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1 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV Problema 3 - Mães No Berçário Sandra fez amizade com Aline, que tinha o sonho de ter um parto normal humanizado e em sua residência. Teve várias discussões com seu médico sobre isso, por discordarem nesse aspecto. Ela lhe contou que teve aumento de 28 kg durante a gestação e que houve alteração da glicemia com crescimento exagerado do feto e polidrâmnio. Em uma noite, já com 38 semanas, foi acordada por dores em cólica e, a cada 10 minutos, tinha 2 contrações, seguido de perda de líquido por via vaginal. Deu entrada na sala de trabalho de parto às três horas da manhã. Foi constatado que estava consciente, normotensa (PA= 120/70 mmHg) e com glicemia (Dextrostix®) de 185 mg/dL. O exame físico revelou altura uterina de 38cm, BCF presente e rítmico (140bpm), colo anterior, pérvio para 4 cm, bolsa rota e o aspecto do líquido era claro, com grumos grossos. Dr. Luiz iniciou o partograma e disse que a princípio tentaria parto via vaginal. Devido aos achados de glicemia de Aline, ele resolveu monitorar a evolução de trabalho de parto com cardiotocografia. Com 8cm de dilatação, plano zero de DeLee, posição cefálica OEA, apresentou sinais de comprometimento de vitalidade fetal. Vitor nasceu de parto cesáreo no mesmo dia, às 11h, pesando 4.220 kg e apresentou hipoglicemia no berçário. Aline confidenciou a Sandra que agora achava ser mais seguro ter seus bebês na maternidade. INSTRUÇÃO: Analise a evolução do trabalho de parto de Aline e a sequência de tomada de decisões pelo Dr. Luiz. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA NASCIMENTO DJ. Manual de Orientação Gestação de Alto Risco. —2ª Ed. – São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2011 OLIVEIRA JE, VENCIO S. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2015-2016) / Adolfo Milech...[et. al.]; organização A.C. Farmacêutica, 2016. RUDGE MVC, VASCONCELLOS MJA. Diabetes e hipertensão na gravidez: manual de orientação / FEBRASGO; São Paulo: Ponto, 2004. MELO VH, PIRES DO RIO SM. Projeto Diretrizes: Assistencia Pré-Natal. (disponível em: http://www.projetodiretrizes.org.br/5_volume/02-AssistPre.pdf) BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticos de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher/ Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001. (disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13.pdf ) BRASIL. Gestação de Alto Risco – Manual Técnico. Ministério da Saúde. 5ª edição 2012 (disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gestacao_alto_risco.pdf.) Termos desconhecidos: ✓ Polidrâmnio: é quando há líquido amniótico excessivo; está associado a complicações maternas e fetais. O diagnóstico é por medicação ultrassonográfica do líquido amniótico. ✓ Dextrostix: são as tiras de teste que, por um método enzimático específico, determinam os níveis de glicose no sangue. ✓ Colo pérvio: dilatado ✓ Bolsa rota: ou amniorrexe é o termo que se usa para ruptura espontânea da bolsa amniótica, que pode acontecer antes ou durante o trabalho de parto. ✓ Grumos grossos: são partículas diluídas no líquido amniótico à medida que o bebê amadurece. ✓ Partograma: documento oficial que deve ser preenchido a partir do momento que a gestante entra em trabalho de parto. ✓ Cardiotocografia: exame que avalia o bem-estar fetal e costuma ser realizado durante e principalmente ao final da gestação. Verifica se o bebê está bem e também detecta a presença ou não de trabalho de parto. ✓ Plano zero de Lee: As espinhas isquiáticas (plano 0 de De Lee) ocupam o estreito médio e em sua normalidade se encontram apagadas, ou seja, sutilmente palpáveis. Espinhas isquiáticas salientes ao toque vaginal podem indicar um mau prognóstico para o trabalho de parto normal, o que poderá ser visto através do partograma. ✓ Posição cefálica OEA: faz parte da avaliação estática fetal, significa occipito esquerda anterior. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gestacao_alto_risco.pdf 2 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV Definição do problema: O diabetes gestacional pode levar a complicações durante a gestação e trabalho de parto. Chuva de ideias: Paciente com DMG entra em pré-natal de alto risco Relação entre DMG e risco de morte intrauterina Parto normal humanizado: não necessariamente o parto humanizado precisa ser feito em casa Processos decisórios no trabalho de parto Critérios de indicação para cesárea Obesidade – Relacionada a mau prognóstico. (porém, obesas tem menos tendencia a parto prematuro) Critérios diagnósticos para a DM gestacional TOTG – rastreamento no pré natal As consequências da DMG para o feto e para o RN Objetivos: O1. Compreender o diagnóstico e as fases do trabalho de parto, refletindo sobre a indicação do parto cesárea. O2. Discutir conceito, fatores de risco, fisiopatologia, manifestações clínicas, critérios diagnósticos e complicações materno-fetais do DMG. O1. Compreender o diagnóstico e as fases do trabalho de parto, ref let indo sobre a indicação do parto cesárea. Diagnóstico de trabalho de parto: O diagnóstico do trabalho de parto se faz, em geral, pela presença das seguintes condições: ✓ Presença de contrações uterinas a intervalos regulares, que vão progressivamente aumentando com o passar do tempo, em termos de frequência e intensidade, e que não diminuem com o repouso da gestante. O padrão contrátil inicial é, geralmente, de uma contração a cada 3- 5 minutos e que dura entre 20 e 60 segundos. ✓ Apagamento (esvaecimento) e dilatação progressivos do colo uterino. Nas fases mais iniciais do trabalho de parto, nem sempre é possível fazer o diagnóstico diferencial entre verdadeiro e falso trabalho de parto com uma avaliação isolada. Nesses casos, reavaliar a gestante 1 a 2 horas após o primeiro exame pode ser necessário para confirmar o diagnóstico. Nesse sentido, faz-se necessário adequar a estrutura física das salas de admissão dos gestantes, para que a reavaliação nesses casos seja viável. É importante destacar que ao final do processo gestacional, a mulher pode apresentar um quadro denominado falso trabalho de parto, caracterizado por atividade uterina aumentada, permanecendo, entretanto, um padrão de contrações descoordenadas. Algumas vezes, essas contrações são bem perceptíveis, contudo cessam em seguida e a cérvice uterina não apresenta dilatação. Tal situação promove um alto grau de ansiedade e expectativa sobre a premência do nascimento, sendo um dos principais motivos que levam as gestantes a procurarem o hospital. O profissional deve estar atento para tais acontecimentos, a fim de se evitar uma admissão precoce, intervenções desnecessárias e estresse familiar, ocasionando uma experiência negativa de trabalho de parto, parto e nascimento. A perda do tampão mucoso ou “sinal” e a formação da bolsa das águas são indicadores menos precisos do trabalho de parto, na medida em que existem grande variações individuais entre o aparecimento desses sinais e o início real do trabalho de parto. Embora nas gestações a termo, a rotura das membranas ocorra na maioria dos casos durante o trabalho de parto, ela pode ocorrer até vários dias antes do início do mesmo (de 12 a 20%). Ainda não existem evidências claras sobre qual a melhor conduta nesses casos e várias alternativas têm sido utilizadas no manejo da rotura prematura de membranas em gestações de termo: • indução imediata do trabalho de parto; • indução após 6-12 horas; e • conduta expectante por até 48 horas, com observação da gestante, seguida de indução se o trabalho de parto não se inicia espontaneamente. Qualquer que seja a conduta adotada, o toque vaginal deve ser evitado até que a gestante esteja em franco trabalho de parto, para minimizar os riscosde infecção ovular e puerperal. