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DOENÇAS INFLAMATÓRIAS INTESTINAIS – DII As DII compreendem 03 patologias: 1. Retocolite ulcerativa - RCU 2. Doença de Crohn - DC 3. Colite indeterminada quando não se consegue determinar nenhum dos dois tipos acima, 15% dos casos FISIOPATOLOGIA Predisposição genetica -> resposta imune desregulada -> inflamação exacerbada provavelmente direcionado contra os germes da microbiota fisiológica. Também pode haver influencia ambiental (teoria da higiene, papel da dieta e tabagismo, alteração da microbiota intestinal). FATORES DE RISCO Historia familiar positiva Pode acometer todas as idades, no entanto, possui 02 picos: 15-40 anos (mais comum) e 50-80 anos. AINEs – inibidores seletivos da COX-2 e AAS parecem não ter relação. Obesidade – aumenta risco de complicações Apendicectomia – parece proteger contra RCU e aumentar o risco para DC (pois, um diagnostico errado de apendicectomia, que seria DC, atrasa ainda mais o diagnostico e tratamento). Presença de gene NOD2/CARD15 Cigarro – é um fator de risco para DC. Enquanto para RCU não apresenta-se como fator de risco. Doença do Cigarro – Doença de Crohn. MANIFESTAÇÕES CLINICAS GASTROINTESTINAIS · Diarreia crônica · Diarreia invasica · Tenesmo · Urgeincontinencia · Dor abdominal · Náuseas · Vomito EXTRA INTESTINAIS · Colangite esclerosante primária – mais frequente em RCU. · Osteoarticulares artralgia, artrite periférica, espondilite. Osteoporose (decorrente da corticoterapia prolongada e redução da absorção intestinal de vitamina D e cálcio), osteomalácia. · Dermatológicas eritema nodoso (paniculite, apresenta correlação com a intensidade da doença intestinal e é mais comum em mulheres), pioderma gangrenoso (lesão ulcerativa relativamente indolor, que geralmente cura com cicatrização. É mais comum na RCU e não apresenta correlação com a atividade da doença intestinal). Lesões labiais e ulceras aftosas orais (estomatites). · Oculares uveite, episclerite e conjuntivite · Renais litíase · Hematológicas hipercoagulabilidade (lembrar de profilaxia p/ TVP). · Distúrbios nutricionais e metabólicos perda de peso, retardo do crescimento, desnutrição. SUSPEITA DE DII – COMO INVESTIGAR? Pedir exames laboratoriais: · Hemograma · Albumina serica · Perfil de ferro, ácido folico e vit B12 · PCR e VHS · ASCA, p-ANCA, anti-OmpC IgA, anti-GP2 IgA (esses marcadores sorológicos não são muito utilizados na pratica). Biomarcadores: · Calprotectina fecal mais acessível, alto valor preditivo negativo (ajuda a afastar a doença), auxilia na conduta mas não é definidor. · Lactoferrina fecal Exames endoscópicos: · Colonoscopia · Endoscopia se houver sintomas de TGI alto · Enteroscopia · Capsula endoscópica Exames radiológicos · Transito intestinal não é muito utilizado · Enterografia – TC ou RM · Ultrassom DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS Tuberculose Pode fornecer achados colonoscopicos semelhantes à DC. Além de haver formação de granulomas caseosos (na DC há formação de granulomas caseosos). Fazer PPD e avaliar epidemiologia do paciente. Colite pseudomembranosa Principalmente em pacientes que fizeram uso recente de antibióticos. CM/Herpes/Oportunistas Principalmente em pacientes imunossuprimidos Colite isquêmica Atenção a pacientes mais velhos e com alto fator de risco para aterosclerose ou aterosclerose estabelecida. Aines O uso abusivo de AINEs pode causar enterite, colite, ulceras.... avaliar historia clinica do paciente. RETOCOLITE ULCERATIVA · RCU é uma doença EXCLUSIVA do cólon e reto · RCU é uma doença EXCLUSIVA da mucosa · RCU é tipicamente ASCENDENTE e uniforme (continua) Definição RCU é uma doença intestinal caracterizada pelo surgimento inexplicado/ idiopático de lesões inflamatórias que ascendem de maneira uniforme/ homogênea pela mucosa do cólon. Anatomia intestinal Classificação Clínica Formas de lesões na RCU – Classificação de Montreal Ileíte de refluxo o intestino delgado acaba sendo acometido por uma inflamação superficial. A RCU não lesa o íleo, sendo essa ileíte uma complicação de uma colite grave (passa material tóxico do cólon íleo distal). Aspecto macroscópico da mucosa colônica · Desaparecimento do padrão vascular típico do cólon (precoce) · Hiperemia, edema, mucosa friável, erosões, ulcerações e exsudação de muco, pus ou sangue · Formação de pseudopólipos: 15-30% dos casos · Mucosa pálida, atrófica, com aspecto tubular (cronicidade) · Linha de demarcação entre mucosa acometida e mucosa normal · Alterações uniformes e continuas, sem áreas de mucosa normal entremeadas Na RCU de longa evolução são comuns alterações da musculatura colônica, que ao exame radiológico apresenta: · Perda das haustrações · Espessamento da musculatura lisa com aspecto de “cano de chumbo” haustrações normais. Perda das hastrauções. Aspecto cano de chumbo. !!! RCU de longa duração pode haver displasia epitelial, o que possui forte associação com desenvolvimento de neoplasia maligna do cólon (complicação tardia). Manifestações clinicas Diarreia invasiva sangue, muco e pus. Variam de intensidade, duração, intercaladas com períodos assintomáticos. Diarreia sanguinolenta e dor abdominal. Febre pode estar presente ou não. Urgência para defecar Alterações laboratoriais · Anemia ferropriva · Pode haver leucocitose · Hipoalbuninemia em colites extensas Diagnóstico Exame de escolha: retossigmoidoscopia com biopsia. Achados do exame: Comprimento uniforme e contínuo , manifestado por perda do padrão vascular da mucosa, exsudatos, friabilidade, ulcerações, granulosidade e, nos casos de doenças de longa data, os pseudopólipos. Colonoscopia com biopsia: indicada na suspeita de doença grave. A realização da colonoscopia é contra-indicada quando houver um quadro de megacólon tóxico. Achados histopatológicos da colonoscopia: Distorção das criptas, infiltrado inflamatório mononuclear (linfoplasmocitário) na lâmina própria, e abscesso das criptas com acúmulo de neutrófilos no epitélio. Métodos mais acurados com Êntero-TC ou êntero-RM são preferíveis. Identificam áreas de parede intestinal “doente” e de forma mais rápida, visualizando todo o tubo digestivo. Marcadores sorológicos: p-ANCA (anticorpo anticitoplasma de neutrófilo, padrão perinuclear de imunoflorescência): presente em 60 a 70% dos pacientes com RCU (e 5-10% em pacientes com DC). ASCA (anti-Saccharomysces cerevisiae): presente em 10-15 % RCU (60-70% DC). ASCA (-)/ p-ANCA (+): 97 % de especificidade e 57 % de sensibilidade para o diagnóstico de RCU. DOENÇA DE CROHN Pode acometer qualquer parte do tubo digestivo, desde a boca até o ânus. Acomete o TGI de forma heterogênea: alterações microscópicas frequentemente são encontradas á distância dos locais onde estão as alterações macroscópicas. Doença transmural espessamento da parede parede intestinal estreitamento do lúmen (estenose) e potencialidade para formação de fístulas para o mesentério e órgãos contíguos. Presença de granulomas não caseosos. Importância do diagnóstico precoce: Cada surto gera uma sequela, por isso é tao importante o diagnostico precoce. Evolução da doença: A DC se inicia com formação de úlceras aftoides que podem evoluir de duas maneiras: Extensão lateral de forma linear, retilínea (quando várias úlceras progredindo retilineamente se encontram, geralmente passam a separar áreas de mucosa normal, num aspecto de “pedra de calçamento”). Aprofundamento através das camadas da parede intestinal, resultando em fístulas para o mesentério e órgãos vizinhos. Classificação Clinica - Doença de Chron: Padrão de lesões: Porção distal do íleo e cólon ascendente estruturas mais comprometidas O reto está preservado em até 50% dos pacientes Comprometimento de cavidade oral e mucosa gastrointestinal é menos frequente (5%). Pode ser visto uma invasão da serosa por tecido adiposo ( fat wrapping): olhando a superfície externa de uma alça intestinal, é possível notar pequenos nódulos esbranquiçados (“semente de milho”) que indicam a presença de granulomas na serosa achado específico da DC. 1/3 dos pacientescom DC possuem doenças perianais ( fístulas, fissuras, abscessos). Diagnóstico Exame de escolha: ileocolonoscopia com biópsia É encontrado um comprometimento salteado (áreas doentes alternadas com áreas sãs), manifesto por úlceras aftosas que , quando coalescentes, dão o aspecto de “pedra de