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Princípios básicos da Oncologia

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Princípios básicos da Oncologia 
Definição: especialidade médica que procura tratar os pacientes com câncer, assim 
como busca entender a sua fisiopatologia e os reflexos clínicos desse quadro na 
população buscando desenvolver métodos terapêuticos convenientes para o seu 
tratamento. Atualmente, o câncer é um dos problemas de saúde pública mais 
complexo que o sistema de saúde brasileiro enfrenta, dada sua magnitude 
epidemiológica, social e econômica. Ressalta-se que pelo menos um terço dos casos 
novos de câncer que ocorre anualmente no mundo poderia ser prevenido. 
 
Diferença entre a célula normal e a célula cancerosa: o crescimento das células 
cancerosas é diferente do crescimento das células normais. As células cancerosas, em 
vez de morrerem, continuam crescendo incontrolavelmente formando outras novas 
células anormais. Quando as células extraídas de tumores são colocadas em meio de 
cultura, apresentam um padrão de crescimento distinto das demais células extraídas 
de tecidos normais. Isso lhes confere características de células transformadas, ou seja, 
ficam independentes de mecanismos de ancoragem, fatores de crescimento e inibição 
por contato. Por isso, quando se proliferam mudam sua forma e se reúnem em blocos 
crescendo de maneira irrestrita com o mínimo possível de nutrição. 
 
Figura 1- tipo de crescimento celular 
 
 
Figura 2- hiperplasia nodular da próstata 
 
O crescimento das células neoplásicas é muito singular frente às células normais. Pois em vez 
de morrerem, continuam crescendo incontrolavelmente, formando outras novas células 
anormais. Ele é caracterizado pela perda do controle de proliferação celular possuindo a 
capacidade de invadir tecidos adjacentes (metástase). 
Principais diferenças entre células normais e neoplásicas: 
 Perda de controle do ciclo celular; 
 Alterações na membrana plasmática: composição das proteínas da superfície 
celular; 
 Alterações nos receptores de membrana para agentes que regulam e induzem 
a diferenciação celular, ocorrendo aumento na habilidade em induzir e 
sustentar a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos); 
 Perda da inibição por contato: os aglomerados celulares formados por 
empilhamento não sofrem a inibição por contato com as demais células; 
 Resistência à apoptose: diferente das células normais que possuem a 
capacidade de autodestruição programada quando seus mecanismos 
intrínsecos reconhecem algum erro, as neoplásicas são desinibidas por tais 
processos; 
 Habilidade de escape das respostas imunes antitumorais; 
 Mudanças citológicas: há mudança no número e tamanho do núcleo; 
 Mudanças na proliferação: sofrem o processo de imortalização (crescem 
indefinidamente), pois ocorre aumento de expressão de proteínas oncogênicas 
e perda da expressão de genes supressores de tumor. 
Oncogênese (tumorigênese ou carcinogênese): os genes são arquivos que guardam e 
fornecem instruções para a organização das estruturas, formas e atividades celulares. 
Toda a informação genética encontra-se inscrita nos genes, numa "memória química" - 
o ácido desoxirribonucleico (DNA). A carcinogênese consiste no processo multifatorial 
progressivo responsável pelo desenvolvimento de uma neoplasia maligna, surgindo a 
partir de uma mutação genética que passa a receber instruções erradas para as suas 
atividades. As alterações podem ocorrer em genes especiais, denominados 
protooncogenes, que a princípio são inativos em células normais. Quando ativados, os 
protooncogenes tornam-se oncogenes, responsáveis por transformar as células 
normais em células cancerosas. As alterações essenciais que levam à oncogênese são a 
autossuficiência nos sinais de crescimento, a insensibilidade aos sinais inibidores de 
crescimento, a evasão da apoptose, defeitos no reparo do DNA, o potencial infinito de 
replicação, a angiogênese mantida, a capacidade de invadir e metastatizar. Tais 
distúrbios genéticos podem ser herdados geneticamente ou adquiridos do meio 
ambiente, sendo os fatores que promovem a iniciação da carcinogênese chamados 
carcinógenos. 
Dentre os genes que podem sofrer mutação, destacam-se: 
# Oncogenes (genes promotores de crescimento ou protoocogenes): genes que 
ajudam às células a crescer, pois codificam seus próprios fatores de crescimento 
permitindo seu desenvolvimento ou de células adjacentes. Quando sofre mutações ou 
existem muitas cópias do mesmo, torna-se um gene "ruim", que pode ficar 
permanentemente ligado ou ativado quando não deveria ser assim. Quando isso 
acontece, a célula cresce fora de controle, o que pode levar ao câncer. Este gene 
modificado é chamado de oncogene. Algumas síndromes cancerígenas são causadas 
por mutações herdadas dos proto-oncogenes que fazem com que ativam os 
oncogenes. Entretanto, a maioria das mutações que causam câncer envolvendo esses 
genes é adquirida, não herdada. 
Geralmente ativam os oncogenes: rearranjos cromossômicos (alterações nos 
cromossomos que colocam um gene ao lado de outro, o que permite que um ative o 
outro) ou duplicação (ter cópias extras de um gene, pode fazer com se produza maior 
quantidade de determinada proteína. Quando alterado, o oncogene promove maior 
produção de fatores de crescimento ou aumento da expressão de receptores destes 
fatores, acelerando o crescimento celular desordenado. Tal crescimento predispõe 
alteração de outros genes celulares que podem inibir a apoptose. 
# Genes supressores de tumor: genes normais que retardam a divisão celular, 
reparando erros do DNA ou indicando quando as células devem sofrer apoptose. 
Quando os genes supressores do tumor não funcionam corretamente, as células 
podem se desenvolver fora de controle, o que pode levar ao câncer. Quando alterado, 
a divisão celular pode sair de controle. Uma diferença importante entre oncogenes e 
genes supressores do tumor é que os oncogenes resultam da ativação de 
protooncogenes, enquanto que os genes supressores do tumor provocam câncer 
quando são inativados. 
A maioria das mutações de genes supressores do tumor é adquirida, não herdada. Por 
exemplo, anormalidades do gene TP53 (que codifica a proteína p53) foram 
encontradas em mais de metade dos cânceres humanos. O processo de formação do 
câncer, em geral, acontece lentamente, podendo levar vários anos para que uma 
célula cancerosa prolifere-se e dê origem a um tumor visível. Os efeitos cumulativos de 
diferentes agentes cancerígenos ou carcinógenos são os responsáveis pelo início, 
promoção, progressão e inibição do tumor. 
# Genes de reparação: genes que sintetizam proteínas que atuam reparando os 
inúmeros erros metabólicos durante o processo de replicação celular, como os genes 
reguladores da apoptose e os envolvidos na reparação do DNA. 
A oncogênese é dividida em quatro estágios, os quais impactam as células 
comprometendo-as e gerando linhagens malignas: 
 Estágio de iniciação: é o primeiro estágio da carcinogênese e é caracterizado 
pela ação dos agentes cancerígenos (oncoiniciadores) sobre os genes. Foi 
observado que a alteração epigenética é um dos acontecimentos iniciais da 
carcinogênese. Para que o processo de incrementarão de mutações que gera 
as células tumorais ocorra é necessário que essas alterações sejam 
desencadeadas em células que se proliferam e sobrevivem tanto quanto o 
organismo. Nessa fase, as células se encontram geneticamente alteradas, 
porém ainda não é possível se detectar um tumor clinicamente. 
Exemplos de substâncias químicas carcinógenas: sulfato de dimetila, 
metilnitrossureia, cloreto de vinila, aflotoxinas, dimetilnitrosoamina e 
benzopireno. 
 