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticos de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher/ Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001. (disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13 .pdf ) Fisiologia do trabalho de parto: As últimas horas de gestação caracterizam-se por contrações uterinas fortes e dolorosas que efetuam a dilatação cervical, fazendo o feto descer através do canal de parto. Os processos fisiológicos que regulam a parturição e o início do trabalho de parto ainda não estão completamente definidos. O início do trabalho de parto representa a culminância de uma série de alterações bioquímicas que ocorrem no útero e no colo. Essas alterações são estimuladas por sinais endócrinos e parácrinos provenientes da mãe e do feto. Fases da partur ição: O nascimento do bebê – parturição – requer transformações nas funções do útero e do colo. A parturição pode ser arbitrariamente dividida em quatro fases sobrepostas, que correspondem às principais transições fisiológicas do miométrio e do colo uterino durante a gravidez. São elas: ✓ Prelúdio ✓ Preparação ✓ Processo do parto ✓ Recuperação 3 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV Essas fases da parturição não devem ser confundidas com os estágios clínicos do trabalho de parto (1°, 2° e 3° estágios – que constituem a terceira fase da parturição). FASE 1 DA PARTURIÇÃO: INATIVIDADE UTERINA E AMOLECIMENTO CERVICAL: INATIVIDADE UTERINA: o Compreende 95% da gestação. o Caracteriza-se por inatividade da musculatura lisa uterina com manutenção da integridade estrutural cervical. o A predisposição inerente do miométrio a contrair- se é mantida latente, e a musculatura uterina não reage aos estímulos naturais. o O útero deve iniciar profundas alterações em seu tamanho e sua vascularização para acomodar a gravidez e preparar-se para as contrações uterinas. o A falta de reatividade miometrial da fase 1 continua até próximo ao fim da gestação. o Algumas contrações miometriais de baixa intensidade são percebidas durante essa fase, mas não causam dilatação cervical. São conhecidas como contrações de Braxton Hicks, ou falso trabalho de parto. AMOLECIMENTO CERVICAL: O colo uterino desempenha várias funções durante a gestação: ✓ Manter a função de isolamento de forma a proteger o trato reprodutivo contra infecções ✓ Manter a competência cervical, apesar das forças gravitacionais crescentes ✓ Coordenar as alterações da matriz extracelular que permitem aumentos progressivos da complacência dos tecidos. Nas mulheres que não estão grávidas, o colo uterino apresenta-se fechado e firme, sendo sua consistência similar à da cartilagem nasal. Ao final da gravidez, o colo é facilmente distensível, assemelhando-se à consistência aos lábios da cavidade oral. o O amolecimento é o primeiro estágio da remodelação. o Caracteriza-se por aumento da complacência tecidual, embora o colo permaneça firme e inflexível. A dilatação prematura do colo, a incompetência estrutural ou ambas podem provocar nascimento prematuro. Alterações estruturais associadas ao amolecimento: ✓ O amolecimento cervical resulta do aumento da vascularização, da hipertrofia do estroma, da hiperplasia e hipertrofia glandulares e das alterações progressivas e lentas da composição ou da estrutura da matriz extracelular. ✓ A proteína estrutural principal do colo uterino passa por alterações de conformação, que alteram a resistência e a flexibilidade dos tecidos. ✓ As células do estroma cervical humano expressam um fator de transcrição – fator de transcrição associado à microftalmia (MiTF-Cx, de microphthalmia-associated trans- cription factor). Durante a gestação, esse fator mantém a competência cervical por repressão da expressão dos genes envolvidos na dilatação do colo e na parturição. FASE 2 DA PARTURIÇÃO: PREPARAÇÃO PARA O TRABALHO DE PARTO. o Interrupção da inatividade miometrial da fase 1 – o chamado despertar ou ativação uterina. o Progressão das alterações uterinas que ocorrem durante as últimas 6 a 8 semanas de gestação. É importante salientar que os eventos de transição associados à fase 2 podem causar trabalho de parto prematuro ou tardio. ALTERAÇÕES DO MIOMÉTRIO: ✓ Preparam o miométrio para as contrações do trabalho de parto. ✓ Resulta das alterações na expressão das principais proteínas que controlam a contratilidade. Essas proteínas associadas à contração (PACs) consistem no receptor de ocitocina, no receptor de prostaglandina F e na conexina 43. ✓ Há aumento da irritabilidade e da reatividade do útero às uterotoninas – agentes que estimulam as contrações. ✓ Há formação do segmento uterino inferior a partir do istmo. É provável que o miométrio do 4 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV segmento inferior seja especial em comparação com o do segmento uterino superior, resultando em funções diferentes para cada tipo ao longo do trabalho de parto. ✓ A cabeça do feto comumente desce até a entrada pélvica ou até a níveis mais baixos – processo conhecido com insinuação. ✓ O abdome sofre uma mudança de formato descrita pela paciente como “descida do bebê” AMADURECIMENTO DO COLO DURANTE A FASE 2: ✓ Apagamento e dilatação do colo com a iniciação das contrações uterinas fortes. ✓ Alterações do tecido conectivo – processo conhecido como amadurecimento cervical. ✓ A transição da fase de amolecimento para a fase de amadurecimento começa semanas ou dias antes do início das contrações. ✓ Ocorrem alterações da quantidade total e da composição dos proteoglicanos e dos glicosaminoglicanos dentro da matriz. ✓ A remodelação cervical é controlada pelos mesmos hormônios que regulam a função uterina. ✓ O corpo do útero consiste predominantemente em musculatura lisa, enquanto o colo é formado principalmente de tecido conectivo. ✓ Os componentes celulares do colo do útero consistem em fibroblastos, epitélios e algumas células musculares lisas. EPITÉLIOS ENDOCERVICAIS: ✓ As células epiteliais da endocérvice proliferam, de forma que as glândulas endocervicais representam uma porcentagem significativa da massa cervical. ✓ O canal endocervical é revestido por epitélios colunar e escamoso estratificado secretores de muco, que protegem contra invasão microbiana. Os epitélios da mucosa funcionam como sentinelas para detecção de antígenos por expressão de receptores semelhantes a Toll, que reconhecem patógenos. Além disso, os epitélios reagem de forma a resultar na destruição de vírus e bactérias. Para isso, eles expressam peptídeos e inibidores de protease antimicrobianos e enviam sinais às células imunes quando uma agressão patogênica é maior que sua capacidade de proteção. TECIDO CONECTIVO CERVICAL: Colágeno: O colo é um tecido rico em matriz extracelular. Os componentes da matriz são os colágenos dos tipos I, III e IV, os glicosaminoglicanos, as proteínas da matriz celular, os proteoglicanos e a elastina. o O colágeno é o principal responsável pela conformação estrutural do colo. o Durante o amadurecimento cervical, o diâmetro das fibrilas de colágeno aumenta e há ampliação dos espaços entre elas. o A dispersão das fibrilas de colágeno leva à perda da integridade tecidual e aumenta a complacência dos tecidos. Glicosaminoglicanos (GAGs): o São polissacarídeos que formam complexos com proteína que constituem os proteoglicanos. o Um dos GAGs é o hialuronano (HA) sintetizado pelas isoenzimas hialuronano-sintase. o A expressão dessas enzimas está aumentada no colo durante o processo de amadurecimento. o HA de alto peso molecular predomina durante o amadurecimento e aumenta a viscoelasticidae e a desorganização matricial. o HA de baixopeso molecular tem propriedades pró-inflamatórias, aumnetam durante o trabalho de parto e o puerpério. o A ativação das cascatas de sinalização intracelular e de outras funções biológicas requer interações com as proteínas de ligação do HA associadas à célula, inclusive versicano. Proteoglicanos: o Glicoproteínas formadas de um núcleo proteico e cadeias de GAGs. o Alterações da composição dos proteoglicanos parecem ocorrer durante o amadurecimento cervical. o Além do colo uterino, esses proteoglicanos estão expressos nas membranas fetais e no útero. As alterações dos níveis de expressão podem regular a força elástica da membrana fetal e a função uterina. Alterações inflamatórias: o As alterações acentuadas que ocorrem na matriz extracelular durante o amolecimento cervical da fase 2 são acompanhadas de invasão do estroma por células inflamatórias. o Há a proposição de um modelo no qual o amadurecimento cervical seria considerado um processo inflamatório. o Fatores quimiotáxicos cervicais atraem células inflamatórias, que, por sua vez, liberam proteases que podem facilitar a decomposição do colágeno e de outros componentes da matriz. Na fase 3 ou 4 da parturição, há aumentos da expressão cervical de quimiocinas e da atividade da colagenase/protease. o Houve aumento expressivo dos genes pró- inflamatórios e imunossupressores no colo de- pois do parto em comparação com a fase de amadurecimento cervical. o A ativação dos neutrófilos, dos macrófagos M1 pró-inflamatórios e, alternativamente, dos macrófagos M2 ativados aumenta nas primeiras 2 horas depois do nascimento. Isso sugere a participação das células inflamatórias na remodelação e na reparação do colo depois do parto. Indução e prevenção do amadurecimento cervical: o Não existem tratamentos para evitar o amadurecimento prematuro do colo uterino. A cerclagem cervical é realizada apenas para controlar a incompetência do colo. o Os tratamentos usados para estimular o amadurecimento cervical e induzir trabalho de parto incluem a aplicação direta de prostaglandinas E2 (PGE2) e F2a (PGF2a). Essa 5 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV propriedade é útil na prática clínica para facilitar a indução do trabalho de parto. o A administração de antagonistas da progesterona provoca o amadurecimento cervical. FASE 3 DA PARTURIÇÃO: TRABALHO DE PARTO ✓ Essa fase é sinônimo de trabalho de parto ativo. ✓ Em geral, o trabalho de parto é dividido em três estágios. ✓ 1º estágio – estágio do apagamento e da dilatação cervicais: começa quando contrações uterinas espaçadas, com frequência, intensidade e duração suficientes, são ativadas para causar adelgaçamento ou apagamento do colo. Termina quando o colo uterino está totalmente dilatado (cerca de 10cm) para permitir a passagem da cabeça do feto a termo. ✓ 2º estágio – estágio da expulsão fetal: começa quando a dilatação cervical está completa e termina com o nascimento. ✓ 3º estágio – estágio da separação e da expulsão da placenta: começa imediatamente depois do nascimento do feto e termina com a liberação da placenta. ✓ Alguns autores colocam o 4º estágio – Greenberg: é a primeira hora após a saída da placenta. É um momento de observação da mãe pela equipe médica com o objetivo de evitar hemorragias. PRIMEIRO ESTÁGIO DO TRABALHO DE PARTO: SINAIS CLÍNICOS INICIAIS DO TRABALHO DE PARTO o As contrações uterinas vigorosas que resultam no parto podem começar repentinamente. o Ou o início do trabalho de parto é anunciado pela liberação espontânea de muco tinto de sangue pela vagina (pequena quantidade) – sinal sanguinolento (eliminação do tampão de muco que preenchia anteriormente o canal cervical durante a gravidez. o A eliminação do tampão indica que o trabalho de parto já está em andamento ou, provavelmente, começará em algumas horas ou dias. Contrações uterinas do trabalho de parto: o As contrações do músculo liso uterino durante o trabalho de parto são dolorosas. Possíveis causas de dor: ➢ Hipoxia do miométrio contraído (Semelhante a angina de peito) ➢ Compressão dos gânglios neurais do colo e do segmento uterino inferior pelos feixes musculares entrelaçados e contraídos ➢ Estiramento do colo durante a dilatação ➢ Estiramento do peritônio que recobre o fundo uterino. o As contrações uterinas são involuntárias e, em sua maior parte, independentes do controle extrauterino. o O bloqueio neural por analgesia peridural não diminui sua frequência ou intensidade. o As contrações miometriais das mulheres paraplégicas e das mulheres submetidas à simpatectomia lombar bilateral são normais, porém indolores. o O estiramento mecânico da cérvice aumenta a atividade uterina. o O intervalo entre as contrações diminui gradualmente – cerca de 10 minutos no início do primeiro estágio do trabalho de parto até apenas 1 minuto ou menos no segundo estágio. o Os períodos de relaxamento entre as contrações são essenciais para o bem-estar fetal. As contrações incessantes com- prometem suficientemente o fluxo sangui ́neo uteroplacentário para provocar hipoxemia fetal. o Na fase ativa do trabalho de parto, a duração de cada contração varia de 30 a 90 segundos, em me ́dia cerca de 1 minuto. o Em termos mais específicos, as pressões do líquido amniótico geradas pelas contrações durante o trabalho de parto espontâneo oscilam em torno de 40 mmHg, mas podem variar de 20 a 60 mmHg. Diferença entre os segmentos uterinos superior e inferior: Durante o trabalho de parto ativo, as divisões anatômicas do útero, que foram iniciadas na fase 2 da parturição, tornam-se progressivamente mais evidentes. 6 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV Por meio da palpação abdominal, mesmo antes da ruptura das membranas, os dois segmentos podem ser diferenciados em alguns casos. o Seguimento superior: É firme durante as contrações. o Seguimento inferior: é mais macio, distendido e passivo. Esse mecanismo é primordial porque se todo o miométrio, inclusive o segmento uterino inferior e o colo, contraísse ao mesmo tempo e com intensidade igual, a força expulsiva global seria acentuadamente menor. Dessa maneira, o segmento superior contrai, retrai-se e expulsa o feto. Em resposta a essas contrações, o segmento uterino inferior amolecido e o colo dilatam e, assim, formam um tubo adelgaçado, muito expandido, através do qual o feto pode passar. Depois das contrações, o miométrio do segmento superior se torna relativamente invariável em um comprimento mais curto. O segmento uterino superior ativo contrai sobre seu conteúdo decrescente, mas a tensão do miométrio permanece constante. O efeito final consiste em manter a tensão e, desse modo, conservar a vantagem obtida na expulsão do feto. Cada contração sucessiva começa onde sua predecessora terminou. Em razão do encurtamento sucessivo das fibras musculares, o segmento superior ativo torna-se progressivamente espessado ao longo de todo o primeiro e o segundo estágio do trabalho de parto. Esse processo continua e resulta no espessamento extremo do segmento uterino superior logo depois do nascimento. O fenômeno de retração do segmento superior depende da diminuição do volume de seu conteúdo. No início da do trabalho de parto, é necessário que a musculatura do segmento inferior se distenda permitindo que uma parte cada vez maior do conteúdo uterino ocupe o segmento