Aumento da pressão abdominal*; Obs: aumento da pressão abdominal pode ser causado por: ✓ DPOC; ✓ Ascite; ✓ Hiperplasia prostática benigna; - Uma consideração importante é acerca da obesidade, que não entra como fator de risco, na verdade é um fator protetor. Sendo associado com um espessamento da pele e do tecido subcutâneo, o que pode exercer uma proteção ao abaulamento das estruturas abdominais. - Quanto as hérnias incisionais → há necessidade de um procedimento cirúrgico prévio e outros fatores de risco podem estar presentes, como: • Fatores cirúrgicos (infecção da ferida operatória, hematoma e outros); • Desnutrição; • Uso de corticoides; • Uso de radiação local; • Obesidade; REVISANTO A ANATOMIA: A cavidade abdominal é um compartimento que trabalha com uma pressão positiva, cerca de 5 – 8mmHg. - Contém diversas estruturas e limitações: • SUPERIORMENTE → Limitada pelo diafragma; • INFERIORMENTE → Diafragma pélvico; • POSTERIORMENTE → Vertebras lombares; • ANTERIORMENTE → Músculos da parede abdominal; - Objetivo → estudo é a estrutura anterior dessa cavidade, ou seja, a parede abdominal. Parede abdominal: constituídas por algumas camadas, são elas: • Pele; • Tela subcutânea; • Músculos: - Obliquo externo; - Obliquo interno; - Transverso do abdome; • Fáscia transversalis; • Gordura pré-peritoneal; • Peritônio; Vitória S. Fraulob T4C SBC Canal inguinal: ducto que parte de lateral para medial, de dentro para fora, obliquamente. - É uma comunicação entre a cavidade abdominal e o testículo/bolsa escrotal. RELEMBRANDO ALGUNS ASPECTOS EMBIOLÓGICOS: FORMAÇÃO TESTICULAR - Ocorre dentro da cavidade abdominal e desce através do conduto peritônio-vaginal a partir da 28º semana de gestação, até se alocar e determinar sua descida dentro da bolsa escrotal. - Após isso, esse conduto se oblitera e encerra. - Em um individuo saudável, a comunicação entre a cavidade abdominal e a bolsa escrotal, restando apenas estruturas que comunicam os testículos com essa cavidade, passando através do canal inguinal, sendo que essas estruturas são: • Funículo espermático; • Nervos; • Músculo cremaster; • Outras estruturas importantes; - O fato de os homens possuírem esse – o canal inguinal – por onde ocorreu a descida testicular, provoca aumento do risco. - Já mulheres, no sítio do canal inguinal está o ligamento redondo do útero e não ocorre passagem de nenhuma estrutura por essa região. Por isso mulheres não são fatores de risco. - Funículo espermático → continuação da parede abdominal, havendo correlações anatômicas entre essas estruturas, como a túnica vaginalis (membrana que recobre o testículo) – muito semelhante ao peritônio. - Esse funículo está dentro do canal inguinal e possui como limites: • Aponeurose do obliquo externo; • Tendão conjunto; • Ligamento inguinal; • Fáscia transversalis; - Abaixo do ligamento inguinal, existe um outro sítio comum de hérnias, o canal femoral. - O que cobre posteriormente o canal inguinal é uma camada fina da fáscia transversalis, que é um importante local de fragilidade – surgimento de hérnias. As hérnias inguinais surgem acima do ligamento inguinal e as hérnias femorais surgem abaixo desse ligamento. Vitória S. Fraulob T4C SBC ÓSTIO MIOPECTÍNEO DE FRUCHAUD: outra estrutura anatômica importante. - Região inguino-femoral. - Local propenso ao surgimento de hérnias. - Limites: • MEDIAL → M. reto abdominal; • INFERIORMENTE → Ligamento pectíneo ou de Cooper; • LATERALMENTE → M. psoas; • SUPERIORMENTE → Tendão conjunto (obliquo interno com o transverso do abdome); - Essa região pode ser dividida, pois há 3 tipos de hérnias que podem surgir nessa região: • Inguinal indireta; • Inguinal direta; • Inguinal femoral; Direta → surge no famoso trígono de Hesselbach. Limitado por: • M. reto abdominal; • Ligamento inguinal; • Vasos epigástricos inferiores; - Essa é a região de fraqueza na parede abdominal. Indireta → surge no canal inguinal. Femoral → surge no canal femoral. - Hérnias que surgem medialmente aos vasos epigástricos = hérnias diretas. - Hérnias