 
Figura 3- estágio de iniciação 
 
 Estágio de promoção: as células geneticamente alteradas sofrem o efeito dos 
agentes cancerígenos classificados como oncopromotores. A célula iniciada é 
transformada em célula maligna, de forma lenta e gradual. Para que ocorra 
essa transformação, é necessário um longo e continuado contato com o 
agente cancerígeno promotor. A suspensão do contato com agentes 
promotoresmuitas vezes interrompe o processo nesse estágio. Alguns 
componentes da alimentação e a exposição excessiva e prolongada a 
hormônios são exemplos de fatores que promovem a transformação de células 
iniciadas em malignas. Compromete células iniciadas a uma expansão clonal 
seletiva, de forma que a velocidade de acúmulo de mutações é proporcional à 
velocidade das mitoses, ou substituição das células tronco. 
 
Figura 4- estágio de promoção 
 Estágio de conversão à malignidade: ocorre o início da apresentação do 
fenótipo maligno, e as alterações genéticas são essenciais; a continuidade dos 
promotores de tumoré o que determinam a progressão ao próximo estágio, ou 
a reversibilidade da lesão. É uma transformação dependente da precisão do 
dano que irá modificar a célula. 
 
 Estágio de progressão: é caracterizado pela proliferação desenfreada e 
irreversível de uma única célula tumoral. Nele ocorre multiplicação 
descontrolada e irreversível das células alteradas. Nesse estágio, o câncer já 
está instalado, evoluindo até o surgimento das primeiras manifestações 
clínicas da doença. Os fatores que promovem a iniciação ou progressão da 
carcinogênese são chamados agentes oncoaceleradores ou carcinógenos. As 
mutações podem ser responsáveis por diversas alterações, tanto promotoras 
de neoplasias quanto letais para as células, sendo o organismo responsável por 
realizar a seleção – imune e não imune – das células tumorais. O fumo é um 
agente carcinógeno completo, pois possui componentes que atuam nos quatro 
estágios da carcinogênese. 
 
 
Figura 5- estágio de progressão

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