inferior. O segmento superior retrai apenas na extensão em que o segmento inferior se distende e que o colo dilata. O relaxamento do segmento uterino inferior espelha a mesma progressão gradual da retração. É importante lembrar que, depois de cada contração do segmento superior, os músculos não voltam ao comprimento anterior, mas a tensão permanece essencialmente a mesma. Por comparação, no segmento inferior o alongamento sucessivo das fibras como trabalho de parto é acompanhado por adelgaçamento, normalmente até apenas al- guns milímetros na parte mais fina. Em conseque ̂ncia do adelgaçamento do segmento inferior e do espessamento simultâneo do segmento superior, o limite entre os dois é marcado por uma saliência na superfície uterina interna – o anel de retração fisio- lógica. Quando o adelgaçamento do segmento uterino inferior é extremo, como ocorre no trabalho de parto obstruído, o anel fica proeminente, formando um anel de retraça ̃o patológica. Essa condiça ̃o anormal, também conhecida como anel de Band. 7 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV Alterações no formato do útero durante o trabalho de parto: Cada contração produz alongamento do formato uterino ovoide com diminuição simultânea do diâmetro horizontal – isso provoca efeitos: o Há aumento da pressão axial fetal – a redução do diâmetro horizontal ajuda a retificar a coluna vertebral do feto. Isso pressiona o polo superior do feto firmemente contra o fundo do útero, enquanto o polo inferior é empurrado ainda mais para baixo. o O alongamento do formato ovoide foi estimado em 5 a 10cm. o Com o alongamento do útero, as fibras musculares longitudinais são retraídas. Em consequência disso, o segmento inferior e o colo são as únicas partes flexíveis do útero e são puxados para cima e ao redor do polo inferior do feto. Forças complementares do trabalho de parto: Depois que o colo está totalmente dilatado, a força mais importante para a expulsão fetal é produzida pela pressão intra-abdominal materna. ✓ A contração dos músculos abdominais simultaneamente com os esforços respiratórios forçados com a glote fechada é referida como empurrar para baixo. É similar à da defecação, mas a intensidade é muito maior. A importância da pressão intra-abdominal é demons- trada pela descida prolongada durante o trabalho de parto das mulheres paraplégicas e das pacientes com bloqueio peridural denso. Além disso, embora a pressão intra-abdominal seja necessária à finalização do segundo estágio do trabalho de parto, os esforços de empurrar para baixo têm pouco efeito no primeiro estágio. Isso esgota a mãe, e as pressões intrauterinas altas associadas podem ser deletérias ao feto. Alterações do colo uterino: Em consequência das forças de contração duas alterações ocorrem no colo já amadurecido: ✓ Apagamento cervical ✓ Dilatação cervical Apagamento cervical: o É a obliteração ou subida do colo. o Se evidencia clinicamente por encurtamento do canal cervical, que começa com comprimento aproximado de 2 cm e termina simplesmente com um orifício circular com bordas praticamente da espessura de uma folha de papel. o As fibras musculares no nível do orifício cervical interno são puxadas para cima, ou levantadas, para dentro do segmento uterino inferior. o A condição do orifício externo permanece temporariamente inalterada. o O apagamento pode ser comparado a um processo de afunilamento em que o comprimento total de um cilindro estreito é convertido em um funil muito obtuso, radiante, com pequena abertura circular. o Por causa da maior atividade miometrial durante a preparação uterina para o trabalho de parto, o apagamento apreciável de um colo amolecido por vezes é feito antes que comece o trabalho de parto ativo. o O apagamento provoca a expulsão do tampão mucoso quando o canal cervical é encurtado. o O segmento inferior e o colo têm menos resistência durante a contração e por isso, uma força centrífuga é exercida sobre o colo, levando à dilatação cervical. o Como as contrações uterinas provocam pressão sobre as membranas, a ação hidrostática do saco amniótico dilata o canal cervical como uma cunha. o Na ausência de membranas intactas, a pressão do segmento de apresentação contra o colo e o segmento uterino inferior tem eficácia similar. o A ruptura precoce das membranas não retarda a dilatação cervical, e o segmento de apresentação fetal é posicionado de forma a exercer pressão contra o colo e o segmento inferior. o O processo de apagamento e dilatação do colo é responsável pela formação da bolsa saliente de líquido amniótico. Essa bolsa corresponde à parte principal do saco de líquido amniótico situado à frente do segmento de apresentação fetal. Dilatação cervical: o Para que a cabeça fetal possa passar pelo colo uterino, seu canal precisa dilatar-se até um diâmetro aproximado de 10cm (colo completamente ou plenamente dilatado). o Embora possa não haver descida fetal durante o apagamento cervical, em geral o segmento de apresentação fetal desce um pouco à medida que o colo dilata. o Durante o segundo estágio do trabalho de parto das nulíparas, o segmento de apresentação costuma descer lenta e continuamente. o No entanto, nas multíparas, principalmente naquelas de alta paridade, a descida pode ser rápida. A dilatação cervical é dividida nas fases latente e ativa. A fase ativa também é subdividida em: o Fase de aceleração o Fase de ascensão máxima o Fase de desaceleração. A duração da fase latente é mais variável e sensível às alterações por fatores externos. Por exemplo, a sedação pode prolongar a fase latente, enquanto a estimulação do miométrio abrevia essa fase. A duração da fase latente tem pouco impacto sobre a evolução subsequente do trabalho de parto, enquanto as características da fase acelerada em geral são preditivas do desfecho do trabalho de parto. O término da dilatação cervical durante a fase ativa é realizado por retração cervical sobre o segmento de apresentação. O primeiro estágio termina quando a dilatação cervical é completa. Ao começar o segundo estágio, apenas a descida progressiva do segmento de apresentação determina o progresso adicional. 8 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV Fig: ilustração esquemática mostrando o apagamento e a dilatação. A, antes do trabalho de parto, o colo da primípara é longo e não está dilatado, em contraste com o colo uterino da multípara, que apresenta dilatação dos orifícios interno e externo. B, À medida que começa o apagamento, o colo da multípara apresenta dilatação e afilamento do orifício interno. Isso é menos evidente no colo uterino da primípara. C, à medida que se alcança apagamento completo do colo da primípara, a dilatação é mínima. O inverso ocorre na multípara. SEGUNDO ESTÁGIO DO TRABALHO DE PARTO: DESCIDA FETAL Em muitas nulíparas, o encaixe da cabeça é concluído antes que o trabalho de parto comece. Apesar disso, a cabeça pode não descer mais até chegar o final do trabalho de parto. A descida ativa acontece depois que a dilatação progrediu por algum tempo. Nas nulíparas, as velo- cidades de descida aumentadas costumam ser observadas durante a fase de acentuação máxima da dilatação cervical. Nesse momento, a velocidade da descida também é 9 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV máxima, sendo mantida até que a parte apresentada alcance o assoalho do períneo. Alterações do soalho pélvico durante o trabalho de parto: O canal de parto é sustentado e fechado funcionalmente por várias camadas de tecidos que, em conjunto, formam o soalho pélvico. As estruturas mais importantes são: o Músculo