que surgem lateralmente aos vasos epigástricos = hérnias indiretas; CLASSIFICAÇÃO DAS HÉRNIAS: Classificação de Nyhus: I. Indireta, anel inguinal interno de tamanho e estruturas normais; II. Indireta, anel inguinal interno alargado; III. Fraqueza da parede posterior A) direta apenas; B) Indireta – anel inguinal interno alargado e distorcido; C) Crural (femoral); IV. Recorrentes A) Direta; B) Indireta; Vitória S. Fraulob T4C SBC C) Crural (femoral); D) Qualquer combinação dos três; HÉRNIA UMBILICAL: Abaulamento de estruturas abdominais devido uma fraqueza na parede, só que ao nível da cicatriz umbilical. - Formação de uma “estrutura” que recebe o nome do saco herniário, o abaulamento da camada peritoneal junto com a víscera abdominal. HÉRNIAS ESPECIAIS: Hérnias de estruturas e em sítios menos comuns, exemplo: • Hérnia por deslizamento; • Hérnia de Amyand; • Hérnia de Garengeot; • Hérnia de Littré; • Hérnia de Richter; • Hérnia de Spiegel; • Hérnia obturadora; • Hérnia lombares; QUADRO CLÍNICO: - Principal queixa → abaulamento na região da hérnia, surgindo geralmente nos momentos de maior pressão abdominal, como na hora da evacuação e ao portar algo pesado. - Quadro normalmente é oligossintomático. - Não é marcado por pacientes com queixas de dores intensas. - Paciente queixa de uma dor moderada e sensação de peso no local. - Se o paciente chegar se queixando de dor intensa, pense nas possíveis complicações como: encarceramento ou estrangulamento. DIAGNÓSTICO: Baseado em uma boa anamnese associado com exame físico. - Perguntar ao paciente sobre situações de complicações prévias, caracterizar muito bem os sintomas e realizar o exame físico adequado. - Realizar exame físico com o paciente em posição supina e em ortostase. - Realizar palpação do anel inguinal e do anel herniário. HÉRNIAS INGUINAIS: - Manobra de Landivar → consiste em obstruir o anel interno por cima da pele e solicitar para que o paciente realize a manobra de Valsalva. - É utilizada com o intuito de auxiliar a avaliação da hérnia, gerando aumento da pressão intra- abdominal. - Se houver abaulamento trata-se de hérnia direita, pois o orifício de saída do saco herniário indireto está obstruído. - Diagnostico é clinico, sendo INDISPENSÁVEL o uso da ultrassonografia. - Existem vários diagnósticos para as hérnias inguinais, são eles: • Linfedema; • Neoplasia testicular; • Hidrocele de testículo; • Varicocele; • Testículo ectópico; • Adenomegalia inguinal; Vitória S. Fraulob T4C SBC - Alguns diagnósticos diferenciais para as hérnias umbilicais, são eles: • Diástase de reto abdominal (dilatação/afastamento da linha alba); - Não há rupturas. - Mais comum em mulheres: • Após gravidez; • Obesidade; • Idosas; HÉRNIA REDUTÍVEL: Quando o conteúdo herniado pode exteriorizar-se retornandoao compartimento abdominal pelo anel herniário. Ou seja, retornando o conteúdo herniado para o seu lugar de origem. HÉRNIA ENCARCERADA: Quando o conteúdo herniário está preso ao anel herniário, impossibilitando o retorno. - Existe risco do conteúdo herniário ficar preso (encarcerado) no saco herniário e sujeito a sofrer estrangulamento, comprometendo a circulação sanguínea no local levando a necrose do órgão herniado. - Pode se cronificar passando a ser chamada de hérnia cronicamente habitada. TRATAMENTO: De acordo com o tipo de hérnia. HÉRNIA REDUTÍVEL = pode ser operada de forma eletiva ou pode ser acompanhada, analisando como ela irá evoluir → Watchful Waiting. HÉRNIA ENCARCERADA = nos casos não complicados, é possível o manejo clínico, tentando reduzir a hérnia. Associado com analgésico e relaxante muscular, afim de intervir de forma eletiva, mas nos casos em que não é possível reduzi-la, está indicada a cirurgia. HÉRNIA ESTRANGULADA: não tente reduzir, esse paciente merece cirurgia de urgência. TÉCNICAS CIRURGICAS: de acordo com a linha do tempo: • Técnica de Bassini: primeira técnica utilizada (1884) → início da era moderna. - Baseada em suturar o tendão conjunto no ligamento inguinal, com muita tensão. - Método com altíssima