calçamento- paralelepípedo”. Histopatológico: semelhante a RCU, porém podem ser encontrados granulomas não caseosos que no contexto apropriado são patognomônicos de Crohn. ASCA (+)/ p-ANCA (-): 97 % de especificidade e 49 % de sensibilidade para o diagnóstico de DC.DICA: QUEM TEM ASCA SE LASCA! QUEM MAIS SE LASCA? · DC: BOCA AO ÂNUS · RCU: RETO E COLO QUEM MAIS SE LASCA É DC. COMPLICAÇÕES DII Sangramentos: PSOF + mais prevalente na DC Sangramento macroscópico (hematoquezia) mais prevalente em RCU. Megacólon Tóxico: Ocorre quando a inflamação compromete a camada muscular leva a perda do tônus intrínseco + adelgaçamento da parede intestinal Ocorre principalmente no transverso e no cólon direito. Está presente em pacientes com DC e RCU. Estenoses: As estenoses costumam resultar do comprometimento repetitivo e grave dos planos profundos da parede intestinal, e por isso são comuns na DC. Os sintomas de estenose são os mesmo de uma obstrução parcial, como cólicas e distensão abdominal pós-prandial, constipação/ diarreia paradoxal e massa palpável. Fístulas: As fístulas transmurais são típicas da DC e podem resultar em massas inflamatórias e abscessos, quando se estendem para as estruturas adjacentes. As fístulas mais comumente encontradas na DC são: · Enteroentéricas · Enterovesicais · Enteromesentéricas · EnterocutÂneas · Retovaginais · Fístulas e abcessos perianais Câncer Não raramente o câncer colorretal complica uma RCU, na dependência de dois fatores: 1. Extensão do acometimento da mucosa 2. Duração da doença A DC pode aumentar a incidência de adenocarcinoma intestinal, e os mesmo fatores de risco estão envolvidos, embora esta relação não seja tão evidente como ocorre com a RCU. Na RCU o câncer é mais prevalente em pacientes com a doença por mais de 8 anos. O risco pode ser, ainda maior quando existir colangite esclerosante associado. Após 8 anos de RCU iniciar colonoscopias e biópsia , repetidas a casa 1-2 anos TRATAMENTO DII Objetivos do tratamento: · Remissão clinica · Remissão endoscópica · Remissão histológica bônus. Estratégias medicamentosas: Tratamento global: · Suporte nutricional e psicológico · Vacinações · Cuidados pré-biologicos · Evitar uso de AINEs · Tabagismo · Rastreio de neoplasias Principais drogas utilizadas: Derivados do ácido – 5 – aminossalicílico (5-ASA): sulfassalazina e mesalazina. São anti-inflamatórios de ação tópica na mucosa intestina. Utilizado tanto na indução da remissão quanto na manutenção da remissão. Glicocorticoides – utilizados apenas nas exacerbações, não sendo utilizado como terapia de manutenção. Hidrocortisona ou metilprednisolona EV 6/6h ou infusão continua. Prednisona ou budesonida (preferencial) VO. Há também a opção de usar drogas Via Retal – supositórios, espumas ou enemas de hidrocortisona. Imunossupressores/Imunomoduladores – aziatioprina, e mercaptopurina (tiopurinas - usadas em combinações com os biológicos ou em pacientes que não conseguem fazer o desmame de glicocorticoides sem exacerbação), metrotexate (segunda linha, reservado aos pacientes que não toleram as tiopurinas). Agentes biológicos – utilizados em pacientes mais graves ou com prognostico ruim (presença de doença perianal por exemplo) – infliximabe, adalimumabe, certolizumabe, vedolizumabe. TRATAMENTO ESPECIFICO – RCU Existe possibilidade de cura proctocolectomia total (em doenças restritas ao colon) avaliar prós e contras. TRATAMENTO ESPECÍFICO – DC DOENÇA LEVE/ MODERADA: estratégia “step-up” (drogas menos potentes drogas mais potentes) Tratamento inicial (1 ª LINHA ) com 5-ASA. 2ª LINHA: Uso de ATB (metronidazol, ciprofloxacino ou rifamixina)para os casos leves/ moderados que não toleram ou não respondem aos derivados do 5-ASA. 3ª LINHA: uso de glicocorticoides (na intolerância ou ausência de resposta ao 5-ASA e/ou ATB): budesonida ou prednisona. REMISSÃO: 5-ASA DOENÇA MODERADA/GRAVE: 1ª ESCOLHA: agentes anti-TNF, e sempre que possível associar um imunomodulador. Mais de 2/3 dos pacientes respondem de forma satisfatória á indução da remissão com a terapia dupla, devendo continuar as mesmas no tratamento de manutenção (por no mínimo 1 ano).
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