levantador do ânus – músculos pubovisceral, puborretal e iliococcígeo, que fecham a extremidade inferior da cavidade pélvica como um diafragma. o Tecido conectivo fibromuscular que reveste suas superfícies superior e inferior. Há alterações acentuadas das propriedades biomecânicas dessas estruturas e da parede vaginal durante a parturição. Isso resulta das alterações da estrutura ou da composição da matriz extracelular. Desse modo, uma superfície superior côncava e uma superfície inferior convexa são formadas. As partes posterior e lateral do soalho pélvico, que não são alcançadas pelo levantador doânus, são ocupadas bilateralmente pelos músculos piriforme e coccígeo. Durante a gravidez, o levantador do ânus costuma sofrer hipertrofia, formando uma faixa espessa que se estende para trás a partir do púbis e circunda a vagina, cerca de 2 cm acima do plano do hímen. Na contração, o levantador do ânus puxa tanto o reto quanto a vagina para diante e para cima, na direção da sínfise pubiana, e, desse modo, atua no sentido de fechar a vagina. No primeiro estágio do trabalho de parto, as membranas (quando estão intactas) e o segmento de apresentação fetal ser- vem para dilatar a parte superior da vagina. A alteração mais acentuada consiste no estiramento das fibras do músculo le- vantador do ânus, que é acompanhado de adelgaçamento da porção central do períneo, que se transforma de uma massa de tecidos com formato cuneiforme de 5 cm de espessura em uma estrutura membranosa fina e quase transparente com espessu- ra menor que 1 cm. Quando o períneo é distendido ao máximo, o ânus fica acentuadamente dilatado, apresentando uma abertura que varia de 2 a 3 cm de diâmetro, pela qual ocorre abaulamento da parede anterior do reto. TERCEIRO ESTÁGIO DO TRABALHO DE PARTO: ELIMINAÇÃO DA PLACENTA E DAS MEMBRANAS o Começa logo depois do nascimento do feto e en- volve a separaça ̃o e a expulsão da placenta e das membranas. o À medida que o feto nasce, o útero contrai de maneira espontânea ao redor de seu conteúdo cada vez menor. o Normalmente, no momento em que o feto é totalmente expulso, a cavidade uterina é quase obliterada. o O órgão consiste em uma massa quase sólida de músculo, com vários centímetros de espessura, acima do segmento inferior mais delgado. o O fundo do útero agora se localiza exatamente abaixo do nível do umbigo. o Essa diminuição súbita do tamanho uterino é inevitavelmente acompanhada por diminuição na área do sítio de implantação da placenta. Para que a placenta se acomode a essa área reduzida, ela aumenta sua espessura; contudo, em virtude da elasticidade placentária limitada, é forçada a curvar- se. A tensão resultante empurra a camada mais fraca – decídua esponjosa – para fora desse local. Assim, a separação da placenta segue a desproporção criada entre o tamanho placentário relativamente inalterado e o tamanho reduzido do sítio de implantação. A clivagem da placenta é muito facilitada pela estrutura frouxa da decídua esponjosa, que pode se assemelhar a uma fileira de perfuraço ̃es entre selos de correio. À medida que a separação avança, forma-se um hematoma entre a placenta e a decídua separada e a decídua que permanece fixada ao miométrio. O hematoma costuma ser o resultado e não a causa da separação, pois, em alguns casos, o sangramento é desprezível. 10 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV Separação das membranas fetais e expulsão da placenta: A grande diminuição da superfície da cavidade uterina comprime simultaneamente as membranas fetais – o amniocório e a decídua parietal – formando inúmeras pregas. Em geral, as membranas permanecem in situ até que a separação da placenta esteja praticamente concluída. Em seguida, elas se desprendem da parede uterina, em parte pela contração adicional do miométrio e em parte pela tração exercida pela placenta desprendida. Depois da separação da placenta, ela pode ser expelida pela pressão abdominal elevada. A conclusão do terceiro estágio também é conseguida pela compressão e pela elevação alternadas do fundo do útero, enquanto se exerce tração mínima no cordão umbilical. O hematoma retroplacentário desce depois da placenta, ou está localizado dentro do saco invertido formado pelas membranas. Nesse processo, conhecido como mecanismo de Schultze de expulsão da placenta, o sangue oriundo do sítio placentário derrama dentro do saco membranoso e não escapa externamente até que a placenta seja expelida. Com outro método de expulsão da placenta, conhecido como mecanismo de Duncan, a placenta separa-se em primeiro lugar na periferia, e o sangue acumula-se entre as membranas e a parede uterina e sai pela vagina. Nessa circunstância, a placenta desce lateralmente, e a superfície materna aparece em primeiro lugar. FASE 4 DA PARTURIÇÃO: PUERPÉRIO Imediatamente e por cerca de uma hora ou mais depois do par- to, o miométrio mantém-se em seu estado de contração e retra- ção rígidas e persistentes. Isso comprime diretamente os vasos uterinos calibrosos e provoca trombose de seu interior de for- ma a evitar hemorragia. Em geral, esse processo é exacerbado pelos uterotônicos. A involução uterina e o reparo cervical – dois processos de remodelação que recuperam essas estruturas ao estado pré-concepcional – ocorrem em sequência ordenada. Isso protege o trato reprodutivo contra a invasão de microrganismos comensais e recupera a reatividade do endométrio às oscilaço ̃es hormonais cíclicas normais. Durante os primeiros dias do puerpério, têm início a lactogênese e a descida do leite para as glândulas mamárias O reinício da ovulação assinala a preparac ̧ão para uma gestação subsequente. Em geral, isso ocorre dentro de 4 a 6 semanas depois do parto, mas depende da duração da amamentação e da anovulação e amenorreia induzidas pela lactac ̧ão e mediadas pela prolactina. Indicações e r iscos do parto cesariano: 11 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV Mais de 85% dessas operações são realizadas por quatro motivos – cesariana prévia, distocia, risco ao feto ou apresentação fetal anormal. Mortalidade e morbidade maternas: De forma geral, o parto cesariano está relacionado com mais riscos cirúrgicos maternos para a gestaça ̃o atual e para as subsequentes. Esses riscos devem ser ponderados contra as baixas taxas de lesão perineal e de distúrbios do soalho pélvico em curto prazo. Para o neonato, a cesariana apresenta baixas taxas de traumatismo do parto e de natimortalidade. Por outro lado, as taxas de dificuldades respiratórias iniciais são maiores com o parto cesariano. De forma semelhante às taxas de mortalidade, a frequên- cia de algumas complicações maternas é maior com cesarianas em comparação com parto vaginal. As taxas de morbidade foram duas vezes maiores com parto cesariano comparado com parto vaginal. Entre as morbidades, destacam-se infecção, hemorragia e tromboembolismo. Além disso, as complicações anestésicas, incluindo, ainda que raramente, morte, apresentam maior incidência com cesarianas em comparação com parto vaginal. Órgãos adjacentes podem sofrer lesão. A taxa de laceração vesical varia de 1 a 3 por 1.000 cesarianas, enquanto a de lesão ureteral se aproxima de 0,3 por 1.000 casos. Lesões intestinais ocorrem em cerca de 1 a cada 1.000 cesarianas. As gestantes submetidas à cesariana têm probabilidade muito maior de repetir a operação em gestações subsequentes. Para aquelas submetidas a uma cesariana subsequente, os riscos maternos descritos são ainda maiores. Como vantagem, há evidência de que o parto cesariano esteja associado a taxas mais baixas de incontinência urinária