taxa recidiva. - Não era útil para hérnias femorais. • Técnica de Mc Vay: nova técnica capaz de solucionar as hérnias femorais. - Baseado em suturar o tendão conjunto com o ligamento pectíneo. - Método marcado por altas taxas de recidiva. • Técnica de Shouldice: caracterizada por uma menor taxa de recidivas. - Baseada em suturar as camadas uma sobre a outra. • Técnica de Lichtenstein: técnica inovadora (criada em 1986) - Baseada na utilização de telas. - Utilizada até os dias atuais. - Sem tensão e com baixa taxa de recivida. - Essa técnica é específica para as hérnia inguino-femoral. - Mas esse método revolucionou os tratamentos das hérnias. Vitória S. Fraulob T4C SBC RESUMINDO: - A técnica de Lichtenstein → muito eficaz para hérnias inguinais, mas não é útil nos casos de hérnias femorais. - Logo, o tratamento para hérnias femorais consiste na técnica de Mc Vay ou Plug femoral, ou laparoscopia. - Plug femoral → colocação no canal femoral uma estrutura que preencha esse canal. - Para hérnias umbilicais → tratamento é semelhante, utiliza-se tela sem tensão. Após o ressecamento do saco herniário, realiza-se o fechamento com a tela, sendo a mesma técnica utilizada para hérnias epigástrica e incisionais. HÉRNIAS EM CRIANÇAS: merece destaque a hérnia inguinal classificada em Nyhus I (hérnia inguinal indireta). - Hérnia inguinal indireta → caracterizada por ser um defeito congênito do não fechamento do conduto peritônio-vaginal. - 95% das crianças são inguinais indiretas. - No tratamento → não há necessidade de colocação de tela. É realizado um ressecamento do saco herniário e obliterando o conduto peritônio-vaginal. - Hérnias umbilicais → o risco de complicação é muito pequeno, no geral, até os 6 anos de idade, momento em que a maioria dos pacientes terão o fechamento espontâneo, caso não haja esse fechamento, cirurgia com colocação de tela. - A tela pode ser colocada em quatro locais distintos: Técnica de Stoppa: Técnica de coloração da tela no sítio pré-peritoneal. - Grande tela que cobre toda a cavidade abdominal, indo de um músculo psoas de um lado até o outro lado e inferiormente até o ligamento pectíneo. - Associada com algumas complicações: • Dor; • Fibrose; • Índice muito maior de feridas operatórias; - Reservada para os casos mais complexos. Vitória S. Fraulob T4C SBC TÉCNICAS VIDEOLAPAROSCÓPICAS: Há duas formas de operar as hérnias através da videolaparoscopia: • TEP (totalmente extra peritoneal); • TAPP (trans abdominal pré-peritoneal); - TEP → caracterizada por colocação de tela pré- peritoneal, sem que haja entrada na cavidade abdominal. - TAPP → há entrada na cavidade abdominal, faz-se uma secção no peritônio, colocar a tela e fechar peritônio. COMPLICAÇÕES CIRURGICAS: - Torno de 10%, sendo muitas transitórias. - Possíveis complicações: • Dor crônica; • Infecção da ferida operatória; • Sangramento; • Lesão de nervos; • Orquite isquêmica; - Infecções de locais com a tela, por ser um material estranho no organismo, dificulta o tratamento posterior, sendo necessário, em muitos casos, retirar a tela. - Antibioticoterapia não alcança o local onde a tela está, sendo ineficaz. - Infecções do sítio cirúrgico = média 1 – 2% após reparo da hérnia inguinal, sendo menor quando o reparo é laparoscópico. Lesões nervosas → são infrequentes, mas podem acontecer por conta da tração, eletrocauterização, transecção ou por aprisionamento. - Nervos mais atingidos: • Ilioinguinal; • Ramo genital do genitofemoral; • Ílio-hipogástrico; - Durante reparo laparoscópico, os nervos mais acometidos são: • Nervo cutâneo femoral lateral; • Genitofemoral; Neuralgias transitórias → podem ocorrer e geralmente são autolimitadas. - Dura poucas semanas após operação. Orquite isquêmica → decorrente de trombose das pequenas veias do complexo pampiniforme dentro do cordão espermático. - Resultado da congestão venosa dos testículos, que se tornam entumecidos e sensíveis 2 a 5 dias após a operação. - O processo pode continuar por 6 a 12 semanas adicionais resultando em atrofia testicular.