e de prolapso de órgão pélvico. Morbidade neonatal: O parto cesariano está associado a menos riscos de trauma fetal. Esse fato em muitos casos influencia a opção por cesariana a despeito dos riscos maternos associados. A laceração de pele foi a complicação mais comum, mas houve outras, como céfalo-hematoma, fratura de clavícula, plexopatia braquial, fratura de cra ̂nio e paralisia de nervo facial. As cesarianas seguindo-se a insucesso na tentativa de parto vaginal instrumental tiveram a taxa mais alta de lesão, enquanto a taxa mais baixa (0,5%) ocorreu no grupo com cesariana eletiva. As incidências de convulsão neonatal e de paralisia cerebral não foram reduzidas com o aumento nas taxas de cesariana. Referência: CUNNINGHAM, F.G.; LEVENO, K.J.;BLOOM, S.L.; AL., E. Obstetrícia de Williams. Grupo A, 2016. Partograma: É a representação gráfica do trabalho de parto que permite acompanhar sua evolução, documentar, diagnosticar alterações e indicar a tomada de condutas apropriadas para a correção destes desvios, ajudando ainda a evitar intervenções desnecessárias. Para compreender a evolução do trabalho de parto, é necessário o conhecimento prévio da fisiologia da dilatação cervical. A curva de dilatação cervical se processa de forma ascendente, de início com menor velocidade de dilatação. No final, essa velocidade aumenta, ou seja, o parto se desenvolve mais rapidamente a partir dos 4cm de dilatação. A diferenciação na velocidade da cérvico-dilatação caracteriza a Fase Latente (inicial) e a Fase Ativa (final), de interesse na evolução do trabalho de parto e na construção do partograma. 12 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV Friedman (1978) estabeleceu uma correspondência entre os períodos clássicos, especificamente entre os períodos de dilatação e expulsivo, e as assim denominadas "divisões funcionais" do parto. Considerou o período de dilatação subdividido em duas fases - a preparatória e a de dilatação propriamente dita. O período expulsivo passou a ser considerado por esse autor como período pélvico, ou seja, período em que se processam os fenômenos mecânicos do parto. Na fase latente do trabalho de parto a conduta é expectante, desde que a vitalidade fetal esteja preservada, e o ideal é que as parturientes sejam acompanhadas de ambulatório quando não se tratar de gestação de risco. Observa-se que, em muitas mulheres, a duração é superior a 20 horas e os ocitóocicos devem ser evitados, pelo risco de aumento na incidência de cesárea, decorrente do colo uterino desfavorável. Os sinais de alerta, como perda de líquido, sangramento uterino, contrações eficientes a cada 5 minutos e diminuição dos movimentos fetais, são orientações para que a parturiente retorne ao hospital no momento adequado. É importante relembrar que, para o acompanhamento do trabalho de parto, a fase ou divisão funcional de interesse na aplicação do partograma é a de dilatação (Friedman, 1978) ou fase ativa (Schwarcz et al., 1996), com velocidade de dilatação cervical mínima de 1 cm/hora. A abertura do partograma na fase latente ou no inicio da dilatação (menor que 3 - 4 cm) implicaria em intervenções não só desnecessárias, mas também iatrogênicas. Os benefícios da interpretação gráfica da evolução do trabalho de parto são inúmeros e o método é simples, podendo ser feita em qualquer folha de papel. Na forma mais comum de montagem do partograma, utiliza-se de papel quadriculado, colocando na abscissa (eixo X) o tempo em horas e, nas ordenadas (eixo Y), em centímetros, a dilatação cervical à esquerda e a descida da apresentação à direita. Para a descida da apresentação, considera-se o plano zero de De Lee ou o correspondente plano III de Hodge - espinhas ciáticas no estreito médio da bacia - acima deste ponto estão os valores negativos e abaixo os positivos de De Lee ou , respectivamente, os planos I, II e IV de Hodge (Figura 2). Com base nos conhecimentos originais da dilatação cervical, construíram uma linha de alerta, que servia para identificar as pacientes com parto de risco. Quando a dilatação cervical cruzava a linha de alerta, a paciente deveria ser encaminhada ao hospital. Num intervalo de 4 horas, padronizaram a linha de ação, paralela à de alerta, porque este era o tempo de transporte da parturiente para centros médicos, onde se efetuavam partos operatórios (Figura 3). 13 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV Atualmente, o registro gráfico do parto é realizado em ambiente hospitalar e, portanto, não há a necessidade de intervenção quando a dilatação atinge ou cruza a linha de alerta. O alerta implica, simplesmente, a necessidade de uma melhor observação clínica. Somente quando a curva da dilatação cervical atinge a linha de ação é que a intervenção médica torna-se necessária, na tentativa de melhorar a evolução do trabalho de parto e corrigir possíveis distócias que possam estar se iniciando. Isto não significa necessariamente conduta cirúrgica. Para a construção do partograma, algumas observações são necessárias, exigindo da equipe uma padronização completa. 1. No partograma cada divisória corresponde a uma hora na abscissa (eixo x) e a um centímetro de dilatação cervical e de descida da apresentação na ordenada (eixo y). 2. Inicia-se o registro gráfico quando a parturiente estiver na fase ativa do trabalho de parto (duas a três contrações eficientes em 10 minutos, dilatação cervical mínima de 3 cm). Em caso de dúvida, aguardar 1 hora e realizar novo toque: velocidade de dilatação de 1cm/hora, verificada em dois toques sucessivos, confirma o diagnóstico de fase ativa do trabalho de parto. 3. Realizam-se toques vaginais subseqüentes, a cada duas horas, respeitando em cada anotação o tempo expresso no gráfico. Em cada toque deve-se avaliar a dilatação cervical, a altura da apresentação, a variedade de posição e as condições da bolsa das águas e do líquido amniótico, quando a bolsa estiver rota – por convenção, registra-se a dilatação cervical com um triângulo e a apresentação e respectiva variedade de posição são representadas por uma circunferência. 4. O padrão das contrações uterinas e dos batimentos cardíacos fetais, a infusão de líquidos e drogas e o uso de analgesia devem ser devidamente registrados. 5. A dilatação cervical inicial é marcada no ponto correspondente do gráfico, trocando-se na hora imediatamente seguinte a linha de alerta e em paralelo, quatro horas após, assinala-se a linha de ação, desde que a parturiente esteja na fase ativa do trabalho de parto (Phillpot & Castle, 1972). Na ficha de acompanhamento do trabalho de parto, além das anotações referentes à cérvico-dilatação (partograma), podem também ser registradas a freqüencia cardíaca fetal (FCF), as características das contrações uterinas, as condições da bolsa das águas e líquido amniótico, a infusão de líquidos e as especificações da analgesia (Figura 4). BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticos de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher/ Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Área Técnica da Mulher. – Brasília: Ministério da Saúde, 2001. (disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd04_13 .pdf ) O2. Discutir conceito, fatores de r isco, f is iopatologia, manifestações cl ín icas, cr itér ios diagnósticos e compl icações materno-fetais do DMG. O diabetes gestacional é definido como a “intolerância aos carboidratos, de graus variados de intensidade, diagnosticada pela primeira vez durante a gestação, podendo ou não persistir após o parto”. No Brasil, a prevalência do diabetes gestacional em mulheres com mais de 20 anos, atendidas no Sistema Único de Saúde, é de 7,6% (IC95% 6,9-8,4 – critério da Organização Mundial da Saúde), 94% dos casos apresentando apenas tolerância diminuída à glicose e seis apresentando hiperglicemia no nível de diabetes fora da gravidez. Rastreamento e diagnóstico Embora não exista consenso sobre qual método é o mais eficaz para rastreamento e diagnóstico do diabetes gestacional, as recomendações a seguir oferecem uma alternativa efetiva para tal. O rastreamento deve ser iniciado pela anamnese para a identificação dos fatores de risco: • Idade igual ou superior a 35 anos; • Índice de massa corporal (IMC) >25kg/m2 (sobrepeso e obesidade); • Antecedente pessoal de diabetes gestacional; • Antecedente familiar de diabetes mellitus (parentes de primeiro grau); 14 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV • Macrossomia ou polihidrâmnio em gestação anterior; • Óbito fetal sem causa aparente em gestação anterior; • Malformação fetal em gestação anterior;• Uso de drogas hiperglicemiantes (corticoides, diuréticos tiazídicos); • Síndrome dos ovários policísticos; • Hipertensão arterial crônica. Na gravidez atual, em qualquer momento: • Ganho excessivo de peso; • Suspeita clínica ou ultrassonográca de crescimento fetal excessivo ou polihidrâmnio. Todas as gestantes, independentemente de apresentarem fator de risco, devem realizar uma dosagem de glicemia no início da gravidez, antes de 20 semanas, ou tão logo seja possível. O rastreamento é considerado positivo nas gestantes com nível de glicose plasmática de jejum igual ou superior a 85mg/dL e/ou na presença de qualquer fator de risco para o diabetes gestacional. Na ausência de fatores de risco e glicemia de jejum ≤85mg/dL, considera-se rastreamento negativo e deve-se repetir a glicemia de jejum entre a 24ª e 28ª semana de gestação. Duas glicemias plasmáticas de jejum maior ou igual 126mg/dL conrmam o diagnóstico de diabetes gestacional, sem necessidade de teste de tolerância. As gestantes com rastreamento positivo, ou seja, com glicemia plasmática de jejum maior ou igual a 85mg/dL até 125mg/dL e/ou com qualquer fator de risco devem ser submetidas à confirmação diagnóstica com teste oral de tolerância à glicose após ingestão de 75g de glicose anidra em 250– 300ml de água, depois de um período de jejum entre 8–14 horas (TOTG 75g 2h). A glicose plasmática é determinada em jejum, após 1 hora e após 2 horas. Nesta curva, os pontos de corte são >95, 180 e 155, respectivamente, os achados de dois valores alterados confirmam o diagnóstico. Um único valor alterado indica a repetição do TOTG 75g 2h na 34ª semana de gestação. Dois ou mais valores devem estar acima do normal para conrmação diagnóstica. Recomenda-se ainda a dosagem de hemoglobina glicada nos casos de diabetes e gestação, devido à sua associação, quando aumentada, com malformações. BRASIL. Gestação de Alto Risco – Manual Técnico. Ministério da Saúde. 5ª edição 2012 (disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_ tecnico_gestacao_alto_risco.pdf.) Diabetes mell itus gestacional: A hiperglicemia na gestação causa problemas à mãe, ao concepto e à placenta. Por essa razão, repercute em todas as fases da gestação e aumenta a morbimortalidade perinatal. Teoria da hiperglicemia-hiperinsulinismo: hiperglicemia fetal resultante da materna e estimulação das células beta do pâncreas fetal. Isso resulta em hipertrofia das células betapancreáticas, in útero, ocorrendo hiperinsulinismo fetal. Essa associação hiperglicemia-hiperinsulinemia fetal é a base fisiopatológica da macrosssomia fetal e de todas as complicações perinatais associadas ao diabetes na gestação. O DMG está associado ao risco de resultados perinatais adversos. Não apenas o DMG, mas também graus mais leves de intolerância à glicose devem ser detectados e tratados para melhorar os riscos de resultados perinatais adversos. Os critérios para o diagnóstico do DMG foram estabelecidos com base no risco materno de desenvolvimento de diabetes tipo 2 após a gestação, mas não no risco de complicações perinatais. Os resultados do estudo HAPO, realizado em mais de 20 mil gestantes, evidenciaram que há forte associação entre níveis mais baixos de intolerância à glicose com aumento do peso do recém-nascido (RN) e com níveis elevados do peptídeo C no sangue de cordão8. Também, há forte associação entre obesidade, diabetes gestacional e graus mais leves de intolerância à glicose, mostrando que a síndrome metabólica precisa ser entendida como parte de todo esse complexo metabólico. • O DMG e a hiperglicemia gestacional leve estão associados a risco aumentado de hipertensão gestacional, doença cardiovascular, síndrome metabólica, cesárea e prematuridade, além de síndrome metabólica no pós-parto em mulheres jovens. • O tratamento do DMG e da hiperglicemia gestacional melhora muitas das consequências negativas para a mãe, o feto e o recém-nascido. • Há risco de desenvolvimento futuro de diabetes tipo 2, nas mulheres que desenvolveram DMG ou graus mais leves de intolerância à glicose na gestação. CONCEITO: ✓ DMG: é a intolerância à glicose que começa ou é diagnóstica pela primeira vez durante a gravidez. ✓ Hiperglicemia gestacional leve: refere-se a graus menores de intolerância à glicose na gestação. Alguns autores recomendam que essas pacientes sejam tratadas como se fossem portadoras de DMG. Para o concepto, o diabetes gestacional determina maior índice de morbidade e mortalidade perinatais. Mulheres que tiveram DMG têm risco sete vezes maior de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro, comparada às que não tiveram a doença. O mesmo acontece com as mulheres que apresentam hiperglicemia gestacional leve. FISIOPATOLOGIA: A gestação é caracterizada por aumento da resistência periférica à ação insulínica e incremento na produção de insulina pelas células betapancreáticas. É considerado um estado de resistência à insulina, que pode levar à passagem do estado normal de tolerância à glicose ao de portadora de diabetes. Esse http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gestacao_alto_risco.pdf http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_tecnico_gestacao_alto_risco.pdf 15 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV aumento da resistência ocorre em virtude da secreção placentária de hormônios antagônicos à ação da insulina (hormônio lactogênio placentário, de crescimento, cortisol, o estrogênio e a progesterona) e de enzimas, as insulinases, que quebram as cadeias de insulina. O metabolismo energético na gestação tem duas fases maternas bem distintas: – A primeira é a anabólica, do início de gestação até a 24a semana, na qual o aumento da produção dos hormônios placentários determina hiperplasia e hipertrofia das células beta, com consequente aumento da produção de insulina. Nesta fase, a glicemia das gestantes tende a diminuir, aumentando a reserva de glicogênio e de gordura e ocorre a inibição da gliconeogênese. – A segunda é a catabólica, da 24a semana até o final da gestação, na qual a placenta aumenta substancialmente a sua produção de hormônios hiperglicemiantes, com consequente aumento da resistência periférica à insulina, hiperinsulinismo, diminuição da reserva de glicogênio e gordura e aumento da gliconeogênese. As gestantes que não têm reserva pancreática adequada para responder a essa necessidade de aumento da produção de insulina, requerida pela gestação, desenvolvem hiperglicemia de graus variáveis. É a partir dessa hiperglicemia que se dão as complicações para o concepto. A glicose passa para o compartimento fetal por difusão facilitada. Assim, quando as mães apresentam níveis altos de glicemia, os conceptos também terão hiperglicemia e serão estimulados a produzir mais insulina que, por ser um hormônio anabolizante, determinará macrossomia fetal e, consequentemente, maior risco de traumatismo fetal à parturição, entre outros efeitos. Após a ligadura do cordão umbilical ao nascimento, o concepto com níveis elevados de insulina metaboliza rapidamente a glicose e desenvolve hipoglicemia neonatal. A hiperinsulinemia também retarda a produção do surfactante pulmonar, levando ao atraso na maturidade pulmonar fetal e, por esse motivo, ao risco aumentado da síndrome de desconforto respiratório no berçário. Além disso, a hiperglicemia fetal está associada ao aumento de radicais livres de oxigênio, que são os responsáveis pela maior ocorrência de malformações fetais nessa população. Esses fetos com hiperglicemia ainda aumentam a produção de urina, levando ao aumento do volume de líquido amniótico e consequente polidrâmnio. O aumento da glicemia materna associa-se a aumento da produção de HbA1c, que tem alta afinidade pelo oxigênio e acarreta menor passagem de oxigênio ao feto, que desenvolve graus variáveis de hipóxia, aumentando a produção de glóbulos vermelhos e, consequentemente,a poliglobulia, responsável pela maior ocorrência de icterícia neonatal e trombose de veia renal. Dessa maneira, é óbvio que esses recém- nascidos (RN) tenham elevada incidência de resultado perinatal adverso e mortalidade. Para evitar essas complicações, deve-se diagnosticar a hiperglicemia na gestação, seja na forma mais grave de DMG ou de hiperglicemia gestacional, e propor uma terapêutica que consiga manter a gestante euglicêmica. FATORES DE RISCO PARA O DMG: ✓ Antecedentes familiares: história familiar de diabetes em parentes de primeiro grau. ✓ Antecedentes pessoais: idade > 25 anos, hipertensão arterial sistêmica (HAS), obesidade (índice de massa corporal – IMC pré-gravídico ou no primeiro trimestre > 25kg/m²), antecedente de intolerância à glicose em gestação prévia. ✓ Antecedentes obstétricos: perdas gestacionais de repetição, diabetes gestacional, polidrâmnio, macrossomia, óbito fetal/neonatal sem causa determinada, malformação fetal, hipoglicemia neonatal e síndrome do desconforto respiratório. ✓ Gravidez atual: excessivos ganhos ponderais materno e fetal (macrossomia), polidrâmnio. ✓ Uso de drogas hiperglicemiantes (corticoides, diuréticos tiazídicos, entre outros). ✓ Síndrome dos ovários policísticos. RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO: Não há consenso entre escolas europeias e americanas que usam critérios diferentes para estabelecer o diagnóstico de DMG. A maior parte das recomendações advém de consensos de especialistas; também não há uniformidade entre as escolas nacionais, mas a maior parte delas leva em consideração a presença de fatores de risco, níveis de glicemia em jejum ou a glicemia ocasional, ou seja, avaliada a qualquer momento do dia, e os testes orais de tolerância à sobrecarga de glicose. Proposta da FREBASGO/2011 o O rastreamento e diagnóstico do DMG e da hiperglicemia gestacional leve deve ser universal (em todas as gestantes) e realizado por meio da glicemia de jejum (GJ) associada a fator(es) de risco. O ponto de corte para a GJ é de 85 mg/dL, de acordo com pesquisas nacionais. o As gestantes com glicemia de jejum inferior a esse ponto de corte e sem fatores de risco seriam consideradas com rastreamento negativo e a pesquisa de DMG não precisaria prosseguir nessa população. Em outras palavras, a investigação de diabetes na gestação é interrompida nesse ponto 16 Laís Flauzino | TUTORIA | 4°P MEDICINA UniRV e só será retomada caso surjam fatores de risco ao longo da evolução dessas gestações, como exemplos entre outros, a polidramnia, o excessivo ganho ponderal materno e a macrossomia do produto conceptual. o As gestantes com glicemia de jejum maior ou igual a 126 mg/dL serão consideradas portadoras de DMG, devendo repetir o exame em outro momento para ratificar o diagnóstico. o Ainda, segundo a mesma proposta, as gestantes com GJ ≥ 85 mg/dL e < 126 mg/dL, associada ou não a fatores de risco, e aquelas com GJ < 85mg/dL, mas com fatores de risco, são consideradas com rastreamento positivo e devem ir para a segunda fase que é a de diagnóstico, realizada pelo teste oral de sobrecarga à glicose (TOTG), entre 24 e 28 semanas de gestação, momento em que se inicia a fase catabólica, que perdurará até o final da gestação, com substancial aumento dos níveis dos hormônios placentários. Até que novos estudos indiquem o contrário, não há evidência científica que dê suporte à realização do TOTG imediato, ou seja, antes de 24 semanas, em gestantes cujas glicemias de jejum encontrem-se entre 85 e 125mg/dL. Essa ação aumentaria sobremaneira os custos operacionais do sistema único de saúde. Deve ser ressaltado que a imediata realização da curva glicêmica antes de 24 semanas é um direito e prática adotada por vários serviços, que deverão dispor dos recursos financeiros para a sua realização, sem o necessário grau de recomendação e força científica que amparam esse protocolo de assistência. Este grupo de gestantes, todavia, terá ênfase em sua orientação nutricional, adequada à sua realidade, e deverá ter uma assistência pré-natal mais atenta, até que realize o TOTG a partir de 24 semanas gestacionais. Teste oral de tolerância à glicose ou curva glicêmica – O TOTG, também chamado de “curva glicêmica”, pode ser realizado com a ingestão de 100 g ou de 75 g de glicose, sendo a sobrecarga de 75 g a nossa indicação e também a da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). A American Diabetes Association (ADA) aceita o TOTG 75 g como teste alternativo, mas recomenda que seja realizado com três amostras (jejum, 1 e 2 horas) e que sejam considerados os mesmos pontos de corte e critérios diagnósticos estabelecidos para o TOTG-100 g de três horas, que são, respectivamente, 95, 180, 155 e 140 mg/dL; dois valores atingidos ou ultrapassados fazem o diagnóstico de DMG. Para o TOTG de 75 g e de duas horas, os valores de corte são 95, 180 e 155 mg/dL, respectivamente, para o jejum, uma e duas horas após a sobrecarga glicídica e, da mesma forma, dois valores alterados confirmam o diagnóstico do DMG (Figura 1 e Quadro 2). A proposta da FEBRASGO é que esse critério diagnóstico seja utilizado, ou seja, o TOTG 2 horas, com sobrecarga oral de 75 g, levando em conta o melhor custobenefício, o mesmo critério da Organização Mundial da Saúde (OMS) para essa recomendação. – O diagnóstico de hiperglicemia gestacional leve não é uniforme. Há referências sobre esse grupo de gestantes considerando-se: (1) a presença de fator de risco, mas sem critérios diagnósticos para o DMG8, (2) aquelas com apenas um valor alterado nos testes de tolerância à glicose14 ou (3) as gestantes que, apesar do TOTG normal, apresentam hiperglicemia no perfil glicêmico. A literatura atual reconhece a importância de se diagnosticar e tratar a hiperglicemia na gestação, independentemente do diagnóstico de DMG, mas ainda não há consenso sobre a melhor forma de se fazer esse diagnóstico. É importante que o TOTG seja realizado após 3 dias de dieta com 250 a 300 g de carboidratos ao dia, que a gestante cumpra 8 a 12 horas de jejum e, durante a realização do exame, permaneça em repouso e não fume. NASCIMENTO DJ. Manual de Orientação Gestação de Alto Risco. —2ª Ed. – São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), 2011
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